A consignação em pagamento é uma das formas de extinção
das obrigações. Assim, não só o credor tem o direito de exigir o cumprimento da obrigação, como também o devedor tem direito ao adimplemento. Então na hipótese de não conseguir que o credor aceite ao pagamento, caberá ao devedor a ação de consignação em pagamento, com objetivo de desobrigá-lo do pacto assumido.
As hipóteses de cabimentos da ação de consignação são
aquelas previstas no artigo 335 do Código Civil de 2002:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o
pagamento, ou dar quitação na devida forma;
Naquelas obrigações em que o devedor deve procurar o credor,
para efetuar o pagamento, na forma e lugar estipulados no pacto, e o credor não pode, ou, sem razão plausível, não aceita receber.
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e
condição devidos;
Nas obrigações em que se pactuou caber ao credor buscar o
pagamento, no lugar e tempo indicados pelo devedor.
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
Casos em que, após o pacto, houve alteração no estado ou
residência do credor.
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento; Como o crédito é circulável, pode ocorrer de, em sucessivas tranasferências, vários serem os que intitulam credores, não sabendo o devedor a quem deva efetuar o pagamento.
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
Situação em que, após o pacto, a coisa, em que consiste o
pagamento, vem a ser disputada, tornando incerto seu destino.
LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA
A ação de consignação em pagamento pode ser promovida
tanto pelo devedor principal como por qualquer terceiro interessado na extinção da obrigação. Quanto à legitimidade passiva a ação é promovida contra o credor ou credores, se houver. Mas se houver dúvida a quem pagar, deverá ser promovida contra todos os possíveis credores.
COMPETÊNCIA
O foro competente para a ação de consignação é o do lugar do
pagamento. Em regra este domicílio é do devedor, mas nada impede que as partes pactuem o foro de eleição. Na obrigação que consistir em entregar corpo no lugar onde se encontra, diverso do domicilio do devedor, o devedor está autorizado a propor a consignatória no foro onde está a coisa. E se tratando de prestação relativa a imóvel e consignação de aluguéis é competente o foro da situação do imóvel, excesso expressa estipulação de outro foro pelas partes.
DEPÓSITO BANCÁRIO
Houve uma considerável alteração na ação de consignação em
pagamento, inserindo a possibilidade de que se faça depósito bancário, procedimento extrajudicial que também extingue a obrigação sem necessidade de propor ação consignatória.
Se tratar de obrigação em dinheiro, o devedor poderá efetuar o
depósito da quantia devida atualizada monetariamente em um estabelecimento bancário qualquer. O credor será cientificado do depósito, por carta com aviso de recepção, abrindo prazo de 10 dias para que se manifeste. Neste prazo pode o credor aceitar o depósito e levantar a quantia; permanecer inerte ou manifestar expressamente a recusa, por escrito ao estabelecimento bancário. Não há necessidade de explicar os motivos da recusa, pois poderá fazê-lo na contestação se a ação consignatória vier a ser proposta.
Somente se houver recusa expressa é que a obrigação
persiste, cabendo ao devedor em trinta dias, contados da ciência da recusa ajuizar a ação consignatória.
PROCEDIMENTO
Tendo ou não havido depósito bancário (lembrando que é
opção do devedor), a ação de consignação em pagamento será proposta por meio de petição inicial, observados os requisitos do artigo 282 do CPC, contento o pedido do depósito da quantia ou da coisa devida que deverá ocorrer no prazo de cinco dias contados do deferimento, e a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta. Se o autor já houver feito o depósito bancário basta a juntada do comprovante de depósito.
Se houver dúvida a quem pagar o pólo passivo deverão
constar todos aqueles que disputam o direito de receber, devendo o autor requerer a citação de todos.
Como a consignação em pagamento tem cabimento restrito, é
muitíssimo importante a demonstração da situação reclamada encaixada em uma das hipóteses legais. Sendo que só é possível consignar aquilo que pode ser objeto de pagamento, devendo a petição inicial demonstrar ser a dívida líquida, certa e exigível.
Resposta do réu
A Resposta do réu deverá ser oferecida em 15 dias, quando
poderá ser ofertada contestação, exceção ou reconvenção. O conteúdo da contestação é limitada, não cabendo ao réu alegar toda matéria de defesa, mas somente o previsto no artigo 896 do CPC que nos trás regras especiais.
I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida;
Nessa hipótese o réu está negando o fato constitutivo do direito do
autor (a recusa).
II - foi justa a recusa;
Neste caso o réu admite a recusa do pagamento, mas alega outro
fato justificando seu comportamento.
III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;
Com esta alegação busca demonstrar que não houve mora do
credor.
IV - o depósito não é integral.
Aqui se discute o montante da dívida, pois o réu alega que o autor
depositou a menos do que deveria, assim não basta apenas alegar que o depósito não é integral, devendo expressar o montante que entende devido.
JULGAMENTO ANTECIPADO
Poderá haver julgamento antecipado da lide, se o réu
devidamente citado não apresentar contestação e se tiverem produzido os efeitos da revelia, ou se o réu comparecer e aceitar a oferta.
DÚVIDA SOBRE A QUEM PAGAR
Uma das hipóteses de cabimento da ação de consignação em
pagamento é quando o devedor não sabe quem deve receber a prestação. Neste caso não há mora do credor, pois não se trata em recusa de receber, mas sim dúvida objetiva do devedor, sobre a quem deva efetuar o pagamento. Tal dúvida autoriza a consignatória, para acautelar o devedor dos riscos do pagamento indevido.
Assim, proposta a ação contra todos os possíveis credores e
requerida a citação de todos, insurge três hipóteses:
I – nenhum pretendente comparece;
Neste caso, ocorrerá o julgamento antecipado, e a sentença
declarará extinta a obrigação, liberando o devedor. O depósito será convertido em arrecadação de bens de ausentes.
II – apenas um pretendente comparece;
Sua manifestação, evidentemente, não será a contestação, pois
não se trata de defesa contra o autor, mas, sim, de alegação de que a ele cabe o direito de receber. Assim o Juiz analisará a relação creditícia e deverá julgar se o pretendente é ou não credor.
III - mais de um pretendente comparece.
Há uma grande transformação, pois o Juiz declarará efetuado o
depósito e extinguirá a obrigação, excluindo o autor do processo, e a demanda prosseguirá entre os pretendentes, que estão disputando o crédito. Em verdade inicia-se outro processo,em que os pretendentes são reciprocamente autores e réus, e a sentença definirá a quem cabe o direito.
INSUFICIÊNCIA DE DEPÓSITO
Se o réu alegar insuficiência de depósito, desde logo está
autorizado a levantar o depósito, pois, em verdade, se o réu alegou que o depósito é insuficiente, não está discutindo o quantum depositado, mas sobre a diferença não depositada. Levantando o depósito, ocorre a liberação parcial do devedor, e o processo prosseguirá, versando apenas acerca da parcela controvertida. Concluindo-se efetivamente que o depósito foi insuficiente, a sentença não apenas julgará improcedente a consignação, mas determinará qual o montante devido, devendo o devedor fazer sua complementação.