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BLUMENAU
2010
2
BLUMENAU
2004
3
4
DEDICO
AGRADEÇO
TYLER DURDEN
FRIEDRICH NIETZSCHE
7
RESUMO
ABSTRACT
This research arose from the interest in analyzing the stereotypes of beauty and
happiness agreed in consumer society through communication media and its effects.
As the arguments for the use of these models tells us more about the receiver than the
transmitter, the research turned to the inherent characteristics of the individual who
consumes. His endless pursuit of happiness, the predilection of the beautiful and the
higher your needs, desires, and motivations through the materialization of these
conditions means that it provides. This study, using a vision focused on the demand
characteristics inherent to human beings, he shows how the presence of the instinct of
preservation, efforts to adapt to the environment and the process of natural selection
is part of the behavior of individuals and the elaborate our day-to-day. Then the study
turns to the social construction of reality as a platform for the behavior. The
advertisement is quartered in their verbal and visual in order to identify and study
the devices used for the enhancement of the message. Finally, the theoretical
framework focusing on the relationship between consumption and happiness in the
consumer society of the XXI century and the dream world created by advertising.
Through the case study, we could ascertain, in the example suggested, such as
happiness and beautiful, like other theories presented, can manifest itself in
advertising.
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 12
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA E JUSTIFICATIVA ....................................................... 12
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 13
1.2.1 Objetivo geral................................................................................................... 13
1.2.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 13
1.3 METODOLOGIA E TÉCNICAS DE PESQUISA........................................................... 13
1.4 DIVISÃO DO TRABALHO ......................................................................................... 14
2 FELICIDADE E BELEZA FÍSICA.............................................................................. 15
2.1 FELICIDADE ............................................................................................................. 15
2.2 BELEZA FÍSICA ........................................................................................................ 18
2.3 SUPERIORIDADE ..................................................................................................... 19
3 CONSTRUÇÃO DO COMPORTAMENTO ................................................................. 20
3.1 MOTIVAÇÕES ........................................................................................................... 20
3.2 LEQUE DE TEORIAS................................................................................................. 21
3.2.1 Teoria behaviorista ......................................................................................... 21
3.2.2 Teoria cognitivista ........................................................................................... 23
3.2.3 Teoria psicanalítica ......................................................................................... 23
3.2.4 Teoria humanista ............................................................................................ 24
3.2.5 Teoria social ..................................................................................................... 24
3.2.6 Teoria existencial ............................................................................................ 25
3.2.7 Método positivista e método dialético............................................................ 25
3.2.8 Visão estruturalista, sistêmica e fenomenológica ......................................... 26
3.3 NECESSIDADES ........................................................................................................ 27
3.4 FREIOS E CONFLITOS MOTIVACIONAIS ................................................................ 28
3.5 ESTÍMULOS E COMPORTAMENTO ......................................................................... 29
3.6 CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE ................................................................. 29
4 LINGUAGEM PUBLICITÁRIA E COMUNICAÇÃO VISUAL ...................................... 31
4.1 LINGUAGEM PUBLICITÁRIA................................................................................... 31
4.2 A IMAGEM: PERCEPÇÃO E INTERPRETAÇÃO ........................................................ 33
5.3 PLANEJAMENTO VISUAL ........................................................................................ 33
4.4 ESTÉTICA DO CORPO NA PUBLICIDADE................................................................ 35
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1 INTRODUÇÃO
1.2 OBJETIVOS
de caso pode ser usado para determinar se as proposições de uma teoria estão
corretas, ou se algum jogo alternativo de explanações poderia ser mais pertinente.
Podendo, desta maneira, representar uma contribuição significativa para
conhecimento da teoria construída. Segundo Gil (2006), a pesquisa tipo estudo de caso
caracteriza-se pelo estudo aprofundado, minucioso e descritivo de determinados
objetos de estudo, permitindo assim o seu amplo conhecimento.
O objeto de análise será um anúncio publicitário de página dupla do Banco
Bradesco veiculado na revista Isto É em novembro de 2010. A escolha do objeto de
análise foi baseada na compatibilidade entre características comuns dos anúncios em
mídia revista e os objetivos deste trabalho. Após uma pesquisa em diversas revistas
nacionais populares, foi feita uma seleção de vários anúncios que facilitariam a
ilustração das teorias aqui exportas. O anúncio do Banco Bradesco foi escolhido de
forma intencional, por explorar públicos com baixa segmentação e conter, com
clareza, os elementos estudados neste trabalho.
A pesquisa bibliográfica, que consiste na busca de informações em livros e
outros meios de publicação (Gil, 2006), será utilizada neste trabalho para conhecer as
diferentes contribuições científicas disponíveis sobre o tema pesquisado e construir o
embasamento teórico que objetiva responder aos objetivos levantados. Segundo Gil
(2006) ela é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos.
2.1 FELICIDADE
O filósofo alemão Kant (2002) coloca que, antes de tudo, a razão não pode nos
ensinar o que é felicidade; porque não podemos dar uma definição independente,
antes da experiência. Na definição de Kant (2002), a felicidade é um estado de
satisfação existencial, onde tudo se passa segundo a vontade e desejos, sejam naturais
ou intelectuais, do indivíduo. Corresponde a uma alegria exuberante sem intervenção
de preocupações, dores, tristezas, desgostos ou ameaças à vida. Também é empírica e
apenas a experiência pode nos ensinar o que nos traz alegria. Inicia-se pelos desejos
naturais por comida, sexo, movimento, por exemplo, mas, conforme nossa disposição
natural se desenvolve ao aumentar nosso conhecimento, encontramos maneiras
particulares de encontrar a alegria.
Cada coisa que eu desejo ou que realizo é apenas um meio para conseguir ser
feliz. E, até mesmo, só desejo as coisas porque suponho que contribuirão para
proporcionar-me a felicidade, sem que, não me interessaria por elas. (BOSCH,
1998, p.20)
Fazemos tudo com a esperança de que nossas ações nos trarão mais felicidade
– ou, de acordo com uma concepção mais budista, pelo menos diminuirão
nosso sofrimento. Isso, concordo, representa a finalidade de toda ação
humana. (ALPER, 2008, p. 251)
Ainda segundo Alper (2008), a seleção natural vigora também entre seres
humanos. Nesse sentido, para garantir a perpetuação da espécie, precisamos que
nossos descendentes sejam saudáveis e bem adaptados ao meio. Para atingir o
objetivo, possuímos mecanismos meticulosos para encontrar uma parceria ideal para
procriação. Apesar da complexidade do mecanismo, vou me ater à seleção através da
estética corporal porque corresponde ao objetivo deste trabalho, já que pode ser
comunicada através de imagens (logo, através da comunicação midiática).
Alper (2008) diz que a principal característica corporal que comunica saúde e
perfeição genética é a simetria. Basicamente, entende-se que uma pessoa simétrica é
uma pessoa saudável. Além disso, existe também a busca pelo parceiro socialmente
superior, pois este se mostra dotado dos melhores genes e proporcionará não somente
uma cria mais saudável, mas também melhores condições para que elas se
desenvolvam bem.
Essa predileção pela simetria é um claro indicativo de que a nossa noção de
beleza está ligada diretamente a fatores biológicos, afirma Raymond (2010),
pesquisador em biologia evolutiva da Universidade de Montpellier. Raymond (2010)
está em plena concordância com Alper (2008) e afirma que há uma seleção para que
as preferências se orientem para as características que indicam a qualidade do
indivíduo. A nossa noção estética não é aleatória, mas sim, seleção natural. Ainda
segundo Raymond (2010), somos atraídos pelos sinais que reflitam bom
desenvolvimento físico e genético e damos a isso o nome de “beleza”.
Este mecanismo também está ligado às sensações e emoções no dia-a-dia das
pessoas, segundo sua construção subjetiva. As emoções funcionam como uma espécie
de bússola para indicar o caminho mais promissor na odisséia pela felicidade e pela
perpetuação da espécie. A saudade por alguém, por exemplo, está ligada ao desejo de
resgatar uma situação de felicidade, afirma Alper (2008).
Por estes motivos que, instintivamente, os indivíduos perseguem a beleza física
nos outros, para uma parceria sexual, e em si menos, para se apresentar mais
19
2.3 SUPERIORIDADE
O homem promove seu prazer de várias formas. Uma delas, salientada por
Nietzsche (2006) em diversos momentos, é o prazer na superioridade. Segundo ele,
sente-se prazer partindo ramos de árvores, quebrando pedras, lutando com animais
servagens, etc, porque nos tornamos conscientes de nossa força. Além disso, causar
sofrimento em outros seres é a prova manifesta de nossa superioridade, ressalta
Nietzsche (2006).
Na teoria de Maslow (1979) sobre as necessiades humanas, ele cita a perseguição
humana pelo status e estima, seja para reconhecimento dos outros ou para o próprio
reconhecimento de valor. Segundo ele, o indivído fará esforços para ser visto como
inteligênte, forte, independente e detentor de outras qualidades valorizadas pelo
grupo no qual está inserido. Neste fenômeno são visíveis elementos de competição
social e auto-realização.
Baseado nos estudos de personalidade de Fadiman e Frager (1980), Ballone
(2008) afirma que a meta da superioridade tem suas raízes no processo evolutivo de
adaptação contínua ao meio ambiente. No sentido de adaptar-se de forma mais
efetiva, todas as espécies devem evoluir. Se não a fizessem, extinguem-se. Dessa
forma, cada indivíduo é levado a lutar por um relacionamento mais perfeito com o
meio ambiente. E mais, afirma Ballone (2008): nenhuma forma de vida poderia se
preservar se esta luta não fosse inata.
As tendências agressivas humanas, por exemplo, também têm sido cruciais para
a sobrevivência individual e das espécies. A tal agressão pode se manifestar como
vontade de poder e mesmo a sexualidade é freqüentemente utilizada para satisfazer a
ânsia de poder, ressalta Ballone (2008). Tanto a agressividade quanto a vontade de
poder podem ser vistas como manifestações de um motivo geral: um certo objetivo de
superioridade ou perfeição. Apesar de inata, a luta pela perfeição faz parte da vida. É
um impulso, um algo sem o qual a vida seria inimaginável; e está ligada com a
20
3 CONSTRUÇÃO DO COMPORTAMENTO
3.1 MOTIVAÇÕES
Sabe-se que todas as pessoas têm ambições, objetivos de vida, desejos de objetos
e bens materiais pelos quais ela realiza esforços especiais para satisfazê-las. Dizemos
21
que ela está “motivada” (KARSAKLIAN, 2000), mas, como a motivação não é algo
diretamente observável, a existência dela é constatada através do comportamento.
Segundo Karsaklian “o comportamento motivado caracteriza-se pela forte
energia despendida numa ação orientada para um objeto específico” (2000, p. 22).
Para ela, a persistência é o melhor indicador de um comportamento motivado. Uma
pessoa doente, por exemplo, busca obstinadamente um medicamente porque tem a
dor como motivação.
Segundo ele, os motivos tem direção e força e são orientados para uma meta em
que objetivos específicos são desejados afim de satisfazer uma necessidade. Vários
caminhos podem ser adotados para se alcançar a maioria das metas, afirma Solomon
(2002).
Para Skinner (2010), como esses estímulos não estão manifestos no ambiente
atual, são negligenciados facilmente. Compreende-se por estímulos todas as recepções
sensoriais capazes de provocar alguma reação em nosso organismo ou psique.
(2005) faz um olhar em Marx (1844) ao afirmar que a propriedade privada aparece
como o modo de existência pessoal, distinguindo pessoas e grupos e tornando-se,
portanto, a essência da vida.
O leque de teorias sociais é grande, afirma Giglio (2005), mas o fator básico, que
merece atenção, é que o “comportamento de consumo de uma pessoa pode ser
explicado por variáveis externas, pela cultura e pelo meio social.” (GIGLIO, 2005, p.
53).
3.3 NECESSIDADES
Segundo Maslow (1979), uma necessidade cessa quando ela foi satisfeita e o
indivíduo procura a necessidade seguinte. Ocorre, desta forma, uma mudança
constante de necessidade vigente.
Solomon coloca que “a forma peculiar de consumo usada para satisfazer uma
necessidade é chama de desejo (2002, p. 97). Segundo ele, a maneira com que uma
necessidade é satisfeita depende da subjetividade cultural do indivíduo. Duas pessoas
podem satisfazer a mesma necessidade de formas diferentes. A fome, por exemplo,
pode ser satisfeita através de comida vegetariana ou fast food com cheeseburger e
batata frita.
Sabe-se que as necessidades ativam as motivações que, por sua vez, movem as
pessoas em direção a possíveis formas de satisfazê-las. Porém, segundo Karsaklian
(2000), as motivações encontram resistências chamadas por ela de freios. “Os freios
são forças que vão na direção contrária das motivações.” (KARSAKLIAN, 2000, p. 33).
Os freios podem ser classificados em dois tipos: as inibições e os medos. A
inibição está fortemente ligada à opinião dos demais; são as forças que freiam o
impulso da compra baseados na noção de desconforto perante demais pessoas. O
medo, por sua vez, está mais vinculado a pensamentos internos, tais como risco físico
ou financeiro.
29
A idéia de freios parece bem coerente com a teoria de Freud (2001), onde a
entidade psíquica superego tem o papel de árbitro entre os impulsos instintivos e a
noção do mundo exterior.
Solomon (2002) coloca a idéia de conflitos motivacionais. “Uma meta tem
valência, o que significa que pode ser positiva ou negativa.” afirma Solomon (2002, p.
97). Uma meta para a qual os consumidores dirigem seu comportamento é uma meta
com valor positivo. Neste caso, os consumidores podem estar motivados a alcançar a
meta e procurarão produtos que serão instrumento para atingi-la. Por outro lado, nem
todo comportamento é motivado pelo desejo de alcançar uma meta. Evitar um
resultado negativo pode ser a intenção de alguns consumidores. Neste caso, eles
estruturarão suas compras ou atividades de consumo para reduzir as chances de
chegar a esse resultado final repudiado.
Para nos ater ao objetivo deste estudo, não nos aprofundaremos nos fenômenos
fisiológicos envolvido na estimulação, já que nosso foco está no vínculo entre estímulo
e comportamento; nem nos processos mentais de percepção, porque não se pretende
estudar a organização e qualificação dos estímulos.
Como já comentado, compreende-se por estímulos, na concepção behaviorista de
Skinner (2010), todas as recepções sensoriais capazes de provocar alguma reação em
nosso organismo ou psique. São acontecimentos, externos ou internos a um
organismo, susceptíveis de serem captados pelos seus receptores e de levarem a uma
reação.
Apesar das teorias supracitadas terem focos diferentes, todas parecem
concordar que nosso comportamento é um produto de eventos internos (instinto,
impulsos e habilidades) e externos (estímulos). Até mesmo a cognição, os valores e o
arbítrio elaborado precisa destes elementos para se desenvolver. Desta forma,
poderíamos comparar os eventos internos como o motor que provê impulsão e força
para a ação, e os eventos externos como criadores do caminho, ou seja, da “realidade”.
Eco (1991) afirma que os códigos (sistema de símbolos que permite interpretar,
transmitir uma mensagem, representar uma informação) publicitários funcionam
num duplo registro: verbal e visual.
Esta correlação de significados entre texto e imagem acontece tanto pela
ambigüidade da imagem quanto do texto; neste ultimo, em virtude dos artifícios
retóricos utilizados.
O registro verbal, segundo Eco (1991), tem a função principal de ancorar a
mensagem. Isso acontece porque a comunicação visual pode ser freqüentemente
compreendida de formas diferentes. Esta ancoragem nem sempre ocorre da mesma
forma e “uma das finalidades de uma investigação retórica sobre a publicidade é ver
como se cruzam as soluções retóricas nos dois registros”, ressalta Eco (1991, p. 161).
Pode-se encontrar casos em que o texto e a imagem concordam ou discordam entre si;
uma imagem com função estética e o texto com função emotiva, por exemplo; ou
ainda uma imagem de estrutura metafórica e um texto de estrutura metonímica, e
assim por diante.
Essa mensagem, contudo, não se limita ao mundo dos sonhos. Ela concilia o
princípio do prazer com o da realidade, quando, normativa, indica o que deve
ser usado ou comprado, destacando a linguagem da marca, o ícone do objeto.
(Quesnel, 1974 apud CARVALHO, 1996, p. 86)
Vamos aqui nos limitar às imagens visuais planas; aquelas que, como a pintura,
a gravura, o desenho, a fotografia, o cinema e a televisão, continuam, segundo
Aumont (1993), a ser as mais comuns em nossa sociedade.
De acordo com Aumont (1993), não há imagem sem percepção da imagem. A
imagem possui dupla realidade que não são, em sentido absoluto, de natureza
idêntica: uma é a de imagem plana, 2D, relativas à condição física da imagem
observada; a outra, 3D, se percebe em um arranjo espacial, semelhante ao que seria
oferecido por uma cena real. Isto é, percebemos simultaneamente essa imagem como
fragmento de superfície plana e como fragmento de espaço tridimensional.
Após percebida, a imagem é interpretada. Aumont (1993) segue a reflexão de
Arnheim (1969) que propõe uma tricotomia cômoda entre valores da imagem e sua
relação com o real. Dentro da concepção de Arnheim (1969), a imagem pode adquirir
valor de representação, valor de símbolo e de signo. A imagem representativa é a que
representa coisas concretas, ou seja, com nível de abstração inferior ao das próprias
imagens; enquanto a imagem com valor simbólico é aquela que representa coisas
abstratas que, por sua vez, tem um nível de abstração superior ao das próprias
imagens. A imagem com valor de signo representa um conteúdo cujos caracteres que
não são visualmente refletivos por ela.
de linha, forma, espaço, etc) não forem os mesmos, devem ser diferenciados
completamente. “O contraste costuma ser a mais importante atração visual de uma
página”, afirma Williams (1995, p. 14).
Na Repetição, os elementos visuais do design devem ser repetidos e espalhados
pelo material. A cor pode ser repetida, a forma, a textura e as relações espaciais como
a espessura, os tamanhos, etc. Dessa forma, cria-se uma organização visual que
fortalece a unidade.
Segundos as regras de alinhamento, em uma peça de comunicação visual, nada
deve ser posicionado arbitrariamente. Os elementos devem ter uma ligação visual
entre si, criando assim uma aparência limpa, sofisticada e suave.
Quando à proximidade, em contribuição para uma organização visual e redução
da desordem, o itens relacionados entre si devem ser agrupados. Segundo Williams
(1995), quando vários itens estão próximos, tornam-se uma unidade visual, e não
várias unidades individualizadas.
Outro artifício é o emprego adequado dos tipos. O tipo (ou família tipográfica,
como é conhecida após o advento da tipografia digital) é um conjunto de fontes
tipográficas com as mesmas características estilísticas fundamentais. Williams (1995)
ressalta três relações importantes quanto à utilização de tipos: relação concordante;
relação conflitante; relação contrastante.
A Relação concordante ocorre quando usamos somente uma família de fontes,
sem muitas variações, a fim de manter a harmonia, estética calma ou formal. A
Relação conflitante, por sua vez, ocorre quando se combina fontes similares em estilo,
tamanho, peso, etc. Esta similaridade é incômoda e conflitante porque as atrações
visuais não são as mesmas, mas também não são diferentes. Já a relação contrastante
acontece quando se combina fontes separadas e elementos nitidamente diferentes
entre si. Segundo William, “os designs visualmente interessantes que costumam atrair
a sua atenção têm, em geral, bastante contraste e os contrastes são enfatizados.” (1995,
p. 75).
A escolha da família tipográfica deve, também, ser sustentada por uma noção
intencional, ou seja, conciliando-se as características de estilo (antigo, moderno, com
ou sem serifa, manuscrita ou decorativa) ao seu emprego conscientemente orientado.
Por exemplo: utilizar uma fonte moderna para um outdoor de uma feira de
tecnologia.
As cores são outro grande artifício quando utilizadas pautando-se nas
referências simbólicas do inconsciente humano. Elas têm a capacidade de liberar um
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A atual sociedade busca por definições de padrões no que diz respeito ao corpo.
Esta busca transforma-se numa corrida rumo ao consumo. Tornou-se comum querer
ter o corpo “da moda”. Baseado em tipos franzinos, magros, esses corpos são tão
produtos de consumo tanto quanto as roupas que os vestem. Segundo Baudrillard, “Na
panóplia do consumo, o mais belo, precioso e resplandecente de todos os objetivos,
ainda mais carregado de conotações que o automóvel que, no estando, os resume a
todos é o CORPO.” (1995, p. 135).
Eco (2004) afirma que, na história da humanidade o belo sempre teve um laço
estreito com o que nos faz bem e com o que desejamos. Ao analisar a beleza na
sociedade de consumo, ele afirma que o belo assume formas estéticas variadas,
fazendo flashbacks de outros períodos históricos sem ter uma forma específica. A
seguir, segue alguns exemplos de beleza selecionados por Eco (2004) em sua
organização da história da beleza:
Figura 2 – Twiggy
Fonte: ECO, Umberto. História da beleza. 1ª ed. São Paulo: Record, 2004. p. 418.
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tirânica, sexista e mesmo racista, pois impõe a supremacia dos cânones estéticos
ocidentais.
Para Lessa (2005), a publicidade recorre ao fetichismo do ver. O corpo precisa
estar sempre perfeito, em forma. E, segundo ela, a mídia dá ênfase a um biótipo da
mulher, disseminando um padrão de corpo com uma forma precisa.
Esse culto ao corpo leva o indivíduo a se construir como sombra das regras
estéticas que circulam pela mídia, afirma Couto (1999). Nesse processo, a publicidade
serve como modelo para que o indivíduo seja perseguido por um fantasma da
perfeição que lhe é apresentada por meio das representações. Somos produzidos e
consumidos, não mais espectadores, mas figurantes ativos do universo dos meios de
comunicação, coloca Couto (1999).
Vigarello (2006) concorda que a televisão, assim como as demais mídias, faz o
papel da presença de aparecias unificadas. Para as mulheres, o perfil ideal de hoje,
exibido com insistência, compreende pernas esguias, bacia acentuada, silhueta
adelgaçada, magreza bem torneada, envolvendo medidas como 1,68m de altura, 48kg
de peso, curvas de 90cm, 58cm e 88 cm, magreza acrescida pela diminuição da
proporção altura-peso, linhas moduladas pelo reforço do contraste quadris-cintura-
seios.
Com o consumismo vieram também muitos movimentos anticonsumistas e, ao
tratar desse assunto, corre-se o risco de ser demasiadamente abstrato ou radical. Em
contra partida ao teor crítico vívido até então, parece coerente considerar que o uso
consciente das imagens e, conseqüentemente, a freqüente inserção de representações,
mostra a importância que as mesmas ocupam na sociedade.
antropológico, já que o jogo simbólico dos signos reaviva arquétipos coletivos ocultos,
mas fundamentais, de modo que um verbo pode induzir à compra, escapando do
crivo da razão; sociológica, porque a publicidade dá a cada um a ilusão de que ela se
dirige individualmente a cada pessoa, mas explora a nossa consciência de sermos
membros de uma sociedade, polarizando entre a singularidade do ser humano e sua
comunhão íntima dentro de uma sociedade.
Giglio também coloca a questão da diferenciação social:
Barreto (1985) aponta que o apelo ao mundo dos sonhos é o mais comum e
“psicológico” recurso da propaganda. Partindo da premissa de que a realidade é
frustrante para o homem, a propaganda oferece uma possibilidade de reconciliação
com o prazer e com a felicidade. Assim como em um sonho em que a realidade se
distorce para que o prazer possa, sem maiores conseqüências para a vida, prevalecer,
a publicidade, valer-se do onírico; coloca em suspensão as limitações da vida real e
apresenta um mundo em que a felicidade ideal é permanente.
6 ESTUDO DE CASO
A Isto É (também estilizada como ISTOÉ, Istoé ou IstoÉ) é uma revista semanal
brasileira de informações gerais voltada para o público adulto, publicada pela Editora
Três. Está no mercado há 34 anos e se consolidou como um dos veículos mais
influentes do País. A revista caracteriza-se por uma linha editorial independente e por
fazer uma abordagem dos fatos que remete o leitor além da notícia.
Com número aproximado de 136 páginas por edição, a revista Isto É tem tiragem
de 417.297 exemplares e circulação de 335.554 exemplares. Segundo informações do
mídia kit fornecido pela Editora Três, a revista Isto É conta com 1.007.882 leitores
(sendo 90% assinantes). Dentre eles, a presença de homens e mulheres é quase
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igualitária, a maioria é classe A e B com idade superior a 40 anos [Fonte: Ipsos Estudos
Marplan/EGM, 9 Mercados (janeiro/2009 a dezembro/2009). Filtro: ambos, 10+ anos.].
6.2 O ANÚNCIO
Site, telefone para contato (Fone Fácil Bradesco), SAC (Serviço de Atendimento ao
Consumidor) e ouvidoria vêem em seguida. Na borda do anúncio, sem destaque e
escrito verticalmente, são exibidos alguns esclarecimentos sobre a mensagem e o
produto oferecido: A Presença em 100% dos municípios no Brasil leva em
consideração o Banco Postal. Crédito sujeito a aprovação. No topo esquerdo, a agência
Neograma/BBH assina sua criação.
6.3 ANÁLISE
Neste caso existe uma concordância de soluções entre o registro verbal e visual:
ambos se relacionam para comunicar a mensagem de forma mais rica: a imagem
realiza a função emotiva, através da identificação projetiva; o texto utiliza de artifícios
retóricos para tentar encantar, convencer e informar o receptor.
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Sob a luz da teoria de Aumont (1993), a imagem 2D, em seu sentido absoluto, de
natureza idêntica, seria o anúncio como um todo: o conjunto da fotografia e texto na
superfície da revista foram uma imagem plana. A outra realidade, 3D, seria o
fragmento do cotidiano do casal, em que estão sentados no chão de sua casa nova,
felizes e tranqüilos.
De forma indireta, o anúncio promete realização, progresso e abundância
(felicidade, por conseqüência) ao sugerir que o receptor transforme seus sonhos em
realidade. Ele seduz e se utiliza da beleza ao exibir modelos jovens e saudáveis em um
ambiente limpo, bem iluminado e aconchegante. Além disso, ele associa todos estes
elementos à marca e a presença do crédito Bradesco para "transformar tudo em
realidade". Apesar da associação entre a realização e crédito financeiro não ser
pontual e evidente, ela é sugerida nas entrelinhas. Também podemos perceber que
não há sinal de catástrofe, sofrimento ou prejuízo, atrito, mau humor, feiúra ou
regresso.
Ao mesmo tempo em que este anúncio parece tornar o crédito financeiro e o
sonho da casa própria acessíveis a todos ao ofertar taxas e prazos em condições
especiais e mostra-se presente em todo Brasil, seu efeito real é de diferenciação social,
pois o crédito é sujeito à aprovação (como o anúncio informa). Como no ditado
popular, é para quem pode e não para quem quer.
Dentre os recursos estilísticos e argumentativos estudados, no anúncio do Banco
Bradesco em análise pode-se identificar a ordem, quando diz “Prefira a presença do
Bradesco. Abra sua conta.” Como mencionado por Carvalho (1996), o imperativo pode
ser camuflado por roupagens que sugerem um convite à ação - este caso é um
exemplo disso. A persuasão também está presente, quando diz “É importante ter
desejos e objetivos. De preferência, com a presença de crédito do seu banco para
transformar tudo em realidade.” Termos axiológicos também são visíveis ao passo que
“nenhum falante descreve a natureza com imparcialidade absoluta” (Carvalho, 1996,
p. 36). A chamada deste anúncio exalta os objetivos, desejos e, principalmente, a
possibilidade de materializá-los.
Além destes, pode-se identificar a utilização de outros recursos: adjetivação,
quando diz “é importante”; intensificadores, quando diz “de preferência”; metáfora,
quando diz “presença de crédito”; metonímia, quando diz “presença do Bradesco”;
repetição, ao usar a palavra “presença” repetidas vezes.
É válido ressaltar que a palavra “presença” está ligada ao conceito de
posicionamento adotado pelo Banco Bradesco a partir de 2009 (ADNEWS, 2010). Desta
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forma, a utilização desta palavra tem um valor especial e adquire sentidos múltiplos
quando vinculada ao contexto externo e às demais mídias.
Quanto ao planejamento visual, pode-se identificar: contraste; repetição;
alinhamento; proximidade.
O contraste é percebido entre imagem e textos, favorecendo a leitura e
compreensão das partes sem dificuldade, assim como entre a logomarca e a cor de
fundo.
O anúncio que está sendo analisado apresenta uma atmosfera idealizada, sem
imperfeições. Uma fração de um cotidiano fictício sem características pejorativas
onde a felicidade e a tranqüilidade reinam. Pode-se observar que todo o ambiente
onde o casal se encontra não tem nenhuma imperfeição ou indício de algum evento
danoso. As caixas de papelão não possuem danos nem regiões amassadas. As paredes,
assim como o chão, estão limpas e sem arranhões. A janela aberta exibe folhas verdes
bem iluminadas, anunciado um belo dia de sol.
O texto é sedutor e não menciona nenhum transtorno, desprazer ou prejuízo. Ele
não menciona os desafios ou esforços para se alcançar os sonhos e objetivos,
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
8 ANEXOS
Em uma matéria publicada pela revista Isto É (2009), um novo índice para
designar a qualidade de vida dos indivíduos de uma nação entra em questão.
Nascido em 1972 em um pequeno país do Himalaia, o conceito de Felicidade
Interna Bruta pretende ser um índice mais qualificado para medir o nível de
desenvolvimento de uma nação. A fórmula foi criada pelo rei do Butão Jigme Singye
Wangchuck para medir o bem-estar de seus 600 mil súditos. O reino do Butão, ao
praticar este conceito, começou a atrair a atenção do resto do mundo com a sua nova
fórmula para o cálculo de riqueza de um país, que considera outros aspectos além do
desenvolvimento econômico, como a conservação do meio ambiente e a qualidade de
vida das pessoas.
Através dos quatro pilares da FIB, economia, cultura, meio ambiente e boa
governança, derivam-se 9 domínios de onde são extraídos indicadores para que a
“Felicidade” de uma nação seja avaliada: bem-estar psicológico; saúde; uso do tempo;
vitalidade comunitária; educação; cultura; meio ambiente; governança; padrão de
vida.
Recentemente, em realidade bem diferente à de Butão, organizou-se em parceria
com a empresa Natura um projeto de utilização do conceito FIB no universo
empresarial: EndoFIB e ExoFIB. O primeiro trata da felicidade entre funcionários,
enquanto o segundo se concentra na felicidade de quem é cliente. A versão do FIB
para empresas nasceu da premissa de que quem trabalha feliz é mais produtivo,
afirma Vicente Gomes, responsável pela divulgação da vertente corporativa do
conceito.
Além do exemplo mencionado acima, o FIB tem sido referência para outros
métodos de avaliação de qualidade de vida.
61
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