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Resumen
Nutricionista, curso de Nutrição, Universidade Me-
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todista de Piracicaba (Unimep) La identificación del paciente anciano desnutrido en el ambiente hospitalario y su interpretación
Professora doutora do curso de Nutrição da Uni-
2
son herramientas fundamentales en el proceso de la terapia nutricional, ya que la desnutrición es
mep e Faculdade de Nutrição da Pontifícia Univer-
sidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) común en la populación geriátrica. El objetivo fue evaluar el estado nutricional de ancianos interna-
Professora doutora do curso de Nutrição da Unimep
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dos en un hospital y su relación con enfermedad, dieta, tiempo de internación y servicio de salud.
Gaino NM, Leandro-Merhi VA, Oliveira MRM
Estudio transversal con 100 pacientes ancianos hospitalizados, analizándose el estado nutricional por medio de la mini evaluación nutricional (MAN),
enfermedad, dieta, tiempo de internación y tipo de servicio de salud (público o privado). Los datos se muestran por medio de estadística descriptiva, con
las diferencias entre las distribuciones porcentuales de las variables nominales, analizadas por el teste qui-cuadrado, agrupándose los valores cuando
necesario. En todas las comparaciones ha sido adoptado como nivel de significancia p < 0,05. En la población estudiada 42% estaban eutróficos,
36% en riesgo de desnutrición y 22% desnutridos. Cuando analizado el estado nutricional en relación al sexo se ha verificado diferencia significativa de
p = 0,042, observándose mayor prevalencia de desnutrición en el sexo femenino (31,5%). En lo referente al estado nutricional en relación a la franja
de edad y tiempo de internación, según el sexo, no ha sido constatada diferencia entre ellos (p > 0,05), sin embargo, la franja de edad en relación al
sexo mostró diferencia estadística con p < 0,05, con mayor prevalencia en ancianos a partir de los 70 años de edad. El estado nutricional en relación
a enfermedad y el sexo, indicó diferencia significativa (p < 0,05). Dado que la población anciana presenta un crecimiento acentuado, la prestación de
cuidados con la salud, incluyendo la asistencia nutricional por medio de modelos adecuados, debería ser práctica rutinaria durante la hospitalización.
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Idosos hospitalizados: estado nutricional, dieta, doença e tempo de internação
Os fatores de risco, que predispõem à permanência pro- tipos de medicamentos utilizados diariamente, lesões de pele,
longada do paciente no hospital estão associados com a má o número de refeições diárias e o que é consumido nestas re-
evolução clínica e aos custos elevados. Embora o tempo de feições, ingestão de líquidos, modo de se alimentar, autoper-
internação possa ser afetado por políticas de alta hospitalar, cepção de saúde e medidas de CB e de CP.
por diferentes tipos de práticas e administração dos leitos, a O estado nutricional (eutrofia, risco de desnutrição e
permanência prolongada de pacientes hospitalizados pode desnutrição) obtido pela MAN foi anotado em questionário
afetar negativamente o estado de saúde, aumentando o risco previamente estabelecido contendo dados de identificação
de infecções, complicações e, possivelmente, a mortalidade. pessoal, setor (Sistema Único de Saúde (SUS) ou convênio),
Também afeta a disponibilidade de leitos e poderá resultar em tempo de internação, motivo da internação (doença) e dieta
cancelamento de procedimentos cirúrgicos eletivos, levando prescrita na internação.
a longos períodos de espera e tempo perdido na enfermaria Os dados foram processados pelo programa Excel, sendo
antes da internação14. A permanência prolongada de pacien- expressos por meio de estatística descritiva. As diferenças en-
tes internados é mais freqüente naqueles gravemente enfer- tre as distribuições percentuais das variáveis nominais foram
mos na admissão e está associada a um índice mais alto de analisadas pelo teste do qui-quadrado, agrupando-se os valo-
mortalidade hospitalar14. res quando necessário. Em todas as comparações foi adotado
Assim, esse estudo teve por objetivo avaliar o estado nu- como nível de significância p < 0,05.
tricional de idosos hospitalizados e sua relação com as diver- A análise estatística foi feita inicialmente por meio de
sas doenças, dietas, tempo de internação e serviços de saúde descrições tabulares e gráficas do perfil da amostra e da freqü-
públicos e privados. ência percentual obtida para cada uma das questões16.
A seguir foram feitas tabelas de contingência17, cruzando as
Casuística e métodos freqüências percentuais das principais variáveis ilustrativas com
as variáveis ativas, e utilizado o teste do qui-quadrado de Pear-
Foi realizado um estudo transversal com 100 (n = 100) son para avaliar o grau de independência entre as variáveis.
pacientes idosos (≥ 60 anos) nos meses de agosto e setembro ( y ij − e ij ) 2
de 2006, sendo analisados o estado nutricional, doença, dieta, χ 2obs = ∑ ij
tempo de internação e tipo de serviço de saúde (público ou e ij
privado), em pacientes internados nas enfermarias clínicas e onde eij = freqüência esperada de ocorrências do cruzamento
cirúrgicas da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Pi- das variáveis na amostra, se estas forem independentes.
2
racicaba, SP. Este trabalho foi submetido e aprovado pelo Co- Essa estatística tem distribuição de χ com (I-1)(J-1) graus
mitê de Ética e Pesquisa com seres humanos da instituição, de de liberdade (I = número de níveis da variável X e J = número
2
acordo com a resolução nº. 196/96 do Ministério da Saúde. de níveis da variável Z), ou seja, o valor de χ observado foi
Os critérios de inclusão adotados para este estudo foram comparado com um valor tabelado a um nível p de erro e os
pacientes com idade igual ou superior a 60 anos e com neces- graus de liberdade associados às duas categorizações. Assim, se
sidade de cuidados especiais de nutrição devido ao estado nu- χ 2obs > χ 2tab (5%) (p ≤ 0,05), rejeitou-se a hipótese de indepen-
tricional debilitado, sendo o trabalho iniciado após todos os dência (ou de relação) entre as variáveis com nível de 5%.
pacientes concordarem em participar do estudo, informados
da finalidade do mesmo e depois da assinatura do termo de Resultados
consentimento livre e esclarecido.
A entrevista foi realizada sempre que possível com o próprio A população estudada foi composta por 46% dos pacientes
idoso, ou então, quando não possível com este, com um membro do sexo masculino e 54% do feminino. Destes, 42% estavam eu-
da família maior de 21 anos, ou qualquer outro acompanhante. tróficos, 36% em risco de desnutrição e 22% desnutridos. Quan-
Iniciou-se a coleta de dados por meio da aferição da cir- do analisado o estado nutricional em relação ao sexo, verificou-
cunferência do braço (CB) e da circunferência da panturrilha se diferença significativa de p = 0,042 (p < 0,05), observando-se
(CP). A CB e a CP foram aferidas com o auxílio de uma fita maior prevalência de desnutrição no sexo feminino (31,5%).
métrica plástica em centímetros com precisão para milíme- Quanto ao estado nutricional em relação à faixa etária e ao tem-
tros. Foi utilizado a MAN baseada no modelo de Guigoz & po de internação, segundo o sexo, não foi constatada diferença
Garry15, que envolvia diversas questões como, por exemplo, entre eles (p > 0,05); no entanto, a faixa etária em relação ao
diminuição da ingestão alimentar, perda de apetite, dificul- sexo mostrou diferença estatística com p < 0,05, com maior
dade de locomoção, estresse psicológico, percentil (da CB), prevalência de idosos a partir dos 70 anos de idade (Tabela 1).
dentre outros que fazem parte da triagem. A MAN envol- O estado nutricional em relação à doença e ao sexo mostrou di-
veu também a avaliação global, que continha questões sobre ferença significativa (p < 0,05, Tabela 2), não sendo verificado a
a moradia do paciente (se reside na própria casa ou não), os mesma diferença quando analisado apenas o sexo em relação ao
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Gaino NM, Leandro-Merhi VA, Oliveira MRM
tipo de doença (p > 0,05). A relação entre o estado nutricional e à capacidade funcional. Este trabalho mostrou que a freqüência
e o tipo de dieta, segundo o sexo, também não foi significativa de desnutrição foi elevada, independente do método adotado.
(p > 0,05), nem o sexo em relação ao tipo de dieta, conforme A desnutrição em pacientes idosos é muito comum nos
observado na Tabela 3, sendo observado aqui que os pacientes hospitais e, dependendo dos grupos de pacientes considera-
desnutridos ou em risco de desnutrição, foram os que receberam dos, a prevalência da mesma pode chegar em até 60% deles18.
dieta enteral durante a internação e apenas os desnutridos rece- Um trabalho realizado recentemente com uma população ja-
beram dieta líquida. A dieta geral e geral modificada, que nor- ponesa apontou, de acordo com a aplicação da MAN, 39,9,
malmente são as mais utilizadas na prática dietética hospitalar, 51,2 e 8,9% de pacientes com eutrofia, risco de desnutrição e
foi prescrita em 80,9% dos pacientes com eutrofia, em 69,4% dos desnutrição, respectivamente13.
pacientes com risco de desnutrição e em 22,7% dos pacientes O presente estudo apresentou índices elevados de des-
com desnutrição. A relação entre o setor (SUS ou convênio) e o nutrição (22%) e de risco de desnutrição (36%). Em estudo
tipo de doença (Tabela 4), não foi significativa (p > 0,05). realizado por Isenring et al.19, a maioria dos pacientes ava-
liados era do sexo masculino (85%) e, por meio da avaliação
Discussão subjetiva global, 65% estavam eutróficos, 28%, com desnu-
trição moderada e apenas 7% apresentavam desnutrição
A população estudada refere-se aos idosos hospitalizados e grave. De acordo com Christensson et al.20, conforme pon-
submetidos ao cuidado nutricional durante o período. A MAN tuação final da MAN, 23% estavam desnutridos e 56%, em
podia ser utilizada em todos os pacientes, apesar da heterogenei- risco de desnutrição, sendo a MAN um método adequado
dade no que diz respeito à idade, à doença, ao tipo de tratamento para o diagnóstico de desnutrição e risco de desnutrição
Tabela 1 - Estado nutricional em relação à faixa etária e ao tempo de internação, segundo o sexo (n = 100).
Estado nutricional Eutrofia Risco desnutrição Desnutrição Total
M F M F M F M F
Sexo
N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%)
Faixa etária
60-69 anos 12 (26%) 5 (13%) 5 (14%) 5 (14%) 3 (30%) 2 (6%) p = 0,078 20 (22%) 12 (11%) p = 0,023
70-79 anos 7 (15%) 10 (26%) 9 (25%) 5 (14%) 2 (20%) 5 (14,7%) χ² = 9,879 18 (19,5%) 20 (18,5%) χ² = 5,157
≥ 80 4 (9%) 4 (11%) 4 (11%) 8 (22%) - 10 (29%) GL = 5 8 (9%) 22 (20%) GL = 1
Tempo de internação
Até três dias 19 (41%) 15 (40%) 15 (41,5%) 14 (39%) 2 (20%) 8 (23,5%) p = 0,226 36 (39%) 37 (34%) p = 0,292
4-6 dias 3 (7%) 2 (5%) 2 (5,5%) 2 (5,5%) 2 (20%) 4 (14,7%) χ² = 12,951 7 (7,5%) 8 (7,5%) χ² = 2,456
7-9 dias 1 (2%) 2 (5%) - 1 (2,7%) - 2 (6%) GL = 10 1 (1%) 5 (4,5%) GL = 2
≥ 10 - - 1 (3%) 1 (2,7%) 1 (10%) 3 (9%) 2 (2%) 4 (3,5%)
GL = graus de liberdade; para efeito de comparação das diferenças entre o estado nutricional, os dados ≥ 80 com 70-79 anos e ≥ 10 com 7-9 dias foram somados.
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Idosos hospitalizados: estado nutricional, dieta, doença e tempo de internação
em idosos, possibilitando a identificação dos fatores de ris- ficativa entre maior comprometimento do estado nutricional
co para a desnutrição. No Brasil, num trabalho com idosos e período de hospitalização prolongada. Os idosos utilizam
hospitalizados, 83% dos pacientes apresentaram redução os serviços hospitalares de maneira mais intensiva que os de-
entre moderada e grave da reserva adiposa pela antropo- mais grupos etários, envolvendo custos maiores e implicando
metria e 91,5% pela avaliação nutricional subjetiva global, em tratamento mais prolongado e em recuperação mais lenta
sugerindo, segundo os autores, que a avaliação nutricio- e complicada. A hospitalização é considerada de grande risco
nal subjetiva global pode ser considerada uma ferramenta especialmente para as pessoas mais idosas.
complementar do diagnóstico21. O retrato da morbidade do idoso no Brasil apresenta
Tavares e Anjos22 relatam que a freqüência de magre- características distintas daquelas vividas pelas faixas etárias
za, inclusive as mais intensas, aumenta nas últimas faixas mais jovens. As freqüências de internações e as taxas de uti-
de idade, com ligeira predominância em mulheres, quando lização mostram que esse consumo é bastante diferenciado
comparadas aos homens até a faixa de 70 a 75 anos. O gru- entre as faixas etárias e entre os sexos24. Nos últimos tempos,
po feminino apresentou prevalências maiores de formas ocorreu um processo de mudança no perfil de saúde da popu-
moderadas e graves de magreza em quase todas as faixas lação, com predomínio das doenças crônicas. A desnutrição
etárias, sendo a desnutrição crônica comum entre as mu- no grupo de idosos começa a despertar o interesse, pelo nú-
lheres de países pobres. mero expressivo de óbitos observados a cada ano, principal-
Neste trabalho, nenhuma associação foi encontrada en- mente entre os mais idosos25.
tre tempo de internação e o estado nutricional, segundo o De acordo com Nunes24, as duas causas mais freqüentes
sexo. Entretanto, Siqueira et al.23 verificaram associação signi- de internação em idosos de ambos os sexos são a insuficiência
Tabela 3 - Estado nutricional em relação ao tipo de dieta prescrita, segundo o sexo (n = 100).
Estado nutricional Eutrofia Risco desnutrição Desnutrição Total
Sexo M F M F M F M F
N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%)
Dieta Prescrita
Geral 10 (44%) 9 (48%) 7 (39%) 4 (22%) - 5 (29%) p = 0,097 17 (37%) 18 (33%) p = 0,869
Geral Modificada 7 (30%) 8 (42%) 6 (33%) 8 (45%) 1 (20%) 3 (18%) χ² = 22,389 14 (30%) 19 (35%) χ² = 0,715
Leve 3 (13%) - 3 (17%) 4 (22%) 2 (40%) 4 (23%) GL = 15 8 (18%) 8 (15%) GL = 3
Leve Modificada 1 (4%) 1 (5%) 1 (5,5%) - 1 (20%) 1 (6%) 3 (7%) 2 (4%)
Líquida - - - - 1 (20%) 2 (12%) 1 (2%) 2 (4%)
Enteral - - 1 (5,5%) 1 (5,5%) - 2 (12%) 1 (2%) 3 (5%)
Jejum 2 (9%) 1 (5%) - 1 (5,5%) - - 2 (4%) 2 (4%)
GL = graus de liberdade. Para efeito de comparação das diferenças entre estado nutricional, os dados de homens e mulheres foram agrupados, assim como foram somadas as dietas
leves, liquidas e enterais, enquanto, o jejum não foi considerado.
Tabela 4 - Setor (SUS ou convênio) em relação ao tipo de doença, segundo o sexo (n = 100).
Setor SUS Convênio
M F M F
Sexo
N (%) N (%) N (%) N (%)
Doença
AVC - 3 (13%) - 2 (6%) p = 0,084
DCV 1 (10%) 2 (9%) 8 (22%) 5 (16%) χ² = 11,128
Diabetes mellitus 3 (30%) 3 (13%) 2 (6%) 1 (4%) GL = 6
Doenças Urológicas - - 7 (19%) -
Doenças Respiratórias - 2 (9%) 1 (3%) 2 (6%)
Neoplasias 3 (30%) 4 (17%) 6 (17%) 1 (4%)
Doenças TGI e vias anexas 2 (20%) 1 (5%) 3 (8%) 6 (19%)
Trauma e Cirurgia 1 (10%) 4 (17%) 6 (17%) 10 (32%)
Outras - 4 (17%) 3 (8%) 4 (13%)
AVC = acidente vascular cerebral; DCV = doença cardiovascular; doenças TGI = doenças do trato gastrintestinal; GL = graus de liberdade; para efeito de comparação das diferenças
entre estado nutricional, os dados de homens e mulheres foram agrupados, assim como foram somadas as doenças AVC com DCV e doenças urológicas com outras.
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Gaino NM, Leandro-Merhi VA, Oliveira MRM
cardíaca e coronariana e as doenças pulmonares, que se reve- SUS e convênio. Existem ainda poucos estudos que buscam
zam como a primeira e segunda causas. O acidente vascular investigar a presença de desigualdade social em saúde e na
cerebral (AVC) agudo, a crise hipertensiva, as enteroinfec- utilização dos serviços médicos entre os idosos28. Na América
ções, a desnutrição, a desidratação, a anemia, o diagnóstico e Latina, os estudos existentes indicam que, quanto melhores
o primeiro atendimento estão sempre presentes como causas as condições sociais dos indivíduos ou das localidades, me-
intermediárias, tanto para homens quanto para mulheres. As lhor é o estado de saúde e o acesso aos serviços, consideran-
outras causas de internação apresentam um comportamento do todos os grupos etários. Portanto, estudos adicionais são
mais heterogêneo, contrariando o presente estudo, que teve necessários para explicar as interações entre os sistemas de
como causas mais freqüentes de internação casos como fratu- saúde e a presença de desigualdades sociais em saúde28. Ape-
ra de fêmur, cirurgia da bacia, hérnia inguinal, dentre outras sar das dificuldades para se avaliar a prevalência, está muito
– aqui classificadas como trauma e cirurgias. claro que pacientes desnutridos permanecem hospitalizados
Já Laurenti et al.26 verificou em seu estudo uma redução por mais tempo, requerem mais prescrições de drogas e estão
no total de internações de 20,9% (passou de 15.617.080 para mais susceptíveis a desenvolverem infecções hospitalares; no
12.351.464). A redução de internações por doenças do apare- entanto, seria obscuro afirmar aqui se estes eventos resultam
lho circulatório foi de 27,1% (de 1.613.070 para 1.176.300) na desnutrição ou da gravidade da doença, considerando ain-
e a de doenças isquêmicas do coração de 29,8% (de 168.216 da ser impossível separar uma condição da outra. Nossos da-
para 118.090). Observou-se redução na internação para to- dos sugerem que é extremamente difícil obter uma avaliação
dos os grupos, sendo menores aquelas referentes a causas mal exata da situação, mas o que quer que prevaleça, é claro que
definidas (5,3%), doenças do aparelho respiratório (14,2%) e a desnutrição tem um resultado clínico ruim e que os custos
anomalias congênitas (14,7%). Reduções maiores que aquelas resultantes do serviço de saúde não podem ser ignorados.
por doenças isquêmicas do coração foram observadas apenas Com base nas evidências anteriores, é possível que os
para as doenças infecciosas e parasitárias (34,6%), neoplasias resultados encontrados nos pacientes idosos hospitalizados
(32,3%), doenças do aparelho geniturinário (37,3%) e doenças possam ser, em parte, decorrentes do processo de desnutrição
osteomusculares (33,5%). e que a terapêutica nutricional durante o período de interna-
Pacientes idosos hospitalizados apresentam, em sua ção possivelmente melhore o estado nutricional e também
maioria, estado nutricional inadequado, sendo a alimentação contribua para a melhora da qualidade de vida e para a redu-
considerada um fator circunstancial à desnutrição hospitalar, ção de custos hospitalares.
pelas mudanças alimentares, troca de hábitos e horários ali- Assim, os dados do presente trabalho permitem concluir
mentares. O presente estudo não apresentou relação direta é necessária a identificação de pacientes de risco nutricional,
entre o estado nutricional do idoso e o tipo de dieta hospitalar utilizando-se rotineiramente um conjunto de indicadores
oferecida, sendo esta última importante por garantir o aporte como modelo de diagnóstico nutricional, pois, diagnósticos e
de nutrientes ao paciente internado e, preservando assim, seu tratamentos precoces podem evitar, em muitos casos, longos
estado nutricional. Pouca atenção tem sido dada à alimenta- períodos de internação e complicações. Esta população em
ção do paciente hospitalizado, apesar da preocupação com o amplo crescimento deve ser alvo de estudos que contribuam
aspecto nutricional. A preocupação com a alimentação hospi- para um envelhecer saudável e com qualidade. A prestação de
talar infelizmente não se compara à intensa produção cientí- cuidados com a saúde do idoso, incluindo o monitoramento
fica sobre o impacto da hospitalização no estado nutricional e a vigilância, deveria ser prática constante dos serviços, com
e sobre suporte nutricional27. O envelhecimento populacio- vistas a prevenir as doenças, e promover e recuperar a saúde
nal tornou-se tema da atualidade, principalmente quando a dos idosos. Pelo fato da população idosa apresentar um cresci-
discussão atinge a questão do preparo dos sistemas de saúde mento acentuado, a prestação de cuidados de saúde, incluin-
para acolher essa demanda crescente23. O presente estudo não do a assistência nutricional por meio de modelos adequados,
apresentou diferença significativa entre os sistemas de saúde deveria ser prática rotineira durante a hospitalização.
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