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Cuiabá
2010
RODRIGO ARAUJO MENDES
SHELDON NUNES TEIXEIRA
Cuiabá
2010
3
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo apresentar conceitos sobre as energias envolvidas nas
reações de formação dentro da termoquímica, tais como suas unidades de medida, os tipos de
energias que uma reação pode ter a variação dessas energias, tabelas relacionando valores com
substâncias, entre outros, visando um melhor entendimento e objetividade destes fenômenos,
alem da discussão sobre estes mostrando também como utilizá-los.
INTRODUÇÃO______________________________________________________________05
1. Princípio da Conservação de Energia _________________________________________06
2. Entalpia__________________________________________________________________07
2.1. Tipos de Entalpia _______________________________________________________08
2.2. Lei de Hess____________________________________________________________10
2.3. Variação de Entalpia em Reações Químicas __________________________________14
2.4. Entalpias de Formação Padrão_____________________________________________14
2.5. Reações de Combustão___________________________________________________15
2.6. Variação da Entalpia com a Temperatura ____________________________________17
2.7. Temperatura Teórica de Chama____________________________________________19
3. Entropia _________________________________________________________________20
3.1. Definição de Entropia (S)_________________________________________________20
3.2. Entropia em Reações Químicas ____________________________________________21
3.3. Entropia Padrão ________________________________________________________22
3.4. Variação de Entropia em Processos Reversíveis _______________________________23
3.5. Variação de Entropia de um Sistema Durante um Processo Irreversível_____________28
3.6. Variação de Entropia de um Sólido ou Líquido________________________________30
3.7. A Desigualdade de Clausius_______________________________________________31
3.8. Uma Interpretação Molecular da Entropia____________________________________33
4. Energia Livre de Gibbs_____________________________________________________35
4.1. A Energia Livre de Reação _______________________________________________ 37
4.2. A Energia Livre e o Trabalho Não Expansivo_________________________________40
4.3. O Efeito da Temperatura _________________________________________________42
5. Energia de Ligação ________________________________________________________44
CONSIDERAÇOES FINAIS ___________________________________________________46
REFERÊNCIAS______________________________________________________________47
5
INTRODUÇÃO
A energia liberada nas reações químicas está presente em várias atividades da nossa vida
diária. Por exemplo, á o calor liberado na queima do gás butano que cozinha os nossos alimentos,
é o calor liberado na combustão do álcool ou da gasolina que movimenta nossos veículos e é
através das reações químicas dos alimentos no nosso organismo que obtemos a energia necessária
para manutenção da vida.
O estudo das mudanças de energia nas reações químicas é denominado termoquímica.
Assim as energias envolvidas nas reações químicas dão origem a todos os tópicos
abordados dentro das energias existentes na termoquímica.
6
fornecido ao sistema fará com que o sistema aumente sua energia interna (de 𝐸1 para 𝐸2 ), pois
não é possível o êmbolo se deslocar e realizar o trabalho (𝑊).
Para qualquer sistema que sofre uma mudança de estado como ocorre na equação abaixo,
pode-se escrever,
∆𝑈 = 𝑞 − 𝑤
2. Entalpia (𝑯)
especificada. Para os líquidos, o estado padrão é a forma mais estável a 1 bar e temperatura
especificada. Para os gases, o estado padrão é o gás a 1 bar. Considera-se geralmente a
temperatura padrão de 25 °C, ou 298,15 K.
A variação de entalpia padrão, ΔH°, corresponde à variação de entalpia num processo em
que todas as substâncias envolvidas se encontram no respectivo estado padrão, no estado inicial e
no estado final. Assim considerando alguns processos físico-químicos onde ocorrem variações de
entalpia.
A lei de Hess diz: A entalpia total da reação é a soma das entalpias de reação dos passos
em que a reação pode ser dividida. A lei de Hess aplica – se mesmo se as reações intermediarias,
ou a reação total, não possam, de fato, ser realizadas.
Fornecidas as equações de cada passo balanceado e das individuais, são adicionadas à
equação para dar a equação da reação de interesse, a entalpia de reação pode ser calculada a partir
de uma sequência conveniente de reações.
Como exemplo da lei de Hess, vamos considerar a oxidação do carbono a dióxido de
carbono:
11
𝐶 𝑠 +𝑂2 𝑔 ⟶ 𝐶𝑂2 𝑔
1
𝐶 𝑠 + 𝑂2 𝑔 ⟶ 𝐶𝑂 𝑔 ∆𝐻° = −110,5 𝑘𝐽
2
1
𝐶𝑂 𝑔 + 𝑂2 𝑔 ⟶ 𝐶𝑂2 𝑔 ∆𝐻° = −283 𝑘𝐽
2
1
𝐶 𝑠 + 2 𝑂2 𝑔 ⟶ 𝐶𝑂 𝑔 ∆𝐻° = −110,5 𝑘𝐽 (a)
1
𝐶𝑂 𝑔 + 2 𝑂2(𝑔) ⟶ 𝐶𝑂2(𝑔) ∆𝐻 ° = −283𝑘𝐽 (b)
Para usar a lei de Hess, precisamos de uma sequência de reações que adicionadas resultem
na equação de interesse.
12
Passo 1: Selecione um dos reagentes na reação global e escreva uma equação onde ele
apareça como um reagente.
Passo 2: Selecione um dos produtos na reação global e escreva a reação química na qual
ele apareça como um produto.
Adicione essa equação a equação escrita no passo 1.
Passo 3: Cancele as espécies não – procuradas na soma obtida no passo 2 adicionando
uma equação que tenha a mesma substância ou substâncias no lado oposto da seta.
Passo 4: Uma vez que a sequência tenha sido completada, combine as entalpias padrão de
reação.
Em cada passo, podemos necessitar inverter ou multiplicar a equação por um fator. Se
necessitados inverter uma reação química, temos que mudar o sinal da entalpia de reação. Se
multiplicarmos os coeficientes estequiométricos por um fator, devemos multiplicar a entalpia de
reação pelo mesmo fator.
EXEMPLO: Consideremos a síntese do propano, 𝐶3 𝐻8 , um gás usado como combustível
em acampamentos:
1
𝐻2(𝑔) + 2 𝑂2(𝑔) ⟶ 𝐻2 𝑂(𝑙) ∆𝐻° = −286 𝑘𝐽 (c)
Passo 1: Somente (b) e (c) tem ao menos um dos reagentes. Em ambos os casos, eles
estão do lado correto da seta na reação química global. Selecionamos (b) e multiplicamos por 3,
para originar o coeficiente do carbono que aparecerá na equação final:
13
Passo 2: Para obter 𝐶3 𝐻8 à direita, invertemos a equação (a), mudando o sinal de sua
entalpia de reação, e adicionando à equação obtida anteriormente:
Simplificando:
A entalpia molar de formação padrão de uma substância é a entalpia de reação para a sua
formação a partir dos elementos no estado padrão.
Consideremos o seguinte exemplo:
A variação de entalpia numa reação química pode ser calculada se soubermos a entalpia
de formação padrão de todos os reagentes e produtos. Isto se deve ao fato da entalpia ser uma
função de estado, e é uma aplicação da Lei de Hess.
O valor da entalpia de formação padrão dos elementos no estado padrão é zero.
Consideremos a seguinte reação química:
A partir dos dados anteriores podemos calcular a variação de entalpia para a reação acima,
que vem:
𝛥𝐻°𝑟 = (−187,8 + 4 × 0) − (2 × 264 + 2 × 90,25) = − 896,3 𝑘𝐽
Figura 3: Calorímetro adiabático para determinação de calores de combustão A partir de uma substância padrão determina-se a
capacidade calorífica do conjunto bomba de combustão/água, medindo a elevação de temperatura quando queimamos uma dada
quantidade dessa substância.
𝛥𝐻 = 𝛥𝑈 + 𝛥𝑛𝑅𝑇
Medindo a elevação de temperatura para qualquer outra substância podemos determinar o
calor de combustão dessa substância.
17
A maior parte das reações com interesse laboratorial ou industrial ocorre a temperaturas
diferentes de 298.15 K. Como é que podemos calcular ΔH a estas temperaturas? Vamos
considerar o seguinte ciclo termodinâmico:
Figura 4: Ciclo termodinâmico que permite calcular a variação de entalpia para a reação 𝑹𝒆𝒂𝒈𝒆𝒏𝒕𝒆𝒔 → 𝑷𝒓𝒐𝒅𝒖𝒕𝒐𝒔
à temperatura T.
Então,
𝑑𝐻 = 𝐶𝑝𝑑𝑇
𝑇𝑓
𝐻 𝑇𝑓 − 𝐻(𝑇𝑖 ) = 𝐶𝑝 𝑑𝑇
𝑇𝑖
𝛥𝐻 = 𝐶𝑝 (𝑇𝑓 − 𝑇𝑖 ) = 𝐶𝑝 𝛥𝑇
𝑇
∆𝐻 𝑇 = ∆𝐻 298 + ∆𝐶𝑝 (𝑇)𝑑𝑇
298
A equação anterior é designada por Lei de Kirchoff. Para uma reação genérica, 𝑎𝐴 +
𝑏𝐵 → 𝑐𝐶 + 𝑑𝐷, 𝛥𝐶𝑝 é dado por:
𝐶𝑝 (𝑇) = 𝛼 + 𝛽𝑇 + 𝜏𝑇 2
19
Foi visto como se podem obter entalpias de formação padrão a partir de reações de
combustão. A temperatura máxima que pode ser atingida pela combustão de um gás com certa
quantidade de ar designa-se por temperatura teórica de chama.
Esta temperatura é atingida quando o processo ocorre adiabaticamente. Transferência de
calor para o exterior, combustão incompleta, ou fenômenos de dissociação, resultam em
temperaturas inferiores. A temperatura máxima para uma dada combinação de combustível e
oxidante ocorre quando a mistura é estequiométrica. Considere a figura seguinte:
3 – Entropia (𝑺)
Uma dada quantidade é uma propriedade se, e somente se, sua variação entre dois estados
for independente do processo para ir de um para o outro estado.
Por definição, entropia é,
𝛿𝑞
𝑑𝑠 =
𝑇 𝐼𝑁𝑇,𝑅𝐸𝑉
21
Ou de forma integrada
2
𝛿𝑞
𝑆2 − 𝑆1 =
1 𝑇 𝐼𝑁𝑇,𝑅𝐸𝑉
Nas Equações acima o índice 𝐼𝑁𝑇, 𝑅𝐸𝑉 significa que a definição de variação de entropia é
para um processo internamente reversível.
O ponto a ser observado aqui é que, como a entropia é uma propriedade, a variação de
entropia de uma substância, ao ir de um estado a outro, é a mesma para todos os processos tanto
reversíveis como irreversíveis, entre estes dois estados. A primeira equação acima permite obter a
variação de entropia somente através de um caminho reversíveis. Entretanto, uma vez
determinada, essa variação será a mesma para qualquer processo entre esses estados.
Embora ela nos permita determinar a variação de entropia, ela não nos informa nada a
respeito dos valores absolutos de entropia. Entretanto, pela terceira lei da termodinâmica,
conclui-se que pode ser atribuído o valor zero para a entropia de um cristal perfeito à temperatura
de zero absoluto. Disto resultam valores absolutos de entropia importante quando estão
envolvidas reações químicas. Quando não está envolvida nenhuma mudança de composição, é
bastante adequado atribuir valores de entropia em relação a uma referência arbitrariamente
escolhida como foi feito para a energia interna e para a entalpia.
∆𝑆 = 𝑣𝑆− 𝑣𝑆
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 𝑅𝑒𝑎𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
Como as entropias não podem ser medidas, e só podemos determinar a variação desta
grandeza, a exemplo das entalpias, é necessário estabelecer uma entropia de referência, chamada
de entropia nas condições padrão.
22
Entropia nas condições padrão foi definida como sendo a entropia nas condições de
pressão igual a 1 atm e temperatura de 25°C (obviamente 298K) e são representadas pelo
símbolo S°. Para qualquer reação dada a certa temperatura e pressão, a variação da entropia é
fixa e bem característica da reação, da mesma maneira como ocorre com as variações da energia
interna e da entalpia. Para temperaturas e pressões diferentes das condições padrão, devem ser
corrigidas usando a expressão abaixo;
𝑇𝑓
°
∆𝑆 = ∆𝑆 + 𝑐𝑝 𝑑𝑇
𝑇𝑖
Ou seja, deve incluir a variação da entropia nas condições padrão mais a variação da
entropia devido à variação das temperaturas em relação à temperatura da condição padrão. Se 𝑐𝑝
não for constante com relação à variação da temperatura então a integral deve ser calculada como
uma função de T
Da mesma forma como se procede com a entalpia na Lei de Hess, pode-se usar o mesmo
procedimento para determinar entropias desconhecidas através de reações conhecidas
Após estudo de entropia padrão pode-se estudar a entropia nas reações químicas onde tal
calculo é definido como a diferença entre as entropias molares dos produtos puros e as entropias
molares dos reagentes puros, com todas as substancias nos seus estados padrão e a temperatura
indicada.
∆𝑆 ° = 𝑣 𝑆° − 𝑣 𝑆°
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 𝑅𝑒𝑎𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
1 °
∆𝑆 ° = 𝑆𝑚
°
𝐻2 𝑂 𝑙 °
− 𝑆𝑚 𝐻2 𝑔 + 𝑆𝑚 𝑂2 𝑔
2
1
= 69,9 − 130,7 + 205 = −163,4𝐽 ∙ 𝐾 −1 ∙ 𝑚𝑜𝑙 −1
2
2
𝛿𝑞
𝑆2 − 𝑆1 =
1 𝑇 𝑅𝐸𝑉
Esse processo é mostrado na figura 7 e a área abaixo da linha 1-2-b-a-1 representa o calor
transferido ao fluido de trabalho durante o processo.
O segundo processo do ciclo de Carnot é adiabático reversível. Da definição de entropia,
temos;
24
𝛿𝑞
𝑑𝑆 = =0
𝑇 𝑅𝐸𝑉
2
𝛿𝑞 𝑞4
𝑆4 − 𝑆3 = =
1 𝑇 𝑅𝐸𝑉 𝑇𝐿
Como durante esse processo o calor trocado é negativo (sai do sistema) a entropia do
fluido decresce. Também como o processo final 4-1, que completa o ciclo é um processo
adiabático reversível (isentrópico) é evidente que a diminuição de entropia no processo 3-4 deve
ser exatamente igual ao aumento de entropia no processo 1-2. A área abaixo da linha 3-4, área 3-
4-a-b-3, representa o calor transferido do fluido de trabalho ao reservatório de baixa temperatura.
Como o trabalho líquido do ciclo é igual à troca líquida de calor (1a lei), é evidente que a
área 1-2-3-4-1 representa o trabalho líquido específico do ciclo. O rendimento térmico do ciclo
pode também ser expresso em função das áreas:
á𝑟𝑒𝑎 1 − 2 − 3 − 4 − 1
𝑛𝑇 =
á𝑟𝑒𝑎 1 − 2 − 𝑏 − 𝑎 − 1
25
Algumas afirmações efetuadas anteriormente sobre rendimento térmico podem ser agora
compreendidas. Por exemplo, com o aumento de TH, permanecendo TL constante, há aumento do
rendimento térmico. Diminuindo TL e ficando TH constante o rendimento térmico também
aumenta. É também evidente que o rendimento térmico se aproxima de 100 % quando a
temperatura absoluta na qual o calor é rejeitado tende para zero.
Se o ciclo for invertido, temos um refrigerador ou uma bomba de calor; o ciclo de Carnot
para um refrigerador está mostrado na Figura 7. Observe que neste caso a entropia do fluido de
trabalho aumenta à temperatura TL, pois o calor é transferido ao fluido de trabalho e a entropia
diminui à temperatura TH devido à transferência de calor do fluido de trabalho.
Consideremos em seguida os processos reversíveis de troca de calor. Na realidade,
estamos interessados aqui, nos processos que são internamente reversíveis, isto é, processos que
não envolvem irreversibilidades dentro da fronteira do sistema. Para tais processos, o calor
transferido para o sistema pode ser indicado como a área no diagrama temperatura-entropia. Por
exemplo, consideremos a mudança de estado de liquido saturado para vapor saturado à pressão
constante. Isto corresponde ao processo 1-2 no diagrama T x S da Figura 7. (observe que a
temperatura aqui é a temperatura absoluta), e a área 1-2-b-a-1 representa o calor trocado. Como
este é um processo à pressão constante, o calor trocado por unidade de massa, é igual a 𝑙𝑣 =
(𝑣𝑠 − 𝑙𝑠 ). Assim,
2 2
1 𝛿𝑞 1 𝑞2 𝑙𝑣
𝑆2 − 𝑆1 = 𝑆𝑙𝑣 = = 𝛿𝑞 = =
𝑚 1 𝑇 𝑅𝐸𝑉 𝑚∙𝑇 1 𝑇 𝑇
Essa relação fornece uma indicação para o cálculo de Slv apresentado nas tabelas de
propriedades saturadas. Por exemplo, considere o vapor d'água saturado a 10 MPa. Das tabelas
de vapor temos hlv = 1317,1 kJ/kg e temperatura de 311,96 oC. Portando o valor de Slv será,
1317,1
𝑆𝑙𝑣 = = 2,2510 𝑘𝐽 ∙ 𝑘𝑔−1 ∙ 𝐾 −1
311,96 + 273,15
1 3 3
𝑞3 = 𝑚 2
𝛿𝑞 = 2
𝑇𝑑𝑠
linha que indica o processo no diagrama temperatura entropia representa a quantidade de calor
trocado. Há muitas situações em que ocorrem processos essencialmente adiabáticos. Já
observamos que em tais casos, o processo ideal, que é um processo adiabático reversível, é
isentrópico. Verificaremos também nas seções posteriores, que pela comparação do processo
real com o processo ideal ou isentrópico, teremos uma base para definir a eficiência de
determinada classe de máquinas.
Exemplo: Consideremos um cilindro provido de um êmbolo contendo vapor saturado de
freon-22 a -10 oC. O vapor é comprimido segundo um processo adiabático reversível até a
pressão de 15,63708 kg/cm2. Determinar o trabalho por kg de vapor, nesse processo.
𝑞2 = 𝐸2 − 𝐸1 + 𝑤2
Considere um sistema que percorra os ciclos mostrados na Figura 10. O ciclo constituído
pelos processos A e B é reversível. Portanto, para um ciclo reversível podemos escrever:
2 1
𝛿𝑞 𝛿𝑞 𝛿𝑞
= + =0
𝑇 1 𝑇 𝐴 2 𝑇 𝐵
2 1
𝛿𝑞 𝛿𝑞 𝛿𝑞 Figura 10: Variação de entropia durante um
= + <0 processo irreversível
𝑇 1 𝑇 𝐴 2 𝑇 𝑐
1 1
𝛿𝑞 𝛿𝑞
>
2 𝑇 𝐵 2 𝑇 𝐶
Portanto,
29
1 1
𝛿𝑞
𝑑𝑆𝐶 >
2 2 𝑇 𝐶
𝛿𝑞
𝑑𝑆 ≥
𝑇
Ou
2
𝛿𝑞
𝑆2 − 𝑆1 ≥
1 𝑇
Nessas equações a igualdade vale para processo reversível e a desigualdade para processo
irreversível.
Essa é uma das mais importantes equações da termodinâmica e é usada para desenvolver
vários conceitos e definições. Essencialmente, essa equação estabelece a influência da
irreversibilidade sobre a entropia de um sistema. Assim se uma quantidade de calor 𝛿𝑞 é
transferida para o sistema à temperatura 𝑇 segundo um processo reversível a variação de entropia
será menor que se a mesma quantidade de calor, 𝛿𝑞, for transferido através de um processo
irreversível.
A equação acima é válida quando 𝛿𝑞 = 0, ou quando 𝛿𝑞 < 0, ou mesmo quando 𝛿𝑞 > 0.
Se 𝛿𝑞 for negativo a entropia tenderá a decrescer devido à troca de calor. Entretanto, a influência
das irreversibilidades é ainda no sentido de aumentar a entropia do sistema, e, do ponto de vista
numérico, absoluto, podemos ainda escrever para 𝛿𝑞 < 0, que,
𝛿𝑞
𝑑𝑆 ≥
𝑇
Como sabemos o volume específico para um sólido ou líquido varia muito pouco ou
quase nada com a variação de pressão, assim da equação 𝑇𝑑𝑆, podemos escrever para um sólido
ou líquido,
𝑑𝑢 𝐶
𝑑𝑆 ≈ ≈ 𝑑𝑇
𝑇 𝑇
Ainda, como foi dito anteriormente, para muitos processos que envolvem um sólido ou
líquido podemos admitir que o calor específico se mantenha constante, e neste caso, esta equação,
pode ser integrada, obtendo-se:
𝑇2
𝑆2 − 𝑆1 ≈ 𝐶𝑙𝑛
𝑇1
Se o calor específico não for constante, mas função da temperatura, T, tal equação pode
ser integrada para determinar o valor da variação de entropia.
Exemplo: Um quilograma de água líquida é aquecido de 20 a 90 oC. Calcular a variação
de entropia admitindo-se calor específico constante e comparar com o resultado obtido usando as
tabelas de vapor.
90 + 273,15
𝑆2 − 𝑆1 = 4,184 ln = 0.8959 𝑘𝐽 ∙ 𝑘𝑔−1 ∙ 𝐾 −1
20 + 273,15
A desigualdade de Clausius nada mais é que uma conseqüência (corolário) da segunda lei
da termodinâmica.
𝛿𝑞
≤0
𝑇
Esta desigualdade vale para qualquer ciclo termodinâmico e pode ser facilmente mostrada
utilizando-se do ciclo reversível de Carnot.
Uma forma alternativa, e interessante, para escrever a desigualdade de Clausius é eliminar
o sinal de menor ou igual, (), introduzindo o conceito de produção de entropia interna de um
sistema, isto é:
𝛿𝑞
= −𝜎𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜
𝑇 𝐹𝑟𝑜𝑛𝑡𝑒𝑖𝑟𝑎
sai da bomba e entra na caldeira. Admitamos que a pressão e o título nos vários pontos do ciclo
sejam os valores dados na figura.
Pergunta-se: Essa máquina operando nesse ciclo satisfaz a desigualdade de Clausius?
𝛿𝑄 𝛿𝑄 𝛿𝑄
= +
𝑇 𝑇 𝑐𝑎𝑙𝑑 . 𝑇 𝑐𝑜𝑛𝑑 .
𝛿𝑄 1 1 𝑄𝑐𝑎𝑙𝑑 . 𝑄𝑐𝑜𝑛𝑑 .
= 𝛿𝑄𝑐𝑎𝑙𝑑 . + 𝛿𝑄𝑐𝑜𝑛𝑑 . = +
𝑇 𝑇𝑐𝑎𝑙𝑑 . 𝑇𝑐𝑜𝑛𝑑 . 𝑇𝑐𝑎𝑙𝑑 . 𝑇𝑐𝑜𝑛𝑑 .
Portanto;
𝛿𝑄 493,9 453,5
= − = −0,258 𝑘𝑐𝑎𝑙 ∙ 𝑘𝑔−1 ∙ 𝐾 −1
𝑇 (164,24 + 273,15) (53,6 + 273,15)
Assim este ciclo satisfaz a desigualdade de Clausius, significando que não viola a 2a lei da
termodinâmica.
33
Até agora, fomos capazes apenas de calcular somente variações na entropia de uma
substância. Podemos determinar o valor absoluto da entropia de uma substância? Vimos que não
é possível determinar valores absolutos de entalpia. Entretanto entropia é uma medida de
desordem e é possível imaginar um estado perfeitamente ordenado da matéria sem desordem
alguma, correspondente a entropia zero: um “zero absoluto” da entropia. Essa idéia é resumida
pela terceira lei da termodinâmica:
𝑆 = 𝜅 ln 𝑊
34
𝑊 = 2 × 2 × 2 × 2 = 24
Esta equação mostra como calcular a variação total de entropia usando a informação sobre
o sistema sozinho. A única limitação é que a equação é válida somente sob pressão e temperatura
constantes.
Para o próximo passo, introduzimos a energia de Gibbs, 𝐺,
que é definida como:
𝐺 = 𝐻 – 𝑇𝑆 (B)
O sinal menos nesta equação significa que um aumento na entropia total corresponde a
uma diminuição na energia livre (Fig. 14)
Vamos calcular a mudança de energia molar para o processo 𝐻2 𝑂 (𝑠) → 𝐻2 𝑂 (𝑙) a, (a)
10°𝐶, e (b) 0°𝐶. E decidir para cada temperatura se a fusão é espontânea. A entalpia de fusão é
6,01 kJ. mol−1 e a entropia de fusão é +22,0 kJ. mol−1 . Esses valores são quase independentes da
temperatura em todo intervalo de temperatura considerado. Da Eq. (C) (∆𝐺 = ∆𝐻 − 𝑇∆𝑆),
segue–se que:
Segue que a fusão é espontânea a 10°C, mas a 0°C, gelo e água estão em equilíbrio.
∆𝐺 = 𝑛 𝐺𝑚 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 − 𝑛 𝐺𝑚 𝑟𝑒𝑎𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
∆𝐺 = 𝑛 𝐺𝑚 ° 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 − 𝑛 𝐺𝑚 ° 𝑟𝑒𝑎𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
1 1
∆𝐻𝑟 ° = ∆𝐻𝑓 ° 𝐻𝐼, 𝑔 − ∆𝐻𝑓 ° 𝐻2 , 𝑔 + ∆𝐻𝑓 ° 𝐼2 , 𝑠
2 2
1 1
∆𝑆𝑟 ° = ∆𝑆𝑚 ° 𝐻𝐼, 𝑔 − 𝑆𝑚 ° 𝐻2 , 𝑔 + 𝑆𝑚 ° 𝐼2 , 𝑠
2 2
1 1
∆𝑆𝑟 ° = 206,6 − 130,7 + 116,1 𝐽. 𝐾 −1 . 𝑚𝑜𝑙 −1
2 2
A energia livre padrão de formação do HI é, portanto, +1,69 𝑘𝐽. 𝑚𝑜𝑙 −1 . Observe que,
como este valor é positivo, a formação do HI puro a partir de seus elementos é não espontânea.
HI puro tem tendência a decompor–se em seus elementos a 25°C.
A variação de energia livre de um sistema é mais que apenas uma forma dissimulada da
variação total de entropia do sistema e suas vizinhanças: uma vez conhecido seu valor, podemos
predizer o trabalho máximo não expansivo que um processo pode realizar a temperatura e pressão
constantes. O trabalho não expansivo, 𝑤𝑒 , é qualquer tipo de trabalho diferente daquele devido a
uma expansão contra uma pressão, então inclui trabalho elétrico e mecânico (alongamento de
uma mola, levantamento de um peso ladeira acima e o de empurrar elétrons em um circuito
elétrico).
Como fazemos isso?
41
𝑑𝐺 = 𝑑𝑤 + 𝑑𝑞 + 𝑃𝑑𝑉 − 𝑇𝑑𝑆
Neste ponto, reconhecemos que o sistema pode fazer ambos, o trabalho expansivo e o
não–expansivo. Trabalho de expansão reversível (conseguido por igualação das pressões externas
e internas) é dado por 𝑑𝑤𝑟𝑒𝑣 ,𝑒𝑥𝑝𝑎𝑛𝑠 ã𝑜 = −𝑃𝑑𝑉, então;
Essa expressão pode ser substituída na última linha da expressão para 𝑑𝐺; os termos 𝑃𝑑𝑉
se cancelam e ficamos com;
Os valores de ∆𝐻𝑟 ° e ∆𝑆𝑟 ° não variam muito com a temperatura porque as entalpias e
entropias de ambos, reagentes e produtos, são afetadas pelo aumento da temperatura. Entretanto,
∆𝐺𝑟 ° depende da temperatura (lembre de T em ∆𝐺𝑟 ° = ∆𝐻 − 𝑇∆𝑆𝑟 °). Uma reação que não é
espontânea a uma temperatura poderá, portanto tornar – se espontânea em outra temperatura.
Para uma reação exotérmica com uma entropia de reação negativa (logo ∆𝐻𝑟 ° e ∆𝑆𝑟 ° são
negativos), a entalpia contribui em um termo negativo para ∆𝐺𝑟 °. Entretanto, −𝑇∆𝑆𝑟 ° contribui
como termo positivo, e pode ser determinada a temperatura para a qual ∆𝐺𝑟 ° torna – se positiva e
a reação não é mais espontânea. Para tal reação, ∆𝐺𝑟 ° é negativa (e a reação espontânea) a
temperaturas baixas, mas pode tornar – se positiva (e a reação inversa espontânea) a temperaturas
mais altas.
A inversa é verdadeira para uma reação endotérmica (∆𝐻𝑟 ° positiva) com uma entropia de
reação positiva. Neste caso, ∆𝐺𝑟 ° é positiva a temperaturas baixas, mas pode tornar – se negativa
quando a temperatura cresce até o ponto que 𝑇∆𝑆𝑟 ° é maior que ∆𝐻𝑟 °. Tal reação pode tornar –
se espontânea, se ∆𝐺𝑟 ° torna – se negativo, quando a temperatura cresce suficientemente.
Se ∆𝐻𝑟 ° é positiva e a entropia de reação negativa, então ambos os termos são positivos
em ∆𝐺𝑟 ° é positiva e o processo é não – espontâneo em todas as temperaturas. A inversa é
verdadeira para uma reação para a qual ∆𝐻𝑟 ° é negativa e a entropia de reação positiva: ∆𝐺𝑟 °
para tal processo é negativa e o processo é espontâneo em todas as temperaturas.
“A energia livre cresce com a temperatura para reações com um ∆𝑆𝑟 ° negativa e
decresce com a temperatura para reações com ∆𝑆𝑟 ° positiva.”
43
∆𝐻𝑟 °
𝑇=
∆𝑆𝑟 °
Os cálculos serão feitos usando valores de entalpia e entropia padrão. Lembrando que
nosso objetivo principal, é o estudo da energia livre.
Solução: Lembrando que as entalpias padrão de formação dos elementos são zero,
Similarmente, mas observando que as entropias padrão molares dos elementos não são
zero,
∆𝑆𝑟 ° = 4∆𝑆𝑚 ° 𝐹𝑒, 𝑠 + 3𝑆𝑚 ° 𝐶𝑂2 , 𝑔 − 2𝑆𝑚 ° 𝐹𝑒2 𝑂3 , 𝑠 + 3𝑆𝑚 ° 𝐶, 𝑠
5 - Energia de Ligação
É a energia fornecida para romper 1 mol de ligações entre dois átomos e um sistema
gasoso, a 25ºC e 1 atm.
A energia de ligação pode ser determinada experimentalmente. Na tabela abaixo estão
relacionadas às energias de algumas ligações.
Energia de ligação
Ligação
kcal/mol de ligações
H-H 104,2
Cl - Cl 57,8
H - Cl 103,0
O=O 118,3
Br - Br 46,1
H - Br 87,5
C-C 83,1
C-H 99,5
C - Cl 78,5
Observe que os valores tabelados são todos positivos, isto porque o rompimento de
ligações é um processo que consome energia, ou seja, é um processo endodérmico. A formação
de ligações, ao contrário, é um processo que libera energia, processo exotérmico.
Para se determinar o ∆𝐻 de uma reação a partir dos valores devemos considerar:
Que todas as ligações dos reagentes são rompidas e determinar a quantidade de energia
consumida nesse processo;
45
Que as ligações existentes nos produtos foram todas formadas a partir de átomos isolados
e determinar a quantidade de energia liberada nesse processo.
O ∆𝐻 será correspondente à soma algébrica das energias envolvidas nos dois processos, o
de ruptura e o de formação de ligações. É importante salientar que este método fornece valores
aproximados de ∆𝐻. Ele é muito útil na previsão da ordem de grandeza da variação de entalpia de
uma reação.
46
CONSIDERAÇOES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. ATKINS, P., de Paula, J., Físico-Química, Vol. 1, 7ª Edição, LTC Editora, 2002.
2. ATKINS, Peter W.; JONES, Loretta. Princípios de Química: Questionando a Vida
Moderna o Meio Ambiente. 3 Edição, Guanabara Koogan, 2006.