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16 Dh Outubro 2008
A febre gourmet
Quem não desenvolve um produto gourmet fica para
trás. Assim parece ser, pelo menos a julgar pelo crescente
aparecimento de novas referências neste segmento.
Fomos perceber o que caracteriza um produto gourmet,
quem o fabrica, onde se encontra e o que pensa o
grande público de tudo isto.
A
bra um dicionário. Percorra as folhas
até à letra “G”. Passe mais um pouco e
encontre a palavra “gourmet”. A não ser
que esteja a folhear um dicionário de
francês, o mais certo é não a encontrar, apesar
de estar presente no nosso léxico há algum
tempo. Se o seu significado original designava
os apreciadores de vinho, hoje em dia já é mais
abrangente. Mas afinal, o que é gourmet?
Para melhor percebermos, contactámos diver-
sos responsáveis (gestores de produto, donos
de lojas, directores de marketing, produtores)
para nos explicarem o que é, afinal, isso de ser
gourmet. E encontrámos alguns pontos em co-
mum: qualidade é o adjectivo mais vezes refe-
rido como o que melhor o define. Mas outras
definições são dadas, como sendo de «produ-
ção limitada», com um «design arrojado ou
rústico», com «características únicas do ponto
de vista sensorial» ou «um produto exclusivo».
E surgiu, actualmente «da necessidade de seg- A Delidelux é uma das lojas gourmet de rua de Lisboa.
mentação de produtos», sendo «um produto
com um posicionamento premium» ou «pro- essa e outras dúvidas, fomos escutar o grande assim, destacam-se diferenças noutras variá-
dutos que trazem valor acrescentado e diferen- público. veis. A faixa etária entre os 25-34 anos e 35-44
ciação da concorrência». anos representa mais de metade da amostra na
Isabel Sottomayor, managing director da Loja Muito para onde crescer compra deste tipo de produtos (26 e 27%, res-
da Praça Gourmet, no Porto, resumiu tudo Um estudo telefónico da Marktest, para a Dis- pectivamente). No que diz respeito às regiões,
quando afirma que o factor qualidade ineren- tribuição Hoje, com uma amostra de 801 in- a zona de Lisboa é aquela que apresenta a
te ao produto gourmet não se limita ao sabor quiridos, permite-nos conhecer de forma mais maior percentagem dos inquiridos que já
ou aroma, podendo ser «algum factor ligado à pormenorizada o comportamento do consu- compraram.
sua forma de produção, à sua originalidade na midor face a este segmento. O primeiro facto Quando se analisam as classes sociais dos in-
embalagem, à sua idade, ou à especialidade de que salta à vista é que 28% dos inquiridos re- quiridos, observamos que relativamente à
parte ou totalidade da sua matéria-prima». fere que já comprou produtos gourmet, contra classe A/B, existe uma maior percentagem de
O gourmet é um segmento que apresenta um os 72% que nunca compraram. No entanto, inquiridos que já compraram produtos gour-
vasto potencial de crescimento para a área da apenas 50% dos que responderam “sim” têm met. No entanto, analisando apenas o consu-
distribuição e indústria alimentar. Actualmen- por hábito comprar regularmente. mo daqueles que costumam comprar regular-
te, já é possível encontrar produtos deste tipo O gourmet não é algo característico de um só mente, concluímos que este é equilibrado en-
nas diversas insígnias de retalho moderno. sexo, até porque nas respostas dadas foi paten- tre as várias classes. Para isto provavelmente
Ainda assim, subsiste a ideia de que o gourmet te um equilíbrio no comportamento de com- terá contribuído o surgimento de produtos de
está vedado a uma elite. Para esclarecermos pra entre o sexo masculino e feminino. Ainda grande consumo com o rótulo de gourmet.
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Fonte oficial do Grupo Jerónimo Design, PepsiCo, este produto surgiu porque o seg-
Martins (Pingo Doce e Feira Nova), embalagem e mento premium está em crescimento, pelo que
revelou-nos, por outro lado, que «um processos «os nossos departamentos de marketing e de-
produto gourmet não tem de ser um premium senvolvimento de produto detectaram uma
produto dispendioso, inacessível para Num sector tão oportunidade para lançar um novo conceito,
a maioria das pessoas». De resto, «a competitivo quanto que cobrisse também as necessidades de consu-
estratégia de inovação de produtos da o das cervejas, tam- midores que gostam de uma batata mais refi-
marca Pingo Doce assenta precisa- bém a concorrência nada e de um sabor mais exclusivo». Optou-se
mente no romper deste paradigma». aposta neste segmen- assim por um método de produção diferente,
Assistimos assim a uma democratiza- to. A Super Bock bem como por outras características únicas
ção dos produtos, tornando-os acessí- Abadia, da Unicer, «como a forma irregular de cada batata, pelo
veis, e «sem utilizar os artifícios de reclama igualmente seu corte mais grosso, por serem du-
uma submarca denominada gourmet». o rótulo de gourmet. plamente estaladiças e terem um sa-
E fica a questão «não serão gourmet os E tudo começou bor inconfundível». Para não fugir à
gelados Premium Pingo Doce ou o Salmão Fu- porque se detectou que apenas 20% do consu- essência dos produtos gourmet, a li-
mado Pingo Doce?» Não respondemos e lança- mo de cerveja se faz às refeições. Nas palavras nha de produção destas batatas é mais
mos até mais perguntas: o que distingue um de Paulo Valentim, director de marketing das demorada e envolve mais mão-de-
produto gourmet de um “simples” produto Cervejas Unicer, «tornou-se necessário criar obra, resultando isto num processo
bom? O que tem o gourmet assim de tão dife- uma cerveja com características especiais, de elaboração mais cuidado e ela-
rente? Vejamos alguns exemplos, enquanto pas- que se posicione como uma oferta de valor borado.
samos palavra aos fabricantes. acrescentado para um momento de consu-
mo tão peculiar como a refeição». E a dis- O consumidor exige,
Da cerveja à tinção é feita atra- o gourmet nasce
batata frita vés das matérias- Os produtos gourmet são algo que a
Cada vez mais produtos, de diferentes -primas, principal- Gelpeixe já assumiu como uma
origens, “colam-se” ao rótulo de gour- mente a utilização fonte de receitas. Entre os produtos
met. Mas será que ostentam esse rótulo de um novo malte Gelpeixe Gourmet encontra-se o ca-
com mérito? especial, permitindo marão selvagem de Moçambique e
Um desses produtos é a Sagres Bohemia, que cada uma delas mexilhão 1/2 concha Nova Zelândia
cerveja da Central de Cervejas e Bebi- seja ideal para determi- e o sushi sapporo, vencedor do Prémio Master de
das, e presente no mercado nacional há nadas refeições. Assim, Distribuição em 2007. Em declarações à nossa
cerca de 3 anos. Nas palavras de Rui Pa- a Super Bock Abadia revista, Lídia Tarré, responsável de marketing da
triarca, responsável de marketing pelas Rubi, «é ideal para Gelpeixe, revela que oferecem ao cliente não
cervejas premium, acompanhar os sabo- apenas um alimento, «mas um veículo de emo-
esta cerveja foi res fortes das carnes ções». A responsável acredita ainda que «o con-
lançada porque vermelhas, assados e ceito gourmet é uma tendência de hoje que veio
«sentimos que pratos tradicionais» para ficar» e que mais do que uma moda, «é uma
existia espaço no mer- e, por outro lado, a Super Bock Abadia Gold é filosofia de vida».
cado nacional para lhes a melhor companhia para «pratos de confec- Para aqueles que reclamam a mediocridade
oferecer uma cerveja di- ção mais leve como peixe e marisco, massas e dos produtos de grande consumo que se inti-
ferente». E essa diferen- saladas». tulam gourmet, e que acham que estes nada
ça assenta na elaboração A quem critica afirmando que este tipo de mais são do que apresentação, comunicação e
por parte «dos melhores produto assenta apenas num design novo, o design, Lídia Tarré afirma que «a apresentação,
mestres cervejeiros e responsável afirma que «não somos alheios à o design, a comunicação e o conteúdo têm de
que obedece a um crite- importância que assume a embalagem (di- estar coerentes para que o produto tenha su-
rioso rigor na selecção mensão, cores, forma) para cesso», mas, no entanto,
dos melhores ingre- reforçar o posicionamento do «por mais bonita que seja a
dientes». Ou seja, a produto. No caso das Super embalagem de um perfu-
mão-de-obra tradicio- Bock Abadia Rubi e Gold me, compramos se o cheiro
nal e especialista a for- “mexemos”, pela primeira vez, não nos agradar?»
mar o produto no seu início, recorrendo a in- na tradicional embalagem da A tendência gourmet é
gredientes de qualidade, tudo para que a pro- marca». No entanto, os «pro- apontada por Rita Pacheco,
dução em massa, que depois daí resulta, seja dutos gourmet assentam, espe- gestora de produto da
assente numa base mais tradicional. cialmente, nas características COMTEMP – Compa-
Este responsável afirma também que «o gour- especiais dos próprios produ- nhia dos Temperos, como
met é uma tendência que já tem bastantes anos tos. rastilho para a criação do
a nível internacional e que surgiu em Portugal E será a batata frita um produ- Vinagre Cristal Gourmet.
há pouco tempo, de forma que é uma diferen- to gourmet? A Lay’s Gourmet Nas palavras da responsá-
ciação para manter e ainda existe muito para diz que sim. Segundo Isabel vel, a diferenciação para
evoluir». Salgado, marketing manager da gourmet atinge-se através
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dos métodos de produção, uma vez que é por 3 lotes – Suave, Mundi ao investimento em no-
«produzido usando métodos que os aproxi- e Selecto – esta gama apre- vos produtos foi um pas-
mam muito dos produtos artesanais existentes senta apenas «produtos de so. Claro que para poder
durante centenas de anos e destinados essen- elevada qualidade», sem sobreviver no mercado
cialmente ao autoconsumo». Este produto, de ser «mais caro». De resto, nacional, o produto cria-
resto, mantém a acidez dos vinagres mais anti- Manuela Campos afirma do tem que «responder
gos, o que lhe confere um bouquet característi- que o gourmet não poderá, às novas necessidades do
co. A comprovar essa excelência está a atribui- nunca, ser uma mera ten- consumidor e à sua ape-
ção do prémio “Sabor do Ano 2008”. Um dos dência, até porque «os con- tência por alimentos saudá-
grandes pontos negativos para este produto sumidores estão cada vez veis, saborosos, fáceis de confeccionar, de ele-
específico é, segundo Rita Pacheco, o facto do mais exigentes e procuram, nas suas marcas de vada qualidade e de tradição portuguesa».
vinagre ser considerado, pelo grande público, tradição, produtos distintos que vão ao encon- Na opinião de Carolina Morgado, o gourmet
como um produto banal. No entanto, «os tro das suas necessidades mais específicas». não é apenas uma moda. E se os consumidores
consumidores estão, aos poucos, a conscien- De seguida, parámos nos queijos gourmet. E o estão cada vez mais informados e exigentes,
cializar-se de que existem diversos tipos de vi- queijo Palhais Gourmet encaixa bem nessa ca- «as marcas não têm outra alternativa senão op-
nagres com diferentes sabores e utiliza- tegoria. Nas palavras de Vera Mota, da tarem por novas formas de diferenciação».
ções». Queijo Saloio – Indústria de Lacticínios, Esta é também a razão apontada para a criação
o queijo gourmet foi lançado aquando do da Água Mineral Natural Chic. Nas palavras
Mais do que uma tendência lançamento da gama Palhais e «é um de Luís Miranda, director-geral da Sociedade
Um outro campo onde o gourmet está a queijo curado, com um sabor e tex- da Água de Monchi-
implementar-se é nos cafés. Falámos com tura característicos. É um queijo que, «as águas engar-
Manuela Campos, responsável de ma- de sabor forte, que se adequa a rafadas são um pro-
rketing da Nutricafés e da sua gama Ni- vários momentos de consumo, duto maduro, perce-
cola Gourmet. O surgimento deste tipo valorizado pelos verdadeiros bidas como um bem
de produto foi a resposta à «evolução apreciadores que consideram meramente funcio-
do mercado e das necessidades e prefe- que um queijo de cabra tradicio- nal no tocante a ne-
rências dos consumidores». Composta nal é uma especialidade cada vez cessidades de hidra-
mais rara». tação». Torna-se as-
Julga Vera Mota que sim necessário «rede-
«os consumidores finir o posiciona-
procuram cada vez mento de alguns
mais produtos dife- destes bens em cate-
renciadores, mas que gorias superiores,
sigam as linhas do destinadas a um pú-
prazer e da saúde, e o blico-alvo exigente
mercado tem caminhado no tocante à qualidade, inovação e design». E
neste sentido». Ou seja, não foi com isto em mente que a água Chic nasceu.
basta ser bom e premium. O objectivo era desenvolver um produto pre-
De preferência, que faça mium, mas acessível, já que foi utilizado o PET
bem à saúde. na embalagem, em vez do vidro. De resto, a
imagem e design da garrafa é reconhecido co-
Conveniência mo inovador, captando desde logo a atenção.
gourmet
A comprovar o crescente
aparecimento deste tipo de
produtos, também as refei-
ções pré-cozinhadas aderi-
ram ao gourmet. Falámos
com Carolina Morgado,
gestora de marketing e co-
municação da Ernesto
Morgado, empresa produ-
tora do Pato Real Gourmet,
uma linha de refeições e Mas será que a Chic é só design? Luís Miranda
acompanhamentos à base afirma que não, que os consumidores sabem
de arroz pré-cozido e desi- «distinguir claramente uma promessa de quali-
dratado. Tudo começou dade de uma embalagem bonita». E remata
com «a estratégia da empre- com «a qualidade, sobretudo no caso das águas
sa em ser uma referência no minerais naturais, está lá, não é só embalagem
mercado de arroz». Daí até e design».
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