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Adaptado do livro homômino, Um estranho no ninho (One flew over the cuckoo’s nest) é

um filme de 1975 vencedor de cinco Oscar (incluindo melhor filme) e referência até
hojecomo símbolo na luta antimanicomial. Vamos aqui analisar sua estrutura narrativa.

***

Um estranho no ninho é um filme que pode ser encaixado na jornada do herói


sem grandes esforços, mas uma análise mais cuidadosa é capaz de ver que apesar de não
subverter por completo o jogo da narrativa clássica – o que é simplesmente impossível,
nada pode ser restritamente encarado nessa obra.

Ao passar-se em um hospital psiquiátrico, boa parte dos personagens deixam de


lado a sanidade, e como consequência, o que pode ser entendido como linearidade de
comportamento, provocando um revezamento durante toda a narrativa dos arquétipos
comumente conhecidos.

Isso é facilmente exemplificado pelo protagonista. McMurphy tem várias


passagens pela polícia por ser alguém como ele mesmo se define “que gosta muito de
beber e transar”. É um malandro, está sempre em tom de ironia e por mais enclausurado
que esteja, tem uma liberdade própria que parece nunca ser destruída. Desde cedo
conhecemos McMurphy como alguém com defeitos e com um único objetivo: livrar-se
da situação em que está. Contradiz o conceito de herói quando se revela profundamente
egoísta, mas é demasiado carismático para que o público não se identifique com ele.
Em Um estranho o protagonista é um anti-herói.

No primeiro ato somos apresentados à rotina do sanatório. A câmera sobrevoa os


pacientes da ala a qual McMurphy posteriormente se juntará e a enfermeira Ratched, que
faz as vezes de antagonista para o nosso anti-herói, verifica metodicamente se as coisas
vão bem. McMurphy entra em cena introduzido no hospital pelos policiais e ao ser solto,
beija o policial que antes lhe aprisionava como comemoração. A partir desse momento o
espectador é comprado e o protagonista é construído tridimensionalmente na frente do
público. McMurphy é alguém que não gosta de regras e por isso não entende bem ao que
está sendo submetido. Ele mesmo faz piada de si trazendo um alívio cômico à narrativa.

Aqui temos o nosso primeiro ponto de virada. Em uma sequência em que o Dr.
Spivey, diretor do hospital, conversa com McMurphy, o anti-herói é informado de que
está internado para que seja avaliado se de fato apresenta problemas mentais. Ainda que o
responsável direto pela estadia de McMurphy no hospital, o dr. Spivey se resguarda à
função de arauto. O conflito é passado para a enfermeira Ratched, a quem o anti-herói
claramente se opõe durante todo o filme.

Rapidamente McMurphy passa a questionar a rotina do hospital, os rígidos


horários e o controle excessivo exercido pela enfermeira Ratched. Aos poucos vai
convencendo aos outros internos que a vida pode ser diferente do jogo sistemático
imposto pela antagonista. Quase todos esses personagens companheiros de McMurphy
têm passagens cômicas, sobretudo Martini Cheswick – o mais qualificado a ser
lido como pícaro, interpretado por Danny de Vito. O jovem e inexperiente Billy se torna
uma espécie de protegido de nosso anti-herói, pessoa por quem McMurphy é capaz de
arriscar seu objetivo de sair do hospital.

O índio Chefe é a personagem mais difícil de ser lida de todo o filme.


Aparentemente surdo-mudo, a incomunicabilidade da personagem faz dele uma figura
ambígua e alguns espectadores podem se perguntar se não se trata de um camaleão. No
entanto, McMurphy sempre o reconhece com um aliado, alguém forte que pode lhe
ajudar a sair dali. E de fato, o Chefe com o andar da história desenvolve a função de um
mentor para McMurphy, alguém mais velho e mais experiente disposto a ajudá-lo.

Para isso, o Chefe é preciso ser convencido de tal tarefa. Nesse aspecto a lógica
da narrativa comum se subverte um pouco. McMurphy é também um mentor para o
Chefe quando o convence de sua natureza indígena de liberdade a qualquer custo. E o
Chefe é quem no final realiza a tarefa sonhada por McMurphy. A relação entre os dois,
no entanto, é sempre vertical: o Chefe revela-se disposto a fazer qualquer coisa por
McMurphy e não o contrário. Embora revezem entre si os arquétipos de mentor e herói
(anti-herói, no nosso caso), a relação de forças sempre se mantém igual: McMurphy é
sempre lido comoprotagonista.

A enfermeira Ratched nunca sai do mesmo tom. Sóbria, calma e controladora,


cena a cena se opõe ao estilo de vida desregrado de McMurphy. Não é na verdade de
personalidade intrisecamente má. Sob certo ponto de vista pode ser considerada mais
uma vítima da alienação representada pela monótona vida do manicômio. É alguém com
valores rígidos e uma moral cartesiana.

Em uma cena que funciona como ponto central, defende a estadia de McMurphy
no hospital pois sabe que a prisão não lhe fará bem. Essa rápida, porém importante
convergência de interesses entre o anti-herói e a antagonista prova como uma análise
maniqueísta é perniciosa para um filme como Um estranho no ninho. A cena,
estrategicamente localizada no centro da narrativa, funciona como um espelho: o jogo
entre mocinho e bandido é frágil e aqui não pode ser refletido.

A cena que formaliza o segundo ponto de virada do filme é quando Washington,


auxiliar da enfermeira Ratched – representando o arquétipo do guardião do limiar,
informa a McMurphy que está sob custódia do hospital indeterminada e não poderá
sair quando complete seu tempo de prisão como pensava.

Depois de uma sequência em que organiza uma festa de despedida no hospital


momentos antes da fuga, a enfermeira Ratched perturba Billy por ter feito sexo com uma
amiga de McMurphy, ameaçando-o de contar o caso a mãe de Billy, a quem o jovem tem
grande pavor. Desesperado, Billy se suicida explodindo a ira de McMurphy contra a
enfermeira Ratched. Aqui temos o nosso grandioso clímax. McMurphy tenta estrangular
Ratched, mas acaba sendo detido por Washington, irrompendo o terceiro ato de Um
estranho no ninho.

McMurphy então é lobotomizado (e aqui se abre imenso espaço para discussão da


psiquiatria da época), perdendo a consciência de si e de seus objetivos. O anti-herói para
vingar a morte de seu protegido Billy abdica da motivação que o move durante toda a
narrativa, o desejo de sair do hospital. Sua luta contra as rígidas regras do manicômio, no
entanto, precisa continuar. Ao perceber que o amigo permanecerá insconsciente para
sempre, o índio Chefe o sufoca com um travesseiro e foge, completando a jornada
iniciada pelo anti-herói.

Um estranho no ninho é uma história sobre a busca pela liberdade. McMurphy é


alguém que está sempre fugindo das amarras da sociedade. Ao decidir passar-se por
louco acredita que enfim encontra a liberdade enquanto estiver sob custódia do Estado,
mas prontamente descobre que no mundo dos loucos também há regras. A liberdade que
McMurphy busca é utópica, inalcançável.

Seu conceito de ser livre é falho quando não percebe que até a ausência total de
regras já é uma norma. Por outro lado, as rígidas leis do hospital e o episódio de quando é
lobotomizado suscitam uma discussão sobre a alienação e o quanto estamos dispostos a
vender nosso poder de decisões em troca de segurança social. Em Um estranho no
ninhoconstrói-se um discurso paralelo à narrativa que expõe as fragilidades do conceito
de liberdade na sociedade pós-moderna.

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