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1. PREÂMBULO
Dentre as ações coletivas realizadas ao longo desses anos cabe destacar (ver
http://www.fronesis.org/prolat.htm).
· Carta rechaçando a nomeação da Sra. Bush como Embaixadora da Década das Nações
Unidas para a Alfabetização, por parte do então Diretor Geral da UNESCO 2003).
· Carta pelo Não à Troca da Dívida por Educação, circulada para adesões e enviada à XIV
Cúpula Ibero americana (São José, 19-20 Novembro 2004) e posteriormente à XVI Cúpula
Ibero americana de Chefes de Estado e de Governo (Montevidéu, 27-28 Outubro 2006).
· Homenagens póstumas a educadores latino americanos.
http://www.fronesis.org/homenaje-educadores-latinoamericanos.htm
A vinte anos do início da EPT e a dez anos de distância daquele Pronunciamento, vimos
a necessidade de atualizá-lo e produzir um segundo Pronunciamento. Esse documento,
que apresentamos aqui para difusão ampla e adesões, surge do I Encontro Presencial de
Comunidad E-ducativa (Em memória de Pablo Latapí Sarre) que organizamos em
Buenos Aires, a 8-11 de Setembro de 2010. Ao mesmo tempo em que ratificamos a
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validade e vigência do primeiro Pronunciamento, queremos atualizar alguns de seus
postulados e propostas, levando em conta as grandes mudanças operadas no mundo e
nessa região ao longo da última década.
O mundo que se perfila a inícios do novo milênio Já estamos no novo milênio, que
muitos imaginaram como “o futuro” da humanidade poucas décadas atrás, o “mundo
pelo avesso” de que fala Galeano: grandes avanços científicos e tecnológicos, ampliação
da vida humana, uma nova brecha – a digital – e uma cultura digital que se expande
aceleradamente, um planeta ameaçado convivendo com uma maior consciência
planetária sobre os riscos do modelo de desenvolvimento e consumo adotado até hoje,
maior acesso aos bens culturais e especialmente à cultura audiovisual, uma impensável
conectividade facilitada pelas modernas tecnologias, maior capacidade da população de
pronunciar-se organizadamente, inclusive por meios virtuais, sobre problemas locais,
nacionais e mundiais, avanços importantes nas conquistas das mulheres bem como nas
liberdades de expressão, da sexualidade, etc. Velhos e novos problemas ameaçam a vida
humana e a do planeta: enquistamento da pobreza, mudança climática, ameaças de fome
epidêmica e de guerras pela água, incremento do gasto militar e guerras em distintas
partes do mundo, desaparição de línguas e culturas ancestrais, incremento da violência,
desemprego, atitudes xenófobas, entre outros. Em plena “Sociedade da Informação”
subsistem cerca de 900 milhões de pessoas analfabetas, milhões de meninos e meninas
que seguem sem ter acesso à escola, outros tantos milhões de crianças e jovens que tem
acesso a ela mas que desistem ou não aprendem nas aulas, porque os sistemas escolares
não estão sintonizados com as necessidades das atuais gerações e porque as
autoridades, na maioria dos países do mundo, continuam sem dar à educação a
importância e a urgência requeridas.
Rica em seu poder de criação, a América Latina está ameaçada em alguns de seus
aspectos de identidade nacional e regional, frente à homogeneização da cultura, da
produção e do consumo imposta pelo mercado. O espírito comunitário, tradicionalmente
sustentado pelos povos indígenas, deve ser fortalecido em um mundo que sucumbe aos
valores do individualismo, do consumismo e da competência. Continuamos a nos guiar
pelos modelos dos países “desenvolvidos”, assumindo que estamos sempre atrás e que
avançar significa nos parecer a eles. Todavia, o que se faz no Norte não é
necessariamente recomendável para o Sul. Em vez disso, a experiência em países do
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Norte deveria nos servir para antecipar e evitar caminhos sem saída que eles
percorreram e dos quais, em muitos casos, estão hoje de volta.
Ainda que a situação econômica e social das maiorias não seja alentadora, porque os
modelos estruturais e os problemas que deles derivam permanecem imutáveis, os
últimos anos trouxeram sinais promissores. Dentre outros: eleição democrática de
governos de corte progressista em vários países da região, especialmente na América do
Sul; adoção de medidas que tendem à proteção de recursos nacionais e à reafirmação da
soberania; deflagração de novos mecanismos e instâncias de integração sub regional;
novas constituições, na área andina, que reconhecem a plurinacionalidade e a
multiculturalidade, e adotam o bom viver como paradigma; políticas e programas
orientados pela economia social e solidária –a outra economia- em vários países;
participação social incluída em constituições e leis; avanços no reconhecimento dos
direitos dos povos indígenas e das liberdades sexuais; adoção de medidas de proteção
social, sobretudo em benefício de crianças e mulheres.
Para além de avanços pontuais e de sinais alentadores que sempre se podem encontrar e
mencionar, a educação na região continua mostrando falhas estruturais, de concepção e
de execução, tanto na ação governamental como na desenvolvida pelos organismos
internacionais que fazem cooperação nesta região. Mencionamos três pontos que
colocam de manifesto essas deficiências em relação à qualidade, tema crítico e lema das
reformas educacionais ao menos nas três últimas décadas. Estamos nos referindo à
qualidade da tomada de decisões, à qualidade da cooperação internacional e à qualidade
dos resultados no âmbito escolar.
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uma grande diferença em relação aos demais países participantes nas provas), um país
com sérias dificuldades econômicas, o único nessa região que não embarcou em
empréstimos nem em assessorias com os organismos financeiros internacionais. Os
dados lançados pelo LLECE, sem necessidade de se recorrer a avaliações
internacionais como PISA e outras, são o suficientemente contundentes para exigir uma
reflexão e revisão de fundo em torno das estratégias de desenvolvimento e mudança
educacional que vem se ensaiando nessa região. As assessorias e suas receitas
convencionais não funcionaram.
4. PRINCÍPIOS E PROPOSTAS
Iremos expor aqui alguns princípios que, consideramos, deveriam orientar tanto a teoria
como a práxis educacional em nossa região nos próximos anos, sem, obviamente,
ignorar a grande heterogeneidade dos países e no interior deles.
A educação sozinha não pode “Os problemas não se explicam nem se resolvem
exclusivamente desde o educativo, mas desde uma política econômica e social
responsável pelo bem estar das maiorias” (Pronunciamento Latinoamericano, 2000). A
educação não é um setor autônomo. Depende de decisões econômicas e políticas, além
de ser política em si mesma. As instituições educativas não podem, sozinhas, resolver
problemas sociais como a pobreza, a fome, a fragmentação familiar, os vícios, a
violência, etc. Uma sociedade que não assegura a todos os educandos os meios
necessários para aprender, superando as limitações impostas pela desigualdade
econômica e social, não deve surpreender-se com resultados de aprendizagem
insatisfatórios. A constatação de que à maior pobreza corresponde maior fracasso
escolar é bem conhecida e já foi abundantemente investigada. Não há que seguir
pesquisando essa correlação óbvia. Há que partir do conhecimento já disponível e atuar
coerentemente, distribuindo com justiça os bens de que dispomos.
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qualidade para todos. Nada disso ocorre só por uma questão de métodos, tecnologias ou
inclusive de recursos, mas pela vontade política de fazer da educação uma prioridade
nacional e uma realidade, assim como pela adoção de medidas que mudem a fundo a
pedagogia e a administração dos centros de ensino.
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aspectos que requerem atenção prioritária- mas, além disso, por uma recolocação
integral do papel e do ofício de educar, dentro e fora do sistema escolar. Isso exige
reabrir espaços de diálogo, reflexão e debate social, com participação ativa dos
educadores, a fim de clarificar a encruzilhada atual e definir novos perfis e rumos para a
profissão.
Tecnologias As tecnologias e sua vinculação com a educação tem uma longa história
nessa região, estreitamente ligada ao desenvolvimento mesmo das tecnologias e da
educação a distancia. O rádio e a televisão, as tecnologias mais disseminadas e ainda
não totalmente aproveitadas com fins educativos, foram avassaladas pelas modernas
TICs. O acesso ao computador e á Internet vem avançando por meio de lan-houses e
tele centros em zonas urbanas e urbano-periféricas, e mais recentemente, através das
instituições educativas, bem como bibliotecas, centros comunitários, etc. O telefone
celular, a tecnologia digital mais versátil e mais rápida e amplamente difundida na
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região, revolucionou a comunicação interpessoal de vastos setores da população e leva a
crer na possibilidade real de considerá-la a tecnologia do futuro, mais que o próprio
computador. Os efeitos positivos das TIC são inegáveis não só em termos de
informação e comunicação, mas de expressão e de aprendizagem. Para os setores mais
desfavorecidos, podem resultar em uma ajuda inestimável, em muitos âmbitos e uma
fonte de dignidade e de auto estima.
A introdução apressada das TICs no sistema escolar, destinada entre outros fins a
“reduzir a brecha digital”, está criando inumeráveis possibilidades, mas também novos
problemas. Á brecha geracional se agrega a brecha específica entre docentes e alunos
(reforçada por planos que privilegiam a esses últimos), o aprofundamento da brecha
urbano-rural (com as zonas rurais mal equipadas para acessar as TICs por problemas do
serviço elétrico e de telefonia), e as brechas derivadas da rapidez no acesso à Internet e
da rápida obsolescência dos equipamentos e programas informáticos.
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componente indispensável na formação de toda pessoa, educandos e educadores.
Aliança com o povo. Essas reflexões e propostas de ação nutrem-se de uma prolongada
experiência de ver os sistemas educativos expostos a um constante vai e vem que
corresponde mais a mudanças de governo ou de administração que a mudanças
necessárias e fundamentadas. Nesse vai e vem, os que estamos no fazer educativo não
devemos perder de vista que nosso trabalho tem uma âncora no contato com os setores
populares. E não apenas contato, mas em uma aliança com o povo, que utiliza, apóia e
confia nos serviços educativos do setor público. Os governos variam, deslegitimam o
realizado por governos anteriores e amiúde destroem avanços que haviam requerido
ingentes recursos e muitos anos de fé e de empenho. Tudo isso reforça a necessidade de
um permanente compromisso com o povo, garantidor da continuidade da ação
educativa, de cuja voz, organização e força depende a conquista efetiva do direito à
educação, sujeito merecedor de todo esforço em favor não só de uma educação melhor,
mas de outra educação.
5. CHAMADO