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A CASA BEM-ASSOMBRADA - Parte 1

Toda cidade que preza pela história, principalmente as do interior, tem lendas urbanas que
aumentam de dramaticidade à medida que os ano passam. É clássico. Em Formiga, essa
“regra” não poderia ser diferente. Merece, pois, que este “mistério formiguense” seja
recontado. Dizem que ele foi “vivenciado” por um grande amigo meu. Contudo, para que
sua identidade seja preservada, vou chamá-lo pela alcunha de “Dempeilos”. Ele, próprio é
quem relatará sua inusitada história: “Existe em nossa cidade, muitas casas antigas com a
fama de mal-assombradas. Umas são ainda habitadas, outras já estão abandonadas.
Entregues ao tempo. Foi justamente uma dessas que ‘visitei’ certa feita. E que visita! Pois
bem, contarei como foi. Eram seis da tarde. Os sinos da Matriz começaram a bater e a ‘Ave
Maria’ ia tocar logo em seguida. Momento de introversão. O clima estava incerto. Pelo
visto, uma chuva ia desabar na cidade a qualquer momento. Resolvi, então, ‘curtir um ar
puro’. Enquanto andava e sentia aquele agradável cheirinho de umidade, meus pensamentos
viajavam ao sabor do vento frio que batia contra meu rosto. Os relâmpagos, seguidos dos
trovões pipocavam no céu cheio de nuvens enegrecidas. Pessoas passavam por mim
apressadas, na ânsia de chegar em casa antes que a chuva desabasse. Decidi andar estender
meu trajeto. Subi a avenida. Não estava me importando se a chuva caísse, pois estava
protegido com uma capa. Ao passar perto do Colégio Santa Terezinha, lembrei-me da
antiga Igreja do Rosário que derrubaram, num desrespeito imperdoável à memória da
cidade. Enquanto vivia minha revolta interna, olhei de esguelha e, de relance, notei um
casebre bem ao lado do Colégio. Estranho, pensei, jamais havia reparado aquela casinha
num local que eu pensara ser um lote vago. Como a noite se aproximava, vi luzes que
bruxuleavam ao compasso do vento. Elas vinham da pequena janela da casa. Era como
estivessem me chamando. Resolvi me aproximar. Um calafrio desceu-me espinha abaixo.
Eu com medo? Ora, esse era um sentimento que eu jamais tivera antes. Por isso mesmo,
minha curiosidade falou mais alto. Em frente à janela, estiquei o pescoço e avistei o interior
da casa. Uma rajada de frio gelou meu nariz. E junto veio um aroma de sopa. Minha boca
encheu de água. Uma sopinha com aquele tempo frio e úmido pegaria bem. Era
convidativo. Na ‘caradura’ vou pedir uma talagada dessa sopa, pensei. Antes mesmo de
bater palmas, a porta rangeu e ficou entreaberta me convidando para entrar. Quando
coloquei meu pé direito (ainda bem que não foi o esquerdo...), a porta fechou sozinha.
Agora é tarde. Já estou na casa. ‘Ô de casa’, gritei, ainda ressabiado. Nada. A luz que vinha
de uma lamparina continuava no seu bruxuleio ininterrupto, dando um ar lúgubre ao
ambiente. Gritei de novo e, de novo, sem resposta. Pé ante pé fui adentrando o recinto. À
medida que entrava, o chão rangia porque era feito de tábua velha. Antes de esboçar outro
grito, eis que surge logo à minha frente a Margaridinha, uma doida que durante muitos anos
divertia as pessoas na cidade. Sim! Ela mesmo, em carne e osso (ou pelo menos em osso,
pois estava esquálida). Mas ela já não tinha morrido? Estaria sonhando? Pegou-me pelo
ombro e sorriu. Não havia dentes em sua boca murcha. Apesar da luz fraca, pude reparar
esse arrepiante detalhe. Sem dizer nada, ela se virou e caminhou em direção à cozinha.
Acho que ela vai me dar a sopa, pensei, desconfiado e torcendo para que fosse verdade meu
palpite. Não é que tive medo! Acho melhor voltar, novamente matutei comigo mesmo.
Virei-me e apertei o passo em direção à porta da rua. Susto! Não havia mais porta! Só uma
parede descascada, cheia de mofo e de teias de aranha. Dessa vez, não tinha como refugar.
O terror tomou conta de mim. Pensei em pular a janela para escapulir, mas então surgiu
outro ‘espectro’ à minha frente. Primeiro pude vislumbrar uma pasta, depois vieram os
passos. Que visão mais chocante! Era o José Júlio! O velho Coréia! Engoli seco. (continua)

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