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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÒRIA

CAPITULO 1 – HISTÓRIA

1. O TERMO HISTÓRIA:

O termo História é antigo os gregos foram os primeiros a utilizá-lo por


influência de Heródoto, que deu o título de Histórias ao resultado de suas
viagens pesquisas acerca das Guerras Médicas: historia, originalmente,
significava aquele que apreende pelo olhar, (aquele que sabe, o testemunho,
aquele que testemunhou com seus próprios olhos os acontecimentos.).
“História” (“his” + “oren”) significava apreender pelo olhar aquilo que se
sucede de modo dinâmico, ou seja, testemunhar os acontecimentos, os fato.
O termo assumiu o sentido particular de busca do conhecimento das
coisas humanas, do saber histórico. História passou a significar busca,
pesquisa e também os resultados compilados na obra histórica. Realidade
histórica: conjunto dos fenômenos pelos quais se manifestou, se manifesta ou
se manifestará a vida da humanidade a realidade objetiva do movimento do
mundo e das coisas.

CONCEITO DE HISTÓRIA:

Como vimos anteriormente o que o historiador procura estudar não é o


passado enquanto tal, mas ações humanas, fatos sociais ou políticos
analisados através do tempo: estuda o que os homens fizeram, pensaram ou
sentiram enquanto seres sociais. História é vida, é movimento, é
transformação.
No entanto a compreensão do presente e o estudo do passado não se
relacionam entre si de forma mecânica, estreita e determinista. A História,

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como as outras formas de conhecimento da realidade, está sempre se
constituindo: o conhecimento que ela produz nunca é perfeito ou acabado.
È importante lembrar também que o historiador não é homem neutro,
imparcial e isolado de sua época. O mundo de hoje contagia de alguma
maneira nos afazeres do historiador, refletindo-se na reconstrução que ele
elabora do passado.

2. O AGENTE DA HISTÓRIA:

O agente da História é o Homem.


O Homem produz cultura e faz história, produz objetos e idéias de acordo
com suas necessidades de sobrevivência.

4. CULTURA:

Cultura é a maneira de manifestar vida de um grupo humano. É o


conjunto das diversas formas naturais e espirituais com que os
indivíduos de um grupo convivem, nas quais atuam e se comunicam e
cuja experiência coletiva pode ser transmitida através de vias simbólicas
para a geração seguinte.

A forma de
vivermos em
comunidade e uma
das estruturas de
nossa cultura

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FONTES HISTÓRICAS:

Fontes são vestígios (documento) que permitem a reconstituição do passado


eles podem ser:
− Arqueológicos: restos de animais, utensílios, fósseis, ruínas de templos,
palácios e túmulos, esculturas, pinturas, cerâmicas, moedas, medalhas, armas,
etc.
− Escritos: códigos, decretos, tratados, constituições, leis, editais, relatórios,
registros civis, memórias, crônicas, etc.
− Orais: tradições, lendas, mitos, fábulas, narrações poéticas, canções
populares, etc.

Também as
caricaturas
podem ser
uma FONTE
Histórica

6. FATO HISTÓRICO:
O fato histórico é o objeto de estudo da História. É um acontecimento
determinante para a compreensão história e objeto de estudo do historiador.

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7. PERIODIZAÇÃO HISTÓRICA:

No mundo Ocidental ficou caracterizada uma periodização tradicional


herança dos historiadores franceses, No entanto esta divisão tradicional da
História é hoje bastante contestável porque uniformiza os vários períodos
quanto a sua importância, conduz à idéia de hierarquia nos vários
acontecimentos, leva em consideração apenas a civilização ocidental e
demonstra a fragilidade desta compartimentação, relegando fatos históricos
também considerados importantes e que ocorreram no Oriente.

A Periodização Tradicional:

Não é possível determinar quando os homens começaram a medir o


tempo. Certamente a primeira medida de tempo foi o Dia, espaço de tempo
entre o nascer e o por do sol. Posteriormente se organizou os dias em meses e
os meses em anos.
Usamos a idéia de ano, sobretudo em ralação ao nosso nascimento: Tenho
12 anos de vida, tenho 15 anos. Mas, quando começou a contagem do tempo
em anos? Quando começou o ano 1?
Entre os cristãos, o ano um é o nascimento de Cristo. O tempo anterior ao
nascimento de Cristo é escrito assim: a.C (antes de Cristo) e posterior é
escrito d.C. (depois de cristo) ou sem indicação, por exemplo: 1975.
Porèm nem todos os povos adotam o calendário cristão (calendário
gregoriano, instituído pela Igreja Católica no séc. XVI, para adequar o
anterior (Juliano romano) às suas festividades religiosas). Muçulmanos,
judeus e os chineses, por exemplo, têm sistemas próprios de demarcação de
tempo.

A contagem dos Séculos


Por convenção os anos são escritos com algarismos arábicos
(1966,1996,2001 etc...) e os séculos com algarismos romanos (XV,XVI,XVII
etc...).
Para saber a que século pertence um ano especifico existe um truque:
some o número 1 ao numero formado pelos dois primeiros algarismos do ano,

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ou ao primeiro se o ano tiver apenas três. Nos anos terminados em 00, o
século correspondente ao número que antecede os dois zeros finais:
1500: século XV.

Nos séculos anteriores a Cristo contam-se em sentido inverso. Assim:

 Do ano 300 ao 201: século III a.C


 Do ano 200 ao 101: Século II a.C.
Para facilitar e tornar didático o estudo da história costuma-se dividi-la em
grandes períodos e em períodos menores. Geralmente um grande
acontecimento para a evolução Humana ou um acontecimento político marca
a divisão entre um período e outro.

Veja no quadro a seguir como os historiadores dividiram a História e a Pré-


História:

Nem todos os historiadores concordam com a


periodização tradicional da História baseada na história
política. existem outras propostas de divisões inspiradas,
por exemplo, no enfoque econômico (modo de
produção), tecnológico-científico, etc.

8. CIÊNCIAS AUXILIARES DA HISTÓRIA

Quem nos responde é um dos maiores historiadores Ingleses :

“As relações entre a história e as outras ciências sociais


(sociologia,antropologia,economia....) são necessárias e
valiosas: o historiador pode beneficiar-se dos métodos
com que os cientistas sociais estudam seus problemas no
presente.” Prof. Edward H. Carr
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CIÊNCIAS AUXILIARES DA HISTÓRIA
Economia estuda os fenômenos relativos a
produção.
Sociologia estuda o homem em sociedade.
Geografia estuda a superfície da terra no seu
aspecto físico e humano.
Antropologia estuda o homem no aspecto
biológico e cultural
Arqueologia estuda as culturas extintas
Paleontologia estuda os fósseis.
Paleografia estudo das escritas antigas.
Epigrafia escritos antigos em materiais
pesados.
Heráldica brasões, escudos e insígnias
Numismática Estudo das medalhas e moedas.

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2 CAPITULO – A PRÉ-HISTÓRIA

A FORMAÇÃO DA VIDA NA TERRA

Chama-se Pré-História ao extenso período que se estende desde o


aparecimento do homem sobre a Terra até à invenção da escrita, cerca de
4000 a.C. venha comigo em mais uma viagem, vamos mergulhar e
acompanhar o surgimento do homem e seu processo civilizador.

A PRÉ-HISTÓRIA: O Início da escalada do Homem

O homem é uma criatura singular. Possui um conjunto de dons que o


torna único entre os animais: diferente deste, não é apenas uma peça na
paisagem, mas um agente que a transforma. Este animal que esta em toda
parte, usando seu corpo e sua mente na averiguação da natureza estabeleceu
seu lar em todos os continentes, mas de fato, não pertence a nenhum lugar
determinado.
A cronologia aproximada do aparecimento do homem sobre a Terra é cada
vez mais recuada: achados recentes na África admitem a existência de seres
humanos há três milhões de anos. Sobre este problema existem duas teses
contraditórias:

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Corrente: Conceito:
MONOGENISTAS O aparecimento do homem
ter-se-ia processado numa
área do globo bem
localizada antes de se
espalhar a outras regiões.
POLIGENISTAS O homem teria surgido
simultaneamente em zonas
distintas do planeta.

De acordo com a teoria da evolução, o desenvolvimento do homem


começou há mais de cinco milhões de anos atrás, (entre 25 e 5 milhões de
anos). Nesta época, o clima era muito mais quente e úmido do que hoje e,
portanto, grandes extensões da áfrica, da Ásia e da Europa encontravam-se
cobertas por selvas tropicais. Nestas matas espessas viviam muitas espécies
de primatas, incluindo aquela que foi o antepassado do homem atual.
No final do Plioceno, as temperaturas começaram a abaixar em todo o
mundo, formaram-se as calotas polares e o clima tornou-se mais seco. A área
das selvas tropicais foi diminuindo, dando lugar a florestas pouco densas e
planícies verdes. Na África Oriental, os hominídeos primitivos (a família dos
primatas a que pertence o antepassado mais direto do homem atual) ficaram
encurralados em zonas de florestas cada vez mais reduzidas.

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Relação evolução do homem e o clima

(Oficinas de história: ed. dimensão ltda)

Como você pode observar no gráfico acima a três milhões de


anos, estas espécies já tinham evoluído até chegar a dois ramos divergentes os
“robustos”, com dentes e mandíbulas muito fortes e os “ligeiros”, de quem o
homem descende, que tinham os dentes e os maxilares mais pequenos. O
tamanho do seu cérebro era semelhante ao do atual chimpanzé, ou seja, um

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terço do cérebro do homem atual e tal como os chipanzés utilizam pedras e
paus como ferramentas rudimentares. Eram desconhecidos os instrumentos
que fabricavam, mas utensílios líticos foram encontrados em muitos países da
Europa, África e Ásia. Os primeiros grupos alimentavam-se de vegetais e de
carnes de animais mortos.
A descoberta do Pitecantropo marcou época no progresso das idéias a
respeito da evolução da humanidade. O primeiro crânio de Pitecantropo foi
encontrado em 1891 pelo pesquisador de origem holandesa, Eugen Dubois,
em Java.
Em 1924, na África do Sul, foi descoberto um crânio de um
hominídeo muito remoto, que recebeu o nome de austrolopiteco, as suas
características o aproximavam do homem arcaico, como, por exemplo, testa
deprimida, os dentes bem unidos, os caninos pouco desenvolvidos, seu índice
cefálico oscilava entre 500 a 600 cm3.
As primeiras espécies humanas desenvolveram-se a partir deste tipo a
cerca de 2,4 milhões de anos, com o surgimento do o Homo habilis (homem
hábil) na cadeia evolutiva, o cérebro já era metade do cérebro do homem atual
foi apelidado de por ser capaz de fabricar instrumentos rudimentares de pedra.
Centenas de milhares de anos depois, o homo habilis deu ascendência a uma
nova espécie, o Homo Erectus, com locomoção bípede, porem ainda eram
muito primitivos, em relação aos homens atuais.
No meio do caminho entre o Homo Erectus, de quem possui algumas
características arcaicas, e o Homo Sapiens existiram varias espécies entre
estas, a mais célebre é o Homem de Neanderthal (Homo Sapiens
Neanderthalensis). Descoberto na Europa, Ásia e África. Suas características
são: perfil do crânio mostra uma fronte baixa, arcadas espessas e caixa
craniana alongada, de tamanho variável.
A tendência atual é, aliais, a de classifica-lo no gênero Sapiens, sob o
nome de Homo Sapiens Neandretalensis. Os primeiros restos fósseis que
podem ser atribuídos com relativa segurança à nossa espécie, Homo Sapiens,
têm mais de 400.00 anos.

PERIODIZAÇÃO CLÁSSICA DA PRÉ-HISTÓRIA:

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Os homens "os únicos objetos da história - de uma
história que não se interessa por um qualquer homem
abstrato, eterno, imutável e perpetuamente idêntico a
si próprio - os homens, analisados sempre no quadro
das sociedades de que são membros. Os homens,
membros dessas sociedades, numa época bem
determinada do seu desenvolvimento - os homem,
dotados de múltiplas funções, de atividades diversas,
com preocupações e atitudes diferentes, que se
misturam, se chocam, se contradizem, acabando por
firmar uma paz de compromisso, um modus vivendi a
que se chama Vida."
Lucien Febvre, 'Combates pela História'

Como já referimos, conhecemos os homem pré-histórico devido aos seus


restos fósseis e aos achados arqueológicos e ao processo de fabrico de
utensílios dos homens pré-históricos.
Costuma dividir-se a Pré-História em três idades, definidas de acordo
com o tipo de material que nelas foi preferencialmente utilizado: Idade da
pedra. Idade do bronze e Idade do ferro. Os poucos conhecimentos que hoje
temos destes períodos derivam, com efeito, do estudo de elementos não
escritos: jazidas arqueológicas, artefatos, desenhos ou pinturas rupestres.

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A IDADE DA PEDRA

Subdivide-se em três períodos: o paleolítico. O mesolítico e o neolítico.

O paleolítico ou idade da pedra lascada

O período chamado de paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, começou


com as primeiras criaturas semelhantes ao homem, que vivam na África
oriental ha cerca de três milhões de anos, e terminou há 10000 anos, quando o
homem descobriu os tecnologia da agricultura. Nossos ancestrais paleolíticos
viviam como caçadores e coletores de alimentos. Como não sabiam cultivar a
terra, nunca estabeleciam aldeamentos durável, eles eram nômades. Portanto
os homens do paleolítico são obrigados a constantes deslocações como forma
de sobrevivência, iniciando-se o processo de sedentarização cerca de 8000
a.C.
O homem desta época trava uma luta invariável contra dois inimigos
mortais: o frio e a fome. Quando seu aprovisionamento de víveres começava
a faltar, abandonavam as cavernas ou os abrigos s e buscavam novos locais
para se abrigar.
O desenvolvimento social humano foi condicionado por essa experiência
de três milhões de anos de caçada e coleta de alimentos. Para continuar a
viver, grupos de famílias constituíram grupos de aproximadamente de 30
pessoas, nos quais os componentes aprendiam a planejar, preparar, colaborar,
e partilhar. Os caçadores ajudavam-se reciprocamente na localização da caça,
já que os empenhos cooperativos resultavam mais funcionais que as ações
individuais. Dividindo a caça, e levando um pouco da carne, para o resto do
grupo, eles fortaleciam o elo social. Assim também agiam as mulheres,
encarregadas da coleta de castanhas, sementes e frutas para o grupo. Os
bandos que não cooperavam na caça e na coleta ou repartição de alimentos
tinham poucas chances de resistir e sobreviver.
As cavernas, bem como a descoberta do fogo. Asseguram-lhe amparos
contra o frio. Armas talhadas em sílex ou outra pedra cortante, rudimentares
na época do Pitecantropo e do Sinantropo (paleolítico inferior), mais
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aperfeiçoadas com o homem de Neanderthal (paleolítico médio) e ainda mais
com o homem de Cromagnon (paleolítico superior) permitem vincular a caça
e a pesca aos produtos da colheita e representam já um importante arsenal
utilitário.
Embora o progresso humano tenha sido muito vagaroso durante
alongados Séculos, algumas realizações desse período influíram fortemente
no Paleolítico.

A Arte Rupestre

A arte pré histórica é inseparável da magia e da religião. Acredita-se


que as pinturas rupestres seriam destinadas a facilitar as caçadas (magia
simpática).
Entre treze e doze mil anos atrás, esses povos buscaram a segurança
e o silencioso no interior das cavernas — que eles possivelmente
consideravam santuários — e, à luz de tochas, pintaram nas paredes
figuras de animais que revelam notável habilidade e esperteza. Ao
desenhar um animal com uma lança no flanco, é provável que os artistas
pré-históricos acreditassem que isso lhes traria sucesso na caçada; ao
desenhar uma manada de animais, provavelmente acreditavam que assim
a caça seria farta.
Então com certeza poderíamos afirmar que as pinturas rupestres faziam
parte ao mesmo tempo de um ritual sagrado e de uma representação do
cotidiano do homem pré-histórico.
Aventurando mais ainda em nossa argumentação, poderíamos dizer
que as pinturas rupestres serviam como primeiras escolas informando aos
jovens caçadores como deveria ser sua o seu procedimento na caça.

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(pinturas rupestres em Altamira, Espanha).

A Religião no paleolítico

Foram os povos do paleolítico também que deram início à prática de


sepultar os mortos — às vezes com oferendas, o que sugere uma crença na
vida após a morte.

NEOLÍTICO:

Há cerca de dez mil anos, teve início no Oriente Próximo a Idade da


Pedra Polida, ou período neolítico. Nessa época, o homem descobriu como
cultivar a terra domesticou animais, estabeleceu aldeamentos, poliu

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ferramentas de pedra, fez cerâmica e aprendeu a tecer. Tão importantes foram
essas realizações que são chamadas de Revolução Neolítica.
A Revolução Neolítica esta baseada na agricultura e a domesticação de
animais e realmente elas transformaram a vida na a pré-história. Enquanto os
caçadores e coletores do paleolítico eram compelidos a utilizar qualquer
recurso que a natureza colocasse à sua disposição, os agricultores do neolítico
modificavam o meio em que viviam de modo a atender a suas necessidades.
Em vez de gastar tempo à busca de grãos, raízes e frutos, as mulheres e
crianças cultivavam.
Homens podiam abater os animais domesticados. A agricultura deu
origem a um novo tipo de sociedade ao favorecer o surgimento de povoados
permanentes, uma vez que os agricultores tinham de viver próximo dos
campos que cultivavam e podiam armazenar alimentos para os tempos de
carestia.
As aldeias alteraram os padrões de vida do homem do neolítico. O
excedente de alimentos permitiu que alguns indivíduos dedicassem parte de
seu tempo ao refinamento de suas habilidades corno produtor de cesto ou
instrumentos. A necessidades de matérias-primas e as criações de artesãos
habilidosos fomentaram as trocas. Muitas vezes através de longas distâncias e
estimularam a formação de povoamentos de comércio. Começa então a
emergir a noção de propriedade privada.
Os caçadores haviam acumulado poucos bens. Já que os pertences
representavam um fardo quando tinham de se deslocar de um lugar a outro. Já
os homens sedentarizados tinham a noção e a posse de propriedades e
pretendiam protege-las de qualquer um que queira toma-la, e que por acaso
atacassem a aldeia. Portanto é nos grupamentos agrícolas, que surge uma elite
governante possuidora de possui riqueza e domina o poder.
Os povos neolíticos fizeram grandes avanços na tecnologia. Modelando
e cozinhando o barro, construíram recipientes de cerâmica para cozinhar e
armazenar alimentos e Água. A invenção da roda do ceramista permitiu a
fabricação mais rápida e precisa de cuias e pratos. Amolando a pedra na
rocha, obtiveram instrumentos afiados para diversos fins. A descoberta da
roda e da vela melhorou o transporte e promoveu o comércio; o
desenvolvimento do arado e a atrelagem dos bois facilitaram aos agricultores
a tarefa de cultivar a terra.
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Durante o neolítico, o provimento de alimentos tornou-se mais regular, a
vida nos aldeamentos melhorou e a população cresceu. As famílias que
adquiriram riqueza passaram a ter uma posição social mais elevada e
assumiram a liderança da aldeia A religião tornou-se mais formal e
estruturada; os espíritos naturais foram convertidos em deuses, cada qual com
poderes específicos sobre a natureza ou a vida humana. Foram construídos
altares em sua honra, e realizaram-se cerimônias conduzidas por sacerdotes
cujo poder e riqueza aumentavam com as oferendas feitas pelo povo aos
deuses. A sociedade neolítica tornava-se mais organizada e complexa; estava
no limiar da civilização.

Idade dos Metais


O período neolítico marca também o inicio do uso dos metais. O cobre,
que era facilmente transformado em instrumentos e armas, foi o primeiro
metal a ser utilizado. As ferramentas e armas fabricadas com ele duravam
mais tempo do que as feitas de pedra e pederneira. E podiam ser refundidas e
consertadas, quando se quebravam. Com o tempo, descobriu-se como fazer o
bronze, combinando o cobre e o estanho em proporções adequadas. O bronze
era mais duro que o cobre o que permitia dar-se um gume mais afiado aos
instrumentos.

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UNIDADE II –
As Civilizações Antigas do Oriente

Introdução unidade

Na Unidade II, você vai trabalhar as civilizações antigas e os conceitos


necessários a apreensão do conhecimento sobre elas, civilizações que em
muito contribuíram para nossa cultura, as civilizações do oriente próximo
são até os dias de hoje estudadas pelos historiadores.
O surgimento da Civilização não foi um acontecimento inevitável, mas
sim um ato da criatividade humana. As primeiras civilizações surgiram há
cerca de cinco mil anos, nos vales dos rios da Mesopotâmia e do Egito. Ali,
os seres humanos estabeleceram cidades e estados, inventaram a escrita,
desenvolveram religiões organizadas e construíram grandes edifícios e monu-
mentos — tudo o que caracteriza a vida civilizada. A ascensão do homem à
civilização foi longa e penosa. Cerca da história humana se desenrolou antes
do surgimento da civilização, ao longo das extensas eras pré-históricas

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Cap 1 O Crescente fértil

Introdução

A região do crescente fértil

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• Egito
A Localização e a Importância do Nilo para o Egito.
Há mais 10000 anos, quando os primeiros habitantes pré-históricos se
estabeleceram na região nordeste da África, devido a profundas alterações
climáticas que ocorriam na área saariana, depararam-se com um ambiente
impar. Um poderoso rio, que hoje conhecemos como Nilo, com margens
férteis, cruzava uma extensa área desértica seguindo seu curso por mais de
950 quilômetros. Ao Sul o Nilo vencia as regiões rochosas, que
proporcionavam-lhe um aspecto filiforme ( que tem forma de fio) ; já ao
Norte dilatava-se, ramificando-se em uma série de canais que desaguavam no
Mediterrâneo. Os egípcios históricos denominavam estas regiões distintas de
“as duas terras”: o Alto e Baixo Egito. O Alto Egito compreende toda porção
do vale, enquanto que o Baixo Egito é formado pela região do Delta.
A área fértil junto ao rio, com verdejantes pastagens, bosques de
papiros e árvores de pequeno porte, contrastava com a aridez avermelhada
dos desertos da Líbia á Oeste e Arábico à Leste. A terra fértil era chamada
pelos egípcios de Kemet, literalmente “a negra”. Já o deserto era denominado
Desheret, ou “a vermelha” em egípcio. Os antigos egípcios se
autodenominavam de “remet ne Kemet”, cuja tradução é “povo do Egito”, de
certa forma se conectando a terra fértil habitável, enquanto que ao deserto
associavam idéias de limites, terras distantes, cemitérios, em suma, todas as
áreas fora de seu ambiente quotidiano. Mas as regiões desérticas também
serviam de barreira contra eventuais ataques de povos estrangeiros, embora
não impedissem a circulação de caravanas que partiam a procura de matérias
primas minerais ou viajavam para realizar trocas comerciais.
O Nilo é para o Egito a fonte de toda vida, o próprio historiador
grego Heródoto já havia afirmado, por volta de 450 a.C., que “o Egito é uma
dádiva do Nilo”. Sua cheia anual dava início à estação akhet, ou da
inundação. A cheia trazia consigo sedimentos aluviais que garantiam a
fertilidade dos campos.
No período seguinte, a estação peret ou da lavra, que corresponde aos
meses de novembro a março, os campos eram preparados para o cultivo do
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trigo, da cevada e do linho. Para garantir o crescimento e a vida das
plantações, canais de irrigação eram escavados próximos ao rio. O
abastecimento de água era feito com o shaduf (nome árabe do artefato) que
contém um recipiente para água em uma extremidade, e na outra um
contrapeso que serve para elevá-la.
Na última estação chamada shemu, período correspondente aos
meses de março a junho, era efetuada a colheita. Mas um rio que trazia
benefícios também representava perigo. Animais como crocodilos e
hipopótamos estavam presentes em todas as regiões e eram responsáveis pela
morte de adultos e crianças.
O Nilo foi também a principal via de comunicação do Egito, unindo
seus habitantes. Barcos navegavam para o Norte seguindo a corrente e para o
Sul aproveitando os ventos durante o ano todo. Tal como a agricultura, a
pecuária também foi importante para a economia egípcia, criava-se o gado
vacum, o caprino, o ovino e o suíno.
As aves, a exemplo de patos e gansos, eram também criados ou
capturados nos pântanos. Entre os animais de estimação estavam os cães, os
gatos e macacos. Os cavalos só foram introduzidos no Egito com a chegada
dos Hicsos – entre 1640 e 1532 a. C.

Egito e sua periodização histórica

O PERÍODO PRÉ-DINÁSTICO (5000-3200 ªC.):

O Pré-dinástico Primitivo, implica na instalação definitiva do


modo de vida neolítico no Vale do Nilo, no sexto milênio (5500-4000 a.C).
Os primeiros grupos sedentários se estabeleceram no Delta do nesta época o
Baixo Egito experimentou um excepcional desenvolvimento que desencadeou
na metade do milênio V a.C, o surgimento dos primeiros assentamentos
urbanos. Estes centros urbanos se organizaram em organização territorial
chamada Nomos.
No final do Período Pré-dinástico (entre o V milênio e o 3200
a.C.) destacaram vários centros - Nagada, hieracómpolis, Tinis - em conflito
permanente entre eles. Levado a formação de dois Paises O alto e o Baixo

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Nilo. Como já vimos o fator geográfico também influenciava nesta divisão.
Antigos relatos egípcios, foi um rei do Alto Egito, chamado Menes, o
primeiro a unificar os “dois reinos”. Desde aquele momento os reis egípcios
poderiam governar o Alto Egito e o Baixo Egito e um dos muitos nomes
usados para o país foi "os dois paises", referindo-se a dualidade original do
Egito. A unificação promovida por Menes ou Narmer (3.300-3.100 a.C), pos
fim ao período Pré-dinástico e deu inicio ao período Dinástico propriamente
dito.

O PERÍODO DINÁSTICO:

O ANTIGO IMPÉRIO (3200-2300 ªC.):

O Fundador da 1ª Dinastia I foi Aha, filho de Menes também


fundador da cidade de Menfis. Neste período o faraó passa a ser considerado
um ser divino identificado com Horus, o deus falcão. Está sobre a protecão
da deusa do Norte (Nekhbet, a deusa abutre) e a do sul (Uadjet, a deusa
cobra). Durante as primeiras dinastias observamos um desenvolvimento
urbanístico e arquitetônico bastante grandes. As casas e as tumbas são de
pedra,maiores e mais sofisticadas que as do período pré- dinástico.
A pesar da unificação, a dualidade continuou vigente durante toda a
historia antiga do Egito, sobre todo na Administração, onde cada reino seguia
sue chefe. A escritura Hieroglífica se desenvolveu, desde do uso de figuras
de animais expressando conceitos materiais, para passar a expressar sons e
sílabas alem dos ideogramas. Desde a Antigüidade, os egípcios dividiam o
ano em três estações, cada estação quatro meses e cada mês três semanas de
10 dias. Isto fazia que o ano tivesse um total de 360 dias. Mas tarde
acrescentaram 5 dias que simbolizava os dias de nascimento de cinco de suas
grandes divindades: Osiris, Isis, Seth, Neftis y Horus. Grandes Obras
Hidráulicas são realizadas e a população participava ativamente destas
empreitadas. A construção das grandes pirâmides (túmulos): Quéops,
Quéfren e Miquerinos foram realizadas no Antigo império e demonstram o
conhecimento arquitetônico e organizacional muito grande .

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Entre as causas que levaram ao fim do Antigo Império se encontram
os excessivos impostos para a manutenção do culto funerário e do crescente
poder dos sacerdotes e da nobreza, os diretos individuais, e as normas reais
tinham que satisfazer a um numero maior de interesses. Este período de caos
administrativo os egiptólogos chamam de 1º período intermediário.

O MÉDIO IMPÉRIO EGÍPCIO (2000-1580 ªC.):

O Médio Império se conhece também com o nome de Império Tebano, já


que a capital passou a ser Tebas. Foi formado pelas dinastias XI-XVII. O
faraó Mentuhotep II conseguiu reunificar o Egito. O deus de Tebas, Amón, se
convertera no deus nacional. A religião se democratiza mediante o culto ao
deus Osíris, cuja suposta tumba na cidade de Abydos se converteu em um
lugar de peregrinação. As classes servis obtiveram privilégios da realeza.
Os faraós mais notáveis foram os da XII dinastia, submeteram os príncipes
e monarcas restabelecendo a unidade, eles que criaram as bases sociais
necessárias para estender a influenciam egípcia a todo o oriente próximo.
Depois da morte de Amenemhat III, o poder absoluto dos faraós tebanos se
debilitou progressivamente, o país se submergiu em um novo caos e na
desbordem, o que favoreceu a invasão dos hicsos.
Hicsos é uma palavra que em Egito antigo significa regente de um pais
estrangeiro, invasores que irromperam no Egito em tono de 1730 a.C. , são
definidos como reis pastores e reis estrangeiros , é possível que se trate de um
povo de origem asiática, utilizaram cavalos, que os egípcios não conheciam,
em sua conquista. Tendo sido o primeiro povo a conquistar o Egito.

O NOVO IMPÉRIO EGÍPCIO (1580-525 ªC.):

O faraó Amosis expulsou os hicsos iniciou o Período do Novo Império


reunificando o Alto e o baixo Egito. Seus sucessores começaram a expansão
até o noroeste, chegando em varias campanhas até os rios Jordão e Eufrates,
Amenofis I Iniciou a construção do templo de Karnak, deste período vários
faraós são nossos conhecidos como a Rainha Hatsepsut (provavelmente a
primeira mulher a reinar no Egito), Amenofis IV (conhecido por ser o faraó

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herege Ahkenatón que levou a Egito do politeísmo ao monoteísmo
reconhecendo um único culto ao deus Aton), o famoso Tutankhamon. Na a
XIX Dinastia. Temos o faraó mais famosos graças aas suas construções
espanhadas por todo o Egito, Ramsés II, que depois de derrotar os Hititas na
batalha de Kadech, fortaleceu-se no império reinando durante 66 anos.
Depois de Ramsés III o Egito se enfraqueceu et por volta de 670 a.C. , os
assírios invadiram e dominaram o pais , seu domínio durou pouco porem o
Egito e novamente conquistado pelos persas após a batalha de é ser
conquistado pelos persas comandados pelo rei Cambises, transformado o
Egito em uma colônia do império persa.

Sociedade e cultura do Egito antigo

A sociedade egípcia era Teocrática o faraó se identificava como um Deus, no


entanto a estratificação social era possível

Escrita
A palavra hieroglyphica tem origem grega significando “as (letras)
sagradas esculpidas”, daí derivam “hieroglífica” e “hieróglifos”. O Estudo da
escrita egípcia está longe de ser concluído,e seu surgimento e debatido alguns
estudos recentes apontam-na como uma invenção autóctone, já outros
pesquisadores insistem na influência ou na importação da Mesopotâmia. Para
os egípcios a escrita era uma invenção do deus Toth, o qual decidiu ensiná-la
aos homens contrariando a uma ordem de Ra.
Os primeiros hieróglifos a aparecerem são na maioria legendas,
escritas sobre artefatos variados, incluindo nomes de personagens históricos.
No Período Tardio os egípcios empregavam duas escritas distintas, na
realidade derivados cursivos da Hieroglífica, respectivamente a Hierática e a
Demótica. Estas três escritas deixaram de existir com a conquista romana,
sendo substituídas pelo Copta - o qual baseia-se no alfabeto grego. Com o
advento do cristianismo o sistema egípcio de escrita, considerado pagão, caiu
em completo desuso.

23
A escrita egípcia é formada por três tipos de sinais (ideográficos,),
cada um com um valor gramatical diferente. Os sinais ideográficos
representam uma palavra completa. Os sinais fonéticos representam um som
específico .

A PEDRA DE ROSETA E A DECIFRAÇÃO DOS HIERÓGLIFOS

Entre as peças descobertas pela campanha de Napoleão a mais célebre é,


sem dúvida a “Pedra de Roseta”. Esta foi encontrada em 15 de julho de 1799
próxima a cidade costeira de Roseta, a moderna Rashid, no delta do Nilo por um
grupo de soldados que cavavam os alicerces de um fortim sob o comando do
oficial Pierre Bouchard. A pedra de Roseta trás 14 linhas de hieróglifos (na parte
superior), 32 linhas escritas em demótico (ao centro) e 54 linhas em grego (na
parte inferior). A importância deste documento foi percebida pelos franceses antes
mesmo de sua transferência para o Cairo, pois a escrita grega poderia ser
comparada com a egípcia. Tal fato impulsionou a pesquisa de inúmeros estudiosos
europeus da época, que trabalharam a partir de cópia impressas das inscrições.
Dentre os estudiosos que deram os primeiros passos para a decifração, em
1802, destacam-se Sylvestre de Sacy e Johan Akherblad. Ambos conseguiram
identificar os nomes gregos e em seguida isolaram seus equivalentes na escrita
demótica O hieróglifos persistiram enigmáticos até 1814, ano que o inglês Thomas
Young (1773-1829) iniciou seus estudos. Com o mesmo procedimento dos
estudiosos supracitados ele isolou os grupos grego e demótico, percebendo então
que o sistema de escrita demótica deveria ser semelhante a hieroglífica e que este
sistema era uma mescla de caracteres
O processo da decifração foi completado pelo francês Jean-François
Champollion (1790-1832), o qual seguiu quase os mesmos passos de Young. Em
seus estudos Champollion sabia que eram necessário comparar várias inscrições
que tivessem os mesmos hieróglifos. No princípio de 1822 ele conseguiu uma
cópia de uma inscrição, que provinha de um obelisco de Philae, onde estavam
escritos os nomes de Ptolomeu e Cleópatra em hieróglifos e grego. Ele conseguiu
isolar cada valor dos sinais que compunham os dois nomes e comparou-os em
seguida. Este procedimento foi aplicado para outros nomes identificáveis. Ao
término de 1822, Champollion publicou Letre à M. Dacier relative à l’Alphabet
des Hiéroglyphes phonétiques a qual mencionava que os sinais fonéticos possuíam
diversas aplicações. Seu trabalho culminou com a obra Precís du système
hiéroglyphique, escrita em 1824, onde toda a lógica da língua foi exposta. Tal obra
marcou o nascimento de uma nova ciência: a Egiptologia. 24
Adaptado texto Prof. Moacir Elias Santos (Egiptólogo)
A religião egípcia

A religião egípcia pode se dizer que seja a más completa das religiões
antigas. Homens e mulheres adoravam a muitos deuses e buscavam a
proteção divina em todos os aspectos da vida cotidiana.
Também os corpos celestes e os fenômenos cósmicos podiam assumir
aspecto de divindades. O povo egípcio não tinha um conceito transcendente
dos deuses; supunham que o cosmo a natureza (o vento, a chuva, as cheias do
Nilo... etc) eram os resultados de uma ação divina.
O estudo do fenômeno religioso no Antigo Egito requer a analise das
crenças de diferentes regiões e cidades. Os habitantes pré-históricos do vale
do Nilo provavelmente praticaram um fetichismo totêmico. Una serie de
novas divindades ocuparam o lugar das primitivas crenças e entre o ano 3000
a.C., e o séc IV da era cristã prevalecendo o politeísmo. Neste processo os
deuses maiores absorveram as divindades menores. Conhece-se mais sobre a
forma dos deuses doque sobre as crenças associadas a estas divindades. Os
deuses do antigo Egito revelam variedade e complexidade, assim como
formas estranhas.
No Egito se adoravam as divindades que tinham a faculdade de
mostrasse com aspecto humano ou com aspecto de animal ou ambos
(humano-animal), portanto a religião egípcia é antropozoomorfica. Há
deuses antropomorfos, zoomorfos e híbridos. A composição das imagens
divinas com corpo humano e cabeça de um determinado animal exprime uma
mistura entre o pensamento antropomorfo (abstrato), e as aparências animais
(força natural). As imagens não representam sua forma real, apenas refletem
uma idéia do divino.
Certamente para cada deus era prestado um culto local, mas alguns
transcenderam estes limites, sendo adorados em regiões vizinhas. Isto pode
ser associado ao crescimento do poder político de determinada localidade.
Alguns deuses adquiriram proeminência nacional, um bom exemplo é Amon,
primeiramente adorado em Hermópolis e posteriormente, através de seu

25
sincretismo com Ra, tornou-se Amon-Ra garantindo sua ascensão a deus
nacional, permanecendo assim até o final da história egípcia.
Culto aos mortos era popular entre os egípcios: a alma descia ao mundo
subterrâneo para ser julgada por Osíris. A parte material do homem, seu corpo
o “khat” devia mumificasse e alcançar a imortalidade. O “ka” era o duble da
pessoa que deixa o corpo quando morre. Os egípcios faziam um imagem do
morto, e a colocavam na tumba e a proviam de bebida e alimentos para evitar
que sofresse fome.

Um aparte na história religiosa egípcia “A revolução Monoteísta”

O rompimento entre Amenófis IV, Faraó do Egito (1364-1347 a.C.), e o


Clero de Amon em Tebas no quarto ano de governo desse Faraó se deu em
circunstâncias nebulosas, como já vimos, mas o fato é que, depois disso, o
Faraó, virou o Rei apóstata que fez cair todos os deuses de seu pedestal
passando do politeísmo ao monoteísmo. Só um Deus: O Disco solar Aton. A
historia de Egito se pode dividir entre dois momentos: antes de Amenófis IV
e depois de Amenófis IV.
O próprio Monarca mudou seu nome para Akhenaton (“É
Benéfico a Aton”) e, a partir dessa data, iniciou a maior
revolução teológica do Egito até então. Procurou uma
região distante que não teria sido consagrada a
nenhum deus onde fundou uma nova capital para o
Egito: Akhetaton, “O Horizonte de Aton”. .Mas não
só uma revolução religiosa, as estruturas religiosas,
sociais e artísticas mudaram radicalmente, esta
reforma artística é notada principalmente nas
representações das próprias características físicas
do Faraó representado de forma mais simples
dentro de características de um homem normal sem
grandes atributos e músculos desenvolvidos.

O Faraó Akenaton

26
Trecho do Hino a Aton Composto por Akenaton

“O calor para que te sintam a ti.


Fizeste o céu distante para ali te elevar,
e para abarcar tudo o que fizeste.
No tempo em que estavas só,
Surgindo na tua forma Aton vivente,
Aparecendo brilhando, recuanto ou
aproximando.”
(100 textos de história antiga. São Paulo:
contexto, 1988. P 56-9.)

Mitologia egípcia
Representação Deus
Amon: um homem com uma
barba curva, coroado com
duas plumas. Seu nome
significa “oculto”, daí sua
associação com os ventos. À
princípio era deus integrante
da Ogdoáda, junto com sua
esposa Amaunet e
posteriormente deus padroeiro
de Tebas. Associa-se com
Min e Ra. Os animais à ele
consagrados eram o carneiro e
o ganso.

27
Anúbis: um homem com
cabeça de chacal, ou um
chacal deitado. Era filho de
Osíris e Néftis. Deus dos
mortos e do
embalsamamento. Protetor
das necrópoles e das múmias.

Bastet: uma mulher com


cabeça de gato segurando um
sistro. Associada a Sekhmet e
Tefnut. Representa os poderes
benéficos do sol. O animal a

ela consagrado era o gato.

Bes: um anão com feições


leoninas. Às vezes é
representado portando facas e
instrumentos musicais,
destinados a afastar o mal.
Estritamente doméstico
protegia os lares, partos, e
crianças.

28
Hórus: um homem com
cabeça de falcão com a coroa
do Alto e Baixo Egito, ou um
falcão. Filho de Ísis e Osíris.
Dentre as várias formas de
Hórus podemos citar:
Horakhti, “Hórus dos dois
horizontes”, identifica-se com
Ra, chamado então de Ra-
Horakhti, o sol do meio dia;
Ísis: mulher que traz um
hieróglifo em forma de trono
sobre a cabeça. Era a mãe
simbólica do rei e senhora da
magia. Esposa de Osíris e
mãe de Hórus. Identifica-se
com a deusa Hátor.

29
Osíris: homem com barba
curva, portando a coroa
branca com os cetros do
Alto e Baixo Egito, ou
mumiforme com os
referidos paramentos.
Adorado primeiramente
como deus ctônico e da
vegetação, posteriormente
tornou-se juiz e rei dos
mortos, estritamente ligado
ao culto funerário.
Ptah: homem enfaixado,
como uma múmia,
portando um cetro formado
por vários amuletos. Deus
protetor dos artesãos e
criador do mundo em seu
mito cosmogônico.

30
Ra: homem com cabeça de
falcão coroado com o disco
solar circundado pela serpente
Uraeus. É o deus-sol em seu
explendor. Possui numerosas
associações (Kepri, Atum,
Amon e Hórus)
Sekhmet: mulher com cabeça
de leão coroada com o disco
solar. Seu nome significa “A
Poderosa”. Personifica os
poderes destrutivos do sol.
Associa-se a Bastet e Mut.

Seth: homem com cabeça de


um animal desconhecido, ou
este animal. Primeiramente o
deus que defendia Ra contra a
serpente Apópis, elevado a
deus nacional durante o
Segundo Período
Intermediário, e
posteriormente associado às
forças caóticas. Personifica as
tempestades e trovões.

31
Toth: homem com cabeça de
íbis, segurando os
instrumento da escrita, ou um
íbis e ainda um babuíno. Deus
O MITO DE OSÍRIS da escrita, das ciências e do
conhecimento.
“ Osíris e Ísis foram os responsáveis pelos conhecimentos dos antigos
egípcios; os ensinaram a agricultura, as leis, a confecção de artefatos, em suma
tiraram o povo da barbárie. Ao civilizar os egípcios Osíris resolveu partir,
continuando sua missão na terra.
Osíris era invejado por Seth, devido a seus atos. Aproveitando-se da
ausência de Osíris, Seth decide tomar o trono e resolve conspirar contra ele:
ordenou(Adaptado
que construíssem uma Moacir
texto prof arca esplêndida com as(Egiptólogo))
Elias Santos medidas de Osíris. Ao
regresso do irmão, Seth homenageia-o com um banquete. Durante a festa Seth
exibiu a arca, e esta seria um presente para o convidado que nela coubesse.
Quando Osíris entrou na arca, suas medidas ajustaram-se perfeitamente, foi
então quando Seth ordenou a seus conjurados que a lacrassem. Em seguida a
arca foi jogada no Nilo, chegando, posteriormente ao mar.
O mito então descreve a agonia de Ísis e suas peregrinações em busca do
corpo de Osíris. A deusa acaba chegando a Bíblos, onde transforma-se em uma
jovem e descobre o local para onde a arca havia sido levada. Ao retornar ao
Egito, de pose do corpo de Osíris, Ísis decidiu escondê-lo em um pântano do
Delta. Em seguida Ísis viaja, e Seth acaba encontrando o cadáver, enquanto
caçava. Tomado pelo ódio, Seth partiu o corpo de Osíris em quatorze partes e as
espalhou pelo Egito. A deusa Ísis, auxiliada por outras divindades, percorre o
país na busca pelos restos de seu marido. Treze partes foram recuperadas, e
novamente unidas. Através dos conhecimentos de Anúbis, Osíris foi mumificado.
Ísis utilizando-se de sua magia, conseguiu despertar Osíris para uma nova vida e
por um instante o casal concebe Hórus. Outros mitos concluem esta história, a
qual resume-se nas lutas de Hórus e Seth pelo trono do Egito. Depois de uma
disputa de mais de oitenta anos, o poder é conferido a Hórus, o qual torna-se rei
do céu e da terra, enquanto quer seu pai partiu para governar o outro mundo.
Se analisarmos os mitos supracitados veremos que estes justificam o mito
do rei divino, na qual o faraó era descendente dos deuses, e conseqüentemente
dono de todo universo ordenado. O faraó enquanto governava era identificado
com Hórus, depois de morto se equiparava a Osíris. Outra grande influência do
mito de Osíris refere-se ao costume da mumificação. Osíris havia sido o primeiro32
ser submetido a este processo, conseguindo assim, passar à uma nova vida. Tal
como Osíris toda pessoa que seguisse os rituais prescritos, e tivesse seu corpo
mumificado se equiparava ao deus, podendo viver eternamente. Os mortos são
freqüentemente referidos nos textos como “Osíris Fulano”, expressão que
significa “o falecido fulano”.”“.
Adaptado texto Prof. Moacir Elias Santos (Egiptólogo)
33
AS CIVILIZAÇÕES DA MESOPOTAMIA

Mesopotámia é uma palavra grega que significa “terra entre rios”. Foi
ali, nos vales do Tigre e do Eufrates, que teve início a primeira
civilização. O primeiro povo a desenvolver uma civilização urbana na
Mesopotâmia (atual Iraque) foram os sumérios, ao colonizar os
pantanais do Baixo Eufrates — que, somando-se ao Tigre. deságua no
golfo Pérsico.
Pelo trabalho constante e pela imaginação, os sumérios
transformaram os pantanos em campos de cevada e pequenos bosques
de tamareiras. Por volta de 3000 a.C., suas aldeias de cabanas
desenvolveram-se gradualmente em doze cidades-Estado independentes,
cada uma consistindo numa cidade e nas terras que a circundavam. As
realizações dos sumérios são impressionantes: um sistema de escrita
com simbolos em tabletes de argila (cuneiforme), para representar
idéias; casas, palácios e templos sofisticados, feitos de tijolos;
ferramentas e armas de bronze; obras de irrigação; comércio com outros
povos; uma forma primitiva de dinheiro; instituições religiosas e
políticas; escolas; literatura religiosa e secular; formas variadas de arte;
códigos de leis; drogas medicinais e um calendário lunar.
A história da Mesopotâmia é marcada por uma sucessão de conquistas.
Ao norte da Suméria havia uma cidade semita chamada Akkad. Por volta
do ano 2350 a.C., os ácades, liderados por Sargão, o Grande, o rei
guerreiro, conquistaram as cidades sumérias. Sargão construiu o primeiro
império do mundo, que se estendia do golfo Pérsico ao Mediterrâneo. Os
ácades adotaram as formas culturais sumetianas e as difundiram para
além das fronteiras da Mesopotâmia, com as suas conquistas. A religião
mesopotâmica tornou-se uma mistura de elementos dos dois povos.
Nos séculos que se seguiram, as cidades sumerianas foram anexadas a
varios remos e impérios. A língua suméria, substituida por uma língua
semítica, tornou-se obscura, conhecida apenas dos sacerdotes, e os
34
sumérios desapareceram gradualmente como um povo distinto. Mas suas
realizações culturais perduraram. Ácades, babilônios, elamitas e outros
adotaram as formas de religião, arte, leis e literatura sumérias. O legado
sumeriano serviu de base a uma civilização mesopotâmica que manteve
um estilo peculiar durante três mil anos.

1. AS INFLUÊNCIAS DO MEIO FÍSICO-GEOGRÁFICO:

Na Mesopotâmia, a faixa de terra fértil entre os rios Tigre e Eufrates, e


nas zonas adjacentes - onde hoje se erguem Bagdá, Basra e outras cidades
iraquianas -, floresceram sucessivamente os reinos de Sumérios, Acádios,
Amoritas, Hitititas, Cassitas, Assírios e Caldeus.
Nesses territórios, entre muitos outros povos, se originou o mito do
dilúvio universal e se criou uma das primeiras formas de escrita, a cuneiforme.

2. POVOAMENTO DA MESOPOTÂMIA (“terra entre rios”):

• Sumérios
Os sumérios, de origem desconhecida, ocuparam o Sul do vale no
início do terceiro milênio antes de Cristo. A história deste povo está envolta
em muitas lendas – o que parece certo é que os sumérios nos tempos pré-
históricos, já utilizavam formas primitivas de irrigação. Pacíficos,
desempenharam relevante sistema de escrita chamada ''cuneiforme'' e
elaboram leis. Construíram casas de tijolos cozidos ao sol, aplicando o
princípio do arco. Fundaram bibliotecas, escolas e cidades-estados, também
se dedicaram à agricultura, à indústria e ao comércio. Eram baixos,
atarracados, com barba e cabelo raspados.

As mais extraordinárias cidades-estados fundadas pelos sumérios


foram: Ur, Uruk e Lagash. Estas cidades, grandes centros mercantis, eram
governadas por déspotas locais denominados ''patésis'', mas auxiliado pela
aristocracia (sacerdotes e burocratas). Estavam em freqüentes lutas pela
35
imposição da supremacia. A mais importante de todas era Ur, opulenta e
orgulhosa de seu poderio econômico. Com o declínio de Ur, Lagash tornou-se
a cidade hegemônica. O progresso das cidades sumerianas foi interrompido
pelas invasões de tribos seminômades, procedentes do deserto da Síria, entre
as quais destaca-se a dos acádios.

• Acádios

Os acádios, semitas, estabeleceram-se ao Norte da Caldéia. Fundaram


as cidades de Agadê, Sippar e, mais tarde, Babilônia. Com isso dividiu-se a
Mesopotâmia: ao Norte, o país de Acad, ao Sul, o país de Sumer. Começam
então as lutas pela hegemonia entre as cidades sumérias e acádias,
principalmente Ur e Agadê. Triunfou esta última.

O grande rei acádio, guerreiro e conquistador, Sargão I, ''soberano dos quatro


cantos da terra'', foi primeiro monarca da história da Mesopotâmia. O poderio
de Agadê é obra sua, mas com sua morte novas invasões e batalhas pela
hegemonia da região voltam a ocorrer. Sua dinastia iria chegar até o seu
bisneto, e durante esse período os semitas absorvem a cultura dos sumérios, a
sua religião e a sua cultura.

As cidades sumérias revoltaram-se. Lagash, sob o comando de


Gudea, reconquistou o poder. Outros povos semitas atacaram a região: os
Guti. Semitas e sumérios se confundem facilitando a restauração do poderio
dos sumérios, que iria durar pouco tempo.

• OS AMORITAS Primeiro Império Babilônico

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Babilônia era a capital dos amoritas, e de uma pequena cidade do
Eufrates se tornou à sede do poderoso império e grande centro comercial.
Hamurabi (1792 a 1750 a.C.) - O mais famoso soberano de Babilônia,
foi o verdadeiro fundador do Império. Fortificou a capital, cercando-a com
muralhas, pois os territórios da Mesopotâmia foram cenários de incontáveis
batalhas. A Babilônia também é o berço de algumas das primeiras
manifestações literárias: os épicos, as lamentações e as disputas. Estendeu
suas conquistas e realizou grandes obras públicas. Em torno de 1775 A.C., o
rei babilônio Hamurabi redigiu o famoso código legal com penas para os
delitos e transgressões, mas também com disposições de proteção para as
mulheres. O Domínio Cassita, no começo do II milênio, sacudiu o poderio
babilônico por invasões de povos indo-europeus, provenientes da Ásia
Central. Essas tribos bárbaras possuíam o cavalo e usavam o ferro.
Destacaram-se os hititas, cassitas e militanos. Os cassitas estabeleceram-se
nos encostas do Tigre. O cavalo por eles introduzido na região era chamado
pelo povo ''animal das montanhas''. Babilônia caiu em seu poder e entrou em
declínio. Com a decadência de Babilônia, um povo começou a erguer-se nos
arredores de Assur: os assírios.

Império Assírio

37
Os assírios eram semitas, nômades, pastores e caçadores, foram
vassalos dos babilônios por muito tempo. As lutas contra os indo-europeus
favoreceram a sua ascensão. Formaram um pequeno reino com sede em Assur
transferida, mais tarde, para Nínive. A belicosidade do povo, a arides do solo
e a explosão demográfica contribuíram para as conquistas assírias e a
formação de um poderoso império. Os soberanos assírios que mais se
destacaram na luta pela expansão foram: Teglatfalazar, conquistador de
Babilônia, A Sagrão II, fundador da dinastia dos sargônidas, Senaqueribe e
Assurbanipal.Sagrão II (722 a 705 a.C.) apoderou-se do trono pela violência.
Destruiu Samaria, capital do Reino de Israel. Conquistou a Síria e fez do
exército assírio notável instrumento de conquista. Seu filho, Senaqueribe,
estabeleceu a capital em Nínive e continuou as conquistas militares.

Durante séculos, babilônios e assírios - tendo como centro as cidades de


Nínive e Ashur - disputaram o território e se alternaram em sua primazia.
Aproximadamente em 670 A.C., o rei assírio Assurbanipal recopilou a
primeira grande biblioteca da Antigüidade, muito antes da mais famosa em
Alexandria, no Egito.

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Muitos foram os fatores que contribuíram para o declínio do Império Assírio,
destacando-se o tratamento cruel e sanguinário aos vencidos, que eram
cegados e esfolados vivos; pouco interesse pelas atividades econômicas;
revoltas dos povos dominados; expedições militares dispendiosas; intrigas
palacianas. Nabopolassar, de Babilônia, aliado aos medos, sitiou a odiada
Nínive que caiu em 612 a.C. Surgiu o Segundo Império Babilônico.

• OS CALDEUS Segundo Império Babilônico

Com a queda de Nínive, o poder retornou a Babilônia, que se tornou a


mais notável cidade do Oriente. O extraordinário progresso econômico
permitiu o seu embelezamento: templos, palácios, muralhas e os famosos
''Jardins Suspensos''. No centro da cidade, erguia-se o ''Zigurat'', a grande
torre do templo, onde os sacerdotes caldeus observavam os astros.
Nabucodonosor (604 a 561 a.C.) - Foi o mais célebre soberano dos
caldeus. Estendeu as fronteiras do Império até o Egito. Aniquilou os fenícios.
Subjugou os hebreus, levando-os como cativos para Babilônia. No seu
reinado, Babilônia recebeu o título de ''Rainha da Ásia''. Depois da sua morte
o Império Caldeu declinou.
Os sucessores de Nabucodonosor, déspotas sanguinários, viviam no luxo e no
esplendor. Eram freqüentes as lutas internas. Estavam abertas então as portas
ao domínio estrangeiro. O Império Caldeu foi conquistado por Ciro, o
Grande, rei persa, em 539 a.C. Mais tarde, chegaram os gregos, os romanos e
os árabes.

Organização Política

A forma de governo dos assírios e caldeus era monarquia absoluta. O poder


centralizava-se nas mãos do rei, chefe militar, administrador, legislador
supremo, sacerdote máximo e supervisor das atividades comerciais. Não era

39
considerado um ser divino, como no Egito. Mas um cerimonial minuciosos o
separava dos mortais comuns.

Organização Social

A sociedade estava dividida em nobres, sacerdotes versados em ciências e


respeitados, comerciantes, pequenos proprietários e escravos.

Religião e Mitos

A riqueza da região não se esgota, no entanto, em seu legado histórico, legal e


cultural, mas também abarca a originalidade de seus antiqüíssimos mitos, que
foram reinterpretados por sucessivas civilizações até se incorporarem ao
patrimônio da humanidade.

 O mito do dilúvio pode ter-se originado na Suméria com uma


inundação na confluência dos dois grandes rios
aproximadamente no ano de 2900 A.C.. O episódio teve tal
impacto que a Lista Suméria de Reis divide a história em antes
e depois da inundação (os oito reis anteriores são conhecidos
como "antediluvianos"). Um dos posteriores ao dilúvio é
Gilgamesh, que viveu aproximadamente em 2600 A.C. e que
com o tempo ganhou estatura de lenda.
 A arca de Noé tem seu antecessor no mito sumério de
Ziusudra, a quem um deus protetor salvou do dilúvio
instruindo-o para que construísse uma arca.
 Moisés tem um antecedente em Sargon, o rei dos acádios, em
2350 A.C. aproximadamente, colocado por sua mãe em uma
cesta lançada ao rio, e que foi resgatado e criado por estranhos.

Segundo o historiador H.W.F. Saggs, por seus contatos com a Assíria, os


persas foram os herdeiros definitivos do império assírio e transmitiram muitas
das características da cultura assíria e babilônica aos gregos - e, por
intermédio destes, ao mundo inteiro.
40
Os sumerianos eram politeísta e não acreditavam em recompensas após a
morte. Visavam apenas a obter, através da religião, dádivas materiais e
imediatas. Acreditavam que Marduk, depois de lutar contra os deuses
invejosos, criou o mundo e o homem de barro com sangue de dragão.
Conheciam o mito do dilúvio, mandado pelos deuses para castigar a
humanidade.
A religião dos babilônios tinha as seguintes características: politeísmo,
desprezo pela vida além-túmulo, crença em gênios, demônios, heróis,
adivinhações e magia. Seus deuses eram numerosos com qualidades e
defeitos, sentimentos e paixões, imortais, despóticos e sanguinários. Anu,
deus do céu; Enlil, deus do ar, Ea, deusa das águas, Sin, deusa da lua,
Shamash, deus do sol e da justiça, Istar, deusa do amor e da guerra. Os
sacerdotes se esforçam por agrupar os deuses em famílias ou ''tríades''.
Cada divindade era uma força da natureza e do dono da sua cidade.
Marduk, deus de Babilônia, o cabeça de todos, tornou-se deus do Império,
durante o reinado de Hamurábi. Foi substituído por Assur, durante o domínio
dos assírios. Voltou ao posto com Nabucodonosor.Os gênios bons ajudavam
os deuses a defender-se contra os demônios, contra as divindades perversas,
contra as enfermidades, contra a morte. Os homens procuravam conhecer a
vontade dos deuses manifestada em sonhos, eclipses, movimento doas astros.
Essas observações feitas pelos sacerdotes deram origem à astrologia.

41
Economia

A agricultura era a base econômica dos babilônios. A construção de canais


era controlada pelo Estado. Cultivavam trigo, cevada, árvores frutíferas,
legumes. Usavam o arado semeador, a grade e carros de rodas. O artesanato
também era bastante desenvolvido era. Os artesãos fabricavam tecidos,
ferramentas, armas, jóias, brinquedos e cerâmica. O comércio era
influenciado pela situação geográfica, e pela pobreza de matérias-primas,
fatores que favoreceram os empreendimentos mercantis. As caravanas de
mercadores iam vender seus produtos e buscar o marfim da Índia, o cobre de
Chipre e o estanho do Cáucaso. As transações comerciais eram feitas na base
de troca, usando-se também barras de ouro e de prata. Usavam recibos,
escritas, cartas de crédito.

Artes

A arquitetura era a mais desenvolvida das artes, porém não era tão notável
quanto a egípcia. Caracterizou-se pelo exibicionismo e luxo. Construíam
42
templos e palácios de tijolos, por ser escassa a pedra na região. Já a escultura
era pobre, representada pelo baixo-relevo. A pintura mural existia em função
da Arquitetura.

Ciências

A astronomia foi a principal ciência entre os babilônios. Notáveis eram os


conhecimentos dos sacerdotes no campo do Astronomia. A torres dos templos
serviam de observatórios. Previram eclipses. Distinguiram os movimentos dos
planetas. Dividiram o ano em meses, os meses em semanas e as semanas em
sete dias, os dias em doze horas, as horas em sessenta minutos e os minutos
em sessenta segundos. A matemática alcançou grande progresso entre os
caldeus. São considerados os inventores da álgebra. Elaboraram tábuas
correspondentes às tábuas de logaritmos atuais. Calcularam a hipotenusa.
Inventaram medidas de comprimento, superfícies e capacidade de peso.

Letras

A literatura era pobre. Destacam-se apenas o ''Mito da Criação'' e a


''Epopéia de Guilgamesh''. A escrita ''cuneiforme'', grande realização
sumeriana, usada pelos sírios, hebreus e persas mais tarde, foi decifrada por
vários investigadores, destacando-se Grotefend e Rawlison. O código de
Hamurábi não é original. É uma compilação de leis sumerianas mescladas
com tradições semitas. Contém 282 leis, abrangendo os mais variados
assuntos. Suas principais características são: pena de talião , isto é, ''olho por
olho, dente por dente'', desigualdade perante a lei, divisão da sociedade em
classes, igualdade de filiação na distribuição da herança.

O Império Persa

43
Não havia existido até então um império tão grande.
Abrangia um território que ia desde o mar
mediterrâneo até as margem do rio Indo..
Era uma potencia mundial para o mundo
conhecido até então, nos Séculos VI ao
Século IV a.C. Portanto não podemos
estranhar que o soberano do Império persa
se denominava “ o rei dos reis”. Formado
por dois povos os Medos e os Persas ,
povos de origem indo européias,
provenientes de algumas tribos nômades que
emigraram no século XIX a.C. do Cáucaso
para golfo pérsico. Mil anos depois haviam
se estabelecido na parte ocidental do atual
Iran.

Os Medos e os persas

Foram os medos os primeiros a prosperar, se


expandiram pelo oeste até a mesopotâmia e
Ásia menor e a leste até o atual Afeganistão.
Os persas tinham seu próprio fundador
Aquemenes, figura lendária, chefe de um clã
tribal. Construiu seu Império e o manteve unido mesmo
após uma série de invasões de diversos povos, todas repelidas.
No inicio do século VI a.C. , o rei medo Astiages organizou as bodas de
casamento de sua filha com o monarca Canbises I dos persas. O filhos desta
união Ciro foi o unificador dos dois impérios. Ciro não só fundou um império
admirável por sua envergadura com também uma bem estruturada
organização, Parte vital da organização deste novo império era o grande grau
de autonomia que desfrutavam as nações conquistadas. A organização
administrativa facilitou o crescimento do Império com construção de vias e
44
cobranças organizada de Impostos e tributos. Existia liberdade de culto ,
embora o Zoroastrismo fosse divulgado.
O filho de Ciro, Cambises II, de índole violenta e conquistou o Egito
aumentando assim o império.

45
A civilização chinesa “O Império do Centro”

Apesar das influências estrangeiras da época, os chineses instruídos do Período


Han achavam fácil ver o seu país como centro do mundo e sede da verdadeira civilização. Sem
úvida esta convicção intelectual explica em grande parte a sua indiferença ao que acontecia em
outros lugares. Mas outros fatores podem ter contribuído. Por exemplo, a enorme distância
geográfica sempre foi um destes fatores: qualquer lugar que pudesse ter exercido um estímulo
dinâmico (falando em termos culturais) ficava muito longe, e isto tanto manteve a distância
forças potencialmente demolidoras como limitou as chances de experiências da China, o que
poderia ter aguçado a curiosidade dos seus governantes em relação ao mundo exterior. A China
também era auto-suficiente, tanto sob o ponto de vista econômico quanto tecnológico. Possuía
vastos recursos naturais e capazes de os explorar com sucesso.
A era Han também trouxe outros refinamentos e invenções. Os cientistas
criaram a primeira bússola magnética com mostrador e ponteiro, o primeiro
sistema de cartografia, máquinas para registrar terremotos e calibradores com
graduações decimais para artesãos. No entanto, fazendo-se uma retrospectiva, de
todas as inovações do período a mais surpreendente é a descoberta do fabrico do
papel.
Os transportes, e portanto as comunicações, também melhoraram no Período
Han. O leme ligado à popa do navio, em oposição ao grande remo pendurado de
um dos lados, apareceu no século I a.C.; os navios europeus precisaram esperar
por isso cerca de 1.200 anos. Também no tempo da dinastia Han foi desenvolvido
um arreio para cavalos; com isto, cargas muito mais pesadas.
Grande parte da cultura Han se dissipou ou foi destruída nos séculos IV e V,

46
Império Persa
O apogeu do império persa

Se Ciro foi o grande conquistador do Império Dario foi o responsável por


dotar a Pérsia de instituições importantes e base de instituições que chegam
até ao nosso dia; o quadro abaixo mostra como a organização do império
persa foi feita por Darío.

47
Organização do Império Persa
Satrápias Dario dividiu o território em 23
regiões administrativas, as
satrápias. Confiou a sua chefia a
Zoroastrismo pessoas de confiança, que tinham o
titulo de Satrapas.
Religião monoteísta originária da Pérsia, cujos conceitos fundamentais,
em sua maioria, encontram paralelos na filosofia da Grécia antiga, e
acredita-se que influenciaram elementos (principalmente o DUALISMO)
Funcionários reais
da filosofia grega e as teoLogiasTrabalhavam
do JUDAÍSMO,nas satrápias era e
do CRISTIANISMO
formada por um general e por
do ISLÃ. Foi fundada pelo sacerdote e filósofo Zaratustra (ou Zoroastro,
secretário de estado junto
na forma grega), que tradicionalmente se considera ter vivido por volta de
do
satrapa eram responsáveis pela alta
600 a.C., mas hoje se acredita ter vivido por volta de 1000 a.C. ou poucos
hierarquia local, e deviam ordem
séculos antes. O zoroastrismo foi a religião
somente oficial da Pérsia durante um
ao rei.
milênio, mas foi quase extinta após a ascensão e o predomínio do islã no
Correioséculo VII d.C. e hoje sobreviveDario estabeleceu
principalmente na India,
o primeiro
entre os descen-
sistema de correio do mundo,
dentes dos imigrantes chamados constavam de “persas”).
pársis (que significa mensageiros,
utilizavam
Zaratustra rejeitava os cultos caminhosde organizados
PANTEÍSTAS sua época e
proclamou um deus único, Ahura Mazda (“Sábioa Senhor”),
com pousadas cada 15 Km, o queda
a essência
VERDADE e da justiça, que criou o mundo e seus habitantes. Eletodo
permitia a comunicação entre e seus
o império em poucos dias.
anjos-guerreiros (ahuras) enfrentam a oposição de Angra Manyu (ou
MoedaAhriman, “Espírito Maligno”), Dario cunhou uma moeda de ouro o
o criador da maldade e da destruição, e
dárico, para simplificar o
suas legiões de demônios (daevas). O mundode
pagamento é um campoAdecunhagem
tributos. batalha onde
as forças do bem e do mal lutamdepela supremacia.
moedas Zaratustra
era uma pregava
raridade. Estaque
o mundo logo terminaria em um idéia foi copiada dos lídios.
grande holocausto, no qual somente os
bons sobreviveriam. Mas tarde, a cosmologia zoroástrica reviu essa
previsão e dividiu a história do mundo em quatro períodos de 3.000 anos,
o
último dos quais começou com o nascimento de Zaratustra. Nesse período,
surgirão três salvadores sucessivos. O último deles supervisionará a última
batalha, a derrota de Angra Manyu e o Juízo Final, quando os mortos
ressuscitarão e serão recompensados no Céu ou castigados no Inferno (cf.
ESCATOLOOIA). Os seres humanos receberam o livre arbítrio para
escolher o bem ou o mal, e essa escolha enfraquece ou fortalece Angra
Manyu. Escolher o bem resulta na preservação e na perpetuação da vida,
isto é, ter uma ocupação útil e constituir família. 48
A principal escritura zoroastrista é o Avesta, que contém 17 hinos, os
Gathas, atnbuídos a Zaratustra. Esses hinos são o núcleo da liturgia do
yasna, a cerimônia de purificação realizada diariamente por dois
sacerdotes; concentra-se na reverência ao fogo, considerado o
ELEMENTO principal e associado à vida e à verdade. Para evitar a
49
• Israel

Os israelitas, antepassados do povo judeu, instalaram-se em Canaã, o


país da bíblia, provavelmente no séc. XII a.c. embora não fosse tão
poderoso como n seus vizinhos, o antigo reino de Israel teve uma grande
influência na história da humanidade. ao contrário dos seus vizinhos, os
israelitas adoravam um deus único: Jeová, e a sua religião exerceram uma
grande influência tanto no cristianismo como no islamismo.
A história da fundação do povo judeu é contada na Bíblia, que situa as
suas origens na Mesopotâmia, descreve a sua antiga diáspora pelo Crescente
Fértil. Segundo a Bíblia, os israelitas sofreram um longo período de
cativeiro no Egito, onde foram conduzidos por Moisés, através do deserto
do Sinai, para entrar na “terra prometida” de Canaã. Sob a chefia de Josué,
subjugaram a maioria dos povos nativos de Canaã.
Os israelitas organizavam-se em sociedades tribais, chefiadas por líderes
intitulados “juizes”. Eram inimigos dos filisteus, povo guerreiro que vivia
na zona de Gaza, na planície costeira meridional e resolveram fazer-lhes
frente, unindo-se sob um único líder. Escolheram, assim, Saul para seu rei
(1020-1006 a.C.). O seu sucessor, David (1006-965 a.C.), derrotou os
filisteus . A última praça forte conquistada em Canaã foi Jerusalém, que se
tomou a capital do rei David. Existem provas arqueológicas que apóiam a
exatidão do relato da conquista de Canaã e da fundação do reino de Saul.
No Tocante aos feitos militares de David, podem dever-se, em parte, ao fato
do Egito e da Mesopotâmia estarem, nessa época, envolvidos com
problemas internos, não podendo, por isso, deter os avanços de David.
Sucedeu ao rei David o seu filho Salomão (965-928 a.C.), que teve um
reinado pacífico, o que lhe permitiu concentrar a sua atividade em projetos
de construção. O mais importante foi a edificação do templo de Jerusalém,
para guardar a Arca da Aliança, que continha as leis sagradas entregues a
Moisés por Jeová no monte Sinai.

DIVISÃO

50
Apos a morte de Salomão, as tribos do Norte de Israel queixaram-se do
modo como eram tratadas pelo seu sucessor, Reboão (928-911 a.C.). Quando
este se recusou a ouvi-los, desencadeou-se uma revolta que terminou com a
divisão do reino em duas partes independentes: Israel no norte e Judá no sul.

ASSÍRIA E BABILÓNIA

Durante os séc. IX e VII a.C., a principal ameaça para os israelitas foi a


Assíria, que era, naquele tempo, a potência mais forte do Médio Oriente.
Tanto Israel como Judá se viram obrigados a tornar-se estados vassalos.
Houve algumas rebeliões que foram fortemente reprimidas e grande número
de cativos foram deportados para a Assíria.
Quando a Assíria entra em decadência. em 612 a.C., a Babilônia ascende
de imediato ao poder. Em 597 a.C.. Nabucodonosor II, rei da Babilônia,
reprimiu a rebelião de Judá. Jerusalém foi saqueada, o templo de Salomão
destruído e os seus tesouros pilhados. Milhares de judeus foram deportados
para a Babilônia.
Durante estes anos de exílio, os judeus apenas tiveram como consolo o
apoio da sua religião, que os ajudou a conservar a esperança na recriação de
sua terra.

• Os Fenícios

Instalados nas costas mediterrânicas, entre as civilizações mesopotâmia e


egípcias, os Fenícios são essencialmente um povo de marinheiros e
comerciantes. Ugarit, Biblo, Sídon e Tiro são centros comerciais muito ativos,
que disputam entre si uma concorrência permanente.
Os Fenícios, igualmente bons agricultores, trabalham as terras férteis;
mas as colheitas não chegam para alimentar toda a população, pelo que
exploram a madeira de cedro do Líbano, não só para consumo próprio mas
51
também para comerciarem com regiões que possuam as matérias-primas que
lhes faltam: para os Fenícios, exportação e importação são noções familiares.
Excelentes marinheiros, fundam numerosas feitorias costeiras, autênticas
colônias, em Chipre, na Sicília, na Sardenha, na Espanha meridional e na
África do Norte, onde a sua principal colônia é Cartago. As suas importações
são principalmente de metais, marfim, perfumes, papiros, trigo e escravos.
Sua forma de governo era a Talassocracia, isto é governo exercido por
homens que realizam atividades marítimas.
Como o comércio exigia um sistema eficaz de registro escrito, os Fenícios
inventaram um, mais simples do que a escrita cuneiforme da Mesopotâmia e
do que os hieróglifos do Egito. O alfabeto fenício compõe-se de vinte e dois
sinais, que correspondem às vinte e duas consoantes fenícias.

52
UNIDADE DIDÁTICA III –

CIVILIZAÇÕES DO EXTREMO ORIENTE

INTRODUÇÃO

A China a Índia e o Japão , apesar de serem vistos como um território de


bárbaros em geral pelos europeus, estava longe de ser atrasada nos aspectos
que os europeus tanto se vangloriavam. Com uma história muito mais antiga
que a Europa, estas nações possuíam uma sociedade muito avançada em
grandes aspectos tanto políticos, como culturais e sociais.
O comércio era mais avançado, e possuíam rotas (marítimas e terrestres)
usadas até os dias de hoje. A sociedade era muito mais disciplinada, e devido
à falta da ostentação apresentadas pelos ocidentais, tornava-se muito mais
regrada e produtiva, sempre voltada muito mais para o mercado interno. A
elite chinesa também em nada perdia para a famosa nobreza ocidental, eram
cultos e dedicados as artes, adoravam música e teatro e também eram
excelentes comerciantes quando necessário.

53
A ÍNDIA
A Cultura e os produtos da Índia sempre estiveram presentes na
História do Brasil, tendo em vista que, a frota de Pedro Álvares Cabral, que
descobriu o Brasil em 1500 estava em busca das especiarias deste fantástico
país, nos dias atuais a Yoga ( Ginástica e filosofia), dança e vestimentas
indianas são apreciadas em nosso País. A Índia existe uma rica história,
religiosa e cultural, com soluções e renovações que muito contribuíram
para a avanços culturais na Humanidade.

A ÍNDIA HINDU

Inicialmente os primeiros registros sobre a História da Índia se encontram


em vários relatos. Incialmente em importância é uma série de invasões,
organizada por vários povos distintos a partir do noroeste durante o século
III a.C.. Destes povos invasores, um dos mais significantes foi o de Kushan,
que migrara das fronteiras da China e sempre parece ter tido o seu principal
foco de interesse na Ásia Central, mas governou um império que em certa
época se estendeu desde as estepes até Benares, no Ganges. O povo de
Kushan era entusiasta do budismo. Foi na sua época que se começou a
esculpir imagens de Buda (muitas vezes num estilo que mostra influência
grega). Isto ilustrava como o budismo caminhava para ser uma religião como
as outras.
Num determinado momento o povo de Kushan falhou e a Índia se
dissolveu numa mistura de reinos. A unidade política só reapareceu em 320
d.C., com a fundação de um novo império: o gupta. Antes disto, ainda no
apogeu do Império Romano, pode-se distinguir na confusão dos séculos uma
contínua perturbação causada por povos provenientes do noroeste. Estes
recém-chegados trouxeram novas influências (é provável que o cristianismo
tenha aparecido ali no século 1 d.C.), mas nunca suplantaram a contínua e
crescente força da tradição indiana. Na verdade, os invasores também não
penetraram no sul. Mantinha os seus próprios governantes drávidas, não
arianos, e em muitos aspectos era um mundo à parte do norte da Índia
hinduísta, apesar de compartilharem formalmente religião e crença. De
qualquer maneira, no norte e no sul os padrões gerais da vida indiana
54
continuaram sem ser perturbados com as idas e vindas de governantes. Na
época a maioria dos indianos vivia em aldeias mais ou menos auto-
suficientes e não afetadas por fatores externos.

Os guptas
O primeiro imperador gupta, como os seus antecessores da Dinastia Mauria,
estabeleceu a capital em Patna e a sua dinastia governou o norte da Índia
unido a partir do Vale do Ganges. A paz e a certeza de estarem livres de
invasões, sentimentos propiciados pela era gupta, mais tarde levariam muitos
indianos a considerá-la uma época áurea de paz e bom governo, um período
clássico durante o qual muitas artes puderam ser apreciadas pela primeira
vez. Da era gupta sobrevivem os primeiros dos numerosos templos de pedra
ricamente decorados com esculturas, tão importantes para a história da arte e
da arquitetura da Índia quanto as catedrais góticas da Idade Média para o
desenvolvimento da arte européia.
A literatura floresceu; durante o reinado dos guptas começou a longa tradição
do drama popular indiano com base em histórias contidas nos grandes épicos
sânscritos. Também foi uma época de avanços do conhecimento e da
filosofia.
No século V, matemáticos indianos inventaram o sistema decimal, de enorme
importância para a humanidade, que chegou mais tarde ao Ocidente por meio
dos árabes.
Alguns dos mais importantes progressos dos guptas nada tiveram a ver
com a dinastia: foram continuações do hinduísmo clássico. Desde o tempo
dos guptas estão em vigor o complicado sistema hindu de estruturas sociais e
as crenças a ele associadas. As raízes do hinduísmo retrocedem muito no
passado, talvez antes das invasões, pois já nas civilizações do Vale do Indo
eram venerados deuses que podem ter sido precursores do Shiva hindu.

Crença e sociedade
A base da sociedade hinduísta da Índia era o sistema de castas, na época já
proveniente da antiga divisão da sociedade védica em quatro classes. Se
55
existe um princípio prático fundamental no hinduísmo, é viver a vida de
acordo com o lugar de cada um no esquema das coisas. Existiam cultos mais
generalizados, a deuses ou deusas maiores, como Shiva e Krishna. No
entanto existia também um hinduísmo puramente filosófico, bem distante da
crueldade dos sacrifícios de animais e da veneração de imagens que ocorriam

56
em nível. Sua forma mais desenvolvida era chamada de Vedanta,. Ela ensina
que os homens precisavam se desvencilhar deste mundo, conquistando um
verdadeiro conhecimento da realidade, ou brahma.

O SISTEMA DE CASTAS

Sistema de estratificação social da Índia. É o sistema mais rígido, mais imutável e


talvez o mais antigo de hierarquia social, sancionado pelas leis HINDUS e imposto
pela tradição; por extensão, qualquer estrutura de CLASSES rigidamente imposta.
A palavra “casta” significa “linhagem” ou ““RAÇA”, proveniente do latim castus,
“puro”. O sistema baseia-se em quatro divisões (varnas) hereditárias principais que
indicam ocupação, status social e grau de pureza ritual definido há mais de 2.000
anos: brâmanes, ou sacerdotes; xátrias, nobres e guerreiros; vaixás, comerciantes e
agricultores; e sudras, servos e escravos. Em um outro grupo, os Panchamas
(“quinta divisão”), comumente conhecidos como intocáveis ou párias, estão os
excluídos pela sociedade, julgados tão impuros que a sua própria sombra é
considerada poluição.
Atualmente existem cerca de 3.000 subcastas (jati), classificadas segundo o grau
de pureza ou poluição associada à sua ocupação tradicional. A lei das castas
designa um posto fixo e predestinado a cada membro da sociedade; restringe o
relacionamento social e proíbe o casamento fora da casta, e limita a escolha de
profissão. A estrutura é mantida pelas autoridades religiosas, que a consideram a
ordem natural das coisas. O conceito hindu do CARMA, por exemplo, afirma que a
situação atual do indivíduo é determinada por seu comportamento em uma vida
anterior. Apesar das oposições periódicas (o BUDISMO e o SIQUISMO foram
instituídos, em parte, para se oporem), o sistema de castas sobrevive até os dias de
hoje, embora a pressão dos reformadores modernos tenha amenizado algumas
restrições. Mahatma GANDHI criticava com veemência o tratamento dado aos
intocáveis, a quem ele chamava de Harijan (filhos de Deus), e hoje a intocabilidade
é oficialmente ilegal na India, embora ainda persista. Rohmann, Chris, O livro
das Idéias ed Campus.

57
No que se refere à doutrina, o hinduísmo tinha algo para atender a todas as
necessidades. Mas a maneira pela qual funcionava na vida diária tendeu a
torná-lo mais rígido e estrito. Nos séculos V e VI o casamento infantil e a
introdução de uma prática chamada de sati (que forçava as viúvas a se
deixarem queimar nas piras funerárias junto com os restos mortais dos seus
maridos) acompanham muitos outros sinais de que as mulheres tiveram de
aceitar um lugar muito inferior na sociedade com o passar do tempo. No
início, os brâmanes permitiam que as mulheres tivessem acesso ao
conhecimento das escrituras védicas, mas isto acabou.

58
O budismo

O mais importante dos sistemas


inovadores, no entanto, foi o
ensinamento de Buda, “o Iluminado”,
ou “Sábio”, como se pode traduzir o
seu nome. O seu fundador, Siddharta
Gautama, não era um brâmane, mas
príncipe de uma classe guerreira do
início do século VI a.C. Depois de
receber uma educação aprimorada e
cavalheiresca, achou sua vida
insatisfatória e saiu de casa.
Passou, então, sete anos de
ascetismo, antes de começar a
pregar e a ensinar. Estabeleceu
uma doutrina austera e ética,
cujo objetivo era o de conquistar
a libertação do sofrimento
conseguindo acesso a estágios
mais elevados de consciência.
Buda ensinou aos seus
discípulos a se disciplinarem e a
repelirem os desejos, para que
nada impedisse a alma de
conseguir o estado do Nirvana,
uma união com a realidade final
ou com a bondade que ele
acreditava existir além da vida.
Pela anulação pessoal, os homens
poderiam conseguir se libertar do
círculo infindável de renascimento e
transmigração, que era o padrão da
existência ensinado pela religião do
seu tempo e posteriormente pelo
59
hinduísmo. Buda parece ter tido grande habilidade prática e de organização,
inquestionável integridade ética e uma personalidade que rapidamente o
tornou um mestre popular e bem-sucedido. Evitou se opor ao bramanismo. O
surgimento de comunidades de monges budistas deu à sua obra um cenário
institucional que sobreviveria a ele. Buda também ofereceu um papel aos
insatisfeitos com a prática tradicional, em particular às mulheres e aos
seguidores de castas inferiores, pois aos seus olhos a casta era irrelevante. No
entanto, o que ficou conhecido como budismo, a religião desenvolvida pelos
seus seguidores a partir dos seus ensinamentos, talvez não expresse
verdadeiramente os seus pontos de vista, isentos de características
ritualísticas, simples e ateístas. Assim como todas as grandes religiões, a
doutrina de Buda assimilou muitas crenças e práticas preexistentes. Depois
da morte de Buda ( 483 a.C.), esta flexibilidade ajudou ao budismo obter
grande popularidade para se tornar à religião mais difundida na Ásia e uma
força poderosa na História mundial.

Outros invasores

Por volta do ano 500 a Índia voltou a se dissolver em pequenos


principados. Em breve seria novamente devastada por invasores vindos do
noroeste O mesmo aconteceu com os árabes que vieram a seguir e
conquistaram o Punjab num certo período do século VIII. Sua chegada, no
entanto, inaugura a história do islamismo na Índia. Com o islamismo também
vieram outras influências. A partir de então, as culturas das Cortes indianas
foram fortemente marcadas pelo estilo e pela moda dos persas.
Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à costa de Malabar
pouco antes de 1500, e lentamente contornaram a Baía de Bengala na
segunda metade do século XVI, ali estabelecendo entrepostos comerciais.
Akbar pediu a alguns deles que enviassem à sua Corte missionários letrados
na fé para debaterem com os sacerdotes muçulmanos, e três deles chegaram
em 1580. Os ingleses chegariam na índia em 31 de dezembro de 1600, último
dia do século XVI, alguns súditos da Rainha Elizabeth I fundaram em
Londres a primeira Companhia das Índias Orientais inglesa. Passaram-se
mais três anos antes que os primeiros emissários ingleses chegassem à Corte
de Akbar, mas isto foi um marco tanto na História indiana quanto na inglesa.
60
Daí em diante os europeus chegariam em número crescente e a Índia.

A CHINA “O Império do centro do Mundo”

O mundo descobriu a China. Cada vez se torna mais fácil encontrar


notícias deste grande país asiático, e até mesmo ler previsões de como se
espera que em alguns anos a China se torne o país mais influente no cenário
mundial globalizado – “cargo” hoje ocupado pelos Estados Unidos da
América. Mas nem sempre foi assim, ainda mais quando o aspecto a ser
analisado se encontra em um tempo remoto ao que vivemos, como é o caso
deste trabalho.
A China, exatamente como a maioria dos países do extremo oriente,
teve um grande período de isolamento. Exatamente por isso que nossa
historiografia ocidental é muito escassa da história oriental dos séculos
passados, e quando se aventura a analisá-la tende a tentar aproximá-la de uma
visão ocidental de mundo, o que muitas vezes empobrece o estudo devido as
características marcantes e distintas que os povos orientais apresentam de
nossa sociedade. Mas com a aproximação deste oriente (a partir da segunda
guerra mundial – iniciada principalmente pelo Japão) do cenário mundial,
abriram-se as portas para estudos mais detalhados e menos tendenciosos nesta
direção, e é exatamente nesta nova tentativa que este trabalho se insere, pois
mesmo usando fontes – visões de mundo – ocidentais , o resultado final
espera-se ser uma análise desprovida de preconceitos deste “mundo novo”.
A base do trabalho serão as impressões de dois viajantes europeus
que visitaram a China em um período praticamente contemporâneo – a
diferença da viagem dos dois é de apenas aproximadamente 2 anos. Um
destes é o famoso veneziano e cristão, Marco Polo, com seu “O Livro das
Maravilhas”, já visto e revisto pela historiografia tradicional, e que partiu
para a China aproximadamente em 1272. O segundo é o já não tão famoso
assim Jacob D’Ancona, judeu criado em Florença, que parte para a China
aproximadamente em 1270, e deixa seu relato em “Cidade de Luz”.
Durante todo o trabalho iremos discutir as principais diferenças e
semelhanças entre as visões dos dois autores, mas nesta introdução irei tecer

61
apenas uma contextualização das duas realidades tão diferentes que iremos
encontrar pela frente: a européia e a asiática.
Durante séculos, sua cultura foi protegida pelo seu isolamento. A China
mantivera com os povos da Ásia Central um relacionamento próximo porém
complicado; contudo, depois de unificada, durante muitos séculos não teve
nas suas fronteiras nenhum grande Estado com que precisasse se relacionar.
Com isto a China permaneceria distante e inacessível à maioria das
correntes que mudavam outras partes das terras européias, e bem distante das
fontes de distúrbios de outras grandes civilizações. Até mesmo o islamismo,
ao chegar lá, influiu muito menos do que em outros lugares. A China também
era dotada de grande capacidade de absorver as influências estrangeiras que
chegassem. Sua capacidade de assimilação se apoiava na cultura de uma elite
administrativa que sobreviveu às dinastias e aos impérios e que a manteve
num mesmo curso. Deve-se muito do conhecimento atual sobre a China aos
escribas, que mantinham registros escritos desde tempos muito remotos, e
que fornecem incomparável documentação, repleta de fatos muitas vezes
confiáveis. Essas histórias enfatizam a continuidade e o tranqüilo curso dos
acontecimentos. Devido às necessidades de administração de um país tão
grande, isto é perfeitamente compreensível: a uniformidade e a regularidade
deviam ser claramente desejadas. A narrativa oficial é um pouco mais fácil
de se estabelecer. A História da China, findo o período dos Estados
Combatentes, tem uma espinha dorsal de várias classes alternando períodos
de crescimento e decadência de dinastias. Uma dinastia poderia levar décadas
para tornar realidade o seu poder sobre todo o império, e ainda mais tempo
para perdê-lo. No entanto, feita esta ressalva, o estudo dinástico é útil: ele
fornece as principais divisões da História chinesa até o século XX. Os
primeiros períodos com que precisamos nos preocupar são o Ch’in e o Han.

Os Ch’in
Os Ch’in vieram de uma região à oeste, por volta do século IV a.C.. Os
Ch’in prosperaram, em parte talvez devido a uma radical reorganização
levada a efeito, por volta de 356 a.C.; talvez também porque os seus soldados
usassem armas de ferro. O auge do sucesso Ch’in foi derrotar o seu último
opositor, em 221 a.C., e unificar a China pela primeira vez como império
dirigido por uma dinastia que daria o nome ao país. Foi um grande feito. A
62
partir disto a China pode ser considerada como a sede de uma civilização
única e centralizada. A unidade política conseguida pela conquista Ch’in
durante um século foi, em certo sentido, o desencadeamento lógico de uma
unificação cultural já em andamento. O sentido de nacionalidade chinesa já
podia ser discernido antes de 221 a.C.; e foi um fator de facilitação da
unificação e da conquista. No entanto, menos de vinte anos depois os Ch’in
seriam depostos.

Os Han

Traçar no mapa as fronteiras do Império Han é um assunto bastante


teórico; certamente não havia controle sobre toda a área deste império no
mesmo sentido com que Roma governava o seu império na época. Nem a
civilização chinesa permeava o que hoje se considera como China. A escrita
chinesa só fora padronizada no reinado Ch’in (pouco antes do Período Han).
Contudo, os imperadores Han estenderam as reivindicações de dominação
política da China ainda mais longe do que qualquer dos seus antecessores.
Pelo menos na teoria, o Império Han era na extensão máxima tão grande
quanto o romano. O Imperador Wu Ti, ou “Imperador Marcial”, que reinou
de 141 a 87 a.C., foi especialmente ganancioso: anexou ao império uma
grande área da Ásia Central.
A expansão aumentou os contatos da China com outras partes do mundo.
Com o Mediterrâneo permaneceram apenas indiretos, porque grande parte do
comércio da China era feito por terra. A mercadoria mais desejada da sua
produção era a seda, que a partir do ano 100 a.C. era enviada em caravanas
ao Ocidente, ao longo da Rota da Seda da Asia Central. Talvez os novos
contatos desta época com cavaleiros nômades dos desertos expliquem o
surgimento dos belos cavalos de bronze que começaram a ser fundidos na era
Han.

63
A religião na China

Apesar desses amplos contatos, a China permaneceu notavelmente isolada de


grandes influências externas. O islamismo penetrara no Turquestão e em
outros quadrantes do império, e florescera sem contudo se aprofundar. O
único possível desafio à tradição foi o budismo, que parece ter aberto
caminho na China durante o século I d.C., através das estradas de comércio
da Ásia Central. A idéia confortadora de um Buda salvador, em cuja ajuda o
fiel podia confiar, deve ter parecido muito atraente numa época de revoltas e
de desintegração social.
Aos poucos o budismo se infiltrou na sociedade. Estudantes e monges
começaram a circular entre a China e a Índia em busca da instrução budista..
Surgiram na china movimentos espirados no budismo entre eles um
movimento de meditação mais tarde conhecido como Zen, seu nome em
japonês.
O Estado também contribuiu para regulamentar o budismo, notadamente
ao limitar o número de monges e de mosteiros, medidas de difícil execução e
que provocaram explosões ocasionais de perseguição. Isto aconteceu quando
o confucionismo recuperava sua antiga importância entre os eruditos, e
marcou o começo do declínio do budismo na China. O budismo não chegou a
refazer a civilização chinesa, mas trouxe-lhe algumas contribuições.
Sem ser muito dogmática, a tradição chinesa só enfatizava que as próprias
pessoas deveriam efetuar os rituais de sacrifício e que os antepassados
deveriam ser venerados. O confucionismo reforçou isto, o que resultou na
notável tolerância dos chineses instruídos. Posteriormente, no Período T’ang
um imperador editou um decreto permitindo a pregação do cristianismo que
chegara à China por meio dos missionários Jesuítas. Como a China imperial
talvez não mostrasse muita resistência a novas idéias religiosas vindas do
exterior, pareceria provável que elas prosperassem, mas não foi assim.
Embora o colapso de grande parte da sociedade tradicional durante os
problemas do declínio dos Han, e suas conseqüências, fizessem com que as
pessoas procurassem novos cultos e crenças, os beneficiários foram cultos
populares e o desenvolvimento do taoísmo.

64
T’ang

Com os T’ang não se pode separar os aspectos institucionais e culturais da


civilização chinesa. Os chineses buscavam a autoridade na família e no
Estado, instituições que não podiam ser desafiadas, pois na China não havia
entidades como a Igreja. Todas as características essenciais do Estado chinês
também já estavam estabelecidas no Período T’ang e durariam até o século
XX. A expansão territorial requeria mais administradores. Uma burocracia
maior sobreviveria a muitos períodos de desunião e permaneceu até o fim
como uma das instituições mais surpreendentes e características da China
imperial. Foi provavelmente a chave para o surgimento do sucesso da China,
a partir de uma era em que as dinastias decadentes foram substituídas por
Estados locais competitivos e insignificantes, que quebraram a unidade já
conseguida. Os funcionários civis, treinados e examinados à luz dos clássicos
de Confúcio, asseguravam que a instrução e a cultura política se unissem na
China como em nenhum outro lugar.
Assim, a sociedade chinesa mudou muito lentamente. Com todas as
importantes inovações culturais e administrativas, a vida da maioria dos
chineses se alterou pouco em estilo e aparência ao longo dos séculos. As idas
e vindas das dinastias foram responsáveis pela noção de mandato celestial.
No entanto, houve lentas mudanças, como o contínuo crescimento do
comércio e das cidades, que facilitou complementar com impostos o serviço
obrigatório do camponês, pois assim o governo poderia extrair novos
recursos. A obra dos Ch’in na Grande Muralha foi continuada pelas dinastias
posteriores, que a estenderam e às vezes reconstruíram partes. Também, pou-
co antes da ascensão dos T’ang, foi completado um grande sistema de canais
ligando o Vale do Yang-Tzé ao do Rio Amarelo, ao norte, o Wuhan ao sul.
Milhões de trabalhadores foram empregados neste e em outros importantes
esquemas de irrigação.
À medida que o número de habitantes cresceu gradualmente, toda a terra
cultivável passou a ser ocupada e cultivada com mais intensidade em
perímetros cada vez menores. Cada vez mais camponeses ficaram sem terra.
A influência T’ang sobre eles enfraqueceu quando a Ásia Central sucumbiu
ao islamismo. Como com os seus antecessores romanos, os subseqüentes
imperadores T’ang descobriram que confiar nos soldados podia ser perigoso.
65
Centenas de rebeliões militares ocorreram no Período T’ang, e qualquer
rebelião, mesmo que de curta duração, tinha um efeito multiplicador, ten-
dendo a prejudicar a administração e danificar os sistemas de irrigação dos
quais dependia a comida (e, portanto, a paz interna).
No final, incapazes de policiar eficazmente suas fronteiras, e com problemas
internos, os T’ang sucumbiram no século X e a China entrou mais uma vez
num caos político. Durante este período a continuidade e o poder de
recuperação da burocracia, assim como das instituições sociais, mantiveram a
China funcionando. Depois de cada mudança dinástica os herdeiros do poder,
mesmo estrangeiros, em geral recorriam aos poucos funcionários que
ocupavam os cargos e que punham a serviço de cada novo governo os valores
imutáveis do sistema de Confúcio. Os ensinamentos de Confúcio facilitavam
a mudança de dinastias sem comprometer os valores mais profundos e a
estrutura da sociedade.

A HISTÓRIA DINÁSTICA MAIS RECENTE

Em 618 a civilização chinesa entrou numa fase nova e madura, tendo a seu
favor impressionantes realizações. Nos mil anos seguintes, assim como nos
oitocentos anteriores, pode-se estabelecer mais facilmente a moldura formal
da sua evolução como uma seqüência dinástica. Depois dos Han, a desordem
dividiu a China por mais de 350 anos. Então, um general de sangue mestiço
de chinês e bárbaro reunificou o país em 581. A Dinastia Sui que ele fundou
durou apenas perto de trinta anos quando outro general (também de
ascendência mestiça) tomou o trono e inaugurou a Dinastia T’ang, com a
qual a China foi novamente uma unidade por aproximadamente três séculos e
meio. Seguiu-se outro período de desordem, mas desta vez durou apenas
cinqüenta anos antes que os Sung ascendessem ao trono imperial em 960.
Embora perdessem o controle do norte da China para povos da Manchúria no
século XI, os Sung se mantiveram no sul até 1279. Neste ano, Kubilai Khan,
neto de Gêngis Khan, completou a conquista mongol da China. Adotou o
nome dinástico chinês de Yuan, e os seus sucessores governaram a China até
1368, a partir da nova capital, em Pequim, quando foram substituídos pela, a
Dinastia Ming, que durou até 1644.

66
Sung

A dramática transformação da economia pode ser atribuída em parte às


inovações tecnológicas a pólvora, o tipo móvel e o cadaste de popa, tudo isto
pode ser localizado na era Sung, sendo a causa de um surto de atividade
econômica entre os séculos X e XII, que resultou no deslocamento para o sul
do centro de gravidade da economia da China e ao surgimento de novos
portos, como Cantão e Fu-chou. Uma evolução também ocorreu na
agricultura com a descoberta e a adoção de uma variedade de arroz que
permitia duas colheitas por ano nas terras bem irrigadas e uma no solo
montanhoso, só irrigado na primavera. A produção têxtil também sofreu
rápido desenvolvimento e é possível se falar de uma “industrialização”
Sung.
Sem dúvida houve um verdadeiro impulso na economia durante o período
Sung, por meio de investimentos governamentais em obras públicas e nas
comunicações. Somado a insto a expansão dos mercados e o incremento da
economia.
Os marinheiros chineses do Período Sung já possuíam a bússola
magnética, mas, apesar de enviaram expedições navais à Indonésia, ao Golfo
Pérsico e ao leste da África, no século XV, o seu objetivo era o de
impressionar estes locais com o poderio chinês e não acumular informação e
experiência para frituras viagens de exploração e descoberta. Os contatos
com o Ocidente também se multiplicaram sob o domínio mongol. Mas a
tolerância formal nunca permitiu muita receptividade na cultura chinesa.

67
68
A China mongol

A dinastia dos mongóis foi pequena (durou menos de um século –


quando a comparamos com as outras – que duravam inúmeros séculos). As
69
características desta dinastia que a ajudaram a ser tão curta foram a
desorganização do aparelho administrativo, inflação do papel-moeda, e
grande oposição das elites locais chinesas. No fim do século XII toda a China
fora invadida pelos mongóis e estes, como os primitivos invasores,
demonstraram o contínuo poder de sedução que a China exercia sobre os seus
conquistadores, mais de um quarto de toda a população da China em 1200,
pode ter perdido a vida com a invasão.
No entanto, com Kubilai Khan, o Império Mongol deslocou o seu centro das
estepes para Pequim. A partir desta época a Kubilai adotou um título
dinástico em 1271. Rompeu com o antigo costume nômade mongol. Passaria
quase toda a vida na China, embora o seu conhecimento do chinês fosse fraco
a China mudou os mongóis mais do que os mongóis mudaram a China, e o
resultado foi a esplendor relatada per Marco Polo.
. Mais do que chineses, sempre que possível os mongóis empregavam
estrangeiros na administração, durante três anos o italiao, Marco Polo fora
funcionário do Grande Khan. Além disto, por alguns anos o tradicional
sistema de exames foi suspenso. Parte da persistente hostilidade chinesa aos
mongóis, especialmente no sul, pode ser explicada por estes fatos.
Contudo, as realizações mongóis foram muito impressionantes. Uma vez
unida, a China mais uma vez demonstraria o seu grande potencial
diplomático e militar. Com a conquistar do sul os Sung em 1279 os recursos
de Kubilai mais do que dobraram. Ele reuniu uma grande esquadra e
começou a reconstruir a esfera de influência da China na Ásia. No sul o
Vietnã foi invadido e Hanói a capital foi capturada e Burma foi ocupada.
O regime mongol não foi duradouro porem muito do que ocorrer durante
este período, foi positivo e realizado em pouco mais de um século. O
comércio exterior floresceu como nunca. Marco Polo relata que os pobres se
alimentavam da liberalidade do Grande Khan e que Pequim se tratava de uma
grande cidade. O taoísmo e o budismo foram positivamente encorajados,
com a liberação de Impostos aos mosteiros budistas . No entanto, no século
XIV a presença mongol já era insustentável e rebeliões constantemente
ocorriam no campo e nas cidades. Sociedades secretas recomeçaram a surgir;
uma delas, a dos Turbantes Vermelhos, atraiu o apoio da pequena nobreza e
dos funcionários públicos. Um dos seus líderes, um monge chamado
ChuYuan-Chang, tomou Nanquim em 1356. Doze anos depois expulsou os
70
mongóis de Pequim e inaugurou a era Ming.

Os Ming

Chu Yuan-Chang gradualmente se tornou um defensor da ordem tradicional.


A dinastia que ele fundou, embora presidisse um grande florescimento
cultural e conseguisse manter a unidade política da China, só confirmou o
conservadorismo e o isolamento do país. No início do século XV, um decreto
imperial proibia os navios chineses de se afastarem além das águas costeiras
e os indivíduos de viajarem para o exterior. Logo os estaleiros chineses
perderam a capacidade de construir os grandes juncos que atravessavam o
oceano. Nem mesmo guardaram as especificações destas embarcações. As
grandes viagens do eunuco Cheng Ho, que poderia ter sido um Vasco da
Gama chinês, foram quase esquecidas. Ao mesmo tempo, os mercadores que
haviam prosperado no período mongol entraram em decadencia.
Neste meio tempo a Dinastia Ming se enfraquecia, com imperadores
literalmente confinados aos seus palácios, longe dos reais problemas da china
enquanto funcionários imperiais disputavam a posse das propriedades
Públicas. Os Ming não conseguiram manter as fronteiras do império chinês.
No século seguinte os Ming foram ameaçados por um povo vindo do norte da
Grande Muralha, os manchus, que viviam numa província que mais tarde
teria o seu nome: Manchúria. Quando ficaram suficiente forte derrotaram a
Dinastia Ming. Em 1644, uma dinastia manchu, a Ch’ing, subiu ao trono,
onde os seus imperadores se manteriam até o século XX.

O JAPAO

Como o Japão é uma ilha, o mar o protegeu , nunca foi invadido com
sucesso e ajudou a alimentar o seu povo sendo a alimentação básica
população japonesa a pesca responsável pelo volume de proteínas
consumido pelos japoneses. Foi também o mar que fez dos japoneses
marinheiros, embora por um longo tempo isto tenha se revelado mais na
pesca litorânea do que em outras experiências arriscadas em mares distantes.
71
A Coréia é a terra do continente asiático mais próxima do Japão, e os
japoneses sempre foram muito sensíveis com relação àquele país. Numa certa
época, no século VIII d.C., governantes japoneses mantiveram um território
ali, e por grande parte do século XX o dominaram. Mas a China foi durante
muito mais tempo a soberana nominal da Coréia e sempre foi o poder
estrangeiro cujo comportamento importava mais do que qualquer outro para
o Japão. Desde tempos muito remotos a China influenciou profundamente o
Japão. Embora seus idiomas sejam diferentes, tanto japoneses como chineses
são de origem mongol . Nos tempos pré-históricos a tecnologia do bronze
parece ter passado da China para o Japão. Posteriormente, depois do colapso
dos Han, quando os japoneses começaram a demonstrar muito mais interesse
pela Coréia, multiplicaram-se rapidamente os contatos com a grande
civilização continental. O título de imperador dado ao governante do Japão,
junto com o confucionismo, com o budismo, com o conhecimento do
trabalho em ferro, tudo passou da China para o Japão. Os ceramistas chineses
influenciaram os ceramistas do Japão em data muito remota. A escrita
chinesa foi adaptada para escrever a língua japonesa e o governo também
começou a mostrar traços da influência chinesa. Nos séculos VI e VII,
quando a influência chinesa estava no auge, políticos japoneses reformadores
lutaram para estabelecer um governo centralizado, nos moldes chineses,
baseado no mérito e não na origem, e com um imperador que fosse um
legitimo governante e não apenas o chefe do clã mais respeitado.
As primeiras crônicas japonesas (compiladas no século VIII) explicam
como a terra e o povo do Japão foram feitos pelos deuses, mas a mais antiga
e segura cronologia provém de fontes chinesas e coreanas de três séculos
antes. Mostra que no início do século VII governo já era centrado num
imperador. Supunha-se que ele fosse descendente de uma deusa-sol e
exercesse uma chefia geral sobre a família nacional japonesa, a partir dos
seus domínios ancestrais, situados no que mais tarde seria a província de
Yamato. Esta família nacional era organizada em clãs, principais unidades da
sociedade japonesa. De tempos em tempos um clã conseguia poder maior do
que os outros, em geral influenciando ou mesmo controlando os imperadores.
Entre 500 e 1500 houve dois importantes períodos, onde clãs individuais
dominaram o Japão. No século VIII os Fujiwara chegaram ao topo. Nos dois
ou três séculos seguintes eles efetivamente controlaram os imperadores por
72
meio de alianças matrimoniais e relacionamentos que se seguiram. No
Período Fujiwara, a capital imperial era Heian, atual Kioto. Mas o poder dos
Fujiwara decaiu. Houve uma luta entre alguns clãs, e um general, Minamoto
Yoritomo, assumiu o poder em 1185; foi o início da ascendência dos. Os
próprios Minamoto abdicaram no século XV, e o Japão se dissolveu em
violentas e sangrentas guerras civis até o século XVI.

O xogunato

O xogunato foi uma época em que o Japão teve o poder descentralizado.


No final do período Fujiwara, o poder imperial diminuiu e permaneceu nas
mãos dos nobres. As funções se tornaram hereditárias, e o direito de
arrecadar impostos imperiais foi garantido aos que desfrutavam dos favores
dos Fujiwara. Este eclipse dos imperadores se completou no Período
Kamakura (de 1185 a 1333), quando o governo efetivo passou para o
“xogum” (Chefe militar) Minamoto, que governava em nome do imperador,
mas que de fato era Independente e acompanhava os interesses do seu
próprio clã. No entanto, a fraqueza do poder do imperador acabou resultando
no desmoronamento de qualquer idéia centralização.
Tudo isto teria sido muito perigoso sem a proteção do mar, contra
invasões, tendo em vista que as guerras internas tinham enfraquecido o
Japão .

73
Outra importante tendência nestes séculos dirigiu-se a uma sociedade
muito mais militarizada, em que as virtudes marciais de lealdade, resistência
e bravura passaram a ser tidas em grande conceito. A importância da figura
do Samurai surge neste período, a mais respeitada classe abaixo da grande
nobreza, cujos ideais cavalheirescos. Em parte isto aconteceu porque a
pequena nobreza e os fidalgos rurais se tornaram mais independentes à
medida que a era Fujiwara chegava ao fim. As guerras civis em que os
guerreiros se empenhavam para servir aos seus senhores como criados
fortaleceu ainda mais o espírito militar.
A admiração japonesa pelo guerreiro continuou com um crescente senso
74
de superioridade e invencibilidade militar, que muito se deveu à resistência
bem-sucedida a duas tentativas de invasão mongol, a primeira em 1274 e a
segunda em 1281. Houve enormes combates, com expedições bem. Na
segunda tentativa a frota mongol foi efetivamente destruída e afundou numa
tempestade — o Kamikaze, ou “vento divino”, visto como intervenção
celestial em favor do Japão.

Xintoísmo (ou xintó)


Religião nativa do Japão, oriunda das antigas religiões populares e que
assimila elementos do BUDISMO e do CONFUCIONISMO. O
xintoísmo não tem teologia, doutrina, culto congregacional nem
escritura formal. Sua mitologia fundamental écontada em dois textos
escritos no início do século VIII, o Kojiki e o Nihongi (Nihon Shoki),
que atribuem origens divinas ao Japão e à sua linhagem de
imperadores, que se diz serem descendentes da deusa do Sol,
Amaterasu-Omikami. O nome “xintó”, do chinês shin tao, ou
“caminho dos poderes divinos” (kami-no-michi em japonês), foi
criado mais ou menos na mesma época, para distinguir a tradição
nativa do budismo, que recém-chegara à Coréia.
A crença do xintoísmo gira em torno de kami, as divindades
criadoras e protetoras da natureza associadas com a Terra
(especialmente certos locais sagrados), bem como os imperadores, que
também eram considerados divindades, ou “kami manifestos” e seres
humanos poderosíssimos. Os kami concedem vida, cujo objetivo é
alcançar o objetivo divino em pureza de espírito e devoção à família, à
comunidade e à nação. O xintoísmo, portanto, põe ênfase nesta vida, e
não na próxima, embora seus adeptos cultuem os espíritos ancestrais e
imaginem um submundo onde residem os mortos. As preces e os ritos
cerimoniais, no lar ou em templos, presididos pelo sacerdócio
hereditário, concentram-se na purificação da corrupção espiritual e nas
súplicas de complacência e proteção do kami.

75
CULTURA E ECONOMIA

Por um longo tempo a economia não avançou muito: tecnicamente, a


agricultura permaneceu o que sempre fora e não houve crescimento urbano
como na China. O Japão conseguiu aos poucos produzir mais alimentos, mas
principalmente com o aumento gradual do tamanho das propriedades, e
portanto das áreas cultiváveis. O camponês pagava pesados impostos, em
geral ao seu senhor, a quem o xogunato concedia o direito de cobrar, e
cuidava das plantações de arroz que forneciam a maior parte da alimentação
dos japoneses.
A primeira literatura japonesa e o drama nô— combinação de poesia,
mímica e música, levada a efeito com elaborados figurinos e mascaras. Os
artistas japoneses sempre enfatizaram a proporção, a habilidade manual, e
demonstraram isto nas cerâmicas, na pintura, nos trabalhos em laca, na
tecelagem em seda, bem como em artes muito mais caracteristicamente
japonesas, como os arranjos florais, o paisagismo e as belas espadas
produzidas pelos armeiros.
Alguns dos belos objetos produzidos pelos japoneses eventualmente
começaram a ser vendidos nos mercados externos. No século XV a China era
um importante comprador, e os monges budistas desempenharam importante
papel no comércio com o Japão.
Os primeiros europeus a chegarem no japão foram os portugueses,
provavelmente em 1543. Na época, as condições internas do Japão não
impediam o avanço dos estrangeiros. Nagasaki, uma pequena aldeia, foi
aberta aos portugueses em 1570, que lá fundaram uma feitoria. No entanto,
além da fé os intrusos também trouxeram armas de fogo, cujo primeiro
impacto na sociedade japonesa seria inflamar ainda mais as lutas internas.
UNIDADE DIDÁTICA IV – CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS

INTRODUÇÃO
76
O hemisfério ocidental depois do contato europeu tem sido chamado
com freqüência de “Novo Mundo”, mas os povos os indígenas que criaram as
sociedades americanas não parecem tê-lo visto desta maneira. Em vez disso,
os grupos funcionavam dentro de mundos já bastante estruturados, conjuntos
inteiros de práticas sociais, culturais e tecnológicas, que deram forma e cor a
tudo o que fizeram. Durante quase 2000 anos, floresceu na América central
uma sofisticada civilização. Constituiriam-se pirâmides de pedra ligadas a
rituais religiosos e desenvolvesse a escrita, Tenochititlan era maior e mais rica
do que qualquer cidade européia do Séc. XV, nos Andes os incas foram os
criadores do ultimo grande império da América pré-colombiana, que se
estendia pelos Andes, desde o equador até ao centro do Chile , e era
percorrido por uma rede de estradas e fontes suspensas.

DO HOMEM AMERICANO

Índio é, naturalmente, um nome equivocado para os povos encontrados


na América pré-colombiana a designação originou-se de uma concepção
geográfica errônea por parte do próprio Colombo, que se imaginava próximos
das Índias. No entanto na América muitos grupos nada sabiam da existência
um dos outros, e poucos grupos estavam em contado. Então estilo de vida e
unidade política, era desconhecido um conceito na cultura indígena que
distinguisse os habitantes da América o hemisfério ocidental dos habitantes
de outros continentes. No entanto os primitivos habitantes do Novo Mundo
deixaram numerosos vestígios, que os especialistas costumam dividir em dois
grupos: antropológicos e arqueológicos.
Foram vários grupos que chegaram a América e se aceita que existiram
três grandes rotas de imigração para a América. Conforme mapa abaixo:
A chave da formação cultural das grandes civilizações Pré-colombianos é
o relativo isolamento. De todos os grandes ramos etno-geográficos da
humanidade, e com certeza entre todos os que tinham agricultura, cidades e

77
grandes unidades políticas, Os primitivos habitantes da América eram os mais
isolados dos grandes centros culturais da Europa e da Ásia. Povos, técnicas e
cultura constantemente eram trocados entre povos do eixo Europa-Ásia-
África durante séculos até os tempos modernos, enquanto os povos
americanos pré-colombianos, ainda que tenha havido algum contato eventual,
ficaram por alguns milhares de anos sem contato contínuo com o resto do
mundo habitado.. Apesar de todas as diferenças de histórico e de status a eles
conferido, em alguns aspectos os ibéricos e africanos eram, no Novo Mundo,
um único grupo invasor, com alguns traços importantes em comum não
compartilhados pelos índios.
Em tecnologia, europeus e africanos sabiam, por exemplo, fabricar e usar
armas de aço, e bastava isso para lhes dar total superioridade militar no Novo
Mundo, pois, embora alguns grupos tivessem construído grandes cidades,
pirâmides, impérios e comércio de longa distância, nenhum tinha ferro e aço.
Assim, a América era um conjunto de civilizações em vários estágios e em
grande variedade de sociedades, de bandos de caçadores e coletores a
agricultores de base urbana
Milhares de anos de história estendem-se desde o tempo das supostas
migrações da Ásia e do estágio de grandes caçadas por toda a extensão e
largura de ambos os continentes ocidentais. A Agricultura remonta a milênios
no continente americano assim como a vida sedentária e as artes da cerâmica
e da tecelagem. O primeiro milênio d.C. viu o crescimento de cidades e de
grandes unidades políticas, assim como conquistas nas artes aplicadas que
igualavam ou ultrapassavam tudo o que existia quando os europeus
chegaram..
Ainda não se determinou com certeza se algumas inovações básicas foram
ou não trazidas de fora do hemisfério. O que importa é que, na época do
contato com a Europa, tudo nos sistemas de vida dos primitivos habitantes da
América havia passado por longos processos de evolução independente e
apresentava sua própria característica.
As inovações sociais e tecnológicas do hemisfério ocidental tendiam a
centrar-se em duas áreas, a Mesoamérica e o centro dos Andes, e a espalhar-
se para outras regiões a partir daí. No entanto, a variedade da geografia
americana impediu o desenvolvimento de quaisquer tentativas centralizadora
por parte das grandes civilizações.. A posse, pelos povos centrais, de
78
agricultura intensiva permanente, cidades e aldeias estáveis, mecanismos
rígidos de tributação e população densa coloca-os, em muitos aspectos, na
mesma categoria da maioria dos povos da Europa em 1500.

Vestígios arqueológicos do Homem na América :

No Brasil merece especial atenção aos vestígios achados na Lagoa


Santa, em Minas Gerais, nessa região, são encontrados então numerosos
sinais da presença do homem na América. No entanto vestígios da
presença do homem são encontrados em todas as regiões da América , são
encontrados esparsos, ( restos de objetos de pedra ou de osso ou, ainda, de
barro, como o caso da cerâmica marajoara), ou sob a forma de habitações
ou aldeias (“pueblos”, estearias) como também em montículos de resíduos.
Sambaquis são elevações do terreno formadas por conchas ou carapaças de
moluscos, que foram depositadas pelo homem e aglomeraram-se com o
tempo, e no meio das quais encontramos, muitas vezes exemplares de
instrumentos produzidos pelo homem na pré história, restos de ossadas de
animais e restos de sepultamentos.

VESTÍGIOS PRÉ- CARACTERÍSTICAS


HISTÓRICOS
sambaquis Encontrados nos Estados Unidos (shell-
mounds), nas ilhas do Atlântico e do Pacífico e
são das mais variadas dimensões e formas.
Dificilmente datados, devem ser muito
anteriores ao descobrimento da América. No
Brasil são encontrados, principalmente na zona
litorânea, no vale amazônico, nos litorais do
Pará e do Maranhão, na Bahia no Rio de Janeiro
e no Paraná e em quase todo o litoral do Sul do
Brasil. Neles, juntamente com machados de
pedra, discos, vasos, ornatos, e outras mostras da
produção primitiva humana, encontram ossos de
79
animais e de homens, de tal forma característicos
que chegou a estabelecer-se uma “raça dos
sambaquis”, muito semelhante à dos selvagens
brasileiros, como os botocudos e outros.
Paraderos Achados principalmente na Patagônia,( região da
Argentina) apresentam vestígios da indústria
lítica e da cerâmica, de mistura com restos
humanos. de época bem anterior à descoberta da
América
habitações nas escarpas São aldeias de pedra construídas nas montanhas
pelos índios do sudoeste dos Estados Unidos
(Colorado, Arizona, Utah, etc.). Denotam grande
desenvolvimento dos construtores, que já
deviam praticar a irrigação artificial, a
agricultura, a arte da fortificação, sabiam
preparar a renovação do ar e aquecimento em
suas habitações. Trabalhavam na pedra e no
barro, do que deixaram numerosas e excelentes
amostras, tais como machados, vasos, braçaletes,
colares, etc.

pueblos, Os detalhes de construção são quase os mesmos,


eram casas elevadas sobre muralhas de pedra ou
barro. Algumas vezes têm vários andares, e são
encontrados também no Colorado e no Arizona.
Os mais famosos são o Pueblo Bonito “e o
“Pueblo Pintado”.
Estearias As encontradas no Maranhão (lagos Cajari,
Caboclo e outros), pertencem ao tipo das casas
sobre estacas, e nelas, de permeio com objetos
de pedra, encontramos magníficos trabalhos de
barro, apresentando os mais diferentes desenhos
com a utilização de elementos geométricos.
provável que os habitantes das estearias sejam
os mesmos que fabricaram a cerâmica de
80
Marajó.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS CULTURAS INDÍGENAS

Podemos dividir os Habitantes da América pré-colombiana em Três


categorias. A primeira categoria era a dos
Nômades ou os “semi-sedentários”, sempre a
procura da “terra sem mal”, eram caçadores e
coletores e tinham uma população reduzida
praticavam uma primitiva agricultura, e
povoavam quase toda a América. Estes povos
podiam compartilhar muitos componentes de
língua, religião e visão de mundo com grupos
sedentários No entanto, dentro deste território
os povos não-sedentários migravam com
freqüência num ciclo sazonal de caça e coleta.
Sem agricultura, tinham acampamentos em vez de aldeias; a unidade social
normal eram pequenos bandos, os tributos eram
simbólicos ou inexistentes e a densidade
populacional era extremamente baixa. Esses povos
existiam em partes de todas as grandes regiões mas,
acima de tudo, naquelas áreas mais inóspitas para a
vida sedentária então conhecida: nas mais secas ou
mais úmidas, nas planícies ou nas florestas mais
fechadas. As partes secas do norte do México, os
pampas argentinos e boa parte do interior da
Amazônia são regiões assim.
A Segunda categoria é a de Estes povos também
tinham agricultura e aldeias, mas, no decorrer de
alguns anos, as plantações e povoados mudavam-se
de um lugar para outro; a caça ainda era vital, e a população, embora pudesse
ser bem numerosa, era, menos densa do que as grandes culturas centrais.
Esses povos eram encontrados em toda a periferia dos territórios dos povos
81
totalmente sedentários, em regiões dos atuais Chile, Colômbia, norte do
México e na Amazônia . A terceira categoria são as das grandes culturas,
incas maias e astecas que estudaremos a seguir.
Em vez de estágios do desenvolvimento humano, as três categorias
representam principalmente adaptações a determinados ambientes, dada a
tecnologia existente. Nesta estrutura, cada um dos sistemas era tão capaz de
manterem-se quanto os outros, tão complexo na totalidade de suas relações
com o meio ambiente quanto os outros. Nenhum povo era totalmente
sedentário ou totalmente nômade. Vários dos grupos maias, cujas cidades,
governos provinciais e sistemas de tributação parecem situá-los
completamente na categoria de povos centrais, praticavam ao mesmo tempo a
agricultura rotativa em vez da permanente. Uma combinação de traços como
esta é um pouco incomum, mas não representa nenhuma anomalia no espectro
multidimensional da realidade do hemisfério ocidental.

• As civilizações da América pré-colombiana

POVOS SEDENTÁRIOS

Existe uma correlação entre império e sedentarismo, no sentido que


estamos dando a esta palavra; nenhum povo responde melhor à descrição de
grupo sedentário do que os habitantes da região central do México e dos
Andes, respectivamente os impérios asteca e inca.. Mais do que criar
sedentarismo, os grandes regimes tributários que foram chamados de impérios
se alimentavam dele; suas fronteiras paravam de forma abrupta nas fronteiras
da vida sedentária.
As características distintivas dos povos sedentários começam no nível da
família e do aldeamento. A agricultura intensiva era à base daquela vida; isso
quase sempre significava cultivo de milho, (se plantava batatas e cereais).

Os MAIAS E OS ASTECAS
82
As origens da civilização na América Central assentam
na adoção da cultura do milho, por volta de 2700
a.C. As chuvas regulares e o clima quente
ao longo de todo o ano permitiam fazer
quatro colheitas anuais nas férteis
planícies fluviais do sudeste do México. Em
1250 a.C., surgiram sociedades tribais e
pequenos estados entre os quais os Olmecas,
que construíam grandes centros cerimoniais com
túmulos de terra em forma de pirâmide e
monumentais esculturas de pedra; posteriormente
criaram o primeiro calendário astronômico.
Também entre os povos Zapotecas do vale do
México formaram complexas sociedades. A escrita
mais antiga da América, à base de grifos (símbolos
pictóricos), apareceu nesta região, por volta de 800 a.C.
e floresceu entre 400 a.C. e 700 d.C. .
Os maias apareceram nas terras altas da Guatemala.
Por volta de 1000 a.C., começaram a expandir-se pelas
terras baixas da península de Yucatán, onde, para
cultivar a terra, abriram canais que se
destinavam a drenar os pântanos. No séc.
VII a.C., construíram pirâmides
monumentais com templos e começaram
a aparecer as cidades-estado. E provável que tenham adotado a
escrita dos olmecas e zapotecas, assim como o uso do calendário astronômico
e o jogo sagrado da bola.
A guerra era necessária para conseguir prisioneiros para os sacrifícios
humanos, que se celebravam em certas datas ou para comemorar
acontecimentos. As vítimas eram torturadas e mutiladas, antes de lhes
arrancarem o coração.
Os maias utilizavam um complexo calendário, muito elaborado e baseado
83
em observações astronômicas muito precisas. Posteriormente produziram
livros sagrados, feitos de casca de árvore, que ilustravam com pinturas
complicadas. São estas pinturas que, juntamente com as suas pedras
trabalhadas, nos permitem conhecer a violência do seu mundo e o poder dos
seus deuses.
As guerras e a fome, provocada pelo cultivo excessivo da terra, devem ter
sido o motivo do rápido colapso e abandono das cidades maias das terras
baixas, a partir do ano 800.
Em princípios do séc. X, os toltecas, grupos de povos que tinham
emigrado para o México Central ergueram a sua capital em Tula. A partir dela
expandiram a sua influência pelo vale do México. Um grupo de aventureiros
toltecas invadiu Yucatán por volta de 987, fundando uma dinastia que
governou a cidade maia de Chichén Itzá durante 200 anos; muitas das suas
construções inspiravam-se nas de luta. Em finais do séc. XLI, Tula foi
destruída e o povo tolteca desmembrou-se. Os seus únicos vestígios são
grandes pirâmides com templos e guerreiros de pedra.

SACRIFÍCIOS HUMANOS
Os sacrifícios humanos faziam parte da religião asteca. No Grande
Templo de Tenochtitlán, os sacerdotes ofereciam sacrifícios diários ao
deus da guerra, Huitzilopochtli. Se o não fizessem, não poderiam
combater as trevas e, no dia seguinte, o sol não apareceria. Havia
também outros deuses que exigiam terríveis sacrifícios. Para honrar
Xipe Totec, deus da primavera, os prisioneiros eram assassinados em
guerras simuladas por guerreiros astecas. Depois de esfolados, a sua
OS pele era usada pelos vencedores que se cobriam com ela para invocar a
ASTECAS
descasca do milho.

84
A grande Civilização da América Central foi a Asteca. Os astecas
afirmavam que eram descendentes dos toltecas, que consideravam sobre-
humanos por terem construído monumentos de pedra de grande estruturas.
Adotaram muitos aspectos da cultura tolteca, incluindo a adoração de muitos
deuses, entre eles Quetzalcóatl, a serpente emplumada. Na realidade, os
astecas tinham-se instalado no vale do
México após a decadência do
Império Tolteca. Em 1325,
fundaram a grade cidade de
Tenochtitlán, numa ilha do lago
Texcoco, servindo como
mercenários aos estados
vizinhos até estabelecerem um
império militar no vale do
México, durante o reinado de
Itzcóatl (reinado 1427-1440).
Com os seus sucessores, o
império cresceu, atingindo a
sua máxima expansão
durante o reinado de
Montezuma II (reinado
1502--1520). Os astecas,
como os maias, tinham
necessidade de estar sempre
em guerra, para obterem
prisioneiros para os
sacrifícios humanos.

85
Os astecas tinham um complexo sistema de classes, que era bem
definido: o estatuto social de cada pessoa conhecia-se
através do penteado e de alguns
pormenores do seu
traje. No nível
superior estava o rei,
cujo título oficial era
“grande orador”.
Abaixo dele havia
uma elite de nobres
que afirmavam
descender do
primeiro rei
asteca. O povo
comum pertencia
por nascimento a
um dos vinte
clãs, que viviam
nos diferentes
bairros de
tenochtitlán,
com os seus
próprios templos e escolas. Os membros do clã eram proprietários e
cultivadores da terra em regime comunitário e, em tempo de guerra, os
homens do clã lutavam juntos. Os guerreiros podiam obter prestígio e fama
fazendo prisioneiros.
Nenhum homem era considerado adulto até fazer um prisioneiro em
combate. Abaixo do povo comum, havia uma classe constituída pelos povos
conquistados, que trabalhavam a soldo ou como arrendatários agrícolas.
Havia também escravos (prisioneiros de guerra) e uma classe de comerciantes
que, apesar de serem muito ricos, não podiam exibir as suas riquezas.

86
O IMPÉRIO INCA

Os incas herdaram tradições culturais que remontam às primeiras


comunidades de pescadores e agricultores, surgidas por volta de 1800 aC,. nas
terras baixas da costa do atual Peru. Os Historiadores e arqueólogos
identificaram nestes locais uma série de culturas que se sucederam, cuja arte,
com imagens de estranhos animais-deuses, foi encontrada dispersa pelo norte
e centro do Peru. Por volta de 100 a.C., os mochicas começaram a construir
um poderoso estado no litoral. Eram governados por guerreiros-sacerdotes e
criaram belíssimos objetos de ouro com pedras semi-preciosas, cerâmicas e
tecidos. Por volta de 600 d.C. foram conquistados pelos huari, que tinham
derrubado outros estados, como Nazca, para construir um império nas terras
altas dos Andes.

ORIGENS DOS INCAS

Sabe-se muito pouco sobre o início da história dos incas. Segundo a


lenda, Manco Cápac tê-los-ia trazido das cavernas montes para os instalar em
Cuzco, num fértil vale dos Andes. Mas não sabemos se Manco Cápac
realmente existiu; se assim foi, provavelmente terá vivido por volta de 1200.
Durante a época do imperador Pachacutec (reinado 1438--1471) e do seu
irmão Tupac Yupanqui (reinado 1471-1493), os incas mal se distinguiam dos
outros estados primitivos dos Andes. Os dois irmãos, experientes soldados,
lutaram quase ininterruptamente para engrandecer o Império Inca. Quando
Tupac Yupanqui morreu, o império tinha alcançado a máxima extensão
possível, embora Huayna Cápac (reinado 1493-1525) lhe tenha acrescentado
algumas conquistas menores. A economia inca baseava-se na cultura
intensiva de batatas e milho.

87
O ESTADO INCA

A sociedade inca era altamente organizada. O imperador (o inca) afirmava


que descendia do deus do sol Inti e tinha um poder incontestável; acreditava-
se que a sua capital, Cuzco, era o centro da Terra. Abaixo dele estavam os
governadores dos “quatro quartos”, as principais divisões territoriais do
império, seguidos de outras categorias de funcionários, que iam baixando até
à categoria de capataz; cada capataz era responsável pela supervisão de dez
famílias.
As terras de cultivo estavam divididas em três partes: uma para sustentar o
estado, outra para os deuses e outra para o povo. Todos os homens e mulheres
incas pagavam “impostos”, trabalhando as terras correspondentes ao estado e
aos deuses. Os homens saudáveis tinham que trabalhar também nas obras
públicas, a chamada mita (estradas, fortalezas, canais de rega, etc.). Este
sistema permitiu aos incas manterem ativo um grande exército, com
dedicação exclusiva, durante longos períodos, o que lhes dava vantagem
sobre os seus inimigos. As mulheres tinham que se dedicar a trabalhos
artesanais como, por exemplo, a tecelagem: os tecidos finos eram mais
apreciados do que o ouro. Este complexo sistema de tributação funcionava
sem o auxílio da escrita. Os registros eram feitos por meio de um complicado
sistema de cordas com nós, a que se chamava de quipus.
A rede inca de estradas, de aproximadamente 20 000 kms, permitia aos
exércitos e aos mensageiros viajar rapidamente todos os pontos do império.
Os desfiladeiros eram cruzados por pontes suspensas. Havia pequenos túneis
para ultrapassar morros e as rochas. Na ausência da roda. As cargas eram
transportadas no dorso de lamas e de havia pousadas para que os viajantes
descansassem durante a noite.
Os povos conquistados viam-se obrigados a adotar costumes incas e
também a sua língua, o quéchua que ainda hoje se fala em parte dos Andes A
religião inca conentravase na adoração do deus Inti. O seu templo em Cuzco
era coberto de ouro , símbolo do sol. Mama cocha ( mãe terra), deusa da
fertilidade e da colheita e Viracocha também eram adorados.

88
Unidade didática V- O Mundo Grego

Introdução

A historia da antiga Grécia se desenvolve em um cenário de difícil


definição, porque não se tratava de uma nação no sentido moderno do
termo, que tem, em conseqüência, uma fronteira bem definida, ainda porque,
no entanto, nem sequer possuia uma unidade étnica bem definida, a
consciência do povo grego como tal foi também um resultado deste processo
histórico. Podemos dizer que, em cada período da história grega, os cenários
variam de acordo com movimentos expansivos e ocupacionais exteriores, de
tal modo que um dos dados para marcar uma periodização ajustada poderia
consistir em assinalar os territórios ocupados pelos gregos de maneira
sucessiva.

As civilizações cretense e creco-micenicas

89
A época dos palacios heroicos, especialmente, o de Agamenon em
Micenas constituíe o primeriro período da historia grega, a discurção sobre a
validade histórica dos poemas homéricos pode ser infinita. Porem foi sua
leitura que abiu as portas aos achados arqueológicos gregos em Itaca, no
Peloponeso e em Tróia acompanhados e guiados pela leitura dos mesmos
poemas. As ruínas achadas em Tróia as diversas recostruçôes detectadas,
assim como os achados micénicos organizados a partir das primeiras tumbas
reais, foram um impulso para mais profundos estudos. Palácios, templos e
sepultamentos permitem descobrir um tipo de sociedade Hierarquizada, com
uma realeza e um aparato estatal capaz de controlar populações
coletivamente.

90
• A economia primitiva da Grécia mediterrânea

A situação da Europa mediterrânea surgida da crise do fim do Século


II a.C. conduz a um redirecionamento dos interesses econômicos. Novas
direções econômicas se definem através de dois parâmetros: especialização e
intensificação da produção agrária; paralelamente. No plano agrícola, o
modelo econômico se articulou no desenvolvimento da base econômica
mediterrânea, baseada, na produção de cereais, azeite e vinho. A base
pastoril como foco de matérias primas do setor alimentício; também e um
fator econômico importante. A presença dos primeiros produtos de ferro no
Mediterrâneo é muito antiga. Não obstante, quando a tecnologia foi
controlada, os produtos em ferro se generalizarão, devido, sem duvida a
abundancia deste mineral frente aos filões conhecidos de cobre e estanho,
que haviam sido até o momento a base dos produtos metalúrgicos.

• Os tempos homéricos (do século XII ao século VIII a.C)

Os dórios o último povo indo-europeu a migrar para a Grécia eram


essencialmente guerreiros. Ao que parece, foram eles os responsáveis pela
destruição da civilização micênica e pelo conseqüente deslocamento de
grupos humanos da Grécia continental para diversas ilhas do Egeu e para a
costa da Ásia Menor. Esse processo de dispersão éconhecido pelo nome de
primeira diáspora.
Após o esplendor da civilização micenica, seguiu-se um período em que
as cidades foram saqueadas, a escrita desapareceu e a vida política e
econômica enfraqueceu, caracterizando um processo de regressão da Grécia a
uma fase primitiva e rural. Desse período (séculos XII a.C. a VIII a.C.), que
foi à base da civilização grega, não se tem registro, exceto os poemas Ilíada e
Odisséia atribuídos a Homero, que, tendo vivido no século VI a.C., teria
recolhido histórias transmitidas oralmente durante os séculos anteriores. Por
essa razão, esse período, posterior à invasão dórica, ficou conhecido como
tempos homericos. Em decorrência, o período anterior a 1200 a.C.,
caracterizado pela imigração de povos indo-europeus e pela formação da
cultura creto-micênica, recebeu a denominação de tempos pré-homéricos.

91
afresco da era micenica

Para compreendermos a evolução política da Grécia antiga, é necessário


retrocedermos aos tempos pré-homéricos, quando os povos indo-europeus ali
se fixaram. já nessa época, esses grupos humanos encontravam-se divididos
em genos, famílias coletivas constituídas por um grande número de pessoas
sob a liderança de um patriarca. Após as invasões dos dórios, os genos
passaram a constituir a forma predominante de organização social. Assim,
podemos afirmar que o período homérico foi também o período das
comunidades gentilicas.

92
Os Genos :Cada geno constituía uma unidade econômica, social,
política e religiosa da sociedade grega. De fato, esses pequenos
agrupamentos humanos conseguiam, isoladamente, assegurar sua
sobrevivência com uma economia natural e coletivista. Os meios de
produção (terra, sementes), assim como os bens produzidos
(alimentos, objetos), pertenciam a todos os indivíduos, ou seja, a
propriedade não tinha caráter particular. Na organização hierárquica
dos genos, o patriarca, ou pater, era a autoridade máxima,
exercendo as funções de juiz, chefe religioso e militar. O critério
que definia a posição dos indivíduos na comunidade era o seu grau
de parentesco com o pater.

As comunidades gentílicas existiram durante quase todo o período


homérico. Apenas por volta do século VIII a.C., iniciou-se o processo de
desintegração dos genos, evoluindo mais rapidamente em algumas regiões do
que em outras. Diversos fatores contribuíram para a dissolução dos genos no
final dos tempos homéricos, entre eles o crescimento populacional e o
aumento do consumo. Entretanto, a produção continuava limitada, pois havia
poucas terras férteis e as técnicas de produção eram bastante rudimentares.
A luta pela sobrevivência, que dependia basicamente da terra, desencadeou
uma série de guerras entre genos. Para enfrentar um inimigo comum, alguns
deles se uniram, formando uma fratria. Reunidas, as fratrias constituíam
uma tribo, a qual se submetia àautoridade do filobasileu, o supremo coman-
dante do exército. A união de várias tribos deu origem ao demos (“povo”,
“povoado”), que reconhecia como seu líder supremo o baliseu.
A crise da sociedade gentílica alterou profundamente a estrutura interna
dos genos. Aos poucos, a terra deixou de constituir propriedade coletiva,
93
sendo dividida, de modo desigual, entre os membros dos genos. As melhores
parcelas de terra foram tomadas pelos parentes mais próximos do pater, e por
esse motivo, passaram a ser chamados de eupátridas (“bem-nascidos”). O
restante das terras foi dividido entre os georgóis (“agricultores”), parentes
mais distantes do patriarca. Nesse processo de divisão, os mais prejudicados
foram os thetas (“marginais”), para os quais nada restou.
Com a crise das comunidades gentílicas, a Grécia continental se
transformou em palco de inúmeros conflitos e tensões sociais, que resultaram
em uma nova dispersão do povo grego — a segunda diáspora. Os principais
fatores que provocaram esse novo deslocamento foram o crescimento
demográfico e a escassez de terras cultiváveis na Grécia continental, em
grande parte conseqüência da concentração da propriedade nas mãos de uma
pequena parcela da população.
Desse modo, boa parte da população excedente, constituída,
principalmente, pelos menos beneficiados na partilha das terras, emigrou para
regiões do Mediterrâneo ocidental, ali fundando diversas colônias. Assim
surgiram cidades como Tarento e Siracusa, no sul da Itália, região que se
desenvolveu muito graças ao cultivo de cereais e que ficou conhecida como
Magna Grécia.
Nesse período de instabilidade, por questões de segurança, várias tribos se
uniram formando comunidades independentes, que deram origem as pólis ou
cidades-estados.

• Os tempos arcaicos (do século VIII a.C. ao século VI a.C.)

O período arcaico é um período de ricos sucessos culturais e de


transformações sociais e politicas. As cidades, através sua posição
econômica, militar e politica, se afirmam como lugares de atuacão dos
propietários de terras, dos soldados defensores do território, dos que se
achavam em condições de disfrutar da política e dos direitos de cidadania. A
comunidade se amplía consideralemente, mas existe grandes conflitos
internos na transformação do sistema aristocrático, herdero da antiga realeza,
em um sistema predominantemente oligárquico, em alguns casos
tendencialmente participativo. Simultameamente, durante o período arcaico
temos um aumento do mundo grego, ampliando geográficamente através
94
da Expanção Colonial. (fenômeno vinculado por meio de laços diversos
com trocas mercantis com a polis em formação até o ponto que ela se
sustente sozinha) A Expanção Colonial grega se transforma em fator
influente sobre o modo em que se configura o período arcaico. A historia da
Grecia arcaica com toda sua extenção geográfica teve como matriz cultural
duas cidades, Esparta Atenas, porque pelas abundancia de fontes e por sua
influencia política foram as mais importantes de todo mundo grego.

POLIS A CIDADE-ESTADO GREGA

A Criação da Polis vem a ser um efeito do processo de transformacão


qualitativa e comerciais que sofreram as relações entre os homens. Através do
sinecismo se reforça a solidaridade dos propietários das unidades económicas
conhecidas como Oikos (fazendas) que assim controlavam o poder em uma
escala maior. O novo sistema produtivo, consolidado em oikos, permite, no
mesmo tempo, um aumento da capacidade coletiva para colonizar novas
terras em áreas baldías, de modo que aumenta o territorio e se amplia o
cultivo.
As cidades que se forman por sinecismo na época arcaica viraram ao
mesmo tempo centro de poder, e são igualmente centro de cultura, o que
permite que, a polis se transforme em grande centro urbano. No entanto a
estrutura de cidadania na polis ocorre proporcionalmente ao desenvolvimento
colonial , elemento promotos de novas formas de intercambio e
conseqüentemente novas atividades comerciais. A polis permite um grande
fortalecimento comercial. Os camponeses tendem a ficar submetido às leis e
aos mercados existentes na polis mais próxima e as familhas aristocráticas
tendem a diversificar suas atividades, através de comercialização e transporte
de mercadorias, a polis permite tanto a diversificação da produção como de
suas atividades politicas. O acesso a territorios distantes permite aumentar a
obtencão de bens para consolidar o poder social e a obtencão de mão de obra
servil, com o objetivo de aumentar seu rendimentos.
Paralelamente, o aumento das atividades auxiliares dentro da polis
permite que esta se converta em um lugar privilegiado para a atividade dos
thetas homens livres que alugam ocasionalmente seu trabalho em troca de

95
pagamento, o que aos poucos transforma e desenvolve as estruturas
econômicas de distribuição soicial.

• Esparta

A região da lacônia, centro do poder espartano ficava situada à sudeste do


Peloponeso, esta situação geográfica, bem estratégia, fez dela uma potencia
militar, a lacônia inicialmente foi invadida pelos Aqueus, posteriormente os
Dórios, superiores em organização e armamentos, os dórios fundarão na
lacônia um pequeno estado que tinha como centro peincipal da polis de
Esparta.
Esparta conquistou suas cidades vizinhas, inclusive Messênia, no século
VIII a.C. Em lugar de vender os messênios no estrangeiro, tradicional método

96
grego de tratar um inimigo derrotado, os espartanos conservaram-nos como
servos do estado, ou hilotas
A organização social e política de Esparta é inconfundível, quando a
comparamos com as instituições das outras cidades-estado gregas.
Profundamente conservadora atribuía suas leis e formação social a um
Legislador lendário Licurgo, a quem consideravam divino, Apolo encarnado
(Apolo Licurgo), as leis eram imutáveis tendo em vista ser feita por um
elemento divino, no entanto a legislação espartana legada a um só homem é
puro mito, os historiadores acreditam que as leis espartanas não foram feitas
por uma só pessoa mem em uma só época.
Organização política:
A organização politicamde Esparta oferece aspecto original, em relação a
outras cidades gregas:
.
Instituições Características
Monarquia Dual Dois reis governavam Esparta , em caso
de guerra um ficava na cidade e outro
comandava o exercito, no entanto as
funções dos Reis eram muito reduzidas,
senpre vigiados pelos eforos.
Gerusia A realeza de Esparta mantém-se apenas
como uma tradição. O poder residia de
fato na Gerusia, presidida pelos reis. Era
formado por 28 anciãos, com mais de 60
anos de idade, escolhidos por aclamação
popular.
Apela A assembléia popular, era formada por
todos os Espartanos com mais de 30 anos,
e que tivessem recebido educação militar.
Os eforos os eforos eram cinco magistrados eleitos
por um anos dentre todos os cidadãos,
exerciam autoridade absoluta sobre todos
os habitantes, na guerra vigiavam os reis.

97
Organização Militar:

Famosos por sua estrutura militar, Esparta, a rigidez das leis espartanas é
a responsável pela complexidade de sua formação, as crianças ao nascer eram
apresentadas ao conselho dos anciões, para que estes verificassem se
apresentavam à robustez e resistência necessárias a vida militar. As fracas ou
com algum defeito físico eram mortas, as fortes ficavam aos cuidados da mãe
até os sete anos de idade, apartir de então os jovens espartanos começavam a
aprendizagem militar em comum, sob a direção de mestres escolhidos pelo
estado eles se exercitavam, treinavam, competiam e suportavam provações
físicas. A cultura física desempenhava grande papel na educação, aos 20 anos
estava terminada a formação do jovem espartanol, mas como todo o
espartano continuava como soldado até os 60 anos.

Organização política;

Espartanos

periecos

Hilotas

Os espartanos com extraordinária determinação, disciplina e


lealdade,transformaram sua sociedade numa vasta caserna. Nessa sociedade,
o trabalho agrícola era desempenhado pelos hilotas, e o comércio e os ofícios
ficavam a cargo dos períoikoi (periecos), gregos conquistados que eram livres
mas não tinham direitos políticos. Os espartanos aprendiam um único ofício,
o militar, e lhes era inculcada uma única concepção de excelência: morrer em
98
batalha por sua cidade.

• Atenas

As cidades-estados gregas, de modo geral, passaram por quatro estágios:

• governo de um rei (monarquia), Durante a monarquia, o rei, cujo


poder emanava dos deuses, comandava o exército e julgava as causas
civis.
• governo de aristocratas agrários (oligarquia),
• governo de um só homem que tomou o poder (tirania)
• governo do povo (democracia).

Nos primeriros séculos do período arcaico, em Atenas o crescimento da


atividade marítima foi muito amplo, tendo sido encontrada vestígios da
cerâmica atenienseque , que era utilizada como troca, em portos distantes de
Atenas. A expansão maritima ateniense facilitava os contatos, pelo menos
por parte de alguns setores da população, com outras cidades.
A oligarquia, foi instituído em Atenas durante o século VIII a.C., quando
os aristocratas usurparam o poder dos monarcas hereditários (aristocracia, em
grego, significa “governo dos melhores”). No século seguinte, os regimes
aristocráticos passaram por uma crise social. Os camponeses que tomavam
dinheiro emprestado da aristocracia, dando as terras como garantia, perderam
suas propriedades e chegaram a tornarem-se escravos por não conseguirem
pagar suas dívidas. Em Atenas, os camponeses exigiram e receberam, em 621
a.C., uma concessão dos aristocratas, que designaram Drácon para redigir um
código de leisescritas ( as Leis Draconianas). Embora o código de Drácon
tenha permitido aos pobres conhecer a lei, reduzindo as possibilidades de que
os juizes aristocráticos julgassem arbitrariamente, as sentenças eram
extremamente rigorosas, e o código não trouxe alívio para as aflições
econômicas dos camponeses. Atenas caminhava para a guerra civil, pois os
pobres começavam a organizar-se e a exigir o perdão das dívidas e a
99
redistribuição de terras.
As leis de Dracon muito duras foram reformadas por Sólon, o
reformatlor. Em 594 a.C. os aristocratas nomearam Sólon (c. 640-5 59 a.C.)
chefe do Executivo. Homem sábio, Sólon sustentava que os ricos
proprietários de terras, com sua cobiça, haviam destruído a vida da co-
munidade, levando Atenas às portas da guerra civil. Ele sustentava que a lei
escrita devia estar em harmonia com o princípio de justiça. Além disso, Sólon
queria instigar nos atenienses de todas as classes o senso de trabalhar pelo
bem comum da cidade.
Sólon ara alcançar esse objetivo, libertou os atenienses escravizados por
dívidas, mas recusou-se a confiscar e redistribuir a terra dos nobres. Permitiu
que todas as classes de homens livres, até mesmo os mais pobres,
participassem da Assembléia, que elegia os magistrados e aceitava ou
rejeitava a legislação proposta pelo novo Conselho dos Quatrocentos.
Também abriu os postos mais altos do Estado aos abastados homens do povo,
que anteriormente haviam sido excluídos dessas posições por não terem
nascido em berço nobre. Assim, Sólon enfraqueceu os direitos tradicionais da
aristocracia hereditária e deu início à transformação de Atenas de uma
oligarquia aristocrática para uma democracia.

Sólon também promoveu engenhosas reformas econômicas. Ao reconhecer


que o solo pobre da África não era favorável à cultura de cereais, insistiu no
cultivo de uvas para a produção de vinho e na plantação de oliveiras, cujo
óleo podia ser exportado. Para encorajar a expansão industrial, ordenou que
todos os pais ensinassem a seus filhos a atividade do comércio e concedeu
cidadania aos artesãos estrangeiros que migrassem para Atenas. Em virtude
dessas medidas e da alta qualidade do seu barro marrom-avermelhado, Atenas
tornou-se a principal produtora exportadora de cerâmica. A política
100
econômica de Sólon convertera Atenas num grande centro comercial. Mas
suas reformas não eliminaram as disputas sectárias entre os clãs aristocráticos
nem diminuíram todo o descontentamento dos pobres.

Pisístrato, o tirano Em 546 a.C., Pisístrato (c. 605-527 a.C.), um aristocrata,


tirou partido da instabilidade geral para tornar-se governante absoluto,
mandando para o exílio aqueles que se opunham a ele. Assim a tirania
substituiu a oligarquia. A tirania era muito comum nas cidades-estados
gregas. Quase sempre aristocratas, os tiranos geralmente apareciam como
defensores dos pobres na sua luta contra a aristocracia. A fim de conquistar o
apoio do povo, Pisístrato mandou que se instalassem canalizações para
aumentar o abastecimento de água em Atenas, distribuiu as terras confiscadas
aos aristocratas exilados entre os camponeses pobres e concedeu empréstimos
estatais aos pequenos agricultores.

Clístenes, o democrata Após a morte de Pisístrato, uma facção chefiada


por Clístenes, um aristocrata simpático à democracia, assumiu a liderança.
Através de um engenhoso método de redistribuição, Clístenes pôs fim à
tradicional prática de competição entre os clãs aristocráticos pelos principais
cargos do Estado, que tanta divisão e amargura havia provocado em Atenas.
Clistenes substituiu essas práticas, arraigadas na tradição e na autoridade, por
um sistema novo, concebido para garantir que a fidelidade histórica à tribo ou
ao clã fosse substituída pela lealdade à cidade.
Clístenes esperava fazer da democracia a forma permanente de governo em
Atenas. Para proteger a cidade contra a tirania, introduziu a prática do
ostracismo. Uma vez por ano, concedia-se aos atenienses a oportunidade de
inscreverem num caco de barro (óstrakon) o nome de qualquer pessoa que,
segundo eles, representasse perigo para o Estado. O indivíduo contra o qual
se apurasse um número suficiente de votos era ostracizado, isto é, forçado a
deixar Atenas por dez anos.
Clístenes consolidara firmemente a democracia em Atenas. A Assembléia,
que Sólon franqueara a todos os cidadãos do sexo masculino, estava em vias
de tornar-se a suprema autoridade do Estado. Mas o período da grandeza de
Atenas ainda estava por vir; os atenienses tinham primeiro de vencer uma
guerra de sobrevivência contra o Império Persa.

101
O amadurecimento da democracia ateniense

O imperalismo de Atenas foi uma das conseqüências das Guerras Persas;


a outra foi o florescimento da democracia e da cultura atenienses. O Estado
ateniense era uma democracia direta em que as leis eram feitas pelos
próprios cidadãos e não por representantes eleitos. Na Assembléia, de que
podiam participar todos os cidadãos adultos do sexo masculino e que se
reunia mais ou menos quarenta vezes por ano, os atenienses discutiam e
votavam os principais problemas da Estado, declaravam guerra, firmavam
tratados e decidiam onde aplicar os recursos públicos. O mais humilde
sapateiro, bem como o mais rico aristocrata, tinha oportunidade de expressar
sua opinião na Assembléia, votar e exercer um cargo. Em meados do século
V a.C., à vontade do povo, conforme expressa na Assembléia, era soberana.
O Conselho dos Quinhentos (introduzido por Clístenes para substituir o
Conselho dos Quatrocentos de Sólon) controlava os portos, as instalações
militares e outras propriedades do Estado, além de preparar a ordem do dia
da Assembléia. Como seus membros eram escolhidos anualmente por
sorteio e não podiam servir mais de duas vezes na vida, o Conselho jamais
podia suplantar a Assembléia. Cerca de trezentos e cinqüenta magistrados,
também escolhidos por sorteio, desempenhavam funções administrativas:
cobrar multas, policiar a cidade, consertar as ruas, inspecionar os mercados
etc. Os dez generais, em razão dos conhecimentos especializados exigidos
por seus cargos, não eram escolhidos por sorteio, mas eleitos pela
Assembléia.
A democracia ateniense sem dúvida tinha limitações e fraquezas. Os críticos
modernos mostram que os estrangeiros residentes eram quase totalmente
excluídos da cidadania e, portanto, da participação política. Os escravos, que
constituíam aproximadamente um quarto da população ateniense, não
desfrutavam de nenhuma das liberdades que os atenienses tinham em tão alta
conta. Os gregos consideravam a escravidão uma precondição necessária à vida
civilizada; segundo acreditavam, para que uns fossem livres e prósperos, outros
tinham de ser escravizados. Os escravos geralmente eram prisioneiros de guerra
ou indivíduos capturados por piratas. Alguns escravos atenienses eram gregos,
mas a maioria deles era constituída de estrangeiros. De modo geral, os escravos
102
realizavam os mesmos trabalhos que os cidadãos atenienses: agricultura,
comércio, manufatura e tarefas domésticas.

• As Guerras Persas ou Guerras Médicas

Em 499 a.C., os jônios gregos da Ásia Menor revoltaram-se contra os seus


senhores persas. Solidária com a causa jônia, Atenas enviou vinte navios para
ajudar os revoltosos. Ávido de vingança, Dano I, rei da Pérsia, enviou um
pequeno destacamento à Ática. Em 490 a.C., na planície de Maratona, o
exército de Atenas, composto de cidadãos, derrotou os persas — para os
atenienses, um dos mais gloriosos momentos da sua história. Dez anos mais
tarde, Xerxes, filho de Dario, organizou uma enorme força invasora , com cerca
de 250 mil homens e mais de quinhentos navios, com o objetivo de converter a
Grécia numa província persa.
A maior parte das cidades-estados, esquecendo-se dos seus instintos
separatistas, uniu-se para defender sua independência e liberdade.
Os persas atravessaram as águas do Helesponto (estreito de Dardanelos) e
dirigiram-se para o norte da Grécia. Heródoto descreve a luta dos persas no
desfiladeiro das Termópilas com trezentos espartanos, que não desmereceram
seu treinamento e seu ideal, chefiados por Leônidas.
Quando tudo indicava que o ânimo dos gregos se aquebrantara, o estadista e
general ateniense Temístocles, demonstrando em questões militares a mesma
racionalidade que Clístenes revelara na vida política, atraiu a esquadra persa
para os estreitos da baía de Salamina. Impossibilitada de manobrar seus navios,
numericamente superiores, nesse restrito espaço, a esquadra persa foi destruída
pelas gregas. Em 479 a.C., um ano após a vitória naval ateniense em Salamina,
os espartanos derrotaram os persas na batalha terrestre de Platéias. A
inteligência inventiva com que os gregos planejaram suas operações militares e
o desejo intenso de preservar sua liberdade permitiram-lhes derrotar a maior
força militar do mundo mediterrâneo.
As Guerras Persas foram decisivas para a história do Ocidente. A confiança e
o orgulho provenientes dessa vitória levaram Atenas a uma idade de ouro e
suscitaram entre os atenienses o desejo de dominar a Grécia. As Guerras Persas
marcaram o início do imperialismo ateniense, que teve drásticas conseqüências
para o futuro da Grécia. Imediatamente após o término das guerras, mais de 150
103
cidades-estados organizaram uma confederação — a Liga de Delos (assim
chamada porque seu tesouro encontrava-se na ilha de Delos) — para se
protegerem de um novo confronto com a Pérsia. Graças a sua riqueza, sua
poderosa armada e a irrequieta energia de seus cidadãos, Atenas assumiu a
liderança da Liga. De maneira consciente, os atenienses manipularam a Liga em
favor de seus próprios interesses econômicos, ignorando toda e qualquer
contradição entre imperialismo e democracia. Atenas proibiu os estados
membros de desertarem, instalou guarnições no território dos estados
confederados e usou o tesouro da Liga para financiar suas obras públicas.

O declínio das cidades-estados

Embora os gregos compartilhassem a mesma língua e a mesma cultura,


permaneciam politicamente divididos. A determinação de preservar a
soberania da cidade-estado impedia os gregos de formarem um grupo político
maior, o que poderia ter limitado as guerras que acabaram por custar à cidade-
estado a sua vitalidade e independência. Mas a criação de uma união pan-
helênica teria exigido uma transformação radical do caráter grego, o qual por
centenas de anos considerou a cidade-estado independente como o único
sistema político adequado.

A Guerra do Peloponeso

O controle de Atenas sobre a Liga de Delos assustava os espartanos e seus


aliados da Liga do Peloponeso. Esparta e os estados do Peloponeso
decidiram-se pela guerra porque sentiam sua independência ameaçada pela
dinâmica e imperialista de Atenas, O que estava em jogo para Atenas era sua
hegemonia na Liga de Delos, que lhe concedia poder político e contribuía
para sua prosperidade economica. Nem Atenas nem Esparta previram as
conseqüências catastróficas que a guerra traria para a civilização grega.
A guerra iniciou-se em 431 a.C. e terminou em 404 a.C. Quando Atenas,
assediada, com a marinha dizimada e uma quantidade de víveres cada vez
menor, finalmente rendeu-se, Esparta dissolveu a Liga de Delos e obrigou os
atenienses a demolir suas altas muralhas, fortificações destinadas a proteger a
cidade contra as armas de assédio.

104
A Guerra do Peloponeso foi a grande crise da história helênica. As cidades-
estados jamais se recuperaram. As cidades-estados em litígio instituíram
novos sistemas de alianças e persistiram em seus ruinosos conflitos. Enquanto
as cidades gregas estavam imersas numa guerra fratricida, emergia ao norte
uma nova potência, a Macedônia. Para os gregos, os macedônios, um povo
selvagem das montanhas que falava um dialeto grego e adquiria um verniz de
cultura helênica, pouco diferiam das outras populações não-helênicas, a quem
davam o nome de bárbaros. Em 359 a.C., aos 23 anos de idade, Filipe 11(382-
336 a.C.) tornou-se rei da Macedônia. Convertendo a Macedônia numa
potência militar de primeira ordem, ele deu início à conquista da Grécia.
Por não avaliarem corretamente a força de Filipe, os gregos tardaram em
organizar uma coalizão contra a Macedônia. Em 338 a.C., em Queronéia,
Filipe infligiu contundente derrota aos gregos, e toda a Grécia passou a ser
sua. As cidades-estados não deixaram de existir, mas perderam a
independência
Alexandre tomou-se rei da Macedónia aos 18 anos, após o assassinato de seu
pai, Filipe II, em 336 a.C. Teve uma excelente educação ,o seu tutor foi o
filósofo grego Aristóteles.. Ainda rapaz, já sonhava realizar os feitos dos
heróis gregos Hércules e Aquiles, antepassados lendários da dinastia mace-
dónia. Ainda bem jovem, já tinha mostrado grande habilidade para lutar no
exército de seu pai..

• A expansão de Alexandre

Quando morreu, Filipe II estava em vias de iniciar a invasão do império


persa. Há 150 anos que os persas tinham tentado sem êxito a sua última
invasão da Grécia e, durante esse período, o seu império tinha enfraquecido
bastante. No entanto, o atual rei persa, Dano III, era bem mais rico do que
Alexandre e podia recrutar enormes exércitos no seu vasto império, que ia do
Mediterrâneo às margens do rio Indo.
A vastidão do império nem sempre era uma vantagem. Os mensageiros
podiam demorar semanas a chegar de um extremo ao outro e os soldados
levavam meses a chegarem das várias províncias para se juntarem ao exército
real. Os exércitos persas, com um elevadíssimo número de soldados, eram
105
muito difíceis de controlar em combate. Pelo contrário, o exército de
Alexandre estava bem armado e treinado. Alexandre era um general brilhante
e inspirado, enquanto que Dano era tímido e pouco imaginativo.
Em 334 a.C., Alexandre invadiu e conquistou a Anatólia, libertando as
cidades costeiras gregas do jugo persa. Alexandre era generoso com as
cidades e províncias que, sabendo que ele não iria aumentar os impostos nem
permitir o saque por parte dos soldados, se submetiam voluntariamente ao seu
poder. A cidade de Tiro, principal porto fenício, foi uma das poucas terras que
se negou a render-se, Alexandre cercou a cidade durante Oito meses, até que
os seus soldados conseguiram entrar na cidade.
Graças à proteção garantida com a conquista de Tiro, Alexandre pôde
avançar e conquistar o Egito, em 332 a.C.. Num este templo egípcio, o
oráculo revelou que ele não era filho de Filipe II, mas do próprio Zeus. Por
causa dos seus êxitos, muitos acreditavam que ele era, realmente, um deus.
Em 331 a.C., Alexandre deixou o Egipto para invadir o coração do império
persa. Em Gaugamela, Assíria, derrotou Dario em combate pela segunda vez,
antes de se dirigir para a conquista de Babilónia. Pouco depois, Alexandre
entrava em Persépolis, capital do império persa.

As ÚLTIMAS CAMPANHAS

três anos subseqüentes, o exército de Alexandre concluiu a conquista


do império persa, no ano de 327 a.C.. Em seguida, Alexandre resolveu invadir
o Norte da Índia. Em 326 a.C., venceu em combate um rei indiano, nas
margens do rio Hidaspes. Porém, os seus soldados estavam cansados e
Alexandre teve que permitir o seu regresso a casa. Nessa viagem, seguiram o
curso do no Indo até ao mar Arábico, tendo, em seguida, feito uma penosa
travessia do deserto, até chegarem a Babilônia, em 324 a.C.. as conquistas de
Alexandre difundiram a civilização grega pela Ásia, até ao vale do Indo, junto
à base dos Himalaias. Milhares e milhares de gregos emigraram para as novas
cidades fundadas nas terras recém conquistadas, muitas das quais receberam o
nome do conquistador. Esta época de predomínio cultural grego no
Mediterrâneo e no Médio Oriente é conhecida por período helenístico (de
106
“helenos”, que significa “gregos”)
Enquanto planejava uma nova campanha na Arábia, Alexandre morreu , em
323 a.C.. por não ter Herdeiros, seu império foi dividido em reinos os reinos
de maior sucesso e mais longa duração foram os fundados por Ptolomeu, no
Egipto, e por Seleuco, na Síria.
O mundo helenístico foi superado pelo poderio crescente de Roma. A
Grécia e a Macedônia foram conquistadas em mmdos do séc. II a.C.. Os
remos selêucida e ptolomaico sobreviveram ainda muito tempo, mas também
caíram sob o jugo de Roma, em 30 a.C.. Os romanos admiravam a civilização
grega e adotaram muitas das suas características, incluindo a arquitetura, a
ciência, a literatura e a mitologia.

UNIDADE DIADTICA VI-O MUNDO ROMANO

107
INTRODUÇÃO

De acordo com os arqueólogos, o povoamento da cidade de Roma iniciou-se


no séc. X a.C., por agricultores da Idade do Ferro. A vida urbana foi-se
desenvolvendo em meados do séc. VII a.C. e a cidade foi crescendo até se
tornar na maior de toda a Itália. Os romanos eram apenas um dos muitos
povos diferentes que viviam na península itálica naquela época. Foram
dominando os seus vizinhos, através da sua habilidade política e bélica e, em
meados do séc. III a.C., quase toda a Itália se encontrava sob o seu controle.

• A ITÁLIA PRÉ-ROMANA

Antes do nascimento da
civilização romana, o povo mais
poderoso da Itália era o etrusco,
originário da atual Toscânia. Por volta
de 800 a.C.,já se desenvolvia a
primeira civilização urbana da Europa
Ocidental. Navegadores e
comerciantes, tinham estabelecido
estreitas relações culturais com os
gregos, cujo alfabeto adotaram. Quase
tudo o que se sabe dos etruscos provém
dos seus túmulos, construções
subterrâneas semelhantes a casas, que
eram ricamente mobiliadas com
objetos funerários e pintadas com
cenas de banquetes.

108
O centro da península era ocupado pelos itálicos, grupo formado por
vários povos, entre os quais se contavam os latinos, os sabinos e os
samnitas. Até 500 a.C., a maioria deles tinha uma organização tribal,
embora entre os latinos se tivessem desenvolvido já as cidades-estado, uma
das quais era Roma. Quando Roma alcançou o predomínio cultural e
político da península, perderam-se os conhecimentos sobre as outras línguas
e culturas italianas.

Lenda da criação de Roma


Segundo a lenda, quando os gregos tomaram Tróia, Enéias -
nascido da união do pastor Anquises com a deusa Vênus -
conseguiu fugir da cidade e foi se estabelecer na península
Itálica, onde desposou a filha do rei do Lácio. Oito gerações
depois, seu descendente Numitor subiu ao trono de Alba
Longa, a capital do reino, mas foi deposto pelo irmão, Amúlio.
Para que Numitor não tivesse herdeiros, assassinaram seus
filhos e fizeram de sua filha Réia Sílvia uma vestal
(sacerdotisa da deusa Vesta). Réia, porém, foi fecundada por
Marte, deus da guerra, e deu à luz os gêmeos Rômulo e Remo.
Amúlio mandou afogá-los no Tibre, mas, miraculosamente,
eles se salvaram e ...levados pela corrente até os pés do monte
Palatino, foram ali amamentados por uma loba e depois
recolhidos pelo pastor Fáustolo, que os educou. Quando
descobriram sua origem, os gêmeos, já adolescentes,
depuseram Amúlio e restituiu o trono a Numitor, seu avô.
Depois, com alguns habitantes de Alba Longa, fundaram, em
21 de abril de 753 a.C., uma cidade exatamente no local onde
a loba os havia encontrado. Interpretando o vôo dos pássaros
como um vaticínio, Rômulo concluiu que fora designado rei
da nova cidade e traçou com um arado o sulco que marcaria os
limites de seu território ... Remo, indignado, cruzou a divisa e
foi assassinado pelo irmão. Rômulo tornou-se, desse modo, o
primeiro rei de Roma. 109
A Monarquia (das origens até 509 a.C.)

Durante este período, o rei acumulava as funções executiva, judicial e


religiosa, embora seus poderes fossem limitados na área legislativa, já que
Senado, ou Conselho dos Anciãos, tinha o direito de veto e sanção das leis
apresentadas pelo rei.
A ratificação dessas leis era feita pela Assembléia ou Cúria, composta por
todos os cidadãos em idade militar.
Na fase final da monarquia, a partir do fim do séc. XII a.C., Roma conheceu
um período de domínio etrusco, que coincidiu como início de sua expansão
comercial.

110
A sociedade durante a Monarquia
• Patrícios: cidadãos de Roma, possuidores de terra e gado, que
constituíam a aristocracia
• Plebeus: a maioria da população, correspondiam aos pequenos
agricultores, pastores, comerciantes e artesãos.
• Clientes: indivíduos subordinados a alguma família patrícia, cumpridores
de diversas obrigações econômicas, morais e religiosas. O patrício era seu
patrono, um “protetor” econômico, político e jurídico; em troca os
clientes seguiam as decisões políticas de seus patronos, cumprindo o
obsequium (submissão política), além de dedicar jornadas de trabalho
para o seu senhor. Eram, enfim, os dependentes, alguns de origem
estrangeira, outros de origem plebéia que, para sobreviver, buscavam a
proteção dos abastados e poderosos patrícios.
• Escravos: normalmente, prisioneiros de guerra. Durante a Monarquia, o
escravismo não possuiu grande significação, ganhando importância
somente com a expansão do período Republicano.
Alguns elementos ricos, fora da classe patrícia, formavam a classe dos
equites...
• Equites (cavaleiros): homens que podiam equipar-se com armas e um
cavalo (equus) e servir na cavalaria...
Res Publica ou ‘coisa pública’ (509 a 27 a.C.)

Não se sabe direito se a República foi, de fato, estabelecida após um


levante popular que levou à expulsão de Tarquínio, o Soberbo, ou se resultou
de um lento processo evolutivo que restringiu progressivamente a autoridade
monárquica em favor dos chefes das gentes. De qualquer modo, o poder
passou às mãos dos patrícios, que substituíram o rei por dois cônsules eleitos
anualmente. Sua função abrangia o comando do exército e a supervisão das
atividades judiciárias.
Além de possuir a totalidade das terras e monopolizar a vida religiosa,
a aristocracia patrícia detinha o poder político: o Senado era a autoridade
permanente, encarregada de controlar os magistrados, ocupantes temporários
de cargos executivos. Os patrícios dominavam também a Assembléia Curiata,

111
que perdeu gradativamente suas prerrogativas para a Assembléia Centuriata
(comitia centuriata). Mas esta também era dominada pelos patrícios e equites.
O principal factor da ascensão de Roma ao poder foi o seu sistema de gover-
no, único naquele tempo. A cidade era governada por funcionários eleitos,
chamados magistrados. Estes governavam com a ajuda do Senado, assembleia
de antigos magistrados, que decidia a política do governo. Embora as classes
superiores, os chamados “patrícios”, dominassem o governo, pessoas
talentosas das classes inferiores, os plebeus, podiam chegar a ser magistrados
ou senadores. As decisões políticas do governo eram votadas por uma
assembleia formada por todos os cidadãos romanos. Embora na assembleia o
sistema de votação estivesse organizado de forma a favorecer as classes mais
privilegiadas, os plebeus tinham a sua própria assembleia independente e
elegiam os seus próprios dirigentes, os tnbunos da plebe. Na prática, os
tnbunos eram ricos e usavam o seu cargo para ascender a posições melhores.
Este sistema governamental facilitou a Roma uma sólida liderança, que
garantia o apoio público à política de governo e tornava os romanos um povo
unido.

Patrícios e Plebeus: uma luta de classes


• 494 a.C. Uma multidão de plebeus armados retirou-se para o Monte
Sagrado (Aventino) e decidiu não voltar ao trabalho ou combater no
exército a menos que obtivesse algumas concessões dos patrícios.
Temendo um levante da plebe, o Senado concordou com a criação da
Assembléia da Plebe (Concilium Plebis), que elegeria os edis e os
tribunos da plebe (dois no início e dez em meados do séc. V a.C.). O
tribuno podia deter, com a palavra veto (“eu proíbo”) toda ação que
julgasse prejudicial à plebe. Sua pessoa era intocável e sua casa
inviolável. As portas estavam abertas dia e noite a qualquer cidadão que
ali fosse pedir abrigo (direito de santuário ou de asilo).
• 450 a.C. Uma comissão de dez homens - os decemviri -, liderados por
Apio Cláudio, transformou as velhas leis romanas, baseadas nos
costumes, na Lei das Doze Tábuas. O código abrangia direito privado,
penal, governamental e religioso e assegurou aos plebeus paridade
jurídica com os patrícios.
112
• 445 a.C. Pela Lei Canuléia foi abolida a proibição de casamentos entre
patrícios e plebeus.
• 367 a.C. Os tribunos Licínio e Sextio propuseram que os juros já pagos
fossem deduzidos do principal (quantia emprestada pelo credor); que
nenhum homem pudesse deter mais de 500 jugera (cerca de 120 hectares)
de terra ou empregar em suas culturas mais escravos que trabalhadores
livres: que um dos cônsules fosse recrutado na plebe. Durante um ano o
Senado resistiu, mas acabou por acatar essas propostas, que se
transformaram nas Leis Licínias.
• 356 a.C. A plebe teve acesso ao cargo de censor.
• 326 a.C. Foi abolida a lei que estabelecia o direito do credor de escravizar
seu devedor. O julgamento tornou-se obrigatório nos casos de dívidas.
• 300 a.C. O sacerdócio foi franqueado aos plebeus.
• 287 a.C. Pela Lei Hortênsia, as decisões da Assembléia da Plebe
tornaram-se obrigatórias para todos os cidadãos romanos.
Esse episódio foi o último da longa disputa entre plebeus e patrícios, da qual
os plebeus ricos foram os principais beneficiados. Como o acesso aos cargos
públicos era muito caro, os plebeus afastavam-se deles automaticamente.

S.P.Q.R.: o Senado e o Povo Romano


Notas: mesmo nas Assembléias da Plebe, a força dos patrícios exercia-se
através dos seus clientes, que votavam a seu favor.
Os cônsules eram eleitos pela Assembléia Centuriata, mas seus nomes
deveriam ser confirmados pelo Senado.
As decisões do Senado abrangiam não só a política exterior como a
administração interna. Em caso de perigo, podiam até nomear um ditador,
governante com poderes absolutos.
S.P.Q.R., a sigla oficial de Roma, queria dizer O Senado e O Povo Romano,
como se o poder emanasse da união do Senado e do conjunto das
Assembléias de cidadãos...

Roma em guerra: a expansão

113
SOLDADOS E CIDADÃOS

A guerra foi igualmente um factor relevante para o êxito de Roma: aos


ricos, conferia prestígio e poder político; aos pobres, o saque e terras. Só os
cidadãos romanos podiam lutar no exército. De início, também se exigia que
fossem proprietários de terras, mas esta exigência foi abolida em 195 a.C..
Consequentemente, os romanos foram a primeira sociedade do mundo a
dispor de um exército profissional.

O conceito romano de cidadania seria postenormente um factor de peso


para o seu sucesso. Na Grécia, a cidadania dependia do local de nascimento e
era um privilégio zelosamente conservado, sendo, por isso, reduzido o
número de cidadãos. Em contrapartida, no caso dos romanos, só era exigido
que vivessem em Roma. Os imigrantes eram recebidos como cidadãos e até
os escravos libertados podiam adquirir a cidadania. Consequentemente, o
número de cidadãos romanos cresceu com rapidez e, com isso, o número de
potenciais soldados para o exército romano. Mais tarde, os romanos irão
conceder a cidadania e os seus privilégios aos povos conquistados, pelo que a
cidadania deixou de se limitar a quem vivia em Roma. Desta forma, os anti-
gos inimigos passavam a fazer parte do sistema de governo.

A política expansionista da República romana teve inicialmente como


objetivos a defesa frente a povos vizinhos e a obtenção de mais terras à
agricultura e ao pastoreio, mas logo se revelou uma fonte valiosa de riquezas
em metais preciosos, em escravos e tributos. Como resultado, em 5 séculos de
guerras a dominação romana se estendeu a boa parte da Europa, da África e
da Ásia.

EXPANSÃO ULTRAMARINA

A principal potência do Mediterrâneo ocidental era Cartago, rica cidade


mercantil do Norte de Áfiica, fundada pelos fenícios. Após subjugar as
antigas cidades gregas do sul da Itália, Roma enfrentou Cartago pela posse da
114
Siciia, dando lugar às chamadas guerras púnicas (de poeni, em latim “fení-
cios”). Ao ganhar a primeira guerra púnica (264-241 a.C.), Roma juntou às
suas possessões a Sicília, a Sardenha e a Córsega. A guerra voltou a
desencadear-se, desta vez por causa do controle da Espanha (segunda guerra
púnica, 218-202 a.C.). O general AníbaI, a partir de Espanha e após
atravessar a França e os Alpes, marchou sobre Roma. Contudo, apesar de uma
série de vitórias, não conseguiu a rendição dos romanos. Entretanto um
exército romano comandado por Cipião, o Africano, derrotou os exércitos
cartagineses estacionados em Espanha e, em seguida, invadiu o Norte de
Africa.
Aníbal navegou de Itália para Cartago para defender a sua pátria, sendo
derrotado na batalha de Zama, em 202 a.C. A própria cidade de Cartago foi
invadida e destruída por Roma, em 146 a.C. Dominando agora o
Mediterrâneo ocidental, sem competidores, Roma resolveu alargar a sua
influência para o oriente. A Grécia, que em 197 a.C. tinha sido invadida
paa~a vingar o apoio dado por Filipe Vda Macedónia a Cartago durante as
guerras púnicas, tomou-se uma província de Roma em 146 a.C.. Em 133 a.C.,
Roma adquire a sua primeira possessão na Asia, quando oúltimo rei de
Pérgamo deixa em testamento a cidade aos romanos. A pouco e pouco, Roma
foi conquistando todos os remos fundados pelos sucessores de Alexandre
Magno (vide pág. 48). Em 30 a.C., o último de todos, o Egipto, cai sob o
controle directo de Roma, que passou a dominar todo o Mediterrâneo e o
Médio Oriente.

Fim da República romana


Roma crescera, tornara-se um império mundial. As instituições concebidas
para o autogoverno de uma sociedade de pequenos proprietários agrícolas não
funcionavam mais.
As guerras constantes e o crescente número de escravos aumentavam a
miséria dos pequenos agricultores e da plebe. As tentativas de reforma dos
irmãos Tibério (133 a.C.) e Caio Graco (123 a.C.), fracassaram...
Entre os anos 136 e 132 a.C., 200 mil escravos levantaram-se em armas.
Chegaram a dominar a Sicília mas no final foram vencidos e duramente
reprimidos pelas legiões romanas...
115
Décadas mais tarde, entre 73 e 71 a.C., ocorreu a mais famosa rebelião de
escravos da história romana, que mobilizou 80 mil escravos liderados pelo
gladiador Spartacus. Após uma série de vitórias, os revoltosos foram vencidos
e impiedosamente castigados.

Ditaduras e Triunviratos...
Num clima de crescente instabilidade e crise generalizada, diversos chefes
militares passaram a disputar o poder. Roma conheceu os governos
autoritários dos generais Mário e Sila. Este último derrotou Mário e se tornou
ditador vitalício, mas abdicou em 79 a.C., abrindo caminho para os
triunviratos.
O Primeiro Triunvirato (governo de três pessoas) foi composto por três
políticos de prestígio: Pompeu, Crasso e Júlio César. Em 53 a.C., com a morte
de Crasso, os senadores aproximaram-se de Pompeu e afastaram César do
governo...

Alea jacta est (“A sorte está lançada”)


A guerra civil desencadeada por essa crise permitiu a Júlio César e suas
legiões a tomada do poder. O Senado não teve outra escolha senão conferir a
César o título de Ditador Vitalício (46 a.C.)
César assumiu os poderes de cônsul, tribuno, sumo sacerdote e supremo
comandante do exército. Promoveu uma reforma político-administrativa,
distribuiu terras entre os soldados, impulsionou a colonização das províncias,
construiu obras públicas e reformulou o calendário...

“Até tu, Brutus...”


Mas seus poderes despertaram a oposição de alguns senadores, que tramaram
a sua morte. Em 44 a.C., o ditador foi assassinado, em pleno Senado, por
uma conspiração liderada por Brutus e Cássio.
Sua morte gerou uma grande revolta da população e nova guerra civil, fato
habilmente explorado por Marco Antônio, um dos fortes generais de Júlio
César que, juntamente com Otávio e Lépido, formou o Segundo Triunvirato.

116
O Segundo Triunvirato
Após eliminarem os opositores de César, os novos triúnviros iniciaram suas
disputas internas. Otávio, aproveitando-se da ausência de Marco Antônio, que
se encontrava no Egito, tentou ampliar seus poderes. Desconsiderou Lépido e
declarou guerra Marco Antônio, o qual foi derrotado na batalha naval de
Actium, em 31 a.C.
Em seguida Otávio recebeu do Senado o título de princeps (primeiro
cidadão), primeira etapa para obter o título de imperador (o supremo). Otávio
tornou-se progressivamente senhor absoluto de Roma, recebendo, além dos
dois títulos, o de Augustus (o divino), até então inédito entre os governantes
romano. O ano: 27 a.C.

O FIM DA REPÚBLICA

A rápida expansão ultramarina enriqueceu Roma, mas, por outro lado,


debilitou o seu sistema republicano de governo. A corrupção aumentou com
os funcionários a tentarem enriquecer à custa das províncias. A expansão
resultou num enorme fluxo de escravos para Itália, pelo que muitos romanos
pobres perdiam o trabalho e as suas terras. O tribuno libério Graco, que tentou
introduzir reformas no sistema, foi assassinado (113 a.C.).
Os generais ambiciosos queriam conquistar cada vez mais províncias para
ennquecerem à custa dos despojos de guerra. Podiam, assim, utilizar as suas
riquezas para comprar o apoio dos seus soldados, se quisessem conquistar o
poder na metrópole. Esperava-se que oferecessem terras aos seus soldados
quando eles deixassem o exército. Em breve se desencadearam guerras civis
entre vários generais rivais e, em 44 a.C. , Júlio César, o general triunfante,
derrotou os outros generais. Uma vez no poder, aboliu a república e instaurou
a ditadura em Roma. Os republicanos, assustados, acabaram por assassiná-lo.
A morte de César desencadeou uma nova guerra civil, vencida pelo seu
jovem sobrinho, Octávio. Em 31 a.C., este toma-se governante único de
Roma e das suas províncias. Introduz uma nova forma de governo em 27 a.C.,
toma o nome de Augusto, “o venerado” e torna-se o comandante-chefe do
117
exército, podendo ditar leis e recusar as decisões do Senado. Embora o seu
título oficial fosse princeps (“primeiro cidadão”), Unha, na realidade, o poder
de um rei. O governo de Octávio César Augusto restaurou a paz e a
estabilidade no império romano. Sucedeu-lhe, em 14 d.C., o seu enteado
Tibério. Este, como todos os governantes de Roma que lhe sucederam,
utilizou o título de imperator (“comandante”), origem da palavra imperador

O Império Romano (27a.C. - 476)


O Alto Império (27 a.C. - 235): a Pax Romana

Sob a orientação de Augusto, foi abandonada a política agressiva de


conquistas e aperfeiçoada a administração das províncias. Esse novo curso
contribuiu para que o império vivesse um período de tranqüilidade sem
precedentes, que se tornou conhecido como pax romana, a paz romana, e se
estendeu pelos dois primeiros séculos da era cristã. Roma atingiu o apogeu,
ingressou num período de paz, prosperidade, estabilidade político-social e
grandes realizações intelectuais: não por acaso, o primeiro século da era cristã
ficou conhecido como “século de Augusto”.

Panem et circences
Procurando reduzir as tensões sociais, Augusto promoveu a aliança entre a
nobreza e os cavaleiros e apaziguou a plebe romana com a famosa política de
“pão e circo”. Até hoje utilizada por vários governos (entre eles o do nosso
país), esta política consistia na distribuição de trigo para a população carente
associada à organização de grandes espetáculos públicos.
Após a morte de Otávio Augusto, em 14 da era cristã, sucederam-se quatro
dinastias de imperadores.

118
A crise do Império Romano
O Baixo Império (séc.III a V)
Um dos grandes orgulhos da Roma Imperial era a rapidez e eficiência de seus
transportes. Navios de três cobertas transportavam de 250 a 1000 t de
mercadorias. A uma velocidade média de 5 nós (cerca de 9 km/h), com ventos
favoráveis, embarcações levando o máximo de carga percorriam 220 km por
dia. Em quatro dias, ia-se de Óstia a Tarragona, na Espanha; em dois dias
chegava-se em Cartago; em três, em Marselha; em nove dias atingia-se
Alexandria, no Egito. De março a outubro, os mares eram cruzados por
navios abarrotados de mercadorias destinadas a Roma e outras cidades
italianas...

Um gigante com pés de barro...


Alimentada pela própria expansão imperial, Roma tornava-se uma cidade
exclusivamente consumidora. A mão-de-obra livre, necessária para arar a
terra, para fazer funcionar a indústria e o comércio, era muito cara. E, devido
aos longos decênios de paz e a derrota da pirataria, eram reduzidas as
possibilidades de se conseguir escravos. O resultado é que os campos
romanos retraíram-se: era mais conveniente deixar ao léu os latifúndios do
119
que empregar dinheiro no pagamento dos trabalhadores da terra. Quanto aos
produtos industriais, as províncias que se encarregassem de produzi-los, e os
navios e caravanas de carros que tratassem de fazê-los chegar a Roma...

Mais gastos... mais impostos...


Essa situação não poderia durar eternamente. A crise econômica instalada na
Itália, centro nervoso do império, aos poucos iria se alastrando
implacavelmente por todos os seus domínios.
Para guarnecer as fronteiras e conservar o controle das províncias, os
governos foram obrigados a manter grandes contigentes militares, o que
gerou enormes despesas para o Estado. O desequilíbrio entre a receita e a
despesa pública provocou a desvalorização da moeda, a alta dos preços e um
violento processo inflacionário.

A crise do escravismo e o colonato...


A crise se acentuou graças ao colapso do escravismo e sua gradual
substituição pelo sistema de colonato: pessoas empobrecidas do campo e das
cidades procuravam os grandes proprietários rurais e em troca de
sobrevivência e proteção passavam a trabalhar em suas terras como colonos,
numa prestação de serviços de vida inteira e hereditária, sem jamais poder
deixar o lote recebido. Muitos proprietários preferiam libertar seus escravos –
um luxo cada vez mais caro – e transformá-los em colonos, arrendando-lhes
parte da terra. Ao mesmo tempo, as cidades se despovoavam, o comércio
decaía, os metais preciosos escasseavam: receber salário em moeda tornava-
se um sonho quase impossível.
Crise político-administrativa...
No plano político, as sucessivas lutas pelo poder entre os chefes militares e o
Senado minaram a coesão político-militar do exército que, desarticulado, não
conseguiu conter a pressão dos grupos bárbaros sobre as fronteiras.

Dividir para governar...


Na busca de uma saída para a crise, o imperador Diocleciano introduziu uma
reforma conhecida como tetrarquia. Haveria dois co-imperadores, os
Augustos, que governariam as metades oriental e ocidental do Império
Romano. Cada um teria seu auxiliar direto, que receberia o título de César e
120
mais tarde se tornaria co-imperador. Na prática, era a divisão do império em
duas porções diferenciadas: a ocidental, cada vez mais pobre, e a oriental,
ainda viável...
A divisão torna-se inevitável...
O imperador Constantino, sucessor de Diocleciano, restabeleceu a unidade
imperial. Mas, consciente de que a força do Império dependia cada vez mais
das províncias do Oriente, estabeleceu em 330 sua capital na cidade de
Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), fundada por ele no estreito de
Bósforo, limite entre a Europa e a Ásia, onde já existia a antiga colônia grega
de Bizâncio.

Migrações e invasões...
No século V tiveram início as chamadas grandes migrações dos povos
bárbaros. Pressionados pelos hunos, os grupos germânicos dos godos e
visigodos cruzaram as fronteiras do Danúbio e se estabeleceram no território
do Império. De início, a penetração ocorreu pacificamente. Em 378, porém, a
cavalaria dos visigodos esmagou as tropas imperiais na batalha de
Adrianópolis...

“...Foi conquistada, essa cidade que conquistara o universo”


(S. Jerónimo)
O imperador Teodósio conseguiu pacificar os visigodos, cedendo-lhes
territórios e colocando-os a serviço da defesa do Império. Sua última medida,
no ano 395, foi a divisão do Império Romano em Império do Oriente, com
capital em Constantinopla, e Império do Ocidente, com capital em Milão.
Cem anos depois, o Império do Oriente se mantinha centralizado e forte,
enquanto o Império do Ocidente – ruralizado, fragmentado em regiões
política e economicamente isoladas, devastado por sucessivas invasões –
desde 476 não existia mais.
 O imperialismo romano e as guerras civis internas foram responsáveis
pela ampliação do aparelho militar e burocrático, bem como pela
instabilidade política. As sucessivas lutas pelo poder geraram corrupção,
descontrole político, queda de valores tradicionais, desencadeando uma
séria crise moral. No século III impôs-se a anarquia militar: as legiões
entronavam e destronavam imperadores segundo interesses imediatos (de
121
211 a 284, por exemplo, sucederam-se cerca de vinte Imperadores). Os
soldados, que gozavam de grande prestígio, apoiavam irrestritamente os
generais, que se apossavam, mesmo que por curtos períodos, de regiões
provinciais, o que contribuía para o acirramento da crise.
 A crise do escravismo, ocasionada pelo fim das guerras de conquistas e
que fez escassear o número de prisioneiros, tornou-se um obstáculo à
produção, baseada fundamentalmente na escravidão. Os proprietários foram
então obrigados a arrendar suas terras a camponeses, que se sujeitavam a
pagar quaisquer tributos que lhes fossem cobrados. Substituía-se o
escravismo pela servidão rural.
 O crescimento do cristianismo foi outro fator de desagregação do
Império, pois se opunha à estrutura militar e escravocrata, sustentáculo do
Império Romano.
 A crise econômica, advinda da crise escravista, resultou na diminuição de
receitas para cobrir os gastos com a manutenção da burocracia e do
exército. Ao lado disso, houve uma nítida diminuição de áreas cultivadas,
devido à falta de mão-de-obra, o que veio a encarecer os produtos. Ao
mesmo tempo, o Estado desvalorizava a moeda, devido à diminuição de
metais nobres, como ouro e prata, único meio de que dispunha para saldar
seus compromissos. Houve, em conseqüência, uma inflação crescente, que
resultou num caos monetário, no início do século III, e que acelerou a
decadência econômica.
 A volta para uma economia rural de subsistência fez com que a população
rural se isolasse em vilas auto-suficientes e autônomas, para poder enfrentar
a crise geral do Império.
 Finalmente, as invasões bárbaras minaram as forças imperiais, já
agonizantes, tomando pouco a pouco seus territórios e pondo fim ao
Império Romano em 476.

O Cristianismo
“Eu vos dou um novo mandamento: Que vos ameis uns aos outros, assim
como eu vos amei, para vós também mutuamente vos ameis...”

122
O Cristianismo surgiu na Galiléia, região conquistada e anexada pelos
romanos em 40 a.C. Segundo os Evangelhos, baseava-se nos ensinamentos de
Jesus, que nasceu em Belém de Judá durante o governo de Otávio Augusto
(27 a.C. a 14 d.C.). Segundo a tradição judaica, anunciado pelos profetas,
havia nascido o Messias, para anunciar o reino dos justos e a salvação da
humanidade.
Aos 30 anos, Jesus iniciou suas pregações e recrutou um grupo de seguidores,
os apóstolos...

“Bem-aventurados os pobres: porque deles é o reino dos Céus...”

Suas palavras e atitudes desafiavam tanto a elite religiosa judaica quanto as


autoridades romanos na Palestina ocupada. Embora Jesus afirmasse que o
Reino de seu Pai não era desse mundo, foi visto como um rebelde e
condenado à morte na cruz.
Graças ao trabalho de seus seguidores, o cristianismo difundiu-se pelo
Império Romano. Era uma religião das camadas populares, uma palavra de
esperança para aqueles que, desalentados pela opressão e pelo sofrimento,
esperavam a salvação após a morte...

“Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça: porque


deles é o Reino dos Céus.”

Durante o governo de Nero iniciou-se a


perseguição aos cristãos, acusados de
não cultuar os deuses romanos.
Também lhes eram atribuídas a
responsabilidade pelas calamidades e
crises que se abatiam sobre o Império.
A partir do séc. III, a intensificação dos
problemas econômicos-sociais do
mundo romano fez aumentar o número
de adeptos do cristianismo.

123
“... Escravos, obedecei ao vossos amos... com temor e respeito, e toda a
retidão do coração, como a Cristo...”
(S. Paulo, “Espítola aos Efesos)

Durante 250 anos os cristãos sofreram inúmeras perseguições até que, em 3l3,
o Imperador Constantino publicou o Edito de Milão, que concedeu liberdade
de culto a todas as pessoas. Mais tarde, no governo Teodósio, o cristianismo
se tornou religião oficial do Estado...

“Se alguém ousar fazer dessas oferendas que, embora de pouco valor, fazem...
injúria à religião (cristã), esse indivíduo, como culpado de violar a religião,
será despojado da casa ou da propriedade onde se verifique que ele praticou
alguma superstição gentílica.” (Edito imperial de 392, iniciando a perseguição
aos pagãos.)

124
UNIDADE DIDÁTICA VII - A IDADE MÉDIA NO ORIENTE

INTRODUÇÃO

Das ruínas do Império Romano surgiram três novas civilizações baseadas na


religião: Bizâncio, o Islã e a Medieval. O Império Bizantino Nasceu na crise
do Século III, deixou uma herança muito rica em r influencio a formação da
religião do leste Europeu. Bizâncio com seu estivo de vida e divulgação da
cultura foi o sustentáculo da cultura ocidental, quando os bárbaros invadiram
a Europa. Por outro lado o Islã surgido no quintal do Império Bizantino se
tornou em uma das mais importantes religiões do Mundo, com milhares de
seguidores.

O Império Bizantino e o Oreinte medieval


O INICIO DE BIZÂNCIO

Império Romano, cujas bases Constantino estabeleceu em Constaninopla,


sobreviveu a ele por 1.100 anos. Seus governantes sempre se consideraram
“romanos”, como os inimigos em geral os chamavam. Presidiam metade da
cristandade: o mundo cristão do Mediterrâneo e do Novo Oriente. Primeiro
ocorrera a lenta mudança das preocupações do governo para o leste no século
III d.C. e as grandes decisões de Constantino de que o império deveria ser
cristão e que uma nova capital deveria ser construída no Bósforo, em
125
Bizâncio. A primeira preocupação ajudou a tornar mais importante o leste e
as províncias do império que falavam grego: elas abrigavam as maiores
comunidades cristãs. A segunda fala por si mesma: o colapso do Império
Ocidental no século V foi o próximo passo óbvio rumo à separação; depois
disto não haveria mais retorno.

A construção do Império

Embora o Império Romano do Ocidente tivesse caído diante das tribos


germânicas, as províncias do Oriente sobreviveram — por serem mais ricas,
urbanizadas e populosas, e porque os invasores germânicos e hunos visavam
principalmente ao oeste. Nas regiões orientais tomou forma a civilização
bizantina. Sua religião era cristã; a língua e a cultura, gregas; e a máquina
administrativa, romana. A capital, Constantinopla, era uma cidade fortificada,
cuja localização dificultava ataques por mar e terra.Durante a Alta Idade
Média, a civilização bizantina encontrava-se econômica e culturalmente
muito mais adiantada que o Ocidente latino. Numa época em que poucos
ocidentais (cristãos latinos) sabiam ler ou escrever, os eruditos bizantinos
estudavam a literatura, filosofia, ciência e direito da Grécia e Roma antigas.
Enquanto o comércio e a vida urbana haviam sofrido uma grande regressão
no Ocidente, Constantinopla era uma cidade magnífica, com escolas,
bibliotecas, praças abertas e mercados cheios.
Com o passar dos séculos, desenvolveram-se muitas diferenças entre a
Igreja bizantina e a Igreja romana. O papa resistia às tentativas de domínio do
imperador bizantino, e os bizantinos não queriam aceitar o papa como o chefe
de todos os cristãos. As duas igrejas discordavam em relação às cerimônias,
dias santificados, adoração de imagens e direitos do clero. O rompimento
final ocorreu em 1504. A Igreja cristã dividiu-se em Católica Romana, no
Ocidente, e Ortodoxa Oriental (grega), no Oriente — divisão existente até
hoje.
Divergências políticas e culturais ampliaram a separação entre a cristandade
latina e Bizâncio. No Império Bizantino, o grego era a língua da religião e da
vida intelectual; na cristandade latina, predominava o latim. Os cristãos
latinos recusavam-se a reconhecer os imperadores bizantinos como sucessores
dos imperadores romanos. Os governantes bizantinos tinham poder absoluto e
126
declaravam-se escolhidos por Deus para instituir a vontade divina na Terra.
Em bizancio surgiu uma forma peculiar de governo o Cesaropapismo, onde
o Impérador “ Basileu”, exercia o poder temporal e expiritual e que como
sucessores dos imperadores romanos, reivindicavam domínio sobre todas as
regiões que haviam pertencido ao Império Romano.
Em seu apogeu, sob o governo do imperador Justiniano, o Império
Bizantino incluía a Grécia, Asia Menor, Itália, sul da Espanha e partes do
Oriente Próximo, África do Norte e Bálcãs. Ao longo dos séculos, os bi-
zantinos sofreram ataques dos lombardos e visigodos germânicos, dos persas,
árabes muçulmanos, turcos seljúcidas e cristãos latinos. O golpe mortal sobre
o império foi desferido pelos turcos otomanos, originários da Asia central,
que haviam adotado o islamismo como religião e iniciado a construção de um
império. Eles avançaram sobre os bizantinos a partir da Ásia Menor e
conquistaram grande parte dos Bá1cãs. Por volta do início do século XV, o
Império Bizantino consistia apenas em dois pequenos territórios na Grécia e a
cidade de Constantinopla. Em 1453, os turcos otomanos venceram as grandes
muralhas de Constantinopla e saquearam a cidade. Depois de mais de dez
séculos, o Império Bizantino chegava ao fim.
Em sua história de mil anos, Bizâncio deixou uma marca significativa na his-
tória do mundo. Primeiro, impediu que os árabes muçulmanos avançassem
sobre a Europa ocidental. Se os árabes tivessem rompido as defesas
bizantinas, grande parte da Europa poderia ter sido convertida à nova fé
islâmica. Outro fato importante foi a codificação das leis da Roma antiga,
durante o governo de Justiniano. Essa realização monumental, o CorpusJuris
Civilis, preservou os princípios da razão e da justiça do direito romano. Os
códigos jurídicos de hoje têm, em grande parte da Europa e da América
Latina, raízes no direito romano preservado pelos juristas de Justiniano. Os
bizantinos conservaram também a filosofia, ciência, matemática e literatura
da Grécia antiga.

JUSTINIANO, O GRANDE

Justiniano (527-565), mais do que qualquer outro governante, foi o


responsável pelo estabelecimento das formas definitivas do estilo da
127
sociedade bizantina que Diocleciano e Constantino haviam fundado. A sua
personalidade e o seu estilo de governo inspiraram e permitiram as grandes
realizações levadas a cabo durante o seu longo reinado. Neste ponto de vista,
o papel que desempenhou na história do seu tempo foi muito relevante. De
origem camponesa, Justiniano recebeu, no entanto, excelente educação. No
auge econômico do Império Justiniano decidiu reconstituir territorialmente o
império, unificar as facções que dividiam a Igreja Cristã. Deste planejamento
inesgotável de Justiniano (os súbditos chamavam-lhe o imperador que não
dorme), decorreu a reconquista da maior parte do antigo território do antigo
Império Romano do Ocidente. A sua esposa, a Imperatriz Teodora, era,
talvez, de origem ainda mais modesta , todos afirmam que era de forte
personalidade, não há dúvida que exercia certa influência sobre o imperador..
A sua atitude mais decisiva talvez tenha sido a intervenção no Conselho da
corte quando este quis persuadir o imperador a abandonar Constantinopla
durante a rebelião de Nika (532). Se Justiniano se tivesse decidido a partir, o
seu reinado terminaria antes de concluídas as obras que o tornaram famoso.

Corte de jutiniano

As facções dos Azuis e


Verdes do circo, que se
envolveram em desordem em Janeiro de 532, exerciam uma atividade de
longa data familiar aos habitantes das cidades do império. Nos séculos IV e V
a competição das duas mais importantes equipes do Hipódromo (Azuis e
Verdes) tornou-se tão violenta que era acompanhada de arruaças. Embora as
128
facções se guerreassem normalmente umas às outras, juntaram forças contra
Justiniano e quase o depuseram durante a grande revolta de Nika,( que quer
dizer vitória em grego), em 532. Foi durante estes acontecimentos que
Teodora salvou o trono de Justiniano, forçando-o a lutar até ao fim. A
rebelião, que destruiu uma grande parte do centro da cidade, foi finalmente
sufocada num banho de sangue.
(Teodosia)

129
As revoltas de Nika
marcam um momento de
virada no reinado de
Justiniano. Depois de as
haver sufocado, iniciou a
conquista do Ocidente e a
reconstrução da cidade, ao
acabamento da codificação
das leis. Apesar do colapso
imperial no Ocidente ter
sido completo, existiam
certas condições favoráveis
à reconquista bizantina.
Para as populações o
imperador de
Constantinopla representava
a personificação das
instituições religiosas e da
justiça.
A invasão bizantina da
península itálica foi
grandemente facilitada pela
conjuntura política em que esta se encontrava. A invasão da Sicília em 535
marcou o início da reconquista da Itália, que durararia mais de duas décadas e
devastaria a península. A dificuldade da campanha foram devidas à escassez
dos braços e dos recursos financeiros que Justiniano pusera à disposição do
general Belizário, seu chefe da campanha na Itália. A fraqueza das tropas de
Belisário permitiu aos Godos manter uma demorada resistência e,
freqüentemente, reconquistar terras e cidades aos bizantinos (Roma mudou de
mãos cinco vezes).
Explorando o isolamento diplomático dos seus inimigos no Ocidente, e
assumindo uma atitude defensiva no Oriente, Justiniano conseguiu converter,
mais uma vez, o Mediterrâneo em lago imperial e dar ao seu nome um brilho
temporário, mercê da destruição dos reinos bárbaros. As concepções
imperiais e cristãs levaram-no, além da ação política da reconquista, ao
130
enorme embelezamento arquitetônico e artístico do império. A arte bizantina
deveu muito ao gosto heleno-oriental da Anatólia, Síria e Egito, mas a obra
resultante destes elementos não foi de modo algum uma copia.
• A centralização e a Cidade de Constantinopla
A centralização política, econômica e religiosa do império em
Constantinopla foram decisivas para a arte bizantina, e o aparecimento de um
monarca inspirado, servido que os arquitetos e artistas tivessem possibilidade
de construir grandes monumentos e criou as condições favoráveis ao seu
apogeu. De Constantinopla saiam, para as províncias, não só arquitetos mas
também plantas de igrejas, de edifícios civis, de fortificações. A influência de
Constantinopla estende-se aos mínimos detalhes.
Constantinopla crescera tão rapidamente depois de 330 que, no século V,
tiveram de ser construídas novas muralhas do lado da terra para proteger a
metrópole, tão grandemente aumentada. Como os distúrbios de 532 haviam
devastado grandes setores do bairro vizinho do palácio, incluindo Santa Sofia
e os edifícios do Senado, Justiniano resolveu reconstruir a igreja
magnificamente, para o que adquiriu as casas que tinham ficado de pé, para
demolição. A nova igreja de Santa Sofia é o edifício mais significativo da
arquitetura religiosa da Europa Ocidental e do Oriente Próximo. A evolução
realizada durante os três séculos que decorreram da coroação de Diocleciano
à morte de Justiniano suscitou mudanças dramáticas na sociedade
mediterrânica. As instituições nascidas desta evolução conquistaram
uniformidade política e econômica, mas, apesar dos esforços de Justiniano,
não conseguiram alcançar homogeneidade religiosa e cultural.

A religião e o Estado

As principais características de Bizâncio foram o papel e o estilo especiais


em relação à cristandade. O império se tornara ,segundo a ótica cristã, parte
da engrenagem de salvação da humanidade, e isto se refletia em todas as suas
realizações. Justiniano usou o cristianismo e os homens da Igreja como um
ramo da diplomacia, servindo de padrinho de batismo para os filhos de
príncipes bárbaros e mandando missionários para converter outros.
A essência religiosa não mudou: permaneceu cristã, e isto de um modo
131
especial, dentro da tradição chamada de ortodoxa. Desta tradição derivam não
apenas as Igrejas atuais da Grécia e de Chipre, mas também as da Rússia, da
Bulgária e de algumas outras terras eslavas. Em resumo, a “ortodoxia” foi em
muitos aspectos diferente da cristandade católica que dominaria a Europa
Ocidental. Nenhum clérigo ortodoxo tinha autoridade comparável à do Papa
romano, por exemplo; o Patriarca de Constantinopla, reconhecido líder da
Igreja oriental desde o século VII, era na verdade indicado pelo imperador e,
em contrapartida, dava a bênção da Igreja à coroação Imperial. Os clérigos
paroquiais comuns muitas vezes se casavam, embora o clero da Igreja
ocidental viesse a ser celibatário, o que significava que os sacerdotes não
constituíam uma sociedade à pane nos países ortodoxos, como na Europa Oci-
dental.
A tradição ortodoxa grega também teve de lutar contra a disputa e o debate
teológico em maior grau do que a Igreja Romana dos primeiros séculos. Isto
em parte reflete a presença de diferentes tradições religiosas dentro do velho
mundo helenístico. Constantinopla, Jerusalém, Antioquia e Alexandria, os
quatros grandes “patriarcados” (ou bispados principais), todos representavam
interesses locais e tradições culturais.

• IsIã

A segunda civilização a emergir depois da queda de Roma baseava-se na


nova e vigorosa religião do Islã, surgida no século VII na Arábia. Seu
fundador foi Maomé (c. 570-632), um próspero mercador da cidade de Meca.
Por volta de 40 anos de idade, Maomé acreditou ter sido visitado pelo anjo
Gabriel, que lhe ordenou “recitar no nome do Senhor!”. Transformado por
essa visão, Maomé convenceu-se de que fora escolhido para servir como
profeta. Embora a maioria dos árabes do deserto venerassem deuses tribais,
nas cidades e nos centros comerciais grande parte da população tomara
conhecimento do judaísmo e do cristianismo, e alguns árabes já aceitavam a
idéia de um Deus único. Rejeitando as divindades das religiões tribais,
Maomé ofereceu aos árabes uma nova fé monoteísta, o Islã, que significa
“render-se a Ala (Deus)”.
Os padrões islâmicos de moralidade e as normas que regulam a vida
132
cotidiana são fixados pelo Alcorão, que os muçulmanos acreditam conter a
palavra de Ala, tal como revelada a Maomé. Para os muçulmanos, sua
religião é a conclusão e o aperfeiçoamento do judaísmo e do cristianismo.
Consideram os antigos profetas hebreus como mensageiros de Deus e
valorizam sua mensagem de compaixão e a igualdade dos seres humanos.
Também reconhecem Jesus como um grande profeta, mas não o consideram
divino. Para eles, Maomé foi o último e maior dos profetas, mas era
totalmente humano. Cultuam apenas a Alá, o criador e soberano do céu e da
terra: Deus único e todo-poderoso, misericordioso, compassivo e justo. De
acordo com o Alcorão, no Dia do Juízo os incrédulos e os iníquos serão
arrastados a um lugar terrível de “ventos abrasadores e água escaldante” e os
“pecadores comerão fruto amargo (...) beberão água fervente” ‘. Aos
muçulmanos fiéis que vivem na virtude é prometidos o paraíso, um jardim de
prazeres carnais e deleites espirituais.
Em pouco mais de duas décadas, Maomé unificou as tribos árabes,
envolvidas em constantes disputas, numa força poderosa dedicada a Má e à
difusão da fé islâmica. Após sua morte, em 632, Maomé foi sucedido por seu
amigo e sogro Abu Bakr, que se tornou califa. Considerado como o defensor
da fé, cujo poder derivava de Alá o califa governava segundo a lei
muçulmana, tal como definida no Alcorão. O Estado islâmico era uma
teocracia, em que governo e religião eram inseparáveis; não podia haver
nenhuma distinção entre autoridade secular e espiritual. Para os muçulmanos,
Deus era a fonte de toda a autoridade legal e política, e o califa era seu
representante na terra. A lei divina regulava todos os aspectos das relações
humanas.
O governante que não aplicasse a lei do Alcorão, falhava no
cumprimento de suas obrigações. O islamismo era, portanto, mais que uma
religião; constituía também um sistema de governo, sociedade e lei que,
segundo acreditavam os muçulmanos, unia todos os seus adeptos numa única
e abrangente comunidade. A idéia de uma sociedade governada pela lei do
Alcorão permaneceu profundamente arraigada no espírito muçulmano.
O Islã propiciou às tribos árabes unidade, disciplina e organização para
vencerem suas guerras de conquista. Sob os quatro primeiros califas, que
governaram de 632 a 661, os árabes rapidamente dominaram o Império Persa,
tomaram algumas províncias de Bizâncio e invadiram a Europa. Os guerreiros
133
muçulmanos acreditavam estar envolvida numa guerra santa (jihad), cuja
finalidade era propagar o islamismo aos infiéis, e aqueles que morressem
nessa guerra tinham um lugar garantido no paraíso. Outra razão que
contribuiu para a expansão foi desejo de fugir à aridez do deserto árabe e
explorar as prósperas terras bizantinas e persas. No leste, o território islâmico
estendeu-se até a Índia e as fronteiras da China; no oeste, incorporou a África
do Norte e a maior parte da Espanha.
Nos séculos VIII e IX, sob os califas abássidas, a civilização muçulmana
entrou na sua idade de ouro. Ela sintetizou, criativamente, as tradições
culturais árabe, bizantina, persa e indiana. Durante a Alta Idade Média,
quando o conhecimento estava em decadência na Europa ocidental, os
muçulmanos forjaram uma civilização superior. A ciência, a filosofia e a
matemática muçulmanas basearam-se, em grande parte, nas realizações dos
gregos antigos. Os árabes adquiriram o conhecimento grego através das
civilizações persa e bizantina, mais antigas, que mantiveram vivo o legado
helênico. Traduzindo as obras gregas para o árabe e comentando-as, os
eruditos muçulmanos realizaram a grande tarefa histórica de preservar a
herança filosófica e científica da Grécia antiga. O conhecimento grego,
suplementado pelas contribuições originais dos intelectuais e cientistas
muçulmanos, foi então transferido à Europa cristã.
O império árabe, estendendo-se desde a Espanha até a Índia, foi unificado
por uma língua, uma fé e uma cultura comuns. Por volta do século XI, no
entanto, os árabes começaram a perder seu domínio no mundo islâmico. Os
turcos seljúcidas, que haviam tomado a Asia Menor dos bizantinos,
conquistaram também os territórios árabes da Síria, Palestina e grande parte
da Pérsia. Embora os califas abássidas tenham permanecido como líderes
religiosos e culturais do Islã, o poder político passou a ser exercido pelos
sultões seljúcidas. Nos séculos XI e XII, os muçulmanos perderam a Sicília e
a maior parte da Espanha para os cavaleiros cristãos, e os cruzados europeus
estabeleceram remos no Oriente Próximo.
O Império Otomano atingiu seu apogeu no século XVI, com a conquista
do Egito, África do Norte, Síria e litoral da Arábia. Os otomanos
desenvolveram um sistema de administração eficiente, mas não conseguiram
restaurar o esplendor cultural, o comércio florescente e nem tampouco a
prosperidade que o mundo muçulmano conhecera sob o governo dos califas
134
abássidas de Bagdá.

UNIDADE DIDÁTICA VIII

A ALTA IDADE MÉDIA

135
INTRODUÇÃO

Separadas do Oriente, as províncics ocidentais do Império Romano,


menos ricas, pior governadas, enfraquecidas pelas questões sociais e as
dificuldades econômicas, abandonadas de agora em diante a seus próprios
recursos e as suas próprias defesas, sofrem, ao longo de todo o século V, os
repetidos assaltos dos bárbaros vindos do leste e do norte. O choque continuo,
por vezes dramático, entre os povos romanos e os novos invasores provoca o
que se chama a desintegração do Império romano. Esta desintegração, de fato,
é somente um longo período de ajustamento a novos equilíbrios étnicos a
outras estruturas políticas e sociais.

• Migrações e invasões

As transformações ocasionadas pelas invasões bárbaras dizem respeito


somente ao Ocidente: o Império romano se mantém no Oriente.
Constantinopla permanece a capital de um mundo romano, por muito tempo,
solidamente ligado a todas as tradições, à administração, ao direito, às
hierarquias.
As invasões bárbaras dessa época desempenharam um papel determinante
na evolução do mundo ocidental. Toda a história da Europa permanece
seriamente marcada pelos ataques de povos hostis, que, constantemente,
retornavam à carga pelos mesmos caminhos. Após um curto intervalo, no
tempo dos primeiros carolíngios, os escandinavos retomaram, no século IX,
as rotas seguidas quatrocentos anos antes pelos conquistadores saxões, pelos
piratas da Frísia em direção à Inglaterra, às costas francesas do mar do Norte
e da Mancha. No sul, na mesma época, os muçulmanos, como outrora os
vândalos de Genserico, retêm o Mediterrâneo ocidental, as ilhas e as regiões
do trigo. A leste, apesar das poderosas contra-ofensivas da cristandade, as
vagas se sucedem quase ininterruptamente, ao longo de toda a Idade Média;
aos germanos se sucedem primeiramente os eslavos, os húngaros e depois
todos os povos turcos provenientes da Ásia Central.
Além disso, essas incursões em direção ao Ocidente são apenas um aspecto. o
menos importante sem dúvida, das grandes migrações de cavaleiros nômades
136
da Ásia Central, que, no mesmo período, do século V ao XV, atacam
ininterruptamente o Império chinês, onde, de 1260 a 1368, impuseram a
dinastia mongol dos Yuan.

ORIGENS DAS MIGRAÇÕES

Não se pode, de um modo seguro, atribuir exclusivamente nem a uma


degradação climática que tivesse afastado os pastores das planícies mais
elevadas em direção a terras melhores, nem uma expansão demográfica, nem
mesmo estruturas sociais particulares que provocassem a emigração de
numerosos membros do clã em busca melhor qualidade de vida.
Para o romano, o bárbaro é antes de tudo um soldado. Freqüentemente
atribuiu-se o êxito das invasões a uma indiscutível superioridade militar:
cavalaria mais leve e rápida, domínio absoluto da então difícil arte de forjar as
armas. De fato, esses bárbaros combatem, de uma maneira bem diferente dos
romanos: arcos de cavaleiros hunos montados em cavalos rápidos, espadas
longas e lanças de cavaleiros vândalos ou alamanos, gládios mais curtos dos
francos. Essas armas são todas ofensivas: o machado de um só gume, o
célebre Francisca, atirado de longe sobre o inimigo, a espada longa com dois
gumes. Gládios e espadas demonstram uma desconcertante habilidade na arte
de ligar os metais, de temperar o aço, de soldar peças cuidadosamente
produzidas. Essas espadas e armas sobrepujam de longe as dos romanos,
muito inferiores.
Com maior freqüência, os bárbaros introduzem-se no Império sem
choques, à custa de acordos variados que lhes abriam pacificamente o
limes( limites) de inicio portanto existiram infiltrações lentas e insensíveis,
migrações mais que invasões. Roma, séculos após, recrutava mercenários
bárbaros, para seus corpos auxiliares e a alguns de seus chefes confiava até
mesmo comandos militares e a tarefa de repelir ataques de novos bárbaros,
ainda estrangeiros. Nas fronteiras e, por vezes, no interior distante, instalava,
para defender e repovoar os campos, colônias de guerreiros germânicos, de
início submetidos a uma rigorosa disciplina militar e isolados das populações
romanizadas. A anseio dos bárbaros era obter dos romanos a hospitalidade,
que lhes assegurava terras em troca de serviços militares e do respeito às leis
do Império. As tribos, populações ou povos inteiros, obtinham assim um
137
foedus, tratado que precisava as condições de estabelecimento dos federados
em terras abandonadas ou nos domínios de grandes proprietários romanos. Os
guerreiros federados foram com freqüência aliados fiéis de Roma, ávidos a
defender-lhe as fronteiras.

OS POVOS BÁRBAROS

Os gregos, depois os romanos, designavam pelo nome de bárbaros todos


os povos declaradamente estrangeiros, rebeldes à sua civilização, seu modo
de vida, suas estruturas econômicas e sociais, sua cultura, e mesmo à sua
língua. De fato, o bárbaro, ao longo de todo o Império, é o homem das estepes
ou das florestas, nômade mesmo nas cidadelas de agricultores, incapaz em
todo caso de assimilar a civilização greco-romana. essencial-mente urbana.
Por volta do século V, a palavra é usada para indicar todos os povos além das
fronteiras. Mas vários grupos distintos invadiram o império romano, pode-se,
entretanto, distinguir:

Os povos iranianos de raça branca, que, provenientes das altas planícies do


Turquestão e do Khorassan na Ásia Central, se estabeleceram nas estepes às
margens do Mar Negro;
Os asiáticos nômades de raça amarela, que se podem qualificar como turcos,
sucessivamente os hunos e os avaros.
Mais numerosos, os germanos, vasto grupo étnico, na realidade muito
heterogêneo, sem dúvida originário das províncias meridionais da
Escandinávia e cujas primeiras migrações remontam ao segundo milênio
antes de Cristo. Detidos longo tempo pelos celtas ( séculos V ao II), os
germanos continuaram em seguida seu avanço em direção ao sul, chocando-se
então com os romanos.

AS INVASOES GERMÂNICAS

Em 375, os hunos, provenientes da Ásia, deslocaram todos os seus


inimigos em direção ao oeste e fundaram, no início do século V, na Europa
Central, um vasto Estado nômade, de fronteiras incertas, dirigido por um rei
138
todo-poderoso, hereditário. Átila ( O flagelo dos deuses) , rei em 434, conduz
a princípio seus exércitos contra as fronteiras do Oriente e as cidades dos
Bálcãs e, posteriormente, em 451, saqueia todo o norte da Gália: contido,
porém, diante dos romanos e de seus aliados bárbaros, volta-se, no ano
seguinte, contra a Itália, toma e pilha todas as cidades planície do vale do Pó.
No entanto, a história das invasões bárbaras, do século IV ao VII, é, antes de
tudo, para o Ocidente cristão, a das migrações germânicas.
Essas migrações atingem de início as províncias orientais do Império.
Mal estabelecidos no Império, os visigodos (godos do oeste) são encarregados
de restabelecer a ordem, de perseguir ou dizimar os bárbaros mais
turbulentos, obtêm um território em 418 e um vasto reino na Espanha. Os
ostrogodos (godos do leste), de início estabelecidos em um território (455)
nas planícies do médio Danúbio, ameaçam constantemente os Bálcãs,
tentando conquistar Constantinopla e, deslocados finalmente para o oeste
pelos bizantinos, tomam o Itália, conduzidos por seu rei Teodorico (489-493).
Na mesma época, outros povos bárbaros haviam atacado diretamente o limes
ocidental. Os vândalos cruzam à força o Reno em 406, entram na Espanha ,
perseguidos e derrotados pelos visigodos, partem para a áfrica, conquistam as
melhores províncias romanas. Os borgunios, que foram auxiliares do Império
romano, estabelecem-se pacificamente em 413, fundando a seguir um
poderoso reino, que tendo como eixo suas duas capitais, Lyon e Genebra. Nas
fronteiras das províncias mais ocidentais, afirma-se, os francos, seu rei
nascido por volta de 465, Clóvis tomou-se em 481, chefe dos francos e,
conquistou ou reuniu num vasto reino todas as províncias da Gália.

• Os primeiros reinos bárbaros da Europa mediterrânica

OS VÂNDALOS NA AFRICA

Nascido da conquista militar, o reino vândalo constitui-se, na África,


num Estado guerreiro apoiado sobre um sólido exército, dividido pela região
em grupos de mil homens. Este Estado exige também uma severa segregação
entre vencedores e aristocratas romanos, que viram suas terras confiscadas;
muitos fugirão para a Sicília ou Roma.
139
O rei vândalo Genserico (477) inflige rudes golpes no Mediterrâneo
romano, onde destrói as comunicações e ameaça constantemente os comboios
de trigo, ainda indispensáveis ao abastecimento de Roma.

OS OSTROGODOS NA ITÁLIA

A 4 de setembro de 476, o imperador infante Rômulo Augústulo era


deposto pelo exército de Odoacro, chefe dos Érulos, pouco depois,
reconhecido “patrício” pelo imperador Zenão de Constantinopla. Toma-se, de
fato, o senhor de um exército composto por mercenários de origens muito
diversas e de um verdadeiro reino bárbaro limitado à Itália e cujo centro vital
situa-se na planície do Norte, entre Ravena, a capital. e Milão.
Em 489, porém, Teodorico, chefe dos ostrogodos, invade a península, e
inflige a Odoacro uma derrota perto de Verona. O governo de Teodorico
formara-se durante longas permanências na corte de Constantinopla. Mantém
as antigas leis, deixa o nome do imperador nas moedas, conserva os
magistrados e empregados nos cargos de outrora; sobretudo, sabe ganhar o
apoio da classe senatorial, respeitando-lhe os privilégios, e o do povo de
Roma, sempre alimentado e entretido. Restaura as termas, as lojas, os
aquedutos e os esgotos da capital.

OS VISIGODOS NA ESPANHA

Os visigodos, mercenários do Império. haviam tomado e pilhado Roma


em 410. O segundo reino visigótico, da Espanha, posteriormente
independentes é, sem dúvida, O mais poderoso e o mais original de todos os
remos bárbaros do Ocidente, dos séculos V ao VIII.

OS FRANCOS

Dinastia merovingia
Anteriormente a Clóvis, os francos, provenientes das margens inferiores
do Reno, haviam conquistado todo o norte da Gália. Clóvis não abandona
140
toda a herança política de Roma, recebe as tábuas consulares enviadas pelo
imperador de Constantinopla e usa o diadema e a túnica púrpura dos
imperadores. Instala sua capital em Paris, cidade onde permaneciam
numerosos e influentes administradores romanos.
Toda a vida política repousa no poder absoluto do rei conquistador. O
serviço do rei estabelece uma hierarquia precisa em favor de uma nobreza de
corte formada por companheiros, fiéis ou da estima do soberano. Os outros
homens livres, romanos ou guerreiros francos, perdem, seus direitos políticos
e militares. Os francos continuam a ser temíveis guerreiros e obtêm por
muito tempo êxitos decisivos sobre seus vizinhos. Após sua morte, em 511,
os sucessores de Clóvis, que invocavam um ancestral legendário, Meroveu, e
que os historiadores chamam de merovíngios, intervêm diversas vezes em
direção leste.
Mas Clóvis, que considerava o poder real como uma espécie de
propriedade pessoal, havia dividido seu reino entre seus quatro filhos a
história dos filhos e dos netos de Clóvis, a partir de então, foi apenas a de
unia seqüência inextricável de conflitos familiares, intrigas, assassinatos e
guerras civis. Ensangüentaram e enfraqueceram todas as regiões francas. O
poder real dissolve-se na medida em que se afirma o poder dos duques,
comandantes dos exércitos, e sobretudo o dos membros do palácio. que
formam uma verdadeira casta enriquecida com a posse de grandes domínios
de terras e capaz de arrancar importantes concessões aos soberanos.

Os carolingios

A ascensão de uma nova dinastia franca, em 751, assinala o êxito dos


prefeitos do palácio e o restabelecimento em seu proveito da autoridade real
enfraquecida. O prefeito do passo Carlos Martel, liga a seu nome a batalha de
Poitiers (732), onde os exércitos francos fizeram recuar os avanços dos
muçulmanos, vindos da Espanha. Desde então, Carlos aparece como o
defensor da cristandade diante do Islã.
Após a morte de Carlos em 741, o reino dividiu-se entre seus dois filhos,
Carlomano e Pepino; tanto um como outro selam solidamente a aliança com a
Igreja. Em 747, Carlomano abdica e Pepino, o Breve, permanece como o
único senhor; em 751, com o apoio do papa, foi proclamado rei. Pepino se
141
liga a igreja católica apoiando a política papal na Europa. O papa instala-se a
seguir no mosteiro de Saint-Denis, onde ele mesmo sagra o novo rei. A
aliança com Roma assinala, a partir dai, sensivelmente, toda a política dos
reis carolíngios. Consagrado Rei e principal protetor dos cristãos, ornado com
o titulo de “patrício” dos romanos, Pepino reconhece em proveito do papa o
governo da cidade de Roma e a possessão das províncias bizantinas da Itália
central (754). Por duas vezes, o novo rei intervém na Itália, derrota os
lombardos, que ameaçavam Roma ou a independência pontifical.

CARLOS MAGNO, REI DOS FRANCOS

Por ocasião de sua morte, em 768, porém, a unidade do reino parecia


ainda incerta:
seus dois filhos, Carlos e Carlomano II , dividem entre si as províncias.
Carlomano II, porém, morre em 771.
Carlos, o Grande, prossegue então com êxito a política de seus
antecessores, O rei franco, aliado do papa, protetor da Igreja, ataca todos os
inimigos de Roma. A grande obra para a expansão do reino e da cristandade
foi à conquista e a submissão dos povos pagãos do Norte e do Leste
província, julgada por vezes irredutível, estava assim ganha em proveito da
cristandade.

O RESTABELECIMENTO DO IMPËRIO DO OCIDENTE

A restauração imperial. no ano 800, aparece de inicio como a consagração


dessas vitórias, a conseqüência da expansão do reino franco.

142
Esta restauração imperial coloca aos conselheiros muitos problemas.
Chocou-se ela prontamente com a hostilidade de Bizâncio, pouco
disposta a abandonar suas prerrogativas. Uma mulher, Irene, reinava
então em Constantinopla e os conselheiros francos pensaram em
solucionar o conflito propondo um casamento politicamente os dois
soberanos. Irene, porém, foi deposta e somente em 812 um acordo
permitiu a proclamação de Carlos como imperador do Ocidente.

É difícil precisar exatamente à qual idéia política ou a que sentimento


coletivo corresponde à proclamação de um novo império romano no
Ocidente. As análises históricas permitem o relacionamento com a noção de
um império cristão, herdado do exemplo bizantino: um só reino no céu e um
só chefe na terra. O Cristo só pode ter um único vigário. Ao reino de Cristo,
criador do universo, corresponde o de Carlos, todo-poderoso, escolhido por
Deus, representante de Cristo, intendente da Igreja.
O rei deve defender e propagar a fé em toda a parte. Deve dar o exemplo,
como faz o padre com seus sermões. educar e administrar os súditos do reino
terrestre. A idéia da necessidade de um novo titulo, consagrando essa
dignidade, afirmou-se no momento em que se estendiam as conquistas francas
A ADMINISTRAÇÃO IMPERIAL

Indubitavelmente a principal preocupação de Carlos Magno foi a de


estabelecer uma administração visível e centralizada, em todas as regiões do
Império. Ele tentou controlar as comunidades de homens livres, impôs, se
não outros costumes políticos, ao menos um mesmo procedimento moral;
desejou estender as instituições francas aos países estrangeiros conquistados.
Em cada condado, o conde é o lugar-tenente do rei; administra, preside o
tribunal , convoca e conduz o exército. O rei instituiu, acima dos condes,
grandes governos provinciais confiados a um prefeito, duque. Nas fronteiras,
são as marcas verdadeiros governos militares: marcas da Espanha, da
Bretanha, da Dinamarca do norte, ávaras a leste, tem no marques o seu
143
administrador chefe. Carlos Magno, porém, mui freqüentemente, confiava
essas funções a membros da nobreza local, os únicos capazes de serem
obedecidos. Fortalecidos por importantes domínios territoriais, providos de
numerosas clientelas, os condes, desde cedo, tornam-se independentes e
transmitem seus cargos aos filhos. Do que resulta, para melhor supervisão e
repressão dos abusos dessas dinastias provinciais, os célebres missi dominici,
(enviados do senhor), para inspecionar seus domínios e seus encarregados.
Carlos Magno espera governar a Igreja do mesmo jeito: ele a dirige,
protege, no interior do reino, contra os abusos e as heresias, e no exterior
contra inimigos não cristãos.
O imperador, praticamente, decide a escolha de cada bispo e os emprega
em seguida em toda espécie de funções, como simples funcionários. Condes e
bispos são instruídos no próprio palácio. Desse modo afirma-se, na corte
Imperial, um movimento intelectual e literário designado como a
“renascença carolíngia” surgida na escola palatina sob Carlos Magno. Ao
brilho das letras corresponde o luxo da arte oficial: mosaicos e mármores das
capelas nos palácios imperiais ou episcopais; o luxo das miniaturas, suntuosas
sobre fundo de ouro.
No domínio intelectual, entretanto, as ambições de Carlos limitavam-se
à formação de bons administradores e de bons bispos. O essencial era dar-lhes
instrumentos de trabalho, textos claros, principalmente jurídicos, aos quais
deveriam dar forma. Isso limita singularmente a importância dessa
“renascença carolíngia”. Desse modo, os sábios da corte esforçam-se em
precisar as regras da gramática e se prendem, mais freqüentemente. a uma
simples imitação, dos modelos antigos. Na escola palatina é que são copiadas
por escribas, em vários exemplares, as Capitulárias de Carlos Magno (suas
leis), as obras de Gregório, o Grande, e a dos santos padres da Igreja, o
manual litúrgico romano, compilações de decretos e de direito canônico.
Assim, sem originalidade, mais ocupados em citar do que em criar, os
eruditos que se ligaram a Carlos Magno, ao menos conservaram fielmente
uma parte importante da herança de Roma e dos primeiros tempos da Igreja.

A VIDA ECONÔMICA NO TEMPO DOS CAROLÍNGIOS


144
As divisões do Império

LUÍS, O PIEDOSO

Carlos Magno, não obstante, em 806, dividiu ele seus Estados entre seus
três filhos e somente a morte de dois deles permitiu a Luís, o Piedoso, reinar
sobre o conjunto das províncias. Seu reinado (814-840) assinala de início, sob
a influência de clérigos do palácio e dos bispos, um nítido reforço da idéia
imperial. Em 817, Luís proclama a unidade indissolúvel do Império e designa
seu filho mais velho, Lotário, como seu único sucessor; o Império deve
constituir um “só corpo em Cristo”, os dois outros, Pepino e Luís, teriam
somente reinos pequenos conquistados.

A PARTILHA DE VERDUN (843)

. Após a morte de Luís, em 840, o Império franco mergulha então numa


anarquia total seus três filhos sobreviventes, Lotário, Luís e Carlos (Pepino
morrera em 838) disputam a herança. Lotário reúne um certo número de fiéis
e de clérigos ainda ligados à idéia de unidade. Em agosto de 843, Lotário,
refugiado em Lyon, é obrigado a aceitar o tratado de Verdun, que consagra a
divisão do Império e, durante séculos, determina o mapa político do Ocidente.
Carlos, mais tarde intitulado o Calvo, recebe a parte ocidental. Luís, o
Germânico, reina na Austrásia além do Reno e na Germânia. Lotário mantém,
com o título imperial a zona central européia e a Itália.

145
UNIDADE DIDÁTICA IX –
A CIVILIZAÇÃO SENHORIAL CRISTÃ

INTRODUÇÃO

O desaparecimento do Império carolíngio agravou uma situação que


tivera início com a queda do Império Romano: as cidades entraram em
decadência, a população e os senhores dirigiram-se para a zona rural. Este
fato teve influência determinante na Igreja, instituição fundamentalmente
urbana, centralizada na pessoa do bispo e na igreja catedral, onde o bispo
tinha sua sede e de onde dirigia toda a vida religiosa e eclesial da diocese. A
autoridade central esfacelou-se e foi-se fragmentando, ao mesmo tempo em
que se criava uma vasta rede de senhores e vassalos, de proprietários e servos,
com freqüência em confronto entre si. O valor central era a terra, sua
propriedade. Os reis e os Senhores entregavam terras em troca de fidelidade e
vassalagem.
As estruturas feudais não aprofundam-se na sociedade de uma maneira
tão intensa em todas as partes. O domínio geográfico onde se pode constatar
um feudalismo, “clássico”, estudado, apresenta-se singularmente restrito. O
termo “sociedade feudal” aplica-se perfeitamente apenas às regiões onde o
destino social e político, onde o direito de comando o direito de convocação
dos vassalos — repousam tanto sobre a exploração da terra quanto sobre o
poder guerreiro. Estas são também as regiões onde, de início, tinham sido
impostas as tradições de governo dos carolíngios: nobreza palatina,
administrativa, amplos poderes confiados aos condes, multiplicação dos laços
de recomendação e de vassalidade. Todas essas sociedades possuem,
indubitavelmente, alguns traços comuns com o feudalismo “clássico”:
dependência pessoal, recomendação, formação de clientelas,

O Sistema Feudal:

146
O feudcilisnio na Europa ocidental

Desde o inicio do século XI, os costumes feudais mas regiões centrais da


europa parecem bem estabelecidos como força política , determinam:
• O ato de submissão, ato material, reminiscência pagã, que consiste, para o
vassalo, em colocar as mãos junto com as do senhor, ajoelhando-se a seus
pés. Quase sempre se acrescenta o beijo da paz. É a cerimônia tradicional
da recomendação ou da “homenagem”. Pelo juramento prestado sobre
relíquias de santos, o homem jurava fidelidade a seu senhor; em troca este
procedia prontamente à investidura do “benefício” ou “feudo” pela cessão
-simbólica de um quinhão de terra ou de uma bandeira.
• A natureza dos deveres recíprocos. Em troca do beneficio e da proteção
concedidos Pelo senhor, o vassalo promete primeiramente, e antes de
tudo, não prejudicá-lo, ser-lhe fiel. Promessa fundamental em que se pode
ver a origem de uma restauração da ordem baseada nas alianças. Além
disso, deve-lhe a obrigação de comparecer na corte do senhor e em seu
tribunal , mais a ajuda militar. Esta última é bem pesada, justifica o
beneficio e a vida do vassalo, que se torna antes de tudo um cavaleiro.
Implica em despesas muito pesadas: armadura de ferro, elmo, espada e
lança, numa época em que toda peça de ferro é um objeto de luxo
extremamente caro. O cavalo de combate, bastante pesado, custa também
muito caro; sua alimentação exige prados de feno e campos de aveia.
Decorre disso, nesse treinamento guerreiro, a importância dos torneios,
verdadeiros combates, freqüentemente mortíferos. Enfim, a ajuda militar
reforça os laços de linhagem da família; o combate não é completamente
individual e anárquico como freqüentemente se afirmava, mas coletivo:
os irmãos, primos e pais formam uma esquadra, na qual todos os
membros se ajudam e se sustentam.
• As bases territoriais das relações de vassalidade. Cada vez mais e mais a
cessão do feudo, bens fundiários, domínios rurais, porções de terra, ou
funções, cargos administrativos, rendas mesmo, torna-se condição
necessária da vassalagem,

147
• O vassalo só se liga assim em troca do feudo, cuja importância determina
desde logo a de seu serviço militar. Desse feudo, sem dúvida, possui
apenas o usufruto, a propriedade real, e não pode dispor dele• como uma
propriedade pessoal. Mas o vassalo cede o feudo a seus herdeiros.

OBRIGAÇÕES SERVIS: relações de exploração e dependência 


senhores e servos.

• corvéia: dias de trabalho semanal gratuito dos servos no manso


senhorial  a produção era do senhor feudal.
• talha: divisão da produção servil no manso servil.
• banalidades: taxas pagas pelos servos pela utilização das
instalações do feudo (celeiro, moinho, forno).
• capitação: imposto pago por cada servo individualmente.
• tostão de Pedro: imposto pago para manter a capela.
• mão-morta: imposto pago para transferir o lote de um servo
falecido para seus herdeiros.
• formariage: taxa paga para se casar.
• albergagem: alojamento e produtos para os senhores em
viagem.

Este estabelecimento do vassalo numa terra enfraquece forçosamente a


solidariedade feudal e rompe os estreitos laços que, pela prática de uma vida
comum, de uma ajuda cotidiana, o ligava ao senhor. O homem casado pode
assim tornar-se, em relação a terras ou funções diferentes, vassalo de vários
senhores: fonte de conflitos de deveres .
Essas práticas, assim fixadas pelo costume, entraram no século XI, na França
, em toda a sociedade. Atingem também a Igreja e colocam-na então sob a
dominação absoluta dos príncipes e dos senhores laicos. A função episcopal
não é mais do que um benefício investido pelo soberano e o juramento
148
vassálico determina as relações entre sacerdotes e bispos, monges e abades. A
sociedade feudal alem apresenta, diante desse esquema, traços
acentuadamente originais.

As expressões Idade média e Idade Moderna foram


criadas durante o Renascimento, No século XV. Demonstrando
repúdio ao mundo feudal, no entanto segundo “ As
características típicas da idade média não fizeram o homem
desse período nenos competente, pois a cultura medieval, se
comparada com a do mundo greco-romano, foi redefinida” a
ciência perdeu a vitalidade e a velha união com a filosofia se
dissolveu[...] A filosofia contraiu uma nova aliança com a
teologia.....Transferiram o pensamento especulativo da ciência
filosófica para a teologia-filosofica“.Bark,William Caroll.
Origens da Idade Média. 3ed. Rio de Janeiro,
Zahar,1974.p.102-3.

A Igreja da Alta idade Média

Ao longo dos séculos a Igreja fica em poder dos leigos e estes se


intrometem e a utilizam para seu interesse exclusivo. Esta ingerência dos
leigos dá origem a uma situação anárquica, e sobretudo pouco eclesial, na
qual os valores eclesiásticos e espirituais entram em extrema decadência.
De um lado, essa multiplicação de igrejas contribuiu para levar a Igreja até
o mundo rural, antes muito abandonado. Mas, por outro lado, ocasionou a
perda absoluta de liberdade e de disciplina. Essas igrejas próprias
converteram-se, não raro, em paróquias, isto é, nelas se praticavam todos os
ritos e sacramentos necessários para a vida espiritual, porém, desconhece-se a
sua dependência com relação aos bispos e não existia, na realidade, um
sentido de diocese, de igreja local dirigida pelo bispo. Precisamente no ano
149
mil, a Igreja do Ocidente acolhe finalmente as antiqüíssimas crenças na
presença dos mortos e na sua sobrevivência que, embora invisível, era pouco
diferente da existência corporal. Eles habitam num espaço impreciso entre a
terra e a cidade divina. Ali esperam de seus amigos e parentes orações e
gestos litúrgicos que possam aliviar suas penas. Cluny regulou e expandiu a
liturgia em favor dos defuntos.
Também os bispos acabaram fazendo parte dessa engrenagem feudal:
eram vassalos dos reis e, por sua vez, senhores de outros vassalos, terminando
por secularizar-se e agindo como um nobre senhor igual aos demais. A
confusão sistemática entre os dois poderes danificou profundamente a Igreja.
A perda de prestígio pontifício favoreceu as pretensões de autonomia dos
bispos e abades que se converteram em senhores feudais.
O papa já se intitulava Vigário de Cristo e mantinha não somente o
controle sobre a direção dos assuntos eclesiásticos e espirituais, mas também
a reserva de intervenção em não poucos casos relacionados com a esfera de
poder dos imperadores e reis. Isto se devia ao fato de que podia tomar
decisões espirituais que tivessem conseqüências políticas e, também se ocupar
de assuntos temporais que tivessem derivação espiritual.
Entre 1123 e 1215 foram celebrados quatro concílio gerais na basílica de
São João de Latrão, da qual receberam nome. São os primeiros celebrados no
Ocidente e nele aparecerá com clareza o reconhecimento primacial do
Romano Pontífice na Igreja latina.

150
151
A mulher na Idade Média
mulher na idade média vive muitas vezes a margem do poder e do universo
masculino porém de forma nenhuma ela deixa de participar e de interferir
dentro deste universo, a qual esta subjugada politicamente a mulher poderia
apoiar a parentalha em detrimento do seu marido porém o mais comum era
segundo Duby o contrário.
A casa era considerada o santuário da vida privada. Para manter a pureza
feminina era necessário evitar o estupro e o rapto. Existiam várias leis a
respeito deste delito. Nestes casos, quando não havia um consentimento, o
casamento era um fato consumado ou ela podia tornar-se escrava. As
mulheres usavam sobre a túnica, um vestido até o calcanhar, erguido na
frente com uma corrente para que pudessem andar. No inverno, usavam
coletes de couro ou pele e um manto de lã. Os cabelos femininos não eram
cortados e eram presos com alfinetes. A nudez era considerada sagrada,
uma afirmação da condição de uma criatura boa dependente de Deus e só
era permitida durante o banho e para dormir. A nudez adquiriu um caráter
sexual e genital, a partir de então parou-se de fazer o batismo por imersão.
A religião contribuiu tanto para a privatização do corpo que se chegou a um
ponto que, no século VI, os crucifixos que mostravam Cristo nu tiveram
que ser recolhidos ou cobertos e recomendava-se que dormissem vestidos.
Texto prof Luciana de Abreu Curitiba - Paraná

A ESCOLÁSTICA

O “creio porque é absurdo” de Tertuliano se transformará no “creio para


entender” de Anselmo de Cantuária. A formação intelectual começava nas
escolas e palacianas, e prosseguia depois nas diversas faculdades das
universidades: Medicina, Direito e Teologia. A filosofia estava dividida nas
sete artes liberais, enquadradas no Trivium, com a gramática, a retórica e a
dialética e a arte de raciocinar, e o Quadrívíum, que incluía a geometria com a
geografia, a aritmética, a astronomia e a música. E evidente que à aparição

152
das universidades precedeu o grande movimento intelectual de, que surge
sobretudo nos séculos XI e XII com pensadores do porte de Abelardo, Pedro
Lombardo, São Bernardo, Santo Anselmo etc. Paralelamente o ensino é
enriquecido com novas matérias de estudo e se aperfeiçoa e se define o
método que se chamará escolástico.
Já nos começos do século XII a fama de Abelardo converteu Paris no centro
de instrução mais popular da França.
A tradução dos textos gregos principalmente, através da escola dos
tradutores de Toledo, tornou-se decisiva, sobretudo quando entraram em
contato com Aristóteles, não somente sua obra lógica, mas também a
metafísica, a física e a biologia. O enorme interesse pela síntese entre o
aristotelismo e o pensamento cristão reside não na sua perfeição lógica, mas
no modo com que o pensamento da cristandade ocidental reconquistou o
mundo clássico grego,
Santo Tomás de Aquino (1226-1274), discípulo de Santo Alberto Magno
(1193-1280), foi provavelmente o filósofo e teólogo escolástico mais
importante, capaz de descobrir novos métodos e de empregar novos sistemas
de provas. Para Santo Tomás a teologia coroa o edifício do saber e determina
os setores da competência das demais disciplinas. Admite-se assim a relativa
autonomia das ciências profanas, a unidade do trabalho intelectual humano e
a impossibilidade de uma contradição entre ciência e fé. Fazendo a junção do
pensamento de Aristóteles com o do cristianismo são tomas de Aquino passa
a ser considerado doutor da igreja católica.

A REFORMA ESPIRITUAL E A INDEPENDÊNCIA


DA IGREJA NOS SÊCULOS X E XI

Por muito tempo qualificou-se de Reforma gregoriano, do nome do papa


Gregório VIL o grande movimento que introduz no Ocidente uma outra
espiritualidade e afirma a independência temporal da Igreja diante dos
poderes laicos.
Todos os cronistas e moralistas pintavam, antes dessa reforma, um
quadro muito sombrio da vida religiosa, dos costumes do clero e dos leigos;
quadro exagerado mas que pode mesmo assim ser admitido no seu todo.
Deste modo, o clero, privado de toda independência, encontra-se estritamente
153
submisso aos príncipes e aos senhores, cuja escolha recai freqüentemente em
personagens indignos, animados por uma pobre vida espiritual.
ORIGENS DA QUESTÃO DAS INVESTIDURAS

Os dois aspectos da reforma religiosa, reflorescimento espiritual e


libertação da tutela dos leigos, são indissociáveis. Esse clima religioso novo
fornece ao papado um poder espiritual mais forte, capaz de desafiar o poder
político dos soberanos.
A luta entre o papado e o Império, que se resume de uma maneira
bastante arbitrária, mas cômoda, ao se falar de “questão das investiduras”,
acendeu-se de maneira decisiva nos pontificados de Nicolau II (1059-1061) e
de Gregório VII (1073-1085). Nicolau II faz promulgar os célebres decretos
que confiam doravante a escolha do soberano pontífice aos cardeais da Igreja
(bispos da Cúria romana, conselheiros do papa); essa escolha foi aclamada
pelo povo de Roma e o imperador mantinha somente o direito de
confirmação. Gregório VII, místico, inteiramente devotado à reforma
espiritual do clero, já sustentáculo de vários papas, afirma prontamente após
sua eleição a independência da Igreja. No espaço de dois anos, faz proclamar
a queda de todos os prelados que havias obtido seus cargos em troca de
dinheiro e condenar formalmente as investiduras episcopais s concedidas
pelos leigos. Proclama pessoalmente o primado absoluto de Roma sobre a
Igreja e o conjunto da cristandade. Esta atitude provoca vivas reações no
Imperador Henrique IV e anuncia o início da questão das investiduras, na
realidade a luta pela dominação do mundo ocidental.
A arte românica

Com a decadência da vida urbana de Roma em sua grande fronteira, após o


século III quando começam as invasões bárbaras, por causa das construções
das estradas que levavam diretamente ao centro da cidade, facilitando assim a
penetração bárbara, na ausência da proteção que partia do Império. Surgiu
uma nova visão religiosa, voltada ao imaginário popular com a idéia de uma
cidade celestial, fazendo crescer o domínio da igreja sobre as pessoas,
valorizando a fé, abrindo mão de seus bens, levantando questões como a
doença física que se converte em saúde espiritual ( mostrando principalmente
as dificuldades enfrentadas pela população). Pode-se dizer que o divino
154
sobrepunha o humano. Com essa idéia o cristianismo impõe seus valores afim
de diferenciar os homens de fé dos pagãos. Esses valores podem ser
resumidos na caridade como lei fundamental de salvação. Porém, a
perseguição religiosa que acontecera, se deveu a uma filosofia contrária a do
imperador, fazendo crescer as reuniões em esconderijos, afim de converter os
cristãos. Com isso surgem as catatumbas (cavernas no subsolo onde
aconteciam essas reuniões), dando abrigo aos que mereciam, ou seja, que
comungavam com eles. Um exemplo de aproveitamento de espaço foi em
Metz, onde dentro de um anfiteatro surgia a primeira igreja cristã, mesmo
sendo uma construção de origem pagã. Com a mesma idéia, afim de abrigar
um número maior de fiéis, alguns edifícios romanos vão tornar-se igrejas,
exemplo o Templo de Antônio e Faustina em Roma vai dar lugar a Igreja de
São Lourenço, porém outras construções que tinham destino impuro não eram
recomendadas a tais encontros. Com o avanços das invasões bárbaras a vida
urbana torna-se um perigo constante, fazendo migrar para o campo, tornando-
se uma micro região, onde terá um prédio central e em volta uma nova vida
“urbana”, ou seja, um comércio gerando uma troca de mercadorias e uma
possível troca de moeda. Tal modelo será a semente urbana do feudalismo
medieval, e surgindo com isso a questão da segurança e o surgimento de uma
nova concepção de cidade, podendo até tornar-se independente no seu sistema
de governo, mas pertencendo ao poderio real. Talvez a questão levantada em
uma estrutura feudal com imposição religiosa de fazer a caridade e com isso
obter como resultado a salvação do homem, surgem as colônias monásticas
com a idéia de acolher os pobres (esse tipo de trabalho era obrigação moral
destas instituições).
A essa renascença espiritual, que penetra todos os meios, corresponde,
na mesma época, um reflorescimento artístico, que encontra sua mais bela
expressão nas grandes abadias românicas, em seus muros e abobadas de
pedras talhadas, em seus extraordinários adornos de tímpanos e de capitéis
esculpidos, ou em seus afrescos murais, na maior parte apenas descobertos
depois do início desse século. “Arte românica”, pois, renovava algumas
tradições antigas de Roma e, de qualquer maneira, talvez oposta, claramente
distinta, das expressões artísticas próprias dos reinos bárbaros da alta Idade
Média e da arte cristã do Oriente.

155
UNIDADE DIDÁTICA X - A BAIXA IDADE MÉDIA

INTRODUÇÃO

As sociedades urbanas, nos séculos XIV e XV, adaptam-se a novas


formas de atividade econômica: novos tipos de tráficos mercantis, novos
itinerários, técnicas comerciais, financeiras e bancárias diferentes.
No século XV os soberanos do Ocidente lutam pela centralização de
seus reinos. Entretanto, o governo dos príncipes e a centralização
administrativa chocam-se, na principalmente, com a oposição dos Nobres e
mesmo das Comunas que defendem seu direito de outorgar e de receber
subsídios. A autoridade do rei defronta-se sempre com vivos sobressaltos de
particularismo que se traduzem, seja por revoltas regionais, seja pela
afirmação de verdadeiras autonomias provinciais. Os tempos em que papa e
imperador lutavam pela dominação do mundo cristão do Ocidente
terminaram. O soberano pontífice exerce seu poder temporal somente em
pequenas províncias e o prestígio pontifical abalado por numerosas desordens
e questões.

1 . AS CRUZADAS NO ORIENTE

A idéia de Cruzada

A resistência e a luta armadas contra os infiéis , os muçulmanos


sobretudo, pesaram profundamente sobre a vida dos cristãos do Ocidente,
desde o século IX e por vezes mesmo mais cedo. A vitória de Carlos Martel
em Poitiers foi aclamada com entusiasmo.
No entanto a Cruzada na Terra Santa parece intimamente ligada ao dever
de peregrinação ao santo sepulcro em Jerusalém. O interesse das cruzadas
não estava somente nas aspirações políticas e nas expedições dos barões, mas
também um imenso entusiasmo popular que lança nas direção de Jerusalém
massas de homens. O primeiro grande empreendimento provocado pelas
pregações de Urbano II, em 1095, reúne elementos pobres conduzidos por
156
Pedro, o Eremita. Conseqüentemente, emprega-se a denominação de
peregrino para designar os Cruzados do povo, e nas crônicas e relatos da
época fala-se da santa viagem a Jerusalém.
Na realidade a Cruzada renovava-se quase anualmente, na primavera, com a
chegada dos navios de peregrinos; estes serviam algum tempo nos exércitos
do reino e forneciam, para a construção dos castelos, uma ajuda
indispensável. Alguns permaneciam no local: pequenos cavaleiros,
domésticos, burgueses ou camponeses, mas todos armados.
A predicação dos eremitas atinge agora os pobres das zonas rurais e
provoca impulsos de piedade. A Cruzada popular e a idéia de Cruzada
nasceram desses impulsos místicos: serviço de Deus, procura da salvação
pessoal pelas obras e a peregrinação às fontes do cristianismo, espera do
Messias.

• AS CRUZADAS E ESTADOS LATINOS NA TERRA SANTA

 A PRÉ-CRUZADA (1096): (ou cruzada dos Mendingos) Cruzada


popular, conduzida por Pedro, o Eremita, resulta num malogro
dramático: os bandos de pobres, destituídos de recursos, cometem
terríveis excessos ao longo de todo o percurso, pilham as aldeias,
massacram os judeus nas cidades alemãs; quando passam para a Ásia,
os mulçumanos os exterminam logo no primeiro combate.

 A PRIMEIRA CRUZADA (1096-1099): (Cruzada dos nobres):


Cruzadas dos barões, as diversas levas de guerreiros partidas do
Norte da França, da Lorena, da Normandia e da Itália do Sul,
progridem bem mais lentamente. Desde a chegada em
Constantinopla, o imperador de Bizâncio exige, depois obtém, uma
promessa de restituição das terras e das cidades retomadas aos
muçulmanos. Mas, de fato, os êxitos militares dos cruzadas provocam
o estabelecimento de quatro Estados latinos no Oriente: O principado
de Antioquia. A cidade cai em 1098 após um longo cerco, os

157
cruzados se recusam devolvê-la aos bizantinos. o Estado de Antioquia
mantêm-se até 1268. O principado de Edessa confiado, a Balduíno I
de Bolonha. O reino de Jerusalém. Conquistada em julho de 1099,
após dura campanha e um cerco difícil, a cidade toma-se desde logo a
capital política e religiosa dos latinos. Godofredo de Bulhões assume
somente o título de “advogado do Santo Sepulcro”, mas por ocasião
de sua morte, seu irmão Balduíno proclama-se rei (em 1100).
Entretanto, os cristãos apenas definham a rota da cidade santa; a
conquista das outras cidades foi freqüentemente penosa e longa: vinte
anos de lutas obstinadas paro barrar aos egípcios a pista do Sul
(construção de castelos fortificados) e investir, graças às frotas
italianas, subjugar urna a uma, as cidades da costa. São João de Acre
cai somente em 1104, Sídon e Beirute em 1110, Tiro somente em
1124. O condado de Trípoli ocupado em 1109 e dado a Raimundo de
Saint-Gilles, conde de Toulouse. Em 1187, após urna crise de
sucessão, esse condado se encontra reunido ao principado de
Antioquia. Em 1176, o senhorio, vassalo do Reino de Jerusalém,
é enfeudado a Reinaldo de Châtillon que dirige audaciosas
campanhas contra as rotas e as cidades dos muçulmanos. Em 1182,
lança no mar Vermelho navios fabricados no Mediterrâneo, em
Ascalon, e transportados desmontados através do deserto. A
expedição ataca os comboios de peregrinos e ameaça Meca. O reino
de Jerusalém, enfraquecido pela morte do jovem rei leproso Balduino
1V (em 1185) ‘e pela de seu filho ainda criança. Balduino V, sofre a
ofensiva de do chefe mulçumano Saladino, esta ofensiva ocorre
igualmente. em toda parte, o recuo dos latinos e desordena o mapa
político da Terra Santa. Batidos em Hatfin (1187), os francos perdem
Jerusalém. São Jõão de Acre, toma-se então a capital de um segundo
reino de Jerusalém, reduzido às cidades da costa.

 A SEGUNDA CRUZADA (1147-1149) : As duas grandes


expedições de reforço, lançadas do Ocidente no século XII, pouco
modificaram a relação das forças e resultam ambas em insucesso. Em
1144, Luis VII E CONRADO III, DO Sacro Império deve abandonar
o ataque a Damasco.
158
 A TERCEIRA CRUZADA (1189-1192) (a Cruzada dos Reis) : No
mesmo momento, a Cruzada dos dois reis do Ocidente, Filipe
Augusto e Ricardo Coração de Leão, retarda-se, comprometida pelas
rivalidades que opõem os dois príncipes. Em 1190, Frederico Barba-
Roxa, rei germânico, à frente de um poderoso exército , afoga-se
quando tenta atravessar um rio. Filipe retorna muito rápido à França
e, apesar de alguns grandes feitos de armas sem conseqüências, entre
os quais a entrada em Jerusalém, Ricardo deve negociar com
Saladino um acordo sobre as peregrinações na cidade santa (1192).
Mais tarde, a expedição de Frederico II fica sendo sobretudo um
empreendimento diplomático; certamente permite, em 1229, aos
francos ocuparem Jerusalém, mas somente por algum tempo: a cidade
cai de novo em 1244.

 A QUARTA CRUZADA ( 1202-1204)- (o saque a


Constantinopla):De fato, nem todos os empreendimentos dos
cruzados no século XIII visam retomar as terras perdidos da
Palestina, mas, mais do que isso, conquistar outros impérios, romper
as forças vivas dos inimigos dos latinos, tanto bizantinos como
muçulmanos. A expedição de 1202 que acaba com a tomada de
Constantinopla foi freqüentemente apresentada como desvio da
Cruzada do Oriente, que levou os. francos a tomarem uma cidade
cristã mais do que a atacar as regiões do Islã. Explica-se ela
facilmente porém pelo contexto político do momento; apresenta-se
como o resultado inevitável de uma séria deterioração das relações
entre gregos e latinos. Esta situação levou os cristãos a saquear
Constantinopla e a fundarem o Reino Latino de Constantinopla, que
durou até 1261.

 CRUZADA DAS CRIANÇAS (1212). Um movimento extra-oficial


originário na crença de que apenas almas puras poderiam libertar
Jerusalém. Apesar da oposição de setores da Igreja e do próprio Papa
Inocêncio III, a cruzada ocorreu mas as crianças foram capturadas

159
pelos mulçumanos e vendidas como escravas.

 A QUINTA CRUZADA (1218-1221): idéia de atacar o Islã em suas


cidades fortes, suas capitais políticas e militares, impunha-se desde há
muito tempo. Dirigida por André II da Hungria, a quinta cruzada não
teve o efeito esperado mas deixou as bases estratégicas para as
ultimas cruzadas.

 A SEXTA CRUZADA (1218-1221): Realizou acordos diplomáticos


com os turcos, e foi comandada por Frederico II.

 A SETIMA E OITAVA CRUZADA (1248 e 1270) : De fato, a


primeira cruzada de São Luís (1248-1254), pelo espírito que anima o
soberano e por seus objetivos políticos, insere-se ainda na tradição
das cruzadas do século XIII. O ataque encontra-se, desta vez, voltado
para o Egito. Mas, após o fracasso de tomar o Egito, o rei alcança a
Terra Santa onde reside cerca de quatro anos, ocupado em fortificar a
região e, mais ainda, em impor a paz às facções rivais. Tratava-se
sempre de manter a dominação franca nas costas da Palestina e
favorecer a peregrinação a Jerusalém. A segunda Cruzada de São
Luís contra Tunes (1270), esta Cruzada insere-se simplesmente num
ambicioso programa de conquista de uni vasto império mediterrânico,
às custas dos muçulmanos de Tunes dos bizantinos. A cruzada
francesa de 1270 é assim apenas um simples episódio dessa política
de conquista, bastimte estranha ao espírito dos primeiros cruzados.

• AS ORDENS MILITARES

Respondem também às necessidades de defesa. Não é lá uma criação


perfeitamente originaL Em todas as regiões muçulmanas, combatentes da fé
fechavam-se em conventos fortificados — os ribat — para defender as
fronteiras e combater os infiéis.

160
Desde os inicias da conquista, as ordens da Terra Santa colocam-se a
serviço dos peregrinos, asseguram seu alojamento e sua segurança. Em 1118,
um cavaleiro da Champagne, Hugo de Payens, organiza uma força militar
para guardar as estradas e os acampamentos; seus companheiros deveriam
formar, mais tarde, a ordem dos Templários, nome derivado do Templo de
Salomão, em Jerusalém. Os Hospitalários instalam-se no hospital São João,
fundado outrora, em Jerusalém, para alimentar os pobres viajantes, e os
hospedar daí seu nome. Os Templários constroem, na costa, ao sul de Haifa, o
Castelo-Peregrino (Athiet), vasto campo de abrigo fortificado. Suas primeiras
operações financeiras estiveram, também, ligadas às viagens na Terra Santa;
eles entregavam aos peregrinos, em Paris e em outras cidades do Ocidente,
títulos, espécie de letras de câmbio, pagáveis em Jerusalém; mais tarde
forneceram-lhes empréstimos hipotecários.
Os estatutos dos Templários, inspirados por São Bernardo, apresentado
no Concílio de Roma em 1128, foram aprovados por Inocêncio III, em 1139,
que lhes concede, a mais, diferentes privilégios entre os quais a isenção
episcopal. Os Hospitalários, em 1120, redigem sua regra, inspirada na de
Santo Agostinho.
Formam cada uma um corpo sólido de 200 a 300 cavaleiros, possuindo
cada um três cavalos, servidos por um escudeiro, bem armados (lança, escudo
triangular, massa de armas), perfeitamente treinados e auxiliados por
mercenários muçulmanos a soldo. O rei e os príncipes confiam-lhes a guarda
dos principais castelos: Gibelin aos Hospitalários, Gaza aos Templários. No
fim do século XII, toda a parte norte do condado de Trípoli os Templários
mantêm aí 20 fortalezas, entre elas a de Saphet com 1 700 soldados. No
principado de Antioquia, os Hospitalários possuem uma casa da ordem em
cada cidade e numerosos feudos com castelos, abadias, aldeias e terras.
Seus êxitos e seu prestígio lhes valem, no Oriente e no Ocidente, fortunas
consideráveis. Reúnem assim feudos e territórios imensos; vários milhares de
castelos pertencem, na Europa, aos Templários. Enquanto na Terra Santa seu
poder ultrapassa o dos barões, e sua autoridade a do patriarca de Jerusalém,
no Ocidente, o Templo e o Hospital mantêm por longo tempo a idéia de
cruzada e de ordem cavalheiresca.

161
2. O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO

O FIM DA IDADE MEDIA NO OCIDENTE: ECONOMIAS,


SOCIEDADES, CIVILIZAÇÕES

Os dois últimos séculos da Idade Média haviam conhecido terríveis


dificuldades, verdadeiras catástrofes demográficas, financeiras, econômicas.
Seguia-se, após o período de euforia e de expansão dos séculos XI-XIIl, uma
era de contração, de recessão geral. Portanto umas mudanças bem claras da
conjuntura, que se situava, o mais freqüentemente, no último terço do século
XIII. A “depressão” do século XIV não teve em toda parte nem a mesma
amplitude nem a mesma duração, as Grandes Descobertas, a expansão
marítima e colonial eram forçosamente a obra, não de regiões arruinadas e
enfraquecidas, mas de regiões ricas em homens e em espírito de
empreendimento. No Norte mesmo, pode-se também chamar a atenção para o
desenvolvimento econômico da Inglaterra e da Holanda, para a espantosa
prosperidade de algumas cidades alemãs.

• AS TRANSFORMAÇÕES DA ÉPOCA

Na França, os infortúnios introduzidos pelas novas formas de guerra


inglesa que, interrompida certamente por numerosas tréguas, eternizam-se e
abandona as zonas rurais aos bandos de mercenários, companhias de
assaltantes de estrada, de aventureiros. Derivam disso as pilhagens, os roubos,
as destruições de aldeias.
Disso também provém à fuga dos camponeses, as massas errantes nas
estradas, a insegurança, o banditismo crônico. Bandos de fora-da-lei, antigos
soldados desertores, contrabandistas e caçadores-ladrões, aldeões escapando
do imposto ou do serviço militar real, tomam a floresta na Normandia e nas as
terras incultas. Levam aí uma vida instável e precária, reúnem-se aos
carvoeiros, catadores de madeira, lenhadores, e fazem pesar sobre as terras
cultivadas, sobre as aldeias e mesmo sobre as cidades, uma ameaça constante.
O folclore da época, as crônicas, as miniaturas e os afrescos mostram por toda
162
parte cidades eriçadas de torres, aldeias em fogo e em ruínas, homens
desolados pelas devastações da guerra.

A GRANDE PESTE

Há fome em vastas regiões, em toda a França e mesmo nos países


vizinhos; entretanto, esse esquema não pode aplicar-se ao conjunto do
Ocidente. Porem a grande epidemia de 1348-1349, chamada freqüentemente
de a Grande Peste ou a Peste Negra, foi, indubitavelmente a mais grave das
catástrofes que conheceu o Ocidente cristão. Trazida do Oriente, por
marinheiros genoveses, para a Sicília e a Toscana, abateu-se sobre populações
mal preparadas para enfrentarem essa nova forma de doença e propagou-se
rapidamente por toda a Europa, até a Inglaterra, a Alemanha e a
Escandinávia. As epidemias antigas, as que, em intervalos regulares, atingiam
outrora os países europeus, eram formas bubônicas da peste; transmitiam-se
pelos ratos doentes e pelas picadas de pulgas. Em 1348, a peste apresenta,
além disso, uma nova forma, ainda desconhecida, ao que parece, no Ocidente:
infecção pulmonar que evolui muito mais depressa e se transmite bem mais
rapidamente, pelo ar. Derivam disso os assustadores progressos do contágio e
o número elevado de vítimas. De qualquer maneira, os homens não
conheciam outro remédio a não ser o de isolar os núcleos contaminados e,
posteriormente, o de fugir das cidades.
A brutalidade do ataque, o caráter inelutável da moléstia, interpretada
logo como um castigo de Deus, e desenvolveram, entre o povo
principalmente, um misticismo exacerbado ou mesmo algumas práticas
supersticiosas. Chega o tempo das grandes procissões expiatórias; os
Flagelantes, grupos de penitentes, numerosos sobretudo na Alemanha.
Ë impossível, naturalmente, calcular as perdas humanas para todo o
Ocidente. Numerosos trabalhos permitem, entretanto, assinalar a gravidade
bastante desigual da catástrofe. As cidades, sem dúvida, sofreram mais que as
zonas rurais. Nas cidades, os bairros pobres, onde a densidade humana era a
mais forte, a higiene mais primitiva, foram os mais castigados. Na zona rural,
a peste atinge com mais freqüência às planícies povoadas do que as
montanhas. Pode-se assim admitir que algumas regiões isoladas
permaneceram completamente à margem do flagelo. No total, mais de um
163
terço da população desapareceu.
Entretanto, a desaparecimento de um número considerável de homens
provocou, freqüentemente, uma redistribuição das heranças e das fortunas:
permitiu, para os sobreviventes, uma alimentação mais abundante. Por outro
lado, eliminou os obstáculos econômicos e financeiros que, nas zonas rurais
pobres se opunham aos casamentos precoces. Nos anos que se seguiram a
1348-1349, a taxa de matrimônios e de natalidade eleva-se muito rapidamente
e as perdas foram, sem dúvida, depressa compensadas.
O importante é que esse retornos da peste jamais tiveram, do ponto de
vista geográfico, a amplitude da epidemia de 1348. Grassou em regiões bem
limitadas e, principalmente, de maneira bastante irregular. Nem todas as
regiões foram atingidas tão amiúde nem tão gravemente. Segundo a
freqüência e a intensidade desses retornos da epidemia a recuperação
demográfica foi mais ou menos precoce e rápida. Mas não é facilmente
mensurável.

Resumindo
— A Grande Peste marcou, quase em toda parte, uma suspensão brutal
da expansão demográfica;
— A segunda metade do século XIV conheceu, de uma maneira bem
desigual, forte contração demográfica e numerosos distúrbios
econômicos;
— A recuperação, demográfica e econômica, se situa em data bem
variável segundo os países.

OS NOVOS COMËRCIOS

O tráfico mercantil, então, não é mais “medieval”, no sentido corrente do


termo, mas se organiza em outras bases e numa escala bem mais ampla. A
evolução diz respeito inicialmente à natureza dos produtos transportados. Os
mercadores da alta Idade Média, mais tarde aqueles ainda do tempo das
Cruzadas, interessavam-se principalmente pelos produtos de luxo, que valiam

164
fortunas num pequeno volume, capazes de absorver consideráveis custos e de
proporcionar importantes benefícios. Nos Séculos XIV e XV ocupam-se de
mercadorias pesadas, relativamente baratas. Se o comércio das especiarias e
das sedas sempre se mantém, os produtos de pouco valor se constituem agora
no essencial dos carregamentos e viagens de um extremo a outro do mundo
conhecido. Os portos da Itália recebem trigo do mar Negro e das planícies da
Alemanha do Norte. Os vinhos de Creta e da Andaluzia atingem Bruges e
Londres. A Espanha despeja seus jarros de azeite no Oriente. As frotas de
Dantzig, todo ano, vão abastecer-se de sal em Setúbal, em Portugal.
Principalmente, o desenvolvimento da indústria de tecidos mais baratos
provoca uma crescente demanda de matérias-primas: lãs da Espanha, algodão
do Oriente, produtos de tinturaria.

Burguesia: “Classe social composta dos


proprietários do capital que vive dos rendimentos
por eles gerados. Pertencem à burguesia os
industriais, os comerciantes, os banqueiros, os
empresários agrícolas e os donos de empresas de
serviços”.Novíssimo dicionário de economia. Paulo Sandroni
editora Best Seller.

Essa evolução é rica em conseqüências, as simples galeras


mediterrânicas, movidas a remo, leves e rápidas, mas de pequena tonelagem,
sucedem-se inicialmente as galeras mercantis com dois mastros que carregam
cerca de 150 toneladas de mercadorias. posteriormente as grandes naves.
Essas naves, de origem atlântica e introduzidas no Tirreno sem dúvida pelos
bascos, atingem dimensões imponentes (um mastro central de 40 a 50
metros!) e podem carregar 1 000 toneladas ou mais. Desafiam as tempestades
e os piratas, navegam facilmente em alto mar e, mesmo, graças aos seus três
mastros e cio seu velame bastante diversificado, avançam com ventos
contrários. Enquanto Florença, sempre muito ligada ao comércio das
especiarias, arma apenas galeras, Genova, que se interessa pelos produtos
165
pesados, só arma naves; Veneza utiliza as galeras para os tráficos antigos, de
luxo, e as naves para o algodão ou os vinhos. A exploração desses grandes
navios impõe novas restrições, pois representa, cada um, um capital
considerável. É necessário evitar as perdas de tempo e os riscos de naufrágios
na proximidade das costas. Não se pode, como outrora, multiplicar as escalas
e alcançar todos os portos. Deriva disso uma forte concentração do tráfico em
proveito de algumas regiões marítimas, encruzilhadas mercantis, centros de
entreposto e de redistribuição.

AS TËCNICAS. O CAPITALISMO

Pode-se afirmar que numerosos mercadores utilizam, no século XV, as


técnicas e as formas de associações do capitalismo moderno. Este aparece
bem antes do Renascimento, bem antes do comércio com as indias e do
desenvolvimento de Antuérpia ou de Amsterdã. Sem dúvida, do ponto de
vista jurídico e formal, essas técnicas diferem por vezes das utilizadas
atualmente; mas sua eficácia é a mesma e correspondem a mentalidades
claramente capitalistas.
As principais inovações dizem respeito principalmente:

Inovações Características
À contabilidade. As contas, públicas ou privadas, fazem-se,
agora por partidas dobradas, o que permite, a
cada momento, fazer o balanço de uma
operação em curso ou terminada, precisar o
estado das dividas e dos créditos de um cliente.
A moeda. Diferentes procedimentos permitem evitar o
manejo de peças metálicas e a perda de
dinheiro. Parecem ser principalmente um
remédio diante da penúria de metais preciosos e
reduzem assim as desvalorizações monetárias.
O uso do cheque e da letra de câmbio expande-
se amplamente. A transmissão dos créditos é
166
feita com facilidade seja pelas transferências de
contas, seja pelo endosso de cheques, letras ou
títulos.
o banco. Os bancos privados, muito numerosos e
controlando várias filiais nas regiões
estrangeiras, recebem depósitos, concedem
empréstimos, asseguram as operações de
câmbio, efetuam transferências de contas para
seus clientes. Controlam também importantes
companhias de comércio, pois a atividade dos
homens de negócio jamais é especializada. Na
Itália, os bancos públicos, associações de
credores do Estado, distribuem dividendos
anuais, para cada título da divida pública
O crédito A prática de venda a prazo e com base em
amostras estende-se a importantes comércios;
da lã na Inglaterra, do açafrão em toda a
Europa ocidental. Se o empréstimo sobre
penhor continua sendo uma operação
reprovada pela Igreja ,o empréstimo para
negócios generaliza-se entre os mercadores.. A
fim de contornar as proibições eclesiásticas,
sempre em vigor contra a usura, os homens de
negócio imaginam novos processos, destinados
a diversos fins. O recâmbio consiste em
reexpedir um câmbio a um curso diferente do
válido no momento: esta diferença representa o
beneficio do emprestador. Essa prática do
recâmbio, muito divulgada na Itália no século
XV, fez a fortuna das praças financeiras
correspondentes, aonde eram enviadas as letras
de câmbio (Bruges, Londres, Sevilha), depois
das feiras de câmbio que conheceram, já no fim
do século XV, uma atividade considerável.
As companhias de O comerciante empresário domina toda a
167
comércio indústria. Indubitavelmente, não encontramos,
então, nas cidades do Ocidente e mesmo na
Itália, qualquer fábrica. Mas os artesãos das
pequenas oficinas de tecelagem, por exemplo,
trabalham por peça e percebem somente um
salário correspondente à sua produção; os que
operam a domicilio e se dedicam a tarefas mais
rudimentares (lavagem, fiação
) dependem ainda mais do comerciante, capitão
de indústria, capitalista, que possui todas as
matérias-primas e distribui o trabalho em todos
os estágios da fabricação.

EVOLUÇÃO DAS SOCIEDADES URBANAS

As cidades, no fim da Idade Média, acolhem numerosos imigrantes.


Diversificam suas atividades, suas estruturas sociais e mesmo, por vezes,
modificam as formas de seu governo. O desenvolvimento da indústria têxtil
atrai, para as cidades da Itália, da Alemanha ou da França mesmo, homens
provenientes das zonas rurais à procura de melhores salários ou, antes, de
uma maior liberdade. A fuga para a cidade é, para os camponeses das
cercanias, um meio de escapar as pressões senhoriais, de evitar a volta às
antigas servidões. Mas esses recém-chegados, freqüentemente sem raízes, que
abandonaram sua paróquia. sua comunidade aldeã, sua família, acham-se
muito mal integrados na cidade. Não participam de forma alguma, durante
anos, da vida política e social. Formam uma plebe instável, mal paga, que a
menor crise econômica reduz ao desemprego e à miséria.
A revolução política do fim da Idade Média não se traduz forçosamente,
nas cidades livres, por uma renovação da classe dominante. Estudos históricos
demonstraram que as mesmas famílias detêm riqueza e poder durante
gerações, sem interrupção, do século XIII ao XV. Entretanto, é necessário
também salientar que essas famílias, que conservam certamente o mesmo
nome, se enriquecem, por meio de alianças ou adoções, de contribuições
novas, a sociedade urbana longe de se congelar em castas ou classes rígidas,
168
mantém-se ainda como um mundo novo, ativo.

AS ALDEIAS ABANDONADAS

O abandono das aldeias antigas parece, o mais das vezes, ser o aspecto
mais espetacular das transformações da economia agrária, na Europa
ocidental. Os camponeses fogem de suas terras, abandonam seus bens para
correrem as estradas ou se refugiarem nas cidades. Os matagais e os
espinhais, na Alemanha mesmo as florestas, tomam novamente conta dos
campos cultivados, apagam os caminhos e os limites das parcelas de terreno.
As casas e a igreja caem em ruínas. São agora apenas aldeias desertas, vazias
de homens, largadas ao abandono.
De fato, quase em toda parte, os abandonos das aldeias foram mais
provocados por uma severa reorganização da economia agrária. No Sul,
seguem o desenvolvimento dos latifúndios. Esses grandes domínios,
outorgados, por razões políticas, pelos soberanos a seus fiéis após as
expedições da Reconquista ou das guerras civis, reúnem terras imensas e,
bem depressa se especializam na criação de ovelhas ou gado. Daí a ruína das
atividades agrícolas tradicionais, a extensão abusiva dos terrenos para
pastagens, as devastações dos campos arados pelas tropas que descem das
montanhas no inverno. Daí a fuga dos camponeses para as cidades ou seu
agrupamento em grandes burgos fortificados, submissos à autoridade do
barão. É então que desaparece a pequena propriedade.
Essas transformações da vida agrária e o abandono das aldeias não são
sempre sinais de empobrecimento econômico. Na Inglaterra, a criação,
sedentária aqui, provoca certamente o abandono de inúmeras aldeias mas
enriquecem da mesma forma as zonas rurais. O reagrupamento dos habitantes
em aldeias maiores, cercadas de bairros com campos compactos, sublinha
então os progressos da economia de cereais.

DIFICULDADES ECONÓMICAS; A REAÇÃO SENHORIAL

É inexato dizer que, desde o fim do século XIII, os senhores dos grandes
domínios tinham abandonado a exploração direta do solo, alugado ou cedido
suas terras, e se contentavam em perceber rendas anuais. Importantes
169
senhorios são mantidos sempre na França do Norte e do Sul; possuem grandes
reservas, tropas, numerosos edifícios de exploração, granjas para suas
colheitas; se deixam de exigir corvéias camponesas, empregam grupos de
trabalhadores agrícolas. Os Nobres, proprietárias dos grandes domínios,
aplicam à gestão de suas terras rigorosos métodos que lembram os da
indústria e do comércio.
Mas este senhorio rural, na Europa ocidental, é vítima de um
desequilíbrio financeiro. Inicialmente devido ao aumento considerável das
despesas pois o estilo de vida dos senhores rurais evolui de urna maneira
radical decisiva. As contas dos senhorios demonstra que os senhores
compram muitos produtos importados principalmente para a alimentação:
especiarias, óleo, frutas, amêndoas, azeitonas, até mesmo bois; as vestes de
veludos, os costumes de belo tecido custam fortunas.
Na mesma época. as rendas habituais do senhorio diminuem. Os preços
dos cereais e dos produtos agrícolas mantêm-se estacionários ou sobem mais
lentamente que os dos utensílios, da madeira ou do ferro. Dessa forma esses
senhores tentam compensar suas perdas e a escassez de suas rendas elevando
mais as taxas pessoais sobre os camponeses. Tentam, também, na Inglaterra,
impor, com o apoio do rei, um retomo aos antigos salários. Proíbem aos
camponeses, desejosos de mudar para as cidades. o abandono de suas
propriedades.

REVOLTAS SOCIAIS

A “reação senhorial” sobre os camponeses, suscita descontentamentos,


agravados ainda pelo peso considerável do imposto real, pois esta nova
imposição, sistemática e cega, atinge a todos em todas as épocas do ano. O
aumento dos impostos dá o sinal para a revolta em homens já exasperados
pelas tentativas do senhor de limitar seus direitos. Os grandes levantes rurais
ocorrem portanto graças à fome e a miséria, de pobres e de deserdados,
somado a isnto as revoltas de camponeses livres, afortunados, senhores de
suas terras, que se rebelam contra os novos atentados à sua liberdade pessoal.
Os chefes proclamam bem alto a igualdade dos homens e o respeito à
dignidade humana. Isso explica o aspecto religioso, nitidarnente marcado,
dessas sublevações agrárias e, por vezes, uma ligação estreita entre as revoltas
170
populares nas zonas rurais e as heresias.
O desejo de retornar aos tempos melhores alimenta lendas tenazes: a que
afirma que os primeiros povos eslavos levavam uma vida estritamente
comunitária sem senhores, a que anuncia que o imperador Frederico II deve
aparecer novamente, proteger o povo, combater seus inimigos. Todas essas
sublevações populares parecem profundamente marcadas por uro vivo
sentimento messiânico: a espera do fim do mundo, do Apocalipse e de um
messias que viria salvar os homens.

INFLUËNCIA DAS CIDADES: ASPECTOS SOCIAIS

Desde o século XIV, os burgueses compram terras e mesmo direitos aos


antigos mestres. Na Inglaterra, comerciantes de Londres, marcineiros,
ferreiros, mais ainda homens da lei, tomam-se compradores de propriedades
senhoriais inteiras. Na Alemanha também, cidades de todas as categorias
estendem sua influência às zonas rurais vizinhas. Esta influência, entretanto,
parece ser muito forte sobretudo nas regiões mediterrânicas, nas quais a
separação entre a cidade e a zona rural jamais foi muito clara, onde as
Comunas se esforçaram muito cedo por dominar o distrito rural
Entretanto, em toda parte, esse avanço das cidades provoca, nas zonas
rurais, desordens de todas as espécies. É assim que se afirma, na Itália e
mesmo na Espanha, o movimento de emancipação rural dirigido ou apoiado
pelos burgueses das cidades que, a fim de libertar as terras de todos os
direitos feudais e das antigas restrições, lutam contra os senhores.
Do ponto de vista econômico principalmente, a ação das cidades traduz-se
por uma sensível especialização comercial, a fim de responder às
necessidades do mercado urbano, assim como às do grande comércio
internacional. É o momento em que os comerciantes dos centros urbanos
compram florestas e empreendem sistematicamente o reflorestamento das
montanhas vizinhas, para construir mais casas, assegurar a exploração de
minas mais profundas que outrora, alimentar as novas indústrias do fogo
(forjas e vidrarias), lançar grandes navios. Desenvolvem-se também as
culturas de plantas têxteis e de tinturarias: o linho e o cânhamo nas planícies
alemãs e nos vales da França, a garança e o açafrão.
171
O desenvolvimento da criação parece ainda mais espetacular. A demanda
de lã e de carne de corte aumenta. Os açougueiros exercem uma influência
política considerável, possuem bens e terras. Os senhores, geralmente,
aproveitaram-se do despovoamento das aldeias, de uma menor coesão das
comunidades rurais. Mas esse movimento dos enclosures, por sua vez,
precipita o abandono das aldeias e transforma de maneira decisiva a paisagem
rural.

O SENTIMENTO RELIGIOSO E SUAS EXPRESSÕES

Desde a primeira metade do século XIV, mas principalmente após a


Grande Peste, pode-se notar uma evolução muito sensível do sentimento
religioso, ligado à angústia, à freqüência da morte e dos infortúnios. Esta fé
bem diferente, mais complexa, mais pessoal muitas vezes, dá testemunho de
um vivo impulso místico. A exasperação do misticismo conduz por vezes a
superstições, práticas mágicas, bruxarias, condenadas formalmente pelos
papas ou pelos concílios, das quais se encontra uma reprodução
impressionante nos quadros de Jerome Bosch. Mas, de qualquer maneira,
inspira vivas devoções populares à Virgem, aos santos protetores e
curandeiros. É a época em que o homem procura uma religião mais humana,
mais familiar, um Deus mais próximo; deriva disso o culto da Virgem da
Misericórdia que abriga todos os homens sob seu manto; também os
incontáveis Milagres da Virgem que liberta as almas pecadoras e
desesperadas. Por outro lado, as poesias, as esculturas e os afrescos
contentam-se em mostrar os assuntos familiares próximos ao Cristo e à Santa
Família: assim nas cenas, tão numerosas então, da Anunciação, da Visitação,
do Natal.

A ARTE DAS CORTES E DAS CIDADES

Os artistas, agora, sobretudo nas cidades, trabalham para os príncipes e


os burgueses. Os miniaturistas, os pintores e os joalheiros não são mais
monges, mas artesãos agrupados em corporações de oficiais e em bairros
especializados (assim, em Paris); trabalham também segundo outros métodos,
para outros clientes.
172
A fortuna das cortes principescas provoca a expansão de novas formas de
arte, freqüentemente originais; os palácios e as casas de recreio, nas cidades e,
posteriormente, no campo, anunciam uma arte arquitetônica liberta das
preocupações militares. Afirmam-se, inicialmente, as artes de ornamentação e
de recreio: móveis, tapeçarias, iluminuras dos Livros de hora), retratos em
tela, retratos esculpidos na pedra ou no mármore dos túmulos; enfim,
composições musicais para as capelas dos príncipes. Esta arte principesca
permanece ligada ao espírito cortesão e dá testemunho de um certo arcaísmo,
pelo gosto da alegoria e dos símbolos, pela procura de temas que narram
ainda os fastos em desuso da vida senhorial: caçadas, bailes e festas,
divertimentos nos jardins.

EVOLUÇÃO E PERMANËNCIA DO GÓTICO

Uma nova forma do gótico desenvolve-se inicialmente na Inglaterra, no


século XIV, com o estilo dito curvilíneo ou decorado. Triunfa em seguida,
algumas dezenas de anos mais tarde, na França com o estilo fiamboyant que
parece ser bem a expressão mais característica dessa nova corrente. Os
pedreiros, sempre fiéis certamente ao espírito fundamental do gótico,
carregam entretanto os monumentos religiosos e civis de uma profusão de
decorações e inventam linhas bem mais complexas e audaciosas que outrora.
Multiplicam as nervuras nas abóbadas (abóbadas em estrela, palmas,
hexágonos), abaixam e ornamentam os centros das abóbadas que pendem à
maneira de estalactites. O frontão triangular do portal, tão alto, oculta a
grande rosácea do primeiro andar. Por toda parte, os mestres-de-obras
acrescentam, para satisfazer ao gosto da época, pináculos e pequenos
campanários, flechas, balaustradas cinzeladas. No interior das igrejas o
impulso em altura exaspera-se com a supressão do trifório; as paredes da nave
só apresentam amplos vitrais.
.

3. A FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS

OS ÓRGÃOS DO GOVERNO CENTRAL

173
O soberano apóia-se principalmente na classe burguesa em ascensão e a
menbros de sua família ou diretamente ligados a ele. O pessoal político é
recrutado de uma maneira bem mais ampla. Certamente os nobres reagiram
vivamente Contra a influência dos legistas, plebeus, familiares do rei, sobre
os principais motores do Estado. Mas essas pretensões não puderam erguer
por muito tempo um obstáculo sério diante da ascensão de homens novos, os
elementos designados então como os conselheiros do rei. São magistrados,
juristas, financistas, contadores, técnicos, freqüentemente clérigos,
eclesiásticos; formados nas universidades do reino, foram aí então acolhidos
nos colégios fundados pelos grandes burgueses ou pelos prelados, e
receberam, após sua ordenação, importantes benefícios da Igreja. Esta
evolução política precipita a concentração econômica e demográfica em
proveito das cidades principescas, sedes dos governos e das cortes.
Na França mesmo, outras cidades se beneficiam com o dinheiro e a
atividade das cortes principescas. Avignon ergue o Palácio dos Papas,
inicialmente uma fortaleza e depois residência suntuosa, e outros grandes
palácios para os cardeais, em Villeneuve. Acolhe os banqueiros italianos,
protege os financistas ou os negociantes judeus, atrai os pintores de Siena, faz
encomendas aos fabricantes de seda e aos tingidores. Às margens do reino,
cria-se entli, a fortuna de Pau, Todas essas cidades não são somente
brilhantes centros literários e artísticos, as residências de príncipes mecenas,
mas centros de comércios e de indústrias, bastante ativos.

OS SOBERANOS E AS ASSEMBLËIAS DE ELEITOS

A Guerra dos Cem Anos, o recrutamento e o soldo dos mercenários,


obrigam p soberano inglês e o francês a procurarem novos recursos, mais
importantes e mais regulares que os frutos de seus domínios e as
contribuições feudais tradicionais. Para multiplicar essas contribuições era-
lhes necessário o consentimento de urna assembléia de representantes das
diferentes ordens do reino. Essas assembléias existem desde há muito na
Inglaterra: com o nome de Parlamento. Na França, ao Contrário, os Estados
foram convocados, sob Filipe, o Belo, somente em ocasiões excepcionais.

174
assembléia características
Parlamento inglês órgão de governo regular, reúne-se todos os
anos, urna a três vezes conforme as
circunstâncias. As reuniões sEio curtas. Esta
assembléia conta somente com duzentos ou
trezentos pessoas, representantes de toda a
Inglaterra e de todas as categorias sociais; o rei
designa os “lords temporais e espirituais”,
escolhidos, nExo como grandes proprietários,
mas como chefes responsáveis por importantes
comunidades. Convoca também os curi ai es,
conselheiros técnicos, juizes, financistas, ou
administradores. Entre os Comuns sentam-se,
eleitos sob o controle do sheriff, dois
cavaleiros para cada condado, dois delegados
para cada cidade ou burgo. Esses homens,
lords ou membros do Comum, não somente
combinam o imposto, como lhe estabelecem o
regulamento e lhe -asseguram a arrecadação.
O rei trata com deputados responsáveis. Estes
desempenham também um papel político,
através de seus pareceres e conselhos
freqüentemente solicitados, por petições que,
apresentadas ao rei, podem precisar ou
modificar a legislação tradicional. Apesar de
sérios dificuldades no momento de algumas
crises financeiros e políticas, malgrado por
vezes violentas oposições (a do Good
Pariarnent em 1376), o rei e o Parlamento as
mais das vezes colaboram. A assembléia atua
perfeitamente como um órgão do governo.
Os Estados gerais O rei convoca, principalmente, os senhores dos
grandes feudos: nobres e prelados. Os
175
delegados representam somente as cidades,
eleitas por votação limitada; não se encontra
qualquer membro da pequena nobreza. O rei
os convoca raramente, somente em ocasiões
catastróficas, para fazer face às necessidades
prementes de dinheiro. Os delegados
esforçam-se então, naturalmente, por
apresentar suas reivindicações, por impor
reformas. Esses estados agrupam
representantes dos três Estados:nobreza, clero
e povo

FRAQUEZA DO IMPËRIO. ANARQUIA NA ALEMANHA

O ABANDONO DOS PAPAS

O cativeiro de Avignon

A eleição de Clemente V, arcebispo de Bordéus (1305), posteriormente à


instalação do papado era Avignon (de 1309 a 1378) anunciam para a Igreja
ocidental sérias dificuldades e discórdias. Este papado de Avignon é, de fato,
francês, aliado e submisso aos reis franceses. Todos os papas foram bispos
franceses; os cardeais, os grandes oficiais da Curia eram da mesma forma, na
sua grande maioria, das províncias do Sudoeste, Bordelais, Limousin e
Périgord principalmente. Por isso os papas foram muito impopulares. Os
italianos, e mais particularmente os romanos, privodos de importantes fontes
de renda, condenam violentamente o que chamam de Cativeiro da Babilônia.
Toda a cristandade queixa-se de sua submissão aos Valois e do peso
excessivo de seu fisco.
Entretanto, quando Gregório XI decide, após haver confiado a capitães
176
ingleses e alemães a reconquista de seus Estados italianos, retornar a Roma,
em 1378, morre pouco após. Um concílio de cardeais italianos designa então
Urbano VI; chegados um pouco mais tarde, os cardeais franceses elegem
Roberto de Genebra, um francês, que se toma papa com o nome de Clemente
VII. Desde então, o Grande Cisma do Ocidente separa toda a cristandade
romana em duas obediências e arrasar o prestígio pontifical. A Itália, o
imperador Carlos IV de Luxemburgo, a Inglaterra ligam-se ao papa italiano
de Roma, enquanto a França, os duques da Lorena e de Brabante, a rainha de
Nápoles seguem o papa francês, novamente em Avignon. Este cisma não é
resolvido nem com a morte dos soberanos pontífices, pois cada partido
escolhe então prontamente um sucessor, nem quando do concílio de Pisa
(1409), que não teve outro resultado a não ser o de designar um terceiro papa.
Enfim, o Concílio de Constança impõe, graças ao apoio político e mesmo
policial do imperador Sigismundo a demissão de dois dos papas (Gregóiio
XII e João XXIII) e elege Martinho V, em 1417.

A guerra dos Cem Anos

AS ORIGENS E OS PRIMEIROS COMBATES

A história do conflito franco-inglês sublinha evolução política dos dois


remos. Questão feudal de início, agravada por uma crise dinástica a guerra,
um século mais tarde, assume um caráter mais nacional, compromete mais as
populações e suscita recepções coletivas das mentalidades populares
nacionais.

A questão feudal foi provocada pela recusa ou as reticências do rei da


Inglaterra em prestar homenagem ao rei da França pelos seus feudos do
continente; advindo disto a guerra em 1324-1327. Após haver prestado
homenagem em 1329, Eduardo III recusa reconhecer Felipe VI. Os dois
adversários procuram aliados, em particular em Flandres, e a guerra só toma
seu rumo decisivo em 1340: pela vitória naval de Ëduse os ingleses
asseguram-se do domínio do mar, do transporte de suas tropas pelo continente
põem fim, por longo tempo, às incursões dos corsários normandos em suas
177
costas.
Em terra, a superioridade militar inglesa afirma-se desde os primeiros
encontros. Os franceses armam sempre tropas essencialmente feudais, difíceis
de comandar, formadas principalmente por cavaleiros que atacam
pesadamente o inimigo. Os ingleses recrutam de preferência mercenários;
todavia, seus exércitos contam com um grande número de infantes,
camponeses livres, armados com o “grande arco”, cujo uso certamente deve
ter sido aprendido durante as guerras contra Gales: uma arma temível que
atira muito longe e muito rápido. Formados em quadrados compactos, os
arqueiros ingleses dizimam todas às vezes as cargas francesas. A guerra dos
cem anos fortaleceu a unidade francesa e foi à base da formação nacional.

.A guerra das Duas Rosas

Na Inglaterra, a unidade do reino, sua paz interior ~ menos. encontram-se


gravemente comprometidas pela longa minoridade de Henrique VI e pela
divulgação dos reveses militares no continente. Ao mesmo tempo que
aumentam o banditismo e as desordens, az revoltas de camponês e que a
loucura do soberano deixa o poder real enfraquecido, entram em choque
facções principescas que reivindicam a coroa e se apóiam em vastas clientelas
feudais. Desse modo, inicia-se a guerra das Duas Rosas entre os partidos de
York (rosa branca) e de Lancaster (rosa vermelha). Durante mais de quinze
anos (de 1455 a 1471) essa guerra divide a Inglaterra em dois clãs
violentamente hostis, devasta az zonas rurais, espalha por toda a parte cx
corrupção. Finalmente. Eduardo 1V, chefe do partido York. vencedor em
1461, domina em seguida Henrique VI e o decapita na Torre de Londres.

178
UNIDADE DIDÁTICA XI - OS TEMPOS MODERNOS

INTRODUÇÃO

Hoje, não se vê mais na Renascença uma ruptura brutal com a época me-
dieval. mas o resultado de uma lenta evolução ue mergulha suas raízes na
Idade Média. Alguns, históriadores, situam os começos da Renascença a
partir do despertar da vida urbana, no século XIII e, mesmo, no XII. A
maioria afirmar que a Renascença despertou muito cedo, não apenas na Itália
mas também em grande parte da Europa Ocidental.
O conceito de reforma é ainda mais antigo que o de renascença. A
História da Igreja, na Idade Média, é a de uma seqüência de reformas tímidas
feitas por papas, concílios, Santos , que procuraram conduzi-la à pureza
primitiva eliminando os abusos causados pela presença do clero na época.
Poucos homens tinham ousado abandonar o seio da Igreja a fim de perseguir
esse ideal de pureza clerical. Nem bem nem mal, até que uma solução viesse
intervir no seio da Igreja romana. Enquanto a ação de Wyclif e João Huss
permanecera limitada a seu país, a revolta de Lutero deu o sinal de um
movimento que repercutiu em toda a Europa Ocidental.

1. Renascimento

Os homens do século XVI só adotaram tardiamente o termo


“renascença”. Somente em 1550, este termo renascença inicialmente utilizado
apenas pára artes é estendido o sentido a civilização. No entanto, não se
havia esperado essa data para se tomar consciência da mudança operada nos
espíritos e nas expressões literárias e artísticas. Este sentimento existia, na
Itália sobretudo, onde os eruditos acreditavam, ser os únicos capazes de
reencontrar o pensamento da antiguidade clássica. Por ser na Itália que existiu
179
o império Romano. Na verdade o termo ao retorno ao pensamento e às formas
de expressão da Antigüidade Clássica, (Roma e Grécia). Renascença não
pode ser dissociada do humanismo, que situa o homem no centro das
preocupações espirituais e dos estudos sociais . O Antropocentrismo é a
forma de pensar dos homens do renascimento.

AS CONDIÇÕES DA VIDA INTELECTUAL

Na segunda metade do século XV e no começo do XVI, a vida intelectual


reencontra condições favoráveis a uma renovação com o aparecimento do
livro impresso, e a divulgação da cultura . Desde o seu aparecimento, a Igreja
e os soberanos exercem vigilância sobre este poderoso meio de difusão das
idéias. No século XVI. a indústria do livro se concentra nas grandes cidades
universitárias e nos centros comerciais. A lista das publicações testemunha,
sobretudo, as necessidades intelectuais da freguesia. Dos livros impressos no
século XV, cerca de 30.000 a 35.000 edições, contam-se 77% em latim, nas
línguas nacionais (francês, italiano português).

HUMANISMO E RENASCENÇA NA ITÁLIA

O humanismo, em seu início, consiste em uma nova concepção do


homem e ocasiona uma nova concepção do espaço e das formas. Essas novas
maneiras de ver se desenvolver numa nova concepção do mundo.
Na origem dessas novidades se encontram as heranças da cultura clássica
muito presente em solo italiano. Na Florença dos Médicis, Lourenço, o
Magnífico. agrupara a sua volta uma “academia” de letrados. Os Médicis não
eram os únicos Mecenas de Florença., as igrejas e os conventos deram
trabalho a um grande número de artistas, na realidade a Igreja católica era a
maior mecenas da antiguidade.
O período florentino da Renascença inaugura o estudo crítico dos textos
da Antiguidade. Os artistas reencontram a perspectiva. libertando-se dos tabus
da Idade Média, como o nu e os temas pagãos vistos como o inverso da fé.
Florença é ilustrada pelo arquiteto Brabante e seus esboços (domo de Santa
Maria das Flores) pelo escultor Donatello e uma legião de pintores como
180
Botticelli e Ghirlandaio.
O papa Júlio II confiou a reconstrução de São Pedro ao arquiteto
Bramante, que concebeu um edifício que exprimia a unidade e a harmonia
do universo. Miguel Ângelo executou a obra empreendida por Bramante, não
sem reduções infligidas pelas dificuldades do financiamento.
O período romano da Renascença representa perfeitamente o
humanismo triunfante, apoiado nos exemplos da Antiguidade. Suas figuras
ímpares são: Miguel Ângelo ( arquiteto. escultor, pintor e poeta), Leonardo
da Vinci, (espírito universal, pintor original e engenheiro) e Rafael que
melhor representa. incontestavelmente, o ideal humano da Renascença
italiana.

O particularismo Veneziano

. Veneza é uma cidade de humanistas e de impressores, mas é


também uma potência comercial, voltada para o Oriente, dominada
pelo espírito prático. Na sua universidade de Pádua, continua-se fiel
ao pensamento dos comentadores de Aristóteles, dentre os quais o
muçulmano Averroês, que não aceita a imortalidade da alma. Nesse
quadro espiritual original, ensina o humanista Pomponazzi (1462-
1525), que se apresenta como um racionalista, afirma que o homem
não foi feito à imagem de Deus e solapa as bases da revelação cristã
negando os milagres e a imortalidade da alma..
Veneza, rebelde ao neoplatonismo, toma-se o principal centro de
arte na Itália. Certamente, seus artistas tinham adotado a concepção
do espaço dos romanos, mas exprimiram a grandeza de sua cidade,
suas cores e seus contatos com o Oriente.

O HUMANISMO NA EUROPA OCIDENTAL

O humanismo se difundiu da Itália para toda a Europa ocidental. No


181
entanto as ciências exatas no século XV, já tinham grandes progressos e na
astronomia que se realizam as maiores transformações, com o polonês
Copérnico (1473-1543). O que denominamos a “revolução copernica”
consistiu em colocar o Sol no centro do sistema planetário. Revolução radical
para época, pois conflitava com a Bíblia.
A ciência física acumula observações e, vez por outra, as receitas práticas,
algumas das quais terão grande futuro. Desse modo, Paracelso foi um dos
primeiros a utilizar os corpos químicos como medicamentos. O humanismo
favoreceu o conhecimento do corpo humano. Os médicos começam a praticar
as dissecações e os artistas reproduzem os sistemas ósseo e muscular com
notável exatidão. Estabelece-se a circulação do sangue. Desenvolvem-se
progressos no tratamento das feridas (invenção do garrote para estancar as
hemorragias). Como podemos ver o humanismo encorajou a ciência.

• Renovação dos temas e da expressão literárias e artísticas

Em toda a Europa Ocidental, a literatura e a arte sofreram


transformações. A Itália, onde fora elaborada uma nova visão do homem e do
espaço, permaneceu o país em que estas novidades encontrou a sua mais
completa expressão. Nela teve, antes de 1530, numerosos escritores. Teve,
igualmente, uma multidão de pintores, entre os quais Corregio (1494-1534),
em que a composição, a forma e o colorido exprimem um paganismo fácil e
voluptuoso. E na Itália que Machiavel (1469-1527), é notabilizado por O
Príncipe (1513), tratado de política realista, permanece isolado.
Em Veneza, a arte italiana toma uma nova orientação com Ticiano
(morto em 1576) e com o arquiteto San Sovino (1486-1570), que modela a
Praça de São Marcos. A pintura produz ainda obras-primas inspiradas pela
atmosfera e pela grandeza venezianas, com tmtoretto (1512-1594) na
expressão patética, e com Veronese (1528-1500) que ilustra o luxo e o
cenário das festas de sua cidade.
As influências italianas chegaram, em primeiro lugar, nas cortes de
Francisco I da Áustria, rapidamente a Espanha, muito embora as influências
flamengas sejam nela exercidas durante algum tempo. A Flandres, que, na
economia européia, constituía um pólo de atração distinto do da Itália,
manteve a sua originalidade. Os edifícios, mesmo civis, permaneceram por
182
mais tempo fiéis ao gótico. O mesmo aconteceu com os pintores como o
visionário Bosch (1450--1516) ou Quentin Metsys (1465-1530). A influência
da Antiguidade aparece apenas em Mabuse (1478-cerca de 1533), Bruegel, o
Antigo (1525-1569), soube assimilar as técnicas italianas, porém permaneceu
flamengo por sua sensibilidade à vida.
Na Inglaterra, a arte da Renascença penetrou muito lentamente com a
construção do castelo de Hampton Court e a vinda do pintor alemão Holbein
(1497-1543), célebre por seus retratos das grandes personagens. A
Renascença foi um fenômeno europeu. Alcançou a Polônia e exerceu sua
influência até em Moscou onde italianos trabalharam no Kremlin, e em
Constantinopla.

2. A REFORMA

Não foi apenas os abusos da Igreja a única causa da Reforma nem


podemos mais ver nela a exclusiva procura da salvação. Estas duas causas
não eram novas. A Europa Ocidental estava em mudança. As provações da
Peste Negra, as fomes e as guerras, as transformações econômicas e sociais, a
constituição das nações não podiam deixar de agir sobre a religião. As
exigências espirituais de um maior número de homens, no século XVI,
tornavam os abusos mais insuportáveis do que no passado, tanto mais que o
impulso econômico e o progresso das comunicações aumentavam a sua
importância. Foi este conjunto complexo que fez da Reforma um movimento
ao qual, pela primeira vez, a unidade da Igreja do Ocidente ficou
definitivamente isolada.

CAUSAS DA REFORMA

Podemos distinguir causas religiosas, morais e sociais:.

• As causas religiosas

.
183
A religião se individualiza pelo efeito de práticas mais pessoais. Torna-se
mais interior. Os progressos da mística seguem no mesmo sentido, dissociara
fé e razão, condenara a escolástica à decadência e criara uma insatisfação
intelectual. Em vista disso, não deixava aos cristãos senão a possibilidade de
duas atitudes: uma fé ritual e dissecada ou, então, a pesquisa do conhecimento
místico.
No momento em que começa a Reforma, a Igreja continua a lutar contra
heresias nas quais se encontram inúmeras idéias que formarão o essencial do
protestantismo. Sob os termos “heresia boêmia”, Roma confundia, não apenas
os discípulos de João Huss, mas também os de Wyclif, que proclamavam a
Escritura única fonte de verdade, rejeitando a autoridade de Roma e da
tradição, os sacramentos, à exceção do batismo e da comunhão, o Purgatório
e o culto dos santos, e que se esforçavam por praticar fraternidade e pobreza.
João Huss fizera, igualmente, da Escritura a fonte única da verdade, mas
reconhecia a autoridade de Roma e admitia que cada qual podia interpretar a
Bíblia livremente.
Todos esses movimentos tendem a rejeitar a tradição católica e a fazer da
Bíblia o fundamento único da crença. O retorno à Bíblia foi auxiliado pela
invenção da imprensa que permitiu a sua difusão para os leigos.

• As causas morais

Antes de 1520, Erasmo, mais que Lutero, insistira sobre os abusos de que
o clero era prova. Tais abusos enfraqueceram a resistência da Igreja e, uma
vez consumada a ruptura, forneceram argumentos polêmicos aos seus
adversários. Os abusos do clero eram reais. Muitos bispos tinham comprado
os sufrágios de seu capítulo. acumulavam rendimentos e muito raramente
rezavam missa. Padres viviam com companheiras mesmo tendo feito voto de
castidade, vendiam os sacramentos e levavam a mesma vida de seus
paroquianos.
A Santa Sé, particularmente, estava paralisada. A difícil reconstituição do
Estado pontifício, após o Grande Cisma, o mecenato dos papas, seu papel
político faziam deles príncipes italianos e lhes reduziam a autoridade sofre a
Igreja no momento em que os sentimentos nacionais se desenvolviam e
incitavam os fiéis a afirmarem a autonomia das Igrejas nacionais, A
184
Inquisição espanhola estava nas mãos dos soberanos. A venda de
indulgências escandalizava o povo..

• Causas econômicas, sociais e políticas

Os fatores econômicos, sociais e políticos podem explicar as atitudes dos


fiéis e, conseqüentemente, a ruptura da unidade. Recordemos que todo
descontentamento se exprimia de maneira religiosa. Desde os meados do
século XV, o papel crescente do dinheiro é o que mais suscita indignação. Os
pregadores dominicanos votam o usurário à danação. Após as perturbações
sociais do século XVI, a revolta contra a miséria assume com facilidade a
forma de conquista do reino de Deus. Os primórdios do capitalismo comercial
formão os antagonismos entre as cidades em pleno desenvolvimento e os
campos.
As razões econômicas, sociais e políticas foram, provavelmente, mais
fortes na Alemanha do que em outros lugares. Na ausência de uma forte
monarquia nacional capaz de defender os fiéis contra a voracidade da
fiscalização pontifical. Os príncipes laicos aspiravam reduzir o papel do
imperador e substituí-lo como chefes temporais da Igreja em seus domínios.
Essa estrutura política explica o fato de que a pregação das indulgências
tenha tomado na Alemanha um caráter mais escandaloso do que noutros
países e tenha moldado a reação decisiva.

LUTERO E A REFORMA FORA DA IGREJA

Em 31 de outubro de 1517. Martinho Lutero fazia afixar em Wittenberg


95 teses, em que denunciava a falsa segurança alcançada pelas indulgências
cuja venda o papa e tinham confiado aos donicanos, a iniciativa de Lutero
teve repercussões inesperadas.

A revolta de Lutero

Lutero (1483-1546), filho de um camponês que se tornou pequeno


empreiteiro sangra-se monge da ordem de santo agostinho, padre, doutor em
185
teologia, professor na universidade de Wittenberg. Estudando as obras de
santo agostinho Lutero chegou à opinião de que o homem, ficou decaído em
razão do pecado original. só poderia ser salvo pelos méritos únicos de Jesus
Cristo. Deus concede a salvação por graça àquele que acredita na promessa da
graça feita pelo Cristo. Conseqüentemente. as obras são inúteis à salvação.
Encontravam-se nos escritos e nos propósitos de Lutero conclusões
práticas. Ele reclamava a formação de uma Igreja nacional autônoma, a
supressão das ordens mendicantes e do celibato eclesiástico, a comunhão,
medidas contra o luxo e a usura. No entanto apesar sua revolta contra Roma e
o dinheiro, ele se mostrava respeitador da hierarquia social e mesmo da
eclesiástica. Com este programa Lutero seduziu a pequena nobreza que
forçou Lutero a romper com a Igreja.
A atitude dos príncipes foi decisiva. A eleição imperial dava liberdade
ao papa Leão X, e o novo imperador manifestava o desejo de reforçar o seu
poder na Alemanha graças ao apoio de seus Estados espanhóis. Por isso, a
independência religiosa proposta por Lutero revelou-se aos olhos dos
príncipes como o complemento de sua independência perante o imperador e
o papa.
Foi nessas condições que Lutero queimou, no Natal de 1520, a bula, que
o condenava, e foi excomungado. Comparecendo assembléia de Worms, com
um salvo-conduto, recusou retratar-se (abril de 1521), separou-se da Igreja,
foi banido para o Wartburg.

Dietas ( Reunões) O que aconteceu


Na Dieta de Worms (1521), Lutero foi condenado como
herege: Lutero negou-se a se
retratar e com o apoio da
nobreza não foi punido
(refugiou-se no castelo do
príncipe da Saxônia) 
traduziu a Bíblia latina para o
alemão.
Na Dieta de Spira (1529), tentou-se conter o
luteranismo (tolerar a

186
doutrina luterana nas regiões
convertidas, mantendo,
porém, a proibição no
restante do país), havendo
protestos (daí o nome de
protestantes).
Na Dieta de Augsburgo o desacordo originou sérias
(1530), lutas entre o imperador
(Carlos V) e os nobres (Liga
de Smalkade): guerra de
religião.

A confissão de Augsburgo

Quando Lutero saiu do Wartburg onde se ocupara de traduzir a Bíblia e


de compor cânticos, o movimento de reforma fora da Igreja romana se tinha
propagado mas diversificado.Suas praticas exaltadas provocaram revoltas.
Foram consideráveis as conseqüências dessas guerras. A base social do
luteranismo encolheu-se. Amedrontados, alguns abandonaram Lutero e se
reaproximaram da Igreja romana, ao passo que outros levaram Lutero a
inclinar-se no sentido de dar às Igrejas reformadas uma constituição
hierarquizada sob a direção dos príncipes. O movimento luteriano progredia
nos países alemães. Os príncipes luteranos, a partir de 1530, passaram a ter
uma participação maior na política européia. Em 1529, protestaram contra a
manutenção das medidas tomadas no tocante a Lutero, daí o nome
“protestantes” que lhes foi dado. Tendo Carlos V convocado para esse fim
uma assembléia de Império em Augsburgo, Melanchthon redigiu a Confissão
lutarana de Angsburgo. Em 1555, pela paz de Augsburgo, Carlos V
reconhecia uma existência oficial às Igrejas luteranas. Os súditos deveriam
seguir a religião de seus países (Cujas regia, hajas religio), na realidade de
seu príncipe.

187
Anabatistas

O anabatismo apareceu em toda parte onde os reformadores


submetiam a Igreja ao poder político. Considerando que não se
podia ser cristão a não ser por uma conversão pessoal, os
anabatistas só reconheciam o batismo dos adultos. Não
procuravam conquistar a multidão e admitiam a tolerância.
Recusavam, porém, a autoridade do Estado e consideravam a
propriedade individual como um pecado. Os anabatistas foram
então acossados pelos católicos e pelos protestantes.
Entretanto, Menno Simons (1496-1559) restituiu ao anaba-
tismo o caráter pacífico de seus primórdios. Alguns pequenos
grupos se instalaram nos Países Baixos e na Europa Central.

CALVINISMO

Os primórdios da Reforma na França

Quando Calvino se torna o guia da Reforma francesa, a França oferecia


um terreno bem diferente às aspirações de reforma. O poder real aí se
reforçara e podia defender a Igreja da França contra Roma. Essa Igreja
conhecera uma vasta autonomia. Sua reforma só podia, pois, ter êxito se o rei
o quisesse. O desejo de reformar a Igreja era muito forte. Luís XII, tinha
tentado uma reforma nas ordens religiosas. Francisco I tinham sido ganho
pelo humanismo.Entretanto, alguns dos numerosos pregadores populares
tomavam por sua conta as afirmações de Lutero.
Crescia a efervescência religiosa. Deparavam-se em quase todas as
províncias pequenos centros favoráveis às idéias luteranas,

188
O tom cresceu com a provocação dos “Cartazes” (18 de outubro de
1534). Cartazes fixados simultaneamente em Paris, em Orléans e até na porta
da câmara do rei atacavam com violência a missa. O fato assumia o aspecto
de um negócio de Estado. Francisco I, castigou ou Luteranos que foram
queimados, os chefes da Reforma fugiram, enquanto procissões expiatórias
revelavam a força do apego à fé tradicional. Foi então que Calvino se
transformou em defensor dos reformados perseguidos e publicou a
“Instituição Cristã” em latim (1538), depois em francês (1541).

Calvino

João Calvino, filho de um administrador de bens da Igreja, estudou as


artes liberais em Paris, depois Direito em Orléans. Humanista, converteu-se
as idéias dos reformistas, renunciou aos seus benefícios e fugiu para
Estrasburgo.
Com a Instituição cristã, Calvino inova e cria uma visão própria e
original para a reforma francesa. A obra é caracterizada pelo rigor e pela
clareza do raciocínio, Calvino incorporou o pensamento de seus
predecessores, renovando-o, a idéia essencial de Calvino é que Deus nos
é transcendente só sabemos dele aquilo que Ele nos quis revelar através
da Escritura. Sem a Escritura o homem só pode ter de Deus uma idéia
falsa, pois o pecado original lhe enfraqueceu a inteligência. A lei só pode
ser o efeito da graça divina. O tratado da Predestinação eterna de Deus
(1552) precisa um ponto capital no pensamento de Calvino. A
predestinação é absoluta. Deus, por antecipação, destina alguns à vida
eterna, os outros à eterna maldição. A graça é irresistível. O sinal dela é a
fé com que Deus nos presenteia. Desta fé decorre a certeza da salvação.
Calvino não condenou o empréstimo a juro. Aliás, a moral calvinista
encorajava a aplicação no trabalho na profissão em que Deus situara cada
qual. Calvino considerava, igualmente, que o êxito em todo
empreendimento constituía a recompensa de Deus a seus eleitos Deste
modo, o calvinismo, não só reconhecia a evolução da Europa, mas
justificava a atividade econômica. Max Weber, um sociólogo
alemão, publicou no início do século XX, um estudo
intitulado “A ética protestante e o espírito do capitalismo”,
189
onde procurava enfatizar as relações entre a ética
calvinista e o início do capitalismo na Europa.

A expansão do calvinismo

Com Calvíno, a Reforma encontrou um novo impulso. Chamado a


Genebra, impôs as ordenanças eclesiásticas de 1541, que, de fato, implicava
uma reforma da Igreja e da sociedade. Para ele a Igreja reformada , ligada
intimamente ao Estado, não lhe era submissa. Ao contrário, era a sua
inspiradora. Sem magistratura oficial, Calvino exerceu uma verdadeira
ditadura. Calvino, apoiado por numerosos refugiados franceses, desejava
impor uma inquisição rigorosa acerca das práticas católicas, anabatistas ou
mesmo profanas, como a dança, o teatro e os divertimentos. Em 1558,
Calvino fundou alcademia de Genebra, destinada a formar pastores e
missionários. Genebra torna-se uma capital; no século XVI, ela foi o centro
principal do calvinismo. Sua Igreja servia de modelo nos países de língua
francesa, nos Países Baixos, na Alemanha. Na França, o calvinismo progrediu
bastante.
O calvinismo propagou-se, igualmente, nos Paises Baixos. Na Escócia, a
Reforma, provinda da Inglaterra, encontrou, de início, pequena repercussão.
Mas o sentimento nacional colaborou com sua propagação. O Parlamento
adotou uma confissão de fé redigida por John Knox, formado na Academia de
Genebra, a Igreja presbiteriana da Escócia era organizada pelo Livro da
Disciplina, de maneira mais democrática que a de Genebra, de vez que os
pastores eram eleitos pelos fiéis.

A REFORMA ANGLICANA

• antecedentes

A Reforma, na Inglaterra. revestiu-se de um caráter original, graças a um


Parlamento fraco, a Reforma estava nas mãos do rei,como ocorreu na França
mas diferente da francesa, a Igreja da Inglaterra não tinha tradições de
autonomia em relação a Roma. Ao contrário, a Santa Sé impunha à Inglaterra
190
um imposto muito pesado. Portanto era o papado impopular. O clero possuía
grandes domínios. Wyclif já havia solicitado um retomo à simplicidade
primitiva da Igreja. O rei da Inglaterra Henrique VIII, pretendia manter-se
fiel a Roma e publicou um tratado em que justificava os sete sacramentos, o
que lhe valeu do papa o título de “Defensor da fé”.
Porem por razões exteriores à religião, a Inglaterra o processo de
reforma iniciou. Henrique VIII. não tendo tido filhos da rainha Catarina de
Aragão e estando apaixonado por Ana de Bolena, solicitara ao papa a
anulação de seu casamento, porem o papa negou a anulação. Em 1531,
Henrique VIII, se fez proclamar pelo Parlamento protetor da Igreja inglesa. O
clero entregou ao rei a chefia da Igreja. Henrique VIII fez com que o
arcebispo de Canterbury, anulasse o casamento com Catarina e Aragão e se
casou com Ana de Bolena. Em novembro de 1534. o Parlamento votava o
primeiro Ato de supremacia. que estabelecia o rei como “Chefe supremo na
Terra da Igreja da Inglaterra”. Os ingleses, por juramento. deviam
submeter-se a essa supremacia. caso contrário seriam excomungados e
perseguidos pela justiça real. A nomeação dos bispos retorna praticamente ao
rei. A venda dos bens do clero regular permitiu ao rei forçar os seus
adquirentes a romper com Roma. De Inicio a reforma inglesa era um cisma
sem muitas mudanças com o catolicismo, posteriormente o anglicanismo vai
se aproximar do luteranismo e do calvinismo.
O herdeiro de Henrique VIII, Eduardo VI morre logo após a chegada ao
trono, e em 1553 é sucedido por Maria Tudor, filha de Catarina de Aragão,
que se mantivera católica. A rainha tentou reconciliar a Inglaterra e Roma. No
mesmo ano que chegou ao trono em 1553, o Parlamento votou o retomo à
obediência romana. Os bens da Igreja secularizada deveriam permanecer em
mãos de seus novos possuidores. A tentativa de restauração católica foi
ajustada pelo casamento de Maria Tudor com Filipe II da Espanha. O
catolicismo romano aparecia para a maior parte dos ingleses como a religião
do estrangeiro.
Morrendo Maria Tudor em 1558, sua meia-irmã Elisabeth, filha de Ana
de Bolena e, portanto mal vista aos olhos de Roma, retoma ao movimento de
reforma. O Parlamento, votou o restabelecimento do Ato de supremacia e o
do livro de orações de 1542. Em 1563 era definida a Confissão dos 39
artigos, que mantinha a hierarquia episcopal e o culto semelhante ao católico.
191
Nascia, desse modo, uma confissão religiosa original, o anglicanismo.

A REFORMA CATÓLICA OU A CONTRA-REFORMA

Na história da Igreja durante o período da reforma é possível distinguir


Treis movimentos: a Contra-Reforma, isto é, a defesa da lei pela apologética
e, também, pelas perseguições; a Reforma disciplinar e doutrinal; enfim, a
Reforma Católica com o despertar da fé e do impulso missionário. A
Contra-Reforma pertence tanto à história política e à história das
mentalidades quanto à história religiosa. Em compensação, o estudo da
reforma católica é inseparável do da reforma protestante. Ela se desenvolve
mais ou menos na época de Calvino. Podemos dividi-la em dois períodos. O
primeiro é caracterizado pela persistente esperança de um retomo à unidade
da Igreja. No segundo, começado em 1541, a Igreja romana. havendo-se
resignado à ruptura, se organizam em função de suas nova perspectivas.

A nostalgia da unidade

O movimento de reforma da Igreja romana, lançado no início do século,


prosseguiu. Ele era sustentado pelos progressos da devotio moderna que,
suscitada pela Imitaçao de Jesus Cristo, propagara o misticismo entre os
laicos e conciliava a vida ascética e a vida ativa. Não se deveria, igualmente,
ignorar o exemplo dado por alguns prelados que se dedicaram em melhorar a
formação dos podres e a renovar o vigor da catequese e das obras de caridade.
Todavia, a defesa do catolicismo repousava, no momento, sobretudo nos
soberanos.
A iniciativa de fazer um Concilio Ecumênico para reunir os católicos
vem de um papa que não parecia a isso destinado, Paulo III (1534—1549),
no ano de 1536, Concílio Universal. A reforma da Igreja romana começava
verdadeiramente. Paulo III soube mobilizar todas as energias que se
apresentavam.
Em 1536, nomeou cardeais humanistas eminentes e respeitados, que
prepararam o programa do futuro concílio. E criado “o Conselho sobre a
reforma da Igreja” (1537), órgão onde os abusos eram impiedosamente
192
denunciados. Aliás. Em 1542, a Inquisição romana era confiada a uma
congregação de cardeais e a censura dos livros ao Santo Oficio, em 1543. O
primeiro índex dos livros interditos foi publicado em 1564. Paulo III apoiou-
se também nas ordens monásticas novas: vicentinos, capuchinhos. saídos dos
franciscanos, fundadas em 1525 e. enfim, jesuítas instituidos por Inácio de
Loyola.
Dentro deste mesmo espírito, surgiu nosso interesse principal que é a
Companhia de Jesus. Ela vem ocupar em âmbito mundial o espaço deixado
pela Ordem dos Templários, embora constituam uma ordem de caráter
militar, os jesuítas já não usariam espadas como os templários. Sua arma
passou a ser a educação de acordo com o decreto "Ratio Studiorum". De
certo, uma arma muito mais poderosa. Fundada pelo basco Inigo de Onaz
mais conhecido por Santo Inácio de Loyola, fidalgo da corte de Fernando de
Aragão portanto, vivendo as novidades do Novo Mundo, a vitória da
reconquista e a luta contra o protestantismo, foi ele militar do exército
espanhol, antes de descobrir sua vocação religiosa.

O concílio de Trento

Em 1541, a cidade de Trento fora escolhida como lugar de reunião de um


concílio. Reuniu-se de 1545 a 1547, de 1551 a 1552 e, enfim, de 1562 a 1563,
sujeito às eventualidades da política européia. Enfrentou diretamente duas
tarefas: definição do dogma e restauração da disciplina. Duas tendências nele
se opuseram. A primeira, a moderada sustentada pelos soberanos dos países
divididos pela Reforma, que conseguiu com que aí fossem ouvidos teólogos
luteranos. A segunda tendência era a do papado que, constatando a ruptura
definitiva, se opunha a toda concessão doutrinária aos protestantes e esperava,
através da reforma disciplinar, reforçar a autoridade pontifical sobre o mundo
católico. Com o pontificado Paulo IV, o papado, apoiando-se no movimento,
tomou a direção da reforma do catolicismo.
A obra doutrinária consistiu em reafirmações do dogma e em precisões
destinadas a reduzir a possibilidade de controvérsias fundamentais.

1) O dogma está fundado na Escritura, que somente a Igreja tem o


poder de interpretar, e na tradição. O papa e os bispos detêm os poderes
193
outorgados por Jesus Cristo a São Pedro e aos apóstolos.
2) O homem não pode ser justificado sem a graça divina, mas pode
conservá-la ou perdê-la e, graças aos sacramentos instituídos por Deus,
reencontrá-la. O livre arbítrio existe na medida em que Deus o permite, e o
homem será julgado, não apenas por sua fé, mas por suas obras pelas quais é
responsável.
3) A missa é um sacrifício que renova, realmente, o do Cristo.
Reafirma-se, assim, a presença real de Jesus no pão e no vinho, presença
rejeitada por alguns protestastes e pela transubstanciação, isto é, a mudança
de substância das duas espécies que se tornam o corpo e o sangue do Cristo,
rejeitada pelo conjunto dos protestantes.
4 ) O concílio fixou, igualmente, regras disciplinares concernentes a
formação e à vida dos padres (seminários) e do clero regulares (clausura), à
administração dos sacramentos. O direito canônico precisou notadamente a
legislação do casamento.

BALANÇO DA REFORMA CATOLICA

Sendo múltiplas as conseqüências, da Reforma, é difícil estabelecer um


balanço do concílio de Trento logo após a sua realização. Notemos que foi em
torno de 1563 que se assinou a m paz de Augsburgo (1555), que a Confissão
dos 39 artigos funda o anglicanismo (1563) e que Calvino vem a falecer
(1564). A unidade religiosa da Europa Ocidental está dividida em dois blocos
confessionais.

1) Nas penínsulas mediterrâneas, o protestantismo foi eliminado. Foi aí


que a Reforma católica criou seus fundamentos. O catolicismo renovado
parece estar ligado à civlização mediterrâneo e da península ibérica.
2) No norte, constituiu-se o bloco protestante: luteranos na Alemanha do
Norte e do Leste, nos reinos escandinavos; calvinista na Escócia; anglicana na
Inglaterra. Somente a Irlanda permaneceu fiel a Roma. Neste país, a religião
194
ligou-se ao nacionalismo.
3) Entre esses dois blocos, uma zona em litígio compreendia a França, os
Países Baixos, a Suíça, a Áustria, a Boêmia, a Hungria, a Polônia. Tudo
dependia dos soberanos. Estes permanecerão fiéis à Igreja romana e, cedo ou
tarde, se tornarão os agentes da Contra-Reforma. As duas confissões se
repartem os países. É neles que se desencadeiam as guerras religiosas e que se
coloca a questão da tolerância.

O ESPÍRITO DA REFORMA CATÓLICA


Durante a Idade Média, a Europa Ocidental vivia uma
unidade, uma unidade teológica: "todo o pensamento
teológico da Idade Média é dominado por Santo
Agostinho. E assim a Idade Média era puramente e
simplesmente Católica cristã."
Agora, o principal inimigo está dentro de suas esferas e
este questiona a autoridade, os dogmas e coloca em
risco a própria sobrevivência da Igreja como instituição.
Necessitava a Igreja disputar espaço de forma
combativa e, por ironia do destino, Espanha e Portugal,
países aliados de Roma, que se mantiveram à parte das
idéias protestantes, realizando dura repressão a estas,
dando amplos poderes ao Santo Oficio, por seus
investimentos marítimos, chegaram em novos
continentes, tanto no Oriente quanto no Ocidente,
proporcionado uma revolução econômico-cultural. A
Igreja ganhou força pois ressoava ainda na Península o
espírito do "cruzado", existindo uma forte consciência
da "Orbis Cristianus".
. No seu Cânon Primeiro sobre justificação, prega.
"Si alguno dijere que el hombre puede justificarse
delante de Dios por sus obras que se realizam por las
fuerzas de la humana natureza o por la doctrina de
la ley, sin la gracia divina Por Cristo Jesus, sea
Anatema". Negando a doutrina protestante e traçando
o que seria a ação da Igreja pós-Trento.
Texto elaborado pela Prof. Luciana de Abreu.
Historiadora-Curitiba 195
UNIDADE DIDÁTICA 1- O ESTADO MODERNO E AS GRANDES
NAVEGAÇÕES

No sistema medieval, cada grupo — clérigos, senhores, servos e


membros das guildas — ocupava um espaço específico e exerciam
uma função própria. A sociedade funcionava melhor quando cada
pessoa cumpria o papel que lhe fora atribuído na sociedade. Porem no
início dos tempos modernos assistiu-se ao crescimento de uma
economia de mercado capitalista, cujo foco principal era o indivíduo
auto-suficiente, zeloso, de ação prática e motivada por interesses
pessoais. Essa rudimentar economia de mercado, fortemente
impulsionada pelas viagens de descobrimento e pela conquista e
colonização de outras partes do mundo, subverteu a tradicional
comunidade medieval, hierarquicamente organizada. Buscando
enriquecer seus tesouros e ampliar seu poder, os Estados promoveram
o desenvolvimento comercial e a expansão ultramarina. A extensão
da hegemonia européia a grande parte do mundo já se encontrava
bem adiantada por volta do século XVIII.

CAPITULO 1 – OS TEMPOS MODERNOS

1. AS TRANSFORMAÇÕES DO SÉCULO XV

Caro amigo de estudo no século XV (1401 a 1500), a Europa


passava por um período de surgimento e fortalecimento dos Estados
Nacionais, mas os pensamentos vigentes na Idade Média ainda se
prolongariam pela Modernidade.

196
A crise da Idade Média do século XIV criava uma massa faminta
que, sem maiores expectativas de vida, que perambulava pelo
continente. Os aumentos anteriores da produção (Séc XIII) que você já
estudou no ano passado não tiveram continuidade. Agravando ainda
mais a situação, houve também a Peste Negra ou Peste Bubônica. Os
árabes mantinham as linhas comerciais sob controle, restando aos
monarcas reforçar o estimulo à exploração marítima.

A Peste negra ronda


o Século XIV,
Miniatura Medieval. 197
2. PRINCIPAIS CARACTERISTICAS ECONOMICAS DO
SÉCULO XV

Em finais do século XV opera-se um despertar econômico que


anuncia os tempos modernos, devidos especialmente às descobertas
cientificas e técnicas.
A industria Têxtil transforma-se e desenvolve-se a metalurgia
do ferro. A descoberta dos Altos fornos traz também um progresso
importante ao trabalho das minas. A criação de bovinos e ovelhas
intensifica-se, aumentando o consumo de carne nas cidades. Mas as
condições de vida dos camponeses não sofrem melhorias, da
mesma forma que as técnicas agrícolas.
Pelo contrário, as técnicas comerciais recebem um grande
impulso, especialmente através de uma melhoria dos transportes
marítimos, do aparecimento da letra de Câmbio e dos Seguros e da
contabilidade mais precisa. Há uma grande ascensão de uma nova
classe a burguesia.

198
Você esta certo sentinela, e os interesses desta burguesia da Idade
Média eram extremamente limitados pelo poder dos senhores
feudais, que seriam de obstáculos também às aspirações políticas
dos Reis. Por isto que a cada passo, burgueses e monarcas aliavam-
se para lutar contra a nobreza feudal, surgindo assim um dos
fundamentos da Monarquia Nacional.
Sentinela, preste atenção! A caminhada da burguesia de simples
habitantes dos Burgos a grandes Co-participantes da formação do
Estado Nacional foi longo e cheio de etapas, O conceito atual de
burguesia e mais complexo do que o inicial. Vamos conhece-lo;

Burguesia: “Classe social composta dos


proprietários do capital que vive dos rendimentos
por eles gerados. Pertencem à burguesia os
industriais, os comerciantes, os banqueiros, os
empresários agrícolas e os donos de empresas de
serviços”.Novíssimo dicionário de economia. Paulo Sandroni
editora Best Seller.

A transformação da classe burguesa esta relacionada as transformações


comerciais entre elas:

 ROTAS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL:

As rotas comerciais da Baixa Idade Média que dinamizaram o


comércio Europeu e aumentaram os lucros dos que nela se

199
dedicavam sendo a base para o desenvolvimento do comércio e da
burguesia, as mais importantes rotas eram:

 Mediterrâneo: Constantinopla ― Itália.


 Champagne: Itália ― Champagne.
 Mar do Norte: norte da Europa ― Champagne.

 FEIRAS MEDIEVAIS:

Eram locais ou pontos de comércio sazonais e inter-regionais de


amplitude continental que dinamizaram a economia da Baixa Idade
Média. As principais feiras eram as de Champagne e Flandres
ocorriam valorização dos bens móveis, transações financeiras, uso
acentuado de moeda, atividade creditícia, circulação de letras de
câmbio, atividades bancárias, atuação de um novo grupo social, os
mercadores.

A burguesia como forma defesa perante os senhores feudais vai se


organizar em Associações Comerciais. Vamos observar as
principais características das associações comerciais século XIV
e XV

Associação
Comercial Conceitos
Características Associações de comerciantes de
Guildas uma mesma cidade.
Objetivando Garantir o monopólio do comércio
local, e controle dos preços das
mercadorias.

200
Associação
Comercial Conceitos
Características Associações de comerciantes de
HANSAS várias cidades: comércio em
grande escala Dinamizaram as
cidades e os mercados.
Objetivando Defender os interesses comerciais
da burguesia urbana. Divulgar
concepções de lucro e
capitalização.
Principais Merchants of the Staple:
Hansas controlava a exportação de lã da
Inglaterra e a importação de
produtos de várias cidades
flamengas.
Hansa Teutônica ou Liga
Hanseática:
controlava o comércio no norte da
Europa

2. PRINCIPAIS CARACTERISTICAS POLITICAS DO


SÉCULO XV

 MOVIMENTO COMUNAL:
As cidades passaram a lutar pela independência: autonomia urbana
(emancipação da tutela feudal). Cidades Francas: cidades que
conseguiram sua autonomia por meios pacíficos através de acordos
(Carta de Franquia) com os senhores feudais (indenizações).
Cidades Comunas: cidades que conseguiram sua autonomia através
da luta armada, buscando o apoio real diante da resistência dos
senhores feudais. A burguesia assume o controle administrativo das

201
cidades: os serviços urbanos eram proporcionados pelos grandes
comerciantes.
Na Cidade
medieval, a
Burguesia era
tributária dos
Senhores
feudais.

 CORPORAÇÕES DE OFÍCIO:

Eram associações de artesãos de um mesmo ofício (ramo de


atividade). Objetivos: impedir a concorrência, garantir a qualidade
dos produtos e organizar os horários de trabalho. Existia um código
de ética: o “justo preço” o era representado pela adição do custo da
matéria-prima ao custo do trabalho. E o núcleo produtivo era a
oficina, nela não existia completa separação entre capital e trabalho
nem especialização com divisão do trabalho, no entanto o trabalho
nas oficinas era Hierarquizado.

202
Organização hierárquica de uma Oficina de uma Corporação
de oficio:

Mestre

Oficial

Aprendiz

Jornaleiro

203
Sentinela o jornaleiro da oficina medieval, não
era quem vendia jornal, mas aquele que recebia
pagamento por uma jornada de trabalho. A
jornada poderia ser de um dia, uma semana, mês
ou ano dependendo do contrato.

4. A BURGUESIA E O ESTADO NACIONAL MODERNO

Processo de centralização do poder e de unificação política


ocorrida na Baixa Idade Média e que vai promover o fortalecimento
do poder real e o surgimento das modernas nações, dos governos e
das instituições nacionais.

A centralização monárquica criou as condições institucionais


necessárias ao desenvolvimento econômico e cultural no final da
Baixa Idade Média (de meados do século XII até o início do século
XIV), mais à centralização monárquica só foi possível graças à
204
estrutura que unificou: o processo de crescimento da população, da
produção, do comércio, das corporações de ofício, das cidades.
Expansão militar e territorial: cruzadas de Reconquista.
Desenvolvimento cultural e artístico e a força econômica da
burguesia.
Somando a tudo isto a crise do sistema feudal com a: dissolução
da ordem feudal clássica. O renascimento comercial e urbano. O
fortalecimento da burguesia e a aliança do rei com a burguesia,
graças ao posterior enfraquecimento da nobreza. A evolução da
economia capitalista-burguesa. O desenvolvimento da concorrência
internacional comercial. A luta entre (burguesia X nobreza).

Capitulo 2 – O Estado Nacional Moderno

 Introdução

Porem temos que reforçar a idéia de que tudo isso acarretou


enfraquecimento da nobreza feudal e a desintegração das formas
políticas medievais o conseqüente fortalecimento do poder real. O
surgimento da burguesia é também um fator importante para o
surgimento do estado Nacional Moderno, graças à aliança do rei com a
burguesia. A emergência do Estado Moderna coincidiu com a ruptura
gradativa do sistema Socioeconômico da Idade Média, baseado na
tradição, na hierarquia e nas ordens ou estados.
Portanto o Estado Nacional Moderno uma nova e singular forma
205
de organização política e perdurou na Europa dos séculos XIII ao
XVIII. O Estado Nacional Moderno, dinástico em sua essência,
empregou os recursos materiais do território, dirigiu as energias da
nobreza para o serviço nacional e centralizou cada vez mais a
autoridade política. Produto da consolidação dinástica, o Estado
Nacional é a principal instituição política do Ocidente moderno.
Cresciam na Europa ocidental as consciências nacionais. As
razões disso são: o apego ao soberano, a afirmação das monarquias
perante os regimes feudais, as lutas empreendidas em comum contra os
vizinhos, os progressos das línguas nacionais, favorecidos pelas
administrações reais e, igualmente, o impulso de comercio, o
desenvolvimento da instrução graças imprensa. O Estado Moderno não
criou a nação. Fez-la desenvolver e, com ela, transformou-se. Tornou-
se a sua expressão.

 Características do Estado Nacional Moderno

206
Observem
a figura e
como o rei
esta em
posição de
destaque
em posição
maior a do
que o Bispo

( Banquete oferecido por D.João I ao Duque de Lancaster,

Séc XV )

Durante a Idade Média, alguns reis começaram a forjar os Estados

nacionais. No entanto, as formas políticas medievais diferiam

207
consideravelmente daquelas que se desenvolveram mais tarde, no

início do período moderno. Na Idade Média, os reis tinham de

partilhar o poder político com os senhores feudais, o clero, as

cidades livres e as assembléias representativas. A autoridade central

era contida por alçadas que se sobrepunham e por numerosas

vassalagens que competiam entre si. As pessoas viviam como

membros de uma ordem (clero nobreza ou povo), e não como

súditos e cidadãos de um Estado. Os teóricos da Igreja visionaram a

Europa cristã como uma comunidade unitária, na qual as

preocupações espirituais prevaleciam sobre a autoridade

monárquica.

Para ocorrer à centralização do poder e com o fortalecimento do

poder real, e junto com ele a unificação política, monetária,

tributária, a centralização judiciária através de uma justiça real e

seus juizes, a criação do braço forte do rei o Exército nacional e a

conseqüente burocracia destas estruturas. Seria necessária a

208
eliminação do particularismo feudal (submetendo a nobreza) e do

universalismo da Igreja (limitando sua atuação).

Porem as fontes do poder real estavam ainda muito ligados ao


sistema de idéias medieval. A religião era uma delas o rei teria o
Direito Divino de governar. Além da religião as fontes do poder real
situam-se em geral no direito feudal, que faz do rei o supremo
suserano, e no direito romano, que os juristas lhe aplicam com mais ou
menos êxito. Na verdade, existem monarquias que permaneceram
quase feudais, a exemplo da Polônia. Outras que tendem para um
absolutismo efetivo, como a França ou Castela.
No entanto o soberano não é proprietário de seus súditos. Deve
governar respeitando a sua liberdade e seus bens em conformidade com
a lei divina e com a lei natural.
Em toda parte, os súditos estão associados à administração do
Estado Nacional Moderno, e para exercer seu poder na o Rei distribuía
múltiplos privilégios, entre eles:

1) Privilégios locais 2) Assembléias das 3) Autonomia


das províncias e ordens ou Estados administrativa de
das cidades, Gerais a que o rei certo número de
concedidos no deve apelar corpos, corpos de
momento de sua freqüentemente cidade, corpos de
união ao reino e para obter a ajuda oficio,
por razões financeira de seus comunidades
particulares e súditos; Um pouco rurais sobre os
amiúde em toda parte, as quais, devido as
confirmadas — a ordens procuram distâncias e ao

209
Inglaterra é o país valorizar o seu pequeno número
em que esses papel quando o de seus agentes, o
privilégios locais soberano lhes rei se desobriga de
são menos solicita ajuda inúmeras tarefas.
numerosos; financeira.

A oposição entre nobreza e burguesia favoreceu mais os soberanos. O


poder real necessitou freqüentemente dos burgueses para as suas
finanças. Em compensação, ele os protegeu contra a nobreza e,
igualmente, contra levantes de trabalhadores. Outorgou a alguns títulos
de nobreza a. Mas esses novos nobres (nobreza togada) não
conseguiram fundir-se na antiga nobreza (Nobreza de Espada), senão
ao cabo de diversas gerações e consagrando alguns de seus filhos à
carreira das armas. No entanto os novos nobres permanecem
demasiados pr6xinos dos interesses econômicos e se mostram
devotados ao rei a quem devem as suas ascensão à segunda ordem.
A antiga nobreza continua a manter um estilo de vida
dispendioso. Por causa disso, tem de solicitar ao rei funções, comandos
militares, bispados e abadias, pensões, enfim. Abandonando com nisso
a própria independência perante o rei. Esses laços entre economia,
sociedade e política condicionam o desenvolvimento dos Estados e
diversificam na pratica instituições repetidamente. Os tribunais de
contas verificavam a contabilidade pública. As cortes de auxílios
representavam a suprema instância em matéria de impostos.

210
Resumindo o estado nacional moderno tinha as seguintes
características

− Centralização e unificação administrativa.


− Formação de uma burocracia.
− Formação de um exército.
− Arrecadação de impostos
“reais”
− Unificação monetária.
− Unificação do sistema de pesos e medidas.
− Imposição da justiça real.

 Definição de absolutismo

Absolutismo (monarquia absoluta) “Sistema político no qual o poder fica nas


mãos de um monarca ou de outro regente autoritário. Em filosofia, o termo define
qualquer doutrina que afirme só haver um modo correto de interpretar, explicar
ou governar.”


 Teorias do absolutismo

211
Teórico Obra Síntese do Pensamento.
Nicolau Maquiavel O príncipe A grande meta de Maquiavel é fo
(1492-1527) arte de dirigir uma nação dentro d
justificam os meios”. Ou seja o s
tudo quando o busca o interesse d
Jaen Bodin Os seis livros da Que de todas as formas de gove
(1530-1596) República ele. O estado popular, o estado ar
monárquico.
É no estado monárquico que o r
como um Pai pelo bem de todos o
defesa da soberania da nação.
Thomas Hobbes Leviatã A elaboração complexa de uma te
(1588-1679) o Estado é uma grande entidade
dominaria todos os cidadãos, seg
primitiva estava mergulhada em
que para obter a ordem os mem
deveriam delegar poder a um
ordem no caos.
Leviatã é um monstro mítico, mu
outros monstros que poderia
sociedade (Leviatã segundo Hob
rei).
Jacques Bossuet Política segundo a Defesa do Principio do direito div
(1627-1704) sagrada escritura poderes reais provem de Deus, a a
sagrada, revoltar-se contra o rei eq
contra Deus.

212
Esta é a capa da primeira
edição da obra Leviatã,
Observem como o corpo
 A características do absolutismo
do rei é formado pelo
corpo de seus súditos.
Para o rei,
o absolutismo
consiste na
ausência de
controle sobre
sua ação e não
na ausência de
limites à sua
autoridade. O
príncipe
apresenta-se
como o arbitro
supremo entre
as ordens e os
súditos. Deve
impor a sua
vontade aos
mais poderosos
de seus súditos.
Consegue este
intento na
medida em que
esses
necessitam
213
desse arbitramento.
O domínio real estende-se sobre grande parte do reino. Existem,
contudo, feudos importantes sobre os quais o rei exerce menor ou
maior autoridade. O centro do governo é a Corte, que acompanha o rei
em suas deslocações. Compreende a Casa do rei ligada ao serviço da
pessoa real, cujos órgãos principais são a Câmara, a Capela, a
Cavalariça e o Conselho do rei composto dos pares de França e grandes
oficiais da Coroa, membros de direita, e de grande dignitários
convocados pelo rei. A esse Conselho demasiado numeroso e pouco
manejável, o rei prefere alguns conselheiros, que formam o Conselho
secreto ou Conselho restrito.
Os grandes dignitários são o chanceler, presidente da chancelaria e
da justiça que preside o Conselho na ausência do rei, trabalham na
Chancelaria os secretários do rei; entre eles se destacam os secretários
de Estado. As ordens do rei são transmitidas e executadas por oficiais
ou por comissários incumbidos de missão tomados, amiúde, no corpo
dos oficiais Alguns têm, ao mesmo tempo, atribuições militares,
judiciárias e administrativas, mas entregam suas funções judiciárias a
seus lugares-tenente togados, que são magistrados, e conservam suas
funções militares. No começo do século XVI é possível distinguir
diversos corpos de oficiais reais: oficiais militares, de justiça, de
finanças.
Entre os oficiais militares, podemos distinguir oficiais permanentes
da estrutura militar, do Estado (governadores de províncias ou de
cidades encarregados da manutenção da ordem, portanto de poderes
militares e de “policia” ou de administração), e oficiais temporários
(capitães comandantes de tropas).
No alto da organização judiciária acabava de surgir o Grande
Conselho, instrumento da justiça pessoal do rei (direito de evocação
que tinha o rei sobre todas as causas), espécie de tribunal dos conflitos.
Deparavam-se a seguir as cortes soberanas.
Com a ascensão do Estado Absolutista. As nações reforçam o
214
poder dos reis face ao papa. Porem pela própria estrutura do
absolutismo europeu o poder espiritual e poder temporal aparecem
como que inseparáveis Ninguém contesta o principio capital do
absolutismo, onde a ação dos soberanos deve ser inspirada pela
religião. O papado, todavia, teve de abrandar suas pretensões em
relação aos reis. Ele conserva em certos casos, um papel de árbitro
supremo entre as nações. Assim, em 1496, Alexandre VI partilha as
terras novas entre espanhóis e portuguesas, mas isso provoca os
protestos dos franceses e dos ingleses. Entretanto, no que respeita ao
temporal. Os soberanos se libertaram dos conselhos da Igreja. Em seus
conselhos privativos que procuram a inspiração cristã de seus atos. Eles
estão, de resto, investidos de um caráter religioso. No que dizer
respeito ao sagrado. Só devem o seu cetro a Deus. Os reis da França e
da Inglaterra possuem poderes taumatúrgicos reconhecidos pela Igreja.

Taumaturgo: “o poder que os reis da França e da Inglaterra teriam de curar


por meio de toque das mãos especialmente tuberculose (adenite tuberculosa). A
atribuição deste poder curativo aos reis remonta o século XII, e tal crença iria
perdurar até o século XVII” (Os reis Taumaturgos) Marc Bloch- cia das letras
ed.

Resumindo o absolutismo tinha as


seguintes características

- O poder absoluto nas


mãos de um só soberano.
215
- O absolutismo restringe o poder papal.
- O rei tinha para manutenção de seu
poder uma grande gama de funcionário.
- O rei era juiz supremo o que favorecia
seu poder.

 As guerras de religião e o fortalecimento do


estado francês
Sob a diversidade das instituições, podemos reconhecer princípios
comuns aos países da Cristandade ocidental. São todos regidos em
conformidade com os costumes políticos estreitamente adaptados aos
princípios cristãos e as concepções sociais. Tais costumes tornam
verdadeiras constituições consuetudinárias. Porem a unidade da
cristandade retrocedeu diante dos progressos das nações.
Como vimos anteriormente em todo Estado emergente havia uma
tensão entre os monarcas e o papado, esta em jogo o controle da igreja
dentro do território nacional. Na França Hugo Capeto, Conde de Paris,
assumiu, o trono francês em 987 iniciando o processo de centralização
do poder que levaria a submissão dos senhores feudais. Posteriormente
Luís IX combateu o particularismo feudal com a ampliação dos
poderes dos tribunais reais e instituindo uma moeda de circulação
nacional.
No entanto o maior conflito entre o Papado e a Monarquia francesa
ascendente ocorreu com Filipe IV (1268-1314), o Belo, filho de Filipe
III, o audaz, e de Isabel de Aragão, neto de Luis IX, Filipe IV, a
semelhança de outros reis absolutistas jamais separava autoridade
espiritual do poder temporal entrou em choque com a Igreja graças sua
216
política de fortalecimento da monarquia e para contornar a crise
econômica que seu reinado atravessava, inicialmente entrou em
conflito com a poderosa Ordem dos Templários sendo diretamente
responsável por sua Extinção e pela execução dos Grão-mestres da
Ordem decidiu ainda cobrar impostos ao clero e enfrentou, por isso,
forte oposição do papa Bonifácio VIII, que ameaçou excomungá-lo.
Buscou apoio na Assembléia dos Estados Gerais que autorizou a
cobrança dos impostos clericais.
Com a morte de Bonifácio VIII, Filipe IV, interferiu na escolha do
sucessor, influenciando os membros do Conclave de Pérouse, que
elegeram Clemente V (1305-1314) o novo papa pressionado pelo rei,
transferiu a sede do papado de Roma para a cidade francesa de
Avignon fato este que ficou conhecido como o Cisma do Ocidente ou
Cativeiro de Avignon (1307-1377), submissão de vários papas à tutela
dos reis franceses com a supremacia do poder real sobre o poder
espiritual. Nesse período, a Igreja chegou a ter três papas: um em
Avignon, outro em Roma e outro em Pisa. Conseqüências: oposição
teológica e esgotamento do poder temporal da Igreja. Em 1417 foi
eleito Martinho V que centralizou o poder da Igreja e Roma voltou a
ser a única sede do papado.
Com Francisco I (1515-1547) e Henrique II (1547-1559) produziu-
se uma mudança na forma de governar, sem modificação dos
princípios. Desse modo, o termo Majestade, reservado até aí para o
imperador dos romanos, foi dado ao rei da França. Assistiu-se a um
encolhimento da nação em redor do rei e a um reforço de funcionários
na administração real. A administração evoluiu no sentido da eficácia e
de uma relativa padronização. Com Francisco I, foi concluída a
Concordata de Bolonha, onde o Papa Leão X autorizou que os reis da
França indicassem pessoas de suas escolha para os altos cargos
eclesiásticos.
No entanto a reforma protestante desafiava a autoridade Real e
ameaçava a própria unidade a França. Com medo de que o
217
protestantismo enfraquecesse seu poder, Francisco I declarou a Fé e as
crenças protestantes ilegais. No entanto o numero de Protestantes
(Huguenotes) cresceu em na França. De 1562 a 1598, a França
conheceu várias ondas de guerras religiosas.
As grandes famílias aristocráticas, os Guise católicos e os Bourbon protestantes,
organizaram exércitos que devastaram o território francês , matando e aleijando seus
adversários religiosos e desmantelando a autoridade do governo central.
Em 1579, os intelectuais huguenotes extremados publicaram o
“Vinadiciae contra Tyrannos”, mais que um simples documento, um
protesto, um chamado ao combate , foi o primeiro manifesto no
começo da Idade Moderna que justificava a rebelião contra um rei
injusto, e mesmo sua execução. A era de supremacia real instituída por
Francisco I teve um fim súbito durante o reinado de seu sucessor,
Henrique II (1547-1559), Casado com Catarina de Médici, membro de
uma poderosa família de banqueiros italianos, Henrique e os filhos que
o sucederam, Francisco II (1559-1560), Carlos IX (1560-1574) e
Henrique III (1574-1589) — eram todos portadores de pouca
capacidade de liderança e governo. Graças a este vácuo de poder,
quem governava na França era Catarina de Médici, que em 1572
ordenou a execução de milhares de protestantes pelos soldados reais
em Paris — o infame massacre da Noite de São Bartolomeu, que se
tornou símbolo do abuso religioso.
As Guerras civis iniciadas em 1562 ganharam mais intensidade
depois da Noite de São Bartolomeu, arrastando-se até a morte do
último Rei Valois, em 1589. O fato de Henrique III, não ter um
herdeiro masculino para o trono colocou outro Henrique, o duque de
Bourbon, na linha de sucessão francesa. Henrique de Bourbon era
protestante porem entendendo que a a grande maioria da população
católica não aceitaria um rei protestante, Henrique renunciou à religião
que adotara e abraçou o catolicismo, sua famosa frase ao se converter
ao Catolicismo Romano foi: Paris Bem Vale Uma Missa. Durante o

218
século XVII, os reis franceses procuraram enfraquecer as bases de
poder dos protestantes.

 A consolidação do poder monárquico na


França e na Inglaterra

Bourbons na França

A ruína do protestantismo na luta pelo poder na França, facilitou o


caminho para a consolidação do Estado francês, no século XVII, sob os
reis Bourbon, Luís XIII e Luís XIV. O rei Luís XIII (1610-1643)
compreendeu que seu reinado necessitava de uma burocracia eficiente
e incorruptível, de um tesouro farto e de uma constante e eficiente
cobrança de impostos assim como de uma vigilância inflexível contra
as aspirações ao poder, por parte da aristocracia e das cidades ainda
em mão dos protestantes. O cardeal Richelieu, que serviu como
primeiro-ministro de Luís XIII de 1624 a 1642, o edificador do
absolutismo francês.
A ética de Richelieu baseava-se num princípio sagrado, que tudo
justificava na expressão por ele criada: razão de Estado. Richelieu
submeteu ao controle do rei os elementos que poderiam se opor ao
poder absoluto do soberano. Aumentou o poder central, atacou o poder
das cidades independentes e perseguiu os protestantes. Acima de tudo,
diminuiu o poder dos grandes nobres limitando seus poderesd e
proibindo seus privilégios tradicionais, (como duelar em vez de
recorrer aos tribunais para solucionar disputas). A razão de Estado
também orientou a política externa de Richelieu. Apoiando os
protestantes do Santo Império Romano Germânico contra a Espanha
Católica, que no seu entender era inimiga da França também católica.

219
A adesão da França na Guerra dos Trinta Anos fortaleceu
categoricamente o poderio francês no continente.
Richelieu morreu em 1642, e Luís XIII no ano seguinte. O cardeal
Mazarin, que chefiou o governo durante a menoridade de Luís XIV
(este tinha cinco anos quando Luís XIII morreu), continuou as políticas
de Richelieu.
Com a morte do cardeal Mazarin, Luís XIV, “O Rei Sol”, finalmente assumiu o
governo, em 1661. Durante seu reinado ele conseguiu o maior grau de poder
absolutista obtido na Idade Moderna, suas idéias podem ser resumidas na frase
“L’État c’est moi”, o Estado sou Eu. Na verdade, nenhum monarca absoluto na
Europa ocidental, antes ou depois dele teve tanta autoridade pessoal ou comandou um
grupo administrativo tão eficiente, promoveu a ascensão da burguesia, e recrutando
burgueses entre seus ministros a exemplo de Colbert, promotor da política de
industrialização. O reinado de Luís XIV representa a culminação do processo de
ascenção da autoridade monárquica. Inteligente, astuto e dedicava muitas horas a
construção de sua grandeza pessoal. O majestoso palácio de Versalhes foi
arquitetado com este fim, mostrar ao mundo o poder do Rei Sol.

Tudor na Inglaterra

O reino da Inglaterra compreendia a Inglaterra e o País de Gales,


aos quais se ligava, a Irlanda. A Escócia era um reino independente.
Sob Henrique VII (1485-1509) chegou ao trono os Tudor, ele
ascendeu ao poder por meio da vitória militar na guerra civil. A
intenção de Henrique era subjugar a nobreza, como todo rei absolutista.
Com essa finalidade, atraiu os comuns, (assim que os ingleses
chamavam quem não era nobre, aqui no caso os burgueses), a
participarem do governo; estes ansiavam por aquilo que o rei tinha a
oferecer: remuneração financeira e ascensão social. Embora não
tenham deixado de lado totalmente a nobreza, os comuns, ou plebeus,
foram levados a participar do círculo de influencia real, do Conselho
220
Privado, e dos tribunais. A eficiência do governo Tudor evidenciou-se
durante a Reforma anglicana, quando Henrique VIII (1509-1547)
colocou-se na chefia da Igreja inglesa, afastando o poder da Igreja de
Roma e administrando os bens eclesiásticos na Inglaterra.
A Reforma na Inglaterra foi uma reforma de governo. Atacou e
venceu um importante empecilho à autoridade monárquica: o poder do
papado. Porem uma mudança na prática religiosa teria que ter o apoio
do Parlamento, este teve maior poder e importância com os Tudor.
Com a morte de Henrique VIII, subiu ao governo resistiu o filho
Henrique, o doentio Eduardo VI (1547-1553), junto com ele
protestantismo radical de alguns de seus conselheiros; as reformas
iniciadas por Henrique VIII, tiveram um retrocesso no agitado reinado
de Maria (1553-1558), primeira filha de Henrique, que tentou restaurar
ao catolicismo.
A segunda filha de Henrique, Elisabete I, tornou-se rainha em
1558 no lugar da irmã e reinou até 1603, quando faleceu. No seu
governo pode-se dizer que foi forjado um senso de identidade nacional.
A Reforma Anglicana fortaleceu esse sentimento nacional, fortalecido
ainda mais com a guerra que Elisabete travava com a Espanha,
principalmente apos a derrota da Armada espanhola, (A Invencível
Armada) em 1588. O Anglicanismo desempenhou um papel principal
nesta luta de interesses políticos. Muitos membros da aristocracia
apegaram-se ao anglicanismo.

221
Capitulo 3- Mercantilismo

Introdução

O papes da riqueza como meio de poder não deixava de ser uma evidencia
para os governantes europeus no começo da idade média. O dinheiro permitia
levantar e manter exércitos, financiar guerras, sustentar a burocracia estatal, em
resumo custear ambiciosos programas de governo. Não é de se estranhar, portanto a
constante interferência na economia dos governantes do Estado Nacional Moderno, a
interferência na economia resultava n interferência do comércio. A pratica econômica
desta época resulta de uma série de conceitos que se conhece como o Nome de
Mercantilismo. Classicamente, o mercantilismo é a política econômica do
Absolutismo. Com uma doutrina feita mais basicamente de observações, o
Mercantilismo se organizava e se reforçava na medida em que crescia a possibilidade
de atuação do Estado Moderno. Ele caracteriza o período da Revolução Comercial
(Séculos XVI – XVIII) marcados como já Vimos pela desintegração do feudalismo e
pela formação do Estado Nacional moderno. O mercantilismo é chamado também de
Capitalismo mercantil.
(imagem de um porto na época moderna)

222
Os Portos passaram na época do
mercantilismo a ter uma nova
dinâmica.

A dinâmica do mercantilismo

223
Muito bem sentinela, você esta me ajudando. Então vamos definir o
conceito de mercantilismo, leia o quadro abaixo.

Mercantilismo: é a Política e Prática econômica do Absolutismo

Sentinela o mercantilismo tem um conjunto de idéias que


formam o corpo de sua doutrina. Não constitui propriamente uma
escola econômica sistemática de pensamento econômico, mais se trata
de um conjunto de práticas de definidas por caracteres comuns, são
elas:

224
(elaborar esquema dentro destes moldes)

Estado nacional moderno


Séculos XV, XVI e XVII.

Mercantilismo

Balança Comercial Protecionismo:


Favorável: relação adoção de um
entre importação e sistema de tarifas
exportação de um alfandegárias e
país. Deve-se cotas para restringir
exportar mais do que o fluxo de 225
importar. importações.
Colonialismo: Metalismo: Industrialismo:
Possuir colônias para Sistema monetárioconjunto
que de atividades
que se estabelece uma tem como moeda-apoiadas pelo estado
relação comercial padrão algum metal de visão transformar
conhecida como Pacto precioso (ouro ou matéria-prima em
Colonial. prata). Segundo a bens de consumo.
mentalidade
econômica da época
teníase a julgar a
riqueza com a posse de
TIPOS DE
metais preciosos.
MERCANTILISMOS
( quanto mais ouro
tenho mais rico sou)
O incentivo à economia nacional e a defesa dos interesses próprios
existem em todos os sistemas mercantilistas, os estados pretendiam
promover o crescimento material dos seus súditos como base de
sustentação de seu próprio poder (mais dinheiro, mais imposto). Trata-
se como já vimos de uma política econômica protecionista e
intervencionista, pois estendia a ação do poder político mediante leis de
proibições no comercio nacional, visando conseguir meios para o
desenvolvimento nacional.

A desenvolvimento econômico nacionalista que sobre existe em todos


os paises mercantilistas do século XV e XVI. Levaram a construção de

226
várias práticas mercantilistas, mas, basicamente, eles estavam ligados
às riquezas que cada nação poderia extrair de suas colônias.

Tipo: Conceito:
Bulionista ou Caracterizado pela idéia de que quanto mais
Metalismo quantidade de metais preciosos tiver uns pais
( Espanha) mais rico ele será, característica do
mercantilismo espanhol,
Comercial O comércio foi considerado pelos Holandeses e
(Portugal, até 1580, pelos portugueses a forma mais efetiva de
e Holanda) promover a riqueza da nação. As políticas
econômicas mercantilista eram com guia, neste
processo de garantir uma balança favorável de
pagamentos para a economia nacional por meio
da promulgação de medidas legais de caráter
protecionista. As leis aduaneiras fizeram um
papel importante para adquirir este objetivo.
Industrialista O Estado inglês pretendeu implementar a
(Inglaterra) indústria privada vigorosamente como o
objetivo de estimular o desenvolvimento das
fábricas nacionais. O desenvolvimento da
indústria não dependeu exclusivamente, porém,
da difusão da fábrica rural para casa. O
protecionismo industrial representou outro fator
importante. Para isto era fundamental para
impedir a importação volumosa de
227
manufaturas, para fomentar a produção
nacional. No caso Inglês da industria de lã. O
sucesso desta política dependia não só do
trabalho o empregado rural na produção de lã,
mas também da barateza da lã inglesa e
irlandesa que saturou o mercado.
Cameralista Representava um anplo sistema de
(Alemanha e administração pública e organização dos
Austria) negócios financeiros do estado. Defendiam o
aumento populacional como forma de
incrementar o produto nacional e instimulavam
o mercado interno mediante o incentivo ao
consumo de produtos locais. Para eles a ação
do governo dentro desta ótica era a mais
importante elemento de riqueza de uma nação.
Colbertista (França) Nome dado à política mercantilista da França
durante o período em que Jean-Batiste Colbert
(1619-1683), foi ministro das finanças de Luis
XVI. Pregava uma taxa sobre os lucros visando
o enriquecimento do tesouro nacional, e
incentivava a industria de bens de Luxo, para
equilibrar a balança comercial. (o Colbertismo
é um industrialismo especializado, em bens
de luxo)

228
Isto mesmo sentinela, o espanhol Pedro de Valencia também escreveu em 1608:
“O dano veio de ter muita prata e muito dinheiro que é e sempre foi (...) o veneno
que destrói as Repúblicas e as cidades. O pensam que o dinheiro os mantém e não
é deste modo: as propriedades figuradas e os gados e pescas são esses que dão
amparo”. La época mercantilista. Eli F. Heckesher. Fundo de cultura
econômico ed. México. 1980.

Pacto colonial

PACTO COLONIAL: Conjunto de relações


econômicas e políticas que subordinavam a colônia
à metrópole. No plano político, a dominação era
exercida por meio da presença de autoridades civis
nomeadas pela presença de autoridades da
metrópole e cujo desempenho era assegurado pela
ocupação militar. No campo econômico, o Pacto
colonial significava uma série de obrigações de
compra e venda da colônia com a metrópole, sendo
os mecanismos desse comércio controlados de
forma monopolistas pelas companhias de comércio,
formadas por capitais privados em associação com
o estado
O colonialismo, razãoouda formação
totalmentedocontroladas porrepresenta
Pacto colonial, este.
outras das características principais das políticas de mercantilista.O
pensamento e as políticas mercantilistas tinham como guia o
favorecimento do crescimento de populacional e a emigração de
elementos produtivos para as colônias, dinamizando o comércio
Metrópole – colônia, ao criar nas colônias um mercado produtor de
matérias-primas e também consumidor de manufaturas. O comércio
inicialmente vantajoso alcançou suas maiores possibilidades por meio

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do controle efetivo das áreas coloniais. Pacto colonial era, na verdade,
a forma com que as metrópoles dominavam suas colônias. As colônias
só poderiam fazer comércio com a metrópole. A colônia fornecia
produtos tropicais e matéria-prima para a metrópole e esta vendia
manufaturas à colônia. Plantation, plantação em inglês, é o termo que
se convencionou chamar as grandes fazendas com atividades
monoculturas nas colônias de exploração.

A subordinação econômica de áreas eternas da Europa (extra-


europeas) colonial constituíram uma condição do desenvolvimento
capitalista da economia ocidental. O conflito dos poderes para o
controle de colônias fundamentalmente é explicado por razões de tipo
econômico-mercantil. A rivalidade dos países pelos interesses
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mercantis deu lugar ao aparecimento de um fenômeno relativamente
novo no século XVI: as guerras econômicas.

Colônias de exploração: A colonização neste tipo


estava, como não poderia deixar de ser, dentro dos
moldes sistema mercantilista mundial. A economia,
graças ao Pacto Colonial, era transformada em uma
economia periférica, cuja função era gerar riquezas para
a metrópole. Por isso, algumas colônias de exploração
possuíam uma política de produto único. Exemplo
(Argentina, Brasil, Cuba, Haiti, Suriname etc.).

Colônias de Povoamento: geralmente organizadas por


perseguidos religiosos, ou políticos. Eles não pretendiam
voltar para a metrópole, e organizaram estruturas que
facilitariam sua vida no novo mundo.
Exemplos ( 13 colônias inglesas, principalmente as do sul
no atual EUA, Colônias Huguenotes na américa: França
Antártica )

(fazer um esquema dentro destas informações)

Modelo de Pacto Colonialcolonias de Exploração metrópole

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manufaturas

matérias primas

Colonia
Matéria prima (fumo-Cachaça)

Escravos
África
A escravidão que nunca tinha sido definitivamente
extinta na Idade média, mas reduzida a alguns prisioneiro
de guerra, será efetivamente e durante a revolução comercial e na
época mercantilista, a escravidão assume um aspecto racial até então
não existente, por interesse econômico famílias e tribos inteiras foram
escravizadas, esta assunto se aprofundara nos capítulos posteriores.

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