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Evolugao Historica do Direito Internacional Cantos ALBERIO Brrran Fr10 Adyogado em So Pawo SUMARIO 1. Observagées propedéuticas. 2. Idade Antiga. (4.000 a0, — 476 d.C). 2.4. Resewka histdriea. 2.1.7. Perio- do pré-cldssico, 2.1.2. Periodo cldssico. 2.1.2.1. Gréeia, 2.1.2.2. Roma. 2.2. Contribuigéo, 3. Idadte Média (476 dc, — 1453 GC), 3.1. Resenha histdriea, 3.2. Contrinuigdo. 4. Idade Moderna {1453 d.C. — 1789 a 4.1, Da Queda de Constantinopla 11453 dC.) @ Paz de Westphalia (1643 dC.) 4.1.1. Resenha histdrtea. 4.1.2. Contribuigéo. 4.2. Da Paz de Westphalia (1648 dC.) a Revolugdo Francesa (1789 d.C.i. 4.2.1. Resenka histori- ca. 4.2.2, Contribuigdo, 5, idade Contempordnea (1789 dC. — nossos dias), 5.1. Da Revolucdo Francesa (1789 aC) ao fim da Primeira Guerra Mundial (1918 aC.) 5.1.1. Resenha historica. 5.1.2. Contribuicdo. 5.2. Do fim da Primeira Guerra Mundial (1918 a.C.) ao inicio da Segunda Guerra Mundial (1939 d.C./.5.2.1. Resenha his- torica, 5.2.2. Contribuicdo. $.3. Do inicio da Segunda Guerra Mundial (1939) a nossos dias. 6.3.1. Reseria his- torica. 5.3.2. Contribuigéo. 6. Concludes. 7, Biblio grafic, 1. Observagées propedéuticas Desmantela-se a Unido Soviética, O homem domina a tecnologia, conquistando 0 espago cdsmico. Reunificam-se as duas Alemonhas. Pre- Paramse os paises pertencentes 4 Comunidade Econdmica Européia para abolir as fronteiras que os separam uns dos outros em 1992. Aumenta, mais e mais, a preocupagao com o equilibrio ecoldgico do planeta. Enfim. depara-se a0 homem, na atualidade, um panorama de inovagdes ¢ trans: formagdes de alcance internacional. Assim, mais do que nunca, avulta R. Inf, legisl, Brasilia o. 29. n. 115 jul./ser. 1992 381 — como desde j4 se percebe — a importincia do Direito Internacional Publico, também chamado de Direito das Gentes, ou, simplesmente, de Direito Internacional, o qual € 0 ramo da Ciéncia Juridica que é aplicado — abstraindo-se dos ordenamentos juridicos internos de cada pais — jus- tamente no ambito da comunidade internacional. Contudo, analisar o Direito Internacional apenas nos tempos atuais ¢ esquecer que o presente 6 fruto do passado; dessa forma, impdese um estudo que possibilite uma visto de conjunto, integrada, deste novo, mas importante, setor da Ciéncia io Direito. Para @ inteleceao das razSes dos rumos que o Dircito Internacional tomou no pasado, e tem tomado recentemente, hé que se consideré-lo den- tro da propria Histéria. Ora, esta é, na perfeita definigéo do historiador francés March Bloch (1886/1944), a “ciéncia dos homens no tempo”, ou seja, 0 ramo do conhecimento voltado para a perquiricio do desenrolar dos Tatos humanos ao longo dos tempos. Em dltima instancia, € a Histéria preocupada com o estudo da propria experiéncia humana, a qual ¢, por sua vez, aquilo com lastro em que se pode avaliar o Direito. Afinal, este 6 produto da sociedade: ubi societas, ibi jus. Como os grandes perfodos histéricos comportam muitas divisGes dife- rentes, as opgGes neste estudo provém da Historiografia tradicional, por ser jé consagrada e por basear-se em acontecimentos histéricos de ampla significagéo para o mundo ocidental, do qual nosso Pais faz parte. Rela- tivamente as subdivisdes dos periodos, foram clas feitas de maneira a ressaltar a contribuigéo dos mesmos para o Direito Internacional. Finalmente, nao se pode deixar de mencionar que os perfodos em que este trabalho foi dividido nao devem ser considerados isoladamente, mas dentro de um contexto global, que é a propria hist6ria. Os fatos sucedem-se, no tempo, de forma encadeada, nao se podendo afirmar que cada fase histérica seja um compartimento estanque, apartado dos demais. 2. Idade Antiga (4.000 aC. — 476 dC.) 2.1. Resenka histérica 2.1.1. Perlodo pré-cléssico Este periodo foi caracterizado, basicamente, pela presenga de dois elementos fundamentais: a religiosidade e a rigida centralizagao politico- administrativa. Isto quer dizer que, neste , as sociedades no admi- tiam quaisquer divisdes territoriais ou funcionais em seu interior e que existia uma profunda relagdo entre o poder politico e a divindade. E importante mencionar que a mescla do humano e do divino ocorria de duas formas distintas: a) em certos casos, o governo era unipessoal e o gover- nante era considerado um representante do poder divino, confundindo-se, as vezes, com a prépria divindade; 6) em outros casos, o poder do gover- nante era limitado pela divindade, cujo ve(culo era a classe sacerdotal. 382 R. Inf. I Brasilia o. 29, 115 jul-/vet, 1992 Exemplo altamente ilustrativo deste perfodo foi o Fgito. Ora. a orga nizacdo politica do Reino das Duas Terras se assentou na forea politica do faraS. Historiadores modernos hé que defendem que o ubsolutismo faradnico foi o que permitiu o florescimento da civilizacio cgipcia, que logrou sobreviver por mais de trinta e dois séculos (de 3.500 a.C, a 30 a.C., aproximadamente). Segundo tais estudiosos, a concentragiio de poderes nas mios de uma tnica pessoa — o farad — possibilitou a realizacdo de grandes obras piiblicas, (ais como os canais de inrigagdo ¢ us templos reli- giosos, Ademais, nao se deve esquecer que 0 poder do farad encontraya embasamento na religiio — era o farad considerado a encarnacio do pré- prio deus Hérus. 2.1.2. Periodo cldssico 2.1.2.1. Grécia Nao forjaram oy gregos, durante todo o tempo em que foram inde- pendentes, a plena unidade politica. A Grécia nada mais foi do que um aglomerado de varias Cidades-Estados, ou seja, de cidades que gozayam de franca autonomia politica, pois o objetivo, naquela Gpoca, era a auto- suficiéncia; realmente, afirmou Aristételes que a sociedade constituida por diversos burgos formava uma cidade completa, com todos os meios de abastecer-se por si. Tao marcante foi esta caracteristica que, mesmo quando uma cidade conquistava outta, néo se observava a integragio de vence- dores ¢ vencidos em uma ordem comum. Como exemplo. cite-se a Liga de Delos, por meio da qual Atenas submeteu as outras cidades a cla aliadas, impondo-lhes tributos e exterminando as que ousuram dela desligar-se (Alifs, a sucessdo de futas fratricidas € que determinou a dominacao dos gregos por outros povos.) Duas foram as eidades que, no contexto da histdria grega. mais sobres- safram: Atenas ¢ Esparia, profundamente diferentes. Atenas foi um im- portantissimo centro comercial, artistico ¢ cultural. estando ligados a cla homes como Fidias, Péricles ¢ SGcrates, Nesta “polis” & que se realizou at primeira experigncia democratica da histéria. Por sua vez, Esparta foi caracterizade por rigidez. politica, senofobia e militarismo. 2.1.2.2. Roma De fundamental relevineia esta quadra da historia, pois 0 legado de Roma para a forma da civilizagio ocidental foi imensa. Efetivamente, os romanos deixaram-nos, ¢nire vutras contribuicées, o seu dircito eo conceito de ordem Lograram os romanos realizar, de certa forma, o sonho de Aleszndre Magno, legendario rei da Macedonia: uniram, sob a mesma autoridade. 0 Oriente e o Ocidente. De fato, quando do seu apogeu. 0 Império Romano estendia-se da Bretanha & Mesopotamia, bem como do Norte da Africa aos limites com a Germania, determinados, basicamente. pelos rios Reno ¢ R. Inf. Fegisl, Brasilia, 29m. 115 jul./set, 1992 383 Dandbio. A conquista romana, entretanto, demandou um longo periodo de tempo, ndio tendo obedecido, absolutamente, a um planejamento prévio. Assim, por exemplo, s6 para consolidarem sua dominagdo sobre a Pen{n- sula Itélica, os romanos necessitaram nada menos do que aproximadamen- te duzentos anos. Uma das mais importantes peculiaridades da organizagdo romana era a sua base familiar; ha até quem sustente que a civitas resultou da uniéo de grupos familiares (gens). Como supremos governantes havia os magis- trados, tendo sido reservadas, durante muito tempo, as principais magis- traturas (como o consulado e a pretura) as familias patricias. Gradativa- mente, em Jenta evolugao, outra camada social (a dos plebeus) foi adqui- rindo e ampliando direitos — sobretudo através das famosas Revoltas da Plebe (494 a.C. — 287 a.C.), primeiros exemplos de greves sociais da histéria —, sem que, até ao final, desaparecessem a base familiar ¢ a ascendéncia de uma nobreza tradicional. A par disso, acrescente-se que 6 nos tiltimos tempos, quando jé despontava a monarquia absoluta, isto €, quando o governante (imperador) comegava a ser considerado dominus et deus, é que Roma pretendeu realizar a integracao jutfdica dos povos subjugados, mas, mesmo assim, procurando manter um sdlido niicleo de poder politico, a fim de que se lhe garantisse a ascendéncia. Precisamen- te, deu-se isso no ano de 212 d.C., quando o Imperador Caracala conce- deu a naturalizagéo a todos os habitentes do Império, com excegio dos peregrinos dediticios, que, perante o ordenamento romano, eram 0s que ‘menos direitos possuiam. Tal concesséo da nacionalidade romana, realizada por edito imper teve os seguintes escopos: a) politicamente, a unifi- ‘cacéo do Império; b) em termos religiosos, 0 aumento dos adoradores dos deuses de Roma; c) em termos fiscais, 0 pagamento obrigatério, pelos peregrinos, de impostos nas sucessGes; d) socialmente, a facilitagio e a simplificagdo das decisdes judiciais, em questées de Estado 2 capacidade das pessoas. As conseqiiéncias do edito em tela foram assaz importantes: a) o direito romano passou a aplicar-se a praticamente todos os habitan- tes do Império, tendo perdido seu cardter pessoal e assumido cardter ter- ritorial; b) iniciou-se uma fase de transi¢go, dinamizada pelo Edito de Mildo (313 d.C.), através do qual Constantino assegurou a liberdade reli- giosa no Império, tendo desaparecido, paulatinamente, por influéncia do cristianismo, a nogiio de superioridade romana, base da unidade territorial, 0 proprio modelo escravista, sustentéculo da economia. © Império Romano, a partir do século IIT 4.C., comegou a revelar sinais de decadéncia generalizada. Debilitado militarmente pelas invasGes e saques dos bérbaros, enfraquecido economicamente por profundas crises ¢ galopante inflagdo, degenerado moralmente e corroido pela anarquia po- Iitica, definitivamente desabou sob o jugo dos hérulos, chefiados por Odoacro, o qual, com um golpe, destituiu 0 iltimo imperador do Ociden- te, Rémulo Augistulo (476 d.C.). Comegou, entéo, novo ciclo hist6rico: a Idade Média (476 — 1453). 384 R. Inf. legis]. Brasilia a, 29 m. 11S jul./set. 1992 2.2. Contribuigdo A [dade Antiga deu os primeiros subsidios para o strgimento, como disciplina juridica automa, do Direito Internacional Publico, a despeito do fato de ter sido um periodo basiante turbulento. mareado por muitas guerras de conquista ¢ de exterminio. Ai € que se vio encontrar os mais umtigos tratados de que se tem noticia, como, exempli gratia, 0 celebrado entie o Reino de Lagash @ a cidade de Umma (5.100 a.C.) € 0 subscrite pelo Faras Ramsés IIc 0 Rei dos Hititas, Katusil 1Lf, sobre cooperagéo militar mitca (? (291 uC. Outrossim, jé nesta quadra da histéria se praticava a diplomacia, em que estio subentendidas as idéias de negociagao. ausincia de estado de beligerineia e imunidude. Da atividade diplomética serviram-se os egipcios, assirios, judeus, persas, gregos e romanos, devendo-se dar, con- tudo, Gnfase maior a estes dois wltimas povos. Consistia a diplomacia, emao, no envio de negociadores para 0 &x; me de questa precisa: tratades de paz, ou de alianea. solugiio de lit ou de conflitos armados, © acordos comerviais. por exemplo. Ademais, cru cireunscrita a diplomacia, espacial ¢ temporalmente. por cutisa das de- ficigneias dos meios de comunicacio. A titulo de ilusiragio, consigne-se que o negaciador helénico devia reunir as condigdes de fidelidade ao seu dover, boa memsria, honestidade, audiicia, elogiténcia ¢ habilidade, Quanto ao negociador romano, preci- sava ele ter o dominio da palavra, das letras, da arte, da elogiiéncia ¢ da representacao. 3. dade Média {476 d.C. — 1433 d.C.} 3.1. Resenha histérica Entendida, por alguns, como a “longa noite de mil anos” e, por ou tros, come um extraordindrio period de eriaedo. resultou a Tdade Média do lento processo de conjugag&o das influéneias basicas dos romanos, biirbaros & drahes. Podiam-se encontrar jd nas declinantes instituigdes romanas, a partir do século TIT d.C., vérios elementos que contribufram para 2 estruturacho do periado medieval. como, por exemplo, o instituto do colonato ¢ us “villas Quanto aos biirbaros (hérulos. ostrogodos, visigodos, suevos, alama- nos, vindalos, anglos, saxdes. francos, lombardos. hunos, ete.), quebraram cles a rigida c bem definida ordem romana, substituindo-a pela idéia de revolucio. Formaram reinos frigeis e, geralmenie, de existencia can- turbada ¢ efémera: R. Inf. legisl. Brasilia 0. 29 on, 118 jul./set. 1992 385 Por sua vez, os dtabes dominaram, por um bom tempo, o Mar Medi- terréneo, tendo feito constantes incursdes nas costas da Europa, espalhado © medo e estimulado a fuga para o campo, a ponto de, na época, ter Ibn Kaldhun, historiador érabe (1332 — 1406), afirmado: “Os cristios néo conseguem fazer flutuar no Mediterraneo nem uma tibua”, Em cerca de apenas um século, erigiram um império tertitorialmente superior ao dos romanos, chegando # anexar, inclusive, praticamente toda a Peninsula Ibérica. Além disso, deixaram precioso legado cultural — afinal, foram 08 introdutores, na Europa, do uso da bissola ¢ da pélvora — descobertas pelos chineses —, de novas técnicas de navegagao ¢ do cultivo da laranja. Os principais elementos definidores da estruturagio medieval foram: © cristianismo ¢ o feudalismo. O cristianismo foi verdadeiramente a base da aspiracdo & universalidade, Superando @ concepgio que considerava va- Jerem os homens diferentemente, de acordo com a origem respectiva, trou- xe a afirmagio da igualdade de todos perante Deus. Neste paso, 6 im- portante assinalar o papel fundamental que exerceu a Igreja Catélica, que, com fulero no ascetismo religioso do povo, na concepoao estdtica do mun- do ¢ no fato de ser, na €poca, uma instituigéo bem organizada, se tornow a mais poderosa senhora feudal da Europa, contando, inclusive, com exér- citos préprios. No que tange ao feudalismo, foi ele o modo de organi: estrutural da Idade Média, apoiando-se: a) socialmente, na existéncia de trés camadas rigidas, ou estamentos (nobreza, clero ¢ povo); b) econo- micamente, nos bens de raiz (grandes lotes de terra, ou feudos); ¢) politi- camente, na descentralizagéo — ora, tinha o senhor feudal amplos pode- res em seu territério ¢ o rei, “‘suserano dos suseranos”, apenas uma auto- ridade nominal; d) juridicamente, nas relagées de suserania e vassalagem eno fengmene da repartigao da proptiedade em domfnio eminente e do- minio Gtil. Entretanto, lenta e continuamente, diversos fatores foram solapando os alicerces que sustentavam toda a estrutura medieval. Dentre eles, citem- se os precipuos: a) o reaquecimento das trocas do comércio, tudo a partir das reptblicas independentes do Norte da Itélia (como Veneza, Génova, Pisa, Amalfi e Gaeta); b) 0 surgimento de uma classe de comerciantes, a burguesia (“habitantes dos burgos”); c) a superpopulagao dos feudos; d) a ocorréncia de excedentes agricolas, em algumas épocas; e) a eclosa Jongos conflitos armados, como a Guerra dos Cem Anos, entre Franca e Inglaterra (1.337 — 1453); f) a devastagao causada pelas epidemias e pestes (verbi gratia, a Peste Negra, que durou de 1346 a 1356 € ceifou cerca de um tergo da populacdo européia); g) o desaparecimento de mui- tos nobtes, devido as Cruzadass h) a fuga, para as cidades, de servos, bem como de nobres que, por causa do principio da primogenitura, se viram excluidos do processo sucessério. Com a degeneragio do panorama feudal e das relagdes servis, come- ou a sutgir, a pouco e pouco, um novo sistema econémico: o capitalismo 386 R. Inf, legisl, Brasilia a. 29 om, 115 jul.fset. 1992 mercantil, ow mercantilismo, aficergado na forga ascendente da burgueséa. Foi esta nova classe social que det grande apoio ao rei, que, com 0 pro- gressivo esfacelamento do feudalismo, foi recobrando o poder ¢ o domi- nio sobre as terras até entio governadas, de fato, pelos senhores fexdas. Fstabeloceu-se. assim, um mituo awsilio entre rei ¢ burguesit: esta passou a roceber daquele apoio politico © cargos administeativoss aquele teve de ta grande ajuda financeira. Tal alianca foi, no crepiisculo da Idade M de extrema relevincia, pois com base nela é que foi debilitado, até & ago- nia, o poder dos nobres ¢, por extensio, foi desintegrado o sistema feudal, & que surgiram as condicdes favoraveis para a realizagio das grandes na- vegacées ¢ para o advento do Estado, Com a tomada de Constantinopla — tiltimo reduto do outrors v © poderaso Império Romano do Oriente — pelos turcos otomanos (1453). terminou a Idade Média, Teve inicio, entéo, a Idade Moderna (145 1789). 3.2. Contribuigto A mais notével contribuigio da Tdade Média foi o desenvolvimento da concepeao da unidade do género humano, a partit da obta dos grandes pensadores cristos da época. Santo Agostinho e Santo Toms de Aquino, os quais reiteraram a mensagem jd deixada por Jesus Cristo, pelos apés- tolos (como Sio Mateus, Sao Jot ¢ Séo Pedro) ¢ por So Paulo. Pode afirmar que 0 cristianismo foi o embasamento cultural do Dirvito Inter- nacional Péblico, por pregar a igualdade de todos e a fraternidade uni- versal 4. Idade Moderna (1453 d.C. ~- 1789 .C.) 4.1. Da Queda ide Constantinopla (1455 d.C.) & Paz de Westphalia (1648 .C.) 4.1.1. Resenha hist6riea A unido entre rei ¢ burguesia € 0 que explica, em grande parte, 28 mucangas estruturais ocorridas nesta fase da histéria. Com supedineo nela por exemplo, fortalecew-se 0 poder real, tendo-se construido as monarqutias nacionais, que apresentaram os seguintes caracteres gerais: a) unilicagio interna da mocda, dos pesos e medidas; b) uniformizagao do mereado consumidor interno; ©) superagdo da cavalaria pelo exército regular nacional: d) agrupamento de pessoas com mesma Tingua e mesmos cos tumes; delineagio de fronteiras; #) centralizagio politico-administrativa. Com a derrocada do feudalismo, passou a imperar o mereantilismo. baseado nos seguintes elementos: a) colonialismo, isto é, conquista de ter- ritdrios de ultramar para aquisig&o de matéria-prima e venda de produtos manufaturados; b) metalismo, quer dizer, acumulagio de tiqueza sob a R, Inf, legist, Brasilia @. 29m. 115 jul./ser, 1992 387 forma de metais e pedras preciosas (entesouramento); c) protecionismo, ou seja, criagio de barreiras alfandegdrias para os produtos importa de outros paises; d) balanca comercial favordvel, id est, saldo positivo na atividade de importagio ¢ exportagao (superdvit). Como se percebe, tudo isto explica o porqué das grandes navegagdes. ‘Actesca-se, outrossim, que a tomada de Constantinopla, importante entre- posto comercial, causou © encarecimento das especiarias levadas do Orit te para a Europa. Devido a vérios fatores, como a localizagio geogrifica estratégica (proximidade do Oceano Atlantico), Portugal ¢ Espanha lan- caram-se ao mar. Disso resultaram, por exemplo, a descoberta da América (1492) — que gerou a necessidade de definir-se a natureza das relagdes entre os colonizadores (portugueses ¢ espanhdis) e os indios, e concorreu para que se tornasse ainda mais nitido o fato de que o ser humano par- ticipa de uma comunidade internacional —, a chegada de Vasco da Gama a8 Indias (1498) e o descobrimento do Brasil (1500). Nao se pode deixar de mencionar a assinatura do Tratado de Tordesilhas (1493), cujo obje- tivo foi a divisdo, entre Portugal e Espanha, das novas terras descobertas. ‘AS navegacées transformaram estes dois paises nas maiores poténcies do mundo, uma vez que carrearam para eles grande quantidade de riquezas. Este perfodo de prosperidade, porém, ndo durou muito tempo: varios fato- res, entre os quais avulta o néo-investimento, na manufatura, do capital acumuiado, levaram a sangria de recursos, a qual acabou por tornar Por- tugal ¢ Espanha economicamente dependentes das novas poténcias: Franca, Inglaterra e Holanda. No campo da cultura, ocorreu o Renascimento, que contou com figu- res como Leonardo da Vinci, Rafael, Micheldngelo, Petrarca, Rabelais ¢ Miguel de Cervantes, ¢ que representou um retorno aos moldes de beleza greco-romanos (clissicos). Ademais, registre-se também a ruptura representada pela Reforma, que desfechou um profundo golpe no dominio religioso da Igreja Catélica, que, sentindo-se emeacada, reagiu com a chamada “ContraReforma”, bus- cando aproximar-se dos monarcas para compensar as perdas sofridas. 4.1.2. Contribuigéo Este perfodo teve grande importincia, pois nele é que surgiu o Di- reito Internacional Piiblico como disciplina auténoma, em virtude, mor- mente, das obras de Francisco de Vitdria (1486 — 1546), Francisco Sus- rez (1548 — 1617), Alberico Gentili (1551 — 1608) e Hugo Grécio (1583 — 1645). Primeiro catedratico em Teologia pela Universidade de Salamanca e defensor ferrenho das idéias de Santo Tomés de Aquino, Francisco de Vitéria analisou, sob o prisma filoséfico-teol6gico, a chegada dos espanhéis & América. Segundo ele, as relagées entre os indfgenas e 08 colonizadores 388 R. Inf, legisl. Brasilia o. 29 on, 195 jul./eet. 1992 devia ser regida por um direito que conviesse a toda a humanidade, 0 “Direito das Genies”. Os ensinamentos deste grande tedlogo foram com- pilados no livro Relectiones Theologicae (1537). Francisco Suarez, em seu tratado De Legibus uc Deo Legislatore (1615). defendew pertencerem as cidadles independentes, as reptiblicas ¢ os reinos. a um conjumto maior, © género humano, regulado, consoante ele, por direito especial Desligado da perspectiva filoséfico-teolégica, Alberico Gentili estu- dou delicamente a quest#o das imunidades diplomdticas, soho prisma puramente juridico, em seu livro De Legationibuis (1558) Contudo, sem qualquer sombra de dtivida. 0 mais importante vulto desta época foi o jurista holandés Hugo Grdcio. Foi ele quem escreveu a primeira obra sistemdtica e geral sobre o Direito Internacional Publico, De Jure Belli ac Pacis (1625), em que cle tratou do revonhecimento e da observaneia de normas que, conquanto pertencentes & comunidade global. cram, para ele, necessérias & solucto de problemas de cada Estado. Hugo Grécio, portanto, foi o fundador do Direito Internacional Publico como ramo acténomo da Ciéncia do Direito Sua obra foi 140 marcante que influenciow o Congresso de Westpha- lia, que encerrou a Guerra dos Trinta Anos (1618 — 1648). 4.2. Da Paz de Westphalia (1648) & Revolugéo Francesa (1789) 4.2.1. Resenha histérica © Tratado de Westphalia (1648) pds termo, como ja se disse, a Guer- ra dos Trinta Anos, conflito politico-religioso que, suscitado pelo antago- ismo entre catélicos ¢ protestantes ¢ pelas ambigdes da Austria, teve co- mo conseqiiéncias a ascensio da Franca ao posto de maior poténcia da Europa continental, a independéncia da Holanda e o estilhagamento do Sacro. Império Romano-Germanico. © que mais fortemente caracterizou este period foi uma crescente concentragéio de poderes nas maos do rei. Este ajudara a burguesia, até um certo ‘tempo, a crguer-se, mas passou a obstaculizar a ascensto dela, © gue, em parte, € explicado pelo favo de terse aproximado da nobreza — com a concesstio de pensdes ¢ subsidios — ¢ da Igreja Catdlica, Assim, a burguesia promoves um amplo movimento cultural, o Muminismo, por meio do qual combateu 0 absolutism dos reis « 0 proprio clericalismo. © triunfo da burguesia realizou-se, detinitivamente, na Revolugaa Fran- cesa, com a derrubada do Antigo Regime (1789) ¢ a eliminagao dos tlti- mos resquicios feudais (como certos impostos medievais até entio em vi- gor), Longe de ter-se circunscrito ao territ6rio da Franga. a Revolugdo Fran- cosa repercutit universalmente, tendo difundido as idéias individuslistas do Iuminismo, bascadas na ignaldade, na Nberdade e na fraternidade R. Inf, legisl. Brasilia o. 29m. 118 jul./set, 1992 389 Ciberté, egalité, fraternité), e influido na independéncia das col6nias da América (entre elas o Brasil). Com a Revolusdo Francesa, apagaram-se as luzes da Idade Moderna, tendo comegado novo periodo histérico: a Idade Contemporanea (1789 a rnossos dias). 4.2.2, Contribuigéio © Tratado de Westphalia inpirou-se nas idéias de Hugo Grécio, ten- do sido um verdadeiro matco hist6rico, porquanto com ele nasceram os conceitos de Estado e soberania, O sistema internacional, apés a Paz de Westphalia, passou a compor-se de Estados independentes e soberanos, juridicamente iguais entre si. Novo principio basilar de paz, 0 do equill- brio entre os Estados, instaurou-se. Com referéncia & soberania, frise-se que, a partir do século XVI, ela comegou a receber tratamento teérico. A primeira obra te6rica sobre so- berania foi Les Six Livres de la République (1576), de Jean Bodin, Nesta famosa obra, Bodin afirmou ser a soberania um poder absoluto e perpé- tuo — ilimitada ¢ sem tempo certo de durago, A estas caracterfsticas outros autores, posteriormente, somaram a inalienabilidade. Jé nos tiltimos ester- tores da Idade Moderna, em 1762, foi publicada a obra Do Contrato So- cial, na qual seu autor, Jean Jacques Rousseau, demonstrou a indivisibi- lidade da soberania. Por fim, vétias obtas especificas de Direito Internacional Pablico foram publicadas no perfodo em cogitagio, tais como: Fundamenta juris nature et gentium (1705), de Christian Tomasius © Jus Gentium (1749), de Christian Wolf. 5. Idade Contemporanea (1789 — nossos dias) 5.1. Da Revolugao Francesa (1789 d.C.) ao fim da Primeira Guerra (1918 d.C.) 5.1.1. Resenha histérica Com a ascensio politica de Napoledo Bonaparte, terminou a Revolu- sao Francesa (1799). Napoledo sagrou-se Imperador da Franga (1804), devendo-se a ele o infcio do movimento de codificagio — aprovaram-se, entre outros, o Cédigo Civil Francés (1804) ¢ 0 Cédigo Comercial Fran- c8s (1807) — e 0 conceito de nagdo. Ademais, Napoledo, por meio de guerras de conquista, comecou a ampliat o territério da France, tendo anexado, por exemplo, a Austria. Contudo, a constante rebeldia dos sub- metidos, 0 fracasso do “bloqueio continental” (contra a Inglaterra) ¢ a derrota fragorosa do exército francés na Russia puseram por gua abaixo © sonho napolednico: construir a “Grande Franga”. Napoledo foi deposto e exilado, Conseguiu escapar do extlio, retornou & Franca, foi reconduzido 390 R. Inf. legisl, Brosilia o, 29 m, 115 jul./set. 1992 a poder sob as aclamagdes do povo. mas definitivameme fracassou na Batalha de Waterloo, na Bélgica, diante de Lord Wellington (1815). No- vamente exilado. morren em 1821. esquecide. Derrotado Napoledo, organizou-se o Congresso de Viena (1813), pa ra a restruturagio do mapa politico evropeu, Chegow-se até 20 estabeleci- mento de uma alianga militar, 2 Santa Alianga, que logo malegrow. A influéneia das decisoes tomadas no Congresso de Viena se fez sentir até 1830. Neste ano ¢, mais tarde, no ano de 1848. eclodiram as chamadas “Revolugées Liberais”. por meio das quais a burguesia definitivamente se impos, tendo-se observado a derrocada das monarquias absolutistas ¢ a difusio do sistema parlamentarista de governo ¢ do constitucionalisme Fendmeno de amplissimo alcance que se consolidow no periodo em tela foi a Revolucio Industrial. Iniciada na Inglaterra, em virtude. mor- mente, da abundineia de capital, de tecnologia e mio-de-obra que este pais reumia, espraiou-se para outros paises da Europa e do resto do mun- do. A industrializago gerou a necessidede de mercados fornecedores de matérias-primas, bem como de consumidores de produtos industrializados. Detrse inicio, assim, a uma nova corrida colonialista, durante a qual a Ingtatcrra e 4 Franca construiram os maiores impérios coloniais do mun- do: 0 do primeiro pais atingit a extensio maxima de 24 milhdes de qu lémetros quadrados eo do segundo. a de 9.6 milhdes de quilémetros qua drados. Disputaram-se. basicamente, terras da Africa e da Asia Chegou ao seu termo, em 1871, 0 processo de unificagio da Itélia eo da Alomanha — até entio diyididas cm reinos. principados. cidades e ducados independentes —, com base no nacionalismo, Apés tais pro- cessos, lancaram-se também ‘estes dois paises. impelidos pelo motor da industrializacdo, & conquisia de coldnias. Ademais, o fim do século XIX assistiu & ascensiia dos Estados Uni- dos, que. por volta de 1895, j4 cram considcrados a maior poténcia indus- trial do globo, Ti na alvorada do sécwlo XX. © panorama mundial encontrava-se tenso. A disputa de mereados foi levando as relacées entre as pote europdias, a pouco e pouco, ao desgaste, A Europa assemelhava-se a um arri} de pélvora prestes explodit. Infelizmente, ele explodiu: a causa imediata fora o assassinato, por um estudante, do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trona austriaco. quando em visita oficial & Bos- nia, uma ptovineia da Sérvia (1914). Irrompia, assim, a primeira grande conflagrasio mundial, alimentada, hasicamente, por dois blocos de paises: a Triplice Alianga, da qual participavam o Império Alemfo (2.° Reich), © Império Austro-Hiigaro ¢ © Reino da Italia (que, em 1915, retirou sew apoio). ¢ a Triplice “Entente”. composta por Inglaterra, Franca © Riissia. Apés quatro anos de combates. que contaram. alids, a partir de [917 com a participagiio dos FUA, acabou a guerra com a rendicéo da Alema- cisl. Brosilio. a. 29m. 115 jub/sct, 1992 21 nha e seus aliados (1918). Por fim, foi deposto o Kaiser alemo, esface- fou-se o Império Austro-Hingaro e foi derrubado 0 czar russo pelos socia- listas (1917), tendo-se instaurado, em 1922, a Unido Soviética. 5.1.2, Contribuigio Diferentemente do perfodo anterior, em que se péde observar 0 auge dos Estados soberanos, este perfodo foi marcado por um esforgo de insti- tucionalizagdo da ordem internacional. Assim, por exemplo, realizou-se, em 1815, 0 Congreso de Viena, que, apesar de imbuido de um intuito de associaeao orginica de Estados, efetivamente no vingou. Outrossim, durante este periodo, o Direito Internacional Piblico viu- se robustecido no que s¢ refere & positivagao. Realizaram-se conferén- cias internacionais de vulto, dentre as quais se destacaram: a) a Primeira Conferéncia de Paz de Haia (1899), em que se criou a Corte Permanente de Arbitragem, para se dirimirem controvérsias entre os Estados interessa- dos, e em que se assinaram convencées sobre guerra terrestre e huma- nizaggo da guerra; b} a Segunda Conferéncia de Paz de Haia (1907), na qual o Brasil foi representado pelo conspicuo baiano Rui Barbosa, que defendeu a igualdade entre os Estados de maneira téo brilhante e erudita que the foi atribufdo 0 epiteto “Aguia de Haia”, ¢ na qual se celebraram convengées sobre abertura de hostilidades de guerra, sobre direitos e deve- res dos paises neutros e sobre limitagdo do uso da forga para co- branga de dividas dos Estados, entre outras matérias. Ganhou especial relevo, ademais, a arbitragem como solugéo de con- flitos internacionais. Com a expansio imperialista da Europa na América, Africa e Asia, surgiu a tendéncia de considerar-se 0 Direfto Internacional Pablico como destinado a reger exclusivamente as relagdes entre os Estados europeus. Ora, nisto estava embutida a idéia, nutrida pelos europeus, de que s6 a Europa era civilizada. Esta concepso foi sendo alterada paulatinamen- te, em virtude da independéncia das colénias européias na América (como © Brasil), da organizago destes novos pafses independentes (os EUA, “e.g.", emetgiram como grande poténcia industrial) ¢ da propria atuagio de juristas, inclusive brasileiros. Finalmente, mencione-se que houve importante produgéo cientifica neste periodo. Citem-se, verbi gratia, as obras seguintes: Digest of Inter- national Law (1906), de J. B. Moore, Traité de Droit International Public (1922 — 1926), de Paul Fauchille, © Evolugo do Direito Internacional (1908), de Joao Cabral. 5.2. Do Fim da Primeira Guerra Mundial (1918 d.C.) ao inicio da Segunda Guerra Mundial (1939 d.C.) 392 R. Inf. legisl. Brosilio a. 29 |S jul.feet, 1992 5.2.1. Resenha histérica Este periody foi deveras conturbado, prenhe de crises politico-sdcio- econémicas. As humilhantes condi provocur uma crise de serii Ges impostas a Alemanha acabaram por nela imas proporedes. A Itdlia. a despeito de terse afastade da Triplice Alianga e¢ Intado bravamente ao lado da “Entente Cordiale”. no obteve qualquer beneficio material por isto Alem disso, os Estados Lnidos. impossibilitados de exportar, em far ga escala, os produtos confeccionudes durante a guerra. basicamente por causa do reerguimento econdmico-industrial da Esropa. foram envolvides por uma crise de superproducao de_ gig que acabou abalando profundamente a economia mundial, Todo este quadro problemitive fortaleceu concepsdcs politicas de ultrae direita, como o nazismo ¢ 9 fascismo, suxgidos para se poder fazer frente a0 socialisma, altamente atracnie f camels pobres, a mais atingidas pelos coroldrios destas crises: inflacto. descmprego, ete. Originaramsse, por conseguinte, os regimes iotalitirios, come © de Hitler. na Alemanha, ¢ 9 de Muscolini, na Ttafia. Enfim, proparou-se © terreno para a eclosiio da Segunda Grande Guerra (1939 — 1945), 5.2.2. Contribuigdo Agsinaram-se os watados de paz que puseram termo, oficialmente, primeira Guerra Mundial. Foram eles: a) o de Versalhes, com a Alema- nha; b) o de Sint Germain, com a Austria; c) 9 de Neuilly, com a Bul- giria: d) 0 de Triaon, com a Hungria, Mereé destes tratados, consti- tuiuse a Sociedade das Nacdes, a primeira organizagdo internacional de vocacite universal. Seu escopa era o de garantir a paz no mundo. Insti- tuiu a Corte Permanente de Justica Internacional, em Haia (1920). Cone tudo. ndo iugrow éxito: hd até quem considere que sts inoperancia foi vm dos fatores determinantes da Segunda Guerra Mundial. (re os grandes doutrinadores deste periodo, mencionem-se Hans Keisen (1881 — 1972), Santi Romano (1885 — 19471 © Max Huber (1874 — 1960). 5.3. Do Inicio da Segunda Guerra Mundial (1939 d.C.} a nossos dias 5.3.1. Revenha histérica Em 1.’ de setembro de 1939, Hitler invadiu 2 Poldnia. Em resposta, Inglaterra e Franga, aliadss da Polonia, aos 3 de setembyo, declararam guerra Alemanha. Eclodiu, assim, a Segunda Guerra Mundial. um dos mais horrendos conflitos & que a humanidade ja assistiu. Teve como pro- R. Inf. leg Brosilia @. 29 nm, 115 jul-/set, 1992 393 tagonistas dois grupos de pafses: 0 dos Aliados, do qual participavam os EUA, a Inglaterra ¢ a Franca, ¢ 0 do Eixo, composto pela Alemanha, pela Itélia ¢ pelo Japio. Acabou de forma trégica: com o langamento de duas bombas at6micas, uma sobre Hiroshima ¢ outra sobre Nagasaki. O saldo das hostilidades foi abominével: foram gastos cerca de 1,5 trilhifo de délares; faleceram aproximadamente 50 milhes de pessoas; os palses europeus eo Japio foram arrasados, despontando como superpotfncias os EUA ¢ a URSS; foi a Alemanha partida cm duas: Repiblica Federal da Alemanha, com capital em Bonn, ¢ Repablica Democrética Alem, com capi- tal em Berlim Oriental. A Segunda Guerra mudou radicalmente os destinos do homem, todos 08 aspectos. Dividiu-se 0 mundo em dois grandes blocos: o capitalista, sob a égi- de dos Estados Unidos, e 0 socialista, sob a hegemonia da URSS. Formou- se também o bloco dos nao-alinhados, cujos componentes, em dltima and- lise, Seaberam por aproximar-se mais de um ou de outro dos blocos men- jonados. Instaurou-se a chamada “Guerra Fria”, que teve por base as dispu- tas ¢ rivalidades entre os EUA e a URSS e que gerou um novo e preo- cupante clima de tensio, uma desenfreada corrida armamentista e uma constante ingeréncia das duas superpoténcias na vida de outros povos. Chegou-se mesmo a cogitar da possibilidade de ocorréncia de uma terceira guerra mundial. Por outro lado, os antigos impérios coloniais europeus comegaram @ desintegrar-se. Um a uma, as antigas colénias na Africa ¢ Asia libertaram- se do jugo das metrépoles européias, geralmente por meio de conflitos armados. A tftulo de ilustracio, podem ser citadas a sangrenta indepen- déncia do Quénia, em virtude da atuagio do grupo dos “maumau” e a guerra de independéncia da Indochina, liderada por Ho-Chi-Min. O cené- rio internacional passou a ser povoado de diversos novos Estados. Nunca o homem progrediu tanto como nos tltimos tempos. Naves nio-tripuladas singram © espago infinito. Satélites artificiais giram em tor- no do planeta, facilitando enormemente as comunicagdes. A Medicina tem conquistado vitérias atras de vitérias. A Eletrénica e a Cibernética abrem movas perspectivas para o futuro. Os meios de transporte e comunicagiio tém-se desenvolvido tanto, que nenhum pafs do mundo se acha comple- tamente isolado dos demais. Os computadores revolucionam as concepgoes do conhecimento humano, estando presentes em quase todas as atividades humanas, direta ou indiretamente. Mais ¢ mais tem o homem penetrado nos segredos do étomo, da matéria e da propria energia. Nosso planeta tem sido palco de choques armados locais e regionais, como a Guerra do Vietna, a Guerra da Coréia, a Guerra dos Seis Dias, 398 R. Inf. logist, Brasilia a, 29 m, 115 jul/eet, 1992 as lutas entre faccdes religiosus no Libano © a se falar da escalada terrorista Guerra Iri-Lraque, sem Graves crises 1ém afetado, de tempos cin tempos, 0 bom andamento da economia mundial, como, por exemplo, as provecadas pela alta dos preces do petrdleo, em 1973 © 1980. Tem-se robustecido as grandes companhias multinacionais, ow trans- nacionais. A partir da década de 1980, os ramos da hist6ria mee alterado bas- tante, com a afirmacaa, no quadro politico ¢ econdmico, de novas forcas Devido principalmente & aiuacio do lider sovigtieo Gorbachey © de Ronald Reagan, Presidente dos EUA de 1980 2 1989, mudou o didlogo entre as duas superpaténcias. o que permitia uma aproximagao maior en- tre o Leste e © Oeste ¢ tormou factivel um efetivo plano de desarmamen- to. A URSS procurou abrir-se politicamente, através da chamada “perese troika”; rompettse o monopdlio de poder do Partido Comunista Soviético. © que permitia 0 aparecimemto de noves forges politicas em territério da URSS. Esta abertura, porém. provocou a lragmentagio total do pais. Praticamente todos os regimes comunistas do Leste Europeu ruiram solapados por fortes movimentos populares. O pr Muro de Berlim, simbolo da divisio do mundo, foi demolide, tendo sido seus pedagos Ieiloados. Outrossim, n&o se pode mais accitar, hoje, a bipolarizasao politica, porquanto hd paises que, como a Chin. reconbecidamente “passoram a exercer papel de destaque no quadro politico mundial No campo econdmico. novas furgus ganharam espago. como, por exemplo, 0 Tapio ¢ © Mercado Comum Europeu. exemplos de recupera- Gio industrial A prépria consciéncia do homem, em geral, transformou-se deveras. surgindo movimentos a favor da yalorisicio da’ mulher, de respeito aos direitos humanos e de protecdo da ccologia 5.3.2. Contribuigéo Apesar do ceticismo demonstrado. durante as duas guerras mundiais (em virtude das crises ¢ problemas peli humanidade enfrentados neste perioda), com relacio ao Direite Internacional. tem cabido ao labor dot- trindrio e ao prdéprio relacionamento entre os Estados a reafirmagao da existéncia e da efetividade deste ramo da Ciéncia [uridica. Isc. 992 395, R. Inf. legisl. Brasilia a. 29 9. 115 j Assim, tem-se publicado livros de peso sobre o assunto, tais como: Natureza Juridica do Mar (1943), de Breno Machado Vieira Cavalcanti; Curso de Direito Internacional Piblico (1968), de Celso Albuquerque Mello; e Direito e Relagdes Internacionais (1971), de Vicente Marotta Rangel. Ademais, grande mimero de novos Estados soberanos se_constitui- ram a partir do movimento de descolonizagdo da Asia e da Africa, o que provocou o aumento da comunidade internacional e das proprias rela- ses intergovernamentais. © entrelacamento dos povos, devido, em grande parte, a facilidade dos meios de comunicagao e transporte, tem gerado conseqiiéncias mui impor- tantes, tais como: @) a assinatura de varios documentos intergovernamen- tais (por exemplo, a Carta do Atléntico, de 1941, assinada pelos EUA e pela Gra-Bretanha); b) o surgimento de varias organizagdes internacionais, entre as quais se destacam a ONU (que abrange todos os paises, excetuada a Suiga), o MCE e a CECA; c) a celebragdo, cada vez mais constante, de tratados internacionais, dentre os quais pode ser citado o Tratado de Itaipu, entre Brasil ¢ Paraguai, para a construgio da usina hidrelétrica hom6énima, As conquistas e inovagdes tecnoldgicas, por sua vez, tém também exigido a intervengéo do Direito Internacional Public, o que pode ser comprovado pela assinatura, em 1967, de significativo tratado sobre explo- ragio € uso dos espacos césmicos, sobre a Lua e demais corpos celestes. Tem 0 Direito Internacional PUblico assumido crescente preocups- go com o homem ¢ com o préprio meio ambiente, o que se infere com astro, por exemplo, na Declaracdo Universal dos Direitos Humanos (1948), na Convengio para a prevencao da poluigio do mar por hidrocarbone- tos (1954), na Convengio de Genebra sobre Alto Mar (1958) e na Conven- go sobre Responsabilidade Civil no Ambito do Transporte Marftimo de Material Nuclear (1971). Finalmente, mencione-se 0 Tribunal de Nuremberg, criado apés a Se- gunda Guerra Mundial, qual julgou crimes praticados durante este con- flito, efetivando a responsabilizacdo de pessoas fisicas no ambito inter- nacional. 6. Conclusdes Apesar de o Direito Internacional Piblico ser considerado um ramo relativamente novel da grande 4rvore que é a Ciéncia Juridica, suas mais distantes origens positivamente confirmadas remontam a Idade Antiga, com os primeiros tratados e a atividade diplomética, se bem que autores haja que sustentam a possibilidade de tais origens se localizarem em fases ainda anteriores. 396 R. Inf, legisl, Brasilia a. 29 nm. 115 jul./eet. 1992 Para que o Direito Iniernacional Ptiblico assumisse um carater defi nitivamente cientifies © auténome, com prineipios norteadores proprio. conttibuiram decisivamente: a a influgncia da filosofia crista, que trouxe a idéia de unidade do género humano; b) o deseobrimento da América, fruto day grandes navegagdes. por ter criado a necessidade de definirse a mureza das relagdes enire os colonizadores (portugueses ¢ espanhdis) ¢ os € ter tornado ainda mais visivel @ esisténcia de uma comunidade internacional; cl a obra de quatro grandes eseritores, a saber, Francisco de Vitoria, Francisco Suarez, Alberico Gentili c. prineipalmente, Hugo Grécio (in “De Jure Belli ac Pacis’. 1625), Desde entao, a respeito do Direito Internacional Piblico tém sido excritas numerosas obras de vulto. Com a celebragio do Tratado de Westphalia (1648), inspirado, alias, na obra de Hugo Grécio, originaram-se dois conceitos fundamentais: 0 de Estado © 0 de soberania. A partir dai, incugurow-se um periodo de co- existéncia, fundado no equilfbrie de Estados absoluiamente soberanos. limitando-se 0 Direito” Internacional Publico a repéneia das relagdes entre cles Entretanto, com © tempo, 0 relacionamento entre os Estados sofreu paulatinas modificaeoes, passando da politica de mera coexisténcia para a de colaboragiv, © que se comprova com a celebragdo, cada yer mais freqiiente, de tracados. © com o surgimento de diversas organizacdes © associagdes internavionais. (Tudo isto yevela a prépria relativizacdo do coneeita de sobersnia.) Nao se pode pensar, porém, gue toda esia evolucio se tem dado de mancira linear, unsiorme. Muito pelo conivirio: foi caracterizada por idas © vindas, altos © buixos, Exemplificativamente, mencione-se que. no eorrer do século XVI, 0 Direito Inicrnacional Ptiblico foi enalisado e conside- rado sob a luz do justaturalismg e, dos séculos XVI] ao XIX, sob o prisma da voncepcio positivista, da qual derivou. digw-se de passage, 0 curocen- trismo, ji versado neste estudo. Outressim, nao se pode esquecer do ce- ticismo reinante no perfodo entre as duas guerras mundiais. Assim, 0 que se pereebe. apesir de regressos em certas fases histér cas, & a tendéncia progressiva de revonhecimento © ampliagio do Direito internacional Puiblico, em todos os sentidus. podendo ser ele hoje definido come sendo © complexo de nermas que regem, alm dos direitos ¢ deveres internacionais dos Estalos. os dus entidades a cles aniilogas, das organiza- g6es internacionais, dos homens ¢ da propria humanidade. Acreditamos que seja v Dirvito Internacional Pablico © grande instru- mento de que o homem poderd utilizar-se. doravante, para regulamentar e controlar 8 conseqiiéncias negativas, no Ambito internacional, do progresso e da tecnolgia — por exemple, a polui terresire, io dos mares, ou da atmosfera R. Inf. fegisl, Brasil 2.29 on, 115. julvset, 1992 397 Por fim, como produto da prdpria atividade humana, o Direito Inter- nacional Publico vai ser influenciado por todas as transformagées por que © homem est4 passando na fase atual e iré passar no futuro. 1, Bibltografia ACCIOLY, Hildebrando, Manual de Direito Internacional Piibiico, Sho Paulo, Saraiva, 1972 BLOCH, G. La Repiblique Romaine, Conflits Politiques et Soctauz, Paris, 1918. BURY, J. B. e outros. The Cambridge Medieval History, Cambridge, 1911- 1936, CROUZET, Maurice. Histdria gerat das civilizagées, Séo Paulo, Difel, 17v. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, Bio Paulo, Saraiva, 1977. DELUMEAU, Jean. 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