O comércio de livros e o surgimento da editora mais antiga do mundo.
Antes da criação de uma editora própria em 1534, a Universidade
de Cambridge tinha uma biblioteca com apenas 122 livros.
A Editora da Universidade de Cambridge, a University
Cambridge Press, é a mais antiga editora do mundo em atividade, fundada por uma carta régia, concessão da Coroa inglesa, no reinado de Henrique VIII, em 1534 para imprimir e distribuir livros. Foi resultado de uma gradual necessidade de se estabelecer a autoridade da Universidade de Cambridge e da Coroa sobre o comércio e a circulação de livros e versava também sobre a propriedade de obras produzidas.
Antes da invenção da prensa pelo alemão Johannes
Gutenberg por volta de 1450, existia um emergente mercado de livros escritos a mão na Inglaterra controlado pela Coroa, mas operado pelos chamados stationers, comerciantes de livros, entre os quais estavam encadernadores, intermediários, papeleiros e pessoas que escreviam livros a mão. Material raro e de grande valor, os livros escritos a mão podiam ter quase o mesmo valor de uma fazenda ou uma vinícula. Nesta época, a Universidade de Cambridge, ainda sem a sua imprensa, tinha apenas 122 livros.
No Reino Unido, os comerciantes de livros podiam ser
encontrados mais freqüentemente nas universidades, longe dos grandes centros de comércio e para adquirirem o status de comerciantes oficiais tinham que ser nomeados pelas universidades como tais e desempenhavam algumas funções peculiares: encadernavam, estocavam e forneciam livros que as bibliotecas, os professores e estudantes precisassem.
As primeiras impressoras chegaram a Londres em 1476 e
logo se formou um pequeno mercado de livros impressos. Mas em Cambridge, o primeiro impressor só chegou por volta em 1520 com a nomeação de stationer. John Siberch levou sua pequena gráfica da Alemanha até Cambridge, onde permaneceu até meados de 1523, quando voltou ao seu país de origem provavelmente por considerar muito pouco o lucro que obtinha com o seu ofício na Inglaterra.
Mesmo com os direitos de publicação concedidos pela Coroa
desde 1534, só em 1584 a Universidade de Cambridge decidiu exercer o seu direito sobre a publicação de livros e lançar a sua primeira obra: “The Treatises of the Lord His Holie Supper”, (sem tradução para o português) impressa por Thomas Thomas, considerado o primeiro impressor da Universidade de Cambridge. A entrada de Cambridge no mercado de livros gerou uma série de insatisfações entre os stationers. Os chamados Royal Printers, impressores que tinham permissão real para imprimir e comercializar livros queriam regalias no negócio. O sucessor de Thomas Thomas na Cambridge University Press, John Legate, começou a imprimir uma bíblia em tipologia romana o que desagradou muito Christopher Barker, impressor real, para quem a publicação de bíblias era exclusividade dele. Mas, Cambridge contestou Barker afirmando que sua carta régia de 1534 a permitia comercializar quaisquer publicações, inclusive bíblicas, como foi autorizada pelo rei Henrique VIII.
Ao longo dos séculos seguintes, uma série de modificações
no mercado de livros em torno do processo de impressão, interesses de autores, leitores e da universidade fez com que a Cambridge University Press se modernizasse e se voltasse também à publicação de textos escolares, cuja seleção por um processo de revisão e aprovação do Press Syndicate (comissão de acadêmicos da universidade) é feita desde sua criação até hoje.