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FÍSICA DA COMPRESSÃO
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SOARES, L.A.L. ; PETROVICK, P.R.
RESUMO: A avaliação do comportamento de complexos farmacêuticos quando submetidos a compressão tem sido
como objetivo de diversos estudos tecnológicos. As principais técnicas para avaliar o perfil de compressão de
complexos farmacêuticos são apresentadas neste artigo. Além dos dispositivos de medição e de técnicas de
interpretação tais como a equação de Heckel, energia de compactação, curvas força-deslocamento e força-tempo, e,
medidas de dureza e tenacidade, são apresentadas as principais classes de adjuvantes de compressão.
ABSTRACT: PHYSICS OF TABLETING. The evaluation of pharmaceuticals materials behavior under compression,
have been used as target of technological studies. The most used techniques to evaluate this behavior are presented in
this article. Beyond the measurement tools and the techniques used to assess the compactional behavior such as
Heckel equation; energy of compaction; force-displacement and force-time profiles; and, tensile strength and
hardness measurements, are showed the principals classes of compression excipients.
Preparações farmacêuticas sólidas em forma solventes mais utilizados estão a água e o álcool.
de comprimidos são conhecidas desde a O líquido empregado deve promover apenas a
antigüidade (ÇELIK, 1996). Denominavam-se dissolução parcial do pó. O excesso de solvente
como tais todas preparações sólidas destinadas a fará com que, após passar pelo granulador, os
via oral. Os detalhes do processo de compressão grânulos se aglomerem formando uma massa
como é conhecido hoje em dia foi publicado pela compacta. Da mesma forma, a deficiência de
primeira vez por William Brockedon em 1843. Com solvente fará com que não exista coesão
o objetivo inicial de comprimir pó de grafite, suficiente, revertendo ao estado pulvéreo após a
rapidamente descobriu-se a viabilidade de secagem. Neste procedimento também são
empregar os mesmos princípios para obtenção de utilizados adjuvantes em solução ou pseudo-
medicamentos em doses individualizadas (VOIGT, soluções, denominados aglutinantes, com o
1993; ÇELIK, 1996; MOSER, 1997). objetivo de promover a adesão interparticular após
A obtenção de comprimidos pode ser a evaporação. Na operação de granulação por
realizada por compressão direta de fármacos desagregação todos os ingredientes são
pulverizados, ou de sua mistura com adjuvantes, misturados para formar uma massa úmida que é
bem como por compressão de material dividida em granuladores. No processo conhecido
previamente granulado. por agregação, os grânulos são formados
O emprego do processo de granulação tem a diretamente do rolamento de partículas ou pelo
finalidade de modificar as características do choque entre elas.
complexo farmacêutico, transformando partículas A granulação por via seca é empregada
de pós cristalinos ou amorfos em agregados quando o fármaco apresenta instabilidade frente a
sólidos mais ou menos resistentes e porosos, umidade ou ao calor da operação de secagem, ou
denominados granulados. quando é excessivamente solúvel nos líquidos
Em relação às simples misturas de pós, os umectantes utilizados. Com o objetivo de
granulados apresentam algumas vantagens: assegurar a coesão adequada entre as partículas,
melhor manutenção da homogeneidade; maior geralmente são adicionados aglutinantes ao pó
densidade; maior fluidez; maior compressibilidade; que se vai granular. Os aglutinantes empregados
maior porosidade, facilitando a dissolução, entre nesta operação são incorporados em estado seco.
outras. Estas propriedades podem ser controladas Em seguida a mistura é submetida à compressão
através da escolha de adjuvantes e do método de ou compactação (através de máquina excêntrica
granulação. ou de cilindros). O material compactado obtido é
Os métodos empregados na obtenção de submetido a trituração e o granulado é
granulados com maior freqüência são a selecionado por tamisação.
granulação por via úmida e a granulação por via Como pode-se observar, a granulação é
seca. Na técnica de granulação por via úmida, um sempre uma operação complexa e implica em
líquido é adicionado ao pó ou a mistura pulvérea inúmeros passos, alguns deles muito delicados.
em misturadores ou malaxadores. Entre os
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comprime o material com força); (IV) - ejeção (o Figura 2. Representação das deformações do tipo
punção superior retorna a sua posição inicial, o elástica e plástica. Onde h = altura do comprimido
punção inferior ascende conduzindo o comprimido
ao nível superior da matriz); (V) - expulsão (já O comportamento elástico ocorre quando o
completamente fora da matriz, o comprimido é material recupera o volume inicial após o término
expulso com o retorno do alimentador a posição da aplicação de força. Enquanto que deformações
inicial); (VI) - pré-alimentação (retorno do punção plásticas se caracterizam pela manutenção da
inferior e início da alimentação com o retorno massa compactada não ocorrendo recuperação do
parcial do alimentador) (figura 1). volume inicial quando encerrada a aplicação de
A aplicação de uma força externa sobre as força. Em deformações destrutivas resultam
partículas de um pó ou de outro sistema rupturas. Neste caso a intensidade da força
particulado sólido resulta na transferência de força excede a capacidade de deformação plástica ou
através dos pontos de contato interparticulares, elástica do material, obtendo-se a ruptura
promovendo uma deformação no material. Esta estrutural como resposta (WRAY, 1992; VAN DER
deformação pode apresentar comportamento do VOORT MAARSCHALK e BOLHUIS, 1999).
tipo elástico, plástico ou destrutivo, e está A tendência ao comportamento de
relacionado com a intensidade da força aplicada e deformação de uma material depende das suas
a duração da ação da mesma, assim como as propriedades físicas. Materiais cristalinos
propriedades físicas do material (figura 2). apresentam, em geral, tendência a deformação do
tipo elástica, enquanto que os materiais amorfos
tendem a deformação plástica (HIESTAND et al.,
1977; WRAY, 1992; LERK, 1993).
A intensidade das deformações plásticas e
elásticas de materiais tem sido amplamente
estudada (ARMSTRONG e HAINES NUTT, 1972;
SHOTTON e OBIORAH, 1975; DAVID e
AUGSBURGER, 1977; HIESTAND, 1977; ÇELIK,
1992; VOGEL e SCHMIDT, 1993; YLIRUUSI,
1997). Na prática, a detecção da recuperação
elástica de compactados tem grande importância
Caderno de Farmácia, v. 15, n. 2, p. 65-79, 1999. 67
A B
A
Força
Força
E1
E2
E3
A C
Deslocamento Deslocamento
Figura 8. Representação esquemática da curva força-deslocamento do punção superior (VACHON e CHULIA,
1999)
Tabela 1. Resumo das equações para compactação de pós, fundamentadas na relação entre a pressão aplicada e o
volume do compacto (MACLEOD, 1983)
No. Equações Autores
1 ρ t − ρi A THY; S HAPIRO; H ECKEL; KONOPICKY; SEELING
ln = KPA
ρt − ρc
2 ρ c ρ t − ρi BALHAUSEN
ln = KPA
ρi ρ t − ρ c
3 ρi ρt − ρi SPENCER
ln = KPA
ρt ρt − ρc
4 ρ NISHIHARA, NUTTING
ln i = KPA
ρt
5 1/ 3 MURRAY
ρ − ρc ρ
ln t + K c = aPA
ρt ρt − ρ c
6 ρt ρc − ρi COOPER e EATON
ln = ln Ka − (b + c) PA
ρc ρt − ρi
7 ρi UMEYA
= 1 − KPAa
ρc
8 ρc = KPA JAKY
9 ρc = K(1-PA) JENIKE
10 ρc - ρi = KPA1/3 SMITH
11 ρc - ρi = KPA2 SHALER
12 ρ c − ρi K x aPA KAWAKITA
=
ρc 1 + KPA
13 ρi ρ c − ρi KPA AKETA
=
ρ c ρ t − ρi 1 + KPA
14 1 WALKER; BAL’SHIN; WILLIAMS; HIGUCHI; TERZAGHI
= K − a ln PA
ρc
15 ρc - ρi = K + a lnPA GURNHAM
16 1 JONES
= K − a ln PA
ρc
17 1 MOGAMI
= K − a ln ( PA − b)
ρc
18 ρ c − ρi PA TANIMOTO
= KPA ρi + a
ρc PA + b
19 ρ c − ρi RIESCHEL
= ln( KPA + b)
ρc
ρt = densidade bruta do material; ρi = densidade aparente; ρc = densidade sob pressão PA; K, a, b e c são constantes
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Tabela 2. Fatores que influenciam a área de superfície das partículas no comprimido e a área de superfície de
ligação (NYSTRÖM et al., 1993)
Área de superfície da partícula comprimida Área de superfície de ligação
Antes da compactação Depois da Durante compactação Após
compactação compactação
Tamanho de partícula Tamanho de partícula Tamanho de partícula Tamanho de partícula
Forma da partícula Forma da partícula Forma da partícula Forma da partícula
Fragmentação Fragmentação Fragmentação
Deformação Plástica Deformação Plástica
Deformação Elástica Deformação Elástica
Recuper. Elástica
Propriedade de Atrito
Força de ligação
Resistência (MPa)
etapas envolvidas nas fases de fabricação de
comprimidos, seja sobre o produto final, 2,5
especialmente no que trata da resistência
mecânica dos comprimidos e em menor escala, da 2
sua velocidade de dissolução. Tais fatores podem
ser agrupados em três categorias: 1,5
1 - Fatores relacionados aos materiais (pós):
polimorfismo; tamanho e forma de partículas; 1
2 - Fatores relacionados as condições de 100 200 300 400 500
fabricação: dimensão e forma dos comprimidos;
Tamanho médio de partícula (µm)
velocidade de compressão;
3 - Fatores relacionados a presença de Figura 12. Resistência mecânica-tamanho médio de
adjuvantes: diluentes; desagregantes; partícula para diferentes frações de fosfato de cálcio
aglutinantes; lubrificantes. dibásico (Bekapress® D2) (SCHMIDT, 1998).
Por polimorfismo se compreende a existência
não somente de vários estados cristalinos de um Porém, abaixo de um determinado tamanho o
mesmo composto químico (polimorfismo material não pode mais se fragmentar, contudo há
verdadeiro), mais também de seus solvatos comportamento de deformação plástica. Partículas
(pseudopolimorfismo) e seu estado amorfo. As muito finas são mais suscetíveis a adsorsão e/ou
diferentes variedades de polimorfismo podem ser ao aprisionamento de ar, podendo favorecer o
decorrentes de variações nos parâmetros de fenômeno de clivagem e descabeçamento do
compactação, fazendo com que os comprimidos comprimido. Problemas de fluxo também estão
apresentem resistência mecânica e velocidade de relacionados com as partículas que apresentam
dissolução que podem variar consideravelmente. tamanhos muito reduzidos. A pressão necessária
De forma geral, materiais que apresentam estado aplicada é menor com partículas mais finas
amorfo ou cristalino instável apresentam (DOELKER, 1997; SCHMIDT, 1998).
deformação plástica produzindo comprimidos mais A obtenção de comprimidos, com os
resistentes e que se dissolvem com maior equipamentos atualmente disponíveis, requer que
velocidade (TULADHAR, et al., 1983; DOELKER, o material a comprimir possua características
1997). físicas e mecânicas específicas: capacidade de
Partículas que apresentam tamanhos fluir livremente, coesividade e lubrificação. A
reduzidos proporcionam comprimidos com maioria das substâncias não possuem todas estas
resistência superior. Tal comportamento se deve a propriedades, sendo necessária a adição de uma
grande superfície de contato das mesmas. série de adjuvantes, que podem ser classificados
Entretanto, o efeito é mais pronunciado em de acordo com a função que exercem no
materiais frágeis, onde a fragmentação reduz a comprimido. Desta forma, um primeiro grupo é
influência inicial do tamanho de partícula (figura constituído por materiais que tem o objetivo de
12). proporcionar a formulação características
adequadas para manipulação e compressão
satisfatórias, tais como o fluxo e a coesividade.
Neste grupo se enquadram os diluentes,
aglutinantes, deslizantes e lubrificantes. Num
segundo grupo de substâncias, que tem como fim
conferir características físicas e biofarmacêuticas
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pulvéreos submetidos à aglomeração para formar baixo custo. Entretanto a baixa compressibilidade
grânulos, recebem o nome de aglutinantes. Estes associada a grande quantidade utilizada, entre 2 e
promovem o aumento da resistência à fratura e 10 % do peso total, enfraquecem a estrutura do
diminuem a friabilidade do comprimido. comprimido. Já os desintegrantes modernos,
Normalmente são constituídos de macromoléculas apresentam grande poder desintegrante em
de cadeia longa que, em forma de dispersão pequenas proporções (entre 0,5 - 5 %) e, por esta
deixam, após evaporação do solvente, uma razão, são denominados de super-desintegrantes.
película de grande poder adesivo que favorece a Nesta classe encontram-se o glicolato de amido
agregação de partículas. Atualmente os sódico (Explotab, Primojel), a carboxi-
aglutinantes mais utilizados são de origem metilcelulose sódica reticulada (Croscarmelose
sintética, entre os quais destacam-se a sódica; Ac-Di-Sol) e a polivinilpirrolidona
polivinilpirrolidona e diferentes derivados da reticulada (Kollidon CL; Kollidon CL-M;
celulose (metilcelulose, etilcelulose, carboxi- Crospovidona - M). Os princípios de obtenção e
metilcelulose sódica e hidroxipropilmetilcelulose) mecanismo de ação são semelhantes para todos
(PESONEN et al., 1992; VOIGT, 1993; LE HIR, super desintegrantes (BÜHLER,1996). Através do
1995; SHESKEY, et al., 1995; LIMA NETO e balanço entre a insolubilidade proporcionada pela
PETROVICK, 1997a; VILA JATO, 1997). formação de ligações cruzadas e a solubilidade
Desagregantes: oriunda de substituintes hidrofílicos, é possível
Os desintegrantes são adicionados à obter um composto insolúvel com alta capacidade
formulação com o intuito de promover e acelerar a de intumescimento decorrente da hidrofilidade dos
desintegração do comprimido quando em contato substituintes. A croscamelose sódica, por
com meios de natureza aquosa ou sucos exemplo, apresenta um aumento de quase 200 %
digestivos. O objetivo principal é provocar a rápida em seu tamanho quando em contato com a água,
desagregação do comprimido, bem como sem se dissolver (FAROONGSARNG e PECK,
aumentar a área superficial dos fragmentos do 1991; FAROONGSARNG e PECK, 1994; LIMA
mesmo, com a finalidade de obter uma rápida NETO e PETROVICK, 1997b; SCHMIDT, 1998).
liberação do fármaco (SCHMIDT e ZESSIN, 1997). Entre os desagregantes que atuam por ação
O processo de desintegração consiste na ruptura capilar destacam-se substâncias marcadamente
das uniões formadas durante a compressão, tais solúveis como cloreto de sódio e lactose,
como força de Van der Walls, uniões capilares, utilizados com menor freqüência que os
pontes de hidrogênio, uniões de fusão ou anteriores. O terceiro grupo de desagregantes é
dissolução parcial de superfícies com posterior composto pelas substâncias que, quando em
recristalização, etc. O processo de desagregação contato com a água, formam um gás. Este gás é
do comprimido está condicionada, produzido pela reação de um bicarbonato em meio
fundamentalmente, à solubilidade do fármaco, a aquoso, com um ácido orgânico como o cítrico e o
força de compressão aplicada, à porosidade do tartárico. As misturas ácido-base são incorporadas
comprimido, e ao tipo e proporção de ao comprimido em um proporção de 10 %, que
desagregante adicionado a formulação (VOIGT, produz uma efervescência suficiente para
1993; LE HIR, 1995; VILA JATO, 1997; SCHMIDT provocar a desagregação (VOIGT, 1993;
e ZESSIN, 1997). FAROONGSARNG e PECK, 1994; LE HIR, 1995;
Os desagregantes utilizados nos comprimidos SCHMIDT e ZESSIN, 1997; VILA JATO, 1997).
podem atuar por diferentes mecanismos: Lubrificantes:
1 - Aumentando o volume ao entrar em contato Durante as diferentes etapas do processo de
com líquidos aquosos, o que favorece a separação compressão podem ocorrer problemas de fricção
das partículas constituintes do comprimido, de diversas naturezas. Fricção entre os grânulos
incrementando a superfície específica e, em ou partículas no alimentador, fazendo com que o
conseqüência, a velocidade de dissolução; 2 - material apresente fluxo deficiente, fricção da
Dissolvendo-se em água e formando canalículos superfície do comprimido com os punções e/ou
ou capilares no comprimido, facilitando a com a parede da matriz. Para evitar os problemas
penetração de fluidos e proporcionando a derivados da fricção grânulo-grânulo ou grânulo-
desintegração; 3 - Reagindo com a água e metal, são utilizados os lubrificantes ou agentes
proporcionando a formação de um gás, antifricção que, de acordo com a função que
geralmente o dióxido de carbono (DALLA COSTA, exercem, podem ser classificados em deslizantes
1990; VOIGT, 1993; FAROONGSARNG e PECK, (favorecem o fluxo pela diminuição da fricção entre
1994; LE HIR, 1995; LIMA NETO, 1996; LIMA grânulos); antiaderentes (evitam a aderência dos
NETO e PETROVICK, 1997b; SCHMIDT e grânulos a matriz ou aos punções) e lubrificantes
ZESSIN, 1997; VILA JATO, 1997). propriamente ditos (reduzem a fricção entre as
Entre os desagregantes que atuam pelo partículas durante a compressão, assegurando
primeiro mecanismo encontram-se o amido e seus melhor transmissão da força de compressão
derivados, o mais antigo e ainda hoje utilizado através da massa do pó ou granulado, reduzindo
devido a sua boa propriedade de desintegração e as forças de reação que aparecem nas paredes da
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