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(2008)
DECIFRA-ME OU TE DEVORO
Todo esse lero-lero tão-somente para dizer que folheei dia desses, na espera
do dentista, “101 mentiras que os homens contam _e por que elas acreditam”
(ed. Ediouro), da norte-americana Dory Hollander, um clássico da psicologia
barata. Aliás, nem no dentista foi, o fato deu-se no consultório do homeopata,
quer dizer, no analista, digo, no proctologista...
Minto. Comprei mesmo o livro no sebo, por dever de ofício, e o devorei, olhos
de traça. Que mentira que lorota boa, seu escriba de meia tigela, seu Zelig, que
fica inventando desculpas para as leituras mais vagabundas.
Dane-se, comprei, folheei, não li direito mas gostei pacas. E quer saber, é um
clássico da psicologia popular universal. Está para a fofoca de salão como “A
Interpretação dos Sonhos” [de Freud] está para a psicanálise. São frases que
podem ser ditas tanto em Manhattan como no sertão do Crato. Dona Hollander
fez uma pesquisa séria, DataPinóquio, sobre nossas mentiras e nossas piores
promessas.
BARRAQUEIROS CORAZONES
pensei todos os dias em ti ou em ti todos las lunas como quem pensa nos
axolotes, nos leões marinhos ou nos pôneis selvagens do faroleiro de cabo
polônio, testemunha ocular de amores inventados e naufra’gios épicos de
sudamericas y outros fundos falsos de mares y perdidos tesouros. te quiero e
mi corazon vagabundo num tira fe’rias por maiores que sejam as tentaciones
dos tristes tropiques.
Dos dengos femininos, ou historicamente femininos, o que mais nos faz falta, é
o cafuné. Nos dias avexados de hoje, não há mais tempo nem devoção para os
delicados estalinhos no cocoruto do mancebo. Pela volta imediata do mais
nobre dos gestos de carinho e delicadeza. Nem que seja pago, como o sexo
das belas raparigas dos lupanares, mas que devolvam vossas mãos às nossas
cabeças.
Melhor: que seja feita uma campanha de saúde pública. Ah, quantas doenças
de fundo nervoso seriam evitadas, quantos barracos de casais seriam
esquecidos, quantos juízos agoniados seriam libertos!
Sem se falar no erotismo que desperta o dengo, como anotou outro sociólogo,
o francês Roger Bastide, no seu belo ensaio “Psicanálise do Cafuné”. Pura
libido.
Como era comum, na leseira de fim de tarde, nos quintais e nas calçadas.
Ao luar, então, sertões e agrestes adentro, era puro filme de Kurosawa. O resto
era silêncio.
Ai que preguiça boa danada, ai que arrepio no cangote, quero de volta meus
cafunés.
Viver de brisa, como na receita de Bandeira, numa rede na rua da Aurora, sob
a graça dos dedos de uma morena jambo ou de uma morena caldo-de-feijão.
Como pode uma criatura, como esses rapazes de hoje, passarem pela vida
sem provar do êxtase de um cafuné
Pela obrigatoriedade do cafuné nos recreios escolares, nas missas, nos cultos,
nos intervalos dos jogos de qualquer esporte.
Não é possível que se condene toda uma geração a viver sem cafuné. Eis uma
questão de segurança nacional. Tão importante como aprender a assinar o
próprio nome. O cafuné, aliás, é a assinatura em linda e barroca caligrafia de
mulher.
A CANTADA PERMANENTE
CIGANA DE RODOVIÁRIA
O cara que vive de rolo é um destes heróis. Transita ali quase na linha de
sombra da ilegalidade, não pega no alheio, mas bota para frente um bode meio
suspeitoso, uma bicicleta, uma sucata qualquer da feira do troca-troca. O
escambo, aliás, é a sua grande arte: é capaz de fazer de um moinho
enferrujado uma nova vida, é capaz de vender na folha as próximas duzentas
safras. Vender na folha é uma espécie de mercado futuro da roça, quando o
matuto vende seu milho ainda em bonecas.
E assim a modernidade, para o bem ou para o mal vai ceifando muitos ofícios
das antigas. O menino de recado, por exemplo, foi extinto pela telefonia móvel.
E o jegue, amigo, não tem mais emprego depois da febre das motos. Graças a
Deus, porque os bichinhos eram muito maltratados pelos donos mais toscos.
Otto descobriu porque tentaram lhe fazer de besta, em Aracaju, numa viagem
ainda com a banda Mundo Livre S/A, nos idos dos anos 90. O viajante se
espanta, inclusive porque a madame vai na mosca e repete frases inteiras que
ele acabara de dizer ao telefone daquela rodoviária. E você sabe, amigo, o
cabra lascado se ilude com o vento. O joãogrilismo aí é fácil, fácil: a cigana
mantém uma menina, daquelas sonsas do cabelo escorrido, ao pé de cada
orelhão, além de outras que acompanham os passageiros que falam nos seus
celulares.
Como é bom tirar uma sesta, abaixar a cortina e dar um risinho safado
para o capital que se esborracha lá fora; como é bom, mesmo para um falido,
ajeitar os travesseiros –de palha ou de pena de ganso- e cerrar os olhos para
sonhos pequenos. Uma sesta à sombra da toda-poderosa Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp, aqui perto do meu esconderijo;
uma sesta com os macaquinhos lá fora nos fios, como a minha sesta carioca;
uma sesta com as janelas abertas na rua da Aurora, a rua mais linda do
mundo, de onde avista-se Beberibes, Capibaribes, Áfricas, Tongas e
Polinésias...
A minha sesta ibérica, como na origem do costume, lá no Juazeiro e
Crato. Como é bom tirar uma sesta com uma nega enroscada aos pés, sono
leve de conchinha, colherzinha e quetais. Mas os dois precisam estar no
espírito da sesta. Uma alma em desassosego acaba com qualquer sesta,
sesta-de-favor não vale, cesta carece de savoir faire... Um gato ali pelas
nossas costelas –opa!, um felino de carne e osso, um bichano- que delícia.
Numa sesta não vale sonhos épicos, apenas sonhos pequenos,
daqueles que a gente realiza num piscar de olhos. Ou simplesmente deixa para
lá. Ridículo correr desembestadamente atrás de sonhos. Sonhos são filmes
grátis, que vemos deitadinhos, sem o barulho ridículo de pipoca ou de gente.
“Ei, morena linda que passa, vamos ao cinema?” Ai trago ela para a
sesta. Cinema é travesseiro e pezinho colado.
Os sonhos são feitos pelos cineastas mortos, jeito de ocupar-lhes no
purgatório. Coisa da aliança espúria de Deus e do Diabo.
Sesta: modo de usar. Quanto dura uma sesta? O ideal é que não se faça
o uso do despertador, que não seja um curta-metragem, que seja um filme que
se durma nele inteirinho, que se beije o olho de quem dormir primeiro e que se
faça uma oração baixinho para nunca acorda-las e sempre protege-las, ô Deus
guarde essa costela colada à minha e que esse suorzinho seja o superbonder
possível, a resina mais grudenta, que nos livre do fim, amém. Mas o amor
acaba, meu filho, sopra um anjo pousado no ombro de Paulo Mendes Campos,
que me diz baixinho, sossega, menino, esse coração.
A sesta com a bênção das mulheres e da minha mãe. “Meu filho, durma
pelo menos uma meia horinha depois do almoço”. Minha mãe chorava, no dia
em que fui embora, mas nada dizia além da receita da sesta. Mulher de
coragem: deixar aquele graveto, só o couro e o osso, ganhar a estrada apenas
com uma rede que ela botou no fundo da mala...
Como eu queria achar de novo essa rede e tirar a maior das sestas, mas
troquei por alguma coisa, vício, comida, sei lá, entre uns desalmados de um
cortiço do Recife, num sótão ali na Barão de São Borja. Até quando a usei, era
uma rede que balançava lágrimas e meus chinelos sempre acordavam boiando
de manhã.
Nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com gosto,
paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida, comida
com sustança. Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes,
sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma,
sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do
possível.
Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de criatura.
Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come mais
com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para um
banquete nada platônico.
Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão
um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha
pálida de alface ou rúcula.
A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada
degustando, quase de forma desesperada, uma massa, um cuscuz
marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um barreado, um bife à
milanesa, um chambaril, um torresmo decente, uma costela no bafo.
Foi embora aquela felicidade demonstrada por Clark Gable no filme ''Os
Desajustados'', quando ele observa, morto de feliz, Marilyn Monroe devorando
um prato. E elogia a atitude da moça, loa bem merecida, abafa o caso.
Toda preocupação feminina agora está voltada para a estatística das
calorias, as quatro operações da magreza absoluta, ditadura da tabuada, lero
lero, vida noves fora zero. É como se todas fossem posar para a ''The Face'' do
dia para a noite, fazer bonito nos editoriais de moda, vôte! Mal sabem que isso
não tem, para homem que é homem, quase nenhuma importância.
François Truffaut, o francês cineasta, padrinho sentimental deste
cronista, já alertava, em depoimentos registrados em suas biografias, o valor
insuperável das mulheres normais e o seu belo mundo de pequenas
imperfeições. Tudo sob medida das nossas taras sem réguas, sem balanças,
sem trenas.
Além do prazer de vê-las comendo, coisa mais linda, pesquisas recentes
mostram que as mulheres com taxas baixíssimas de colesterol costumam ser
mais nervosas, cricris, chatas, dão mais trabalho na rua, em casa, no bar,
pense no barraco!
Nada mais oportuno para convencê-las a voltar a comer, reiniciá-las
nesse crime perfeito.
Às fogazzas, aos pastéis, aos cabritos, ao sanduíche de mortadela, ao
lombo, de lamber os lábios, ao churrasco de domingo para orgulho do
cunhado, que capricha na carne e incentiva os seus pecados todos. E aquela
fava, meu Deus, com charque, enquanto derrete a manteiga de garrafa, último
tango do agreste...
O importante é reabrir o apetite das moças, pois homem que é homem, como
diz meu velhíssimo mantra, não sabe sequer _nem procura saber_ a diferença
entre estria e celulite.
Urge copulatum ad empacotum est: vai comer aqui ou quer que embrulhe?
Simius antiquus intra cumbuca manus non metet: macaco velho não mete a
mão em cumbuca
Dominus jumentum! Frater tuo adjumentum!: seu burro! Ajuda teu irmão!
A frase nem era para tanto, mas saiu tão afirmativa, tão sem dúvida ou
vacilo, que balançou até a plaqueta do “Fiado só amanhã” do boteco.
Ela não repetiu a frase, não carecia, a frase ecoava como uma sentença
romana e voltava a balançar as garrafas, a mexer com os presentes, os vivos e
os que por ali passavam àquela altura.
O canalha, concluímos, sem que ela dissesse mais nada, merece mais
respeito porque é mais explícito, a mulher já entra na história sabendo, e ainda
pode ter momentos líricos, passionais, bonitos, pois todo canalha é, no fundo,
um devoto, ajoelha-se diante de uma fêmea como um romeiro diante do seu
santo predileto.
Triste escolha essa: o canalha ou o fraco. Mas vai ver, amiga, tem coisa
melhor por ai dando sopa. Só sei que nada sei sobre esse assunto, como diria
o grego complicado. Melhor ainda, como diria Roberto Carlos das antigas: “Só
agora eu sei, o que aconteceu/quem sabe menos das coisas/sabe muito mais
que eu!”
A GENTE SE VÊ - PARTE II
...a bundinha mais gostosa que vi na minha frente, uma das mais, vai,
não exagera. Não pela idade, 1/2 Balzac, mas por que era mesmo, à vera.
Cheinha, como gosto, digo, falsa magra, linda. Mestiça, jambo-girl, a mais linda
da cidade, velho Charles, caeté, como os que devoraram o bispo Sardinha ali
perto, mar de Coruripe. "Amor, paga um uísque com avoante", ela. Red Bull?,
eu pergunto. "É, pra gente endoidecer um pouquinho", ela. Quem garante? "La
garantia soy yo!", ela. Pagaste? Paguei. E se por acaso eu pensasse em ficar
com você?, eu. "Tudo tão fácil", ela. Sem processo de desejo, eu, sem
metafísica, simples assim. "O sr. tá amando e sofrendo mutcho,né?", ela,
alagoana como a angústia do velho Graça. Deste para adivinhar? "Se quiser só
conversar...", ela. Eu quero. Pega a chave do quarto. "Tu me dá quanto?", ela.
Só pra conversar 50, uma onça. "Já visse minha bundinha, doido?", ela.
"Nenhum agüenta", ela. "Nem meu padrasto", ela. "Nem meu tio", ela. "Meu pai
também (se benze, é morto) num me agüentava de shortinho dia de domingo
lavando carro", ela. "Deus o tenha num bom lugar", ela. Vamo. Ela tirou a saia
e dançou na frente do espelho do quarto, nem tão vagabundo assim, luxo até,
classe. Eu mandei botar a calcinha, eu mandei botar a saia, eu disse suba aqui
pr´eu olhar de baixo pra cima, como em filme francês que eu via no cine AIP do
Recife de graça. Meu pau quase nada, amando muito outra. "Laiga essa
vagabunda e vem pro quentinho de mim, chove aqui dentro", ela. "Te amoito
pro resto dos dias", ela. O resto dos dias dessa semana?, eu. "Oxe, se pingar
um dinheirinho nunca mais te deixo, quero ser sustentada por um velho
safado", ela. "Num quero ouvir fraqueza tua", ela. "Vou mexer o rabinho pela
última vez", ela. "É agora ou nunca", ela. "Acha pouco?", ela. "Me sustenta",
ela. "Quer dizer, me ajuda a ganhar o troco do mundo que amacio viver", ela.
Peço mais um litro de Drurys, boate Coquetel, praia do Guaxuma, lá perto onde
PC Farias tombou, ainda lembro da calcinha de Suzana Marcolino cheia de
sangue. A jambo-girl rebola com o rabinho mais redondo e mestiço que eu já vi
na minha frente. Puta por não comê-la. Era a melhor da minha vida, talvez por
isso. 1/2 Balzac, não importa, empinadinha, coisa. Ela ligou e pediu a música
preferida no sistema de som interno. Rebolou e disse e agora?, doido, vacilão,
vem meu véio, vem ver a ema gemer? Eu tentava bater uma com as poucas
lágrimas dos meus olhos secos, quero chorar não tenho lágrimas, cuspe, nada,
boca seca, árido que nem. Mas pense numa bundinha. Mesmo com meu amor
de muito, tinha noção do que perdia, mas também não tinha como. Brincamos
de não-dormir honestamente juntinhos. "Num gosto de ganhar dinheiro fácil
assim", ela. "Goza pelo meno na minha boquinha, vai, já já um sol danado".
O CADARÇO, MOÇO!
“Ai naquele maior barraco, ele, rapaz acadêmico, vem com uma citação
de Delleuze (o Gilles, filósofo francês) pra cima de mim, vê se pode uma coisa
dessas?!!”
Pior é que pode.
Sim, como o desabafo da amiga N. não nos deixa mentir, intelectual (ou
metido a) bota Delleuze & Sartre até no meio de uma D.R., a sigla como é
conhecida hoje a mitológica Discussão de Relação , mesmo a mais breve.
Embora seja escritora de mancheia e conhecedora do mundo
afrancesado, N. não se conteve diante do mancebo-dos-rizomas. Deu
download na brava cabocla Iracema que mora na sua alma cearense e
sapecou: “Diabeisso?!”, corruptela alencarina de “que diabo é isso, miserável?!”
Ela não concebia que naquelas cinzas das horas, a casa caindo, alguma
criatura esquecesse de mirar o próprio teto e convocasse Delleuze para
resolver o drama de alcova. Como se a vida a dois fosse uma tese, como se
desconsiderasse o conhecimento do belo inferno dos lares.
D.R. com intelectual ou artista envolvido é assim mesmo. Não tem jeito.
D´onde classificamos alguns embates com os seus respectivos padrinhos,
além do Delleuze já citado da cumeeira desse texto:
D.R. punk-rock _ Três acordes e vai cada um pro seu lado, dormir na
casa da mãe, de um(a) amigo (a), hotel, flat, amante, homeless...
D.R. Bartleby _ “Prefiro não discutir”, diz uma das partes, repetindo o
mantra do escriturário do livro homônimo de Melville.
As nossas mulheres querem que tenhamos olhos só para elas. No que, aliás,
foram contempladas biblicamente pelo décimo mandamento das tábuas da lei
entregues por Deus a Moisés: não cobiçarás a mulher do próximo blábláblá etc.
Quem paga somos nós, porcos chauvinistas, que não teremos mais
aqueles botões repostos na camisa colorida _aquela mesma, caríssimo
Paulinho da Viola, que cobria a minha dor, na canção “Para um amor no
Recife”.
Duas mulheres sob o mesmo teto, a menos que você seja um poderoso
sultão, é jogo duro. Seja sogra, diarista, tia, mãe, irmã... E quando as TPM´s
coincidem? Vixe, fica tudo tão difícil quanto atravessar o Mar Vermelho. E
quando não batem os signos?
O xodó implica, a diarista começa a falar bem da sua ex, com quem
também fazia uma batalha sem trégua.
Desgostar a cria da nossa costela que pode ser a mais bíblica e para
sempre?
Amigos, vou aqui tomar uma gelada para esfriar todas estas dúvidas
quentes demais para uma tarde suada de março.
TIPINHOS DE HOMEM OU CORRA LOLA,CORRA
Nem fomos ao mar para ver o nosso amor morrer na praia. Nosso amor morreu
engarrafado, na correria do povo para deixar São Paulo, babilônicos corações
de fumaça a 10 km por hora. Nosso amor largou o automóvel e saiu
caminhando, melancólico, entre motoboys e miragens, crepúsculo cubatanesco
a escorrer do nariz.
Nosso amor só pode estar tirando onda da nossa cara, é o tipo do amor que
sabe rir da nossa desgraça, um amor de rapariga da última luz vermelha do fim
do mundo, um amor da porra, que não respeita as leis do cosmo, nosso amor é
uma ficção barata, café puro, pão na chapa, nosso amor nem esfriou ainda o
cadáver, acabou no auge, como a carreira de Pelé, como os Beatles, nosso
amor era sábio.
O fingimento do gozo também pode ser uma prova de amor, como o amor
vadio das putas;
Nada como aquela olhadinha que ela dá quando lá embaixo. Ainda e pra
sempre, da série “detalhes tão pequenos de nós dois”. A vida se resume a
observar, microscópio de eros, rei roberto e nelson, a mulher e o seu drama.
Tão lindamente sacana, ah, que nega a minha nega, derreto-me como
manteiga no último tango!
Ela quer saber se estou gostando, claro que estou mortinho ali no pré-gozo.
Tem um orgulho, “vê como faço bem feito e com gosto”, ali naquela olhadinha
plongé, contra-plongé, depende de quem vê.
FEIA QUE É UMA BELEZA OU TANTO FAZ, REINALDO MORAES
CHIFRE DE LEITE
Chifre de leite?
Sim, amigos, aquele chifre, qual o dente, que vem quase do berço,
cresce, mas não representa muita vida longa, molinho, chega a sua hora e a
gente arranca, quase como um chifre consentido, quase de nascença, quase.
Mas não é bem isso, é quase, como disse. Discorreremos sobre o
danado.
Pense, como diria aquela estátua de Rodin, pense!
Chifre de leite é o mínimo que levamos na vida. Pior é que tem machão
que mal agüenta essa “gaia ciência” inevitável, que homem é esse que não
segura a onda do que já destino era?
Chifre de leite já existe faz tempo, mas quem cunhou a expressão foi o
amigo Pupilo, nome de batismo Romário, Romário Menezes, batera da Nação
Zumbi, a maior banda da terra.
Estávamos ali numa ressaca miserável em São Paulo, à espera de uma
gravação da TV Cultura, Studio SP, tarde cervejosa de sexta, quando o mago
salta com essa conversinha safada.
Pense, considere!
Donde chifre-de-leite, agora com hífen e tudo, vê a responsa no
glossário, significa aquele chifre que a gente mal nota.
Como aquele dente molinho que se arranca no dedo e se joga em cima
das telhas, com um dizer de antigamente, quase uma prece obrigatória:
“Mourão, mourão!/ Pegue esse dente podre/ e me dá outro são."
Chifre de leite é destino.
Chifre que dói mesmo é chifre de ciso, aquele que vem depois, na
madureza da cornualha da existência.
Chifre de leite, como prenunciou o mago, é chifre de menino, ora.
Quase chifre de anjo, chifre inevitável.
Nem dá pra chamar de traído. Porque o pior é o chamado, o resto são
inconfidências. O grito, ouviram lá do Ipiranga, ouviram lá de todas as galáxias,
ouviram lá da Bomba do Hemetério, Recife, ouviram lá da gruta de
Ubajara, ouviram lá de Ouricuri, Pernambuco, ouviram lá do Mucuripe, Varjota,
Santana, Crato, Fortaleza, ouviram lá da Afonso Pena, ouviram lá da
Gameleira, Nova Barroca, da Cabana do Pai Tomaz... Ouviram lá do Rio de
Janeiro, terra de chifre-de-leite por excelência, ouviram às fronhas plácidas e
dormiram sem sangrar ninguém, mas que beleza!
Amigos, em persistindo dúvidas sobre esse molarzinho besta de testa, o
tal chifre-de-leite, é só consultar o maior especialista nessa causa, o doutor
Halley-Bó, ele arranca pelo método mais indolor. Ainda implanta outro de
graça no infeliz, se assim desejo for.
Eu vou nessa, que não cabe mais nada aqui na fronte cansada do
artista!
COISA DE CINEMA
suar o amor correndo no parque, como sugere zed, corrida e leonard cohen no
ipod, amor é água, sopra o policial em bicas dos “amores expressos”, a película
chapa 1994 de wong kar-wai, o cara de shangai e hong-kong, aquele mesmo
do “amor à flor da pêle”, no qual os vestidos e a fumaça dos cigarros falam
mais do que todas as línguas de pentecostes; suar como o personagem
derretendo-se em água e vapores do outro lado do mundo, como a garçonete
maluquete que chacoalha juízo e esqueleto à base de um “califórnia dreams”; a
mocinha linda e sound system, sabor gengibre, marinados corazones ao molho
de ovas esfarinhadas de peixe amarelo; suar o amor e sair voando pela janela
de bicicleta ergométrica; suar no ibirapuera e no parque da água branca suar
de novo as redundâncias amorosas todas; suar num estirão do pina ao terminal
de boa viagem; suar de olinda ao janga; suar do leblon ao arpoador sem
distrair a vista com as bundas, assim não vale, perde o sentido a mandinga;
suar os amores líquidos e as represas dos amores do passado; suar uma baia
de guanabara de amores em cardumes e mais uma lagoa rodrigo de freitas de
olhos de peixes mortos; fazer chover por todos os poros o amor que fica, o
amor platônico e o amor de pica; suar o amor com uma sopa de feijão bem
quente, seis horas da tarde, no hellcife de todas as glândulas; suar o amor em
teresina, com um prato de capote ao molho ou uma fina iguaria de beth cuscuz;
suar, amigo, a derrama das nódoas por dentro, suar no pedalinho, mas nada
de suar para perder peso ou por esporte, falo suar, por enquanto, para limpar-
se dos amores sem futuro. A gente se vê... Breve neste cinema "2046".
SOBRE O TRIUNFO DA FEIÚRA
Uma das coisas mais hilárias, para não dizer infantis, dos modos de
macho e os seus be-a-bás, é o caso do falso don Juan. O homem, o mito, a
fraude. Narrativas eróticas que jamais aconteceram à vera, apenas e tão-
somente na garganta, riacho de muitos peixes grandes, do contador de
vantagens.
A nossa mania começa logo nos verdes anos, na mentira de que não
somos mais donzelos, e daí levamos ao túmulo, incorrigíveis e tarados Brás
Cubas.
No princípio, é uma vergonha assumir a virgindade no meio de tantos
machões que nos desfiam suas epopéias com o mulherio. Aí contamos
também a nossa “vasta experiência”. Não somos nada bocós ou bestas. Segue
a vida enfim, segue a vida, como decifra o velho Fred 04 no seu mundo livre
sociedade anônima.
Um amigo relata no botequim que traçou uma flor do bairro ou a gostosa
da firma; ouve o coro ridículo carregado de chope, caldinho, torresmo e
testosterona à milanesa: “Comi muiiito!”
O falso don Juan é a doença infantil e incurável do machismo. Até de
quem não precisa cantar loas do gênero pelo meio do mundo perdido de meu
Deus.
Reparem no grande Lima Duarte, o Sassá Mutema, o homem, o mito, a
soma de tantos personagens encafifados no imaginário dos Psitis, os
brasileiros flatulentos e escravos dos sofás televisivos.
Pelo que disse, nas educadas entrelinhas, a atriz Maitê Proença, em
entrevista esta semana na Folha de S. Paulo, o bravo Lima, demasiadamente
humano como todos os dublês de don Juan, também andou pecando por
pensamentos, palavras, obras e omissões.
A boa repórter Laura Mattos provoca: “Apesar de temas duros no livro,
não falou sobre algo já público, sua relação com Lima Duarte.”
No que Maitê, autora de “Uma vida inventada”, autobiografia fictícia,
como todas, que acaba de lançar pela editora Agir nas boas casas do ramo,
responde com a elegância sincera com a qual desfila na passarela dos nossos
corações:
“Imagina se fosse contar todos os amores, seria outro livro, do tipo que
abomino. E, apesar de o Lima contar a história do jeito dele, é um homem
brilhante que vive no mundo da fantasia. Gosta de florear a realidade. A versão
do Lima é uma, e a minha é a história de uma amizade muito importante.
Enquanto meu pai morria, fiz uma novela ["O Salvador da Pátria", 89] em que a
gente tinha uma relação de amor. A única pessoa para quem contei sobre o
processo da morte do meu pai, fora meu marido, foi o Lima. Criamos esse elo.
Gosto muito dele, o resto é fantasia de sua cabeça. Mas deixo, o que vou
fazer? Qual é a importância? Deixa ele sonhar, colorir a vida, não me ofende,
pode contar como quiser.”
Sim, deixa o menino brincar, como cantava o Jorge Ben das antigas, que
mal faz um delírio de macho, essa praga inevitável!?
Se bem que, em alguns episódios, é chato para as moças. Não digo pelo
velho, careta e surrado “vai ficar mal-falada” na firma, no bairro, em toda
cidadela. Digo pelo que pode manchar a imagem da nega quando o Pinóquio
metido a don Juan é a maior sujeira, como se diz na gíria corrente, moralismos
à parte, noves fora zero.
Moral popular da história: todo homem, assim como todo pescador que
se preza, tem sempre uma aventura maior que a vara.
“Tinha cá pra mim que agora sim, eu vivia enfim o grande amor,
mentira!”
Encontro minha amiga A., no nosso botequim predileto, e a desalmada
vai logo anunciando, com a ironia fina que a acompanha na riqueza e na
pobreza, na saúde e na doença.
Sempre tem boas histórias e uma mania louca de escolher uma música,
normalmente Chico Buarque, para trilha das sagas românticas.
Como Chico tem um vasto elenco de personagens femininos e incorpora
as dores e delícias das mulheres, ela escolhe no capricho, no ponto. Moleza,
garoto.
“Tinha cá pra mim que agora sim, eu vivia enfim o grande amor,
mentira!”, ela repete e repete, enche o saco com o “Samba do grande amor”.
Essa música nem é protagonizada por uma fêmea, e sim por um homem
desiludido do amor, um cabra cujo destino parafusou-lhe na testa belos objetos
pontiagudos, como diria o compay Marçal Aquino.
Mas ela insiste e canta assim mesmo. Pior: canta e ri, uma loucura. Que
diabo de sofrimento é esse com essas gargalhadas todas?
A moça é assim mesmo. Não tem jeito. E olhe que nem pediu
caipiroscas de frutas vermelhas nesse dia, ficou apenas no chope, coisa fina e
civilizada.
“Morrer dessa vez é que não vou”, tira onda. “Ih, estou escaldada, velho
Francisco”.
O que A. me contou uma das coisas banais que mais escuto das minhas
amigas nos últimos tempos. E olhe que sou conselheiro, ombudsman das
moças, cupido e ouvidor-geral de muitas crias das nossas costelas.
“Sua carteira de desesperadas é grande”, ela mesma tira uma boa onda
sobre um ofício que desenvolvo com gosto e curiosidade desde os verdes anos
–quando sequer eu sabia o era uma mulher para valer, conhecia apenas as
cabritas e as bananeiras.
A amiga deparou-se com mais um desses homens que prometem,
ensaiam, jogam um charme, cultivam, cantam de galo... comparecem e..., sem
dizer nada, tomam o clássico chá de sumiço.
“Por essas e por outras é que agora prefiro um bom canalha a um
homem frouxo”, prega a amiga, conquistando rapidinho o apoio da mesa
feminina ao lado. “Um canalha pelo menos me pega com gosto e temos noites
deliciosas”.
Defende a tese e emenda, riso desavergonhado: “Passava um verão a
água e pão, dava o meu quinhão pro grande amor, mentira!”
É rapazes, é tempo de homem frouxo, que corre mesmo diante da
possibilidade de uma história mais densa e afetiva. Não sabem o que estão
perdendo. A começar pela minha amiga cantante, belo exemplar da raça, no
auge dos seus 3 ponto 6, boa conversa, boa lábia, gostosa, bocão e um humor
capaz de tornar o mais nublado dos dias no dia mais alegre e comovente para
o cara que estiver ao seu lado. Sorte deste hombre!
-Depois que peguei aquela rosa no show do Roberto –ela disse, já de pé,
indo ao banheiro.
Eram irmãos siameses, xifópagos, unidos pelo tórax. Os gostos, porém, eram
díspares. Virgílio, fino, leu James Joyce, quetais, essas coisas, lia antes
mesmo de se despedir do primeiro dente de leite, berço. Camilo José, ingênuo
e cândido, era viciado em histórias de príncipes, auto-ajuda e, mais
recentemente, Paulo Coelho. Virgílio agüentou, de forma resignada, até a
leitura, normalmente em voz alta, de “Veronika Decide Morrer.” Até que o coro
grego anunciou a tragédia. Na cena de sexo do “11 Minutos”, outro best-seller
do mago, Virgílio tentou desvencilhar-se a todo custo, chegando inclusive a
ferir-se no embate. Passaram a viver, dali por diante, como cão e gato
inseparáveis. Certo dia, senhores, em bravo duelo sonâmbulo, Virgílio alvejou,
à queima roupa _embora a contragosto, não apreciava esteticamente o
assassinato de tão perto_ o irmão Camilo com um tiro na perna. Deram entrada
no nosocômio, deu polícia e notícias populares. Condenado sumariamente,
havia uma estupenda dúvida jurídica: é justo Virgílio, pobre vítima, ser obrigado
a pagar a mesma pena? Consultaram todos os alfarrábios para farejar alguma
jurisprudência. Não havia caso do gênero em toda a esfera. Enquanto o
tribunal superior não se manifesta, estão lá, Vírgilio e Camilo José, dividindo o
mesmo corpo, mesmo infortúnio, a mesma cela.
[do libreto "Tripa de cadela & outras fábulas bêbadas", breve pela editora
Dulcinéia Catadora]
MACHO. PROCURA-SE
“Se o macho está perdido, amigo, como se apregoa por ai, não sou eu
que vou procurá-lo”, diz o escriba Marçal Aquino, em animada mesa da nossa
taberna lítero-boêmia em São Paulo, a Mercearia São Pedro.
Claro que o mote do autor de “Faroestes” rendeu e desabou, graças ao
abençoado combustível de Salinas, para uma buena onda digna das páginas
mais quentes de Pedro Juan Gutiérrez.
É, amigo, nunca foi tão difícil ser homem, melhor, nunca foi tão difícil ser
macho, para usar a acepção mais testosteronizada do gênero. Os dilemas são
muitos e o meio termo corre sempre o risco de ser mal-compreendido.
Continuar sendo o irredutível macho-jurubeba ou ceder às saudáveis
tentações dos metrossexuais?
O ideal, para os novos tempos, diriam os moderados, seria dosar um
pouco de macheza à moda antiga com mais cuidado com a aparência, uma
guaribada no guarda-roupa, uma cosmética sem exageros...
Nada de ter uma bancada de creminhos maior do que a patroa. Assim
não dá, companheiro.
Mas ai não correríamos o risco de perder a personalidade, a pegada?,
indagariam os mais tradicionais, aqueles que nunca se permitiram a nada mais
do que um punhado de Minâncora ou banha de peixe-boi sobre uma espinha.
Perfume ou cheiro natural de homem?
E tome dilemas.
Há quem não admita nada mais além de um Avanço ou Leite de Rosas.
Basta.
Estão vendo como não está sendo fácil ser macho nos tempos
modernos?!
E reparem que nem adentramos ainda o misterioso assunto das fêmeas.
Preparem-se, ai é que nos perderemos de vez. Você pede em casamento, ela
pede uma coca-cola.
A incompreensão nunca foi tão grande. E vice-versa. Mas desde quando
soubemos, como perguntava o sábio doutor Sigmund, o que querem as
mulheres?
Os justos avanços femininos, no entanto, embaralham como nunca o
senso comum –e culturalmente machista- de nós todos.
Puxar ou não a cadeira no restaurante? Abrir ou não a porta do carro?
Tomar iniciativa e pagar logo a conta ou esperar que ela divida? Até que ponto
seguir o velho código do cavalheirismo vai incomodá-la na sua alardeada
independência? (Nesse momento sentimos ainda ao longe o cheiro da
efeméride dos sutiãs queimados!)
Na alcova, então, mais um balaio de dúvidas. Ser um hétero sensível ou
um lenhador selvagem?
Enfim, como já deu para notar, não tem bula, não tem receita, não há um
padrão x a seguir, embora as revistas masculinas insistam em um certo “novo
homem”, criatura que já foi representada por David Beckham (da costela dele
Deus criou o metrossexual) e mais recentemente pelo George Clooney,
denominado übersexual, seja o lá o que diabo isso signifique.
E eu vou ficando por aqui, se não, a continuar com essas dúvidas todas,
o velho Francisco Nildemar, lá no Sítio das Cobras, em Santana do Cariri,
nunca mais me deixa pedir a “bença, pai”.
Os novos célebres
Os cartazes exibem, foguetório da glória, “Curadoria: Fulano de Tal”. Até
os lambe-lambes, nos muros da cidade, fazem constar o crédito de luxo do
momento. Tudo é curadoria. Os curadores invadem a “Ilha de Caras”, a festa
da “Quem”, são reconhecidos na ponte-aérea. Celebrizemos de vez os
curadores, indistintamente. Um país sério é feito de curadores, as obras que se
danem. Organizador que nada, eu agora sou é da curadoria, seus babaquaras
demodês.
Eu curador de mim
Por que não? Pinto, bordo, costuro para fora e faço a minha própria
curadoria. Chega de atravessadores –eu sou eu e sou o outro... e sou também
qualquer coisa de intermédio, como diz a sábia lírica portuguesa. Eu me
escolho, eu me exponho, faço o press-release, eu me critico no meu site [via
heterônimos], faço o lobby, eu me vendo, eu me entrego todinho, a vista, a
prazo, pré-datado, a domicílio.
Código do bom-tom
Do recurso do método
BENÇA, MÃE*
Quando o São Paulo vence, Pereira até que cresce no jogo, vai para
cima, ganha o motor-rádio da alcova, vira uma espécie de Adriano nas grandes
noites. A ciência explica o fenômeno: segundo pesquisa gringa, quando o time
do macho triunfa, ele ganha 27,6 % a mais de testosterona nas veias.
Imagine, amigo, como devem estar envernizados, como diz a lírica brega
do grupo Academia da Berlinda, os torcedores do Sport Recife. Ainda mais
quando o Leão do Norte joga na Ilha de Lost, como os rubronegros chamam
agora a sua casa, onde os adversários se perdem, lesadamente, em campo,
conforme sopra aqui o jovem escriba Carlyle Paes Barreto.
Pereira prefere não tratar desse assunto. Tapeia o cronista falando mais
uma vez da recente pesquisa entre os europeus. “E você viu, rapaz, que 88%
responderam ter abraçado e até beijado desconhecidos durante a celebração
de gols ou de vitórias?”
Lição do ABC
Preferência interativa
“Preferia nem ter existido”, diria o Bartleby desta terra alegre e das
gentes tristes _ou o contrário, pois aqui, dotô Paulo Prado, a interatividade
agora é quem decide. Se você acha que é uma Pátria alegre de povo
sorumbático, ligue 0800.xxx.xxx; se você acha que é um solo modorrento do
contrário...
Bartlaby, Bartlabrás
O “prefiro não fazê-lo”, por mais que macunaímico pareçca, aqui tem
outro intento, não cai na tentação fácil nem mesmo do futuro do pretérito.
Preferimos agradecer a preferência, assim rasteiro, volte sempre, o mito
da cordialidade, Bartlabrás, compensa.
escorre dentro de ti
"Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora/ e conta logo tuas mágoas
todas para mim..." Rapazes e raparigas, amigos e amigas, começou a rolar
hoje, viernes, o Ombro Amigo, o consultório sentimental online da Trip. Lá
estou com a versão macho (hahahaha) da história, enquanto a Nina Lemos dá
a sua palavra de mulher. A consulta é grátis e indolor. Visitem nossas tendas.
O serviço fica de agora até o fim do mês dos pombinhos.
Louco, né, mas tava matutano cá com os botões da blusa que você usava:
comecei nessa arte de conselheiro quando nem sabia que diabo fosse uma
mulher -mal conhecia las cabritas e las bananeiras... No princípio era no
programa "Temas de Amor", auxiliando o locutor e seresteiro Gevan Siqueira,
na rádio Vale do Cariri, em Juazeiro.
Agora continuo sabendo tanto quanto sobre uma fêmea, ou seja, ni puta
idea, como dizem os espanholitos, mas pelo menos hoje me pagam umas
cervas, sangrias e bistecas de cordeiro, o que, digamos, motiva os batimentos
cardíacos. Se achegue lá no Ombro Amigo, pois, como canta Wander Wildner,
yo tengo um pára-quedas para te salvar, yo tengo um pára-quedas em mi
corazón! Ratatatá!
TEX E A POEIRA DOS SESSENTÕES
Muito mais do que o sorriso da Monalisa, que, reza a lenda, era o sorriso
de uma grávida. Não é o sorriso dos paraísos artificiais dos remédios tarjas
pretas ou de alguma pastilha psicodélica. Nada. Não é apenas o sorriso de
quem recebeu uma notícia alvissareira, passou no concurso ou viu o regime
fazer o efeito pretendido, uns quilos a menos, nova silhueta, que beleza! Nem
chega perto.
Quanto mistério num sorriso de tão pouco tempo. Daria uns cinco anos
de vida em troca do esclarecimento desse enigma de um segundo. Chego até
a refletir, cofiando a barba rala e dando pequenos nós na costeleta: será que é
consciente, será que elas sabem que o misterioso sorriso toma conta do rosto
naquela hora?
Não, também não é só sexo. Por mais que o gozo, a pequena morte,
como dizem os franceses, faça bem à pele e seja motivo do carnaval particular
no peito, não é esse ainda o motivo isolado daquele sorriso, um sorriso mais
invocado do que o sorriso do gato de Alice.
Amigos, participo dessa prosa hoje, dia 3 de junho, terça, 19h30, no Sesc
Pompéia, de grátis. Vou tentar lembrar, com essa memória cabrobronha, das
experiências da poesia mimeógrafo do Hellcife e das reportagens delirantes
dos periódicos anarco-monarquistas O Rei da Notícia e O Príncipe, ambos da
Veneza Brasiliera, anos oito ponto zero por delante. É só chegar. Tudo na
faixa, inclusive a cerva depois. O serviço ai abaixo:
descer em cima de ti mais um pouco, até mais ou menos um palmo diante dos
teus olhos,
e dizer eu te amo com a convicção de um míope/astigmático no escuro... sem
trilha, sem blues, peleja de cego em becos alexandrinos, mineiro suicida de
Émile Zola a palo seco, essas coisas que guardo e prezo da soma das
ignorâncias, passa a régua iluminista de merda, essas coisas da feira, da
peixeira e dos livros. o eu te amo como música final e única da banda
esquerda do meu corpo que toca de ouvido, tripas & corazones, o rolling stones
goats head soups, o nada que sou e era e o futuro-bundinha-pra-cima numa
praia deserta donde te imagino ao meu lado, fui, baby, o resto é cartão postal
que te mandarei do fim do mundo. P.S. os repentistas de marte fizeram um
martelo emocionante para nós dois, aqui, árido que só, não soa bem rimas de
amor, mas era como se fosse uma rarefeita dor que já passou desde que o
astronauta, expert em ressacas cosmológicas, trouxe para nós a primeira
aspirina genérica bueníssima para quem anda assim meio daubailó!
A primeira vez, muito antes dos 40, havia sido tão rápida e indolor que
resolvi, agora, senhor dos meus quarenta e tantos, tirar a contraprova, o eu
profundo e os outros eus. Chegou a hora de, na margem do rio Piedra, como
diz Pablo Conejo, sentar e llorar. Pois, pois.
Nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com gosto,
paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida, comida
com sustança. Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes,
sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma,
sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do
possível.
Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de criatura.
Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come mais
com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para um
banquete nada platônico.
Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão
um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha
pálida de alface ou rúcula.
A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada
degustando, quase de forma desesperada, uma costelinha de porco, daquelas
de lamber os beiços, uma vaca atolada, uma massa, um cuscuz
marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um barreado, um bife à
milanesa, um chambaril, um torresmo decente, uma costela no bafo.
Foi embora aquela felicidade demonstrada por Clark Gable no filme ''Os
Desajustados'', quando ele observa, morto de feliz, Marilyn Monroe devorando
um prato. E elogia a atitude da moça, loa bem merecida, abafa o caso.
Toda preocupação feminina agora está voltada para a estatística das
calorias, as quatro operações da magreza absoluta, ditadura da tabuada, lero
lero, vida noves fora zero. É como se todas fossem posar para a ''The Face'' ou
algo do gênero do dia para a noite, fazer bonito nos editoriais de moda, vôte!
Mal sabem que isso não tem, para homem que é homem, quase nenhuma
importância.
François Truffaut, o francês cineasta, padrinho sentimental deste
cronista, já alertava, em depoimentos registrados em suas biografias, o valor
insuperável das mulheres normais e o seu belo mundo de pequenas
imperfeições. Tudo sob medida das nossas taras sem réguas, sem balanças,
sem trenas.
Além do prazer de vê-las comendo, coisa mais linda, pesquisas recentes
mostram que as mulheres com taxas baixíssimas de colesterol costumam ser
mais nervosas, cricris, chatas, dão mais trabalho na rua, em casa, no bar,
pense no barraco!
Nada mais oportuno para convencê-las a voltar a comer, reiniciá-las
nesse crime perfeito.
Às fogazzas, aos pastéis, aos cabritos, ao sanduíche de mortadela, ao
lombo, de lamber os lábios, galetinhos de tevês de cachorros -gloss natural da
existência-, ao churrasco de domingo para orgulho do cunhado, que capricha
na carne e incentiva os seus pecados todos. E aquela fava, meu Deus, com
charque, enquanto derrete a manteiga de garrafa, último tango do agreste...
O importante é reabrir o apetite das moças, pois homem que é homem, como
diz meu velhíssimo mantra, não sabe sequer _nem procura saber_ a diferença
entre estria e celulite.
Caballeros Solitários rumo ao sol poente chegam a São Carlos, SP. Hoje,
terça, 24, dia do glorioso São João, 20h30, fogueira, balões e dois dedos de
prosa no SESC, dentro da programação PAPO DE LETRA.
Este cronista que vos sopra a nuca conta suas bromas e narra suas melhores e
mais sinceras mentiras. De como beber mucho e escrever socialmente, entre
outras curiosidades e cutucões de auto-ajuda explícita, periodismo picareta,
catecismos e gonzolendas. Enfim, o homem, o mito, a fraude. Apareçam,
amigos do interior. O quentão é por conta da casa. No comando dos trabalhos,
José Luiz (Realejo)Tajan.
Também amarrara meus pés para que atrofiassem. Meus pés eram
muito grandes para pisar distraída nos astros do meu novo mundo. Os
chineses mais antigos adoravam pés atrofiados. Dispunham de uma técnica
avançadíssima, capaz de reduzir um pé a 8 centímetros, o recorde.
“Olhe para eles na palma da sua mão”, teria escrito, conforme os anais
fetichistas, o poeta Sung. Li nos mesmos alfarrábios que as mulheres de
passos cambaleantes, por causa do tamanho dos pés, eram tidas como
nobres. Havia ainda uma relação entre a atrofia dos pés e o apertamento da
buceta.
* do livro “Se um cão vadio aos pés de uma mulher-abismo” (gênero: idílio;
editora fina flor, sp)
ASCENSO X MÁRIO
Falei de Ascenso Ferreira, ninguém deu a mínima. Falei do meu amor y ódio
por Mário de Andrade e nego só lembrou do pior, eita falta de contradição, mô!
Ê crasse média!!!
Inda bem q fui na praia e amei tanto o meu amô q fiquei grudadim feito a lua
com o só
Poderosa Miss C.S., fui vergonhosamente traído por minha mulher, tipo
flagrante delito, o que fazer? (Devoto da Gaia Ciência, Juazeiro, Bahia ).
NÃO MENTIRÁS
“Só o poder superior, como diz o nosso regulamento, pode nos devolver a
sanidade. Irmãos, a Ele me apego noite e dia. Minha obsessão me levou ao
fundo do poço, às drogas, ao circo dos horrores finais. Depois da ilusão de um
reality-show, achava que a vida estava ganha. Reconhecimento, convites para
boates, festas, roupas de graça em loja de shopping... Tudo aquilo encobria o
meu passado humilde. O primeiro sinal da doença foi largar a minha mulher,
trocada ainda durante o reality por uma vadia, embora em tivesse jurado por
tudo nesse mundo que era um jogo, não passava de um jogo, o jogo da minha
vida. Balela, irmãos. Capa de revista, ilha de Caras, programa de auditório...
Tudo era uma maravilha nas primeiras semanas... (Juan soluça, aos prantos, e
não consegue concluir seu depoimento).
“Quanta vergonha fiz ao meu pai, à minha mãe... Quanta vergonha... Me expus
como uma verdadeira, com licença da palavra, irmãos, prostituta. Lembram
aquela cena debaixo do edredom, na casa? Eu masturbando ele? Uma
indecência que encobriu a minha família de luto. Meus irmãos não saíam mais
à rua, lá no bairro. Quanta vergonha. E não ficou só nisso, depois mudei de
namorado, cada armação, até três vezes por semana. Fiz tatuagem com nome
de um, apaguei, tatuei o rosto do outro, fiquei toda perfurada com essa
presepada... Meu assessor dizia: ´você tem que se manter em evidência´ e eu
ia lá, doente, obedecia... Um tempo depois, passada a febrezinha na mídia,
tava lá meu cartaz estampado em boates da Boca do Lixo, as piores possíveis,
`Keylla, a da TV, em sensacional noite de sexo explícito, ao vivo, só pra você´.
Ai como foi difícil largar essa vida... Só por hoje, mais 24 horas, obrigado
senhor, obrigado irmãos, K.”
“Vi que a coisa tinha saído do meu controle, eu parecia possuído, quando
cheguei a simular um acidente de carro para voltar a aparecer... Eu mesmo me
cortei todo e bati o carro contra o poste para impressionar... Depois, ainda com
a alma desassossegada, simulei meu próprio seqüestro... Uma
desmoralização... Ele estava fora de si, o artista, não o homem, que agora
encontra salvação entre vocês... Obrigado, Y.”
Todos, abraçados para valer, grande corrente solidária, a uma só voz: “Só por
hoje, mais 24 horas. Acredite, funciona!”
TELEFÔNICOS CORAZONES *
Por mais megalomaníaco que seja Vossa Senhoria, recomendo que não
acredite naquelas algazarras, feiras amorosas, sacolões do sexo, capazes
de fazer os vizinhos pularem da cama só de inveja. Aquela gritaria toda,
meu amigo, só vale para provocar um problema dos mais graves. Deixará
o casal que mora do outro lado da parede em pé de guerra, uma vez que a
mulher, atenta à lição de gozo comparado, vai exigir mais, muito mais,
mais e mais, e mais um pouquinho ainda, do seu colega de prédio ou de
rua. E o pior é que os gritos só costumam ocorrer quando o gozo não
passa de truque, melodrama de fêmea, como canta a deusa La Lupe na
película Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos: “Teatro, lo tuyo es puro
teatro/ falsedad bien ensayada/ estudiado simulacro/ fue tu mejor
actuación/ destrozar mi corazón!”
O gozo desesperado costuma ter origens variadas (falar nisso, por que
ninguém cita mais W. Reich, meu ídolo da lira dos 20 anos?!). O gozo
desesperado, falava este locutor que vos sopra a nuca, costuma ser
resultado de algum curso mal digerido de teatro amador, de formação em
escola com viés jesuíta, interpretação errada dos manuais do Actors
Stúdio, dietas à base de alcachofra, audiências tardias das onomatopéias
do Led Zeppelin ou falta de homem propriamente dita.
Quando descobriu que o nariz era o seu pênis e o seu pênis era o seu nariz,
Nikolau ficou triste, mas não uma tristeza que fosse capaz de subtrair-lhe de
tudo a capacidade de rir de si mesmo, ironia, minha jovem gazela, o
pequeno Niko ensebou no berço desde o primeiro cocô-abacate.
Bem que Nikolau notara alguns sinais estranhos tão logo havia
adentrado à vida adulta, mas nada que o fizesse lavrar um diagnóstico
definitivo.
&&&
ASTERISCO INVOCATÓRIO
&&&
Ainda sobre a Antologia Bêbada...Reparem no time de gente do
ramo:Andréa del Fuego, André Sant´Anna, Antonio Prata, Bruno Zeni, Chico
Mattoso, Clarah Averbuck, Índigo, Ivana Arruda Leite, Joca R.Terron, José
Alberto Bombig, Marcelino Freire, Mário Bortolotto, Matthew Shirts, Nelson
Oliveira, Reinaldo Moraes, Ronaldo Bressane e este kaririense que vos
sussura aos ouvidos dos pés.
TEORIA DO MEDALHÃO, 100 ANOS DEPOIS
O HOMEM-PROJETO...
Duas coisas que nós do mundo macho deveríamos aprender de uma vez
por todas: festa sem gay não decola, não emplaca, não orna. A outra verdade,
daquelas bem simples, óbvias e cristalinas: toda grande mulher tem ou deve ter
um gay como principal e inseparável amigo.
São duas sentenças bíblicas. Deveriam constar de lei federal, nas Tábuas
de Moisés, em todos os testamentos.
Você já viu uma festa sem gay animada? Também não. A pista não pega
fogo, as mulheres não têm com quem fuxicar sobre o modelito da perua mais
emperiquitada ou da dama de vermelho... Seja forró, pagode ou eletrorock...
Seja em Nova York ou em Colônia do Piauí, terra de um dos raros bons
políticos do Brasil, o travesti Kátia, vereadora há dois mandatos, adorada na
região por homem, mulher, menino, cachorro, gato, papagaio, macaco e os
velhinhos viciados nos seus cafunés e dengos populistas.
E se o frege tiver, por exemplo, um Jackson Araújo, basta. Sai tudo nos
conformes: do ossobuco ao repertório - com direito a Diana (“Ó meu amado/
por que brigamos?...”) e tudo o mais que exige a decência e a fome de viver.
Pra completar, o desgraçado ainda ajeita o caimento da roupa de uma aqui,
corta a franja da outra acolá, receita um Lancóme mais na frente... Um
espetáculo. Luxo, riqueza e conforto num ambiente 5 estrelas.
A mesma lição da festa perfeita vale para a amizade das nossas gazelas.
Mulher sem um amigo gay nos arredores não tem graça. Com um gay como
melhor amigo, ela fica mais inteligente, mais bem-humorada, mas faceira,
acerta a roupa que veste, pinta o cabelo pra sair da rotina, o diabo-a-quatro.
Você ainda pode ficar em casa vendo aquele Bangu X Madureira na maior
tranqüilidade, pois ela certamente terá ido ao cinema com a biba de estimação.
Ora, e você ainda fica livre da obrigação de ver cinema iraniano, paquistanês
ou coisa que o valha - ela terá visto todos com o amigo-cabeça. Uma beleza,
uma mão-na-roda essa união.
Sem esquecer, claro, que você, cabra-macho, também terá um grande
amigo, normalmente brilhante, para quebrar um pouco a rotina da testosterona
à milanesa do boteco e a ignorância animal de tantas peladas.
* da 3ª edição do livro "modos de macho & modinhas de fêmea -a
educação sentimental do homem", que acaba de chegar às livrarias e
boas casas do ramo.
Estimada Miss C. S., bálsamo dos aflitos, socorrei-me, careço do teu cafuné
espiritual... Estou mais lascada do que maxixe em cruz.... Sou casada,
separada, namorada, amante e rapariga ao mesmo tempo do meu ex-tudo,
santo e puto pai dos meus filhos. Mas a controvérsia é que apesar de gostar do
cabra, ando de olho gordo em um outro, gosto de chocolate, cor de canela e
doce muito doce... tenho medo de morrer diabética (mas sempre é melhor do
que esfaqueada!!)
Como resolver a questão? Tomando banho frio, purgante de mamona ou devo
comprar a revista do milhão e ficar de joelhos rezando para ser sorteada??
La Concha Indecisa
Resposta:
Querida e Indecisa criatura, “está certa disso?” Entre os jogos de azar e os
bingos do amor, a sorte grande está mesmo nas lições do excesso – tenham
elas gosto de chocolate ou travem qual o jiló-do-arrependimento.. Pois como
dizia o velho místico inglês, só o excesso conduz ao palácio da sabedoria.
Quanto ao bofe-eterno-retorno, mantenha distância – mas de apenas alguns
metros ou ao alcance do seu “help” mais agudo. Sabe como é, a mercadoria
está em falta na despensa – e no mercado, minha filha, só restam os bofes-
pepinos, bofes-abacaxis e toda uma sorte de hortifrutis de fim-de-feira.
Sempre à sua disposição, na barraca espiritual mais próxima, Miss C. Solitários
Resposta:
Querida Penélope, como toda musa de ladeira, saberás esperar a estrela da
manhã, que não tarda, pois o tempo para os amantes é sempre nada, coisa-
alguma, beirinha-de-dias e auroras alvissareiras, folhinhas no calendário, dias
que correm aos pés do Coração de Jesus das edições Paulinas. Mira o fundo
das tuas xícaras de café e verás, como cigana das margens do Potengi, o
mancebo em desalinho, talvez atordoado, ostra viva escondida na casca de
uma promessa de amor. Qual o Câmara Cascudo da tua terra, piolho de
cabarés e desordens líricas solenemente aceitas pela mulher amada, talvez o
moço esteja a essa hora no frege da vida, tão-somente para suportar o fardo
do trabalho e enganar, distraído para a sorte, o peso dos dias. Aceita, pois, o
afago carinhoso desta dama envelhecida em barris de bálsamo que vos fala.
Estico a vista e enxergo, no horizonte da tua janela e no desconforto dos
cotovelos da espera, a caatinga em flor, mais florida que os jardins de Swan.
Sempre às ordens, neste Caritó e suas cinzas das horas, tua Miss C.
Escreva você também para a nossa brava cigana, que volta a qualquer
momento conforme a demanda das dores do mundo. Adiós!
Macunaemo desaba no choro, não por ter perdido o ouro, mas pelos buracos
olímpicos d'alma. Quem nunca esqueceu a vara em casa que babe no divã
mais caro de Viena, Leblon, Higienópolis, Ondina, Espinheiro ou Jardim
Europa.
Macunaemo, que surgiu em prosa do acaso domingueiro com Ortinho, cantor e
compositor do jazz de Caruaru e do fim do mundo, é um ser quase olímpico, o
que rói a corda, o quase também da música de Fred 04, "porque estamos
quase lá, sempre, a gostosa da praia que dá, não dá, dá, não dá mole...".
No futuro, o Macunaemo vai rir disso tudo, porque só nos restará os esportes
coletivos, o resto será tudo programado para bater recordes, competição
científica e nada esportiva -como é um pouco hoje, noves fora os bravos
negões jamaicanos que enganam a vida na curva como esse coqueiro que dá
coco-dub da Nação Zumbi e outros futurismos.
A Olimpíada terá tanta graça quanto uma corrida de 100 metros rasos da F-1.
Os atletas nem precisarão ficar em suas marcas, nada de tiro de pistola para o
alto, carece apenas que um tiozinho olímpico meça a possibilidade genética no
sangue de cada ratazana do espetáculo.
Agora sim, ai, que preguiça, Dorival Caymmi! Pára o mundo, o grid, que eu
quero uma rede. Para que tanta pressa, amigo, se o futuro é a morte, morrida
ou de tiro certeiro?
Que fascismo submeter nossos jovens, que já venceram etapas sociais muito
mais grandiosas, a esse orgulho idiota decidido nos laboratórios de atletas.
Vamos fazer bonito na várzea mais próxima, sem jet-leg, no almoço de
domingo, com flores para as nossas negas, mães e amores, e continuar
rezando, como Jorge Ben e Antônio Maria, para as moças, ai, dorivei geral,
populista do amor e da sorte, ai que preguiça do mundo.
Post scriptum, P.S.: Gerado no mundo virtual, entre uma Lan house do
Capibaribe e um albergue de Amsterdã, o Macunaemo conhecerá seus pais no
Recife ou em Olinda, no carnaval que se aproxima, evoé, Baco, chega de
trabalho para enriquecer os outros.
Agora mais um chorinho, o Macunaemo merece: por que todo mundo acha
apenas que Dunga & cia. devem fazer o papel de românticos em um Brasil
f.d.p. que põe o cano na cara do outro, seja no beco escuro seja nos ambientes
ditos civilizados?
BAUDELAIRE DE BANDONEÓN
una estranha palabra nos une en la calle, no leito e na via láctea de hoy por
delante. Ainda não sei qual a trilha sonora da nuestra noubellita amorosa ou
ficosa, de ficare, ficaraón [ficar + tataruón, la cona na linda melodia del
guarany] como diria meu maestro em portuñol selbarre, don Douglas Diegues.
ficar de ficare, nueba mueda de los chicos y chicas de las boates que não
combina com un viejo como yo, bem, como estaba a dizer, una palavra muy
bela, a mais encantadora de las castanholitas que batem entre la lengua e el
palato, um vocábulo de responsa, quase uma sonata numa só palabra, una
palabra que hay lido carmencita de las alterosas rogada en mi sofazito da cor
dos nuevos biños das beiras do rioja, una palabra que achou en um poema do
Tuca, libreto muy belo do argentino, digo, do boedaníssimo spleen de Boedo,
Baudelaire de bandoneón de todas lãs manos de un polvo, a quem tive el
prazer de conhecerlo en um seqüestro de escribas y poetas de boinas en
puerto de las galiñas, nueba Holanda del brasil. una palabra que guarda la luna
refletida como noá-noá de david goodis, “puedo sentir el ruído del água”, me
sopra Casas, son las dos de la mañana y mi corazón chacoalha na pista de la
ilusión enquanto tu bailas no praga, en la calle de turiassu, san Pablo, un tenro
hoqueyroll que me encanta, com um sorriso que é capaz de tirar leite e
comoción da mais inanimada das bidas de un pobre paralelepípedo esquecido
sob pneus e pés sem rumo.
Serge, eu te amo, eu também não. “Je t´aime, moi non plus”, esse é o cara, o
grito, o sussurro, a fome de viver, o beijo no chão da vida. Sem meio termo,
pois só os homens de boa vontade encontrarão o palácio da sabedoria. O
excesso, o mito, a fraude, o mal-diagramado, pois a beleza é passageira, a
feiúra não. A feiúra é linda, pois é pra sempre, amém.
Toque outra vez, Serge Gainsbourg (1928-1991). Resenha com trilha sonora:
“Ballade de Melloddy Nelson”. Alvíssaras, meus camaradas, agora escutemos,
gozo ao longe, “Bonnie & Clyde”. Em tempos de paranóia antitabagista, releio a
biografia, não a maior, que é francesa, mas a inglesa, que fazer?, do mais puro
dos canalhas líricos. “Uma doce figura trágica com aquela cara de quem tinha
acabado de sair de uma garrafa de uísque” , confessa a autora da obra, Sylvie
Simmons, célebre periodista do rock´n´roll da terra da Rainha, escreve pra
revista “Mojo” e quejandos da mesma laia.
Elas cantaram com ele “Je t´aime, moi non plus”, cada uma ao seu jeito de
amor-pezinho-colado-para-sempre. O sempre possível, à Cândido de Voltaire,
como diz a vida e não desmente a biografia. D´onde Gitanes vem a ser o
cigarro do bar e do pós-gozo, aquela mesma marca do povo da nouvelle
vague, aquele povo gola-alta e falante, ah, o trago-de-autor a sair pela janela.
Embora seja muito direcionada aos ingleses, com um enorme mea-culpa pela
demora da aceitação da sacanagem de Gainsbourg entre os britânicos, a
biografia da menina Sylvie Simmons é muito valiosa. Ela fez uma grande
reportagem, ouvindo meia França e até motoristas de táxi que haviam gerado
filhos aos grunhidos da maior música de motel e strip-tease de todos os
tempos, a Marselhesa do amor, a internacional do desejo, a linda e única “Je
T´aime, moi non plus”.
Seu guarda, eu não sou vagabundo, sou um cara carente, estirado aqui
na praça Roosevelt ou na pracinha do Diário, com o meu próprio teatro do
absurdo no bolso, pensando nela!
o que tu entende por tratado dos anjos afogados? Sim, tem lázarus dream na
estrada perdida do abstrato, mas me diga mais, beba mais um conhaque, eu
espero o fogo das tuas ventas, bote elvis na juke box, cheire aquele pó de
parede que teima em chamar de droga, mira, q bunda perfeita, disfarça, respire
lá fora, eu espero, o que tu diz conta coisas, intimo, compareça, faça dancinha,
madonnize-se, beba cachaça com pólvora feito os guerreiros dos maracatus,
entorne pinga de arroz com desodorante avanço como os lokis dos regimes
comuns, invente um sol para as suas escuras lentes que, sinto muito, nem a
sra. Ressaca, essa romântica, te visitará nas manhãs seguintes, tudo bem,
estrebuche, provoque, me chame de baudelaire do baixo augusta, me ame
mas antes pise , teu scarpin é o preço da suposta inveja do pênis, e não me
venha com essa de que gosta de hemingway só pra dizer que é macho
mesmo, como se a literatura ainda fosse viva e tocasse no rádio uma polca-
bilac, ora direis, polir estrelas, nem vem, não me enrole com melopéias e
marolas, me diga, ou mande no ventinho d’aurora seu repente, seu free-style
de quinta, celebre o purgatório da galega, te juega, mas antes me diga, o que
tu entende por tratado geral dos anjos afogados, minha bela alma de traveco?
não falo dessa coisinha esquemática tipo lua na sarjeta, me diga, ou fique
peixe para sempre, amigo, não há mais tempo... o tylenol-cioran vai roubar o
sol de ti como como a cortina que apaga manhãs.
* livre-resenha com interferência de vozes da noite sobre "Tratado dos
Anjos Afogados" (editora LetraSelvagem), de Marcelo Ariel, o Dante de
Cubatão e dos infernos do alto. Um assombro de livro. Eu recomendo.
...as mudanças de casas e cidades, além das separações, óbvio, nos levam
discos e livros e isso é lindo, de alguma forma ficamos lá sob agulhas que nos
tocam como boleros e sob os olhos da ex que nos lerá nas suas entrelinhas e
nos sulcos melancólicos dda carnaúba dos vinis; os amigos não nos devolvem
nossos livros, e isso é melhor ainda, pois os amigos são para toda a vida, os
amigos podem levar nossa estante inteira, é bom que os livros andem,
passeiem, se desmanchem, copulem com outros volumes, sintam o gozo
masoquista com outras traças desconhecidas; igualmente lindo é quando
reencontramos esses coisos que já passaram pelos nossos sentidos e olhos;
parecem mulheres ou grandes amigos que não vemos há tempos, que bom,
vem cá, me dá um beijo, como vai você, a vida tem lhe tratado bem, eu preciso
saber, tudo está deserto ou tudo certo como dois e dois são cinco?
numa visita que fiz agora aos subterrâneos de babélia, tive um alumbramento
desses atrás do outro; logo de cara dei com “Prosa do Observatório”, Cortázar,
e dele mesmo, mais adiante, amassei, como quem amassa uma antiga
namorada, “Orientação dos Gatos”... E haja aqueles livrinhos da coleção
“Cantadas Literárias”, "Feliz ano velho", sempre de novo, grande Paiva... e
sabe “Porcos com Asas”, aquela delícia de putaria e política italiana? Da
mesma Brasiliense, que nos alumbrou tanto nos 80, catei com gosto
“Mulheres”, do velho Bukovski, os encantos radicais encomendados a Leminski
(Cruz & Souza, Trotsky, Bashô e, aleluia, até Jesus!), enquanto isso na
prateleira acima “Luna Caliente”, do Mempo Giardinelli, da Olho da Rua/LPM,
já dançava nas minhas lentes clorofiladas.. eu tinha a Brasiliense inteira em
casa, ainda no Hellcife, depois de ganhar -milagres acontecem!- um concurso
de hai-kais da revistinha Primeiros Toques, vibrante órgão de divulgação da
brava editora de Caio Graco.
VOCÊ NÃO É CACHORRO NÃO, MAS EU SOU WALDICK SIM, COM MUITO
ORGULHO
Morreu, digo, partiu desta para uma melhor, o cantor e compositor Waldick
Soriano, o nosso Johnny Cash baiano, como diz o escriba e amigo Zé Teles. A
imagem que fica é o seu chapéu preto voando em uma noite fria de São Paulo,
mas precisamente na porta do cabaré do viejo Charles Bronson, ali na rua
Avanhandava. Foi a última vez que estive com o ídolo, finalzinho do ano
passado. Inesquecível a conversa molhada por duplos uiscões inspiradores.
Nós, cuja educação sentimental, aí incluindo os bons pares de chifres,
devemos a WS, o homenageamos com esta crônica que segue, e que a terra e
todas as dores de amores lhe s sejam leves... No cinquentário da bossa-nova,
sinto muito pelos bons modos jazzisticos que tanto agradaram a classe média
do sr. João Gilberto, mas ninguém me disse mais coisas do que esse homem
que cantava Dostoievski para as putas e para as nossas mães ao mesmo
tempo:
“Hoje que a noite está calma/ E que minha alma esperava por ti/Apareceste
afinal/ Torturando este ser que te adora...”
Lembro minha mãe Maria Socorro e a prima Maria Ivone, nuestra amada e
bolerística Marivone, o buriti-mor da generosidade do Crato e arredores,
ouvindo Waldick e Nelson –“Fica comigo esta noite/que não te arrependerás/ lá
fora o frio é um açoite...”
Mas voltemos a Waldick, toque outra vez meu amigo, talvez não haja canção
mais bela, sim, do que “Tortura de Amor”, aquela cujos versos enfeitam a
cumeeira desse texto,e que prossegue, mais ou menos assim: “Volta, fica
comigo só mais uma noite/Quero viver junto a ti/Volta, meu amor/Fica comigo,
não me despreza/A noite é nossa e o meu amor pertence a ti”.
Falar no homem, essa mesma “Tortura de amor”, com o grupo português Clã, é
uma coisa d´além mar. Pense numa dor-de-corno com acento de fado e
melancolia à moda do Porto! A homenagem a Waldick está no cd “Eu não sou
cachorro, mesmo”, da Allegro Discos, a mesma gravadora que havia feito um
tributo a Odair, esse outro monstro do chifre. Além da mocinha do Clã se
derramando de amor & dor, tem China e Lula Queiroga cantando Marcio
Greyck, que eu vou te contar, uma coisa de cinema, uns curiós, uns pitiguaris,
umas patativas, uns sabiás...
Toca outra vez, Waldick, desce mais uma, Robertão 70, e que vocês se
entendam por ai... Daqui do planeta azul, platonicamente hablando e tirando
onda de sofista em tubarônicas bocarras, pago la dolorosa... Depois de todas
as saideiras a gente se reencontra. Beijos.
sim, pode tirar a calcinha, meu amor, eu disse, ela implorava, pois o costume e
o combinado é não tirar quase nunca, o caminho é pelos cantinhos, os aceiros,
os cantinhos da existência, as beiradas d´alma, os riachos entre a carne e o
osso, explorá-los todos, cada beiradinha de vida, como numa floresta, as
pocinhas d´água e desejo e ainda o suor que cai como chuva guardada na
copa das árvores dos seus cabelos, como aqueles pingos da chuva mesmo
que ficam guardados nas folhas das folhas da relva e viram uma chuva depois
da tempestade, chove, meu amor, derrama tudo dos guardados, das nuvens
escuras dos nuestros obscurantismos, tira a calcinha como quem tira o juízo,
como quem deixa o passado guardado com o chapeleiro de Alice e viaja no
reino do vai-sem-volta do ácido possivel.
, digo, PIXO, repito, a única ARTE À VERA, de SAN PABLO, o que faria o
próprio OSWALD, reconhecedor de talentos primaveris, saldar a rapaziada
guerreira, A ÚNICA aqui inventada, ele que sabia que o GÊNIO é uma grande
besteira...
MERCADORIA DE PRIMEIRA
Que o alcaide do pueblo que ainda habito, digo, o prefeito (blog é coisa de
jovem q não sabe o q seja alcaide), seja uma mulher, q bom que existe mais de
uma na parada, existem, em sampaulândia. O futuro, como já dizia aquela
película com Ornella Mutti, é mulher, é transex, o futuro é operado, tudo menos
macho...
Que o/a próximo/a PREFEITO(A) de sampaulândia não faça muita coisa. Que
não faça quase nada, três vezes nada. Porque fazer em SP representa o caos
maior ainda. Q não faça obras, q mal se mexa, q mal se vista, não saia de casa
para não ampliar o fumacê-fumaçá, stop, parou o prefeito ou o automóvel
malufista de sempre?
Sim, amigos, o que San Pablo precisa é do não-suor tão exaltado de todos,
incluindo nós migrantes de todas as pátrias e nordestes mais bravos
ainda, porra, chegou um tempo em que o desodorante AVANÇO em nossos
suvacos lindamente fedorentos não passa do pior tipo de atraso. te amo SP,
MAS CHEGA DE CRESCER, que a grandeza migre para outros sítios!
A BOLSA OU O BODE *
ARRIBA COMANCHEROS!
* da série contos fatais, ficção incluída no meu libreto "Tripa de Cadela &
outras fábulas bêbadas" (ed. dulcinéia catadora, R$ 5).
** do livro "Suicídio: modo de usar", de Claude Guillon e Yves Le
Bonniec (ed. Antígona, Portugal).
O HOMEM-PROJETO, A OBRA ABERTA E O MACHO INACABADO (parte
II)
Sem-talentos, procuram-se
Logo logo não restará sequer uma criatura sem projetos no Brasil. Uma
nação de artistas e produtores culturais. Como no conto “Dois Augúrios”, de
Villier Adan-Lisle, encontrar um sem-talento será motivo de foguetório,
mercadoria rara, lance inestimável, brindes ao infinito. Atenção sem-talentos,
sem-cerimônias em geral, cartas e currículos para a posta restante deste
escriba ibid idem.
Logo mais não teremos encanadores, bombeiros,eletricistas, bancários,
pequenos agricultores, a boa gente do comércio, excelentes amassadoras de
pães-de-queijo, exímios pontas-de-lança, mulheres prendadas, tapioqueiras,
profissionais do lar... Apenas escritores, cineastas, praticantes da nanoarte (ah,
você está por fora, trata-se da tribo da nanotecnologia, ramo da cultura digital
que beira as raias da linguagem atômica), humoristas de televisão, críticos
benjaminianos, pintores, tradutores, tribalistas, transgressores...
Para completar, viramos até pátria da ginástica artística, olímpica... Era
só o que faltava para a nossa ruína!.
Ah, saudades da nossa vocação agrícola, dependente apenas de algum
crédito público, meteorologia de adivinho e bravos homens do campo. O novo
celeiro do mundo, calorias para todos, futuro à vera, “de pé, famélicos da terra!”
Agora até os nossos bons médicos são doutores de “Caras”....
Para completar o desastre histórico, como as mulheres têm queda para
os homens-projetos! Assim como o pendor eterno, a asa quebrada pelos tolos.
Isso quando elas mesmas não se antecipam e inventam os seus
arrazoados de arte. Cadê a gente normal, a missa, o Fla-Flu, o Sansão, o
Grenal, o Ba-Vi, o Clássico das Mutidões, Santa x Sport, o Icasa X Guarani, o
almoço de domingo, o “amor só de mãe” -como me venderam no aforismo do
pára-choque mais afetivo?
A atriz intensa costuma ser mais intensa ainda que o ator intenso.
Queda que as fêmeas têm para a tragédia, especula-se. Em compensação, o
macho-dramaticus é mais histérico na sua intensidade. Tudo o perturba,
desconcentra –principalmente o ronco emitido pelo convidado VIP que sofre de
apnéia na primeira fila. O macho é mais estressadinho, cheio de nove-horas e
não-me-toques. Carrega essa tensão para o palco mesmo quando na pele de
um patafisico Ubu Rei. É incapaz de compreender o paradoxo do comediante,
como debocharia o camarada Diderot.
100% Hamlet
-Só não vou te perguntar se vens sempre aqui porque a casa inaugurou
hoje.
Mr. Abelha não tem bala na agulha para bancar uma bonequinha de
luxo, também não é um típico “maníaco do trechinho”, como chamamos
aqueles supostos intelectuais que disparam duzentas citações e frases de
efeito por minuto. Ele tem apenas a manha de fazer sorrir a mais existencialista
das afilhadas de Jean-Paul Sartre. E isso é o que conta no primeiro momento,
seja qual for o estilo do cavalheiro.
Se o camarada não for lá, digamos assim, um gato, vai carecer ainda
mais do poder da simpatia e do algo mais. Sim, um mal-diagramado, caso
deste cronista que vos aborda, sabe muito bem que a sua luta é quase sempre
por pontos, ali na corda do discurso amoroso, minando a resistência da moça
no ringue mais lírico, riso a riso, drinque a drinque, gesto a gesto.
O contrário do bonitão, do galã, sempre confiante, pois está
acostumado a vencer por nocaute –embora muitíssimas vezes quebre a cara e
volte para casa mascando o jiló do desprezo.
Sim, os desprovidos, como se diz, da beleza padrão, carecem ganhar
sempre por pontos; os bonitões guardam na caixa torácica a soberba do triunfo
por nocaute.
O melhor de tudo, para sorte nossa, é que a beleza é passageira e a
feiúra só acaba no túmulo, como dizia o doce canalha fancês Serge
Gainsbourg. Com essa conversinha mole, e muito charme, óbvio, o autor da
clássica "Je t'aime moi non plus", a chanson mais tocada nos motéis do mundo
inteiro, teve belas e quentíssimas histórias de amor com Jane Birkin e Brigitte
Bardot, entre outras tantas fraquinhas da época.
Para fechar o boteco, duas dicas de livros que caem bem como saideira
e post scriptum dessa crônica: “Por um punhado de Gitanes” (ed.Barracuda),
biografia de Gainsbourg escrita pela jornalista inglesa Sylvie Simmons, e “Por
um bife e outras histórias de boxeadores” (ed. Artes & Ofícios), do velho lobo
da selva Jack London. Beijo para quem é de beijo, abraço para quem é de
abraço, e até a próxima.
descer em cima de ti mais um pouco, até mais ou menos um palmo diante dos
teus olhos, e dizer eu te amo com a convicção de um míope/astigmático no
escuro... sem trilha, sem blues, peleja de cego em becos alexandrinos, mineiro
suicida de Émile Zola a palo seco, essas coisas que guardo e prezo da soma
das ignorâncias, passa a régua iluminista de uma figa, essas coisas da feira, da
peixeira e dos livros. o eu te amo como música final e única da banda
esquerda do meu corpo que toca de ouvido, tripas & corazones, o rolling stones
goats head soups, o nada que sou e era e o futuro-bundinha-pra-cima numa
praia deserta donde te imagino ao meu lado, fui, baby, o resto é cartão postal
que te mandarei do fim do mundo.
Hoje é meu aniversário, embora haja uma dúvida linda: meu pai me registrou
depois de seis anos d´eu haver nascido. 03 ou 06 de outubro? meu pai bebeu
emocionado a caminho do cartório, um estirão, cantou com os pássaros nas
veredas, umas quatro léguas do sítio das cobras até Santana dos Fósseis,
terra de pterossauros das antigas mesmo, a maior reserva brasileira do gênero,
Chapada do Araripe -ao Google, moços em dúvidas!
meu pai pensou coisas, chutou pedras, primeiro filho nos miolos, os ratos no
armazém de milho, arrobas de algodão a perigo no campo, seu Eluzo, o
comprador de Nova Olinda a caminho. terá preço? uma roça no juízo, as
pragas agrícolas, a mosca no leite, os zumbidos do universo, a seca verde no
ano de pouca chuva...
meu pai é um homem de verdade. nasci no tempo em que nao havia pressa
burocrática muito menos vantagem em registrar los hijos. hoje sim, registrou
tem programas socias, bolsas etc, necessárias políticas de guerra para que
não morra gente com menos de um ano de idade, justíssimo, como na velha
europa de 1949 em diante. alias gracias a mi madre por haber vingado em um
tempo em que se perdia filho fácil facil. quantos irmãos e primos anjinhos se
foram numa viagem tida como naturalíssima! mas chega de lenga-lenga ou
supostos populismos na visão hipócrita e metropolitana que só pensa no
umbigo...
Dos vícios falar, não das pessoas. Mesmo com esse lema aparentemente
sossegado e cristão, o padre beneditino e escriba de mancheia Miguel do
Sacramento Lopes Gama (1791-1852), não deixava viv´alma livre da sua pena
destemida. Todos queimavam no seu purgatório imaginário.
Meu amor diz “avestruz não, não consigo, lembro do pescoço dela”. Eu digo ao
meu amor que sou assim apenas com os coelhinhos e o resto do zôo não me
fala à sensibilidade Discovery Chanel. E mirem que era avestruz defumada,
com alho, tipo salame, saca? Meu amor às vezes é tão sensível que só vendo.
Bebe mingau de sonhos na mamadeira que lhe esquento, aí dorme, desaba,
descamba... e me deixa falando sozinho com as janelas abertas, mal engole o
chá de paisagem que lhe preparo com ajuda de vagabundos impressionistas.
[em Tquarituba, latitude 23º31'59" sul e longitude 49º14'40" oeste, São Paulo,
Brasil, América do Sul].
- Fui deitar ali no chão, ontem de tarde (na última sexta-feira), e tomei nas
orelhas de um policia - conta Edevaldo Filgueiras, 40, mineiro de Araguari.
Assim como Francimar, que deixamos lá na cumeeira desta pirâmide social
invertida, apenas um desses tantos refugos dos novos tempos, mix de
seguidos desempregos, desilusões, desordem na família, algumas doses de
álcool a mais e a ressaca desencantadora das ruas. E não me cabe aqui a
guerra moral das ligas das Senhoras Católicas ou Evangélicas. Filgueiras foi
desandado e desandou. Ponto.
Jonas, nome para lá de fictício, foi mais além: entrou no crack e dorme no chão
da nova praça, sob o olhar austero do sr. Luiz Lázaro Zamenhof, que vem a ser
o criador do Esperanto, a língua utópica do mundo todo, e habita a praça na
condição de estátua suja de merda de pombo. Jonas tem apenas 25 anos, fala
como se fosse um personagem urbano de Guimarães Rosa, nonada, uns
grunidos, bem feito para o cronista, quem manda chegar na vida alheia e que
só a ele pertence –inclusive para decidir sobre o seu cachimbo!- cheio de
perguntas. Há um sorriso alucinado por detrás daquela nuvem de fumaça
azulada na noite dos nóias, como são denominados os Jonas nada bíblicos,
corruptela de paranóia, de São Paulo.
Difícil alguém assumir que é mendigo no chão da praça. Tem muito catador de
papel, camelô bissexto, gente que até tem família nos arredores da capital, os
nóias, claro, ladrões de pouca importância, pois ali não dorme assaltante de
bancos ou grandes valores e ninguém acusado de enriquecimento ilícito. Haja
descuidistas e um magote de gente sem grana para ir e vir de trem e ônibus
diariamente dos arredores de SP, como o casal Arimatéia Soares, 44, paulista
de Mauá, na região metropolitana, e Lúcia Pontes (este repórter se recusa a
perguntar idade de mulher, não insistam!), baiana de Vitória da Conquista.
Donos de uma banca quase virtual de confecções, Arimatéia e Lúcia ficam dois
dias seguidos no centro e voltam para dormir uma noite no “barraco” em
Carapicuíba, na região metropolitana. Quase virtual? Sim, quem flana, como
este cronista, ou quem trabalha no centrão de SP sabe como funciona hoje a
venda dos camelôs. Eles ficam nas ruas exibindo cartelas com fotos das
mercadorias, para fugir do “rapa”, negociam com os fregueses e vão buscar os
produtos entocados entocados em corredores de edifícios, debaixo de balcões
de botecos na área e outros “mocós” secretos.
Sim, você ai, amigo de plantão do conservadorismo ou da higienização de fato,
vai me dizer que os moradores de rua poderiam dormir nos abrigos da
prefeitura. Tem razão, muitos dormem. Pena que casais como Arimatéia e
Lúcia, que deixaram mais dois filhos no “barraco” com uma tia, não podem
dormir por lá, é proibido o acasalamento. São cerca de 7 mil vagas para cerca
de 12 mil, no mais acanhado dos cálculos de hoje, descobertos que dormem
sob o sereno. Como reza o liberalismo clássico, nem todo “homeless” tem saco
para enfrentar a burocracia e o “fichamento” dos abrigos, têm direito a circular
livremente por onde entenderem. Além da mulher, nem o cachorro, fiel amigo
dos viadutos, pode entrar nestas casas públicas de pernoite. Os mendigos
alegam também que por lá os roubos são freqüentes. Até usar barba, reparem
só, é proibido, têm que cortar os cabelos e ficar “limpinhos” como o sonho feliz
de cidade de alguns fascistas.
Alem do post abaixo deste, nada como um post atrás do outro e um século
idem, este Carapuceiro orgulhosamente se rende à efeméride gutenberguiana,
pero sem jabazismos (PENA!) e apenas com os 10% de praxe, e homenageia
o DIA DO LIVRO com o volume-mor da cabeceira de um homem de verdade,
com vocês o “ABC DO FAUSTO WOLFF – tudo o que você sempre quis
perguntar sobre sexo, humor e política e nunca teve coragem para saber”
(editora L&PM, Porto Alegre, 1988).
O raro volume do livro que foi parar no sebo matou uma velhinha de espirro; o
filho em vez de estar roubando e matando por ai inventou de ser juiz de direito;
a árvore virou lenha da pizza margheritta que tanto une os bons amigos nos
paulistanos domingos.
O livro era de auto-ajuda e fez sorrir a exímia secretária bilíngue; o filho era
imbecil, mas funcionava como um poodle para alegrar as visitas; a árvore, no
seu corte mais imprestável, virou um porrete, arma quente nas mãos de um
justiceiro de subúrbio.
O livro foi retirado às pressas das livrarias por suspeita de plágio descarado; o
filho também só dizia frases feitas e adágios populares; a árvore se achava a
própria macieira que deu a maçã que despencou no coco do sr. Isaac Newton.
Amigo, se você é do tipo que diz “eu te amo” de uma forma, digamos
assim, precoce e irresponsável, na afoiteza das primeiras e belas noites na
alcova, como já tanto o fez este pusilânime cronista, prepare o seu coração
pras coisas que eu vou contar, digo, “se liga”, como verbalizam os avexados
mancebos da hora.
Se a gazela for safa,sábia, mal algum há em tal pronúncia, até apreciará
o empolgante anúncio como uma poesia de fundo, como se uma música de
Sérge Gainsbourg –Je t'aime moi non plus- estivesse tocando no quarto de
motel barato àquela altura.
Pensará a moça, bem baixinho, “que doce vagabundo”. Terá sido
apenas um pequeno crime, como num bolero, um “besame mucho”, um cha-
cha-cha num Caribe imaginário, cortinas ao vento, lua caliente lá fora, barulho
de caminhões no asfalto.
Sim, a gazela pode entender como um “eu te amo mesmo, de verdade,
verdadeira, assim como Deus sobre todas as coisas”.
Que mal há nisso?
Quantos amores à vera começaram com um “eu te amo” de brincadeira?
Nesses tempos de amores líquidos, de amores ficantes, de amores-
vinhetas de 15 segundos, quem saberá o que venha a ser o amor patenteado
pelos deuses incas ou gregos?!
O melhor mesmo é dizer, sem medo, eu te amo, e honrá-lo pelo menos
enquanto o sublime eco resistir entre aquelas abençoadas quatro paredes.
E se ela acreditar, ora, ora, manda um “eu te amo,
meeeesssmmmoooo”.
Com olhinhos revirados, vamos mais fundo ainda: “Eu te amo até o fim
dos tempos”.
Se ela não tá nem aí, você se vira para o piano e ordena, como no filme
Casablanca, mesmo que estejam atravessando a avenida Afonso Penna em
Belo Horizonte, seis horas da tarde, buzinaço, hora do ângelus: “play, again,
Sam!”
E manda mais “eu te amo”, como um estribilho do vento, nas oiças da
desalmada, até ela acostumar com a natureza humana do macho que veio ao
mundo com um cowboy solitário que tem apenas um mantra, uma bala no
coldre dos sentimentos: “eu te amo”.
Monocórdico sr. das sombras cujo cardiograma é um terremoto de “eu te
amos”, como um sismógrafo nervoso a riscar o mostrador da maquininha que
mede os tremores demasiadamente humanos de todos os cardiologistas
particulares.
Antes um “serial lover” a dizer eu te amo como um cuco desembestado a
um elíptico e silencioso cabra safado que guarda os “eu te amo” para a hora do
chifre ou para a extrema-unção, como meu amigo “mucho macho” que morreu
balbuciando, câmera lenta, para o padre Cristiano, lá em Santana do Cariri,
muito tempo atrás: “padre, me perdoa, estou morrendo, creio, e nunca disse eu
te amo!”. Donde a dúbia e indecifrável sentença guarda dúvida até hoje: “para
quem seria aquele guardadíssimo eu te amo?”. Para o padre ou para o seu
amor proibido?
Donde baixa um Esopo fabulador para deixar a moral da crônica: mais
vale um “eu te amo” que entre por um ouvido e saia pelo outro do que um
silêncio mortal de um homem que nunca se empolga e deixa a gazela achando
que “eu te amo” é coisa só de novela e de filme americano.
A MELHOR HORA DE UMA MULHER
Amiga, realmente, como disseste, ainda não havia me deparado com um caso
do gênero. Não que a sua história seja mais grave ou mais pecaminosa, como
poderíamos julgar com as lentes do moralismo. Não é mesmo. É complexa,
óbvio, como o próprio enredo da vida. Não é à-toa que a literatura está repleta
de novelas, peças teatrais e romances com narrativas semelhantes. Só na obra
do dramaturgo Nelson Rodrigues, que conhecia a existência e dela se
apropriava para dar voz a personagens, temos muitos destinos semelhantes.
Toda essa rede de acontecimento, amiga, não passa de uma pequena tragédia
cotidiana na qual não se deve buscar culpados e muito menos te anular como
mulher. Se achas que houve erro da tua parte, ele pecou mais vezes e de
forma mais cruel: não soube valorizar e ter a mulher que o amava. Perguntas
sobre o futuro, sobre a possibilidade de tê-lo de volta. Amiga, só te digo uma
coisa: ego de macho ferido é difícil de cicatrizar. Nós aprontamos e aprontamos
por ai, mas na hora em que nos sentimos traídos, tornamos isso muitos vezes
um caso sem reparação. Ora, o macho não vai voltar atrás mesmo que esteja
emborrachando-se de amor e bebida no botequim da esquina. Não pode
mostrar que é fraco, sensível, principalmente diante dos amigos, pois foi
educado para um faroeste onde, como no filme dos irmãos Cohen, os “fracos
não têm vez.”
Tens todo direito sim de enviar sinais para ele de que o sentimento de perdão
habita o teu peito, mas enquanto isso o melhor mesmo é não perder o pé da
vida e da possibilidade de um novo amor. Em muitas ocasiões, retornos em
casos como o teu representaM um inferno, com toda sorte de humilhações e
constantes “passadas na cara” dos episódios anteriores. Há muita vida lá fora.
Coragem, carinho, do amigo Xico
Bom dia Xico Sá, li muitas das suas ajudas às leitoras, bom, nunca vi ninguém
lhe pedindo ajuda pelo mesmo motivo que eu... Tenho 29 anos e morei junto
com uma pessoa por quase 10. Nossa relaçao começou qd meu marido era
casado, tivemos um caso e acabei engravidando, ele que já passava por
problemas no seu casamento há algum tempo. Sempre tivemos uma vida
maravilhosa juntos, muito amor, respeito, carinho.Tivemos dois filhos, e hoje
estou separada desde o dia 25/10/2007. Motivo: eu traí meu marido e ele me
pegou no flagra! Bom...sou muito apaixonada por ele, sempre vivi em função
do nosso casamento, mas chega um ponto na vida em que a mulher se cansa
de não ser admirada, desejada....
Bom, nesta noite fiquei até mais tarde tomando cerveja com meu cunhado, ali,
tarde da noite meu cunhado me assediando, eu já estava bem alterada pelo
álcool, cedi, tivemos ali uma transa, mas tb não senti prazer...No outro dia
sentamos para conversar eu e meu cunhado e fizemos um pacto de nunca
contar a cagada que tínhamos feito.Tudo ficou normal até que em janeiro do
ano passado, meu esposo me pegou no computador converssando com o
irmao dele e achou estranho a nossa converssa(pelo MSN)... Mais tarde, fui
tomar banho e ele foi tb, no chuveiro ele começou a me perguntar o que tinha
acontecido entre eu e o irmão dele que ele não sabia, mas pressentia, aquilo
me doeu muito na hora e eu não consegui me segurar, contei pra ele o que
tinha acontecido, várias vezes ele foi tentar conversar com o irmão dele e ele
negava...Até que um dia eles brigaram feio e o irmão dele disse que nunca
mais falava com ele...Assim, somente eu disse a verdade ao meu marido....O
irmão dele contiuou negando. Mas mesmo assim, meu marido me perdoou e
continuamos nosso casamento.Claro que eu sabia que daquele momento em
diante nada seria mais igual...
Até que comecei a ser cortejada por um rapaz que trabalha comigo há algum
tempo, e durante 11 meses consegui me conter, e nestes 11 meses ele me
presenteava, me dizia coisas que mexiam comigo. Até que não consegui mais
segurar e aceitei sair com ele. Meu marido, não sei como, me pegou no flagra
no motel. Apesar de nada ter contecido, entre eu e o outro cara, sei que foi
muito dificil pro meu marido nos pegar ali...juntos..nus...Meu esposo me
mandou embora de casa, ficou com nossos filhos e agora estou lutando na
justiça pela guarda deles. Hoje, exatamente 2 meses e 10 dias sinto um vazio
enorme em meu peito, estou muito mal com o que fiz, afinal, não sinto e nem
nunca senti nada por este outro cara, sempre amei o meu marido, mais até que
a mim mesma...Sei que errei, agi por impulso, por estar sendo algo novo que
me traia. Bom, levando em conta que antes do meu marido tive relação com
outros 7 rapazes durante a minha adolescência, e nunca nenhum deles me deu
prazer como meu arido, mas infelizmente, o casamento se desgasta, e as
pessoas mudam, né?. Sentia que não despertava mais o desejo do meu
marido e que ele a muito tempo não conseguia me dar prazer...um dia descobri
que ele frequentara uma casa de massagens, fui conversar sobre isso com ele,
mas ele me disse que não tinha transado com ninguém, apenas o tinham
masturbado lá.Que ele não se sentia bem em transar com outra mulher pq me
amava. Que tinha feito isso pra se vingar de eu ter traído ele com o irmão...
Hoje, estou muito machucada, sentindo muito a falta dele, ele diz que não me
quer mais, que me ama apesar de tudo, mas que não pode mais viver comigo,
e tudo esta caindo sobre minha cabeça....como é que a gente pode destruir a
vida assim, sem nenhum propósito... Se ao menos a gente traísse por gostar
de outra pessoa...mas não, só mesmo desejo...
Bom, queria saber sua opinião quanto ao meu caso, nunca tive oportunidade
de converssar sobre o acontecido com um homem, então queria saber...Se
fosse vc o marido da história, acha que um dia vc perdoaria sua mulher e
aceitaria ela de volta? É muito difícil pro homem aceitar esta situação, eu sei,
mas será que é possível o perdão?!O que você me aconselha a fazer nesta
situação, tentar esquecer ou lutar por ele? Aguardo sua resposta...Grande
abraço. Fernanda, BH, Minas.
Segundo a suposta dona, Jeanenne Teed, ele tinha tumor de pele, doença que
o levou a perder uma das pernas. O prêmio de US$ 16 mil conquistado no
concurso seria usado para o tratamento de saúde do animal, informam todas
as agências. O olho foi ferido durante uma briga com um gato.
Não sei se ando frágil, cuidado vidros e cristales, mas deu dó, senhor
piedade, desta pobre alma que se vai. Não sei se é p q a minha gata Déli (de
Delicia, diliçi, apelido by Maria/Jojô Gatis) caiu domingo da janela –depois de
um dia de silêncio está lindamente carente como sempre e sonha com peixes-
patês nos oceaninhos dos seus ojos azules.
Ninguém acaba com as baratas, e, como diz o jazz interior do meu amigo
Bombig, Thelonious continua tocando Solitude.
Lloro un poco (que o Word teima em corrigir para um poço) por ti, viejo Gus,
que minha lágrima seja pelo menos uma pulga.
Só lamento tua morte, porque nós, os artistas enquanto jovens cães, somos
lindos e quebramos espelhos com os raios de nuestras babas ou latidos.
DA ESPIONAGEM AMOROSA & OUTRAS INVASÕES BÁRBARAS
A amiga M. conta que, mais uma vez, caiu na tentação de fazer uma
rápida espionagem no telefone do mancebo.
Quem manda!
Quem procura, acha, como grita o adágio popular mais óbvio.
Aproveitou o banho do condenado para ver, pelo menos, as últimas
mensagens de texto.
Maldita caixa de entrada.
Claro que encontrou merda, com licença da palavra, mas foi essa a
descarga de inevitável léxico –que outro vocábulo poderia usar nesta fatídica
hora?- a preferida para o desabafo a este cronista e conselheiro das moças.
Encurralado, o miserável já havia dito que ficara com outra donzela.
Nada demais, só uns beijos, disse o réu confesso diante das provas
incontestáveis. Hoje uma fotinha digital, enviada anonimamente por e-mail, vale
por mil cartas anônimas de antigamente.
O infeliz das costas ocas, o lazarento, o febre-do-rato, o cabra safado –
aqui reproduzo fielmente o rosário de adjetivos usado por minha amiga traída-
aproveitou um desses carnavais fora de época para a famosa prática do pulo à
cerca, o mais olímpico e familiar dos esportes brasileiros.
Um homem picareta e uma folia de micareta, definitavamente, não
rimam com fidelidade e amor.
A amiga M., porém, já sabia com quem lidava, idiota quem acha que é
tarefa fácil engambelar uma fêmea. Não que o moço fosse de tudo um canalha
legítimo, era apenas um homem, ainda um amador nessa arte.
O que incomodou mesmo a colega foi a falta de criatividade do
desalmado. O filho de uma rapariga havia escrito para a nova presa a
mesmíssima coisa que rabiscara mal e porcamente na mensagem com destino
à doce M.
Tudo bem, não era nada genial, mas uma frase comovida, dizendo quão
bela fora a primeira noite dos dois juntos. Sim, porque é ridículo que um macho
e uma fêmea, chabadabadá, como diz a trilha daquele famoso filme de Claude
Lelouch (“Um homem, uma mulher, 20 anos depois”, em todas as locadoras do
ramo), se locupletem na cama e o silêncio torne irrespirável o dia seguinte.
É preciso, é necessário, e deveria constar da Declaração dos Direitos
Universais do Homem, que se diga pelo menos uma coisinha, um agrado,
SMS, um mimo, ainda sob o sol que se levanta muito antes dos dois. Não
estamos falando em casamentos ou outros laços duradouros, amigo, é questão
de educação e delicadeza, simplesmente um carinho depois de tanta
intimidade.
O que chateou a amiga, de modo a doer-lhe no fígado, foi que o mal-
assombro dela usou as mesmas palavras que mandou para a “vagabunda”.
Claro que o ciúme não é apenas do plágio, da cópia automática, mas
isso prova como os homens, além de frouxos para encarar os romances,
andam sem a menor criatividade. Gente que gasta a maior lábia para os
negócios e os projetos culturais –caso do mancebo sob o tiro ao alvo desta
crônica- é incapaz de variar em duas linhas para uma mulher honesta, digo,
para uma mulher que presta!
ME PEGO PENSANDO COMO
Como ela vem. Como está sendo o seu banho exatamente agora. Como ela ta
cheirosa, mas que sue um tiquinho no camiño para dosar na conta, nossa!
Como ela se olha no espelho na hora de se trocar. Como. Como ela fez o
barulhinho do elástico da calcinha, pleft, a mais linda onomatopéias das moças.
E nas vitrines da rua, como será aquela rápida mirada, extrato para simples
conferência demasiadamente feminina. Como ela brigou com o cabelo hoje,
porque em alguns dias os cabelos teimam em desobedecer às mulheres, sejam
eles como forem. Como ela encarou o armário. Como enfiou a colher no papaia
logo cedo antes de todas as acontecências. Como ela blasfemou contra o
universo. Como ela disse “ai," ao teléfono, "mãe, num se preocupa, eu já estou
grandinha”. Como os homens a olharam no percurso, que os homens do
andaime não assobiem um “gostosa” hiperbólico, sob pena de ela se achar
cheinha deveras, mas que assobiem alguma coisa, que não pequem por
omissões – ah, não, são homens de verdade, não trabalham com elipses.
Como ela deu aquela ajeitadinha nos peitos, agora já recuando para o começo
das ações, o espelho. Como ela roçou um lábio no outro para corrigir o batom e
dosar na maldade. Como ela decidiu por sandálias e não por sapatos ou tênis.
Como ela pôs o rosto na janela para ouvir o homem do tempo. Como ela deu
aquele saltinho na rua de moça feliz por hoje. Como ela achou que o celular
tocava dentro da bolsa só porque eu pensava nela e não era nada pouco.
DA SÉRIE MICRO-EROS
[De mi libro "Tripa de cadela & outras fábulas bêbadas", ed. Dulcinéia
Catadora/ 2008, R$ 5, contos & declarações de amor para atravessar um
deserto inventado].
TECNOLOGIA DE PONTA
Ô PSIT!, Ô DO SOFÁ!
Aquém muito aquém de Barbarella e suas futuras galáxias, reinou Dale Arden,
que alimentava o seu herói,destemido macho-loreal do infinito, com o melhor
dos alpistes que pode receber um homem na hora da aflição e do sufoco
monstruoso: “I love you Flash Gordon!”. Era ouvir tal mantra e o bom rapaz
quebrava tudo, seja no reino mais cool ou no planeta mais quente e colorido...
era como estivesse sempre a bordo de uma bela camisa havaiana tremulando
feito bandeira do fim do mundo.Era um tempo de muita decência e elegância
entre machos & fêmeas, não tinha essa modinha terrestre de “preciso do meu
espaço”, ai, ui, que frescura! Era um tempo de vem cá meu bem, vamos rachar
a taboca do universo, cola bonito, gruda a costela-superbonder na minha cama
de mola, pula dentro desse vestido e vamos humilhar a pista com o rock que
ressuscita ladrilhos pré-históricos e faz de lagartixas os dinossauros mais
modernos de 2.046. Era um tempo em que a simples menção de “era uma vez”
dava um nó das épocas e calendários, a criatura não sabia se estava no
passado ou no futuro... Simmmm, as mulheres e seus heróis intergalácticos
eram fortes, lindos e destemidos, feitos um para o outro, não tinham essa
leseira-fake da moda e seus miojos de passarela, nada de sopinha instantânea,
as coisas eram para sempre, em vez de perdidos no espaço com suas dê-erres
(discussões de relações sem pé nem cabeça), sabiam que o eterno é o melhor
que se faz agora, assim na terra como nas galáxias, sabiam que o moderno do
moderno, de qualquer época, é igual a um “eu te amo” da heroína de Flash
Gordon... não sai de moda nunca, never, forever, nevermores ao infinitum.
Gisele Bündchen não acha marido por aqui. Sim, amigo, em alguns
lugares do Brasil, a dita über mega super modelo não arrumaria nem para o
sal, como bodejam as gentes antigas do interiorzão.
Mostro a foto da modelo na capa da revista, o caboclo entorta os beiços,
silêncio no deserto, fecha um pouco os zolhos gastos pelo solzão das esperas,
e economiza palavra e saliva: “Presta no amolegamento não, dotô, pegar
adonde eu vô?”.
Amaro, 44, balbucia, agora mirando com um só olho, como se fosse dá
um tiro de espingarda soca-soca de matar nambus, preás, codornizes e outras
misturas e marrecos: “Tão graciosa calunga e passando necessidade!”
Pense na viagem!
No terreiro de casa, passa o rio São Francisco, meio acabrunhado
depois da construção da vizinha hidrelétrica de Xingó. No quintal, tem a grota
de Angicos, onde Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros foram
chacinados no ano-calibre de 38, 1938, sete cabalísticas décadas atrás.
No cardápio, dona Gilda Nunes, 58, mãe de 12 criaturas, transforma a
memória de necessidades e secas brabas em gastronomia de primeira, coisa
fina mesmo. Da cabeça-de-frade, aquele cacto redondinho com o cocuruto
vermelho, faz um doce de lamber os beiços; do talo da urtiga faz uma salada
para acompanhar o surubim, peixe que já escasseia no velho Chico cansado
de tretas. Do facheiro, também nascida na teimosa flora semi-árida, sai uma
geléia de matar de inveja o D.O.M. e o Fasano, para citar dois dos mais
premiados e metidos restaurantes paulistas.
“A gente tem que aprender a tirar desse deserto tudo que é sustança”,
dá o mote-exemplo. “E isso vem de longe, eu já aprendi com a minha mãe, que
aprendeu com a dela, que aprendeu mais atrás ainda e as minhas filhas já
fazem tudo melhor do que eu.”
Luíza, novinha cheirando a leite, é uma dessas meninas. Faca amolada,
tira os espinhos dos cactos com a habilidade de um japonês cortando peixe
para fazer sushis. Um mar de água, o cacto desmancha-se na bacia. “Muita
gente já matou a sede, em tempo ruim de verdade, com essas plantas”, repete
a narrativa que ouviu dos mais velhos. “Os bodes tiram os espinhos
espezinhando a cabeça-de-frade, depois enchem o bucho, felizes, Deus sabe o
que faz.”
O doce do cacto é de botar abaixo qualquer regime ou cuidado de
mulher com a silhueta. Lembra doce de mamão verde, mas é muito melhor
mesmo. Embora algumas mais jovens já sigam os padrões estéticos
importados na parabólica, sertanejo que é sertanejo aprecia mesmo é uma
moça roliça, cheinha. A Gisele, repete Amaro, teria sérias dificuldades para
arrumar marido na nação semi-árida.
Macho considerado também é o que apresenta sinais de fartura para
encobrir o esqueleto. Homem fornido, redondo na cintura e nas bochechas,
barriga que dá o ritmo em qualquer forró. “Quando tu balança dá um nó na
minha pança”, como na lição gonzagueana.
“Hoje em dia, na capital, tem essa moda de graveto, coisa sequinha, só
o osso, as moças parecem aquelas vaquinhas da seca, andam tudo
desconjuntadas, pernas destrambelhadas, que diabo de tempo é esse?”,
pergunta dona Gilda. “Tem moça que é só o fiapinho de gente. E moça rica,
com condição de comer direitinho, com bufunfa, dinheiro.”
De certa forma, o pendor pelos mais cheinhos e cheinhas, sinais de
bonança, não deixa de ser uma vingança estética contra a memória da fome,
sertão dos flagelos. A busca da fartura até nas carnes de casamentos e
pecados, cercas tantas do amor.
Mas no restaurante familiar de dona Gilda, de nome Angicos, batismo
que nem carece de placa, as moças sequinhas das metrópoles escapariam
com peixes e saladas da caatinga.
“Mas aviso logo: comer pouco aqui é uma desfeita”, diz. “Gosto de quem
come como se o mundo fosse acabar logo um tempinho depois.” Para a
sobremesa, além dos doces, redes estendidas debaixo de mangueiras
garantem uma sesta de rei de España.
Crônica de uma viagem inesquecível pela nação semi-árida, que me
rendeu “Nova Geografia da Fome” (ed.Tempo d´Imagem), homenagem a Josué
de Castro, gênio da raça, cujo centenário de nascimento acontece também
neste ano de 2008, salve, salve!
MISSA ANTES DO SÉTIMO DIA
Nada mais lindo em uma mulher do que aquela fração de segundos em que a
gente a flagra olhando bobamente para o infinito. Sem mirar pessoas mares
luas cercas paisagens becos horizontes.
Como a moça daquele romance japa de uma Tóquio de jazz mais ligeiro &
Keroauc no juízo -o livro do Haruki de Murakami.
1.Nem precisamos ir ao mar para ver o nosso amor morrer na praia naquele
derradeiro feriadão do ano. Nosso amor morreu na doutor Arnaldo, depois da
sala de velórios, na frente das bancas de flores, rosas vermelhas que
sustentam amores falidos, girassóis, gerânios, belos arranjos que fazem
milagres e livram os maridos culpados no engarrafamento.
Nosso amor não conseguiu dormir direito nesse dia, zumbizou geral o malaco,
perdeu-se como Esperanza, a linda boliviana de Cochabamba, Penélope que
tece o interminável manto e nada espera nas fabriquetas de costuras do Bom
Retiro.
*re-remix de conto publicado este mês na revista Época São Paulo. Para ler a
versão impressa, cronicamente remixada e ampliada sobre o amor e a
repetição em SP, clique aqui, ó!
PÁGINA POLICIAL
a sangue frio
matou o amor
na Bienal do Vazio.
BATENDO MÓ BOLÃO
O pior é que não adianta nada pedir para um sujeito mudar de time e
tornar-se mais vencedor. Mesmo com a promessa de 27,6% de testosterona-
plus, é mais fácil um homem-que-é-homem mudar de sexo do que de clube.
Sim, a rota é óbvia, mas ,Jéssica terá ido por dinheiro ou afeto de verdade, o
primeiro carinho de sua vida, algo que daria um nó no juízo do menino Walter
Benjamin, o cara, aquele da Escola de Frankfurt?
Aposto que a vida é nada mais que um tatu num tambor, bichinho, agoniado
pela própria natureza que o circunda. O resto é coisa dos homens, um filme, do
qual, graças a Deus, tive a felicidade de assobiar umas coisinhas no roteiro, o
qual subscrevo com orgulho ao lado de Paulo Caldas (el director), Marcelo
Gomes (aquele do genial, genial mesmo, “Cinema, Aspirinas e Urubus”) e
Manoela Dias. Sim, a película se chama mesmo “Deserto Feliz”,
longametragem, e tá rolando em um cinema, talvez não muito perto de você,
fazer o quê se tudo em volta está deserto e tudo certo?
Se puder, amigo, amiga, será lindo que assistam. Perdão pela propaganda
deslavada, mas se a gente não diz, quem dirá por nós? Ainda mais numa coisa
difícil e cara feito o tal do cinema, ave, palavra!
UM HOMEM INVISÍVEL NA MULTIDÃO
Passa boi, passa boiada, e ninguém olha pra você. Ninguém reconhece,
ninguém fala, você não existe. Você é apenas uma mão esticada na multidão.
Uma mão rejeitada. Ponha lá a Gisele Bündchen e a Naomi Campbell e
ninguém reconhecerá as beldades. Ponha lá um Santoro, um di Caprio, e
nenhuma moça dará gritinhos umedecidos. Lá, nenhuma gazela pára o
comércio, nenhum astro incomoda o trânsito.
A fofa até pegou o panfleto que eu distribuía -"Rosa de Ogum, trago o seu
amor de volta em três dias"-, mas não viu meu rosto diluído na massa, não
disse sequer um "ola, que tal?!', um "oi" sem graça, um muxoxo, um zumbido
raivoso de abelha rainha. Fiquei a mascar o jiló do desprezo. Ela passou na
sua marcha elegante para os braços de um outro vagabundo qualquer.
Ofendido e humilhado estou também eu, por causa da mulher que passou e
não me viu na Paulista. Liguei para a desalmada, que riu às pampas dessa
comédia. Na despedida, ouvi o pior que se pode ouvir de uma mulher: um
geladíssimo "a gente se vê".
Importantíssimos.
Uma mulher que afaga e trata bem o meu cachorro, meu corvo Edgar, meu
papagaio Florbé ou minha gata Margarida, marca pontos importantíssimos,
além de fazer o necessário, que é respeitar essas e inocentes e existencialistas
criaturas.
Claro que essa forma de ver o amado ou a amada nos seus animais de
estimação pode gerar também pequenos desastres. Uma amiga do Rio, por
exemplo, evitava as gracinhas do cão do seu ex sempre que ele aprontava.
Chegava a ser indelicada, grosseira, como se visse naquele labrador as
pisadas na bola do seu dono. Acontece. Afinal de contas os bichos ficam um
pouco, com o tempo, com os mesmos focinhos dos seus digníssimos
"proprietários".
Além de tudo isso, pelos animais que possui se conhece mais um pouco um
homem.
Sério.
O cara que cria um gato tem muito mais chance de ser um homem sensível,
embora até enfrente um certo preconceito entre os seus amigos, que insinuam
uma certa "veadagem", para usar o termo do qual abusamos nos nossos
encontros masculinos de futebol e boteco.
O homem que passeia orgulhosamente com o seu pitbull pode até não ser um
monstro, mas aquela focinheira já diz um pouco do seu dono, não? Não que o
cão tenha alguma culpa, ele está no mundo dele. O erro é de que o desloca e o
usa para exercícios de violência.
Mas voltemos aos gatos, esses metafísicos e misteriosos animais. Como eles
dizem tudo sobre o amor e sobre nós. O casal briga e eles incorporam o
barraco. O último que conheci a fundo, de uma ex-mulher, o qual ainda hoje
vejo o vulto branco e tenho saudades, quebrava tudo, virava os objetos da casa
pelo avesso, depois das nossas brigas.
Na harmonia e no amor intenso, lá estava ele, sempre aos nossos pés. Como
eles adoram ver e sentir os cheiros da hora do sexo. Eta bichanos voyeuristas.
Esse gato, especificamente, sempre se enroscava na cama depois das nossas
melhores noites. Dava uma passava como se para cumprimentar-nos pelo
afeto e pela performance. Era o seu "miau" de parabéns, como se dissesse, a
nos arranhar de leve, "estão vendo como o amor pode dar certo, seus
cachorros?!"
Não é regra, mas aqui e ali o tom é mais histérico na classe média, mas
também gritam as burguesas de palácios e algumas fêmeas de palafitas, de
Brasílias oficiais e Brasílias Teimosas, do Savassi à Cabana do Pai Tomás na
BH das Alterosas, de Conjuntos Cearás e de Aldeotas, a vida sempre será um
agonia batendo na porta, como um mendigo sujo que pede restos e sobras,
como em uma canção triste dos Beatles em uma madruga de fantasmas que
reviram fronhas e lençóis.
Ela só quer saber do computador, queixa-se Amaro, velho amigo, que caiu na
besteira de fuçar as gavetas internéticas da costela amada. Para quê, meu
Deus, não faz isso, Amaro, toma tento, esse menino!
Mal escuto as queixas acima, me chega um outro amigo, aqui batizado apenas
de J. para evitar o falatório público em Reriutaba, conhecida no Ceará como a
terra que mais exporta garçons para o universo.
J. não poderia ter outro ofício, claro, e me relata o ocorrido sob as suas telhas
depois que adquiriu para casa o primeiro computa. "Os meninos estavam
precisando para ajudar nos trabalhos da escola", diz, triste e macambúzio.
O problema tem sido a caçula, a gazela, Carol, a menina, uma peste no Orkut,
ele pede clemência, com toda ingenuidade e machismo cozinhado na moleira
sob o sol dos trópicos sertanejos. O problema não é só esse, conta ainda, a
desgraça é que a mulher agora também deu para ficar de flozô na janela de Bill
Gates.
VOCÊ É O MEL
Você é
O Museu do Prado,
Você é
Meu supermercado;
É a melodia de uma sinfonia de Strauss,
É Copacabana,
Ode shakespeariana,
É Mickey Mouse;
Paraíso
Ou Torre de Pisa,
O sorriso Da Mona Lisa;
Sou um boy de banco, um cheque em branco, um réu,
Mas, meu bem, se eu sou o fel,
Você é o mel.
Você é
Men Mahatma Gandhi,
Você é
Um Napoleon Brandy;
Luz do sol que vai quando a noite cai na Espanha,
É uma boa ducha,
O cachê da Xuxa,
O melhor champanha;
É. um toque De Botticelli,
Hitchcock
Com Grace Kelly;
Sou só um galão do multifilão da Shell,
Mas, meu bem, se eu sou o fel,
Você é o mel.
Você é
O dry do Martini,
Você é Filme de Fellini;
É o novo som que nasceu de Tom jobim,
Gal, Caetano e Gil,
Oswald, "Pau Brasil",
É "Serafim";
Maradona
Driblando a zaga,
A sanfona
Do Luiz Gonzaga;
Sou só um Romeu que esqueceu o seu papel,
Mas, meu bem, se eu sou o fel,
Você é o mel.
Você é Minha Mata Hari,
Você é
LIFE de Pignatari;
É Noel que bisa em Vila Isabel,
E uma obra-prima,
É "Macunaíma",
É "Demoiselle";
Ezra Pound,
Gamelão de Bali,
É um round
Do Mohammed Ali;
Sou só uma bagana do havana do Fidel,
Mas, meu bem, se eu sou o fel,
Você é o mel.
Quase um dia das Mães sem as nossas mães, ainda bem, ufa.
Um dia dos namorados sem namorado(a)s por perto. A menos que vocês
desrespeitem aquela verdade bíblica do pão e da carne _ onde se ganha o
primeiro, não se desfruta do segundo, amém.
Fim de ano, aquela animação, aquele queijo coalhado no juízo, nervos à flor
da pele, a vida assim meio Roberto Carlos, meio Almodóvar, meio Nelson
Rodrigues, enfim, a vida simples, brega como ela é, a vida sem mistificação ou
assepsia, a vida que não lava as mãos à toa.
O acerto de contas.
Sério.
Pensaram?
Música, maestro.
Toca uma faixa capaz de fazer de uma madre superiora uma Madonna, capaz
de fazer de qualquer entrevado um Elvis, um Elvis em Acapulco cantando na
beira da piscina do Hilton Palace .
Toca algo assim como aquele "chabadabadá" da trilha de "Un Homme et Une
Femme", filme das antigas, "Um Homem, uma Mulher", de Claude Lelouch,
grande película.
Quarta caipirinha.
Quinta caipirinha.
A blusa não resistiu ao primeiro gole. O sutiã foi parar na cabeça do tiozionho
do arquivo.
A festa acabou.
E agora, José, fica ai o alerta: não há inocentes em uma festa de firma. Numa
festa de firma, o mais tímido e sonso dos mortais dubla Carmem Miranda e
passa a mão na bunda do chefe, só pra quebrar a hierarquia pelo seu ponto
mais, digamos assim, inviolável.
Já passou o CDU/Várzea?
Jaci, 7 e Alberto, além de grandes por si mesmos, vixe, são os T.S. Eliots,
melhor, são os Walt Whitmans do meu estômago quente na chegada ao
Hellcife, linha Crato via Princesa do Agreste, salve salve, Deus inapalpável,
estes homens de carne, amor e osso.
Pense numa espera de madrugas tantas. Pense até o pescoço entortar, pense
enquanto passa boi, passa boiada e nada pra Caxangá, miséria humana, vida
de gado, e quando dobrava da Madalena rumo ao Cordeiro o cheiro de galeto a
me encher de fome de tudo, como reza a poética de Jorge du Peixe, meu ídolo.
Uma forma de contar a vida e a possível luta de classes por intermédio das
histórias aquém e além da catraca. Passa boi, passa boiada...
MODINHAS DE FÊMEA
Reflita comigo!
O pé-na-bunda não tem sequer fundo de garantia, você diria; uma demissão
põe em risco a integridade, o padrão de vida, a auto-estima, argumentaria o
advogado mais ligado às coisas materiais. E por ai segue a peleja, o debate.
Marcelo, cabra bueno, disse: "É um páreo duro, mas acho que é perder a
mulher. O homem pensa que o que afeta mais é perder o emprego; mas ele se
corrói mais por dentro, com a tristeza e a frustração de ter o casamento
terminado, de perder a esperança no casamento. Porque todo mundo acha que
o casamento é para sempre, que vai envelhecer com a pessoa, ter filhos,
netos, casa na praia e que será uma parceria eterna, no entanto se descobre
que não e não será assim, a tristeza é mais corrosiva. Perder o emprego é uma
coisa chata, mas depois de arruma outro."
Ora, quando escrevi meu livrinho que tratava liricamente sobre o tema, ainda
tinha a última das minhas azuladas carteiras assinadas e não vivíamos a
clandestinidade de hoje, quando voltamos, em termos de conquistas aos anos
pré-Getúlio, mas o que fazer, velho Lênin, se o pé na bunda é o de sempre
desde Cleópatra?
Donde fecho com o Paiva: perder a mulher é sempre um "sifu" a mais, para
resgatar um termo que falamos nas ruas desde os anos 70, termo
popularíssimo, o mesmo que causou estranheza dos puritianos da moral e dos
bons costumes ao ser pronunciado por sua Excelência o Presidente da
República.
Sim, Paiva, o amor acaba, como na mais linda crônica sobre o assunto de
todos os tempos, aquela homônima de Paulo Mendes Campos, que vamos
morrer repetindo, amando e correndo, com todos os gerúndios, para os braços
da próxima que nos vai carimbar o traseiro de novo: "O amor acaba. Numa
esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio;
acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou
a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um
automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o
escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à
alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no
cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois
polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha
acabado..."