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BIOCATÁLISE:

19 ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E
CRIAÇÃO DE MERCADOS
Paula Sá-Pereira, José Cardoso Duarte,
Maria Antonieta Ferrara, Paulo S. Bergo de Lacerda,
Flávia Chaves Alves

SUMÁRIO
Compatibilizar o desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente, me-
diante o uso racional dos recursos naturais, a preservação e a recuperação do meio am-
biente e o controle da poluição, são os objetivos centrais das novas abordagens industri-
ais e econômicas, muitas delas utilizando a biocatálise. Deparamo-nos com aplicações
versáteis da tecnologia enzimática em muitos setores industriais. Uma das maneiras
mais ricas de analisar a evolução de um tipo de indústria e, ao mesmo tempo, observar as
tendências de seu desenvolvimento futuro é por meio das informações contidas nas pa-
tentes de invenção, que guardam a evolução do estado da arte e contam a história da
produção das enzimas.
O mercado de enzimas industriais está dividido em três grandes segmentos: enzi-
mas técnicas, destinadas principalmente à indústria têxtil e de produtos de limpeza; en-
zimas para alimentos e bebidas, em constante crescimento devido à procura de novas
aplicações na área de laticínios e panificação; e enzimas para ração animal, cujo cresci-
mento tem sido mais acelerado devido ao grande interesse dos criadores de aves e suí-
nos em aumentar o valor nutricional da ração e facilitar sua digestibilidade.
Ficam evidentes, por exemplo, as novas fronteiras a serem exploradas na proteção
de novas enzimas obtidas através de técnicas de DNA recombinante, em que a legislação
não é absolutamente clara devido à rapidez dos processos de inovação com a introdução
de técnicas cada vez mais inovadoras e específicas baseadas em engenharia genética.
A melhoria dos microrganismos produtores de enzimas de interesse industrial por
processos de transgênese tem acelerado a substituição de atividades industriais não eco-
logicamente sustentadas por tecnologias limpas e economicamente viáveis, sendo fun-
damental a intensificação, a demonstração e a difusão das “biotecnologias brancas”.

431

1ª prova
432 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

INTRODUÇÃO
Inovação, enzimas e bioeconomia são hoje, e continuarão sendo no futuro, um trinômio
indissociável. Os grandes danos e problemas ambientais que se estendem por todo o pla-
neta reportam-se, em larga escala, à economia e à gestão dos recursos naturais. Estes se es-
tendem, contudo, a outros domínios científicos, integrando-se e complementando-se
num enquadramento inter e pluridisciplinar. Compatibilizar o desenvolvimento econô-
mico com a proteção do meio ambiente, mediante o uso racional dos recursos naturais, a
preservação e a recuperação do meio ambiente e o controle da poluição, são os objetivos
centrais destas novas abordagens industriais e econômicas, muitas delas utilizando bioca-
tálise. Neste contexto, a “bioeconomia”, que é uma economia ecologicamente e social-
mente sustentável (GEORGESCU-ROEGEN, 1977), apresenta-se como uma solução eco-
nomicamente viável. A utilização da bioeconomia pretende diminuir os custos e a produ-
ção, substituindo produtos sintéticos por produtos biodegradáveis e renováveis. Desta
forma, a inovação deve atuar como ponte entre a economia e o meio ambiente, dentro de
uma lógica de redução dos impactos ambientais negativos sem o comprometimento da
competitividade das empresas. No entanto, o desenvolvimento e aplicação de novas tec-
nologias enzimáticas necessitam de adequada discussão dos seus efeitos, abrangência e
aplicabilidade sob o ponto de vista nacional e internacional.
Para que a biocatálise seja considerada uma ferramenta de rotina em processos
economicamente sustentáveis e apresente vantagens competitivas, devem ser preenchi-
das condições básicas relacionadas com a disponibilidade das enzimas a previsibilidade
do seu desempenho e o seu custo. Estes conceitos são resumidos na figura 19.1.

Reduzido Biotecnologia
Impacto ambiental

Elevado Tradicional

Altos Baixos

Custos
Figura 19.1 Adaptado de White Biotechnology – Gateway to a more sustainable future, EuropaBio 2003.

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 433

ENZIMAS E A PROPRIEDADE INDUSTRIAL


A história da indústria de enzimas, assim como de qualquer setor industrial, pode
ser avaliada sob diversos ângulos. Uma das maneiras mais ricas de analisar a evolução de
um tipo de indústria e, ao mesmo tempo, observar as tendências de seu desenvolvimen-
to futuro, é por meio das informações contidas nas patentes de invenção. As patentes
não só detalham soluções técnicas precisas, como contêm referências a outros docu-
mentos que procuram resolver os mesmos problemas. A história contada por elas é as-
sim uma abrangente teia de relacionamentos cruzados em que a compreensão da solu-
ção técnica descrita pode depender da leitura e do encadeamento de vários documen-
tos de patente (ASSUMPÇÃO, 1999).
Os direitos de propriedade sobre enzimas têm grande importância para a evolu-
ção e desenvolvimento desta tecnologia, atuando na área principalmente o Estado, os
meios acadêmicos e o setor privado, sendo este último, atualmente, o que o nível mun-
dial mais investe no desenvolvimento e pesquisa biotecnológica.
Em Portugal, o Estado e as Universidades suportam majoritariamente o investi-
mento em investigação, havendo a necessidade efetiva de aumentar os índices de parti-
cipação do setor privado.
Desde que assinaram o Acordo TRIPS (Trade Related Intellectual Property), que
derivou do acordo entre a OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual) e a
OMC (Organização Mundial de Comércio), e que entrou em vigor em Janeiro de 1995,
os países signatários deste acordo vêm aperfeiçoando e aprovando legislações relaciona-
das com a propriedade intelectual, invenções, modelos de utilidade, desenhos industria-
is, marcas, direitos autorais e demais formas de criação de uso industrial ou comercial.
O patenteamento de enzimas industriais é ainda reduzido quando comparado
com outras áreas do universo de patentes (tabela 19.1). O interesse por sua proteção
tende a aumentar, com benefícios óbvios. Ficam evidentes, por exemplo, as novas fron-
teiras a serem exploradas na proteção de novas enzimas que são obtidas através de técni-
cas de DNA recombinante, em que a legislação não é absolutamente clara devido à rapi-
dez dos processos de inovação com a introdução de técnicas cada vez mais inovadoras e
específicas baseadas em engenharia genética.

Tabela 19.1 Número total de patentes depositadas e de patentes relacionadas a enzimas em 16


países.

Ano 1995 1996 1997 1998


Número de patentes 74 84 108 189
relacionadas a enzimas
Número total de 12.917 14.333 13.366 18.689
patentes
Relação percentual 0,6 0,6 0,8 1,0
(Enzimas/Total)
616 Fonte:
Assumpção, 1999.

1ª prova
434 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

Os portfólios de patentes das empresas e instituições atuantes no setor revelam


que, ao lado das companhias grandes e tradicionais, tem surgido nos últimos anos no-
vos intervenientes, como pequenas empresas de base tecnológica, centros de pesquisa e
empresas associadas a universidades, as spinoff. Ao mesmo tempo, tornaram-se mais
complexas as formas de cooperação entre os novos sistemas de gestão empresarial e as
empresas tradicionais.

CENÁRIO ATUAL DE ATIVIDADES DE PESQUISA,


DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO EM BIOCATÁLISE A NÍVEL
INTERNACIONAL
As patentes têm sido freqüentemente usadas como uma fonte de informação sobre pes-
quisa e desenvolvimento. Com o objetivo de analisar os principais setores industriais
que desenvolvem atividades de P&D em biocatálise, foi realizada uma busca de patentes
acerca deste tema. Entre os anos de 2004 e 2005, foram encontradas 86 patentes sobre
biocatálise ou desenvolvimento de biocatalisadores (tabela 19.2).

Tabela 19.2 Patentes em biocatálise/biocatalisadores depositadas nos anos de 2004 e 2005

Título da patente Ano Depositante


A method for promoting biocatalyst diversity 2004 Pessoa física
Biocatalyst and method for its preparing 2004 Pessoa física
Biocatalyst for preparing invert sugar and method for 2004 Pessoa física
preparing invert sugar
Device and method for power generation and power supply 2004 Pessoa física
Direct alcoholic fuel cell using biocatalyst 2004 Pessoa física
Electrode compositions and configurations for 2004 Pessoa física
electrochemical bioreactor systems
Membrane enzyme reactor and method of producing 2004 Pessoa física
bioproducts by using the same
Method for preparing biocatalyst for producing 2004 Pessoa física
alcohol-containing sparkling drinks
Method for producing an aqueous acrylamide solution with 2004 Pessoa física
a biocatalyst
Method for producing optically active chroman-carboxylate 2004 Pessoa física
Method for synthesising peptides peptide mimetics and 2004 Pessoa física
proteins
Method for the separation of oligomeric N-substituted 2004 Pessoa física
(meth)acrylamide compounds and conjugates thereof
which are reversibly thermally precipitating
Method of manufacturing compound with biocatalyst by 2004 Pessoa física
using controlled reaction temperature

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 435

Tabela 19.2 Patentes em biocatálise/biocatalisadores depositadas nos anos de 2004 e 2005

Título da patente Ano Depositante


Process for preparing N-substituted 4-hydroxypiperidines 2004 Pessoa física
by enzymatic hudroxylation
Process for preparing optically active 2004 Pessoa física
4-hydroxy-2-pyrrolidinone and n-substituted
4-hydroxy-2-pyrrolidinones by enzymatic hydroxylation
Process for producing monomer 2004 Pessoa física
An improved process for the preparation of stable 2004 Council Scient Ind Res
immobilized biocatalyst
Biocatalyst containing a laccase 2004 Tech Uni
Ceramic composite material, for use as a biocatalyst or 2004 Foerderung Von Medizin
biofilter, e.g. for treating polluted water, comprises Bio Und (De); Univ Bremen
biological material and nanoparticulate reinforcing material (DE)
embedded in a ceramic substrate
Recombinant, fad-dependent sulfhydryl oxidases, method 2004 Heinrich Heine Uni
for the production thereof and their utilization Duesseldorf (DE)
Method and device for producing an aqueous acrylamide 2004 Stockhausen Chem Fab
solution using a biocatalyst Gmbh (DE)
Method for the production of an aqueous acrylamide 2004 Stockhausen Chem Fab
solution with a biocatalyst Gmbh (DE)
Process for protection of insoluble enzymatic biocatalysts, 2004 Universidade Fed De S (Br);
biocatalyst obtained thereof and bioreactor with the Fundacao de Amparo a
immobilized biocatalyst Pesquisa (BR)
Process for purifying energetic gases such as biogas and 2004 Co2 Solution (CA)
natural gas
Process for the preparation of phenolic carboxylic acid 2004 Ciba Sc Holding Ag (CH)
derivatives by enzymatic catalysis
Method for producing acrylamide using film technique 2004 Univ Tsinghua (CN)
microbiological transformation
Serial manufacturing technique for synthesizing ethyl 2004 Shanghai Inst Of Chemical
caproate by biologic catalyzing Indu (CN)
Preparation of a macrocyclic lactone 2004 Syngenta Participations Ag
(CH)
Process for making de-esterified pectins, their composition 2004 Cp Kelco Aps (DK)
and uses thereof
Simple enzymatic process for preparing cefazolin 2004 Bioferma Murcia S A (ES)
Method for controlling biooxidation reactions 2004 Cognis Corp (US)

1ª prova
436 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

Tabela 19.2 Patentes em biocatálise/biocatalisadores depositadas nos anos de 2004 e 2005

Título da patente Ano Depositante


Biological process for the production of 2004 Us Air Force (US)
ortho-aminophenols from nitroaromatic compounds using
mutase
Method for producing a biomimetic membrane, biomimetic 2004 Commissariat Energie
membrane and its applications Atomique (FR)
Control of biocatalysis reactions 2004 Tech Innovation Ltd C (GB)
Ionic liquids 2004 Univ Cambridge Tech (GB)
Polymer composite with internally distributed deposition 2004 Univ Nottingham (GB)
matter
Method for producing high-quality (meth)acrylamide 2004 Daiyanitorikkusu Kk
polymer using biocatalyst
Method for producing ammonium carboxylate using 2004 Asahi Chemical Corp
biocatalyst
Method for using biocatalyst 2004 Daiyanitorikkusu Kk
Method of purifying aqueous amide compound solution 2004 Dia Nitrix Co Ltd (JP)
and process for producing amide compound
Transesterification reaction method using biocatalyst in 2004 Kuraray Co. (JP)
ordinary temperature-meltable salt
Selective functionalization of hydrocarbons with isolated 2004 Mitsubishi Gas Chemical Co
oxygenases and mediator based regeneration (JP)
Method for producing ester 2004 Mitsubishi Rayon Co
Method of producing dl-methionine 2004 Nippon Soda Co
Process for the production of methionine 2004 Nippon Soda Co (JP)
Method for completely decomposing bisphenol 2004 Univ Nihon
Aqueous acrylamide solution containing saccharide 2005 Pessoa física
Chaotic fermentation of ethanol 2005 Pessoa física
Enzymatic substrate hydrolysis method 2005 Pessoa física
Immobilized biocatalyst method for production thereof and 2005 Pessoa física
method for production of lactic acid using the same
Method for obtaining stable magnetically controlled 2005 Pessoa física
biocatalyst
Method for preparing biocatalyst and biocatalyst for 2005 Pessoa física
detoxifying organophosphorus compounds
Method for producing a food product, food product and 2005 Pessoa física
barm for producing said variants (variants)
Microbial N-and O-demethylation of a thebaine derivative 2005 Pessoa física

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 437

Tabela 19.2 Patentes em biocatálise/biocatalisadores depositadas nos anos de 2004 e 2005

Título da patente Ano Depositante


Plant enzymes for bioconversion 2005 Pessoa física
Polymer composition loaded with cells 2005 Pessoa física
Process for preparing a biocatalyst with a polyvinyl alcohol 2005 Pessoa física
gel and biocatalyst produced by this process
Process for the production of compounds in the presence 2005 Pessoa física
of bacteria or cells in a two-phase system
Product removal process for use in a biofermentation 2005 Pessoa física
system
Stabilized biocatalysts and methods of bioconversion using 2005 Pessoa física
the same
Surfactant biocatalyst for remediation of recalcitrant 2005 Pessoa física
organics and heavy metals
Waste water treatment biocatalyst 2005 Pessoa física
Process for producing ammonium salt of alpha-hydroxy 2005 Nippon Soda Co (JP);
acid with biocatalyst Kobayashi Youichi (JP)
Method and system for detecting nucleic acids 2005 Yissum Res Dev Co
Alcohol dehydrogenases with increased solvent and 2005 Ciba Sc Holding Ag (CH)
temperature stability
Enzyme-bacterium complex biocatalyst and preparation 2005 Guizhou University (CN)
method thereof
Foodstuff, feed stuff external digestion processing 2005 Jiangsu Muyang Group Co
technology Ltd (CN)
Immobilization of biocatalyst 2005 Lonza Ag (CH)
Method for cleaving ether bond in polyethoxylate 2005 Nat Central Univ.
Process for preparing phenol resin by using phenothiazines 2005 Korea Res Inst Chem Tech
mediator (KR)
Electron mediator, electron mediator immobilized 2005 Daiichi Pure Chemicals Co
electrode, and biofuel cell using the electrode Ltd (US)
Immobilization of biocatalysts by template-directed silicate 2005 Genencor Int (US); Dow
precipitation Corning (US)
Non-homogeneous systems for the resolution of 2005 Gilead Sciences Inc (US)
enantiomeric mixtures
Biocatalyst chamber encapsulation system for 2005 Kbi Biopharma Inc (US)
bioremediation and fermentation with improved rotor
Methods for the preparation of stereoisomerically enriched 2005 Pfizer (US)
amines

1ª prova
438 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

Tabela 19.2 Patentes em biocatálise/biocatalisadores depositadas nos anos de 2004 e 2005

Título da patente Ano Depositante


Process for the production and recovery of hydrocarbons 2005 Tno (NL)
Biocatalytic manufacturing of (meth)acrylylcholine or 2005 Ciba Spec Chem Water
2-(N,N-dimethylamino)ethyl (meth)acrylate Treat Ltd (GB)
Manufacture of amides 2005 Ciba Spec Chem Water
Treat Ltd (GB)
Desaturase Enzymes 2005 Univ York (GB)
Electronic mediator, electronic mediator fixation electrode, 2005 Daiichi Pure Chemicals Co
and biofuel cell using this Ltd
Biocatalyst for producing d-lactic acid 2005 Mitsui Chemicals Inc (JP)
Immobilized biocatalyst and process for producing organic 2005 Nippon Soda Co (JP)
acid salt with the same
Method for receiving immobilized biocatalyst featuring 2005 Univ Warminsko Mazurski
lipolytic action W Olsz (PL)
Method for producing hydrocarbons and 2005 Swedish Biofuels Ab (SE)
oxygen-containing compounds, from biomass
Process for producing cytidine 5’-diphosphate choline 2005 Pessoa física
Strain of Rhodococcus rhodochrous Ncimb 41164 and its 2005 Ciba Spec Chem Water
use as producer of nitrile hydratase Treat Ltd (GB)
Fonte: www. spacenet.com.

Dentro do universo de patentes encontradas, é possível estabelecer dois referenci-


ais de origem: em relação ao tipo de depositante (empresas, institutos de pesquisa/uni-
versidades e pessoa física) e em relação ao país depositante.
No que se refere ao tipo de depositante, é possível perceber que há uma distribui-
ção homogênea entre o número de patentes depositadas por empresas e por pessoas fí-
sicas. Já as patentes depositadas por universidades ou institutos de pesquisa estão em
percentual inferior (figura 19.2).
Considerando a utilização comercial de biocatalisadores, os resultados de maior
interesse são os relacionados às empresas, pois são elas que ditam a dinâmica do merca-
do, lançando novos produtos e processos para os demais setores industriais.
A figura 19.3 apresenta um panorama da distribuição das patentes registradas por
empresas segundo o país depositante. Observa-se que nos anos de 2004 e 2005, o Japão
foi o principal responsável pelo registro de patentes em biocatálise/biocatalisadores
(43% dos registros), seguido pelos Estados Unidos da América e Inglaterra. É importan-
te ressaltar a ausência do Brasil nesta distribuição. Dentre as 24 empresas que deposita-
ram patentes em biocatálise/biocatalisadores nos anos de 2004 e 2005, quinze atuam
no setor químico, principalmente em especialidades químicas. As demais estão
relacionadas a processos e ciências da vida (tabela 19.3).

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 439

Distribuição de patentes por tipo de depositante

Universidades
/Institutos de
Empresas Pesquisa
41% 21%

Pessoa física
38%

Figura 19.2 Distribuição de patentes nas áreas de biocatálise/biocatalisadores por tipo de


depositante nos anos de 2004 e 2005. Elaboração própria a partir de consulta ao site
http://www.espacenet.com, direcionado à pesquisa de patentes no mundo.

Alemanha 6%
Canadá 3%
China 3%
Suiça 12%
Dinamarca 3%

Espanha 3%

EUA 15%

Japão 43%

Inglaterra 12%
Figura 19.3 Distribuição das patentes registradas em biocatálise/biocatalisadores por empresas
segundo o país depositante nos anos de 2004 e 2005. Fonte: Elaboração própria a partir de consulta
ao site www.espacenet.com, direcionado à pesquisa de patentes no mundo.

1ª prova
440 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

Tabela 19.3 Empresas depositantes de patentes em biocatálise/biocatalisadores nos anos de


2004 e 2005.

Número de
Depositante Setor País
patentes
Asahi Chemical Corp Química Japão 1
Bioferma Murcia S/A Otimização de processos Espanha 1
Ciba SC Holding Ag. Especialidades químicas Suíça 2
Ciba Spec Chem Water Treat Ltd. Especialidades químicas Inglaterra 3
CO2 Solution Processos Canadá 1
Cognis Corp. Química fina EUA 1
Cp Kelco Aps Colóides Dinamarca 1
Daiichi Pure Chemicals Co. Ltd. Especialidades químicas Japão 2
Daiyanitorikkusu KK Química Japão 2
Dia Nitrix Co. Ltd. Química Japão 1
Genencor International Enzimas EUA 1
Gilead Sciences Inc. Biofarmacêutica EUA 1
Jiangsu Muyang Group Co. Ltd. Equipamentos China 1
Kbi Biopharma Inc. Desenvolvimento de métodos EUA 1
analíticos para indústria
farmacêutica
Kuraray Co. Química Japão 1
Lonza Ag. Intermediários químicos e Suíça 1
farmacêuticos
Mitsubishi Gas Chemical Co. Química Japão 1
Mitsubishi Rayon Co. Química Japão 1
Mitsui Chemicals Inc. Química básica Japão 1
Nippon Soda Co. Química Japão 4
Pfizer Farmacêutica EUA 1
Stockhausen Chem Fab Gmbh Química Alemanha 2
Syngenta Participations Ag. Sementes e proteção ao Suiça 1
cultivo
Tech Innovation Ltd. Tecnologia em bioprocessos Inglaterra 1

Fonte: Elaboração própria a partir de consulta ao site www.espacenet.com, direcionado à pesquisa de patentes
no mundo.

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 441

EVOLUÇÃO DO MERCADO DE ENZIMAS


Foi somente no final do século XIX que surgiram as primeiras evidências científicas de
que os microrganismos possuem substâncias químicas capazes de catalisar reações quí-
micas. Assim sendo, Eduard Buchner recebeu o Prêmio Nobel da Química em 1907 por
ter descoberto o processo de fermentação na ausência de células íntegras. Em meados
dos anos 50, a enzimologia teve sua época de grande esplendor, crescendo em ritmo
acelerado. A compreensão dos processos bioquímicos conduziu a um melhor conheci-
mento das enzimas presentes nas células e ao seu modo de ação. A extração e purifica-
ção das enzimas a partir das células microbianas permitiu seu estudo no estado puro,
sem interferência na sua atividade causada por outros componentes celulares.
No início dos anos 1970, a tecnologia enzimática foi influenciada diretamente
pelo desenvolvimento industrial, dirigindo-se à produção adoçantes a partir da isomeri-
zação da dextrose a frutose (High Fructose Corn Syrup, HFCS) e de aminoácidos. Na-
quela época, os mercados americano e europeu dominavam a comercialização de enzi-
mas proteolíticas, aplicadas, como ainda hoje, na indústria de detergentes. Paralela-
mente, havia grande expectativa no desenvolvimento do mercado de aplicação de enzi-
mas na indústria alimentar (AEHLE, 2004). Dez anos depois, o mercado de enzimas
para a produção de adoçantes aumentou para cerca de 250 milhões de dólares.
Presentemente, verifica-se uma grande expansão da aplicação da tecnologia enzi-
mática a muitos setores industriais, como por exemplo, na indústria farmacêutica, na
indústria de curtumes, na indústria têxtil, na biorremediação etc.
As pressões governamentais, a regulamentação severa, as novas tecnologias e as
descobertas científicas, no entanto, condicionam o crescimento do mercado das enzi-
mas. O desenvolvimento de tecnologias com base enzimática tem direta correlação
com a procura de novos produtos para diferentes segmentos do mercado. Alem disso,
as empresas preocupam-se com o aumento do faturamento, para incremento do lucro
e redução dos custos de produção.
Um dos mais importantes documentos publicados nos últimos anos relacionados à
produção de enzimas resultou de um workshop realizado em Palo Alto, Califórnia, so-
bre “Novos biocatalisadores para o século XXI” (Scouten and Petersen, 2000). Este en-
contro apresentou o esforço e a contribuição científica de cerca de 50 investigadores e
industriais, peritos mundiais em biocatálise e o documento resultante faz um levanta-
mento e uma previsão detalhada do futuro mundial da biocatálise. A partir disso, foi de-
senvolvido um plano estratégico para o desenvolvimento e utilização de uma nova
geração de biocatalisadores para o século XXI.
A investigação e desenvolvimento de enzimas com aplicação industrial e o seu es-
paço de mercado estão subdivididos em várias categorias. As empresas produzem enzi-
mas para bens de consumo usadas diretamente na formulação de detergentes e produ-
tos de limpeza, ou indiretamente, na indústria transformadora, bem como na valoriza-
ção de processos na indústria têxtil, de couros, de papel e celulose, de bebidas fermen-
tadas e de produtos alimentares, incluindo adoçantes. As enzimas são usadas igualmen-
te na formulação de rações animais visando aumentar seu valor nutricional e digestibili-

1ª prova
442 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

dade. Outras empresas desenvolvem sistemas industriais de conversão de biomassa para


transformação enzimática de resíduos agrícolas em etanol, usando, por exemplo, o
amido de milho (HARDIN, 1996). Ultimamente, verifica-se a introdução de enzimas na
produção de plásticos derivados de matérias primas não originadas do petróleo, na
produção de fontes alternativas de energia, como os biocombustíveis, ou outros
materiais relacionados.
Existem, também, empresas fornecedoras de tecnologia, que detém elevado nível
de conhecimento e propriedade intelectual em microrganismos, screening e evolução
dirigida e/ou otimização de processos usando engenharia genética para design de no-
vas estirpes hiperprodutoras de enzimas com atividade catalítica de interesse industrial.
Finalmente, a biodefesa pode hoje ser considerada uma área em franco desenvolvimen-
to na qual a aplicação das enzimas é extremamente especializada.
A maior fatia de absorção de enzimas continua a ser da indústria farmacêutica, em
que o crescimento é mantido pela substituição de terapias tradicionais por terapias en-
zimáticas e novos agentes trombolíticos. Espera-se para os próximos oito anos um cres-
cimento significativo do mercado de novos produtos, como novas lipases, que continua-
rão a reforçar o mercado dos detergentes e o da química fina, e novos produtos de tera-
pêutica enzimática, como a glicocerebrosidase. O mercado de enzimas americano ab-
sorverá um crescimento de cerca de 7% ao ano até 2006 (FREEDONIA®, 2002).
Das várias empresas que têm as enzimas como atividade central (core business) (ta-
bela 19.4), a NovoZymes (Baegsverd, Dinamarca) tem a liderança da área há algumas
décadas. Esta empresa inclui em seu portfólio várias centenas de enzimas, muitas das
quais com produção da ordem das quilotoneladas por ano, e injeta no mercado entre
cinco e sete novos produtos por ano.

Tabela 19.4 Lista representativa das aplicações enzimáticas industriais e produtos. As empresas
listadas poderão oferecer uma maior gama de enzimas não industriais ou outras plataformas de
tecnologia

Empresas Atividade central (Core business)


Abengoa Bioenergy R&D (Chesterfield, USA) Desenvolvimento de plataformas de conversão
de biomassa-etanol como para combustível
aditivo
Advanced Biochemicals (Mahrasthra, Índia) Produção de enzimas
Alligator Bioscience (Lund, Sweden) Evolução dirigida, plataforma FINDTM
(Fragment-INduced Diversity)
Angel Biotechnology (Northumberland, UK) Melhoramento de estirpes, contratos de
produção
Biocatalytics (Pasadena, USA) Desenvolvimento de processos de catálise
Biocon (Bangalore, India) Produção de enzimas, plataforma de
fermentação PlaFractorTM
Biométhodes (Evry, France) Evolução dirigida por MassiveMutagenesis?

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 443

Tabela 19.4 Lista representativa das aplicações enzimáticas industriais e produtos. As empresas
listadas poderão oferecer uma maior gama de enzimas não industriais ou outras plataformas de
tecnologia

Empresas Atividade central (Core business)


BRAIN Biotech (Zwingenberg, Germany) Bibliotecas de enzimas
Codexis (subsidiária da Maxigen) (Malvern, Evolução dirigida
USA)
Cargill (Minneapolis, USA) Conversão de biomassa para produção de
polímeros
Cargill Dow Enzimas para a industria, consumidores e
mercados agrícolas
Danisco (Copenhagen, Denmark) Enzimas para alimentos, moagem de grãos e
produtos de confeitaria e padaria, Grindamyl™,
xilanases, amilases, lipases, proteases
Degussa (Waukesha, USA) Bioquímicos e químicos de performance
Direvo (Cologne, Germany) Evolução dirigida baseada no screening de
genes e proteínas
Diversa (San Diego, USA) Evolução dirigida e diversidade
DSM (Heerlen, (NL) Bioquímicos e químicos de performance,
alimentos, rações, têxteis, pasta e papel, bebias
fermentadas
DuPont Bio-Based Materials Conversão de biomassa para produção de
polímeros
DuPont (Wilmington, USA) Catálise para melhoria de bens de consumo
Dyadic (Florida, USA) Produção de enzimas, desenvolvimento de
microrganismos (isolamento, expressão e
optimização)
Enzymotec (Migdal HaEmeq, Israel) Plataforma Amiet® para modificação e
optimização de enzimas
Genencor International (Palo Alto, USA) Enzimas para o consumidor e mercados
industriais e de processamento de produtos
agrícolas
Givaudan Flavours (Vernier, F) Enzimas e bioprocessos para consumidores de
produtos

Fonte: GEN, 2004.


Fonte: A. Liese, K. Seelbach, C. Wandrey - Industrial Biotransformations, 2006, Practical Approach – Wiley-VCH,
Weinhein.
* ee (%) (excesso enantiomérico percentual) representa o excesso de um enantiômero sobre a mistura racema-
( )

to (50% de cada isômero R ou S), sendo calculado como se segue: ee (%) = (a – a ) / (a + a ) . 100. (a e a corres-
1 2 1 2 1 2

pondem aos enantiômeros em maior e menor quantidade, respectivamente.


ND: não descrito

1ª prova
444 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

Este grau de penetração no mercado só pode ser atingido se a empresa investir for-
temente na criação de propriedade intelectual, no desenvolvimento de bioprocessos e
na infra-estrutura de produção, tendo como objetivo a otimização do binômio cus-
to-competitividade. Estes fatores coordenados permitirão tornar as empresas competi-
tivas e, portanto ganhadoras na economia de escala (GEN, 2004).
Ao contrário de outros países, onde os investidores encaram as empresas de base tec-
nológica como uma nova área a explorar, em Portugal a situação é caracterizada, por um
lado, pela falta de uma cultura verdadeira de capital de risco e, por outro, pelo desconhe-
cimento do negócio por parte dos investidores, o que exige redobrados esforços na capta-
ção de investidores que apostem no setor industrial da Biotecnologia, em particular na
produção de novas enzimas. Alguns empreendedores acreditam que, em Portugal, é pos-
sível lançar novas enzimas no mercado usando biotecnologias de ponta, mas um dos pro-
blemas graves da indústria portuguesa reside, em parte, no fraco desenvolvimento da es-
fera financeira e no apoio ao empreendedorismo pelo financiamento do capital de risco.
O desenvolvimento da tecnologia enzimática para criação de novas enzimas com
novas utilizações pode ser afetado por questões relacionadas com a regulamentação do
Estado e com a aceitação do público. A última questão é provavelmente a mais difícil de
ultrapassar. A constituição de capital, em que é crucial o acesso ao financiamento, prin-
cipalmente em capital de risco, e a disponibilidade dos investidores para realizar eleva-
dos investimentos iniciais, necessários desde a fase de investigação e desenvolvimento,
que engloba, a aquisição de equipamentos específicos e a construção de infra-estrutu-
ras necessárias, são vitais para o desenvolvimento e implementação deste tipo de negó-
cio. Por outro lado, tal como já foi referido, a propriedade intelectual e as novas idéias
com eventual potencial de mercado devem ser mais do que patentes de princípios
laboratoriais, o que torna mais elevados os custos de produção de produtos biotecnoló-
gicos com aceitação pelo mercado.

Enzimas aplicadas à agroindústria


As previsões de crescimento da aplicação de enzimas na agroindústria são influenciadas
pelo aumento na demanda de fitase e outras enzimas associadas à formulação de rações
para animais. As carboidrases mantêm-se, no entanto como o maior mercado da área
devido à sua incorporação na indústria do amido de milho.

Enzimas na indústria de papel e celulose


Uma área de grande potencial para utilização de enzimas é a indústria de polpa e papel.
Recentemente, foram comercializadas novas enzimas que são aplicadas na remoção de
depósitos no equipamento de produção de papel. A limpeza tradicional requer álcalis
ou ácidos fortes, que representam um grande perigo para os trabalhadores, e dão ori-
gem a problemas ambientais devido ao aumento de descargas de efluentes na água resi-
dual das fábricas. As enzimas podem assim ajudar as fábricas a proteger seus trabalhado-
res, e a cumprir as leis ambientais. A Buckman Laboratories, importante fornecedor de
produtos químicos especializados para indústria de papel e celulose, desenvolveu uma

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 445

linha de agentes de limpeza à base de enzimas. Esses produtos contêm enzimas produzi-
das pela Novo Nordisk e fazem parte da linha de produtos Neoteric® de compostos
químicos para fabricação de papel da Buckman.
Outra aplicação de enzimas na indústria de papel e celulose é no branqueamento das
pastas, tradicionalmente feito com produtos à base de cloro. Hoje, por questões ambienta-
is, o cloro, muito tóxico, está sendo substituído por enzimas, como as xilanases e celulases.

Enzimas na indústria de rações


O mercado de enzimas em alimentos compostos para animais tem aumentado bastan-
te, com grande relevância para aves, devido ao custo cada vez maior das matérias primas
tradicionais e a busca por outros ingredientes alternativos. As enzimas também são em-
pregadas para reduzir a contaminação ambiental com nutrientes nas fezes, tais como o
fósforo, nitrogênio, cobre e zinco (AHUJA et alii, 2004). Além disso, existe uma preocu-
pação cada vez maior com a adição de aditivos antimicrobianos nas rações.

Enzimas na indústria de detergentes


Um dos setores industriais mais competitivos e que tem estado numa evolução constan-
te reagindo positivamente às pressões do mercado, é o setor de detergentes. Várias em-
presas de grande peso a nível econômico e que contribuem de um modo efetivo para o
valor do PIB de cada país sabem que cada vez mais o consumidor está exigindo opções
ambientalmente corretas, mais semelhantes ao que estava em uso e, acima de tudo,
mais inovadoras. A ação dos detergentes enzimáticos é rápida e semelhante à digestão.
Isto é devido à presença das enzimas, mais eficientes sobre a matéria orgânica do que os
detergentes iônicos, porque agem de forma específica e não danificam os materiais
constituintes dos equipamentos e instrumentos. Os detergentes enzimáticos são superi-
ores aos detergentes comuns porque agem na etapa da limpeza completa dos materiais,
removendo detritos e sujeiras, especialmente matéria orgânica, tendo como conse-
qüência a diminuição de grande parte dos microrganismos presentes. Como estamos
na era da “desinfecção compulsiva” e os novos consumidores têm apetite voraz por no-
vos produtos, as constantes inovações nesta área aumentam o status do produto e, con-
seqüentemente, sua aceitação pela sociedade. Assim, neste novo conceito de consu-
mo/inovação, há necessidade constante de implementar novas marcas de detergentes
para atrair a preferência do consumidor. Atualmente, pela utilização de ferramentas
potentes como a Biotecnologia e a tecnologia que lhe está associada, as possibilidades
de atingir este objetivo são inesgotáveis. A utilização de enzimas na formulação de
detergentes fortalece a imagem do produto junto aos consumidores e impulsiona para
desenvolvimento de novos produtos (QING e ZHANG, 2002).

Enzimas na indústria têxtil


Num mercado global cada vez mais competitivo que representa cerca de 700 bilhões de
dólares, a indústria têxtil procura novas formas de inovação, através da via biotecnológi-
ca. A pressão da legislação impulsiona a industria têxtil no sentido da produção mais
limpa e com menor impacto ambiental.

1ª prova
446 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

A indústria têxtil utiliza enzimas nas fases de fiação, tingimento e acabamento dos
tecidos. Estas enzimas atuam em várias fases, como na limpeza de superfície do material
e redução das pilosidades; e no melhoramento de características de toque (maciez). As
celulases são usadas em substituição à pedra pomes para dar a aparência envelhecida
(stonewashed) aos jeans. Elas ajudam no processo de desbotar o jeans (biostoning) e
podem ser utilizadas juntamente com as pedras ou isoladamente. São exemplos a Ecos-
tone® e a Biotouch®, da AB Enzymes. As celulases são ainda empregadas para tornar os
tecidos mais lisos e macios, removendo as fibras superficiais.
A catalase e as peroxidases decompõem o peróxido de hidrogênio residual após o
branqueamento das fibras de algodão. A utilização destas enzimas favorece a redução
do consumo de produtos químicos, de energia e de água.
A amilase bacteriana termoestável é empregada para desgomagem de produtos
têxteis, processo pelo qual se remove do tecido a pasta de amido usada no processo de
fiação. No processo tradicional, os produtos têxteis eram tratados com ácidos, bases ou
agentes oxidantes, ou embebidos em água durante vários dias para que os microrganis-
mos que existem naturalmente nas fibras pudessem decompor a goma do tecido.

Enzimas de origem recombinante na indústria de alimentos


Um novo estudo, realizado pelos analistas Frost & Sullivan, que cobre os segmentos mais
importantes do mercado de enzimas para a indústria alimentar, demonstrou que só em
2003, este comportou transações de cerca de 142 milhões de dólares. Mas, neste merca-
do, o setor mais inovador correspondeu às enzimas produzidas por tecnologia de enge-
nharia genética, ou seja, a partir de organismos geneticamente modificados (OGMs). As
enzimas usadas no processamento de amido e açúcares constituem o mais importante se-
tor do mercado, com a fatia de 43,7% . Cerca de 90% destas enzimas são usadas na produ-
ção de xarope com elevado teor de frutose, para adoçar bebidas gasosas e guloseimas. Em
segundo e terceiro lugar, com cota de mercado equivalente, encontram-se as enzimas
usadas no processamento de produtos lácteos e panificação. A controvérsia sobre os
OGMs e a desconfiança crescente dos consumidores frente a esta tecnologia afeta a pro-
dução de enzimas aplicadas na indústria da panificação. Olhando para o mercado extre-
mamente competitivo das enzimas para alimentação, os indicadores sugerem que este
não oferece espaço para mais intervenientes. Consequentemente, a expansão do merca-
do terá por base a capacidade de inovação dos atuais produtores.

Enzimas na indústria de química fina


As propriedades especiais das enzimas como catalisadores, tais como a estéreo-, régio- e
quimio-seletividade, têm estimulado, nos últimos anos, a aplicação industrial da biocatáli-
se para obtenção de moléculas de alto valor agregado. Além da elevada especificidade e
eficiência catalítica, as enzimas apresentam a vantagem de empregar condições reaciona-
is (temperatura, pressão, pH) moderadas e com minimização de reações secundárias in-
desejáveis.
A tabela 19.5 apresenta exemplos de processos industriais na área de química fina
que utilizam intermediários de síntese produzidos por biocatálise.

1ª prova
Tabela 19.5 Processos industriais que utilizam intermediários de síntese produzidos por biotecnologia

Rendimento / Patente ou
Produto Aplicação Enzima Microrganismo ee (%) (*) / Referência - Empresa
Capacidade Ano

BMS-180542 Anti-colesterol Álcool Acinobacter 92 / 99 / ND EP 0569998A2 Bristol-Myers


desidrogenase calcoaceticus - 1993 Squibb

(2R,5R)-Hexanodiol Auxiliar quiral Álcool Lactobacillus kefiri 90 / 99 / EP 1067195 - Jülich Chiral


desidrogenase 0,25t.a-1 2005 Solution

(R)-3-Hidroxibutirato de etila Intermediário Álcool Lactobacillus brevis 96 / 99,8 / US 6.225.099 - Wacher


para fármacos; desidrogenase 35t.a-1 1999 Chemie
agroquímicos

Enalapril e outros Anti-hipertensiv Lactado Staphylococcus 91 / 99 / EP 0371408B1 Ciba


o desidrogenase epidermis 165g.L-1.d-1 - 1989

Rupinavir Inibidor da Lactado Leuconostoc 88 / 99,9 / Org. Proc. Res. Pfizer


protease do desidrogenase mesenteroides Dev., 6, 520
0,56kg.L-1.d-1
rhinovirus -524 - 2002

Agonista beta-3 Diabetes tipo II Desidrogenase Candida sorbophila 82 / 98 / ND US 5846791 - Merck


e hipertensão 1998

Diltiazen Hipertensão e Redutase Nocardia 96 / 99,8 / ND Adv. Synth. Bristol-Myers


angina salmonicolor Catal. - 343, Squibb
(6-7) 527-546,
2001
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS

Tert - leucina Intermediário Leucina Bacillus sphaericus 74 / ND / J. Mol. Cat. B: Degussa AG


para diversos desidrogenase Enzymatic 5,
0,64kg.L-1.d-1
agentes 1-11 - 1998
anti-tumor e
inibidores da
HIV-protease
447

1ª prova
Tabela 19.5 Processos industriais que utilizam intermediários de síntese produzidos por biotecnologia

Rendimento / Patente ou 448


Produto Aplicação Enzima Microrganismo ee (%) (*) / Referência - Empresa
Capacidade Ano

6-hidróxi nicotinato Intermediário Ácido nicotínico Achnobacter 90 / EP 0152948A2 Lonza AG


para inseticidas hidroxilase xylosoxidans alta seletividade - 1995
/ toneladas

Ácido 2-quinoxalino Síntese de Mono-oxigenas Pseudomonas 86 / - / Org. Proc. Res. Pfizer Inc.
carboxílico compostos e putida Dev., 6,
10,7g.L-1.4d-1
com atividade Aril álcool 477-481 - 2002
biológica desidrogenase

1,2-dihidrocatecol Síntese de Benzoato Pseudomonas 99,5 / - / várias WO 9012798A2 ICI


beta-lactamas dioxigenase putida t.a-1 - 1990

Acipimox Síntese de Mono-oxidase Pseudomonas 95 / - / multi t.a-1 EP 0442430A - Lonza AG


beta-lactamas putida 1991

Aminoácidos a partir de Síntese de D-aminoácido Bacillus sp. ND / 100 / multi US 5728555 - NSC
2-cetoácidos beta-lactamas transaminase t.a-1 1998 Technologies
Monsanto

(S)-metoxi-isopropilamina Síntese de Transaminase Bacillus Megaterium 94 / 99 / ND US 5.360.724 - Celgene


beta-lactamas 1994 Corporation

(S)-1-fenil etilenoamina Síntese de Lipase Burkholderia 90 / 99 / 100 t.a-1 DE 4329293A1 BASF AG


beta-lactamas plantarii - 1995

Acetato de Síntese de Lipase Pseudomonas 96 / 99 / EP 552041A2 - Bristol-Myers


(3R,4S)-cis-azetidinona beta-lactamas cepacia 1,2kg.bat. 1993 Squibb

Iburofen Síntese de Lipase Candida - / 96 / multi kg EP 227078A1 Pfizer Inc


beta-lactamas cylindraceace -1987
ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

1ª prova
Tabela 19.5 Processos industriais que utilizam intermediários de síntese produzidos por biotecnologia

Rendimento / Patente ou
Produto Aplicação Enzima Microrganismo ee (%) (*) / Referência - Empresa
Capacidade Ano

idctlpar(S)-fenilalanina Síntese de Hidrolase Bacillus lichiniformis 73 / 95 / US 4713470 - Coca-Cola


beta-lactamas 14g.L-1.d-1 1987

Aspartame Síntese de Thermolysin Bacillus - / 99,9 / EP 0768384A1 DSM


beta-lactamas (thermoase) thermoproteolyticus -1
- 1996
10.000 t.a

spalphaÁcido Síntese de Amidase Klebsiella terrigena 41 / 99 / multi kg WO 96/35775 - Lonza AG


(S)-piperazina-2-carboxílico beta-lactamas 1996

7-ADCA Síntese de Penicillin acilase Escherichia coli 90 / 99 / US 5.470.717 - DSM


beta-lactamas 2000t.a-1 1995

Fonte: A. Liese, K. Seelbach, C. Wandrey - Industrial Biotransformations, 2006, Practical Approach – Wiley-VCH, Weinhein.
(*) ee (%) (excesso enantiomérico percentual) representa o excesso de um enantiômero sobre a mistura racemato (50% de cada isômero R ou S), sendo calcula-
do como se segue: ee (%) = (a1 – a2) / (a1 + a2) . 100. (a1 e a2 correspondem aos enantiômeros em maior e menor quantidade, respectivamente.
ND: não descrito.
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS
449

1ª prova
450 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

Enzimas de aplicação terapêutica


Nas últimas décadas, a medicina e a investigação terapêutica obtiveram progressos subs-
tanciais que levaram à diminuição da mortalidade, ao aumento da perspectiva de vida e
à erradicação de determinadas doenças.
O registro do uso de enzimas como parte da terapia de deficiências de origem gené-
tica data dos anos 60 (DE DUVE, 1966). A terapia de reposição enzimática, uma das tera-
pias biotecnológicas mais avançadas, já é amplamente aplicada há mais de 10 anos aos do-
entes de doenças de acumulação lisossômica como as doenças de Gaucher, Fabry e Hur-
ler. Nos Estados Unidos foi criado, em 1982, o OOPD (Office of Orphan Products Deve-
lopement), ligado a FDA, e foi instituído em 1983 (Public Law 97-414, de 04/01/83) um
protocolo de promoção do desenvolvimento de medicamentos órfãos, o Orphan Drug
Act (ODA) (FDA, 2000) visando incentivar as empresas farmacêuticas a desenvolver no-
vos tratamentos para doenças que afetam uma pequena parcela da população (menos de
200.000). Na Europa e Austrália, existe uma legislação que fornece proteção e incentivos
equivalentes (VELLARD, 2003). Em 1991, a Adagen®, uma forma bovina da adenosina
deaminase (pegadamase) foi a primeira enzima terapêutica a ser aprovada pela FDA no
âmbito do Orphan Drug Act. A Genzyme foi pioneira em terapia de reposição enzimática
e iniciou em Portugal o tratamento de 2 doentes portadores de Doença de Gaucher no
ano de 1993. Atualmente, o conjunto de doenças raras que são tratadas pela Genzyme en-
globa a Doença de Gaucher, a Doença de Fabry e a Mucopolissacaridose tipo I, bem
como, num futuro próximo, a Doença de Pompe e a Doença de Niemann-Pick tipo B. A
Arexis AB, uma multinacional sueca, anunciou recentemente o sucesso da fase II dos tes-
tes clínicos da sua terapia de reposição enzimática para o tratamento da má absorção de li-
pídeos em doentes com fibrose cística.
Preparações enzimáticas comerciais de uso tópico contendo enzimas proteolíticas
são amplamente empregadas para a cicatrização de tecidos. Entre as enzimas mais utiliza-
das, pode-se citar a colagenase (Iruxol Mono®, Kollagenase®, Santyl®), a fibrinolisina (Fi-
brase®), a Lizipaina® (papaína e lisozima) a Elase® (fibrinolisina e desoxirribonuclease).
Podem ser citadas ainda enzimas para utilização em doenças infecto-contagiosas
como a lisozima, que também apresenta atividade contra o vírus HIV, assim como também
a Rnase A e a Rnase urinaria U, que atuam sobre RNA viral (LEE-HUANG et alii, 1999).
Está crescendo a aplicação de enzimas no tratamento de câncer, como exemplo, a
arginina deaminase, que consegue inibir a progressão do melanoma humano e os carci-
nomas hepatocelulares. Recentemente, foi lançada no mercado uma nova enzima, a
Oncaspar® (pegaspargase) que apresenta bons resultados na leucemia linfoblástica
aguda recente em crianças.
Os avanços na área de biologia molecular têm impulsionado o crescimento do se-
tor. Em 1987 foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) a primeira enzi-
ma recombinante de uso terapêutico, a Activase® (alteplase, ativador tecidular recom-
binante do plasminogênio humano). Esta enzima, usada no tratamento de coágulos
sanguíneos, foi à segunda proteína recombinante a ser comercializada, já que a
primeira foi a insulina, em 1982.

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 451

Além dos avanços nos projetos de decodificação de genomas, vários esforços estão
sendo concentrados nos projetos proteoma que visam mapear e caracterizar a totalida-
de das proteínas de um organismo. A compreensão da organização e funcionamento
dos diferentes genomas poderá mostrar as vias metabólicas peculiares que serviriam
como alvos para o desenvolvimento de drogas específicas. O conjunto de dados gera-
dos, associados com os avanços obtidos na expressão de genes utilizando técnicas de
DNA recombinante, permite hoje a obtenção de dados cristalográficos de uma grande
quantidade de proteínas.
É muito provável que haja genes que codificam enzimas que poderiam ser alvos po-
tenciais para o desenvolvimento de novos fármacos. Estas drogas poderiam ser aplicadas,
por exemplo, na quimioterapia de doenças, para as quais não há vacinas disponíveis; e de-
veriam ser efetivas contra os organismos patogênicos e absolutamente inócuas para o hos-
pedeiro. Pode iniciar-se então uma nova era da Biotecnologia a Farmacogenômica. No-
vos avanços nunca dantes imaginados no campo das proteínas artificiais são agora tam-
bém uma realidade. Foi produzida a primeira proteína artificial pelo Dr. David Baker e a
sua equipa (KUHLMAN et alii, 2003) da Universidade de Washington que anunciaram a
construção da Top7 com sofisticados algoritmos matemáticos. Em um futuro próximo,
devido ao grande avanço tecnológico em andamento, serão obtidas novas enzimas tera-
pêuticas.

MERCADO MUNDIAL DE ENZIMAS


Os dados sobre o mercado mundial de enzimas apresentados a seguir foram obtidos do
estudo World Enzimes to 2009, elaborado pela empresa de consultoria Freedonia
Group Incorporated. Segundo a empresa, os dados foram compilados a partir de fontes
primárias e secundárias, com agências governamentais de estatística, associações co-
merciais, embaixadas e empresas ligadas ao setor. Todos os valores de demanda para os
anos de 2005 em diante são projeções feitas com base na expectativa de crescimento
desta demanda.
A indústria mundial de enzimas obteve um faturamento total de US$ 3,7 bilhões em
2004, com previsão de crescimento da demanda mundial de 6,5% ao ano até 2009. Países
como China, Índia e Coréia do Sul apresentam maior oportunidade de crescimento no
setor. Em termos da divisão geográfica do consumo de enzimas, os Estados Unidos da
América respondem por 34% do mercado, confugurando-se como o maior consumidor.
O mercado de enzimas está dividido em dois grandes segmentos: enzimas industriais
(enzimas técnicas, enzimas para a indústria de alimentos e enzimas para ração animal) e en-
zimas especiais (enzimas terapêuticas, enzimas para diagnóstico, enzimas para química qui-
ral e enzimas para pesquisa). Em termos percentuais, as enzimas de uso industrial represen-
tam mais de 60% do mercado mundial de enzimas. Para os próximos 10 anos, espera-se um
crescimento na participação de enzimas especiais, atingindo uma proporção de 42,6% em
2014 (figura 19.4).

1ª prova
452 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

4.500

4.000

3.500

3.000
US$ milhões

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0
1994 1999 2004 2009* 2014*

ano

Enzimas industriais Enzimas especiais

Figura 19.4 Demanda mundial de enzimas industriais e especiais. Fonte: Estudo “World Enzimes to
2009”, Freedonia Group Incorporated. * projeção

Enzimas industriais
No que diz respeito ao mercado de enzimas industriais, o faturamento em 2004 so-
mou US$ 2,3 bilhões, com um crescimento esperado para os próximos dez anos de 5,7% ao
ano, em valor transacionado, podendo atingir US$ 4 bilhões no ano de 2014 (figura 19.4).
O mercado de enzimas industriais está dividido em três segmentos: enzimas técni-
cas, destinadas principalmente aos setores de produtos de limpeza, têxtil, de couros, de
álcool como combustível e de papel e celulose; enzimas para alimentos e bebidas; e en-
zimas para ração animal. As principais enzimas industriais são: proteases, amilases, lipa-
ses, celulases, xilanases e fitases. Proteases e amilases lideram o mercado, respondendo
por 25% e 15% do mercado respectivamente. As preparações de enzimas industriais
são, em muitos casos, formulações com diferentes atividades de acordo com o seu uso,
desenhadas para atender as necessidades. A figura 19.5 apresenta a demanda mundial
de enzimas industriais por mercado.
O segmento de enzimas técnicas apresenta um volume de vendas da ordem de
US$ 1 bilhão, com cerca de 30% do mercado constituído pelas enzimas destinadas à in-
dústria de produtos de limpeza. As principais enzimas técnicas comercializadas mundi-
almente são as lipases, amilases, proteases e celulases.
O segmento de enzimas para alimentos e bebidas está em constante crescimento,
com previsão de crescimento acima da média nos próximos anos devido à procura de

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 453

novas aplicações na área de laticínios e panificação. Amilases, peptidases, pectinases e


glicose isomerase são enzimas de uso consagrado neste setor.
O segmento de enzimas para ração animal tem apresentado o crescimento mais
acelerado devido ao grande interesse dos criadores de aves e suínos em aumentar o va-
lor nutricional da ração e facilitar sua digestibilidade, visando maximizar o ganho de
peso de seus animais. As principais enzimas utilizadas neste setor são: fitases, xilanases,
proteases e amilases. Os principais obstáculos para o aumento do uso de enzimas em ra-
ção animal incluem a baixa atividade catalítica, instabilidade e alto custo de produção
destas enzimas.

1.600

1.400

1.200

1.000
US$ milhões

800

600

400

200

0
1994 1999 2004 2009 * 2014 *
ano

alimentos e bebidas produtos de limpeza ração animal outros mercados

Figura 19.5 Demanda mundial de enzimas industriais por mercado. Fonte: Estudo World Enzimes to
2009, Freedonia Group Incorporated. * projeção

Carboidrases
Amilases e celulases são as enzimas do grupo das carboidrases de maior impacto econômi-
co. Juntas, respondem por 23% do total das enzimas de uso industrial. No entanto, este
percentual vem sofrendo uma diminuição ao longo dos anos. Em um horizonte de 10
anos, já houve uma redução na ordem de 5%, e as projeções apontam para uma redução
continuada, apesar de menos intensa, até o ano de 2014, quando responderão por 21%
do total das enzimas de uso industrial. Este declínio é influenciado pela queda na deman-
da de amilases para uso industrial. Já para as celulases, é esperado um crescimento, deven-
do, em 2014, sua demanda estar na mesma ordem de grandeza das amilases.
Por outro lado, inovações têm permitido um aumento da participação destas enzi-
mas para aplicações especiais. Em termos percentuais, não podem ser observadas alte-
rações significativas, uma vez que o mercado de enzimas especiais como um todo se

1ª prova
454 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

mostra em amplo crescimento, mas a análise dos valores absolutos comercializados


aponta para um crescimento de aproximadamente 100% tanto para as amilases quanto
para a celulases com aplicações especiais.
A tabela 19.6 apresenta dados sobre o mercado atual e potencial de amilases. As
amilases são amplamente utilizadas no setor de alimentos e bebidas e de produtos de
limpeza, respondendo atualmente por 14% da demanda total de enzimas industriais. A
demanda por amilases no setor de alimentos e bebidas apresenta um crescimento acele-
rado, devendo atingir em 2014 quase 30% do total de amilases destinado a uso industri-
al. Neste mesmo cenário, os dois setores mencionados responderiam por mais de 50%
da demanda mundial de amilases para aplicação industrial.

Tabela 19.6 Demanda mundial de amilases por aplicação (em milhões de dólares)

1994 1999 2004 2009* 2014*


Industrial 273 278 327 374 437
Alimentos & bebidas 35 55 78 100 130
Produtos de limpeza 54 75 85 95 105
Outros mercados 184 148 164 179 202
Especial 22 32 48 66 93
Demanda mundial de carboidrases 750 890 1250 1730 2190
% Amilases 39,3 34,8 30 25,4 24,2
Fonte: Estudo “World Enzimes to 2009”, Freedonia Group Incorporated.
* projeção.

As celulases representam atualmente 8% da demanda por enzimas industriais. Sua


principal aplicação é na formulação de ração animal, correspondendo a 21% do total de
enzimas destinadas a este setor. A indústria têxtil também utiliza em larga escala as celula-
ses. Outras aplicações estão em desenvolvimento, principalmente como enzimas especia-
is e para hidrólise de biomassa lignocelulósica para produção de etanol (HOWARD et
alii, 2003). Em um período de 10 anos, entre 2004 e 2014, espera-se um aumento de qua-
se 100% na demanda de celulases enquanto enzima de uso especial (tabela 19.7).

Tabela 19.7 Demanda mundial de celulases por aplicação (em milhões de dólares)

1994 1999 2004 2009* 2014*


Industrial 123 129 186 283 413
Ração animal 40 48 54 68 86
Outros 83 81 132 215 327
Especial 4 6 9 12 17
Demanda mundial de carboidrases 750 890 1250 1730 2190
% Celulases 16,9 15,2 15,6 17,1 19,6
Fonte: Estudo World Enzimes to 2009, Freedonia Group Incorporated.
* projeção.

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 455

Lipases
As lipases são quaisquer enzimas capazes de hidrolisar gorduras em glicerol e ácidos
graxos e são amplamente utilizadas em produtos de limpeza (principalmente detergen-
tes), em alimentos (chocolates, laticínios), em ração animal e no tratamento de resídu-
os, dentre outras aplicações. A demanda mundial de lipases por aplicação é apresenta-
da no tabela 19.8. Os setores de alimentos e bebidas e produtos de limpeza respondem
por 80% da demanda de Lipase para uso industrial. Dentre os usos especiais, o uso
farmacêutico destaca-se, consumindo 60 % da lipase para aplicações especiais.

Tabela 19.8 Demanda mundial de lipases por aplicação (em milhões de dólares)

1994 1999 2004 2009* 2014*

Industrial 67 114 196 286 419

Alimentos & bebidas 30 60 126 185 275

Produtos de limpeza 20 30 40 55 75

Outros mercados 17 24 30 46 69

Especial 23 41 54 79 111

Farmacêutico 13 25 33 47 63

Outros mercados 10 16 21 32 48

Demanda mundial de enzimas 1990 2670 3700 5080 7120

% Lipase 4,5 5,8 6,8 7,2 7,4

Fonte: Estudo World Enzimes to 2009, Freedonia Group Incorporated.


* projeção.

O crescimento da demanda de lipases está intimamente relacionado à contínua


utilização de engenharia genética na tentativa de projetar lipases capazes de atuar em
meio alcalino ou em baixas temperaturas. Além disso, a penetração das lipases em paí-
ses em desenvolvimento poderá impulsionar significativamente sua demanda. A proje-
ção para o crescimento anual da demanda mundial de lipases é da ordem de 7,9%. Este
crescimento é impulsionado principalmente pelos avanços em biocatálise (síntese or-
gânica e quiral), produtos farmacêuticos, biodiesel e óleos e gorduras. A evolução das
técnicas relacionada à biotecnologia irá ajudar na redução dos custos de produção de
enzimas, estimulando ainda mais o consumo das lipases.
A figura 19.6 compara a demanda mundial de amilases, celulases e lipases.

1ª prova
456 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

500
450
400
350
US$ milhões

300
250
200
150
100
50
0
1994 1999 2004 2009* 2014*
ano

celulases amilases lipase

Figura 19.6 Demanda mundial de celulases, amilases e lipases. Fonte: Estudo World Enzimes to
2009, Freedonia Group Incorporated. * Projeção

Enzimas especiais
O mercado de enzimas especiais pode ser dividido em quatro segmentos: enzimas tera-
pêuticas (anticoagulantes, antitumorais, antivirais, antibióticas, anti-inflamatórias, en-
tre outras), enzimas utilizadas em diagnóstico, enzimas para pesquisa científica e enzi-
mas para química fina. Esta última representa uma pequena parcela.
O mercado mundial de enzimas especiais, estimado em US$ 1,4 bilhões, corres-
ponde a aproximadamente 40% do mercado total de enzimas e tende a crescer a uma
taxa de 7,9% ao ano, atingindo um total de US$ 2 bilhões em 2009 (figura 19.4). Este
crescimento vem sendo impulsionado pelas aplicações no campo farmacêutico, com
novos medicamentos chegando ao mercado e também por novas pesquisas em biocatá-
lise. É importante ressaltar que as enzimas especiais, que são comercializadas na forma
purificada e em menores quantidades, em relação às enzimas industriais, apresentam
custo muito mais elevado.
Em termos geográficos, os países da Ásia apresentam grande potencial de cresci-
mento para o setor, o mesmo não acontecendo nos países da Europa Ocidental.
O consumo de enzimas de uso farmacêutico correspondeu em 2004 a 38,4% da-
quele das enzimas especiais, devendo atingir o percentual de 47,2% em 2014 (tabela
19.9). A aplicação com maior previsão de expansão é a terapia de reposição enzimática,
que deverá responder por mais da metade da demanda de enzimas de uso farmacêutico
em 2014. Os Estados Unidos figuram como região de maior crescimento, absorvendo
parte da demanda européia, atualmente em retração.

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 457

Tabela 19.9 Demanda mundial de enzimas farmacêuticas por aplicação (em milhões de dólares)

1994 1999 2004 2009* 2014*

Terapia de reposição enzimática 35 97 240 480 800

Digestiva 60 90 135 195 280

Fibrinolítica 108 105 90 90 130

Outros 24 33 65 105 220

Demanda mundial de enzimas 610 920 1380 2020 3030


especiais

% Farmacêutica/especiais 37.2 35.3 38.4 43.1 47.2

Fonte: Estudo World Enzimes to 2009, Freedonia Group Incorporated.


* projeção.

Dentre as enzimas especiais utilizadas em diagnóstico, a polimerase e a nuclease se


destacam, representado 45% da demanda deste mercado (tabela 19.10). Os Estados
Unidos aparecem novamente como a maior região consumidora desta classe de enzi-
mas, apesar do crescimento mais modesto previsto até o ano de 2014.

Tabela 19.10 Demanda mundial de enzimas para diagnóstico por tipo (em milhões de dólares)

1994 1999 2004 2009* 2014*

Polimerase 25 57 100 135 190

Nuclease 22 32 40 55 70

id8991616 Outras 83 126 170 215 290

Demanda mundial de enzimas 610 920 1380 2020 3030


especiais

% Diagnóstico / especiais 21.3 23.4 22.5 20 18.2

Fonte: Estudo World Enzimes to 2009, Freedonia Group Incorporated.


* projeção.

A figura 19.7 apresenta a demanda mundial de enzimas especiais por mercado em


milhões de dólares com projeção até 2014. Observa-se que as enzimas farmacêuticas li-
deram o crescimento até 2014, com uma quota de 1.400 milhões de dólares.

1ª prova
458 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

1.600

1.400

1.200
milhões de dólares

1.000

800

600

400

200

0
1994 1999 2004 2009* 2014*
ano

farmacêuticas pesquisa & biotecnologia diagnósticos biocatalisadores

Figura 19.7. Demanda mundial de enzimas especiais por mercado. Fonte: World Enzimes to 2009,
Freedonia Group Incorporated. * projeção

REGULAMENTAÇÃO DO USO DE ENZIMAS


A implementação de enzimas para uso alimentar segue rígidos padrões nos países da
União Européia (UE) e está sujeita a variadas legislações. A diretriz harmonizada rele-
vante da UE é a diretriz 89/107/CEE do Conselho Europeu, relativa à conciliação das
legislações dos Estados-membros para aditivos dos gêneros destinados à alimentação
humana.
A maior parte das enzimas está isenta dessa diretriz, pois são consideradas adjuvan-
tes tecnológicos e não aditivos alimentares. Entretanto, a separação entre aditivo e adju-
vante, no caso específico das enzimas, nem sempre é fácil, já que estas podem ser utiliza-
das com ambas as finalidades, dependendo do processo em questão. Os aditivos com
efeito tecnológico dependem de autorização e inclusão numa lista positiva e sua presen-
ça deve ser declarada no rótulo, juntamente com os demais ingredientes do produto.
Enzimas consideradas adjuvantes ou coadjuvantes tecnológicos que não apresentam
qualquer risco sanitário e não são consumidas como ingrediente alimentar estão isentas
destas obrigações.
Nos Estados Unidos, as enzimas são, atualmente, regulamentadas por uma reparti-
ção especial, US Food & Drug Administration (FDA), sob a Lei de Alimentos, Drogas e
Cosméticos (Food, Drug & Cosmetic Act). Os critérios adotados pelo FDA incluem análi-
ses de segurança das enzimas, microrganismos, processos de fermentação e preparações
enzimáticas. As enzimas podem ser regulamentadas de duas formas: como um aditivo se-
cundário direto ou como um ingrediente do tipo GRAS (Generally Regarded As Safe).

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 459

O uso de um aditivo alimentar requer aprovação prévia através de uma petição,


procedimento que pode levar vários anos. O procedimento de avaliação de segurança
para preparações enzimáticas, derivadas de organismos geneticamente modificados
(OGMs) ou convencionais, é rígido. No caso das enzimas consideradas GRAS, aquelas
comumente usadas em alimentos desde 1958 ou antes desta data ou que foram certifi-
cadas por processos científicos de segurança não requerem aprovação do FDA. As em-
presas fornecem o certificado de que a substância é GRAS ou segura para uso geral em
alimentos e, se desejarem, podem peticionar ao FDA a confirmação do status GRAS.
Um exemplo extremo do tempo de duração de uma petição é uma solicitação da Asso-
ciação Técnica de Enzimas, que está no FDA há mais de 29 anos. As enzimas GRAS não
são de alta prioridade para o FDA, pois já são consideradas seguras. Quando o FDA de-
clara o status GRAS, é feita a publicação no Código de Regulamentações Federais. As
enzimas classificadas como GRAS podem ser comercializadas, mesmo que o processo
de petição esteja em revisão no FDA. Todas as novas preparações enzimáticas passam
por uma avaliação de segurança do organismo que a produziu, do componente
enzimático, do processo de produção e exposição alimentar, e qualquer atividade
secundária.
O grande desafio da regulamentação é a conciliação das legislações nacionais com
as internacionais que são, na maior parte das vezes, difíceis e executáveis a médio-longo
prazo. É necessário tornar a legislação sobre a comercialização dos produtos e proces-
sos biotecnológicos mais conhecida e de mais fácil acesso, de forma a diminuir as barrei-
ras à entrada de empresas que orientam a sua atividade para mercados externos. No
que diz respeito a biosegurança, é necessário o desenvolvimento de regras para os pro-
cessos industriais que utilizam grandes quantidades de microrganismos, e que
apresentam uma forte dinâmica em termos de insegurança.
Para a aceitação do público, a educação de caráter científico exerce um papel fun-
damental e é essencial difundir informações sobre as potencialidades dos produtos e
processos biotecnológicos entre os cidadãos comuns. É igualmente importante associar
conceitos de bioética, já que a inovação tecnológica pode contrariar tradições sociais,
políticas e religiosas (PISSARRA e AMADO, 2005).

BIOTECNOLOGIA BRANCA
A “biotecnologia branca” é usada para descrever o grupo emergente de tecnologias que
produz enzimas para incorporação em produtos como materiais de limpeza ou os que
se espera serem brevemente usados na manufatura de fibras e bioplásticos. Esta nova
forma de produção industrializada é ecossustentada. As biotecnologias brancas ofere-
cem novas formas de melhorar o desempenho ambiental dos processos industriais em
vários setores, incluindo indústrias tradicionais como as de química, têxteis, curtumes e
papel, e setores de alto valor agregado, como o setor farmacêutico (AHUJA et alii,
2004). Tais aplicações, nas quais se inclui a biocatálise entre outras (por exemplo, bio-
massa para energia/combustíveis e matérias-primas para a indústria, biopolímeros e bi-
orremediação), podem reduzir o consumo de matérias-primas e energia, bem como

1ª prova
460 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

permitir uma redução da poluição e um aumento da percentagem de resíduos reciclá-


veis e biodegradáveis. Este potencial tem sido revelado num número crescente de casos
industriais, mas é necessária uma maior demonstração e difusão do seu potencial
(COM, 2004). De acordo com a EuropaBio, a Associação Européia das Bioindústrias, as
empresas que já fazem parte do grupo de trabalho sobre a “biotecnologia branca” são a
BASF, a DSM, a Dupont De Nemours International, a Genencor International, a
Genzyme Corporation, a Innogenetics, a Nestlé, a Novozymes A/S e a Unilever.
Um artigo publicado na revista The Economist, em Março de 2003, conclui que a bi-
otecnologia branca poderá alterar a função primordial das áreas rurais, afastando-as da
produção de alimentos e impelindo-as para a produção de matérias-primas para aplica-
ção direta na indústria (ACP, 2003). O desenvolvimento futuro depende da disponibili-
dade de recursos energéticos por um período extenso, e em quantidades cada vez maio-
res, que sejam provenientes de fontes seguras e adequadas ao meio ambiente. Em todos
os modelos de desenvolvimento, a energia constitui um componente crucial para a estru-
turação dos meios de produção, e, como sabemos, a geração e distribuição de energia re-
querem vultosos investimentos em infra-estrutura. Por isto, o combate ao desperdício de
energia nos vários setores das atividades humanas vem se constituindo em fator de extre-
ma importância em boa parte do mundo civilizado, uma vez que o aumento nos índices
de eficiência energética significa a redução de novos investimentos em geração de ener-
gia. Além disso, o aumento da eficiência energética no espaço construído representa uma
redução nas despesas das empresas bem como um ganho para o cidadão comum.

PERSPECTIVAS
As forças condutoras que promovem o desenvolvimento dos biocatalisadores incluem
as exigências da sociedade moderna, que procura incessantemente novas tecnologias,
novos produtos e novos modos de vida com impactos reduzidos a nível ambiental. Por
outro lado, a força empresarial, que sustenta a sua sobrevivência no mercado através do
equilíbrio da dualidade receita/custo procura soluções em enzimas de custo reduzido e
com elevado grau de penetração no mercado. Paralelamente a estes fatores, existem as
instituições governamentais, reguladoras que condicionam o desenvolvimento deste
mercado. A utilização de OGMs leva ao aparecimento de pressões reguladoras para ca-
racterização total dos novos biocatalisadores em termos de eficácia e segurança. Hoje
em dia, as políticas governamentais promovem a aplicação de tecnologias limpas, sendo
a favor da utilização de processos biocatalíticos na produção de biocombustíveis. A utili-
zação de biocatálise a nível industrial mais que duplicou nos últimos 10 anos. Uma ex-
plicação para este crescimento pode ser a utilização de matérias-primas renováveis e tec-
nologias limpas, que são a base para o crescimento sustentável que permeia a sociedade
do século XXI. No entanto, as instituições de investigação que conduzem a grandes
avanços nesta área por vezes exercem uma pressão significativa nos mercados,
contrariando os programas governamentais (BAUMANN, 2004).
O mercado de enzimas produzidas por tecnologia de engenharia genética está em
plena expansão e, com o desenvolvimento da biotecnologia branca, as áreas rurais po-

1ª prova
CAPÍTULO 19 ¡ BIOCATÁLISE: ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO E CRIAÇÃO DE MERCADOS 461

dem passar a ser grandes fornecedores de matérias-primas para a indústria. A compre-


ensão da organização e funcionamento dos diferentes genomas poderá mostrar as vias
metabólicas peculiares que serviriam como alvos para o desenvolvimento de drogas
específicas.
A melhoria dos microrganismos produtores de enzimas de interesse industrial,
por processos de transgênese, tem acelerado a substituição de atividades industriais não
ecossustentadas por tecnologias limpas e economicamente viáveis, sendo fundamental
a intensificação, a demonstração e a difusão das “biotecnologias brancas”.

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1ª prova
462 ENZIMAS EM BIOTECNOLOGIA: PRODUÇÃO, APLICAÇÕES E MERCADO

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