Sie sind auf Seite 1von 2

João Ruivo (www.rvj.

pt/ruivo)

Avaliação: a proximidade e a cegueira


A avaliação de um professor é uma acção com enormes consequências no seu futuro
pessoal e profissional. Conhecidos os resultados dessa avaliação, tudo, ou quase tudo,
está por fazer. É com base nos dados recolhidos pelo avaliador e pelo avaliado que se
traçam as grandes linhas de actuação que estão para vir. Ou seja, as actividades de
melhoramento ou de remediação do desempenho do professor começam precisamente
aí.

Por isso mesmo, o resultado da avaliação é tido como um dado de presságio que, em
contínua espiral de desenvolvimento, deve acompanhar toda a carreira do professor,
adaptando-se às necessidades pressentidas em cada um dos diferentes estádios
profissionais que ele atravessa.

O processo de avaliação, assim entendido, terá que merecer uma aceitação indiscutível
por parte de avaliadores e de avaliados. Até porque o professor, em determinadas
situações avaliador de si próprio, deve contribuir para que seja dispensável a ajuda
externa dos seus supervisores, já que a avaliação deve encaminhá-lo para estádios de
mestria, e para progressivos níveis de excelência, conferidos pelo auto-controle e pela
auto-formação. Nestes contextos a classificação pode até ser um prescindível elemento
da avaliação… Daí que se diga que o principal objectivo do supervisor é… tornar-se
dispensável.

Temos dito e repetimos: em Portugal vivemos um período de pura cegueira sobre esta
matéria. Há quem entenda que a implementação séria de um modelo de avaliação dos
professores é tarefa administrativa, resultando apenas de progressivos consensos
gerados à mesa de negociações.

E, de todo, não o é! Pelas implicações pessoais e profissionais que pode determinar, um


modelo de avaliação de professores é coisa muito mais séria… Tem que contemplar a
soma das actividades em que ele se desdobra e em que se envolve. Logo, deve apreciar
o professor enquanto profissional, mas também como pessoa, como membro de uma
comunidade, como técnico qualificado na arte de ensinar e como especialista das
matérias que ensina. Portanto, requer a intervenção, desde logo dele próprio, mas
também de outros agentes que sobre ele se pronunciam. E todos esses intervenientes do
processo avaliativo, para que consigam alcançar o exercício pleno da sua missão,
carecem de uma formação específica e especializada em supervisão e em observação de
actos pedagógicos.

Na sociedade do conhecimento e da informação, requer-se também a montagem de uma


rede de comunicações, em que a vídeo gravação e a observação à distância tenham lugar
de destaque; assim como se deve promover o recurso à hetero-observação, à autoscopia,
à vídeo-conferência e à circulação de portefólios digitais, enquanto recursos, meios e
produtos indispensáveis ao desenvolvimento de docentes que, diariamente, lidam com
jovens da geração FarmVille.

Um sistema de avaliação de desempenho de docentes requer ainda tempo para ser


testado e validado, antes de ser generalizado. Impõe uma escolha criteriosa das escolas
que irão constituir a amostra, bem como dos instrumentos e dos agentes que vão avaliar
esse pré-teste. Obriga a uma escolha prudente dos futuros avaliadores, após se ter
procedido ao estabelecimento de um perfil desses supervisores. Impõe a rápida
formação dos professores e dos seus avaliadores… Isto é, a implementação de um tal
sistema requer tempo e a afectação generosa de recursos humanos e financeiros.

Não me parece ser este o caminho escolhido pela tutela. Esta está mais apostada em
proceder a um rápido remendo administrativo, ou a uma reforma semântica, de um
sistema de avaliação burocrático e siadapiano, que até hoje apenas provou que nada
vale. Diz-se que estão perto de um consenso. Oxalá a proximidade não provoque a
cegueira!

João Ruivo
jruivo@almada.ipiaget.pt

Das könnte Ihnen auch gefallen