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Instituto Politécnico de Leiria

Escola Superior de Tecnologia e Gestão

Apontamentos Teóricos

de
Matemática Geral

Luís Cotrim
Miguel Felgueiras
Pedro Matos

Departamento de Matemática
2009
Índice

Capítulo I. Lógica 1
1. Designações e proposições 1
2. Expressões designatórias e condições. 3
2.1. Expressões designatórias 3
2.2. Condições 3
2.3. Classificação de uma condição num dado universo 4
2.3.1. Condições impossíveis 5
2.3.2. Condições possíveis 5
2.3.3. Conjunto solução de uma condição numa variável 6
2.4. Equivalência de expressões com variáveis 7
2.4.1. Equivalência de expressões designatórias 7
2.5. Equivalência de condições 8
3. Operações entre condições e entre conjuntos 8
3.1. Disjunção de condições e reunião de conjuntos 8
3.2. Conjunção de condições e intersecção de conjuntos 11
3.3. Negação e complementação 14
4. Quantificadores e implicação formal 16
4.1. Quantificadores 16
4.2. Implicação 18
4.3. A equivalência como dupla implicação. 21

Capítulo II. Cálculo algébrico 23


1. Expressões algébricas. Polinómios. 23
1.1. Definições 23
iii
iv ÍNDICE

1.2. Operações com polinómios. 23


1.2.1. Adição e subtração 23
1.2.2. Multiplicação 26
1.2.3. Divisão. Regra de Ruffini. 30
1.3. Teorema do resto 34
1.4. Zero de um polinómio 35
1.5. Decomposição de um polinómio em factores 35
1.6. Método dos coeficientes indeterminados 38
2. Fracções algébricas 39
2.1. Simplificação 39
2.2. Outras operações 41
3. Equações 42
3.1. Equações fraccionárias 44
3.2. Equações irracionais 46
4. Inequações fraccionárias 49

Capítulo III. Somatórios 51


1. Definição 51
2. Propriedades 53

Capítulo IV. Generalidades sobre funções. 59


1. Aplicações entre conjuntos. 59
2. Funções reais de uma variável real. Domínios. 60
3. Gráfico de uma função. 61
4. Funções definidas por diferentes expressões analíticas 63
5. Função Módulo. 64
6. Classificação de funções reais de variável real. 65
6.1. Funções sobrejectivas. 65
6.2. Funções injectivas. 66
6.3. Funções bijectivas. 67
ÍNDICE v

6.4. Funções pares e funções ímpares. 67


6.5. Funções periódicas. 67
7. Monotonia. Funções limitadas. 68
7.1. Funções monótonas 68
7.2. Funções limitadas 69
8. Zeros de uma função 69
9. Operações com funções 71
9.1. Soma 71
9.2. Diferença 72
9.3. Produto 72
9.3.1. Produto de um escalar por uma função 73
9.4. Quociente 73
9.5. Composição de funções 75
10. A função identidade e função inversa 77
10.1. Função identidade 77
10.2. Função inversa 77
11. Funções polinomiais 78
11.1. Função afim 79
11.2. Função quadrática 82
11.3. Inequações do 2.o grau 90
12. Limites de funções reais de variável real. 92
12.1. Noções topológicas 92
12.2. Definição de limite de uma função 95
12.3. Extensão da noção de limite 97
12.4. Limites laterais 101
12.5. Propriedades dos limites de funções 104
12.6. Indeterminações 109
12.6.1. Indeterminações quando x tende para a (finito) 109
12.6.2. Indeterminações quando x tende para +∞ ou −∞. 111
vi ÍNDICE

13. Continuidade de funções reais de variável real. 114


13.1. Função contínua e função descontínua num ponto 114
13.2. Propriedades das funções contínuas num ponto 120
13.3. Continuidade num intervalo 120
13.4. Continuidade da função composta 123

Capítulo V. Funções transcendentes. 125


1. Função exponencial e função logarítmica 125
1.1. Função exponencial 125
1.1.1. A função exponencial de base e (número de Neper) 129
1.2. Função logarítmica 129

Capítulo VI. Trigonometria 137


1. Razões trigonométricas de ângulos agudos 137
1.1. Fórmula fundamental da trigonometria 138
1.2. Relação entre o seno, o co-seno, a tangente e co-tangente de um mesmo
ângulo 139
2. Ângulos orientados. Medidas de ângulos 140
2.1. Ângulo orientado 140
2.2. Ângulo num referêncial 140
2.3. Generalização da noção de ângulo 142
2.4. O radiano 142
2.5. Sistema sexagesimal e sistema circular 143
3. Generalização das razões trigonométricas 144
3.1. Definições 144
3.2. Linhas trigonométricas 145
3.3. Enquadramento das razões trigonométricas 146
3.4. Sinal das razões trigonométricas 147
3.5. Razões trigonométricas de 0o , 90o , 80o e 270o 147
π π π
3.6. Razões trigonométricas de , e 147
6 4 3
ÍNDICE vii

4. Redução ao 1.o quadrante 148


4.1. Ângulos do 2.o quadrante 148
4.2. Ângulos do 3.o quadrante 149
4.3. Ângulos do 4.o quadrante 149
4.4. Ângulos complementares 150
4.5. Relação entre as razões trigonométricas de α com 90o + α; 270o − α;
270o + α. 151
5. Equações trigonométricas 151
5.1. Equações do tipo sin x = p 151
5.2. Equações do tipo cos x = p 153
5.3. Equações do tipo tan x = p e cot x = p 155
6. Funções circulares directas 156
6.1. Função seno 156
6.2. Função co-seno 158
6.3. Função tangente 160
6.4. Função co-tangente 162

Capítulo VII. Cálculo diferencial em R 163


1. Recta tangente a uma curva num dos seus pontos. 163
2. Derivada de uma função num ponto; derivadas laterais. 164
3. Derivabilidade e continuidade 169
4. Função derivada 171
5. Regras de derivação 172
6. Derivadas das funções circulares 181
7. Derivada da função exponencial e função logarítmica 185
8. Derivadas sucessivas 188
9. Regra de Cauchy 189
10. Sentido de variação de uma função 190
11. Extremos relativos 192
11.1. Determinação dos extremos 194
viii ÍNDICE

Bibliografia 199
CAPÍTULO I

Lógica

1. Designações e proposições

Designações, nomes ou termos são expressões que representam seres existentes.

Exemplo 1.1.
Portugal; carteira; 10; 5 + 2; {1, 2, 3}.

Proposições são expressões acerca das quais faz sentido dizer se são verdadeiras ou
falsas.

Exemplo 1.2.
Portugal é um país da Europa; 3 + 2 = 5; 2 + 3 × 4 = 20.

Exercício 1.1.
Distinga, nas expressões seguintes, as designações das proposições:
(1) 6 + 24;
(2) 6 + 24 = 30;

(3) 7;

(4) 7 > 7;
(5) {1, 2, 3} ;
(6) 4 ∈
/ {1, 2, 3} ;
(7) m.d.c. (8, 12) ;
(8) m.d.c. (8, 12) = 4.

• Duas designações dizem-se equivalentes ou sinónimas se representam o mesmo


ser.
• Se duas designações são equivalentes escreve-se entre elas o sinal =.
1
2 I. LÓGICA

Exemplo 1.3.
4 + 5 = 6 + 3 pois 4 + 5 e 6 + 3 representam o mesmo número.

Duas proposições dizem-se equivalentes se são ambas verdadeiras ou ambas falsas.

Exemplo 1.4.
Considere os seguintes pares de proposições equivalentes:

1
(1) 4 + 10 : 2 = 7 é equivalente a 5 + 2
= 3 (são ambas proposições falsas) ;
(2) 3 ∈ N é equivalente a 2 + 2 = 4 (são ambas proposições verdadeiras) .

Exercício 1.2.
Considere as designações seguintes:

• 22 + 32 • |5 − 52 | • m.m.c. (2, 4, 5)

¡√ √ ¢2
• (2−2 + 3−2 ) × 6−2 • m.d.c. (13, 52) • 5 − 45

(1) Calcule o número designado por cada uma delas.


(2) Haverá designações equivalentes? Quais?

Exercício 1.3.
Sejam p, q, r, s, t e u as proposições seguintes:

p: a adição de números naturais tem elemento neutro;


q: a subtracção é comutativa em R;
r: a multiplicação é distributiva em relação à adição;
s : 0 : 5 = 0;
t: 5 : 1 = 5;
u: 8 : 4 = 4 : 8.

(1) Indique, justificando, as que são equivalentes.


(2) Modifique as que são falsas de modo a que sejam verdadeiras.
2. EXPRESSÕES DESIGNATÓRIAS E CONDIÇÕES. 3

2. Expressões designatórias e condições.

Seja A um conjunto qualquer.


• Constante é um símbolo que representa um e um só elemento de A.
• Variável é um símbolo representativo de qualquer dos elementos de A.
• Ao conjunto A chama-se domínio da variável.

Exemplo 2.1.
Na fórmula que dá o perímetro de uma circunferência

2πr (em R) ,

as constantes são 2 e π e a variável é r.

2.1. Expressões designatórias.


• Expressão designatória é uma expressão com variáveis que se transforma numa
designação quando as variáveis são substituídas por constantes (do domínio
das variáveis).

• Domínio da expressão designatória é o conjunto dos valores da variável para


as quais a expressão tem significado num dado universo.

Exemplo 2.2.

(1) São expressões designatórias de uma variável, em R :


(a) x3 + 3 (de domínio R) ;
(b) x2 + 2x + 1 (de domínio R) ;

(c) x − 3 (de domínio [3, +∞[) .

(2) A expressão x2 + 2xy + y 2 é uma expressão designatória de duas variáveis,


sendo o seu domínio o conjunto dos pares (x, y) com x ∈ R e y ∈ R.

2.2. Condições.
Uma condição é uma expressão com variáveis que se transforma numa proposição
quando as variáveis são substituídas por constantes do seu domínio.
4 I. LÓGICA

Exemplo 2.3.
(1) As equações, as inequações, os sistemas de equações e os sistemas de in-
equações são exemplos de condições. Com efeito, 3x−6 = 0 é uma condição na
variável x, visto que se transforma numa proposição sempre que x é substituído
por um número real. Por exemplo:

(a) x = 5 transforma-se em 3 × 5 − 6 = 0, que é uma proposição falsa .


(b) x = 2 transforma-se em 3 × 2 − 6 = 0, que é uma proposição verdadeira.

(2) Também são condições expressões do tipo

x + 1 6= 3 ; x ∈ {1, 2, 3} .

Exercício 2.1.
Entre as expressões seguintes, indique as que são expressões designatórias e as que são
condições.
(1) 3x + 4 = 0;
(2) o dobro de x;
(3) |x − 2| < 3;
(4) 5x + 3;
(5) |x − 2| − 3;
(6) x2 − 3x + 2;
(7) x − 2 > 0;
(8) a soma do dobro de x com a sua metade.

2.3. Classificação de uma condição num dado universo.


Consideremos no universo dos números reais a condição 2x + 3 > 4.
Se concretizarmos a variável fazendo x = 1 obtemos uma proposição verdadeira

2 × 1 + 3 > 4.

Diz-se então que 1 é uma solução da condição. Já o número 0 não é solução da condição,
visto que
2 × 0 + 3 > 4,
2. EXPRESSÕES DESIGNATÓRIAS E CONDIÇÕES. 5

é uma proposição falsa.


2.3.1. Condições impossíveis.
Uma condição diz-se impossível num dado universo, se para todas as concretizações
das variáveis se transforma numa proposição falsa.
Assim, a condição 2x + 3 > 4 é impossível no universo {−2, −1, 0} .

Exercício 2.2.
Justifique que, nos universos considerados, são impossíveis as condições:
(1) x2 + 1 = 0, em R;
(2) x + 1 = 0, em N0 ;
(3) x2 + 4x = 0, em N;
(4) |x| − 1 = −2, em R;
(5) |2x + 3| + 1 < 0, em R;
(6) x > x + 1, em R.

2.3.2. Condições possíveis.


Uma condição diz-se possível num determinado universo se não for impossível.

Exemplo 2.4.

(1) São possíveis, em R, as condições x2 + 1 > 0 e x2 − 1 = 0.


(2) A condição x2 + 1 > 0 é possível e universal, pois origina proposições ver-
dadeiras para qualquer concretização da variável (todos os números reais a
verificam).
(3) A condição x2 − 1 = 0 é possível mas não universal. Enquanto x = 1 é solução
da equação pois 12 − 1 = 0 é uma proposição verdadeira, x = 2 não é solução
da equação uma vez que 22 − 1 = 0 é uma proposição falsa.

Exercício 2.3.
Justifique que, nos universos considerados, são universais as condições:
(1) 2x > 1, em N;
(2) x2 − 2x = 0, em {0, 2} ;
6 I. LÓGICA

(3) −x2 − 1 ≤ 0, em Z.

Exercício 2.4.
Dada a condição x + 1 > 3 indique um universo em que a condição seja:

(1) impossível;
(2) universal;
(3) possível mas não universal.

Exercício 2.5.
Classifique, em N e em R, cada uma das seguintes condições:

(1) x2 > 0;
(2) x2 + y 2 ≤ 0;
(3) |x| + 1 > 0;
(4) |x + 1| + 3 = 0;
(5) x2 − x + 5 = 0;
(6) x2 + 3x = 0;
(7) (x + 1)2 > 0;
(8) (x + 1)2 > 0;
(9) (x + 1)3 < 0;
(10) x2 + 4 6= 0;
(11) − (x + 2)2 < 0;

|x + 3|
(12) > 0.
5

2.3.3. Conjunto solução de uma condição numa variável.

Chama-se conjunto solução de uma condição p(x), num dado universo, ao conjunto
dos valores do universo que são soluções da condição, isto é, os valores que a transfor-
mam numa proposição verdadeira.
2. EXPRESSÕES DESIGNATÓRIAS E CONDIÇÕES. 7

Exemplo 2.5.
Tem-se como exemplos:
(1) Em N, o conjunto de solução da condição |x − 2| < 3 é {1, 2, 3, 4} .
£ £
(2) Em R, o conjunto de solução da condição 3x − 4 > 0 é 43 , +∞ .

Evidentemente uma condição universal tem por conjunto solução o universo, en-
quanto que o conjunto solução de uma condição impossível é o conjunto vazio.

Exemplo 2.6.
Como, em R, a condição x2 + 1 > 0 é universal, o seu conjunto solução é R.

Exemplo 2.7.
Em N, a condição 2x − 3 = 0 é impossível pelo que o seu conjunto solução é

{x ∈ N : 2x − 3 = 0} = ∅.

2.4. Equivalência de expressões com variáveis.


2.4.1. Equivalência de expressões designatórias.
Duas expressões designatórias, nas mesmas variáveis, dizem-se equivalentes num dado
universo, quando se transformam em designações equivalentes, em toda a concretização
das variáveis.
Para exprimir que duas expressões designatórias são equivalentes, escreve-se entre
elas o sinal = (“é sempre igual a”) .

Exemplo 2.8.
Em R, temos por exemplo:

(1) (a + b)2 = a2 + 2ab + b2 ;


(2) x2 − 3x = x(x − 3).

Exercício 2.6.
Mostre que, em R, são equivalentes as seguintes expressões designatórias:
(1) (x − 2)2 − 3 (x − 1) (x + 5) e 19 − 16x − 2x2 ;
8 I. LÓGICA

(2) 2 (x − y)2 − 2 (x − y) (x + y) e 4y 2 − 4xy.

Exercício 2.7.
Mostre que, em R,

(1) x e x2 não são equivalentes;
q
(2) (x2 + 1)2 e x2 + 1 são equivalentes.

2.5. Equivalência de condições.


Duas condições, nas mesmas variáveis, dizem-se equivalentes, num dado universo,
quando se transformam em proposições equivalentes em toda a concretização das va-
riáveis.
Resulta então do que se disse anteriormente, que duas condições são equivalentes
num dado universo se tiverem o mesmo conjunto solução.
Para exprimir que duas condições são equivalentes, escreve-se entre elas o sinal ⇐⇒.

Exercício 2.8.
Mostre que as seguintes expressões são equivalentes e una-as com o sinal conveniente.

(1) 3x2 − 6x + 2 = 0 e x2 + x = 0, em N;
(2) (x + 3)2 − 3 (x + 1)2 + 4 (x − 1) (x + 1) e 2x2 + 1, em R;
(3) (2x − 3) (x − 1)2 − x2 (2x − 7) e 8x − 3, em R;
(4) 4 − 2x < −3 e |2x| > 7, em R+ ;
(5) |x − 1| = 3 e x2 − 2x − 8 = 0, em R;
(6) 3 (x − y)2 (x + y) − 3 (x + y)2 (x − y) e 6y 3 − 6x2 y, em R.

3. Operações entre condições e entre conjuntos

3.1. Disjunção de condições e reunião de conjuntos.


Chama-se disjunção de duas condições, p(x) e q(x), à condição p(x) ∨ q(x) (“p(x) ou q(x)”) ,
que é verificada pelos valores que são soluções de pelo menos uma das condições.
Se designarmos por P e Q o conjunto de solução de p(x) e q(x) respectivamente,
então o conjunto solução da condição p(x) ∨ q(x) é a reunião P ∪ Q.
3. OPERAÇÕES ENTRE CONDIÇÕES E ENTRE CONJUNTOS 9

Exemplo 3.1.
Em R, a disjunção das condições x > 2 e x > 7 é a condição

x > 2 ∨ x > 7,

cujo conjunto solução é


]2, +∞[ ∪ ]7, +∞[ = ]2, +∞[ .

Exemplo 3.2.
Em R, a disjunção das condições x ≤ 0 e x > 2 é a condição

x ≤ 0 ∨ x > 2,

cujo conjunto solução é


]−∞, 0] ∪ [2, +∞[ .

Exemplo 3.3.
Em R, a disjunção das condições x > 2 e x ≤ 3 é a condição

x > 2 ∨ x ≤ 3,

cujo conjunto solução é

]2, +∞[ ∪ ]−∞, 3] = ]−∞, +∞[ = R.

Exercício 3.1.
Determine, em R, o conjunto solução de cada uma das condições seguintes, utilizando
intervalos de números reais, sempre que possível:

(1) x > 2 ∨ x > 3;


(2) x < 1 ∨ x > 0;
(3) 8 − 2x < 0 ∨ x − 1 < 0;
(4) 2x > x ∨ |x| < 3;
(5) |x − 1| > 2 ∨ x2 − 3x = 0;
(6) |x| > x ∨ x > 5.
10 I. LÓGICA

Exercício 3.2.
Defina, em extensão, cada um dos seguintes conjuntos:
(1) A = {x ∈ N : 3x − 2 = 16 ∨ 12 − 2x = 0} ;
(2) B = {x ∈ N : |x| ≤ 3 ∨ |x| + 2 < 0} ;
(3) C = {x ∈ N : x2 − 7x + 12 = 0 ∨ |x| − 2 < 0} ;
(4) A ∪ B ∪ C.

Propriedades da disjunção de condições e da reunião de conjuntos

(1) Propriedade comutativa


(a) Condições: p(x) ∨ q(x) ⇐⇒ q(x) ∨ p(x)
(b) Conjuntos: P ∪ Q = Q ∪ P
(2) Propriedade associativa
(a) Condições: [p(x) ∨ q(x)] ∨ r(x) ⇐⇒ p(x) ∨ [q(x) ∨ r(x)]
(b) Conjuntos: (P ∪ Q) ∪ R = P ∪ (Q ∪ R)
(3) Idempotência
(a) Condições: p(x) ∨ p(x) ⇐⇒ p(x)

(b) Conjuntos: P ∪ P = P

(4) A disjunção de uma condição qualquer p(x) com uma condição universal u(x)
é equivalente a uma condição universal. Em termos de conjuntos, a reunião de
um conjunto qualquer P com o universo U é igual ao universo.Tem-se assim:

p(x) ∨ u(x) ⇐⇒ u(x)


P ∪U = U

(5) A disjunção de uma condição qualquer p(x) com uma condição impossível
i(x) é equivalente à primeira condição. Em termos de conjuntos, a reunião de
um conjunto qualquer P com o conjunto vazio é igual ao primeiro conjunto.
Tem-se assim:
p(x) ∨ i(x) ⇐⇒ p(x)
P ∪∅ = P
3. OPERAÇÕES ENTRE CONDIÇÕES E ENTRE CONJUNTOS 11

Exemplo 3.4.
Considere as seguintes condições e conjuntos

(1) x2 > 0 ∨ x > 3 ⇐⇒ x2 > 0 (Em R)


R∪ ]3, +∞[ = R
(2) x + 1 > x ∨ |x| < 0 ⇐⇒ x + 1 > x (Em R)
R∪∅=R
(3) x + 3 < 0 ∨ x + 1 < x ⇐⇒ x + 3 < 0 (Em R)
]−∞, 3[ ∪ ∅ = ]−∞, 3[ .

Exercício 3.3.
Simplifique as seguintes disjunções de condições:

(1) x2 < −1 ∨ x > 5;


(2) |x| + 2 > 0 ∨ x − 3 > 0;
(3) x2 + x + 3 = 0 ∨ x + 1 = x;
(4) x2 + 2 6= 0 ∨ |x − 1| + 1 = 0.

3.2. Conjunção de condições e intersecção de conjuntos.


Chama-se conjunção de duas condições, p(x) e q(x), à condição p(x) ∧ q(x) (“p(x) e
q(x)”), que é verificada pelos elementos que são solução de ambas as condições.
Se designarmos por P e Q o conjunto solução de p(x) e q(x), respectivamente, então
o conjunto solução da condição p(x) ∧ q(x) é P ∩ Q.

Exemplo 3.5.
Em R, temos por exemplo:

(1) A conjunção das condições x > 10 e x ∈ {5, 30} , é a condição

x > 10 ∧ x ∈ {5, 30} ,

cujo conjunto de solução é

[10, +∞[ ∩ {5, 30} = {5, 30} .


12 I. LÓGICA

(2) A conjunção das condições x > 1 e x ≤ 3, é a condição

x > 1 ∧ x ≤ 3,

cujo conjunto de solução é

[1, 3] .

Exercício 3.4.
Determine, em R, o conjunto solução de cada uma das condições seguintes, utilizando
intervalos de números reais sempre que possível:

(1) x > 2 ∧ x ≤ 3;
(2) x > 1 ∧ x ≤ −1;
(3) x > −1 ∧ x > 1;
(4) |x| ≤ 2 ∧ 3x + 1 > 0;
x−3
(5) + x ≤ 0 ∧ |x + 1| > 2;
2
(6) x2 − 9 6= 0 ∧ x + 1 > x;
x
(7) x > ∧ x > 3x − 4 ∧ x2 + 1 6= 0;
2
(8) |x + 1| = 0 ∨ (|x + 1| + 3 = 0 ∧ |x + 1| > 0) .

Exercício 3.5.
Considere os conjuntos:

P = {x ∈ R : x2 − 9 6= 0 ∧ 1 − 2x < 5} ;
Q = {x ∈ R : |x + 2| < 3} ;
R = {x ∈ R : x + 1 > 0} .

Determine sob a forma de intervalos de números reais os conjuntos:

(1) P, Q e R;
(2) P ∩ Q, Q ∩ R e P ∩ Q ∩ R;
(3) (P ∩ Q) ∪ R e P ∩ (Q ∪ R) .
3. OPERAÇÕES ENTRE CONDIÇÕES E ENTRE CONJUNTOS 13

Propriedades da conjunção de condições e da intersecção de conjuntos

(1) Propriedade comutativa


(a) Condições: p(x) ∧ q(x) ⇐⇒ q(x) ∧ p(x)
(b) Conjuntos: P ∩ Q = Q ∩ P
(2) Propriedade associativa
(a) Condições: [p(x) ∧ q(x)] ∧ r(x) ⇐⇒ p(x) ∧ [q(x) ∧ r(x)]
(b) Conjuntos: (P ∩ Q) ∩ R = P ∩ (Q ∩ R)
(3) Idempotência
(a) Condições: p(x) ∧ p(x) ⇐⇒ p(x)
(b) Conjuntos: P ∩ P = P
(4) A conjunção de uma condição qualquer p(x) com uma condição universal u(x)
é equivalente a p(x). Em termos de conjuntos, a intersecção de um conjunto
qualquer P com o universo U é igual a P . Tem-se assim:

p(x) ∧ u(x) ⇐⇒ p(x)


P ∩U = P

(5) A conjunção de uma condição qualquer p(x) com uma condição impossível
i(x) é uma condição impossível. Em termos de conjuntos, a intersecção de um
conjunto qualquer P com o conjunto vazio é o conjunto vazio. Tem-se assim:

p(x) ∧ i(x) ⇐⇒ i(x)


P ∩∅ = ∅.

Propriedades de ligação

(1) Propriedade distributiva da disjunção relativamente à conjunção


(a) Condições: p(x) ∨ [q(x) ∧ r(x)] ⇐⇒ [p(x) ∨ q(x)] ∧ [p(x) ∨ r(x)]
(b) Conjuntos: P ∪ (Q ∩ R) = (P ∪ Q) ∩ (P ∪ R)
(2) Propriedade distributiva da conjunção relativamente à disjunção
(a) Condições: p(x) ∧ [q(x) ∨ r(x)] ⇐⇒ [p(x) ∧ q(x)] ∨ [p(x) ∧ r(x)]
14 I. LÓGICA

(b) Conjuntos: P ∩ (Q ∪ R) = (P ∩ Q) ∪ (P ∩ R)

Exemplo 3.6.
Temos como exemplos:

(1) x = 2 ∧ |x| > 0 ⇐⇒ x = 2 ( em R)


{2} ∩ R = {2}
(2) x < 2 ∧ x2 < 0 ⇐⇒ x2 < 0 ( em R)
]−∞, 2] ∩ ∅ =∅

Exercício 3.6.
Simplifique as seguintes condições em R:

(1) |x − 1| ≤ 0 ∧ x2 + 1 < 0;
(2) x2 > 0 ∧ x2 + 1 > 0;
(3) x2 − x + 5 6= 0 ∧ x2 + 5 ≤ 0;
(4) x2 > 2 ∧ |x| + 1 > 0.

Exercício 3.7.

(1) Simplifique as seguintes condições em R :


(a) x2 + 1 > 0 ∨ x > 2;
(b) x + 3 > x ∧ |x| > 2;
(c) |1 − x| > 3 ∧ x > x + 1.
(2) Recorrendo a intervalos de números reais, defina os conjuntos correspondentes
a cada uma das condições.

3.3. Negação e complementação.

• Antepondo à condição p(x) o sinal ∼ (“não é verdade que”) obtemos uma


nova condição ∼ p(x), a que se chama contrária da condição dada.
• A condição ∼ p(x) é verificada pelos elementos do universo que não são solução
de p(x).
3. OPERAÇÕES ENTRE CONDIÇÕES E ENTRE CONJUNTOS 15

• Complementar de um conjunto P é o conjunto P dos elementos do universo


que não pertencem a P , isto é

P = {x ∈ U : x ∈
/ P}.

Assim, se P é o conjunto solução da condição p(x), P é o conjunto solução da


condição ∼ p(x).

Exemplo 3.7.
Considere em R as condições:
∙ ∙
2 2
(1) q(x) : x > Conjunto solução : Q = , +∞
3 3
¸ ∙
2 2
∼ q(x) : x < Conjunto solução : Q = −∞,
3 3

(2) p(x) : x = 3 Conjunto solução : P = {3}


∼ p(x) : x 6= 3 Conjunto solução : P = R\ {3}

(3) r(x) : x ∈ {1, 3} Conjunto solução : R = {1, 3}


∼ r(x) : x ∈
/ {1, 3} Conjunto solução : R = R\ {1, 3}
Exercício 3.8.
Sem usar o símbolo ∼ escreva a negação de cada uma das condições, em R:
(1) x + 3 < 0;
(2) 3x − 2 = 0;
(3) 1 − x > 1;
(4) x ∈ {x = 2n ∧ n ∈ N} .

Exercício 3.9.
Considere os conjuntos

E = {x ∈ R: − 2 < x < 5} e F = {x ∈ R: |x| < 3} .

(1) Represente, com intervalos de números reais, os conjuntos E e F .


(2) Defina, em compreensão, E e F .
16 I. LÓGICA

4. Quantificadores e implicação formal

4.1. Quantificadores.
Chama-se quantificador universal ao símbolo ∀ (lê-se: “qualquer que seja” ou “para
todo o”) que, aplicado a uma condição numa variável, dá origem a uma proposição
verdadeira se a condição for universal e falsa nos outros casos.

Exemplo 4.1.
(1) A condição x2 + 4 > 0 é universal em R; obtém-se uma proposição verdadeira
se escrevermos
∀x ∈ R: x2 + 4 > 0

ou
x2 + 4 > 0 : ∀x ∈ R.

(2) A proposição ∀x ∈ R, x + 1 = 0 é falsa, porque a condição x + 1 = 0 não é


universal em R.

Exercício 4.1.
Indique se as proposições seguintes são verdadeiras ou falsas.
x
(1) ∀x ∈ R, x > ;
2
x
(2) ∀x ∈ N, x > ;
2
2 2
(3) (x + 1) = x + 2x + 1, ∀x ∈ N;
(4) (x + 1)2 = x2 + 2x + 1, ∀x ∈ R.

Chama-se quantificador de existência ao símbolo ∃ (lê-se: “existe pelo menos um”


ou “há pelo menos um”) que, aplicado a uma condição numa variável, dá origem a
uma proposição verdadeira se a condição é possível e falsa se é impossível.

Exemplo 4.2.
(1) A condição x + 3 = 0 é possível em Z; então se escrevermos

∃x ∈ Z: x + 3 = 0,

obtemos uma proposição verdadeira.


4. QUANTIFICADORES E IMPLICAÇÃO FORMAL 17

(2) A proposição ∃x ∈ Z: 2x + 3 = 0 é falsa, porque a condição 2x + 3 = 0 é


impossível em Z.

Exercício 4.2.
São dadas, em R, as condições:
1
|x + 1| + 2 > 0 , x2 = x e x2 + 3 = 2.
2
(1) Classifique cada uma delas.
(2) Diga se são verdadeiras ou falsas as proposições:
(3) ∀x ∈ R, |x + 1| + 2 > 0 ;
1
(4) ∀x ∈ R, x2 = x ;
2
1
(5) ∃x ∈ R : x2 = x;
2
2
(6) ∃x ∈ R : x + 3 = 2.

Exemplo 4.3.
Considere, no conjunto T dos alunos da turma, as proposições:
(1) ∀x ∈ T, x fez os trabalhos de casa.
(2) ∃x ∈ T, x gosta de matemática.
Em linguagem corrente, estas proposições traduzem-se, respectivamente, por:
(3) Todos aos alunos da turma fizeram os trabalhos de casa.
(4) Há pelo menos um aluno na turma que gosta de matemática.
A negação destas proposições em linguagem corrente é:
(5) Nem todos aos alunos da turma fizeram os trabalhos de casa.
(6) Nenhum aluno da turma gosta de matemática.
Traduzindo em linguagem simbólica, vem:
(7) ∃x ∈ T : x não fez os trabalhos de casa.
(8) ∀x ∈ T, x não gosta de matemática.
Portanto:
(9) ∼ (∀x ∈ T, x fez os trabalhos de casa)⇐⇒ ∃x ∈ T : x não fez os trabalhos de
casa.
18 I. LÓGICA

(10) ∼ (∃x ∈ T : x gosta de matemática)⇐⇒ ∀x ∈ T, x não gosta de matemática.

Conclusão:
A negação transforma o quantificador universal em quantificador de existência
seguido de negação:
∼ ∀ ⇐⇒ ∃ ∼ .

A negação transforma o quantificador de existência em quantificador universal seguido


de negação:
∼ ∃ ⇐⇒ ∀ ∼ .

Exercício 4.3.
Negue cada uma das proposições seguintes:
(1) ∀x ∈ R, x > 2 ∨ x = 3;
(2) ∃x ∈ R : x > 5 ∧ x > 7;
(3) ∀x ∈ R, 1 ≤ x ≤ 5;
(4) ∃x ∈ R, ∀y ∈ R, x − y = 2;
(5) ∀x ∈ R, (x > 2 ∧ x < 5) ∨ x > 3.

4.2. Implicação.
Diz-se que uma condição p(x) implica outra condição q(x), se o conjunto solução P da
primeira estiver contido no conjunto solução Q da segunda. Assim:

p(x) ⇒ q(x)

é uma proposição verdadeira se P ⊂ Q.

Exemplo 4.4.
Tem-se por exemplo:
(1) x é homem ⇒ x é mortal
É uma proposição verdadeira.
(2) x > 3 ⇒ x < 1 (em R)
É uma proposição falsa pois ]3, +∞[ não está contido em ]−∞, 1[ .
4. QUANTIFICADORES E IMPLICAÇÃO FORMAL 19

(3) n é múltiplo de 10 ⇒ n é par


É uma proposição verdadeira. (justifique)
(4) x2 − x + 3 = 0 ⇒ x2 < 0 (em R)
É uma proposição verdadeira, pois o conjunto vazio está contido em qualquer
outro conjunto, inclusive nele próprio.

Exercício 4.4.
Indique, em R, o valor lógico das proposições seguintes:
(1) x < −4 ⇒ x < 1;
(2) x = 2 =⇒ x2 − 2x = 0;
(3) x2 − 9 = 0 ⇒ x = 3;
(4) |x| < 1 =⇒ x + 3 > 0.

Considere a proposição verdadeira

“x é um rectângulo ⇒ x é um paralelogramo ”,

que podemos traduzir por “todo o rectângulo é um paralelogramo” .


Obviamente, esta proposição é equivalente a

“se x não for um paralelogramo então também não é rectângulo”,

ou seja,
“se x não for um paralelogramo =⇒ x não é um rectângulo”.

Se m(x) e p(x) designam duas condições, tem-se assim a lei de conversão

(m(x) ⇒ p(x)) ⇐⇒ (∼ p(x) ⇒∼ m(x)) .

Exemplo 4.5.
Em R, x.y = 0 =⇒ x = 0 ∨ y = 0 ( lei do anulamento do produto ) . Então pela lei de
conversão, vem
∼ (x = 0 ∨ y = 0) ⇒∼ (x.y = 0) ,

ou seja
x 6= 0 ∧ y 6= 0 ⇒ x.y 6= 0.
20 I. LÓGICA

Considere-se novamente a proposição verdadeira

“x é um rectângulo ⇒ x é um paralelogramo ”

que já vimos, pode ser traduzido por

“todo o rectângulo é um paralelogramo”.

A negação desta proposição será

“existe pelo menos um rectângulo que não é um paralelogramo”

ou seja,

“∃x : x é rectângulo ∧ x não é paralelogramo”.

Assim a negação de p(x) ⇒ q(x) é

∃x : p(x)∧ ∼ q(x).

Exemplo 4.6.
Note que
¡ ¢
∼ x > 2 ⇒ x2 > 4 ⇐⇒ ∃x : x > 2 ∧ x2 ≤ 4.

Exercício 4.5.
Considere as seguintes proposições:

• x > 2 ⇒ |x| > 2 (em R)


3x
• |x − 4| > 4 ⇒ − > 0 (em R\ {0}) .
2
Para cada uma delas indique:

(1) Se é verdadeira ou falsa;


(2) A negação (sem utilizar o sinal ∼).
4. QUANTIFICADORES E IMPLICAÇÃO FORMAL 21

4.3. A equivalência como dupla implicação.


Considere as condições x2 = 4 e |x| = 2 (em R) . Ambas têm conjunto solução {−2, 2} ,
pelo que são equivalentes:
x2 = 4 ⇐⇒ |x| = 2.

Como o conjunto solução de x2 = 4 está contido no conjunto solução de |x| = 2


(pois são idênticos) , a proposição

x2 = 4 =⇒ |x| = 2

é verdadeira .
Do mesmo modo,
|x| = 2 =⇒ x2 = 4

também é uma proposição verdadeira.


Tem-se assim que
x2 = 4 ⇐⇒ |x| = 2

é equivalente a
x2 = 4 =⇒ |x| = 2 ∧ |x| = 2 =⇒ x2 = 4.

De um modo geral, se p(x) e q(x) forem duas condições, tem-se

[p(x) ⇐⇒ q(x)] ⇐⇒ [p(x) ⇒ q(x) ∧ q(x) =⇒ p(x)] .

Exercício 4.6.
Diga, justificando, se são verdadeiras ou falsas as seguintes proposições (em R) :
(1) 6x = 0 ⇐⇒ (x2 + 1) 6x = 0;
(2) 6x = 0 =⇒ (x2 − 1) 6x = 0;
(3) 6x = 0 ⇐⇒ (x2 − 1) 6x = 0.

No conjunto dos paralelogramas, tem-se

x é quadrado =⇒ x é rectângulo.

Basta, ou é suficiente, que x seja quadrado para ser rectângulo; e é necessário que x
seja rectângulo para ser quadrado.
22 I. LÓGICA

Assim se p(x) ⇒ q(x) for uma proposição verdadeira, diz-se que p(x) é uma condição
suficiente para que se verifique q(x) e q(x) é uma condição necessária para que se
verifique p(x).
Obviamente, resulta do que se disse sobre a equivalência entre condições, que se
p(x) ⇐⇒ q(x) então p(x) (respectivamente q(x)) é uma condição necessária e suficiente
para que se verifique q(x) (respectivamente p(x)) .

Exercício 4.7.
Considere, em R, as condições:

p(x) : x + 2 > 1 e q(x) : x2 − 4x + 3 = 0.

(1) Determine o conjunto solução de cada uma das condições.


(2) Complete
(a) p(x) é condição ______ para que se verifique q(x);
(b) q(x) é condição ______ para que se verifique p(x).
CAPÍTULO II

Cálculo algébrico

1. Expressões algébricas. Polinómios.

1.1. Definições.

• Uma expressão numa variável diz-se algébrica quando sobre a variável não
incidem outras operações além de adições, subtracções, multiplicações, divisões
ou extracções de raiz.
• Chama-se domínio da expressão algébrica, e representa-se por D, ao conjunto
dos números que substituidos no lugar da variável dão sentido à expressão.
• Chama-se polinómio de grau n numa variável x a uma expressão algébrica do
tipo

a0 xn + a1 xn−1 + · · · + an ,

com a0 , a1 , ..., an ∈ R ∧ a0 6= 0.

1.2. Operações com polinómios.


1.2.1. Adição e subtração.

Exemplo 1.1.
Supondo que A = 5x2 − 3x + 4, B = 7 − 6x + 5x2 − x3 e C = 2x2 − 3x3 + 1 :

(1) Determinar A + B e A − B.
Resolução:

A + B = (5x2 − 3x + 4) + (7 − 6x + 5x2 − x3 )
= 5x2 − 3x + 4 + 7 − 6x + 5x2 − x3
= −x3 + 10x2 − 9x + 11
23
24 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

A − B = (5x2 − 3x + 4) − (7 − 6x + 5x2 − x3 )
= 5x2 − 3x + 4 − 7 + 6x − 5x2 + x3
= x3 + 3x − 3.

(2) Determinar A + B − C e A − B − C.
Resolução:

A + B − C = (−x3 + 10x2 − 9x + 11) − (2x2 − 3x3 + 1)


= −x3 + 10x2 − 9x + 11 − 2x2 + 3x3 − 1
= 2x3 + 8x2 − 9x + 10

A − B − C = x3 + 3x − 3 − 2x2 + 3x3 − 1
= x3 + 3x − 3 − 2x2 + 3x3 − 1
= 4x3 − 2x2 + 3x − 4.

(3) Somar a A a diferença entre B e C.


Resolução:

A + (B − C) = (5x2 − 3x + 4) + [(7 − 6x + 5x2 − x3 ) − (2x2 − 3x3 + 1)]


= 2x3 + 8x2 − 9x + 10.

Exemplo 1.2.
Supondo que P = 3x2 − 5x + 8 e Q = 2x + 3x2 − 6, determine o valor de x, tal que
P − Q = 0.

Resolução:

P − Q = 0 ⇐⇒ (3x2 − 5x + 8) − (2x + 3x2 − 6) = 0


⇐⇒ −7x + 14 = 0
⇐⇒ x = 2.
1. EXPRESSÕES ALGÉBRICAS. POLINÓMIOS. 25

Exercício 1.1.
Considere os polinómios

A = x2 − 4; B = 2x2 − 8x + 1; C = 3x2 − 4x e D = −x2 − x − 1.

Calcule:

(1) (A + B) + C;
(2) A + (B + C) ;
(3) A − B;
(4) C − D;
(5) A − (B + D) ;
(6) A − B − D.

Soluções:

(1) 6x2 − 12x − 3;


(2) 6x2 − 12x − 3;
(3) −x2 + 8x − 5;
(4) 4x2 − 3x + 1;
(5) 9x − 4;
(6) 9x − 4.

Exercício 1.2.
Simplifique as expressões seguintes:

(1) 8x2 − 1, 2x + 1, 5 + (3, 5x2 − 0, 8x − 1, 4) − (3, 5x2 − 3x − 0, 9) ;


µ ¶ µ ¶
2 2 1 5 2 1 2 7
(2) 3x − x + 2 − x − 0, 2x + − 3 x − .
5 3 2

Soluções:

(1) 8x2 + x + 1;
(2) x2 − 0, 2x − 3.
26 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

1.2.2. Multiplicação.

Exemplo 1.3.
Supondo que A = x − 1, B = 2x + 3 e C = 2x − 3, calcule.

(1) Os valores de A.B, A.C e A.B − A.C.


Resolução:
A.B = (x − 1) . (2x + 3)
= 2x2 + 3x − 2x − 3
= 2x2 + x − 3
e
A.C = (x − 1) . (2x − 3)
= 2x2 − 3x − 2x + 3
= 2x2 − 5x + 3
logo
A.B − A.C = (2x2 + x − 3) − (2x2 − 5x + 3)
= 6x − 6.
(2) O valor de x, tal que A. (B − C) = 24.
Resolução:

A. (B − C) = 24 ⇐⇒ 6x − 6 = 24 ⇐⇒ x = 5.

Exemplo 1.4.
Resolva em ordem a x a equação

a (2x + 3) = ax + 2 com a 6= 0.

Resolução:
a (2x + 3) = ax + 2 ⇐⇒ 2ax + 3a = ax + 2
⇐⇒ 2ax − ax = 2 − 3a
⇐⇒ ax = 2 − 3a
1
⇐⇒ x = (2 − 3a) .
a
Nota: Se fosse a = 0, a equação ficaria reduzida a 0x+2 = 0 e, então, seria impossível.
1. EXPRESSÕES ALGÉBRICAS. POLINÓMIOS. 27

Exercício 1.3.
Calcule:
(1) −3 (x2 + 5x) ;
(2) 2x (x2 − 4) ;
(3) −2 (−3x + 8) ;
(4) 4x (−x − 2) ;
µ ¶
x 2 x 4
(5) − 4x − + ;
2 6 3
(6) (x2 − 4x + 4) 5x2 ;
(7) (x2 − 12x − 1) 6x2 ;
(8) (z 3 − 3z + 9) (−2z 2 ) .
Soluções:
(1) −3x2 − 15x;
(2) 2x3 − 8x;
(3) 6x − 16;
(4) −4x2 − 8x;
x2 2
(5) −2x3 + − x;
12 3
(6) 5x4 − 20x3 + 20x2 ;
(7) 6x4 − 72x3 − 6x2 ;
(8) −2z 5 + 6z 3 − 18z 2 .

Faz-se agora uma revisão dos casos notáveis da multiplicação de números reais.

(1) Quadrado da soma


Sendo a e b números reais temos
(a + b)2 = (a + b) (a + b)
= a2 + ab + ba + b2
= a2 + 2ab + b2 .
Obteve-se, assim, a fórmula conhecida por quadrado da soma

(a + b)2 = a2 + 2ab + b2 .
28 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

(2) Quadrado da diferença


Sendo a e b números reais temos

(a − b)2 = (a − b) (a − b)
= a2 − ab − ba + b2
= a2 − 2ab + b2 .

Obteve-se, assim, a fórmula conhecida por quadrado da diferença

(a − b)2 = a2 − 2ab + b2 .

(3) Produto da diferença de dois termos pela sua soma


Sendo a e b números reais temos

(a − b) (a + b) = a2 + ab − ba − b2
= a2 − b2 .

Exemplo 1.5.
Simplifique as seguintes expressões.

(1) (x + y)2 + (x − y)2 .


Resolução:

(x + y)2 + (x − y)2 = (x2 + 2xy + y 2 ) + (x2 − 2xy + y 2 )


= 2x2 + 2y 2 .

(2) (x + y)2 − (x − y)2 .


Resolução:

(x + y)2 − (x − y)2 = (x2 + 2xy + y 2 ) − (x2 − 2xy + y 2 )


= 4xy.

Exemplo 1.6.
Resolva as seguintes equações.

(1) (x − 1)2 − 5 (x − 3) = (x + 5) (x − 5) .
1. EXPRESSÕES ALGÉBRICAS. POLINÓMIOS. 29

Resolução:

(x − 1)2 − 5 (x − 3) = (x + 5) (x − 5) ⇐⇒ x2 − 2x + 1 − 5x + 15 = x2 − 25
⇐⇒ −7x = −41
41
⇐⇒ x = .
7
(2) 4 (x + 1)2 − (x − 1)2 − 3 (x − 2) (x + 2) = 0.
Resolução:

4 (x + 1)2 − (x − 1)2 − 3 (x − 2) (x + 2) = 0 ⇐⇒ 10x = −15


3
⇐⇒ x = − .
2
Exercício 1.4.
Simplifique as seguintes expressões:
(1) (a + 2b)2 − (a − 2b)2 ;
(2) (3a − 2b)2 + (3a + 2b)2 ;
(3) (x − 3)2 − 3x (x − 2) ;
(4) (x − 3) (x + 2) − (x + 1) (x − 1) ;
(5) (m + n)2 − (m − n)2 + (m + n) (m − n) ;
(6) 9 (x − 3)2 − 2 (x + 1)2 − (2x − 3)2 .
Soluções:
(1) 8ab;
(2) 18a2 + 8b2 ;
(3) −2x2 + 9;
(4) −x − 5;
(5) m2 + 4mn − n2 ;
(6) 3x2 − 46x + 70.

Exercício 1.5.
Prove que as igualdades seguintes são verdadeiras:
(1) (x + a)2 = (x − a)2 + 4ax;
2 2
(2) (2a)2 + (1 − a2 ) = (1 + a2 ) .
30 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

Exercício 1.6.
Resolva as seguintes equações:
(1) (2x + 1) (2x − 1) = (4x + 5) (x − 3) ;
(2) (x + 2)2 + (x + 1)2 = x (2x − 7) ;
(3) 5 (x − 2) (x + 2) − 5 (x − 4) (x + 6) = 0;
(4) (4x − 3)2 − (8x + 3) (2x − 3) = 0.
Soluções:
(1) −2;
5
(2) − ;
13
(3) 10;
(4) 3.

1.2.3. Divisão. Regra de Ruffini.

Algoritmo da divisão de polinómios

Em N, temos:

19 3
19 = 3×6+1
−18 6 logo ,
1 < 3
1

Dividendo : 19
Divisor : 3
sendo que
Quociente : 6
Resto : 1
Tal como em N, no conjunto dos polinómios, efectuar a divisão de um polinómio A(x)
por um polinómio B(x) é determinar o quociente Q(x) e o resto R(x),de modo que

A(x) = B(x).Q(x) + R(x),

sendo o grau de R(x) menor que o grau de B(x).


1. EXPRESSÕES ALGÉBRICAS. POLINÓMIOS. 31

Apresenta-se a seguir a divisão de dois polinómios, onde se mostra o procedimento


a efectuar.

Exemplo 1.7.
Determine o quociente e o resto da divisão de A(x) por B(x), sendo A(x) = −9x2 +
4 + 4x3 − 6x e B(x) = 1 − 2x + x2 .

Resolução:

• Ordenam-se os polinómios dividendo e divisor segundo as potências decrescentes de


x:

4x3 − 9x2 − 6x + 4 x2 − 2x + 1

• Divide-se o primeiro termo do dividendo pelo primeiro do divisor, obtendo-se o


primeiro termo do quociente:

4x3 − 9x2 − 6x + 4 x2 − 2x + 1
4x

• Multiplica-se 4x por cada um dos termos do divisor e subtrai-se do dividendo:

4x3 − 9x2 − 6x + 4 x2 − 2x + 1
−4x3 + 8x2 − 4x 4x
−x2 − 10x + 4

• Como o grau do resto ainda não é inferior ao do divisor, divide-se o primeiro termo
do resto pelo primeiro do quociente. Tem-se:

4x3 − 9x2 − 6x + 4 x2 − 2x + 1
−4x3 + 8x2 − 4x 4x − 1
−x2 − 10x + 4
32 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

• Multiplica-se −1 por cada um dos termos do divisor e subtrai-se do dividendo:

4x3 − 9x2 − 6x + 4 x2 − 2x + 1
−4x3 + 8x2 − 4x 4x − 1
−x2 − 10x + 4
x2 − 2x + 1
−12x + 5

A divisão terminou, pois o grau do resto é inferior ao do divisor. Tem-se:

Quociente : 4x − 1
Resto : −12x + 5

Exercício 1.7.
Verifique este resultado, multiplicando o quociente pelo divisor e adicionando ao resto.

Exercício 1.8.
Calcule
¡ ¢ ¡ ¢
−x + 3x4 − x5 + 2 : −3x2 + 1 .

Solução:
x3 x 1 10 7
Quociente → − x2 + − Resto → − x+
3 9 3 9 3

Regra de Ruffini

O método anterior permite determinar qualquer divisão de polinómios. Caso o


divisor seja uma expressão da forma x−α existe uma regra simples, a Regra de Ruffini,
para determinar o quociente e o resto da divisão.
Apresenta-se a seguir um exemplo onde se mostra o procedimento a efectuar.

Exemplo 1.8.
Determine o quociente e o resto da divisão de A (x) = x4 −3x2 +x−3 por B (x) = x−2.
1. EXPRESSÕES ALGÉBRICAS. POLINÓMIOS. 33

Resolução:
• Escrevem-se os coeficientes do dividendo, ordenados segundo as potências decres-
centes de x, em linha.
• No canto esquerdo escreve-se o número 2 que anula o polinómio divisor, (x − 2) .

1 0 −3 1 −3
2

• Copia-se o 1.o coeficiente e coloca-se a um nível inferior.

1 0 −3 1 −3
2
1

• Multiplica-se o número 2 pelo 1.o coeficiente e coloca-se o produto ao nível de 2


adicionando em seguida o 2.o coeficiente com o produto determinado.

1 0 −3 1 −3
2 2
1 2

• Repete-se o processo anterior

1 0 −3 1 −3
2 2 4 2 6
1 2 1 3 3

Temos então:
• Q (x) = x3 + 2x2 + x + 3
• R (x) = 3

e consequentemente

¡ 4 ¢
x − 3x2 + x − 3 = (x − 2) (x3 + 2x2 + x + 3) + 3.
34 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

Observação:

D d D R
D = d.Q + R =Q+
R Q d d

grau de R < grau de d

Exercício 1.9.
Em cada um dos casos, efectue a operação indicada, e indique o resultado obtido na
D R
forma =Q+ .
d d
(1) (x3 + 1) : (x + 1)
(2) (x4 − 8) : (x + 2)
(3) (3x3 − 2x + 1) : (x2 − 2x + 1)
(4) (5x4 − 2x2 − 1) : (x2 − 3)
(5) (x2 + 3x − 2) : (2x − 3)
(6) (x − 1) : (2x + 3)

Soluções:
x3 + 1
(1) = x2 − x + 1;
x+1
x4 − 8 8
(2) = x3 − 2x2 + 4x − 8 + ;
x+2 x+2
3x3 − 2x + 1 7x − 5
(3) = 3x + 6 + ;
x2 − 2x + 1 x2 − 2x + 1
5x4 − 2x2 − 1 38
(4) 2
= 5x2 + 13 + 2 ;
x −3 x −3
19
x2 + 3x − 2 1 9
(5) = x+ + 4 ;
2x − 3 2 4 2x − 3
5
x−1
(6) = 12 − 2 .
2x + 3 2x + 3

1.3. Teorema do resto.

Teorema 1.1.
O resto da divisão de um polinómio P (x) por x − α é P (α), isto é, o valor que toma
o dividendo quando se substitui x por α.
1. EXPRESSÕES ALGÉBRICAS. POLINÓMIOS. 35

Demonstração.
Seja Q(x) e R o quociente e o resto da divisão de P (x) por x − α. Tem-se :

P (x) = (x − α)Q(x) + R.

Como a igualdade anterior é válida para todo o x real, é em particular para α. Fazendo
então x = α, vem
P (α) = (α − α) Q(α) + R
P (α) = 0.Q(α) + R
P (α) = R (R constante) .
¤

Exercício 1.10.
Determine o resto da divisão do polinómio P (x) = 3x2 + 3x + 5 por x − 2.

Solução: α = 2 e R = P (α) = P (2) = 23.

1.4. Zero de um polinómio.


Seja P (x) = x3 − 2x2 + x + 18. Temos que :

P (−2) = (−2)3 − 2(−2)2 − 2 + 18 = 0 e P (1) = 1 − 2 + 1 + 18 = 18.

O número real −2 é zero do polinómio enquanto que 1 não é zero do mesmo polinómio.
• Um número real α é zero ou raiz de um polinómio P (x) se e só se P (α) = 0.
• α é zero de um polinómio se e só se o polinómio é divísivel por x − α.

1.5. Decomposição de um polinómio em factores.


Se um polinómio na variável x, de grau n,

a0 xn + a1 xn−1 + · · · + an

admite n raízes, α1 , α2,..., αn , pode escrever-se como um produto

a0 (x − α1 ) (x − α2 ) ... (x − αn ) , a0 6= 0.

Se, por exemplo, α1 = α2 diz-se que a raiz α1 é dupla ou de multiplicidade 2. Um


polinómio pode ter raízes duplas, triplas,...
36 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

Exemplo 1.9.
Decomponha, se possível, num produto de factores do 1.o grau, cada um dos seguintes
polinómios.

(1) 2x2 + 7x + 3.
Resolução.
Vamos calcular as raízes do polinómio utilizando a fórmula resolvente. Tem-
se:

2 −7 ± 49 − 24 1
2x + 7x + 3 = 0 ⇐⇒ x = ⇐⇒ x = − ∨ x = −3.
4 2

Temos então:
∙ µ ¶¸
2 1
2x + 7x + 3 = 2 x − − [x − (−3)]
2

ou
µ ¶
2 1
2x + 7x + 3 = 2 x + (x + 3)
2
1
(2) 4x2 − .
9
Resolução.
Sabendo que:

a2 − b2 = (a − b) (a + b)

vem
µ ¶2 µ ¶µ ¶
1 1 1 1
4x − = (2x)2 −
2
= 2x − 2x +
9 3 3 3
(3) x2 − 3x + 10.
Resolução.
Vamos calcular as raízes. Tem-se:

2 3± 9 − 40
x − 3x + 10 = 0 ⇐⇒ x = (Impossível) .
2

Como não existem raízes reais, não é possível decompor em factores do 1.o
grau este polinómio.
1. EXPRESSÕES ALGÉBRICAS. POLINÓMIOS. 37

(4) 2(x − 1)2 − 3(x − 1).


Resolução.
Aqui a decomposição é imediata, pois existe um factor comum para pôr em
evidência, sendo este, (x − 1) . Tem-se:

(x − 1)2 − 3(x − 1) = (x − 1) [2 (x − 1) − 3] = (x − 1) (2x − 5)

(5) x3 + 3x2 − x − 3, sabendo que admite a raíz −3.


Resolução.
O resto da divisão do polinómio por x + 3 é zero.
Tem-se:
1 3 −1 −3
−3 −3 0 3
1 0 −1 0
Assim:
¡ ¢
x3 + 3x2 − x − 3 = (x + 3) x2 − 1 = (x + 3) (x − 1) (x + 1) .

Exercício 1.11.
Decomponha, se possível, num produto de factores do 1.o grau, cada um dos seguintes
polinómios:

(1) x2 − 5x + 6;
(2) 6x3 + x2 − x;
(3) x3 − x2 − 9x + 9;
(4) x4 − 13x2 + 36.
Soluções:

(1) (x − 2) (x − 3) ;
¡ ¢¡ ¢
(2) 6x x + 12 x − 13 ;

(3) (x − 1) (x − 3) (x + 3) ;
(4) (x + 2) (x − 2) (x + 3) (x − 3) ;
38 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

1.6. Método dos coeficientes indeterminados.


Este método baseia-se no princípio de que dois polinómios são idênticos se os coefi-
cientes dos termos do mesmo grau são iguais.

Exemplo 1.10.
Determine a, b, c e d ∈ R de modo que

x3 = ax (x − 1) (x − 2) + bx (x − 1) + cx + d.

Resolução.
Efectuando as operações, vem:

x3 = ax (x2 − 3x + 2) + b (x2 − x) + cx + d

x3 = ax3 − 3ax2 + 2ax + bx2 − bx + cx + d

x3 = ax3 + (−3a + b) x2 + (2a − b + c) x + d.

Igualando os coeficientes das mesmas potências de x, obtém-se o sistema


⎧ ⎧

⎪ a = 1 ⎪
⎪ a=1

⎪ ⎪


⎨ −3a + b = 0 ⎪
⎨ b=3
⇐⇒

⎪ 2a − b + c = 0 ⎪
⎪ c=1

⎪ ⎪


⎩ ⎪

d=0 d = 0.

Exemplo 1.11.
Determine k, m e n ∈ R de modo que

4x2 + mx + n = (x − 1)2 + kx2 .

Resolução.
Efectuando as operações, vem:

4x2 + mx + n = x2 − 2x + 1 + kx2

4x2 + mx + n = (1 + k) x2 − 2x + 1.
2. FRACÇÕES ALGÉBRICAS 39

Igualando os coeficientes das mesmas potências de x, obtém-se o sistema


⎧ ⎧

⎪ ⎪

⎨ 1+k =4
⎪ ⎨ k=3

m = −2 ⇐⇒ m = −2

⎪ ⎪


⎩ ⎪
⎩ n = 1.
n=1

2. Fracções algébricas

2.1. Simplificação.
Para simplificar uma fracção algébrica factoriza-se o numerador e o denominador e
dividem-se os dois termos pelos factores comuns, não esquecendo o domínio em que a
simplificação é válida.

Exemplo 2.1.
Simplifique as seguintes fracções:
x+2
(1) 2 .
x + 4 + 4x
Resolução:
x+2 x+2 1
= 2 = e D = R\ {−2} .
x2 + 4 + 4x (x + 2) x+2

x2 + 1 − 2x
(2) .
x2 − 3 + 2x
Resolução:

x2 + 1 − 2x (x − 1)2 x−1
= = e D = R\ {−3, 1} .
x2 − 3 + 2x (x − 1) (x + 3) x+3

2 (x − 3)2 − 3 (x − 3)
(3) .
(x − 3)4
Resolução:

2 (x − 3)2 − 3 (x − 3) (x − 3) (2x − 6 − 3) 2x − 9
4 = 4 = e D = R\ {3} .
(x − 3) (x − 3) (x − 3)3
40 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

x2 + 5x
(4) .
−x3 − 6x2 + x + 30

Resolução:

• x2 + 5x = x(x + 5).

• O polinómio do denominador é do 3.o grau, logo para determinarmos os


seus zeros necessitamos de uma das suas raízes. Uma das suas raízes é um
zero do numerador, pois se assim não fosse, a fracção não era simplificada.
Facilmente se verifica que os zeros do numerador são os valores 0 e -5. Sendo
−5 um zero do denominador (verifique), tem-se:

−1 −6 1 30
−5 5 5 −30 .
−1 −1 6 0

Calculemos os restantes zeros do denominador



2 1 ± 1 + 24
−x − x + 6 = 0 ⇐⇒ x = ⇐⇒ x = −3 ∨ x = 2.
−2

Logo,

−x3 − 6x2 + x + 30 = − (x + 5) (x + 3) (x − 2)

Assim,

x2 + 5x x(x + 5) −x
3 2
= = e D = R\ {−5, −3, 2} .
−x − 6x + x + 30 − (x + 5) (x + 3) (x − 2) (x + 3) (x − 2)
2. FRACÇÕES ALGÉBRICAS 41

2.2. Outras operações.

Exemplo 2.2.
Efectue e simplifique.
1 x
(1) + .
x x+2
Resolução:
1 x x2 + x + 2
D = R\ {−2, 0} e + = .
x x+2 x (x + 2)
(x+2) (x)

2x + 1
(2) x − .
x−1
Resolução:
2x + 1 x2 − 3x − 1
D = R\ {1} e x − = .
(x−1) x−1 x−1
(x)

x2 + 3x x + 2
(3) × .
x2 − 4 x+3
Resolução:
D = R\ {−3, −2, 2}

e
x2 + 3x x + 2 x (x + 3) (x + 2) x
2
× = = .
x −4 x+3 (x − 2) (x + 3) (x + 2) x−2
x + 5 x2 − 25
(4) : .
2−x x+3
Resolução:
D = R\ {−5, −3, 2, 5}

e
x + 5 x2 − 25 x+5 x+3 x+3
: = × = .
2−x x+3 2 − x (x − 5) (x + 5) (2 − x) (x + 5)
Nota: As operações com fracções algébricas efectuam-se de uma forma semelhante
às operações com fracções onde não aparecem variáveis.
42 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

Exemplo 2.3.
Determine A e B de modo que:

7 A B
= + .
(x − 2) (x + 5) x−2 x+5

Resolução: O método dos coeficientes indeterminados permite determinar A e B.

7 A B
= +
(x − 2) (x + 5) x−2 x+5

Ax + 5A + Bx − 2B
=
(x − 2) (x + 5)

(A + B) x + 5A − 2B
= .
(x − 2) (x + 5)

Temos que:
7 (A + B) x + 5A − 2B
= .
(x − 2) (x + 5) (x − 2) (x + 5)

Então:
⎧ ⎧ ⎧
⎨ 0=A+B ⎨ A = −B ⎨ A=1
⇐⇒ ⇐⇒ ,
⎩ 7 = 5A − 2B ⎩ 7 = −7B ⎩ B = −1

logo,
7 1 1
= − .
(x − 2) (x + 5) x−2 x+5

3. Equações

A decomposição de polinómios em factores e a lei do anulamento do produto


permitem-nos resolver algumas equações.

Exemplo 3.1.
Resolva, em R, cada uma das seguintes equações.

(1) x3 = x.
3. EQUAÇÕES 43

Resolução:

x3 = x ⇐⇒ x3 − x = 0

⇐⇒ x (x2 − 1) = 0

⇐⇒ x = 0 ∨ x2 − 1 = 0

⇐⇒ x = 0 ∨ x = −1 ∨ x = 1

logo

S = {−1, 0, 1} .

(2) 2x3 − 10x2 + 12x = 0.

Resolução:

2x3 − 10x2 + 12x = 0 ⇐⇒ 2x (x2 − 5x + 6) = 0

⇐⇒ 2x = 0 ∨ x2 − 5x + 6 = 0

5 ± 25 − 24
⇐⇒ x = 0 ∨ x =
2
⇐⇒ x = 0 ∨ x = 2 ∨ x = 3

logo

S = {0, 2, 3} .

(3) 2x3 + x2 − 5x + 2 = 0, sabendo que −2 é uma das raízes.

Resolução:

2 1 −5 2
−2 −4 6 −2
2 −3 1 0

2x3 + x2 − 5x + 2 = 0 ⇐⇒ (x + 2) (2x2 − 3x + 1) = 0

3± 9−8
⇐⇒ x = −2 ∨ x =
4
1
⇐⇒ x = −2 ∨ x = 2
∨x=1
44 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

logo ½ ¾
1
s = −2, , 1 .
2
3.1. Equações fraccionárias.
Chama-se equação fraccionária a uma equação em que a incógnita figura no denomi-
nador.

Na resolução de uma equação fraccionária, deve-se proceder do seguinte modo:


(1) Determina-se o domínio da equação.
A
(2) Reduz-se a equação à forma = 0.
B
(3) Os zeros de A que pertencem ao domínio da equação são as soluções da equação
dada.

Exemplo 3.2.
Determine o conjunto solução, em R, de cada uma das seguintes equações.
x2 + 2x − 8
(1) = 0.
3x − 4
Resolução: ½ ¾
A 4
já se encontra na forma = 0. O domínio é R\
B 3
Como

2 −2 ± 4 + 32
x + 2x − 8 = 0 ⇐⇒ x = ⇐⇒ x = −4 ∨ x = 2,
2
as soluções possíveis são −4 e 2. Atendendo a que ambas pertencem ao
domínio, tem-se:
S = {−4, 2} .
3
x + 4x
(2) = 0.
x
Resolução:
A
já se encontra na forma = 0. O domínio é R\ {0} .
B
Como:
¡ ¢
x3 + 4x = 0 ⇐⇒ x x2 + 4 = 0 ⇐⇒ x = 0 ∨ x2 + 4 = 0 ⇐⇒ x = 0,
|{z}
C.I.
3. EQUAÇÕES 45

a solução possível é 0. Atendendo a que 0 não pertence ao domínio, tem-se:

S = ∅.

1 1 2x2
(3) + = 2 .
x−1 x+1 x −1

Resolução:
A 1 1 2x2
começamos por reduzir à forma = 0 a equação + = .O
B x − 1 x + 1 x2 − 1
domínio da equação é R\ {−1, 1} .
Temos:
1 1 2x2 1 1 2x2
+ = 2 ⇐⇒ + − 2 =0
x−1 x+1 x −1 x−1 x+1 x −1
(x+1) (x−1) (1)
2
−2x + 2x
⇐⇒ = 0.
x2 − 1

Como

−2x2 + 2x = 0 ⇐⇒ x (−2x + 2) = 0 ⇐⇒ x = 0 ∨ x = 1,

as soluções possíveis são 0 e 1. Como 1 não pertence ao domínio, vem

S = {0} .

Exercício 3.1.
Resolva cada uma das seguintes equações:
(x − 3) (x + 1)
(1) = 0;
x−3
2
x − 8x + 7
(2) = 0;
x−1
6
(3) = 0;
x−1
3+x
(4) = 5.
2−x
6x x x
(5) 2 + = ;
x −9 3−x x+3
3 1 1
(6) 2 = − .
x −1 x+1 1−x
46 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

Soluções:
(1) x = −1;
(2) x = 7 ;
(3) S = ∅;
7
(4) x = ;
6
(5) x = 0;
3
(6) x = .
2
Exercício 3.2.
x+1
Considere a expressão A (x) = .
(x − 3) (x + 2)
x+1 A B
(1) Determine A e B de modo que = + .
(x − 3) (x + 2) x−3 x+2
1
(2) Resolva a equação A (x) = .
x
Soluções:
4 1
(1) A = ; B = ;
5 5
(2) x = −3.

3.2. Equações irracionais.


São exemplos de equações irracionais

• x − 3 = 5;
√ √ √
• 2x + 1 + x − 3 = 2 x.
Verifica-se que numa equação irracional a incógnita figura no radicando.
As soluções destas equações conseguem-se por sucessivas elevações ao quadrado de
ambos os membros, já que
A = B ⇒ A2 = B 2 .

Como

A2 = B 2 ⇐⇒ A2 − B 2 = 0 ⇐⇒ (A − B) (A + B) = 0 ⇐⇒ A = B ∨ A = −B,

é necessário verificar se as soluções encontradas, isto é, as soluções de A2 = B 2 , são ou


não são soluções de A = B.
3. EQUAÇÕES 47

Exemplo 3.3.
Considere as seguintes equações irracionais.

(1) 2x + 3 + x = 6.

Resolução:
√ √
2x + 3 + x = 6 ⇐⇒ 2x + 3 = 6 − x =⇒ 2x + 3 = (6 − x)2

⇐⇒ 2x + 3 = 36 − 12x + x2 ⇐⇒ x2 − 14x + 33 = 0 ⇐⇒ x = 3 ∨ x = 11.

Verifiquemos estas soluções:



x=3: 6+3+3=6 Proposição verdadeira

x = 11 : 25 + 11 = 6 Proposição falsa

logo

S = {3} .

(2) 2x − 1 − x = −2.

Resolução:
√ √
2x − 1 − x = −2 ⇐⇒ 2x − 1 = x − 2 ⇒ 2x − 1 = (x − 2)2

⇐⇒ −x2 + 6x − 5 = 0 ⇐⇒ ⇐⇒ x = 5 ∨ x = 1.

Verifiquemos estas soluções:



x=5: 10 − 1 − 5 = −2 Proposição verdadeira

x=1: 2 − 1 − 5 = −2 Proposição falsa

logo

S = {5}
√ √ √
(3) x + 1 + 2x + 5 = x + 4.
48 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

Resolução:
√ √ √ ¡√ √ ¢2
x + 1 + 2x + 5 = x + 4 =⇒ x + 1 + 2x + 5 = x + 4 ⇐⇒
√ √
⇐⇒ 2 2x2 + 7x + 5 = −2x − 2 ⇐⇒ 2x2 + 7x + 5 = −x − 1 ⇒

⇒ 2x2 + 7x + 5 = (−x − 1)2 ⇐⇒ x2 + 5x + 4 = 0 ⇐⇒

⇐⇒ x = −4 ∨ x = −1.
Verifiquemos estas soluções:
√ √ √
x = −4 : −3 + −3 = 0 Proposição falsa
√ √ √
x = −1 : 0+ 3= 3 Proposição verdadeira
logo
S = {−1} .

Exercício 3.3.
Resolva cada uma das seguintes equações irracionais:

(1) 2x + 3 = x − 6;

(2) x − 4 = 4x − 19;

(3) 2 x2 − 16 = 4 − x;
√ √
(4) x − 2 − 3x − 2 = 6.

Soluções:

(1) x = 11;
(2) x = 5 ∨ x = 7;
(3) x = − 20
3
∨ x = 4;
(4) S = ∅.

Exercício 3.4.
Das seguintes afirmações diga qual é verdadeira.
(1) Se A = B então A2 = B 2 .
(2) Se A2 = B 2 então A = B.
4. INEQUAÇÕES FRACCIONÁRIAS 49

4. Inequações fraccionárias

Numa inequação fracionária a incógnita figura no denominador. São exemplos de


inequações fraccionárias:
x+1 3x 1
≤0 ; > 2.
x−4 x+2 x
De um modo geral, o processo mais simples de resolução, é construir um quadro depois
de reduzir a inequação à forma
A(x)
≶ 0.
B(x)
Exemplo 4.1.
Considere as seguintes inequações:
x−1
(1) >0
x+3
Resolução:
x −∞ −3 1 +∞
x−1 − − − 0 +
x+3 − 0 + + +
x−1
+ ss − 0 +
x+3
Olhando para a última linha do quadro verifica-se que a fracção é positiva se:

x ∈ ]−∞, −3[ ∪ ]1, +∞[


3
(2) <1
x−1
Resolução:
3 3 3 x−1 −x + 4
< 1 ⇐⇒ < 1 ⇐⇒ < ⇐⇒ < 0;
x−1 x − 1 (x−1) x−1 x−1 x−1
(1)

x −∞ 1 4 +∞
−x + 4 + + + 0 −
x−1 − 0 + + +
−x + 4
− ss + 0 −
x−1
50 II. CÁLCULO ALGÉBRICO

Verifica-se que a fracção é negativa se:

x ∈ ]−∞, 1[ ∪ ]4, +∞[ .


CAPÍTULO III

Somatórios

1. Definição

Consideremos a soma:

12 + 22 + 32 + 42 + 52 + 62 + 72 + 82 + 92 + 102 ,

que representa a soma dos quadrados dos primeiros 10 números naturais. Como cada
uma das parcelas desta soma se obtém dando a k sucessivamente os valores 1, 2, · · · , 10
na expressão k2 , então podemos escrever de forma abreviada a soma anterior, utilizando
P
o símbolo de somatório - letra sigma maiúscula do alfabeto grego. Temos assim:

X
10
2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9 + 10 = k2.
k=1
P
Assim, no caso geral, para representarmos uma soma com o símbolo temos de
identificar:

• uma expressão designatória, uk , que em cada concretização da variável k nos


permita obter sucessivamente cada uma das parcelas;
• um conjunto K, K ⊂ Z, onde a variável k toma os seus valores.

P
n
Assim, uk , k ∈ Z e n ≥ p, lê-se o somatório de uk desde p até n, isto é:
k=p

X
n
(1.1) uk = up + up+1 + · · · + un−1 + un .
k=p

À letra k chama-se ı́ndice da soma e aos números p e n, respectivamente, limite


inf erior e limite superior do somatório.
51
52 III. SOMATÓRIOS

Nota:

• A soma (1.1) tem exactamente n − p + 1 parcelas.


• A variável k (índice da soma) é uma variável muda, isto é, pode
ser substituída por outra letra qualquer pois

X
n X
n X
n X
n
uk = ui = uj = up = um + um+1 + · · · + un−1 + un .
k=m i=m j=m p=m

• Sempre que os limites superior e inferior do somatório forem


iguais a soma apenas tem uma parcela, isto é,

X
n
uk = un .
k=n

Exemplo 1.1.

P
4
(1) (k2 + 1) = (12 + 1) + (22 + 1) + (32 + 1) + (42 + 1) = 2 + 5 + 10 + 17 = 34.
k=1
P3
(2) (3 − 4k) = (3 − 4 · (−1))+(3 − 4 · 0)+(3 − 4 · 1)+(3 − 4 · 2)+(3 − 4 · 3) =
k=−1
= −5.
P3
(3) (3p − 2) x3−p = −2x3 + x2 + 4x + 7.
p=0

Uma aplicação:
Suponha que uma pequena empresa adquire uma máquina nova no início de cada ano.
O custo de uma máquina nova no início do 1.o ano é 100 unidades monetárias (u.m.)
e o preço aumenta 5 u.m. todos os anos. A despesa da empresa, na aquisição de
máquinas, no início do quarto ano pode ser representada por:

X
3
(100 + i) .
i=0
2. PROPRIEDADES 53

Exercício 1.1.
Escreva na forma de somatório a soma dos primeiros quarenta e cinco:

(1) números pares.


(2) números ímpares.

Soluções:

P
45
(1) (2k) ;
k=1
P
45
(2) (2k − 1) .
k=1

Exercício 1.2.
Escreva na forma de somatório a forma geral dos polinómio de grau n.
P
n P
n
Solução: ak xk ou ak xn−k .
k=0 k=0

2. Propriedades

Propriedade 2.0.1 (Aditiva).


X
n X
n X
n
(uk + vk ) = uk + vk .
k=m k=m k=m

Demonstração.
X
n
(uk + vk ) = (um + vm ) + (um+1 + vm+1 ) + · · · + (un + vn )
k=m

= (um + um+1 + · · · + un ) + (vm + vm+1 + · · · + vn ) =


Xn X
n
= uk + vk .
k=m k=m

Propriedade 2.0.2 (Homogénea).


X
n X
n
αuk = α uk , (α constante real) .
k=m k=m
54 III. SOMATÓRIOS

Demonstração.
X
n X
n
αuk = αum + αum+1 + · · · + αun = α (um + um+1 + · · · + un ) = α uk .
k=m k=m

Caso particular da propriedade anterior:


X
n X
n
α=α 1 = α(1 + 1 + · · · + 1) = α (n − m + 1) .
| {z }
k=m k=m
(n−m+1) parcelas

Propriedade 2.0.3.
X
n
m+n
k= (n − m + 1) .
k=m
2

Demonstração.
Uma vez que
X
n
k = m + (m + 1) + (m + 2) + · · · + (n − 1) + n,
k=m

é a soma1 de n − m + 1 termos de uma progressão aritmética de razão 1, obtém-se o


resultado pretendido. ¤

Propriedade 2.0.4.
X
n
1 − rn−m+1 m
rk = ·r .
k=m
1−r

Demonstração.
Análoga à anterior, tendo em conta que estamos perante uma progressão geométrica2
de razão r. ¤

1Recordeque, se (un ) é uma progressão aritmética de razão r, então a soma dos p primeiros termos
u1 + up
é dada por S = · p.
2
2Recorde que, se (u ) é uma progressão geométrica de razão r, então a soma dos p primeiros
n
1 − rp
termos é dada por S = · u1 .
1−r
2. PROPRIEDADES 55

Propriedade 2.0.5.
X
−m X
n
uk = u−k .
k=−n k=m

Demonstração.

X
−m
uk = u−n + u−n+1 + · · · + u−m−1 + u−m =
k=−n

X
n
= u−m + u−(m+1) + · · · + u−(n−1) + u−n = u−k .
k=m

Propriedade 2.0.6.
X
n+r X
n
uk = uk+r .
k=m+r k=m

Demonstração.

X
n+r X
n
uk = um+r + um+r+1 + · · · + un+r = uk+r .
k=m+r k=m

Propriedade 2.0.7.
X
r X
n X
n
uk + uk = uk , m ≤ r < n.
k=m k=r+1 k=m

Demonstração.
X
r X
n
uk + uk = um + um+1 + · · · + ur + ur+1 + · · · + un =
k=m k=r+1

X
n
= um + um+1 + · · · + un = uk .
k=m

¤
56 III. SOMATÓRIOS

Propriedade 2.0.8 (Telescópia).


X
n
(uk − uk−1 ) = un − up−1 .
k=p

Demonstração.
X
n
(uk − uk−1 ) = up − up−1 + up+1 − up + up+2 − up−1 + · · · + un−1
k=p

−un−2+ un − un−1 = un − up−1 .

Exercícios 2.1.

(1) Calcule cada um dos somatórios:


P7
(a) 15 (150)
k=−2

P
5
(b) (3k) (45)
k=0
P
4
(c) (4j + 5) (65)
j=0

P
30
(d) (2 + 5k) (2385)
k=1
P
10 P
−3
(e) (5k 2 ) + (2k − 5k2 ) (−104)
k=3 k=−10

P
15 P
18
(f) k− k (−42)
k=2 k=5
P
500
(g) (1 − 7k) (−876184)
k=5
P
4
(h) 100 (p + 1) (1400)
p=−2

P
105
(i) (2i − 5) (10573)
i=−3

P
100
(j) (3k + 7) (15840)
k=2
2. PROPRIEDADES 57

P
5 ¡ 88573 ¢
(k) 32+n 27
n=−5
99 ¡√
P √ ¢
(l) n− n+1 (−9)
n=1
(2) Resolva em ordem a x cada uma das seguintes equações:
P
124 ¡ 71 ¢
(a) (k + x) = 12000 2
k=5
P
200 P
200 ¡1¢
(b) 4 (k2 + 1) = 20x (k2 + 1) 5
k=1 k=1
P
23 P
20
(c) 3 − x = k2 − (k + 2)2 (−526)
k=3 k=1
P
−5 26 ¡
P ¢ ¡ 28 ¢
(d) 2−k = 3x + 2k − 75
k=−26 k=2
CAPÍTULO IV

Generalidades sobre funções.

1. Aplicações entre conjuntos.

Definição 1.1.
Dados dois quaisquer conjuntos A e B, chama-se aplicação (função) de A em B a toda
a correspondência que a cada elemento de A associa um e um só elemento de B.

Se representarmos a aplicação por f e por x e y, respectivamente, as variáveis


representativas dos elementos de A e de B, escreve-se

f : A −→ B
x −→ y = f (x).
Observação:

• À variável x dá-se o nome de variável independente e à variàvel y chama-se


variável dependente .

• Numa aplicação de A em B há sempre a considerar três conjuntos:

— o domínio sendo o conjunto A, que se representa por Df ;


— o conjunto de chegada sendo o conjunto B;
— o contradomínio sendo o conjunto

f (A) = {f (a) ∈ B : a ∈ A} ,

que habitualmente se representa por D´f ou Im f .

“conjunto das imagens (transformados dos elementos de A por f )”

• f e g são a mesma aplicação se e só se têm o mesmo domínio D, o mesmo


conjunto de chegada e, para qualquer a ∈ D , f (a) = g(a).
59
60 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

• Se f e g são duas aplicações com o mesmo conjunto de chegada, se Df ⊆ Dg


e se f (a) = g(a), qualquer que seja o elemento a ∈ Df , então diz-se que f é
uma restrição de g ou que esta é uma extensão de f .

2. Funções reais de uma variável real. Domínios.

Definição 2.1.
Uma função real de variável real (f.r.v.r.) é uma aplicação de A em R, sendo A um
subconjunto de R.
f : A −→ R
x −→ y = f (x)

Observações:

• Por definição as f.r.v.r. têm conjunto de chegada R.


• Para que sejam bem definidas é necessário indicar apenas o domínio e a
chamada expressão analítica ou lei de transformação.

Como as funções reais de variável real, são em geral definidas pela sua expressão
analítica (expressão designatória), é necessário calcular nesses casos o domínio da ex-
pressão que a define.

Exercício 2.1.
Determine o domínio de cada uma das seguintes funções definidas por:

(1) f (x) = x2 − 4x + 3;
4
(2) g(x) = 2 ;
x +5
x+2
(3) f (x) = ;
x+3
4
(4) h(x) = 2 ;
x − 2x

(5) t(x) = x −√4;
1− x−3
(6) j(x) = ;
√ x+5
(7) m(x) = 3 x − 4;

(8) p(x) = 4 x − 4.
3. GRÁFICO DE UMA FUNÇÃO. 61

O domínio de cada uma destas funções é o conjunto dos valores reais da variável
independente para os quais são possíveis em R as operações indicadas na expressão que
a define. Temos assim as seguintes soluções:

(1) Df = R;
(2) Dg = {x ∈ R : x2 + 5 6= 0} = R;
(3) Df = {x ∈ R : x + 3 6= 0} = RÂ {−3} ;
(4) Dh = {x ∈ R : x2 − 2x 6= 0} = RÂ {0, 2} ;
(5) Dt = {x ∈ R : x − 4 > 0} = [4, +∞[ ;
(6) Dj = {x ∈ R : x − 3 > 0 ∧ x + 5 6= 0} = [3, +∞[ ;
(7) Dm = R;
(8) Dp = {x ∈ R : x − 4 > 0} = [4, +∞[ .

Observações:
No cálculo dos domínios atrás, tiveram-se em atenção as seguintes situações:

• Em R, a divisão só é possível se o divisor for diferente de zero.


• Se o índice de uma raiz é ímpar, a radiciação é possível para todos os valores
da variável independente que dão significado ao radicando.
• Se o índice de uma raiz é par, a radiciação só é possível para os valores da
variável independente que transformam o radicando num valor real nulo ou
positivo, isto é, maior ou igual a zero.

3. Gráfico de uma função.

Uma função f pode ser representada num plano, onde se fixe um sistema de eixos
Oxy, por um conjunto de pontos o qual se diz gráfico ou imagem geométrica de f .

© ª
G = (x, y) ∈ R2 : x ∈ Df ∧ y = f (x) .

Exemplo 3.1.
Considere as funções f : R → R definidas pela fórmula f (x) = mx+b, em que m, b ∈ R.
Funções deste tipo são representadas graficamente por uma linha recta; se m = 0, a
62 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

função é constante e o gráfico é uma recta paralela ao eixo Ox.

f (x) = x + 1 g(x) = −2x + 3


2
y 4
y
1 3

1
-2 -1 1 2
x
-1 -0.5 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
-1 x
-2 -2

f (x) = 2

Refere-se que mais à frente voltamos à representação dos gráficos de algumas funções
particulares de forma mais cuidada.
Apresentam-se de seguida alguns exemplos de gráficos que não representam funções.
Tem-se por exemplo:

1) 2)

Observação: Justifique porque motivo os gráficos representados não representam funções


4. FUNÇÕES DEFINIDAS POR DIFERENTES EXPRESSÕES ANALíTICAS 63

4. Funções definidas por diferentes expressões analíticas

Consideremos a função definida em R da seguinte forma:

x → 3x para x>2
e
x → x+1 para x < 2.
11
Para calcular, por exemplo, f (5) ou f ( ) consideramos
3
f (x) = 3x.

Temos então:
11
f (5) = 15 e f ( ) = 11.
3
Para calcular, por exemplo, f (0) ou f (−1) consideramos

f (x) = x + 1.

Temos então:
f (0) = 1 e f (−1) = 0.

Para definir a função f é costume escrever-se




⎨ 3x se x > 2
x → f (x) =

⎩ x + 1 se x < 2

ou ⎧

⎨ 3x ⇐= x > 2
x → f (x) =

⎩ x+1 ⇐ x < 2.

Exercício 4.1.
Considere a função g definida, em R , por


⎨ x−1 se x < 1
g(x) =

⎩ 3x − 2 se x > 1.

(1) Calcule g(−2), g(0), g(1) e g(3).


64 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

(2) Sendo h ∈ R+ , mostre que

g(1 + h) + 3g(1 − h) = 1.

Soluções:

(1) −3; −1; 1; 7;


(2) Ao cuidado do aluno.

5. Função Módulo.

Por exemplo:

|5| = 5 ; |0| = 0 ; |−5| = 5 isto é |−5| = −(−5) = 5.

De um um modo geral tem-se:




⎨ x se x>0
|x| =

⎩ − x se x < 0.

Assim, em R a função

f (x) = |x| (função módulo) ,

pode escrever-se


⎨ x se x > 0
f (x) =

⎩ −x se x < 0.

Observação: Facilmente se verifica que o gráfico desta função é:

4
y
3

-4 -3 -2 -1 1 2 3 4
x
6. CLASSIFICAÇÃO DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 65

Exemplo 5.1.
Considere, a função real de variável real, g definida por:

g(x) = |x − 4| .

(1) Calcule g(0) e g(6).


Resolução:
g(0) = 4 e g(6) = 2.

(2) Defina a função sem utilizar o símbolo || .


Resolução:


⎨ x−4 se x − 4 > 0
g(x) =

⎩ − (x − 4) se x − 4 < 0,

isto é: ⎧

⎨ x−4 se x > 4
g(x) =

⎩ −x + 4 se x < 4.

6. Classificação de funções reais de variável real.

6.1. Funções sobrejectivas.

Definição 6.1.
Uma função real de variável real f : A −→ R (A ⊂ R) diz-se sobrejectiva se e só se
o seu contradomínio for R.

f é sobrejectiva ⇐⇒ ∀y ∈ R ∃x ∈ A : y = f (x).

Uma função real de variável real f : A −→ B, com A, B ⊂ R é sobrejectiva se e só se


o seu contradomínio for B.

Verifica-se assim que uma função é sobrejectiva se e só se o seu contradomínio


coincide com o conjunto de chegada.
66 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Exercício 6.1.
Dos seguintes gráficos de funções reais, de variável real, diga justificando qual representa
uma função sobrejectiva.

1) 2)
4
y y
2 10

-4 -2 2 4
-2
x
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
-4 x

6.2. Funções injectivas.

Definição 6.2.
Uma aplicação diz-se injectiva se e só se quaisquer dois objectos diferentes têm ima-
gens diferentes.

f é injectiva ⇐⇒ ∀x1 , x2 ∈ Df , x1 6= x2 =⇒ f (x1 ) 6= f (x2 ).

Recorrendo à lei de conversão, esta definição pode tomar a forma

f é injectiva ⇐⇒ ∀x1 , x2 ∈ Df , f (x1 ) = f (x2 ) =⇒ x1 = x2 .

Exercício 6.2.
Dos seguintes gráficos de funções reais, de variável real, diga justificando quais repre-
sentam funções injectivas.

1) 2) 3)
10 4
y y y
20
2
5

-3 -2 -1 1 2 3 -4 -2 2 4
-2 x x
-3 -2 -1 0 1 2 3 -20
x -4
6. CLASSIFICAÇÃO DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 67

6.3. Funções bijectivas.

Definição 6.3.
Uma aplicação diz-se bijectiva se e só se é injectiva e sobrejectiva.

Exercício 6.3.
Dê um exemplo de um gráfico que represente uma função real, de variável real, bijectiva.

6.4. Funções pares e funções ímpares.

Definição 6.4.
f é uma função par sse existem f (x) e f (−x) e f (−x) = f (x), ∀x ∈ Df .

Refere-se que mais à frente iremos verificar que se uma função é par, o seu gráfico
é simétrico em relação ao eixo dos yy. Isto verifica-se porque os valores da função são
iguais quando os valores da variável independente x são simétricos.

Definição 6.5.
f é uma função ímpar sse existem f (x) e f (−x) e f (−x) = −f (x), ∀x ∈ Df .

Do mesmo modo iremos verificar à frente que se uma função é ímpar, o gráfico é
simétrico em relação à origem do referencial. Significa isto que o gráfico da função tem
a origem como centro de simetria. Note que nesta situação, os valores da função são
simétricos, quando os valores da variável independente x, são simétricos.

6.5. Funções periódicas.

Definição 6.6.
Uma função é periódica se existe um número a tal que

f (x + a) = f (x), ∀x ∈ Df

Ao menor número positivo a que verifica a igualdade anterior chama-se


período fundamental.
68 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Exemplo 6.1.
y = sin x é uma função peródica de período fundamental 2π.
Com efeito:
sin(x + α) = sin x; α = 2kπ, k ∈ Z.

Logo, para k = 1, vem


α = 2π.

7. Monotonia. Funções limitadas.

7.1. Funções monótonas.

Definição 7.1.
Uma função f diz-se crescente (sentido lato) em A ⊆ Df se e só se para quaisquer
x, y ∈ A se tem
x < y ⇒ f (x) ≤ f (y).

Definição 7.2.
Uma função f diz-se estritamente crescente em A ⊆ Df se e só se para quaisquer
x, y ∈ A se tem
x < y ⇒ f (x) < f (y).

Definição 7.3.
Uma função f diz-se decrescente (sentido lato) em A ⊆ Df se e só se para quaisquer
x, y ∈ A se tem
x < y ⇒ f (x) ≥ f (y).

Definição 7.4.
Uma função f diz-se estritamente decrescente em A ⊆ Df se e só se para quaisquer
x, y ∈ A se tem
x < y ⇒ f (x) > f (y).

Observação: Refere-se que estes conceitos serão utilizados na resolução de algumas


inequações à frente.
8. ZEROS DE UMA FUNÇÃO 69

7.2. Funções limitadas.

Definição 7.5.
Uma função limitada, é uma função cujo contradomínio é um conjunto limitado, ou
seja, um conjunto com majorantes e minorantes.

Definição 7.6.
Um número real M é majorante (respectivamente m é minorante) de um conjunto
A se e só se todos os elementos a ∈ A satisfazem a relação a ≤ M (respectivamente
a ≥ m).

A definição de função limitada em A é equivalente à afirmação de que existe um


número real L tal que
|f (x)| ≤ L,

qualquer que seja x ∈ A.

Exercício 7.1.
Dos seguintes gráficos de funções reais, de variável real, diga justificando quais repre-
sentam funções limitadas.

1) 2) 3)

y 0.8
1.0 1 y
y 20
0.6
0.4
0.2 -4 -2 2 4 -4 -2 2 4
x x
-4 -2 0 2 4 -20
x -1

8. Zeros de uma função

Definição 8.1.
Zeros de uma função são os valores da variável x para os quais a função se anula.

x1 é zero de f ⇐⇒ f (x1 ) = 0.
70 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Exemplo 8.1.
Determine os zeros das seguintes funções, definidas, em R.

(1) f (x) = 3x + 6.
Resolução:

f (x) = 0 ⇐⇒ 3x + 6 = 0 ⇐⇒ x = −2

logo o zero de f é −2.


(2) g(x) = x2 + 5.
Resolução:

g(x) = 0 ⇐⇒ x2 + 5 = 0 ⇐⇒ x2 = −5 (Condição impossível)

logo g não tem zeros.


(3) f (x) = (x − 1) . (x2 − 16) .
Resolução:

f (x) = 0 ⇐⇒ (x − 1) . (x2 − 16) = 0


⇐⇒ x − 1 = 0 ∨ x2 − 16 = 0
⇐⇒ x = 1 ∨ x = −4 ∨ x = 4

logo os zeros de f são −4, 1 e 4.

x2 − 4
(4) f (x) = .
x−1

Resolução:
x2 − 4
Temos que resolver a equação fraccionária = 0.
x−1
O domínio da equação é R Â {1} . Como

x2 − 4 = 0 ⇐⇒ x = −2 ∨ x = 2,

as soluções possíveis são −2 e 2. Atendendo a que ambas pertencem ao


domímio, tem-se que ambas são soluções da equação. Assim os zeros de f
são −2 e 2.
9. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 71

9. Operações com funções

9.1. Soma.
Dadas duas funções reais de variável real f e g, chama-se soma de f com g à função
que se representa por f + g e que tem por
• domínio
Df +g = Df ∩ Dg

• expressão analítica

(f + g) (x) = f (x) + g(x).

Exemplo 9.1.
Considere, em R, as funções definidas por:

x 1
f (x) = e g(x) = .
x−2 x
(1) Calcule Df +g .
Resolução:

Df +g = Df ∩ Dg = RÂ {2} ∩ RÂ {0} = RÂ {0, 2} .

(2) Determine (f + g) (3) .


Resolução:
3 1 10
(f + g) (3) = f (3) + g(3) = + = .
3−2 3 3
(3) Defina f + g.
Resolução:
Resta determinar a expressão analítica de f + g. Tem-se:
x 1
(f + g) (x) = f (x) + g(x) = + .
x−2 x
Assim:
f + g : RÂ {0, 2} −→ R
x 1
x −→ + .
x−2 x
72 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Exercício 9.1.
Sejam r e t duas funções reais de variável real definidas por:

r(x) = 2 − 1 − x
e
t(x) = 3 + x.

(1) Defina r + t.
(2) Calcule os zeros de r + t.

Soluções:

(1)
r + t : ]−∞, 1] −→ R

x −→ 5 + x − 1 − x.
(2) −3.

9.2. Diferença.
Dadas duas funções reais de variável real f e g, chama-se diferença de f com g à função
que se representa por f − g e que tem por
• domínio
Df −g = Df ∩ Dg

• expressão analítica

(f − g) (x) = f (x) − g(x).

9.3. Produto.
Dadas duas funções reais de variável real f e g, chama-se produto de f com g à função
que se representa por f.g e que tem por
• domínio
Df ×g = Df ∩ Dg

• expressão analítica

(f × g) (x) = f (x) × g(x).


9. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 73

Exemplo 9.2.
Considere, em R,

h(x) = x−2−2
e

t(x) = x − 2 + 2.
(1) Determine a expressão analítica que define h × t.
Resolução:
¡√ ¢ ¡√ ¢
(h × t) (x) = h(x) × t(x) = x−2−2 × x−2+2 =
¡√ ¢2
= x − 2 − 22 = x − 2 − 4 = x − 6.

(2) A funcão definida em R por s(x) = x − 6 é idêntica a h × t? Justifique.


Resolução:

Dh = Dt = {x ∈ R : x − 2 > 0} = {x ∈ R : x > 2} = [2, +∞[

vem
Dh×t = Dh ∩ Dt = [2, +∞[ .

Assim, verifica-se que têm a mesma expressão analítica mas não tem o mesmo
domínio, pois Dh×t = [2, +∞[ e Ds = R, logo não são idênticas.

9.3.1. Produto de um escalar por uma função.


Sendo f uma função constante, por exemplo, f (x) = λ ∀x ∈ R, o produto f × g tem
por domínio Dg , representa-se por λg e a expressão analítica é dada por

(λg) (x) = λg (x) , ∀x ∈ Dg .

9.4. Quociente.
O quociente de duas funções f e g, reais de variável real é uma função que tem por

• domínio
D f = Df ∩ Dg ∩ {x ∈ R : g(x) 6= 0} .
g
74 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

• expressão analítica
µ ¶
f f (x)
(x) = .
g g(x)

Exemplo 9.3.
√ f
Sendo f (x) = x + 1 e g(x) = x2 − 2x, em R, defina .
g
Resolução:

(1) Domínio. Sendo

Df = {x ∈ R : x + 1 > 0 } = [−1, +∞[

Dg = R

© ª
{x ∈ R : g(x) 6= 0} = x ∈ R : x2 − 2x 6= 0 = {x ∈ R : x(x − 2) 6= 0} =

= {x ∈ R : x 6= 0 ∧ x − 2 6= 0} = {x ∈ R : x 6= 0 ∧ x 6= 2} =

= RÂ {0, 2}

vem

Df = Df ∩ Dg ∩ {x ∈ R : g(x) 6= 0} = [−1, +∞[ ∩ R ∩ RÂ {0, 2} =


g
= [−1, 0[ ∪ ]0, 2[ ∪ ]2, +∞[ .

(2) Expressão analítica.


µ ¶ √
f f (x) x+1
(x) = = 2
g g(x) x − 2x

implicando que

f
: [−1, +∞[ Â {0, 2} −→ R
g √
x+1
x −→ 2 .
x − 2x
9. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 75

9.5. Composição de funções.

Definição 9.1.
Se f e g são f.r.v.r., com domínios Df e Dg , respectivamente, define-se fog, fazendo

(f ◦ g) (x) = f [g(x)] ,

sendo o seu domínio o conjunto

Df ◦g = {x ∈ R : x ∈ Dg ∧ g(x) ∈ Df } .

Observação: Transformam-se por f os elementos do contradomínio da função g.

Exemplo 9.4.
Consideremos as funções reais de variável real, definidas por
x
f (x) = 2x − 1 e g(x) =
x−2
e caracterizemos f og.
Resolução:
(1) Domínio. Sendo

Df = R

Dg = RÂ {2} ,

vem
½ ¾
x
Df ◦g = {x ∈ R : x ∈ Dg ∧ g(x) ∈ Df } = x ∈ R : x 6= 2 ∧ ∈R =
x−2
= {x ∈ R : x 6= 2 ∧ x 6= 2} = {x ∈ R : x 6= 2} = RÂ {2}

(2) Expressão analítica.


µ ¶
x x x+2
(f ◦ g) (x) = f [g(x)] = f =2 −1=
x−2 x−2 x−2
implicando que

f ◦ g : RÂ {2} −→ R
x+2
x −→ .
x−2
76 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Exemplo 9.5.
A função de domínio [−1, 1] definida por

y(x) = 1 − x2

pode ser vista como a composta das funções

g(x) = 1 − x2

f (x) = x,

tendo-se

y = f ◦ g.

Note que y 6= g ◦ f que é a função de domínio R+


0 definida por

√ ¡√ ¢2
(g ◦ f ) (x) = g [f (x)] = g( x) = 1 − x = 1 − x.

Nota:

No exemplo anterior, obtivemos expressões diferentes f ◦ g e g ◦ f.


Assim, é falsa a proposição:

∀ f, g , f ◦ g = g ◦ f .

Duas funções, f e g , dizem-se permutáveis se e só se f ◦ g = g ◦ f.

Exercício 9.2.
São dadas, em R, as funções definidas por:

r(x) = x2 + 1

s(x) = x−5

t(x) = x − 4.

(1) Defina r ◦ s.
(2) Justifique porque não são idênticas as funções r ◦ s e t.
10. A FUNÇÃO IDENTIDADE E FUNÇÃO INVERSA 77

Soluções:

(1)
r ◦ s : [5, +∞[ −→ R
x −→ x − 4
(2) Têm a mesma expressão analítica, mas os domínios são diferentes pois

Dr◦s = [5, +∞[ e Dt = R.

10. A função identidade e função inversa

10.1. Função identidade.

Definição 10.1.
Sendo A ⊂ R, chama-se função identidade à função

f : A −→ A
x −→ x.

Quando A = R o gráfico da função identidade é a bissectriz dos quadrantes ímpares.

10.2. Função inversa.


Para as f.r.v.r. é usual e tem muito interesse definir-se a inversa de uma função que
seja, pelo menos, injectiva.
Sendo f injectiva, para que a inversa f −1 esteja bem definida, o domínio é o
contradomínio de f e não o conjunto de chegada.

Definição 10.2.
Sendo f uma função definida de Df em Df0 , a função inversa de f designa-se por f −1
e tem-se,
y = f (x), x ∈ Df ⇐⇒ x = f −1 (y), y ∈ Df0

Exemplo 10.1.
A função bijectiva de domínio R definida por f (x) = 2x + 5, tem por inversa a função
x−5
de domínio R definida por f −1 (x) = .
2
78 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Obtém-se a expressão designatória de f −1 resolvendo em ordem a x a equação y =


2x + 5. Tem-se:
y−5
y = 2x + 5, x ∈ R ⇐⇒ x = , y ∈ R,
2
y−5
implicando que f −1 (y) = . Como habitualmente, designa-se os elementos do
2
domínio por x e os transformados por y, substituindo-se a letra y por x

f −1 : R −→ R
x−5 .
x −→ y =
2

Nota:

O gráfico de f −1 pode ser obtido do de f através duma simetria sobre


a recta de equação y = x (bissectriz dos quadrantes ímpares). Note
que se f e g são funções inversas, então

(f ◦ g) (x) = x, ∀x ∈ Dg
e
(g ◦ f ) (x) = x, ∀x ∈ Df .

11. Funções polinomiais

Definição 11.1.
A uma função real de variável real, que possa ser definida por um polinómio numa
variável, chama-se função polinomial.

Observação: Como uma função deste tipo está bem definida para todo o número
real, então o seu domínio é R.

São exemplos de funções polinomiais, funções definidas por expressões do tipo:

¡ ¢
2x + 1; x2 + 4x + 1; (x + 1) 2x2 − 1 + 2x; ...
11. FUNÇÕES POLINOMIAIS 79

11.1. Função afim.

Definição 11.2.
Chama-se função afim numa variável real x a toda a função do tipo

f : R −→ R
x −→ ax + b

em que a e b são números reais.

Exemplo 11.1.
Mostre que a função y definida, em R, por

y = (2x − 3)2 − x (4x − 1)

é uma função afim.


Resolução:
(1)
D=R

(2)
y = (2x − 3)2 − x (4x − 1) ⇐⇒ y = −11x + 9.

Propriedades

Consideremos a função afim:

y = ax + b com a, b ∈ R.

Vamos analisar dois casos: a = 0 e a 6= 0.


(1) a = 0
• Neste caso, tem-se uma função constante, y = b.
• O seu gráfico é uma recta paralela ao eixo dos xx, que intersecta o eixo
dos yy no ponto (0, b) .
• Se b = 0, o gráfico coincide com o eixo do xx.
80 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

• A função não é injectiva pois quaisquer dois elementos diferentes têm


imagens iguais (b). Verifica-se também que não é sobrejectiva visto o seu
contradomínio ser {b} e o conjunto de chegada ser R.
• Se b 6= 0, a função não tem zeros, mas se b = 0 todos os números reais
são zeros da função.
(2) a 6= 0
• A função y = x + 3 é deste tipo: a = 1 e b = 3.

4
y
3

-4 -3 -2 -1 1 2 3 4
x
-1

• Do seu gráfico conclui-se:


— tem um zero: x = −3;
— é positiva se x > −3;
— é negativa se x < −3;
— é injectiva, quaisquer dois objectos diferentes têm imagens difer-
entes, isto é,

x1 6= x2 =⇒ y1 6= y2 , ∀x1 , x2 ∈ R;

— é sobrejectiva, visto que o contradomínio é igual ao conjunto de


chegada, isto é Dy0 = R;
— é crescente.
11. FUNÇÕES POLINOMIAIS 81

• Consideremos agora a função afim y = −2x + 4 em que a = −2 e b = 4.

6
y
4

-3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-2

• Do seu gráfico conclui-se:


— tem um zero: x = 2;
— é positiva se x < 2;
— é negativa se x > 2;
— é injectiva, quaisquer dois objectos diferentes têm imagens dife-
rentes, isto é,

x1 6= x2 =⇒ y1 6= y2 , ∀x1 , x2 ∈ R;

— é sobrejectiva, visto que o contradomínio é igual ao conjunto de


chegada, isto é Dy0 = R;
— é decrescente.
(3) Caso geral (y = ax + b) com a 6= 0.
b
Zeros y = 0 ⇐⇒ ax + b = 0 ⇐⇒ x = −
a

Sinal
Função positiva Função negativa
b b
ax + b > 0 ⇐⇒ x > − a>0 ax + b < 0 ⇐⇒ x < −
a a

b b
ax + b > 0 ⇐⇒ x < − a<0 ax + b < 0 ⇐⇒ x > −
a a
82 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

• É injectiva, isto é, é verdadeira a proposição

x1 6= x2 =⇒ y1 6= y2 , ∀x1 , x2 ∈ R

• é sobrejectiva, pois invertendo a função tem-se:

y = ax + b ⇐⇒ y − b = ax
y−b
⇐⇒ x = .
a

O domínio da função inversa é R, portanto o contradomínio da função é


também R, o que prova a sobrejectividade.

11.2. Função quadrática.

Definição 11.3.
Função quadrática é toda a função que pode ser definida por um polinómio do 2o . grau
numa variável real.

f : R −→ R
x −→ ax2 + bx + c com a, b, c ∈ R e a 6= 0.

Zeros

Os zeros da função quadrática são as soluções da equação



2 −b ± b2 − 4ac
ax + bx + c = 0 ⇐⇒ x = .
2a

Refere-se, que muitas vezes há interesse em saber se a função quadrática tem ou


não zeros, independentemente de se conhecer o seu valor.
Nesta situação, calculando o sinal de

b2 − 4ac
11. FUNÇÕES POLINOMIAIS 83

que se chama “discriminante ” e representa-se por 4, tem-se:


⎧ √

⎪ −b − b2 − 4ac
⎨ x1 =
2a
• 4 > 0 ⇒ há dois zeros reais : √

⎪ 2
⎩ x = −b + b − 4ac
2
2a

b
• 4 = 0 ⇒ há um zero real ( duplo): x1 = −
2a

• 4 < 0 ⇒ Não há zeros reais.

Exemplo 11.2.
Calcule os zeros de cada uma das funções seguintes, definidas em R.

(1) f (x) = 3x2 .


Resolução

f (x) = 0 ⇐⇒ 3x2 = 0 ⇐⇒ x = 0 Zero : 0.

(2) g(x) = 2x2 + 3.


Resolução
3
g(x) = 0 ⇐⇒ 2x2 + 3 = 0 ⇐⇒ x2 = − N ão tem zeros.
2
(3) h(x) = x2 − 3x + 2.
Resolução

3± 9−8
h(x) = 0 ⇐⇒ x2 − 3x + 2 = 0 ⇐⇒ x = ⇐⇒ x = 1 ∨ x = 2
2
zeros : 1; 2.

Exemplo 11.3.
Determine k, de modo que a expressão 2x2 −3x+k, defina uma função quadrática com:
(1) dois zeros;
resolução
9
4 > 0 ⇐⇒ 9 − 4.2.k > 0 ⇐⇒ k < ;
8
84 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

(2) um zero;
resolução
9
4 = 0 ⇐⇒ 9 − 4.2.k = 0 ⇐⇒ k = ;
8
(3) nenhum zero;
resolução
9
4 < 0 ⇐⇒ 9 − 4.2.k < 0 ⇐⇒ k > .
8
Estudo gráfico da função quadrátrica

Comecemos por representar o gráfico de funções do tipo

x → y = ax2 , a 6= 0 e b = c = 0.

(1) a > 0
• Consideremos a função definida por y = 2x2 , cujo domínio é R.
• Considerando um referencial cartesiano ortogonal e monométrico, come-
cemos por determinar alguns pontos.

• Se x = 0 vem y=0 ; (0, 0)


• Se x = 1 vem y=2 ; (1, 2)
• Se x = 2 vem y=8 ; (2, 8)
• Se x = −1 vem y=2 ; (−1, 2)
• Se x = −2 vem y=8 ; (−2, 8)
Fazendo a marcação destes pontos e unindo-os de seguida por uma linha
contínua obtém-se o gráfico de y = 2x2 .

y 15

10

-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
x
11. FUNÇÕES POLINOMIAIS 85

Esta linha chama-se parábola e, tem como eixo de simetria o eixo dos
yy; o ponto (0, 0) situado sobre este eixo é o vértice da parábola. Da
observação do gráfico conclui-se ainda:
— é decrescente no intervalo ]−∞, 0[ e crescente no intervalo ]0, +∞[ ;
— não é injectiva (justifique);
— tem como contradomínio o intervalo [0, +∞[ ;
— tem a concavidade voltada para a parte positiva do eixo dos yy
(para cima) ;
— não é sobrejectiva (justifique);
— é uma função par (justifique).
(2) a < 0
• Consideremos a função definida por y = −2x2 , cujo domínio é R.
• Tal como no exemplo anterior, atribuímos diferentes valores a x e calcu-
lamos os correspondentes valores de y.

• Se x = 0 vem y=0 ; (0, 0)


• Se x = 1 vem y = −2 ; (1, −2)
• Se x = 2 vem y = −8 ; (2, −8)
• Se x = −1 vem y = −2 ; (−1, −2)
• Se x = −2 vem y = −8 ; (−2, −8)

Tem-se:

x
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
y

-5

-10

-15

• Obteve-se assim uma parábola com:


86 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

— vértice na origem;
— concavidade no sentido negativo do eixo dos yy (voltada para baixo) ;
— eixo de simetria coincidente com o eixo dos yy;
— contradomínio o intervalo ]−∞, 0] .
• E a função é:
— decrescente no intervalo ]0, +∞[ e crescente no intervalo ]−∞, 0[ ;
— não injectiva (justifique);
— não sobrejectiva (justifique);
— par (justifique).
Nota:
Uma parábola tem:
• um eixo de simetria;
• o vértice (ponto da parábola que pertence ao eixo de simetria) ;
• concavidade voltada para cima se a > 0;
• concavidade voltada para baixo se a < 0.
Vamos agora mostrar como representar o gráfico da função quadrática (caso geral) ,
isto é, y = ax2 + bx + c com a, b, c ∈ R e a 6= 0.
É facil de verificar que para obter o gráfico de uma função quadrática, basta deter-
minar as coordenadas do vértice e os seus zeros, caso existam.

Exemplo 11.4.
Represente graficamente funções abaixo indicadas.
(1) f (x) = −2x2 + 8x + 10;
Resolução.
• Zeros:

f (x) = 0 ⇐⇒ −2x2 + 8x + 10 = 0 ⇐⇒ x = −1 ∨ x = 5.

• Coordenadas do vértice.
Atendendo a que a parábola tem um eixo de simetria, o vértice vai estar
exactamente a meio dos zeros, ou melhor, a abcissa do vértice é a média
11. FUNÇÕES POLINOMIAIS 87

dos zeros da função. Assim a abcissa do vértice é

−1 + 5
xv = =2
2

e a ordenada do vértice será

yv = f (2) = −8 + 16 + 10 = 18,

obtendo-se

V −→ (2, 18) .

• Gráfico.
Atendendo a que a concavidade é virada para baixo (a = −2 < 0) , podemos
representar o gráfico da função, tendo-se:

20
y
15

10

-2 -1 1 2 3 4 5 6
x
-5

(2) g(x) = x2 − 10x + 25.


Resolução.
• Zeros:

g(x) = 0 ⇐⇒ x2 − 10x + 25 = 0 ⇐⇒ x = 5.

• Coordenadas do vértice.
Neste caso o zero é o vértice da função, visto a parábola ser tangente ao
eixo das abcissas.
• Gráfico.
88 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Sendo a = 1 > 0 (concavidade virada para cima) , vem:

10
y

-1 1 2 3 4 5 6 7 8
x

(3) h(x) = x2 + 4x + 5.
Resolução.
• Zeros:

2 −4 ± 16 − 4 × 1 × 5
h(x) = 0 ⇐⇒ x + 4x + 5 = 0 ⇐⇒ x = ,
2×1

que é uma equação impossível em R.


• Coordenadas do vértice.
Como a função não tem zeros, vamos arranjar dois pontos com a mesma
imagem. O vértice ficará no meio deles dada a simetria da parábola. O
mais fácil nesta situação é procurar os objectos cuja imagem seja 5 porque
a equação do 2o grau a resolver simplifica-se. Tem-se:

h(x) = 5 ⇐⇒ x2 + 4x + 5 = 5 ⇐⇒ x2 + 4x = 0 ⇐⇒

⇐⇒ x (x + 4) = 0 ⇐⇒ x = 0 ∨ x + 4 = 0 ⇐⇒ x = 0 ∨ x = −4.

A abcissa do vértice é a média destas duas abcissas:

0 + (−4)
xv = = −2.
2

A ordenada é

yv = h(−2) = 4 − 8 + 5 = 1.
11. FUNÇÕES POLINOMIAIS 89

Temos então que


V −→ (−2, 1) .

• Gráfico.
Sendo a = 1 > 0 (concavidade virada para cima) vem:

10
y
8

-5 -4 -3 -2 -1 1 2
x

Nota:

Devido à simetria da parábola, a abcissa do vértice fica sempre a igual


distância de dois objectos com a mesma imagem. Assim, podemos
sempre seguir o método exposto no exemplo anterior para facilmente
encontrar as coordenadas do vértice. Fazemos então:

ax2 + bx + c = c ⇐⇒ ax2 + bx = 0 ⇐⇒ x (ax + b) = 0 ⇐⇒


b
⇐⇒ x = 0 ∨ ax + b = 0 ⇐⇒ x = 0 ∨ x = − .
a
A abcissa do vértice é a média destes dois valores:
b
xv = − .
2a
A ordenada do vértice é

yv = f (xv ) .

Tem-se assim:
µ µ ¶¶
b b
V −→ (xv , yv ) = − , f − .
2a 2a
90 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

11.3. Inequações do 2.o grau.

Definição 11.4.
Chama-se inequação do 2.o grau na variável x a toda a condição que se possa reduzir
à forma

ax2 + bx + c > 0 ou ax2 + bx + c < 0

com a, b e c ∈ R e a 6= 0.

Nota:

São ainda inequações do 2.o . grau as condições:

ax2 + bx + c > 0 e ax2 + bx + c ≤ 0

com a, b e c ∈ R e a 6= 0.

Para resolver inequações do 2.o grau basta estudar o sinal da função quadrática
y = ax2 + bx + c.
Note que qualquer função quadrática toma o sinal de a, fora do intervalo dos zeros,
e o sinal contrário ao de a, dentro do intervalo dos zeros.

Exemplo 11.5.
Resolva, em R, as seguintes inequações.

(1) x2 − 4x + 3 > 0.
Resolução.
Os zeros serão dados por

x2 − 4x + 3 = 0 ⇐⇒ x = 1 ∨ x = 3.

Sabendo que a função f (x) = x2 −4x+3 toma o sinal contrário ao de a quando


x pertence ao intervalo dos zeros e o sinal de a fora desse intervalo, tem-se:

x2 − 4x + 3 > 0 ⇐⇒ x ∈ ]−∞, 1[ ∪ ]3, +∞[ .


11. FUNÇÕES POLINOMIAIS 91

(2) 5x − 2x2 + 7 > 4.


Resolução.

5x − 2x2 + 7 > 4 ⇐⇒ −2x2 + 5x + 3 > 0.

Os zeros serão dados por


1
−2x2 + 5x + 3 = 0 ⇐⇒ x = − ∨ x = 3.
2
Sabendo que a função f (x) = −2x2 + 5x + 3 toma o sinal contrário ao de a
quando x pertence ao intervalo dos zeros e o sinal de a fora desse intervalo,
tem-se:
∙ ¸
1
−2x + 5x + 3 > 0 ⇐⇒ x ∈ − , 3 .
2
2
(3) x2 + 4 < 3x.
Resolução.

x2 + 4 < 3x ⇐⇒ x2 − 3x + 4 < 0 ⇐⇒ x ∈ ∅.

Os zeros serão dados por



2 3± 9 − 16
x − 3x + 4 = 0 ⇐⇒ x = (equacão ímpossivel em R) .
2
A função f (x) = x2 − 3x + 4 não tem zeros e, portanto, toma sempre o sinal
de a. Assim, a inequação é uma condição ímpossivel.
x+2 2
(4) < .
1 − x 2x + 1
Resolução.
x+2 2 x+2 2
< ⇐⇒ − < 0 ⇐⇒
1−x 2x + 1 1 − x 2x + 1
2x2 + 7x x (2x + 7)
⇐⇒ < 0 ⇐⇒ < 0.
(1 − x) (2x + 1) (1 − x) (2x + 1)
Para resolver a inequação, podemos recorrer a um quadro de sinais. Temos
então:
92 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

x −∞ − 72 − 12 0 1 +∞
2x2 + 7x + 0 − − − 0 + + +
−2x2 + x + 1 − − − 0 + + + 0 −
2x2 + 7x
− 0 + s/s − 0 + s/s −
−2x2 + x + 1
Verifica-se que as soluções da inequação são os valores de x tais que:
¸ ∙ ¸ ∙
7 1
x ∈ −∞, − ∪ − , 0 ∪ ]1, +∞[ .
2 2

12. Limites de funções reais de variável real.

12.1. Noções topológicas.

Definição 12.1.
Dados dois números reais x e y, chama-se distância de x a y ao valor absoluto da sua
diferença:

d (x, y) = |x − y| .

Exemplo 12.1.
Determine a distância entre os números reais:

(1) 2 e 3.
Resolução: d (2, 3) = |2 − 3| = |−1| = 1.
(2) 0 e −3.
Resolução: d (0, −3) = |0 − (−3)| = |3| = 3.
(3) − 12 e − 34
¡ ¢ ¯ ¡ ¢¯ ¯ ¯
Resolução: d − 12 , − 34 = ¯− 12 − − 34 ¯ = ¯ 14 ¯ = 14 .

Definição 12.2.
Sendo a um número real qualquer e δ um número real positivo, chama-se vizinhança
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 93

de centro a e raio δ ao conjunto dos números reais cuja distância a a é inferior a δ.

Vδ (a) = {x ∈ R : |x − a| < δ}
= ]a − δ, a + δ[ .

Exemplo 12.2.
Considere as seguintes vizinhanças:
(1) V0,1 (2) = {x ∈ R : |x − 2| < 0, 1} = ]1, 9; 2, 1[ ;
(2) V0,01 (0) = {x ∈ R : |x| < 0, 01} = ]−0, 01; 0, 01[ .

Exercício 12.1.
Determine um valor de δ de modo que:
(1) Vδ (3) ⊂ V0,1 (3) ;
(2) Vδ (3) ⊂ ]2, 5; 3, 02[ .

Definição 12.3.
Sejam C um subconjunto de R e a um elemento de C. Diz-se que a é ponto interior
de C se e só se existe pelo menos uma vizinhança de a contida em C.

a é ponto interior de C ⇔ ∃δ ∈ R+ : Vδ (a) ⊂ C

Ao conjunto de todos os pontos interiores de C chama-se interior de C e representa-se


por int (C).

Exemplo 12.3.

(1) Seja C = ]1, 2[ . O ponto 1, 6 é ponto interior de C, porque

V0,1 (1, 6) ⊂ ]1, 2[ .


94 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Já 2 não é ponto interior de C, pois qualquer vizinhança de 2 possui pontos


que não pertencem a ]1, 2[ . O interior de C é o próprio conjunto C.
(2) Seja B = ]−∞, 3] ∪ {5} . Então, int(B) = ]−∞, 3[ .

Definição 12.4.
Sejam C um subconjunto de R e b um número real; b diz-se ponto fronteiro de C se
e só se as intersecções de qualquer vizinhança de b com C e com o seu complementar
forem ambas não vazias.

b é ponto fronteiro de C ⇔ ∀δ ∈ R+ , Vδ (b) ∩ C 6= ∅ ∧ Vδ (b) ∩ R\C 6= ∅

Ao conjunto de todos os pontos fronteiros de C chama-se fronteira de C e representa-se


por F r(C).

Exemplo 12.4.
Relativamente ao conjunto ]1, 2[ do exemplo anterior, os pontos fronteiros são 1 e 2 e
a fronteira é o conjunto {1, 2} .

Exemplo 12.5.
Seja B = ]−∞, 3] ∪ {5} . Então F r(B) = {3, 5} .

Exercício 12.2.
Determine o interior e a fronteira de cada um dos conjuntos de números reais:
(1) A = {2, 3} ∪ ]4, 5[ ;
¤ £
(2) B = −3, 12 ;
(3) C = {x ∈ R : |x + 1| ≤ 3} .

Exercício 12.3.
Dê um exemplo de um conjunto que:
(1) coincida com a sua fronteira;
(2) coincida com o seu interior.

Definição 12.5.
Sejam C um subconjunto de R e d um número real; diz-se que d é ponto de acumulação
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 95

de C se e só se em qualquer vizinhança de d existe pelo menos um elemento de C


diferente de d.

d é ponto de acumulação de C ⇔ ∀δ ∈ R+ , ∃a ∈ C : a 6= d ∧ a ∈ Vδ (d)

O conjunto de todos os pontos de acumulação de um conjunto C chama-se derivado de


C e representa-se por C’.

Definição 12.6.
Chama-se ponto isolado de C a um elemento de C que não é ponto de acumulação.

Exemplo 12.6.
Seja A = ]1, 2[ ∪ {3} . Tem-se A0 = [1, 2] , 3 é ponto isolado de A.

12.2. Definição de limite de uma função.

Definição 12.7 (Limite de Cauchy).


Seja f uma função real de variável real e a ∈ R um ponto de acumulação do seu
domínio. Diz-se que o limite de f quando x tende para a é o número real b se e só se
para toda a vizinhança de b de raio ε existe uma vizinhança de a de raio δ tal que

x ∈ Vδ (a) \ {a} =⇒ f (x) ∈ V ε (b) ,

isto é,

lim f (x) = b ⇐⇒ ∀ε > 0 ∃δ > 0 : 0 < |x − a| < δ =⇒ |f (x) − b| < ε.


x→a
96 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

• O limite de f quando x tende para a dá-nos o comportamento da função


quando x é vizinho de a não havendo necessidade de f estar definida em a.
• Para tal é necessário que f esteja definida numa vizinhança de a, excepto pos-
sivelmente em a, daí que a definição exija que a seja um ponto de acumulação
do domínio de f.

Observações:

• Se b é o limite de f quando x tende para a, esse limite é o único.


• Se b é o limite de f quando x tende para a, b é um número real.
• Em caso algum, b é uma expressão com variáveis.
• A afirmação “b é o limite da função f ” não tem qualquer sentido se não indicar
a condição “quando x tende para a”.

Exemplo 12.7.
Dada a função definida por f (x) = x, represente-a graficamente e verifique ( grafica-
mente) que lim f (x) = a.
x→a
Resolução:

Em primeiro lugar Df = R pelo que todos os pontos são de acumulação.


Basta tomar δ = ε para ter a certeza que para todo o ε > 0

x ∈ Vδ (a) \ {a} =⇒ f (x) ∈ V ε (a) .


12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 97

12.3. Extensão da noção de limite.


1
Considere-se a função f definida em R\ {0} por f (x) = .
x

Vamos examinar o comportamento de f nas vizinhanças de zero.

x = 0, 000 0001 , f (x) = 10 000 000


x = −0, 000 0001 , f (x) = −10 000 000
x = 0, 000 000 001 , f (x) = 1 000 000 000
x = −0, 000 000 001 , f (x) = −1 000 000 000
Estes exemplos mostram que, a valores de x “ muito pequenos ” em módulo, corre-
spondem imagens f (x) “ muito grandes ” em módulo.
Estudemos agora o comportamento de f para valores de x “ grandes ” em módulo.

Como no exemplo anterior, considerem-se os caso seguintes:

x = 10 000 000 , f (x) = 0, 000 0001


x = −10 000 000 , f (x) = −0, 000 0001
x = 1 000 000 000 , f (x) = 0, 000 000 001
x = −1 000 000 000 , f (x) = −0, 000 000 001
A valores de x muito grandes em módulo correspondem imagens f (x) muito peque-
nas em módulo.
Vamos agora estudar o caso geral das funções cujos valores se tomam arbitraria-
mente grandes numa vizinhança de um número a, ou arbitrariamente próximos de um
valor b para valores “grandes ”de x. Para tal é útil a introdução de dois números que
não são números reais; um que é maior que todos os números reais, o outro menor
98 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

que todos os números reais. Estes dois números correspondem às noções intuitivas de
infinito positivo e infinito negativo.
Considerem-se dois elementos, não reais, representados por +∞ (mais infinito) e
−∞ (menos infinito) , verificando as seguintes condições:

• +∞ ∈
/ R , −∞ ∈
/ R;
• ∀x ∈ R , x < +∞ ; ∀x ∈ R ; −∞ < x;
• ∀x ∈ R , x + ∞ = +∞ + x = +∞;
• ∀x ∈ R , x − ∞ = −∞ + x = −∞;
• ∀x ∈ R\ {0} , |x| × (+∞) = (+∞) × |x| = +∞;
¯ ¯ ¯ ¯
¯ x ¯ ¯ x ¯
• ∀x ∈ R , ¯¯ ¯=¯ ¯ = 0;
+∞¯¯ ¯ ¯ −∞ ¯
¯x¯
• ∀x ∈ R\ {0} , ¯ ¯ = +∞;
0
• (−1) × (+∞) = −∞ , (−1) × (−∞) = +∞;
• (+∞) + (+∞) = +∞ , (−∞) + (−∞) = −∞;
• (+∞) × (+∞) = +∞.

Estas regras de cálculos foram estabelecidas de acordo com a noção intuitiva de


número maior que todos os outros.
Representa-se por R o conjunto R∪ {+∞, −∞} munido com a adição e a multi-
plicação usuais completadas pelas condições que definem o cálculo para os elementos
infinitos.
Nota:

Insistimos sobre o facto que os seguintes elementos não estão definidos


0 ∞
em R : ∞ − ∞; ; 0 × ∞; .
0 ∞
Uma vizinhança de +∞ (resp. − ∞) é qualquer intervalo VA (resp. V−A ) da forma
]A, +∞[ (resp. ]−∞, −A[) , onde A é um número real positivo.
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 99

Tem-se
x ∈ ]A, +∞[ ⇐⇒ x > A
x ∈ ]−∞, −A[ ⇐⇒ x < −A.
A definição de Cauchy pode agora generalizar-se aos casos em que a e b não são finitos.
Se a for infinito, Vδ (a) dá lugar a VA e se b for infinito, Vε (b) é substituída por VB .
Temos assim:

(1)

a∈R,b∈R
lim f (x) = b ⇐⇒ ∀ε > 0 ∃δ > 0 : x ∈ Vδ (a) \ {a} =⇒ f (x) ∈ V ε (b)
x→a
∀ε > 0 ∃δ > 0 : 0 < |x − a| < δ =⇒ |f (x) − b| < ε

(2)

a ∈ R , b = +∞
lim f (x) = +∞ ⇐⇒ ∀B > 0 ∃δ > 0 : x ∈ Vδ (a) \ {a} =⇒ f (x) ∈ VB
x→a
⇐⇒ ∀B > 0 ∃δ > 0 : 0 < |x − a| < δ =⇒ f (x) > B

(3)

a ∈ R , b = −∞
lim f (x) = −∞ ⇐⇒ ∀B > 0 ∃δ > 0 : x ∈ Vδ (a) \ {a} =⇒ f (x) ∈ V−B
x→a
⇐⇒ ∀B > 0 ∃δ > 0 : 0 < |x − a| < δ =⇒ f (x) < −B

(4)

a = +∞ , b ∈ R
lim f (x) = b ⇐⇒ ∀ε > 0 ∃A > 0 : x ∈ VA =⇒ f (x) ∈ Vε (b)
x→+∞

⇐⇒ ∀ε > 0 ∃A > 0 : x > A =⇒ |f (x) − b| < ε

(5)

a = +∞ , b = +∞
lim f (x) = +∞ ⇐⇒ ∀B > 0 ∃A > 0 : x ∈ VA =⇒ f (x) ∈ VB
x→+∞

⇐⇒ ∀B > 0 ∃A > 0 : x > A =⇒ f (x) > B


100 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

(6)

a = +∞ , b = −∞
lim f (x) = −∞ ⇐⇒ ∀B > 0 ∃A > 0 : x ∈ VA =⇒ f (x) ∈ V−B
x→+∞

⇐⇒ ∀B > 0 ∃A > 0 : x > A =⇒ f (x) < −B

(7)

a = −∞ , b ∈ R
lim f (x) = b ⇐⇒ ∀ε > 0 ∃A > 0 : x ∈ V−A =⇒ f (x) ∈ Vε (b)
x→−∞

⇐⇒ ∀ε > 0 ∃A > 0 : x < −A =⇒ |f (x) − b| < ε

(8)

a = −∞ , b = +∞
lim f (x) = +∞ ⇐⇒ ∀B > 0 ∃A > 0 : x ∈ V−A =⇒ f (x) ∈ VB
x→−∞

⇐⇒ ∀B > 0 ∃A > 0 : x < −A =⇒ f (x) > B

(9)

a = −∞ , b = −∞
lim f (x) = −∞ ⇐⇒ ∀B > 0 ∃A > 0 : x ∈ V−A =⇒ f (x) ∈ V−B
x→−∞

⇐⇒ ∀B > 0 ∃A > 0 : x < −A =⇒ f (x) < −B

Exemplo 12.8.
1
Dada a função f definida por f (x) = , tem-se:
x

lim f (x) = 0 , lim f (x) = 0.


x→+∞ x→−∞

Quando x tende para zero, a imagem de f (x) não se aproxima de nenhum elemento de
R pelo que não existe lim f (x). Isto ocorre pois quando x tende para zero e x é positivo,
x→0
f (x) é arbitrariamente grande positivo, mas se x é negativo, f (x) é arbitrariamente
grande negativo.
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 101

12.4. Limites laterais.


Considere-se a função f definida por

⎨ 2x + 1 se x>1
f (x) = .
⎩ 2x − 3 se x<1

Observando o gráfico da função concluímos que:

• Não existe lim f (x).


x→1
• Se em vez de trabalharmos com x ∈ ]1 − ε, 1 + ε[ , considerarmos apenas os
valores de x superiores a 1, isto é x ∈ ]1, 1 + ε[ , então f (x) aproxima-se de 3,
diremos que o limite da função à direita de 1 é 3. Escreve-se:

lim f (x) = 3.
x→1+

• Se em vez de trabalharmos com Vε (1), considerarmos apenas os valores de


x inferiores a 1, isto é, x ∈ ]1 − ε, 1[ , verificamos que f (x) tende para −1,
diremos que o limite de f à esquerda de 1 é igual a −1. Escreve-se:

lim f (x) = −1.


x→1−

Definição 12.8.
Seja f uma função real de variável real e a um ponto de acumulação do domínio de f .
Diz-se que b é o limite de f à esquerda (resp. direita) de a se para todo ε > 0 existir
um δ > 0 tal que

x ∈ Vδ (a) ∧ x < a ( resp. x > a) =⇒ f (x) ∈ Vε (b),


102 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

( com as devidas alterações caso b seja infinito).

Teorema 12.1.
Seja f uma função real de variável real e a um ponto de acumulação do domínio.Para
b ∈ R,
lim f (x) = b ⇐⇒ lim+ f (x) = lim f (x) = b.
x→a x→a x→a−

Observação: Resulta deste teorema que se lim+ f (x) 6= lim f (x) então não existe
x→a x→a−
lim f (x).
x→a

Exemplo 12.9.
Observe-se o seguinte gráfico de uma função f .

• Tem-se:
lim f (x) = 1 , lim f (x) = 2,
x→−1− x→−1+

pelo que não existe lim f (x).


x→−1
Note-se que −1 não é ponto do domínio mas é um ponto de acumulação do
domínio.
• Tem-se:
lim f (x) = 0 e lim+ f (x) = 0,
x→3− x→3

pelo que lim f (x) = 0.


x→3
Note-se que 3 não é ponto do domínio mas é um ponto de acumulação do
domínio.
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 103

• Finalmente lim f (x) = −2. (justifique)


x→4

Exercício 12.4. ⎧
⎨ x2 + 1 se x>0
Seja t a função definida por t(x) = .
⎩ −1 − x2 se x<0
(1) O ponto 0 é ponto de acumulação de Dt ? Justifique.
(2) Esboce o gráfico da função.
(3) Graficamente, determine lim+ t(x) e lim− t(x).
x→0 x→0
(4) Existe lim t(x)? Justifique.
x→0

Observação: Se a função está definida apenas à direita (resp. esquerda) de a, en-


tão o valor do limite de f quando x tende para a coincide com o limite à direita
(resp. esquerda) de a.

Exemplo 12.10.

Considere-se a função definida por f (x) = x − 2 cujo gráfico é o seguinte:

Verifica-se que:

• O domínio de f é Df = [2, +∞[ .


• O número 2 é ponto de acumulação do domínio mas só podemos considerar
valores de x superiores a 2. Então:

lim f (x) = lim+ f (x) = 0.


x→2 x→2
104 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

12.5. Propriedades dos limites de funções.


As propriedades dos limites vão permitir-nos calcular limites sem recorrer à definição.

Propriedade 12.5.1 (Unicidade do Limite).


Se existir o limite de f quando x tende para a ∈ R , este será único.

Demonstração.
Suponhamos que
lim f (x) = b e limf (x) = c
x→a x→a

com b, c ∈ R (caso b ou c sejam infinitos o raciocínio é semelhante) .


Seja ε > 0 arbitrário. Então existem δ 1 e δ 2 tais que

x ∈ Vδ1 (a) \ {a} ⇒ f (x) ∈ Vε (b)


e
x ∈ Vδ2 (a) \ {a} ⇒ f (x) ∈ Vε (c).

Considere-se δ = min {δ 1 , δ 1 } . Então para

x ∈ Vδ (a) \ {a} ,

tem-se
f (x) ∈ Vε (b) ∩ Vε (c),

quer dizer ,
|f (x) − b| < ε e |f (x) − c| < ε.

Tem-se pelas propriedades dos módulos,

|b − c| = |b − f (x) + f (x) − c|

|b − c| = |b − f (x) + f (x) − c|
≤ |f (x) − b| + |f (x) − c|
≤ 2ε.
Sendo ε arbitrário resulta que |b − c| = 0, isto é, b = c. Consequentemente lim f (x) é
x→a
único. ¤
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 105

Propriedade 12.5.2 (Limite de Uma Constante).


Se f é uma constante então o limite de f quando x tende para a ∈ R é a própria
constante.

Exercício 12.5.
Determine :
(1) lim 5;
x→3

(2) lim (−4) ;


x→+∞

(3) lim 0.
x→−∞

Propriedade 12.5.3 (Limite de uma Soma).


Se f e g tendem para b e c, elementos de R, quando x tende para a ∈ R, (exceptuando
o caso em que b e c são ambos infinitos de sinais contrários) então a função f + g
tende para b + c quando x tende para a.

Observação: O caso em que b e c são infinitos de sinais contrários, chama-se inde-


terminação ∞ − ∞, e tem que ser analisado caso a caso.

Exemplo 12.11.
Calcule lim (x + 3) .
x→2

Resolução: Atendendo às propriedades dos limites, vem

lim (x + 3) = lim x + lim 3 = 2 + 3 = 5.


x→2 x→2 x→2
106 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Exercício 12.6.
Determine:
(1) lim (x + 2) ;
x→1

(2) lim (3 − x) ;
x→+∞

(3) lim (x + 5) ;
x→−∞

(4) lim (2 − x) .
x→−∞

Propriedade 12.5.4 (Limite de um Produto).


Se lim f (x) = b e lim g(x) = c, com b, c ∈ R , exceptuando-se o caso b = ∞ e c = 0 (ou
x→a x→a
b = 0 e c = ∞), então
lim (f.g) (x) = b.c.
x→a

Exercício 12.7.
Utilize esta propriedade para justificar que:
(1) lim [k.f (x)] = k.lim f (x) (k constante) ;
x→a x→a
h i2 h in
(2) lim [f (x)]2 = lim f (x) , mais geralmente lim [f (x)]n = lim f (x) .
x→a x→a x→a x→a

Exemplo 12.12.
Calcule lim (4x2 + 2x + 1) .
x→1

Resolução:
¡ ¢ ³ ´2
lim 4x2 + 2x + 1 = 4lim x2 + 2lim x + lim 1 = 4 lim x + 2 × 1 + 1 =
x→1 x→1 x→1 x→1 x→1
2
= 4 × 1 + 2 + 1 = 7.

Exercício 12.8.
Determine:
(1) lim (x2 + 3x + 2) ;
x→−2

(2) lim (3x2 + 4) ;


x→+∞

(3) lim (2x3 + 7) .


x→−∞
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 107

Propriedade 12.5.5 (Limite de um Quociente).


Suponhamos que f e g tendem para b e c respectivamente quando x tende para a ,
f b
exceptuando os casos de ambos serem nulos ou ambos infinitos, então tende para
g c
quando x tende para a.

Exemplo 12.13.
x
Determine lim .
x→2 x + 1
Resolução
x lim x 2 2
x→2
lim = = = .
x→2 x + 1 lim (x + 1) 2+1 3
x→2

Exercício 12.9.
Determine:
5
(1) lim ;
x→+∞ x2
1
2−
(2) lim x;
x→−∞ x2
2
x +3
(3) lim ;
x→0 x − 1
x
(4) lim − .
x→−1 x + 1

Propriedade 12.5.6 (Limite de uma Raiz).


p √
Se lim f (x) = b e p ∈ N então lim p f (x) = p b, admitindo no caso de p ser par, que
x→a x→a
f (x) > 0 ∀x ∈ Df .

p
Observação: Caso b seja infinito, b também será infinito.

Exemplo 12.14.
5x
Calcule lim− √ .
x→8 6 − 5x − 4
Resolução:

5x lim− 5x
lim− √ = ¡ x→8 √ ¢=
x→8 6 − 5x − 4 lim− 6 − 5x − 4
x→8
40 40
= q = = +∞.
6− lim (5x − 4) 0+
x→8−
108 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Exercício 12.10.

(1) Determine:

(a) lim 3 10 + 5x − x3 ;
x→−2

(b) lim (3x2 + x) ;


x→0
4x − 3
(c) lim + ;
x→−1 x + 1

4x − 3
(d) lim − ;
x→−1 x + 1

x2
(e) lim − .
x→−3 x − 3

(2) Seja a função h definida, em R, por



⎨ 2x se x > 3
h(x) = .
⎩ x2 − 3 se x < 3

(a) Calcule lim h(x) e lim h(x).


x→5 x→−∞

(b) Investigue se existe lim h(x) , calculando lim+ h(x) e lim− h(x).
x→3 x→3 x→3

(3) Considere, em R , as funções f e g definidas por:


⎧ ⎧
⎨ x2 − x + 2 se x > 0 ⎨ −x2 se x > 0
f (x) = e g(x) = .
⎩ 2x + 1 se x < 0 ⎩ 1 − x se x < 0

(a) Mostrar que não existem lim f (x) nem lim g(x).
x→0 x→0

(b) Definir, em R , a função f + g e calcular, se existir, lim (f + g) (x) .


x→0

(c) Calcular lim (f + g) (x) e lim (f + g) (x) .


x→+∞ x→−∞

(4) Considere as funções reais , de variável real, definidas por:


2 3
f (x) = e g(x) = 1 − .
x2 +1 x
(a) Calcule lim f (x) e lim g(x).
x→+∞ x→+∞

f (x) g(x)
(b) Determine lim e lim .
x→+∞ g(x) x→+∞ f (x)
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 109

(5) É dada a função t definida, em R , por:





⎨ −2x
⎪ se x < −1
t(x) = x2 + 1 se −1 ≤ x < 2 .



⎩ 3x − 2 se x > 2

Investigue se existe:
(a) lim t(x);
x→−1

(b) lim t(x).


x→2

12.6. Indeterminações.
Nas situações em que a aplicação das propriedades não permite chegar a um resultado,
estamos em presença de operações não definidas em R, a que chamamos indetermi-
nações. A resolução destas indeterminações deve ser feita caso a caso.
0 ∞
Vamos aqui ver métodos de resolução para as indeterminações ∞ − ∞, 0 × ∞, e .
0 ∞
12.6.1. Indeterminações quando x tende para a (finito).
Vamos verificar que todas as indeterminações deste tipo se podem reduzir à indeter-
0
minação .
0
x3 − 3x2 + 4x − 2
(1) lim
x→1 x2 − 3x + 2
0
Resolução. Aplicando o teorema do limite do quociente obtemos , o que
0
mostra que 1 anula os termos da fracção. Efectuando a divisão por, x − 1 pela
regra de Ruffini vem:

1 −3 4 −2 1 −3 2
1 1 −2 2 1 1 −2 .
1 −2 2 0 1 −2 0

Então:

x3 − 3x2 + 4x − 2 (x − 1) (x2 − 2x + 2)
lim = lim .
x→1 x2 − 3x + 2 x→1 (x − 1) (x − 2)
110 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Como o limite se calcula quando x tende para 1 por valores diferentes de 1,


vem x − 1 6= 0, e consequentemente

x3 − 3x2 + 4x − 2 x2 − 2x + 2
lim = lim = −1.
x→1 x2 − 3x + 2 x→1 x−2

x−3
(2) lim
x→9 x − 9

0
Resolução. Aplicando os teoremas sobre limites obtemos . Vamos multiplicar
√ 0
ambos os termos da fracção por x + 3, vem:
√ √ √
x−3 ( x − 3) ( x + 3)
lim = lim √
x→9 x − 9 x→9 (x − 9) ( x + 3)
x−9
= lim √
x→9 (x − 9) ( x + 3)
1 1
= lim √ = .
x→9 x + 3 6
∙ 2 ¸
x −4 3x + 1
(3) lim+ ×
x→2 x (x − 2)2
Resolução. Trata-se de uma indeterminação do tipo 0 × ∞ (porquê?) , mas se
efectuarmos a multiplicação vem

(x2 − 4) (3x + 1)
lim+ ,
x→2 x (x − 2)2
0
que é uma indeterminação do tipo . Tem-se sucessivamente:
0
∙ 2 ¸
x −4 3x + 1 (x2 − 4) (3x + 1)
lim+ × = lim
x→2 x (x − 2)2 x→2+ x (x − 2)2
(x − 2) (x + 2) (3x + 1)
= lim+
x→2 x (x − 2)2
(x + 2) (3x + 1)
= lim+
x→2 x (x − 2)
4×7
= = +∞.
2 × 0+
2x
2
(4) lim + x − 4 .
x→−2 5
x+2
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 111


Resolução. Trata-se de uma indeterminação do tipo . Se efectuarmos previ-

0
amente as operações indicadas obtém-se uma indeterminação do tipo . Vem:
0
2x
2 2x (x + 2)
lim + x − 4 = lim +
x→−2 5 x→−2 5 (x2 − 4)
x+2
2x (x + 2)
= lim +
x→−2 5 (x − 2) (x + 2)
2x 1
= lim + = .
x→−2 5 (x − 2) 5
µ ¶
1 1
(5) lim + + .
x→−1 x2 − 1 x + 1
Resolução. Trata-se de uma indeterminação do tipo ∞ − ∞. Efectuando a
adição vem:
µ ¶ ∙ ¸
1 1 1 1
lim + = lim + +
x→−1+ x2 − 1 x + 1 x→−1 (x + 1) (x − 1) x + 1
1 + (x − 1)
= lim +
x→−1 (x + 1) (x − 1)

x
= lim +
x→−1 (x + 1) (x − 1)
−1
= = +∞
0−
12.6.2. Indeterminações quando x tende para +∞ ou −∞..

De um modo geral as indeterminações reduzem-se ao tipo .

2
6x + 7x + 3 ³ ∞ ´
(1) lim
x→+∞ 8x2 + 6x + 1 ∞
Resolução. Dividindo ambos os termos da fracção por x2 , vem:
7 3
6x2 + 7x + 3 6+
+ 2
lim = lim x x
x→+∞ 8x2 + 6x + 1 x→+∞ 6 1
8+ + 2
x x
6+0+0 3
= = .
8+0+0 4
1√ 2
(2) lim x +1 (0 × ∞)
x→−∞ 2x
112 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Resolução. Dividindo ambos os termos por da fracção por |x|, vem:



1√ 2 x2 + 1
lim x +1 = lim
x→−∞ 2x x→−∞ q 2x

1 + x12
= lim
x→−∞ 2x
√ |x|
1+0 1
= =− .
−2 2

4x µ ¶
x2
+1 0
(3) lim
x→−∞ x2 0
2x4 + 1
Resolução.

4x
2 4x (2x4 + 1) ³ ∞ ´
lim x + 2
1 = lim
x→−∞ x x→−∞ (x2 + 1) x2 ∞
4
2x + 1
8x5 + 4x
= lim .
x→−∞ x4 + x2

Dividindo ambos os termos da fracção por x5 , vem:

4
8x + 4x5 8+
lim 4 = lim x4
x→−∞ x + x2 x→−∞ 1 1
+ 3
x x
8+0
= = −∞.
0−

(4) lim (x3 − 3x + 2) (∞ − ∞) .


x→+∞

Resolução:
∙ µ ¶¸
3 3 3 2
lim (x − 3x + 2) = lim x 1 − 2 + 3 = +∞.
x→+∞ x→+∞ x x
¡√ √ ¢
(5) lim x2 + x − x2 + 1 (∞ − ∞)
x→+∞
12. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 113

Resolução. Multiplicando e dividindo ambos os termos da fracção por


√ √
x2 + x + x2 + 1, vem:
¡√ √ ¢ ¡√ √ ¢
¡√ √ ¢ x2 + x − x2 + 1 x2 + x + x2 + 1
lim 2 2
x + x − x + 1 = lim √ √
x2+x+ 2
¢2x + 1
x→+∞ x→+∞
¡√ ¢2 ¡√
2
x +x − x +1 2
= lim √ √
x→+∞ x2 + x + x2 + 1
x2 + x − (x2 + 1)
= lim √ √
x→+∞ x2 + x + x2 + 1 ³ ´
x−1 ∞
= lim √ √ .
x→+∞ x2 + x + x2 + 1 ∞
Dividindo ambos os termos da fracção por x, vem:
1
x−1 1− 1
lim √ √ =r x
r = .
x→+∞ x2 + x + x2 + 1 1 1 2
1+ + 1+ 2
x x
Exercício 12.11.
Calcule cada um dos seguintes limites:
µ ¶
2x2 − 3x + 1 1
(1) x→lim1 2 R: ;
2
2x − 5x + 2 3
µ ¶
x3 − 5x2 + 8x − 4 2
(2) lim R: ;
x→2 x3 − 3x2 + 4 3
x3 + 1
lim
(3) x→−1 x + 1 (R : 3) ;

x3 − 6x2 + 11x − 6
(4) lim+ (R : + ∞) ;
x→1 x3 + x2 − 5x + 3
x
lim √
(5) x→0 (R : 0) ;
x
x−1
(6) lim √ (R : 2) ;
x→1 x − 1

x− x
(7) lim 3 (R : + ∞) ;
x→0 x −√
+ x2 µ ¶
1− x+4 1
(8) lim R: − ;
x→−3
∙ x+3 ¸ 2
3x + 2
(9) lim (x2 − 1) (R : 10) ;
x→1
∙ x¸− 1
4x + 3
(10) lim x2 2 (R : 0) ;
x→0 x + 3x
114 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.
∙ ¸
5
(11) lim − (x + 3) (R : − ∞) ;
x→−3 9 + x2 + 6x
1
(12) lim x (R : 10) ;
x→0 2x + 1
x2
x µ ¶
1 − x 2
(13) lim R: − ;
x→1 x + 2 3
2−1
xµ ¶
1 1
(14) lim − 2 (R : − ∞) ;
x→0+
µx x ¶
1 1
(15) lim − (R : − ∞) ;
x→−2+ 4 − x2 x + 2
3 + 7x
(16) lim (R : − 7) ;
x→+∞ 2 − x

2x2 + 5x
lim
(17) x→−∞ x2 + 3x + 2 (R : 2) ;

x3 + 5x
(18) lim (R : − ∞) ;
x→−∞ 7x2 − 3
x2
(19) lim 3 (R : 0) ;
x→+∞ x
∙ +9 ¸
x
(20) lim (x + 3) (R : 1) ;
x→+∞ x2 + 1
µ ¶ µ ¶
x2 1 1
(21) lim R: ;
x→−∞ 3x2 + 1 x 3
(22) lim (x3 − x) (R : − ∞) ;
x→−∞

(23) lim (x4 − 3x + 1) (R : + ∞) ;


x→−∞
¡√ √ ¢
(24) lim x+3− x (R : 0) ;
x→+∞
¡√ ¢
(25) lim 1−x+x (R : − ∞) .
x→−∞

13. Continuidade de funções reais de variável real.

13.1. Função contínua e função descontínua num ponto.


Considerem-se as funções f , g, h e m reais de variável real definidas pelos seus gráficos.
13. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 115

Intuitivamente podemos afirmar que a função f é a única que é contínua em todos


os pontos do seu domínio pois é a única cujo gráfico se pode desenhar sem levantar o
lápis do papel.
A função h não é contínua no ponto x = 2, ela seria contínua se a imagem do ponto
2 fosse 1, de modo que o seu gráfico fosse uma parábola completa. Observe-se que

lim h(x) = 1
x→2

mas h(2) = 0, daí a descontinuidade no ponto x = 2.


A função g não é contínua no ponto no ponto x = 0. Tem-se:

lim g(x) = 1 e lim− g(x) = 2 = g(0).


x→0+ x→0

Diremos que g é contínua à esquerda em x = 0 pois se restringíssemos o domínio


de g a ]−∞, 0] , a função obtida seria contínua em x = 0.
A função m não é contínua em x = 1, nem à esquerda nem à direita. De facto
não existe lim m(x) uma vez que os limites laterais são diferentes e além disso diferem
x→1
ambos de m(1) que é igual a −2.
116 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Definição 13.1.
Seja a um ponto de acumulação do domínio de uma função real de variável real f .
Diz-se que f é contínua no ponto a se e só se existe lim f (x) e
x→a

lim f (x) = f (a).


x→a

Caso não exista lim f (x) ou este seja diferente de f (a), diremos que f é descontinua
x→a
em x = a.
Diz-se que f é contínua à direita ( resp. esquerda ) de a se e só se

lim f (x) = f (a) ( resp. lim− f (x) = f (a)).


x→a+ x→a

Nota:
Não faz qualquer sentido falar em continuidade ou em descontinuidade
de uma função f num ponto a que não pertença ao domínio ( não
existiria f (a)) ou num ponto isolado do domínio (não faria sentido
falar em lim f (x)).
x→a

Considere os seguintes casos:


• Averiguar se a função f é contínua no ponto x = 1, sendo

⎨ x + 1 se x > 1
f (x) = .
⎩ x2 se x < 1

Resolução:
f é contínua em x = 1 se e só se existir lim f (x) e lim f (x) = f (1). Como
x→1 x→1
à direita e à esquerda de 1 a função está definida por expressões diferentes,
vamos determinar os limites laterais. Tem-se:

lim f (x) = lim (x + 1) = 2


x→1+ x→1+
lim f (x) = lim x2 = 1.
x→1− x→1−

Como os limites laterais são diferentes, não existe lim f (x) e consequentemente
x→1
f não é contínua em x = 1.
Observação: Como lim+ f (x) = f (1), f é contínua à direita em x = 1.
x→1
13. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 117

• Seja g a função definida por




⎪ 2
⎨ x − 1 se x > −2

g(x) = 1 se x = −2 .



⎩ x+5 se x < −2

Vamos estudar a continuidade de g no ponto x = −2.


Resolução.
Tem-se:

lim g(x) = lim (x2 − 1) = 3


x→−2+ x→−2+

lim g(x) = lim (x + 5) = 3.


x→−2− x→−2−

Assim lim g(x) = 3. Por outro lado, g(−2) = 1, pelo que lim g(x) 6= g(−2) e
x→−2 x→−2
a função g não é contínua no ponto x = −2.
• Seja h a função definida em R, por

⎨ x3 − 5x + 2 se x > 0
h(x) = .
⎩ x+2 se x < 0

Vamos estudar a continuidade de h no ponto x = 0.


Resolução.
Tem-se:

lim h(x) = lim (x3 − 5x + 2) = 2


x→0+ x→0+
lim h(x) = lim (x + 2) = 2.
x→0− x→0−

Como h(0) = 2 resulta que lim h(x) = h(0) e a função h é contínua em x = 0.


x→0

Exercício 13.1.
Resolva cada um dos seguintes exercícios:

(1) Observe os seguintes gráficos e complete.


118 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

(1) (a)

• lim f (x) = ...


x→2
• f (2) = ...
• f é contínua no ponto...
(b)


lim+ f (x) = ... ⎪

x→1
• =⇒ não existe lim f (x).
lim− f (x) = ... ⎪
⎭ x→1
x→1
• f não é .............. no ponto x = 1.
(c)

• lim f (x) = ...


x→1
• f (1) = ...
• f não é ...
13. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 119

(2) Considere a função real, de variável real, m definida por:



⎨ x2 + 1 se x > 3
m(x) = .
⎩ 1 − 3x se x < 3

Estude a continuidade em x = 3.
(3) Seja t a função definida, em R, por:


⎪ 2
⎨ x − 3x + 1 se x > 0

t(x) = 2 se x = 0 .



⎩ x+1 se x < 0

Averigue se é contínua em x = 0.
(4) Seja g uma função real, de variável real, em que

g(x) = |x − 3| + x.

(a) Escreva a expressão designatória da função sem utilizar o símbolo de


módulo.
(b) Averigue se é contínua no ponto x = 3.
(5) Considere a função real, de variável real, t definida por:
⎧ x
⎨ se x 6= −1
t(x) = |x + 1| .

0 se x = −1

Mostre que t não é contínua para x = −1.


(6) Prove que é contínua à esquerda de 0 a função real, de variável real, definida
por:

⎨ x + |x| se x 6= 0
m(x) = x .

0 se x = 0
120 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

13.2. Propriedades das funções contínuas num ponto.

Propriedade 13.2.1.
Sejam f e g funções contínuas num ponto a pertencente a Df ∩ Dg e ponto de acumu-
lação de Df ∩ Dg . Então:
f
f + g, f − g, f.g e (g (a) 6= 0) ,
g
são contínuas no ponto a.

Demonstração.
As demonstrações resultam imediatamente das propriedades dos limites e da definição
de continuidade. Vejamos apenas o caso f + g, deixando os outros como exercício.
Sendo f e g contínuas em a tem-se:

lim (f + g) (x) = lim f (x) + lim g(x) = f (a) + g(a) = (f + g) (a) .


x→a x→a x→a

Assim:

lim (f + g) (x) = (f + g) (a) ,


x→a

o que prova que f + g é contínua no ponto a. ¤

Propriedade 13.2.2.
Se p ∈ N e f é uma função contínua no ponto a, também são contínuas em a as funções

f p e p f (excepto se p par e f (x) < 0) .

13.3. Continuidade num intervalo.

• Uma função f diz-se contínua se e só se for contínua em todos os pontos do


seu domínio.
• Uma função f diz-se contínua em ]a, b[ se for contínua em todos os pontos
desse intervalo.
• Uma função f diz-se contínua em [a, b] se for contínua em ]a, b[, à direita de a
e à esquerda de b.
13. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 121

Exemplo 13.1.
Considere os seguintes exemplos:

(1) Uma função constante é contínua. De facto se f (x) = k (k constante) , para


∀x ∈ Df ,
lim f (x) = f (a) = k.
x→a

(2) A função identidade é contínua.


Se f (x) = x, vem

lim f (x) = f (a), ∀a ∈ IR.


x→a

(3) A função definida por y = x2 é contínua pois é o produto de duas funções


contínuas, sendo estas f (x) = x e g(x) = x.
(4) Uma função polinomial f é contínua. Seja:

f (x) = a0 xn + a1 xn−1 + ... + an .

Verifica-se que f é a soma de produtos de funções contínuas.


(5) Uma função racional ( quociente de funções polinomiais ) é contínua no seu
domínio.

Exemplo 13.2.
Estude a continuidade da função f real, de variável real, definida por:


⎪ 2
⎨ x − 1 se x > 2

f (x) = 3 se x = 2 .



⎩ 7 se x < 2
122 IV. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES.

Resolução.
Para x > 2 a função é definida por um polinómio, então f é contínua no intervalo
]2, +∞[ . Como para x < 2 f é constante, é contínua no intervalo ]−∞, 2[ . Resta
estudar a continuidade de f no ponto x = 2. Como:

lim f (x) = lim (x2 − 1) = 3


x→2+ x→2+
e
lim f (x) = lim 7 = 7,
x→2− x→2−

não existe lim f (x) e consequentemente f não é contínua em x = 2. Então f é contínua


x→2
em R\ {2} .

Exemplo 13.3.
Para cada número real k a expressão seguinte representa uma função real, de variável
real: ⎧

⎪ 2
⎨ 2x
⎪ se x < 2
g(x) = k se x = 2 .



⎩ −x + 3 se x > 2

(1) Mostrar que para qualquer valor de k a função tem um ponto de descon-
tinuidade.
Resolução.
A função é contínua em ]−∞, 2[ e ]2, +∞[ por ser representada por polinómios.
Em x = 2, tem-se:

lim g(x) = lim (−x + 3) = 1


x→2+ x→2+
e
lim g(x) = lim (2x2 ) = 8,
x→2− x→2−

pelo que não existe lim g(x). Assim, o valor do limite não existe independen-
x→2
temente do valor de k, o que significa que a função é sempre descontínua no
ponto x = 2, qualquer que seja k.
(2) Qual deve ser o valor de k de modo que a função g seja contínua à direita de
2?
13. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL. 123

Resolução.
A função será contínua à direita de 2 se lim+ g(x) = g(2), ou seja k = 1.
x→2
(3) Indique os valores de k de modo que a função seja descontinua à esquerda e à
direita no ponto x = 2 (descontinuidade bilateral).
Resolução.
Para termos uma descontinuidade bilateral, temos que ter:

k 6= 1 (descontinuidade à direita)
e
k 6= 8 (descontinuidade à esquerda) .
Logo k ∈ R\ {1, 8} .

13.4. Continuidade da função composta.

Teorema 13.1.
Seja f uma função contínua num ponto a do seu domínio e g uma função contínua em
b = f (a) então gof é contínua em a.

Nota:
Pelo resultado anterior,

lim (gof ) (x) = (gof ) (a) ,


x→a

ou seja
lim g [f (x)] = g [f (a)] ,
x→a

ou ainda
h i
lim g [f (x)] = g lim f (x) .
x→a x→a

Quer dizer, nas condições referidas, são permutáveis o sinal lim e o


x→a
sinal da função g.
CAPÍTULO V

Funções transcendentes.

1. Função exponencial e função logarítmica

1.1. Função exponencial.

Definição 1.1.
Chama-se função exponencial de base a à função real de variável real,

expa : R → R+
x 7→ y = ax , a ∈ R+ \{1}.

Propriedades 1.1.1.

• O seu domínio é R.
• O seu contradomínio é R+ .
• ax1 = ax2 =⇒ x1 = x2 , ∀ x1 , x2 ∈ R.
Assim, a função exponencial é injectiva.

Estudo da variação da função exponencial

(1) a > 1
• x > 0 =⇒ ax > 1;
• x = 0 =⇒ ax = 1;
• x < 0 =⇒ ax < 1;
• x1 < x2 ⇐⇒ ax1 < ax2 , ∀ x1 , x2 ∈ R (função estritamente crescente)
• lim ax = +∞; lim ax = 0;
x→+∞ x→−∞
• é contínua em todo o seu domínio;
• o gráfico da função quando a > 1 é:
125
126 V. FUNÇÕES TRANSCENDENTES.

15
y

10

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x

(2) a < 1
• x > 0 =⇒ ax < 1;
• x = 0 =⇒ ax = 1;
• x < 0 =⇒ ax > 1;
• x1 < x2 ⇐⇒ ax1 > ax2 , ∀ x1 , x2 ∈ R (função estritamente decrescente)
• lim ax = 0; lim ax = +∞;
x→+∞ x→−∞
• é contínua em todo o seu domínio;
• o gráfico da função quando 0 < a < 1 é:

y 30

20

10

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
x

Exemplo 1.1.
Determine, em R, o conjunto solução de cada uma das seguintes condições:

(1) x2 × 3−x − 2 × 3−x = 0.


1. FUNÇÃO EXPONENCIAL E FUNÇÃO LOGARíTMICA 127

Resolução:
¡ ¢
x2 × 3−x − 2 × 3−x = 0 ⇐⇒ 3−x x2 − 2 = 0 ⇐⇒

⇐⇒ 3−x = 0 ∨ x2 − 2 = 0 ⇐⇒ x2 − 2 = 0 ⇐⇒
√ √
⇐⇒ x = − 2 ∨ x = 2.

(como a função exponencial não tem zeros, a primeira equação, isto é, 3−x = 0,
é impossível). O conjunto solução é
n √ √ o
− 2, 2 .
2
(2) (0, 5)x > (0, 125)2x .
Resolução:
µ ¶x2 µ ¶2x µ ¶x2 µ ¶6x
x2 1 1 1 1
(0, 5) > (0, 125)
2x
⇐⇒ > ⇐⇒ > .
2 8 2 2
Atendendo a que a função exponencial de base menor que a unidade é decres-
cente, vem:

x2 ≤ 6x ⇐⇒ x2 − 6x ≤ 0 ⇐⇒ x (x − 6) ≤ 0 ⇐⇒ x ∈ [0, 6] .

O conjunto solução é
[0, 6] .
2 −3x
(3) 10x > 0, 01.
Resolução:
2 −3x 2 −3x
10x > 0.01 ⇐⇒ 10x > 10−2 .

Atendendo a que a função exponencial de base maior que a unidade é crescente,


vem:

x2 − 3x > −2 ⇐⇒ x2 − 3x + 2 > 0 ⇐⇒ x ∈ ]−∞, 1[ ∪ ]2, +∞[ .

O conjunto solução é

]−∞, 1[ ∪ ]2, +∞[ .


128 V. FUNÇÕES TRANSCENDENTES.

Exercício 1.1.
Considere a função real, de variável real, definida por:

f (x) = 1 − 72−x .

(1) Determine o domínio e o contradomínio da função.


(2) Resolva cada uma das condições:
(a) f (x) = f (2);
(b) f (x) > 0.
Soluções
(1) D = R e D0 =] − ∞, 1[.
(a) x = 2 ;
(b) ]2, +∞[.

Exercício 1.2.
Determine, em R, o conjunto solução das inequações:
(1) 5x−1 > 55−4x ;
2 1
(2) 0.5x ≥ ( )3x .
8
Soluções:
(1) ]6/5, +∞[;
(2) [0, 9].

Exercício 1.3.
Considere as funções g e m, reais de variável real, definidas por:
µ ¶x−4
2x+x2 1
g (x) = 4 − 1 e m (x) = + 2.
3
(1) Indique o domínio e o contradomínio de cada uma delas.
(2) Calcule os zeros de g e os de m.
(3) Determine os valores de x tais que:
(a) g(x) = g(1);
(b) g(x) > 15;
1. FUNÇÃO EXPONENCIAL E FUNÇÃO LOGARíTMICA 129

(c) m(2x + 1) ≤ m(x).


Soluções
∙ ∙
3
(1) Dg = R ; Dg0 0
= − , +∞ ; Dm = R; Dm = ]2, +∞[ ;
4
(2) g : {−2, 0}; m não tem zeros;
(a) x = −3 ∨ x = 1;
¤ √ £ ¤ √ £
(b) x ∈ −∞, −1 − 3 ∪ −1 + 3, +∞ ;
(c) x ∈ [−1, +∞[ .

1.1.1. A função exponencial de base e (número de Neper).


Como caso particular das funções exponenciais, tem-se a função exponencial de base e
(exp x)
f (x) = ex .

Note-se que esta função tem todas as propriedades da função f (x) = ax , com a > 1 e
ainda,
ex − 1
lim =1
x→0 x
ex
lim p = +∞, p ∈ R .
x→+∞ x

Exercício 1.4.
Calcule cada um dos seguintes limites:
µ ¶
5x 5
(1) lim 3x ;
x−→0 e −1 3
ex+1 − e
(2) lim− (+∞);
x→0 x2
ln (1 + u)
(3) lim (1) .
u−→0 u

1.2. Função logarítmica.


Antes de apresentar a função logarítmica, dá-se a definição de logaritmo de um número,
seguida das propriedades operatórias dos logaritmos.

Definição 1.2.
Logaritmo de um número positivo x na base a, positiva e diferente de um, é o número
130 V. FUNÇÕES TRANSCENDENTES.

a que se deve elevar a base para obter x.

loga x = y ⇐⇒ x = ay .

Desta equivalência resulta que


x = aloga x

e que,
loga ay = y.

Quando a base é e omite-se o e e escreve-se ln x. A estes logaritmos chamam-se


neperianos, em homenagem ao matemático inglês Neper.

Propriedades 1.2.1.
Sendo x e y números positivos e a e b números positivos diferentes de 1, tem-se:
• loga (x.y) = loga x + loga y;
• loga ( xy ) = loga x − loga y;
• loga xp = p loga x, ∀ p ∈ R;

• loga n x = n1 loga x, ∀ n ∈ N (Caso particular da propriedade anterior);
• logb x = loga x. logb a.

Podemos agora introduzir o conceito de função logarítmica.

Definição 1.3.
Sendo a função exponencial uma função injectiva, admite inversa. Chama-se função
logarítmica à sua inversa.
+
loga : R → R
x 7→ y = loga x ⇐⇒ x = ay , a ∈ R + \{1}.
Propriedades 1.2.2.

• O seu domínio é R+ .
• O seu contradomínio é R.
• Tem um zero para x = 1, pois

loga x = 0 ⇐⇒ x = a0 ⇐⇒ x = 1.
1. FUNÇÃO EXPONENCIAL E FUNÇÃO LOGARíTMICA 131

• loga x1 = loga x2 =⇒ x1 = x, ∀x1 , x2 ∈ R+ . Assim, a função logarítmica é


injectiva.

Estudo da variação da função logarítmica

(1) a > 1
• x > 1 =⇒ loga x > 0;
• x = 1 =⇒ loga x = 0;
• x < 1 =⇒ loga x < 0;
• x1 < x2 =⇒ loga x1 < loga x2 , ∀ x1 , x2 ∈ R+ (função estritamente
crescente);
• lim loga x = +∞; lim+ loga x = −∞;
x→+∞ x→0
• é contínua em todo o seu domínio;
• o gráfico da função quando a > 1 é:

2
y
1

-2 -1 1 2 3 4 5
x
-1

-2

(2) a < 1
• x > 1 =⇒ loga x < 0;
• x = 1 =⇒ loga x = 0;
• x < 1 =⇒ loga x > 0;
• x1 < x2 =⇒ loga x1 > loga x2 , ∀ x1 , x2 ∈ R+ (função estritamente
decrescente);
• lim loga x = −∞; lim+ loga x = +∞;
x→+∞ x→0
• é contínua em todo o seu domínio;
132 V. FUNÇÕES TRANSCENDENTES.

• o gráfico da função quando é 0 < a < 1 é

4
y

-2 -1 1 2 3 4 5
x
-2

Observação: No caso de a = e, obtém-se a função logaritmo natural que se representa


por ln .

Exemplo 1.2.
Considere os seguintes exercícios:
(1) Seja f a função real, de variável real, definida por:

f (x) = 5 − log3 (2 + 3x) .

(a) Determinar o domínio e o contradomínio de f .


Resolução:
¸ ∙
2
Df = {x ∈ R : 2 + 3x > 0} = − , +∞
3
Df0 = R.

(b) Definir, em R, o conjunto-solução de cada uma das condições:

f (x) = f (0) e f (x) > 6.

Resolução:

f (x) = f (0) ⇐⇒ 5 − log3 (2 + 3x) = 5 − log3 2 ⇐⇒


2 + 3x
⇐⇒ log3 (2 + 3x) − log3 2 = 0 ⇐⇒ log3 = log3 1 ⇐⇒
2
2 + 3x
⇐⇒ = 1 ⇐⇒ x = 0.
2
1. FUNÇÃO EXPONENCIAL E FUNÇÃO LOGARíTMICA 133

Atendendo a que 0 ∈ Df , então o conjunto solução da condição é {0}

f (x) > 6 ⇐⇒ 5 − log3 (2 + 3x) > 6 ⇐⇒ − log3 (2 + 3x) > 1 ⇐⇒


1
⇐⇒ log3 (2 + 3x) < −1 ⇐⇒ log3 (2 + 3x) < log3 .
3

Como a base é maior que a unidade, a função logarítmica é crescente e,


portanto:

1 5
2 + 3x < ∧ x ∈ Df ⇐⇒ x < − x ∈ Df .
3 9

O conjunto solução é
¸ ∙
2 5
− ,− .
3 9

(2) Calcular o domínio, o contradomínio e definir a função inversa da função


definida por:
1
y =3+ log7 (2x − 1) .
2
Resolução:

¸
1
Dy = {x ∈ R : 2x − 1 > 0} = , +∞
2
Dy0 = R.

Vamos agora determinar a expressão que define a inversa. Tem-se:

1 1
y = 3+log7 (2x − 1) ⇐⇒ y − 3 = log7 (2x − 1) ⇐⇒
2 2
⇐⇒ 2 (y − 3) = log7 (2x − 1) ⇐⇒ 2x − 1 = 72y−6 ⇐⇒
1 1
⇐⇒ x = + × 72y−6 .
2 2

Podemos agora definir a inversa, tendo-se:


¸ ∙
−1 1
y : R→ , +∞
2
1 1
x 7−→ + × 72x−6 .
2 2
134 V. FUNÇÕES TRANSCENDENTES.

Exercício 1.5.
Considere a função real, de variável real, definida por:

f (x) = 1 + ln(2 − 3x).

Determine:

(1) O seu domínio;


(2) Uma
µ expressão
¶ designatória da sua inversa;
2−e
(3) f .
3
Soluções.
¤ £
(1) Df = −∞, 23 ;
−1 2 − ex−1
(2) f (x) = ;
3
(3) 2.

Exercício 1.6.
Caracterize a função inversa de cada uma das seguintes f.r.v.r.:

(1) t(x) = 1 + 3x−1 ;


(2) s(x) = log 1 (1 − 3x);
2

(3) p(x) = 5 − log10 (x + 5).


Soluções:

(1)
y −1 : ]1, +∞[→ R
x 7−→ 1 + log3 (x − 1) :
(2)
y −1 : R → ] − ∞, 13 [
1
x 7−→ 3
− 13 ( 12 )x :
(3)
y −1 : R → ] − 5, +∞[
x 7−→ −5 + 105−x .
1. FUNÇÃO EXPONENCIAL E FUNÇÃO LOGARíTMICA 135

Exercício 1.7.
Determine o conjunto solução das condições:
(1) 4(ln x)2 − 3 ln x − 7 < 0;
(2) ex + 7e−x = 8.
Soluções.
7
(1) ]e−1 , e 4 [;
(2) {0, ln 7}.

Exercício 1.8.
Determine E, sabendo que:
1
ln E = ln x + 2lny + 1.
2

Solução: E = e.y 2 . x.
CAPÍTULO VI

Trigonometria

1. Razões trigonométricas de ângulos agudos

Para determinar as razões trigonométricas de um determinado ângulo agudo α,


podemos recorrer a qualquer triângulo rectângulo que tenha esse ângulo α, pois todos
os triângulos rectângulos com um ângulo agudo de amplitude α são semelhantes.

Assim, de um modo geral:

medida do cateto oposto a α


sin α =
medida da hipotenusa

medida do cateto adjacente a α


cos α =
medida da hipotenusa

medida do cateto oposto a α


tan α =
medida do cateto adjacente a α

medida do cateto adjacente a α


cot α = .
medida do cateto oposto a α
137
138 VI. TRIGONOMETRIA

1.1. Fórmula fundamental da trigonometria.


Consideremos o seguinte triângulo [ABC] , rectângulo em C.

c
a

α
C A
b

Temos que:
a
sin α = logo a = c sin α
c
b
cos α = logo b = c cos α.
c
Pelo Teorema de Pitágoras:

a2 + b2 = c2 .

Então,

(c sin α)2 + (c cos α)2 = c2 ⇔ c2 (sin α)2 + c2 (cos α)2 = c2 .

Dividindo ambos os membros da igualdade anterior por c2 obtemos:

(sin α)2 + (cos α)2 = 1.

Assim, podemos escrever, de um modo mais simplificado, a fórmula fundamental da


trigonometria:

sin2 α + cos2 α = 1,

qualquer que seja o ângulo agudo α.


1. RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS DE ÂNGULOS AGUDOS 139

1.2. Relação entre o seno, o co-seno, a tangente e co-tangente de um


mesmo ângulo.
Partindo das definições das razões trigonométricas de um ângulo agudo α, deduzem-se
as seguintes fórmulas:
a
a sin α
tan α = = c =
b b cos α
c
b
b cos α
cot α = = ac = .
a sin α
c
Partindo da fórmula fundamental da trigonometria, deduzem-se as seguintes fórmulas:
1
sin2 α + cos2 α = 1 ⇔ 1 + tan2 α =
cos2 α
1
sin2 α + cos2 α = 1 ⇔ 1 + cot2 α = .
sin2 α
Exemplo 1.1.
Determine
sin2 α,

sabendo que √
3
tan α = .
5
Resolução. Tendo em conta a fórmula:
1
1 + cot2 α = ,
sin2 α
vem
25 1 3
1+ = 2 ⇔ sin2 α = .
3 sin α 28
Exercício 1.1.
√ 7
Sendo α um ângulo agudo e tan α = 5, calcule sin2 α + 2 cos2 α. Solução:
6
Exercício 1.2.
Sendo α um ângulo agudo, mostre que:
sin α 1 + cos α 2
+ = .
1 + cos α sin α sin α
140 VI. TRIGONOMETRIA

2. Ângulos orientados. Medidas de ângulos

2.1. Ângulo orientado.


• •
Consideremos as semi-rectas OA e OB.

O A B

• •
Se a semi-recta OA ficar fixa (lado de origem) e a semi-recta OB (lado de extremidade)
rodar em torno da origem no sentido contrário aos ponteiros do relógio, obtém-se o
ângulo positivo AOB.
B

O
A
• •
Se a semi-recta OA fica fixa (lado de origem) e a semi-recta OB (lado de extremidade)
vai rodar em torno da origem no sentido dos ponteiros do relógio obtém-se o ângulo
negativo AOB.
A
O

2.2. Ângulo num referêncial.


Quando representamos um sistema de eixos ortogonais e monométricos ficamos com o
plano dividido em quatro quadrantes. Representa-se um ângulo num referêncial quando
de coloca:
• o vértice na origem das coordenadas;
• o lado de origem do ângulo a coincidir com o semi-eixo positivo dos xx.
2. ÂNGULOS ORIENTADOS. MEDIDAS DE ÂNGULOS 141

2º quadrante 1º quadrante
y
C

+
x
A

3º quadrante 4º quadrante

Consideremos a seguinte figura:

• O ângulo α tem o lado de extremidade no 2.o quadrante. Diz-se que α é um


ângulo do 2.o quadrante.
• O ângulo β tem o lado de extremidade no 3.o quadrante. Diz-se que β é um
ângulo do 3.o quadrante.
142 VI. TRIGONOMETRIA

2.3. Generalização da noção de ângulo.



Consideremos a seguinte figura onde a semi-recta OB descreve o ângulo α.

O A x


Imaginemos agora que a semi-recta OB vai dar voltas completas em ambos os sentidos.
Os ângulos:

α; α + 360o ; α − 360o ; α + 2 × 360o ; α − 2 × 360o ; · · ·

têm o mesmo lado de origem e o mesmo lado de extremidade.


De um modo geral, temos que se α é uma das amplitudes de um ângulo orientado,
então α + k × 360o , k ∈ Z são também amplitudes de ângulos que têm o mesmo lado
de origem e o mesmo lado de extremidade.

2.4. O radiano.
Na figura seguinte representou-se um arco AB cujo comprimento é igual ao raio da
circunferência.

Chama-se um radiano à amplitude de um ângulo ao centro cujo arco correspondente


tem comprimento igual ao raio da circunferência.
2. ÂNGULOS ORIENTADOS. MEDIDAS DE ÂNGULOS 143

Como o perímetro de uma circunferência, de raio r, é igual a 2πr, a medida em


radianos, do comprimento da circunferência, é 2π.
Assim, uma circunferência contém o seu raio 2π vezes. Tendo em conta que π =
3, 14 · · · , uma circunferência contém o seu raio 6, 28 vezes.

2.5. Sistema sexagesimal e sistema circular.


O sistema sexagesimal já se usa desde a antiguidade. Neste sistema a unidade funda-
mental é o grau. Neste sistema temos:
• Um ângulo giro corresponde a 360o .
• Um grau corresponde 60 minutos (1o = 600 ) .
• Um minuto corresponde a 60 segundos (10 = 6000 ) .
No sistema circular a medida fundamental é o radiano (rad).

Exemplo 2.1.
Reduza a radianos os ângulos 45o , 150o e −30o .
Resolução:

180 –– π 180 –– π 180 –– π


45 –– x 150 –– y −30 –– z

45.π π 150.π 5π −30.π π


x= ⇔x= y= ⇔y= z= ⇔z=−
180 4 180 6 180 6
π 5π π
Assim, 45o correspondem a rad, 150o a rad e −30o a − rad.
4 6 6
Exemplo 2.2.
π 3π
Reduza a graus rad, rad e 1 rad.
10 4
Resolução:
π –– 180 π –– 180 π –– 180
π 3π
–– x –– y 1 –– z
10 4

x = 18 y = 135 z ' 57
π 3π
Assim, rad correspondem a 18o , rad a 135o e 1 rad a 57o .
10 4
144 VI. TRIGONOMETRIA

Exercício 2.1.
Reduza a radianos cada uma das seguintes amplitudes:
³π ´
(1) 60o rad
3
³π ´
o
(2) 90 rad
2

(3) 180o ( π rad)


µ ¶
o 3π
(4) 270 rad
2

µ ¶
o 7π
(5) 210 rad
6

µ ¶

(6) −315o − rad .
4

Exercício 2.2.
Exprima no sistema sexagesimal:
π
(1) − rad (−60o )
3


(2) rad (120o )
3


(3) rad (300o )
3

11π
(4) rad (165o ) .
12

3. Generalização das razões trigonométricas

3.1. Definições.
Na figura seguinte o lado de extremidade do ângulo α intersecta a circunferência de
raio 1 e centro O no ponto P → (x, y) e a circunferência de raio r e centro O no ponto
3. GENERALIZAÇÃO DAS RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS 145

P1 → (a, b) .

Temos:

b y
sin α = = =y
r 1

a x
cos α = = =x
r 1

b y
tan α = =
a x

a x
cot α = = .
b y

Como o valor das razões trigonométricas não depedende do raio da circunferência


vamos usar sempre o círculo de raio 1 e centro na origem a que se chama círculo
trigonométrico.

3.2. Linhas trigonométricas.


Na figura seguinte representamos um ângulo α do 1.o quadrante que intersecta uma
146 VI. TRIGONOMETRIA

circunferência de raio 1 e centro O no ponto P → (x, y) .

• Ao eixo dos xx é usual chamar eixo dos co-senos (cos α = x) .


• Ao eixo dos yy é usual chamar eixo dos senos (sin α = y) .
• Temos ainda a linha das tangentes e a linha das co-tangentes assinaladas na
figura.

3.3. Enquadramento das razões trigonométricas.


Facilmente verificamos que o seno do ângulo α, sendo a ordenada do ponto P associado
ao ângulo α do círculo trigonométrico, pode tomar qualquer valor entre −1 e 1. Assim:

−1 ≤ sin α ≤ 1.

Da mesma forma verificamos que o co-seno de ângulo α, sendo a abcissa do ponto P


associado ao ângulo α do círculo trigonométrico, pode tomar qualquer valor entre −1
e 1. Assim:

−1 ≤ cos α ≤ 1.

A tangente e a co-tangente de um ângulo α podem ser um número real qualquer.


3. GENERALIZAÇÃO DAS RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS 147

3.4. Sinal das razões trigonométricas.


O sinal das razões trigonométricas depende somente do sinal das coordenadas do ponto
P associado ao ângulo α do círculo trigonométrico.

3.5. Razões trigonométricas de 0o , 90o , 80o e 270o .


Tendo em conta os conhecimentos anteriormente adquiridos podemos construir o seguinte
quadro:

α sin α cos α tan α cot α


0o (0) 0 1 0 −
³π ´
90o 1 0 − 0
2
o
180 (π) 0 −1 0 −
µ ¶
o 3π
270 −1 0 − 0
2
π π π
3.6. Razões trigonométricas de , e .
6 4 3
π π π
O cálculo das razões trigonométricas de , e , fica como exercício ao cuidado dos
6 4 3
alunos.

Exercício 3.1.
Determine as razões trigonométricas de:
148 VI. TRIGONOMETRIA
√ √
π π 1 π 3 π 3 π √
(1) Solução: sin = , cos = , tan = , cot = 3
6 6 2
√ 6 2√ 6 3 6
π π 2 π 2 π π
(2) Solução: sin = , cos = , tan = 1, cot = 1
4 4 √2 4 2 4 4 √
π π 3 π 1 π √ π 3
(3) Solução: sin = , cos = , tan = 3, cot =
3 3 2 3 2 3 3 3

4. Redução ao 1.o quadrante

Nas tabelas trigonométricas apenas encontramos os valores das razões trigonométri-


h πi
cas de ângulos do intervalo 0, . Não é necessária mais informação pois para qualquer
2
ângulo no 2.o quadrante, 3.o ou 4.o quadrantes existe um ângulo no 1.o quadrante que
tem em valor absoluto as mesmas razões trigonométricas.

4.1. Ângulos do 2.o quadrante.


Vamos reduzir ao 1.o quadrante sin 120o e cos 120o . Temos:

sin 120o = sin (180o − 60o ) = sin 60o

cos 120o = cos (180o − 60o ) = − cos 60o .

De um modo geral, temos:

sin (180o − α) = sin α cos (180o − α) = − cos α

tan (180o − α) = tan α cot (180o − α) = − cot α.


4. REDUÇÃO AO 1.o QUADRANTE 149

4.2. Ângulos do 3.o quadrante.


Vamos reduzir ao 1.o quadrante sin 210o e cos 210o . Temos:

sin 210o = sin (180o + 30o ) = − sin 30o

cos 210o = cos (180o + 30o ) = − cos 30o .

De um modo geral, temos:

sin (180o + α) = − sin α cos (180o + α) = − cos α

tan (180o + α) = tan α cot (180o + α) = cot α.

4.3. Ângulos do 4.o quadrante.


Vamos reduzir ao 1.o quadrante sin 330o e cos 330o . Temos:

sin 330o = sin (360o − 30o ) = − sin 30o

cos 330o = cos (360o − 30o ) = cos 30o .


150 VI. TRIGONOMETRIA

De um modo geral, temos:

sin (360o − α) = − sin α cos (360o − α) = cos α

tan (360o − α) = − tan α cot (360o − α) = − cot α.

Exemplo 4.1.
Simplifique a expressão sin (3π − α) + cos (α − 7π) + tan (4π − α) .
Resolução. Temos:

sin (3π − α) = sin (π − α) = sin α

cos (α − 7π) = cos (π + α) = − cos α

tan (4π − α) = tan (2π − α) = − tan α.

Logo,

sin (3π − α) + cos (α − 7π) + tan (4π − α) = sin α − cos α − tan α.

4.4. Ângulos complementares.


O ângulo de amplitude 60o é complementar do ângulo de amplitude 30o . Assim, o
ângulo de amplitude α é complementar do ângulo de amplitude 90o − α. Conhecidas as
razões trigonométricas de um ângulo α, podemos determinar as razões trigonométricas
do seu complementar (figura ao cuidado dos alunos) .
5. EQUAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 151

De um modo geral, temos:

sin (90o − α) = cos α cos (90o − α) = sin α

tan (90o − α) = cot α cot (90o − α) = tan α.

4.5. Relação entre as razões trigonométricas de α com 90o + α; 270o − α;


270o + α..
É ainda possível estabelecer as relações entre as razões trigonométricas de outros ân-
gulos. As figuras em cada um dos casos fica ao cuidado dos alunos.
De um modo geral, temos:

α e 90o + α α e 270o − α α e 270o + α


sin (90o + α) = cos α sin (270o − α) = − cos α sin (270o + α) = − cos α
cos (90o + α) = − sin α cos (270o − α) = − sin α cos (270o + α) = sin α
tan (90o + α) = − cot α tan (270o − α) = cot α tan (270o + α) = − cot α
cot (90o + α) = − tan α cot (270o − α) = tan α cot (270o + α) = − tan α

Exercício 4.1. µ ¶
π 3π 3π √
Sabendo que < α < e tan − α = 2, mostre que:
2 2 2
³π ´ 3 − 2√3
2 2 3
tan (π − α) − sin (α − 9π) + cos −α = .
2 18

Exercício 4.2.
³ π ´
Sabendo que cot − − β = 5 e que β ∈ ]0, π[ , mostre que:
2
³ µ ¶ √
π´ 5π 26 + 65
sin −β − + cos (π + β) − cot −β =− .
2 2 13

5. Equações trigonométricas

5.1. Equações do tipo sin x = p.

• Quando p ∈ ]−1, 1[ , há duas soluções em [0, 2π] e, se uma delas for α, temos:

sin x = sin α ⇔ x = α + 2kπ ∨ x = π − α + 2kπ, k ∈ Z.


152 VI. TRIGONOMETRIA

• Nos casos de p ∈ {−1, 0, 1} , as expressões gerais das soluções da equação


podem tomar um aspecto mais simples:

π
sin x = −1 ⇔ x = − + 2kπ, k ∈ Z
2
π
sin x = 1 ⇔ x = + 2kπ, k ∈ Z
2
sin x = 0 ⇔ x = kπ, k ∈ Z.

• Se p ∈ R \ [−1, 1], a equação é impossível.

Exemplo 5.1.
³ π´ 1
Resolva em R a equação sin 2x + = .
3 2
Resolução:
³ π´ 1
sin 2x + =
3 2
π π π π
⇔ 2x + = + 2kπ ∨ 2x + = π − + 2kπ, k ∈ Z
3 6 3 6
π π
⇔ x = − + kπ ∨ x = + kπ, k ∈ Z.
12 4
n π π o
S = x ∈ R : x = − + kπ ∨ x = + kπ, k ∈ Z .
12 4

Exemplo 5.2.

Resolva em R a equação 2 + 2 sin (3x) = 0.
Resolução:

2 + 2 sin (3x) = 0

2
⇔ sin (3x) = −
2
π π
⇔ 3x = − + 2kπ ∨ 3x = π + + 2kπ, k ∈ Z
4 4
π 2 5π 2
⇔ x = − + kπ ∨ x = + kπ, k ∈ Z.
12 3 12 3
½ ¾
π 2 5π 2
S = x ∈ R : − + kπ ∨ x = + kπ, k ∈ Z .
12 3 12 3
5. EQUAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 153

Exemplo 5.3.
Resolva em R a equação sin3 (2x) − sin (2x) = 0.
Resolução:

sin3 (2x) − sin (2x) = 0


£ ¤
⇔ sin (2x) sin2 (2x) − 1 = 0

⇔ sin (2x) = 0 ∨ sin (2x) = −1 ∨ sin (2x) = 1


kπ 3π π
⇔x= ∨x= + kπ ∨ x = + kπ, k ∈ Z.
2 4 4

½ ¾
kπ 3π π
S= x∈R:x= ∨x= + kπ ∨ x = + kπ, k ∈ Z .
2 4 4

Exercício 5.1.
Resolva em R as seguintes equações:
½ ¾
√ π 2kπ 2π 2kπ
(1) 2 sin (5x) = 3; S= x∈R:x= + ∨x= + , k∈Z ;
15 5 15 5
½ ¾
√ π 3π
(2) 2 − 2 sin x = 0; S = x ∈ R : x = + 2kπ ∨ x = + 2kπ, k ∈ Z ;
4 4
√ ½ ¾
7x 3 2π 4kπ 8π 4kπ
(3) sin =− ; S= x∈R:x=− + ∨x= + , k∈Z ;
2 2 21 7 21 7

(4) sin2 x − 2 sin x = 0;S = {x ∈ R : x = kπ, k ∈ Z}


½ ¾
π 2
(5) x sin (3x) = x; S = x ∈ R : x = 0 ∨ x = + kπ, k ∈ Z ;
6 3
½ ¾
2 π kπ
(6) sin (2x) − 1 = 0; S= x∈R:x= + , k∈Z .
4 2

5.2. Equações do tipo cos x = p.

• Quando p ∈ ]−1, 1[ , há duas soluções em [0, 2π] e, se uma delas for α, temos:

cos x = cos α ⇔ x = α + 2kπ ∨ x = −α + 2kπ, k ∈ Z.


154 VI. TRIGONOMETRIA

• Nos casos de p ∈ {−1, 0, 1} as expressões gerais das soluções da equação podem


tomar um aspecto mais simples:

cos x = −1 ⇔ x = π + 2kπ, k ∈ Z

cos x = 1 ⇔ x = 2kπ, k ∈ Z
π
cos x = 0 ⇔ x = + kπ, k ∈ Z.
2
• Se p ∈ R \ [−1, 1] , a equação é impossível.

Exemplo 5.4. √
2
Resolva em R a equação cos (3x) = .
2
Resolução: √
2
cos (3x) =
2
π π
⇔ 3x = + 2kπ ∨ 3x = − + 2kπ, k ∈ Z
4 4
π 2kπ π 2kπ
⇔x= + ∨x=− + , k ∈ Z.
½ 12 3 12 3 ¾
π 2kπ π 2kπ
S= x∈R:x= + ∨x=− + , k∈Z .
12 3 12 3
Exemplo 5.5.
³ π´
Resolva em R a equação cos (5x) = − cos x + .
6
Resolução:
³ π´
cos (5x) = − cos x + [− cos γ = cos (π − γ)]
6
³ π´
⇔ cos (5x) = cos π − x −
6
5π 5π
⇔ 5x = − x + 2kπ ∨ 5x = − + x + 2kπ, k ∈ Z
6 6
5π kπ 5π kπ
⇔x= + ∨x=− + , k ∈ Z.
36 3 24 2
½ ¾
5π kπ 5π kπ
S= x∈R:x= + ∨x=− + , k∈Z .
36 3 24 2
Exercício 5.2.
Resolva em R as seguintes equações:
5. EQUAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 155

³ √
π´ 3 n π π o
(1) cos x + = ; S = x ∈ R : x = − + 2kπ ∨ x = − + 2kπ, k ∈ Z ;
3 √ 2 ½ 6 2 ¾
2 3π 2 3π 2
(2) cos (5x) = − ; S= x∈R:x= + kπ ∨ x = − + kπ, k ∈ Z ;
2 ½ 20 5 20 5 ¾
³ π ´ 1 kπ π kπ
(3) cos2 2x + = ; S= x∈R:x= ∨x=− + , k∈Z ;
3 4 © 2 3 2 ª
(4) 4 cos2 x−12 cos x+5 = 0; S = x ∈ R : x = π3 + 2kπ ∨ x = − π3 + 2kπ, k ∈ Z ;
n π o
2
(5) sin x = − sin x cos x; S = x ∈ R : x = kπ ∨ x = − + kπ, k ∈ Z ;
n 4 o
π
(6) cos2 x + cos x = 0. S = x ∈ R : x = + kπ ∨ x = π + 2kπ, k ∈ Z .
2

5.3. Equações do tipo tan x = p e cot x = p.


Para qualquer valor real de p as equações têm sempre solução. Se uma das soluções da
equações for α, vem:

tan x = tan α ⇔ x = α + kπ, k ∈ Z

cot x = cot α ⇔ x = α + kπ, k ∈ Z.

Exemplo 5.6.
Resolva em R a equação tan2 (2x) = 1.
Resolução:
tan2 (2x) = 1
⇔ tan (2x) = ±1.

tan (2x) = 1 tan (2x) = −1


π π
⇔ 2x =+ kπ, k ∈ Z ; ⇔ 2x = − + kπ, k ∈ Z
4 4
π kπ π kπ
⇔x= + , k∈Z ⇔x=− + , k ∈ Z.
8 2 8 2
Assim,
π kπ
tan2 (2x) = 1 ⇔ x = ± + , k ∈ Z.
8 2
½ ¾
π kπ
S= x∈R:x=± + , k∈Z .
8 2

Exercício 5.3.
Resolva em R as seguintes equações:
156 VI. TRIGONOMETRIA
½ ¾
√ π kπ
(1) tan (2x) = − 3; S= x∈R:x=− + , k∈Z ;
½ 6 ¾2
π 3π
(2) cot x = cot (3x) , em [0, 2π] . S= , .
2 2

6. Funções circulares directas

6.1. Função seno.


Consideremos a função

f: R→ [−1, 1]
x 7−→ f (x) = sin x.

A sua representação gráfica é:

1.0
y
0.5

-10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10
-0.5 x

-1.0
y = sin x

Temos:

• Df = R
• Df0 = [−1, 1]
• A função seno é contínua em R
• A função seno é limitada
• sin (2π + x) = sin x (A função seno é periódica de período 2π)
• sin (−x) = − sin x, ∀ x ∈ R (A função seno é uma função ímpar)
π
• A função seno tem máximos relativos para: x = + 2kπ, k ∈ Z
2

• A função seno tem mínimos relativos para: x = + 2kπ, k ∈ Z
2
• A função seno tem zeros para: x = kπ, k ∈ Z
• A função seno não é injectiva: 0 6= π e sin (0) = sin π = 0 (por exemplo)
• Não existe lim sin x.
x→±∞
6. FUNÇÕES CIRCULARES DIRECTAS 157

Exemplo 6.1.
Determine o parâmetro real p, de modo que a expressão
3p − 5
2
possa representar o seno de um ângulo.
Resolução: Como o seno de um ângulo varia entre −1 e 1, terá de ser
3p − 5
−1 ≤ ≤ 1.
2
Então:
3p − 5 7
−1 ≤ ≤ 1 ⇔ −2 ≤ 3p − 5 ≤ 2 ⇔ 3 ≤ 3p ≤ 7 ⇔ 1 ≤ p ≤ .
2 3
Assim, ∙ ¸
7
p ∈ 1, .
3

Exercício 6.1.
Determine o domínio e o contradomínio das funções reais, de variável real, definidas
por:
³ π´
(1) p (x) = 2 sin x + ; Solução: Dp = R e Dp0 = [−2, 2]
3
(2) r (x) = −1 − sin2 (3x) . Solução: Dr = R e Dr0 = [−2, −1]

Exercício 6.2.
Considere a função real, de variável real, definida em [−π, π] por f (x) = 2 sin x.
(1) Determine o contradomínio, os zeros e os intervalos em que a função é cres-
cente e positiva.
(2) Indique um ponto em que a função seja máxima.
Soluções.
(1) (a) Df0 = [−2, 2] .
(b) Zeros: −π, 0 e π.
h π πi
(c) A função é crescente em − , , e é positiva no 1.o e 2.o quadrantes.
³π ´ 2 2
(2) S = ,2 .
2
158 VI. TRIGONOMETRIA

Exercício 6.3.
Considere a função real, de variável real, definida por f (x) = sin (2πx) .

(1) Mostre que o período da função é 1.


(2) Represente graficamente a função.

Exercício 6.4.
Mostre que a função real, de variável real, definida por f (x) = 2 sin (2x) é ímpar.

6.2. Função co-seno.


Consideremos a função
f: R→ [−1, 1]
x 7−→ f (x) = cos x.
A sua representação gráfica é:

1.0
y
0.5

-10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10
-0.5 x

-1.0
y = cos x

Temos:

• Df = R
• Df0 = [−1, 1]
• A função co-seno contínua em R
• A função co-seno é limitada
• cos (2π + x) = cos x (A função co-seno é periódica de período 2π)
• cos (−x) = cos x, ∀ x ∈ R (A função co-seno é uma função par)
• A função co-seno tem máximos relativos para: x = 2kπ, k ∈ Z
• A função co-seno tem mínimos relativos para: x = π + 2kπ, k ∈ Z
π
• A função co-seno tem zeros para: x = + kπ, k ∈ Z
2
6. FUNÇÕES CIRCULARES DIRECTAS 159
³π ´ µ ¶
π 3π 3π
• A função co-seno não é injectiva: 6= e sin = sin = 0
2 2 2 2
(por exemplo)
• Não existe lim cos x.
x→±∞

Exemplo 6.2.
Determine os valores reais de m tais que a equação

cos (x) + 1 − m2 = 0

tenha soluções em [−2π, 2π] .


Resolução: Para que equação cos (x) = m2 − 1 seja possível é preciso que

−1 ≤ m2 − 1 ≤ 1.

Então,
h √ √ i
m2 ≥ 0 ∧ m2 − 2 ≤ 0 ⇔ m2 − 2 ≤ 0 ⇔ m ∈ − 2, 2 .

Exercício 6.5.
Considere a função real, de variável real, definida por f (x) = 1 + cos (x − π) . Indique:
(1) o domínio e o contradomínio de f ;
(2) os zeros e o sinal da função;
(3) os quadrantes onde a função é crescente e onde é decrescente.
Soluções:
(1) Df = R; Df0 = [0, 2] .
(2) Os zeros de f são todos os valores da forma 2kπ, k ∈ Z.
(3) A função é crescente nos 1.o e 2.o quadrantes e decrescente nos 3.o e 4.o qua-
drantes.

Exercício 6.6.
Determine o parâmetro real p, de modo que seja possível, em R, cada uma das seguintes
equações.
∙ ¸
1 − 3p 4
(1) cos x = ; Solução: p ∈ − , 2 .
5 3
160 VI. TRIGONOMETRIA
£ √ √ ¤
(2) 3 cos x − 1 − p2 = 0. Solução: p ∈ − 2, 2 .
" √ √ #
3− 5 3+ 5
(3) cos x = p2 − 3p + 2. Solução: p ∈ , .
2 2

Exercício 6.7.
Considere a funções reais, de variável real, definidas por:

p (x) = 1 − cos (3x) e r (x) = 1 + cos (2x) .

Determine.
³π ´ ³π ´ ³π ´
(1) p +r −r ; Solução: 2.
³ π6 ´ ³ π ´4 2
(2) r .p ; Solução: 3.
6 3
Exercício 6.8.
Calcule o período da funções reais, de variável real, definidas por:
π
(1) f (x) = cos (4x) ; Solução: .
2
(2) g (x) = 4 + cos x; Solução: 2π.
(3) h (x) = 4 cos x; Solução: 2π.

6.3. Função tangente.


Consideremos a função:
nπ o
f: R\ + kπ, k ∈ Z −→ R
2
x 7−→ f (x) = tan x.
A sua representação gráfica é:

10
y
5

-6 -4 -2 2 4 6
x
-5

-10
y = tan x
6. FUNÇÕES CIRCULARES DIRECTAS 161

Temos:
nπ o
• Df = R \ + kπ, k ∈ Z
2
• Df0 = R
• tan (π + x) = tan x, ∀ x ∈ Df (A função tangente é periódica de período π)
• tan (−x) = − tan (x) , ∀ x ∈ Df (A função tangente é uma função ímpar)
• A função tangente tem zeros para: x = kπ, k ∈ Z
• A função tangente é crescente em todos os intervalos do domínio.

Exemplo 6.3.
Considere a função real, de variável real, definida por f (x) = −1+tan (x + π) . Indique:
(1) o domínio e o contradomínio de f ;
(2) os zeros da função.
Resolução.
n π o n π o
(1) Df = x ∈ R : x + π 6= + kπ, k ∈ Z = x ∈ R : x 6= − + kπ, k ∈ Z ;
2 2
Df0 = R.
(2) Os zeros da função f são as soluções da equação f (x) = 0.

f (x) = 0 ⇔ tan (x + π) = 1
π
⇔ x + π = + kπ, k ∈ Z
4

⇔ x = − + kπ, k ∈ Z.
4
Exercício 6.9.
³π ´
Considere a função real, de variável real, definida por f (x) = tan − x . Determine:
³π ´ ³π ´ 2
(1) f −f ;
2 4
(2) o domínio e o contradomínio da função;
(3) os seus zeros;
(4) o período de f.
Soluções:
(1) −1;
(2) Df = {x ∈ R : x 6= kπ, k ∈ Z} ; Df0 = R;
162 VI. TRIGONOMETRIA

π
(3) x = + kπ, k ∈ Z;
2
(4) π.

6.4. Função co-tangente.


Consideremos a função:

f : R \ {kπ, k ∈ Z} −→ R
x 7−→ f (x) = cot x.
A sua representação gráfica é:

y 10

-6 -4 -2 2 4 6 8
x
-5

-10
y = cot x

Temos:
• Df = R \ {kπ, k ∈ Z}
• Df0 = R
• cot (π + x) = cot x, ∀ x ∈ Df (A função co-tangente é periódica de período π)
• cot (−x) = − cot x, ∀ x ∈ Df (A função tangente é uma função ímpar)
π
• A função tangente tem zeros para: x = + kπ, k ∈ Z
2
• A função tangente é crescente em todos os intervalos do domínio.
CAPÍTULO VII

Cálculo diferencial em R

1. Recta tangente a uma curva num dos seus pontos.

Recorda-se que a inclinação de uma recta é o ângulo que a recta faz com o semi-eixo
positivo dos xx. Assim o declive de uma recta que passa pelos pontos M0 = (x0 , y0 ) e
M1 = (x1 , y1 ) é igual a

y1 − y0
tg α = .
x1 − x0

Exercício 1.1.

(1) Determine o declive de uma recta:


(a) que passe pelos pontos de coordenadas (0, 1) e (2, −1);
(b) paralela ao vector (−1, 3) .
(2) Considere a recta de equação x = 1. Qual a sua inclinação? E o seu declive?

Considerem-se uma função f e M0 = (x0 , f (x0 )) um ponto do seu gráfico. Seja


M = (x, f (x)) um qualquer ponto do gráfico distinto de M0 .
163
164 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

A recta M0 M é secante à curva e tem por declive


f (x) − f (x0 )
m= .
x − x0
Quando M se move sobre a curva aproximando-se de M0 , as sucessivas secantes M0 M
aproximam-se cada vez mais da posição da recta t, chamada recta tangente ao gráfico
da função f no ponto M0 . Assim, a recta t é a recta que passa por M0 e tem por declive
f (x) − f (x0 )
m = lim .
x→x0 x − x0

2. Derivada de uma função num ponto; derivadas laterais.

Vimos que o declive da recta tangente à curva de equação y = f (x) no ponto


M0 = (x0 , f (x0 )) é igual a
f (x) − f (x0 )
lim .
x→x0 x − x0

Definição 2.1.
Seja f uma função real, de variável real, definida em ]a, b[ . Diz-se que f é derivável
em x0 ∈ ]a, b[ se existir e for finito

f (x) − f (x0 )
lim ,
x→x0 x − x0
a que se chama derivada de f em x0 .

Notação: Escrever-se-á f 0 (x0 ) para representar a derivada, caso exista, de f em x0 .


2. DERIVADA DE UMA FUNÇÃO NUM PONTO; DERIVADAS LATERAIS. 165

f (x) − f (x0 )
Note-se que se lim for infinito, a função não é derivável em x0 , não
x→x0 x − x0
existindo f 0 (x0 ). Tal corresponde a uma recta tangente à curva de f em x0 paralela ao
eixo dos yy.
f (x) − f (x0 )
Vimos anteriormente que f 0 (x0 ) = lim . Assim, fazendo x = x0 + h
x→x0 x − x0
vem x − x0 = h, pelo que quando x tende para x0 , h tende para 0. Tem-se então
f (x0 + h) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim .
h→0 h
Nota:
Uma equação da recta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , f (x0 ))
pode representar-se por

y − f (x0 ) = f 0 (x0 ) (x − x0 ) .

Considere os seguintes exemplos:

Exemplo 2.1.
(1) Considere-se a função f real, de variável real, definida por f (x) = x2 − 1.
Vamos verificar que esta função é derivável no ponto 1. Tem-se:

f (x) − f (1) x2 − 1 − 0 (x − 1) (x + 1)
lim = lim lim = lim (x + 1) = 2.
x→1 x−1 x→1 x − 1 x→1 x−1 x→1

Assim, f é derivável em x = 1 e f 0 1) = 2.
x
(2) A função f real, de variável real, definida por f (x) = é derivável no
x−1
ponto x0 = 0. De facto:
h
f (0 + h) − f (0) 1
lim = lim h − 1 = lim = −1.
h→0 h h→0 h h→0 h − 1

Assim, f é derivável em x0 = 0 e f 0 (0) = −1.



(3) Sejam f definida por f (x) = 3 x e x0 = 0. Tem-se:

3
1
f (0 + h) − f (0) h h3 1
lim = lim = lim = lim 2 = +∞.
h→0 h h→0 h h→0 h h→0
h3
Assim, f não é derivável em x0 = 0.
166 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

Exercício 2.1.

(1) Utilize a definição para calcular a derivada das funções nos pontos indicados:
(a) f (x) = x3 − 3x ; x0 = 1
1
(b) g(x) = 2 ; x0 = 3
x +1
x−1
(c) h(x) = ; x0 = 0.
x+1
(2) Determine uma equação da recta tangente ao gráfico de f definida por f (x) =

x2 + 9 no ponto de abcissa 4.
(3) Prove a partir da definição que sendo f (x) = xn , n ∈ N, se tem f 0 (1) = n.

Considere-se agora a função definida por f (x) = |x| . Tem-se:



⎨ x se x ≥ 0
f (x) = .
⎩ −x se x < 0

y
4

-4 -2 0 2 4
x

Verifica-se que:

• Não existe recta tangente ao gráfico da função no ponto (0, 0) mas existem a
semi-tangente à esquerda e a semi-tangente à direita nesse ponto, no entanto
com declives diferentes.
• Não existe o número
f (x) − f (0)
lim
x→0 x−0
f (x) − f (0) f (x) − f (0)
mas existem lim+ (é igual a 1) e lim− (é igual a −1).
x→0 x−0 x→0 x−0
Diremos que a derivada lateral à direita em x0 = 0 é igual a 1 e que a derivada
lateral à esquerda em x0 = 0 é igual a −1.
2. DERIVADA DE UMA FUNÇÃO NUM PONTO; DERIVADAS LATERAIS. 167

Definição 2.2.
Seja f uma função real de variável real e x0 ∈ Df . Diz-se que f é derivável à esquerda
de x0 se existir o número real

f (x) − f (x0 )
lim− ,
x→x0 x − x0

a que se chama derivada lateral à esquerda de x0 e se representa por f 0 (x−


0 ) ou fe (x0 ).

Diz-se que f é derivável à direita de x0 se existir o número real

f (x) − f (x0 )
lim+ ,
x→x0 x − x0

a que chama derivada lateral à direita de x0 e se representa por f 0 (x+


0 ) ou fd (x0 ).

Obviamente a função f é derivável em x0 ∈ ]a, b[ ⊂ Df se e só se existem e forem


¡ ¢ ¡ ¢
iguais f 0 x−
0 e f 0 x+
0 . Neste caso

0 0 ¡ ¢ 0 ¡ +¢
f (x0 ) = f x− 0 = f x0 .

Observação: A partir da outra definição de derivada tem-se:

¡ ¢ f (x0 + h) − f (x0 )
f 0 x−
0 = lim−
h→0 h
e
¡ ¢ f (x0 + h) − f (x0 )
f 0 x+
0 = lim+ .
h→0 h
Geometricamente, a derivada à esquerda de x0 representa o declive da semi-tangente
à esquerda e a derivada à direita de x0 representa o declive da semi-tangente à direita.
168 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

Exemplo 2.2.
Considere-se a função definida em R por

⎨ −x2 + 7 se x<2
f (x) =
⎩ x+1 se x≥2

representada geometricamente abaixo.

Tem-se :
f (x) − f (2) −x2 + 7 − 3
lim− = lim−
x→2 x−2 x→2 x−2
− (x − 2) (x + 2)
= lim−
x→2 x−2
= lim− (−2 − x)
x→2
= −4.
Portanto f 0 (2− ) = −4. Por outro lado,
f (x) − f (2) x+1−3
lim+ = lim+
x→2 x−2 x→2 x−2
x−2
= lim
x→2+ x − 2
= 1.

Assim f 0 (2+ ) = 1. Como f 0 (2+ ) 6= f 0 (2− ) não existe f 0 (2) .

Exercício 2.2.
(1) Verifique gráfica e analiticamente que a função f , definida em R por

⎨ x2 + 1 se x<2
f (x) = ,
⎩ 3x − 1 se x≥2
3. DERIVABILIDADE E CONTINUIDADE 169

não é derivável no ponto x = 2.


(2) Verifique gráfica e analiticamente que a função g, definida em R por

⎨ x2 se x<1
g (x) = ,
⎩ 2x − 1 se x≥1

é derivável para x = 1.

Há casos em que a existência da derivada num ponto depende apenas da existência


de uma das derivadas laterais.
Por exemplo, seja f a função definida por

⎨ x se 0≤x<1
f (x) = .
⎩ 1 se x≥1

Tem-se
¡ ¢ f (x) − f (0)
f 0 (0) = f 0 0+ = lim+ = 1.
x→0 x−0

3. Derivabilidade e continuidade

Teorema 3.1.
Se uma função é derivável num ponto então é contínua nesse ponto.

Demonstração.
Suponhamos que f é derivável em x0 , isto é, existe e é finito
f (x) − f (x0 )
lim .
x→x0 x − x0
Como
f (x) − f (x0 )
f (x) − f (x0 ) = (x − x0 ) , x 6= x0
x − x0
vem
f (x) − f (x0 )
lim [f (x) − f (x0 )] = lim lim (x − x0 ) = f 0 (x0 ) × 0.
x→x0 x→x0 x − x0 x→x0
Como f 0 (x0 ) é um número real (finito), conclui-se que

lim [f (x) − f (x0 )] = 0


x→x0
170 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

isto é
lim f (x) = f (x0 )
x→x0

o que prova que f é contínua em x0 . ¤

Exemplo 3.1.
Seja g a função definida em R por g(x) = |x + 1| .
(1) Mostre que g é contínua em x0 = 1.
Resolução: ⎧
⎨ x+1 se x ≥ −1
g (x) = ,
⎩ −x − 1 se x < −1
logo
lim g (x) = lim + (x + 1) = 0
x→−1+ x→−1

.
lim g (x) = lim − (−x − 1) = 0
x→−1− x→−1

Como g (−1) = 0 vem lim g (x) = g (−1) e portanto g é contínua em x0 = −1.


x→−1
(2) Averigue se existe g0 (1) .
Resolução:
g (x) − g (−1) x+1−0
g 0 (−1+ ) = lim + = lim + =1
x→−1 x+1 x→−1 x+1
.
g (x) − g (−1) −x − 1 − 0
g 0 (−1− ) = lim − = lim − = −1
x→−1 x+1 x→−1 x+1
Como g0 (−1+ ) 6= g 0 (−1− ) não existe g0 (−1) .

Verifica-se que o recíproco do teorema anterior é falso, isto é, o facto de uma função
ser contínua num ponto não garante que seja derivável nesse ponto. Note que o teorema
anterior é falso se admitirmos que as derivadas podem tomar valores infinitos. Assim,
a função f : [0, 1] → R definida por

⎨ 1 se x ∈ ]0, 1]
f (x) =
⎩ 0 se x=0
4. FUNÇÃO DERIVADA 171

não é contínua à direita no ponto 0 e

f (x) − f (0) 1−0


lim+ = lim+ = +∞.
x→0 x−0 x→0 x

Exercício 3.1.

(1) A função m está definida por m(x) = x + 5.
(a) Aplicando a definição de derivada, calcule m0 (0) .
(b) A função é contínua no ponto 0?
(2) Considere a função real, de variável real, f definida por f (x) = |x − 3| .
(a) Mostre que f é contínua para x = 3.
(b) Calcule f 0 (3+ ) e f 0 (3− ) para verificar que não existe f 0 (3) .

4. Função derivada

Definição 4.1.
Seja f uma função real, de variável real. A função que a cada ponto do domínio faz
corresponder a derivada de f nesse ponto, caso exista, chama-se função derivada de f
e representar-se-á por f 0 .
Diremos que f é derivável num intervalo I ⊂ Df se for derivável em todos os pontos
de I.

Exemplo 4.1.
Determinar a função derivada da função definida em R por

⎨ x+1 se x>2
f (x) = .
⎩ 3x2 se x<2

Resolução:
172 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

• Determinação de f 0 (x) para x > 2. Tem-se:


f (x + h) − f (x) x+h+1−x−1
f 0 (x) = lim = lim = 1.
h→0 h h→0 h

• Determinação de f 0 (x) para x < 2. Tem-se:

f (x + h) − f (x) 3 (x + h)2 − 3x2


f 0 (x) = lim = lim
h→0 h h→0 h
3x2 + 6xh + 3h2 − 3x2
= lim = 6x.
h→0 h

• Determinação de f 0 (x) para x = 2. Tem-se:


2+h+1−3
f 0 (2+ ) = lim+ =1
h→0 h
2
3 (2 + h) − 3 12 + 12h + 3h2 − 3
f 0 (2− ) = lim− = lim− = −∞.
h→0 h h→0 h

• Não existe f 0 (2) pelo que a função derivada é

f 0 : R\ {2} → R

⎨ 1 se x>2 .
x → f 0 (x) =
⎩ 6x se x<2

5. Regras de derivação

(1) Derivada de uma função constante


Se f (x) = c (c constante) para todo o x ∈ R então f 0 (x) = 0.

Demonstração.

f (x + h) − f (x) c−c 0
f 0 (x) = lim = lim = lim = 0, para todo o x ∈ R.
h→0 h h→0 h h→0 h

¤
5. REGRAS DE DERIVAÇÃO 173

Observações:
• A recta tangente em cada ponto coincide com a própria recta representa-
tiva da função.
• O declive de uma recta horizontal é igual a zero.

Exercício 5.1.
Indique a derivada das funções definidas por:
5 √
a) r(x) = −4; b) s(x) = c) t(x) = 2.
4
(2) Derivada da função identidade
Seja f a função definida em R por f (x) = x.

Tem-se:
f (x + h) − f (x) x+h−x
f 0 (x) = lim = lim = 1.
h→0 h h→0 h
Assim, se f (x) = x então f 0 (x) = 1 para todo o x ∈ R.
(3) Derivada de uma soma de funções
Sejam f e g deriváveis num intervalo I e x0 ∈ I. Então f + g é derivável em
x0 e
(f + g)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) + g0 (x0 ).

Demonstração.
Tem-se:
(f + g) (x) − (f + g) (x0 ) f (x) − f (x0 ) g(x) − g(x0 )
lim = lim + lim =
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
= f 0 (x0 ) + g0 (x0 ).
174 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

Assim f + g é derivável em x0 e

(f + g)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) + g 0 (x0 ).

Exercício 5.2.
Determine a derivada de cada uma das funções definidas por:
(a) f (x) = x + 2;
3
(b) g(x) = + x;
4 √
(c) h(x) = x − 2.

(4) Derivada do produto de uma constante por uma função


Sejam f derivável num intervalo I, λ ∈ R e x0 ∈ I. Então a função λf é
derivável em x0 e
(λf )0 (x0 ) = λf 0 (x0 ) .

Demonstração.
Tem-se:
(λf ) (x) − (λf ) (x0 ) f (x) − f (x0 )
lim = λ lim = λf 0 (x0 ) .
x→x0 x − x0 x→x 0 x − x0
Logo λf é derivável em x0 e

(λf )0 (x0 ) = λf 0 (x0 ) .

Exercício 5.3.
Calcule: µ ¶0 µ ¶0
0 1 1
a) (2x) ; b) − x ; c) 3 − x ; d) (−3x)0 .
3 3
(5) Derivada de um produto de funções
Sejam f e g deriváveis num intervalo I e x0 ∈ I. Então fg é derivável em I e

(fg)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) g (x0 ) + f (x0 ) g 0 (x0 ) .


5. REGRAS DE DERIVAÇÃO 175

Demonstração.
Tem-se:
(f g) (x) − (f g) (x0 ) f (x) g (x) − f (x0 ) g (x0 )
=
x − x0 x − x0
e somando e subtraindo f (x0 ) g (x) vem:
(f g) (x) − (fg) (x0 ) f (x) − f (x0 ) g (x) − g (x0 )
= g (x) + f (x0 ) .
x − x0 x − x0 x − x0
Quando x → x0 , g (x) → g (x0 ) pois g é contínua (é derivável em x0 ), logo:
(f g) (x) − (f g) (x0 ) f (x) − f (x0 ) g (x) − g (x0 )
lim = g (x0 ) lim + f (x0 ) lim
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
0 0
= g (x0 ) f (x0 ) + f (x0 ) g (x0 ) .
Assim fg é derivável em x0 e

(fg)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) g (x0 ) + f (x0 ) g0 (x0 ) .

Nota: Esta propriedade verifica-se para um número n de funções deriváveis


em I, isto é:

(f1 f2 · · · fn )0 (x0 ) = f10 (x0 ) f2 (x0 ) · · · fn (x0 ) +

+f1 (x0 ) f20 (x0 ) · · · fn (x0 ) + f1 (x0 ) f2 (x0 ) · · · fn0 (x0 ) .

Exercício 5.4.
Calcule a derivada da função definida por f (x) = (x − 1) (x − 3) .

Consequência: “Derivada da potência de expoente natural”


Sejam f derivável num intervalo I e x0 ∈ I. Então f n , n ∈ N é derivável em
x0 e
(f n )0 (x0 ) = nf n−1 (x0 ) f 0 (x0 ) .

Exercício 5.5.
Calcule:
0 0 £ ¤0
a) (x3 ) ; b) (3x2 − 5x + 1) ; c) (x + 3)5 .
176 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

(6) Derivada de um quociente


Sejam f e g funções deriváveis num intervalo I e x0 ∈ I.
f
Se g (x0 ) 6= 0, é derivável em x0 e tem-se
g
µ ¶0
f f 0 (x0 ) g (x0 ) − f (x0 ) g 0 (x0 )
(x0 ) = .
g [g (x0 )]2

Demonstração.
1
Vamos estudar em primeiro lugar a derivada de .
g
Tem-se:
1 1 1 1
(x) − (x0 ) −
g g g (x) g (x0 ) −1 g (x) − g (x0 )
= =
x − x0 x − x0 g (x) g (x0 ) x − x0

e portanto
1 1
(x) − (x0 )
g g g0 (x0 )
lim =− .
x→x0 x − x0 [g (x0 )]2
1
Assim é derivável em x0 e
g
µ ¶0
1 g 0 (x0 )
(x0 ) = − .
g [g (x0 )]2

Então, atendendo ao que se disse para a derivada de um produto de funções,


f
é derivável em x0 e
g
µ ¶0 µ ¶0
f 1 f 0 (x0 ) g (x0 ) − f (x0 ) g0 (x0 )
(x0 ) = f (x0 ) = .
g g [g (x0 )]2

Exercício 5.6.
Calcule: "µ
µ ¶0 µ ¶0 µ ¶0 ¶3 #0
1 3x + 1 3x2 + 4 x−1
a) ; b) ; c) ; d) .
x+3 x2 − 8x x2 + 9 x+3
5. REGRAS DE DERIVAÇÃO 177

Consequência: “Derivada de uma potência de expoente inteiro negativo”


Seja f derivável num intervalo I , n ∈ N e x0 ∈ I. Suponhamos que f (x0 ) 6= 0.
Então f −n é derivável em x0 e
¡ −n ¢0
f = −nf −n−1 f 0 .

A demonstração fica como exercício.


Isto significa que a fórmula de derivação para uma potência de expoente na-
tural é válida para expoentes inteiros no pressuposto de que f (x0 ) 6= 0.

Exercício 5.7.
Mostre que:
10 h i0 8x
−10 0 2 −4
a) (x ) = − 11 ; b) (x − 3) =− 5;
x (x2 − 3)
"µ ¶−3 #0
x−1 3 (2 − 3x)2
c) = .
2 − 3x (x − 1)4

(7) Derivada da função composta


Seja f uma função definida sobre um intervalo I, g uma função definida sobre
o intervalo J contendo f (I), e x0 ∈ I. Se f é derivável em x0 e g é derivável
em f (x0 ), então g ◦ f é derivável em x0 e tem-se

(g ◦ f )0 (x0 ) = g0 [f (x0 )] f 0 (x0 ).

Demonstração.

(g ◦ f ) (x) − (g ◦ f ) (x0 ) g [f (x)] − g [f (x0 )]


lim = lim .
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
178 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

Represente-se f (x) por y e f (x0 ) por y0 . Então quando x tende para x0 , y


tende para y0 uma vez que f é contínua em x0 (por ser diferenciável) pelo que
∙ ¸
(g ◦ f ) (x) − (g ◦ f ) (x0 ) g (y) − g (y0 ) y − y0
lim = lim ×
x→x0 x − x0 x→x0 y − y0 x − x0
g (y) − g (y0 ) f (x) − f (x0 )
= lim lim
y→y0 y − y0 x→x0 x − x0
0 0
= g (y0 ) f (x0 )
= g 0 [f (x0 )] f 0 (x0 ).

Logo g ◦ f é derivável em x0 e

(g ◦ f )0 (x0 ) = g0 [f (x0 )] f 0 (x0 ).

Exercício 5.8.
Sendo f (x) = 2x − 3 e sabendo que g (1) = 4 e g0 (1) = 2, calcule:
a) (f ◦ g) (1) ; b) (f ◦ g)0 (1) .

(8) Derivada da função inversa


Sejam f uma aplicação bijectiva de um intervalo I num intervalo J e x0 ∈ I.
Suponhamos que f é derivável em x0 com f 0 (x0 ) 6= 0 e que a sua inversa
f −1 : J → I é contínua em y0 = f (x0 ) . Então f −1 é derivável em f (x0 ) e tem
por derivada
¡ −1 ¢0 1
f [f (x0 )] = .
f0 (x0 )
5. REGRAS DE DERIVAÇÃO 179

Demonstração.
Seja y = f (x). Por definição, vem:
f (x) − f (x0 ) y − y0 1
f 0 (x0 ) = lim = lim = lim x − x .
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0 x→x0 0
y − y0

Quando x tende para x0 , y tende para y0 pois f é contínua em x0 (por ser


derivável em x0 ), logo
1
f 0 (x0 ) = x − x0 .
lim
y→y0 y − y0

Como x = f −1 (y) e x0 = f −1 (y0 ) vem


1 1
f 0 (x0 ) = −1 −1 = −1 0 ,
f (y) − f (y0 ) (f ) (y0 )
lim
y→y0 y − y0
ou seja
¡ −1 ¢0 1
f (y0 ) = .
f0 (x0 )
¤

Exercício 5.9.
Sendo g uma função real de variável real invertível tal que g(2) = 10 e
0
g0 (2) = 4, calcule (g−1 ) (10) .

Consequência: “ Derivada da raiz ”



Suponhamos que f (x) = n x com n ∈ N e seja I um qualquer intervalo contido
em Df tal que 0 ∈
/ I. Então f é derivável em todo x ∈ I e
1
f 0 (x) = √
n
.
n xn−1
Demonstração.
√ √
Se y = xn então x = n y, pelo que se g(x) = xn então g −1 (y) = n y. Tem-se

g0 (x) = nxn−1 , pelo que para todo x em I vem


¡ −1 ¢0 1
g (y) =
nxn−1
180 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

onde y = xn . Daqui resulta


¡ −1 ¢0 1
g (y) = p
n y n−1
n

o que é equivalente a
1
f 0 (x) = √
n
.
n xn−1
¤

Exercício 5.10.
Derive cada uma das funções definidas por:
√ √
a) t(x) = 3 x; b) u(x) = 10 x.

Mais geralmente, como consequência do resultado sobre a derivada da


função composta vem:
Seja f uma função real de variável real definida num intervalo I, derivável em

x0 ∈ I, e tal que f (x0 ) 6= 0. Então n f é derivável em x0 e
³ p ´0 f 0 (x0 )
n
f (x0 ) = p .
n n f n−1 (x0 )

Exercício 5.11.

µr ¶0
3
3−x
Calcule indicando o domínio de validade do resultado.
x−1

Observação:
√ 1
Tem-se n f = f n , n ∈ N pelo que podemos escrever
³ 1 ´0 f 0 (x0 ) 1
f n (x0 ) = 1 = nf n −1 (x0 ) f 0 (x0 ),
n (f n−1 ) n (x0 )
e a fórmula de derivação de uma potência de expoente inteiro pode generalizar-
se para um expoente racional nas condições acima indicadas.

Exercício 5.12.
h i
3 0
Determine (x2 + 3x + 1) 4 .
6. DERIVADAS DAS FUNÇÕES CIRCULARES 181

6. Derivadas das funções circulares

(1) Derivada da função seno


A função seno é derivável em R e

(sen x)0 = cos x.

Demonstração.
Atendendo a que

p−q p+q
sen p − sen q = 2 sen cos
2 2
tem-se
µ ¶
h h
2 sen cos x +
sen (x + h) − sen x 2 2
lim = lim =
h→0 h h→0 h
h ∙ µ ¶¸
sen h
= lim 2 lim cos x + .
h→0 h h→0 2
2
Como a função co-seno é contínua, vem
h
sen (x + h) − sen x sen ∙ µ
h
¶¸
lim = lim 2 cos lim x + = 1. cos x = cos x
h→0 h h→0 h h→0 2
2
Assim a função seno é derivável e

(sen x)0 = cos x, com x ∈ R.

Mais geralmente, sendo f derivável num intervalo I, resulta do que se disse


sobre a derivada da função composta que a função sen f é derivável em todos
os pontos de I, tendo-se:

(sen f )0 = f 0 cos f.

¤
182 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

Exemplo 6.1.
Considere os seguintes exemplos:
(a) Sendo y = sen (2x + 3) , temos:

y 0 = (2x + 3)0 cos (2x + 3) = 2 cos (2x + 3) .

(b) Seja y = sen4 (3x) . Tem-se:

y 0 = 4 sen3 (3x) [sen (3x)]0


= 4 sen3 (3x) (3x)0 cos (3x)
= 12 sen3 (3x) cos (3x) .

Exercício 6.1.
Calcule a derivada de cada uma das funções seguintes:
a) y = sen (2x + 1) ; b) y = sen5 (5x) ;
c) y = x sen x2 + 3 sen (2x) ; d) y = sen3 (x3 ) .

(2) Derivada da função co-seno


A função co-seno é derivável em R e

(cos x)0 = − sen x, x ∈ R.

Demonstração.
³π ´
Atendendo a que cos x = sen − x , vem:
2
³π ´0 ³π ´
(cos x)0 = − x cos − x = − sen x.
2 2
Mais geralmente, sendo f derivável num intervalo I, cos f é derivável em todos
os pontos de I e
(cos f )0 = −f 0 sen f.

Exemplo 6.2.
Considere os seguintes exemplos:
(a) (x cos x)0 = (x)0 cos x + x (cos x)0 = cos x − x sen x.
6. DERIVADAS DAS FUNÇÕES CIRCULARES 183

0 0
(b) [cos (x2 + 3) + cos5 (2x)] = − (x2 + 3) sen (x2 + 3)+5 cos4 (2x) [cos (2x)]0 =
= −2x sen (x2 + 3) − 10 cos4 (2x) sen (2x).

Exercício 6.2.
Determine a derivada de cada uma das funções definidas por:
a) y = cos (3x2 − x) − x; b) y = 2 cos3 (1 − x) ;
c) y = cos x + x cos2 (x2 ) ; d) y = sen x cos x.

(3) Derivada da função tangente


A função tangente é derivável no seu domínio, isto é, em
nπ o
R\ + kπ, k ∈ Z
2
tendo-se
1
(tg x)0 = = 1 + tg2 x = sec2 x.
cos2 x
Demonstração.

³ sen x ´0 cos2 x − sen x (− sen x) 1


(tg x)0 = = = .
cos x cos2 x cos2 x
Sendo f uma função derivável em I tal que f (I) ⊂ D, então tg f é derivável
em todos os pontos de I, tendo-se:
f0
(tg f )0 = = f 0 sec2 f.
cos2 f
¤

Exemplo 6.3.
Considere os seguintes exemplos:
(a)
√ 0 √ 0 √
[ x tg (2x + 3)] = ( x) tg (2x + 3) + x [tg (2x + 3)]0
1 √ 2
= √ tg (2x + 3) + x 2 ;
2 x √ cos (2x + 3)
tg (2x + 3) 2 x
= √ + 2
2 x cos (2x + 3)
184 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

(b)
0
[tg3 (sen x + 1)] = 3 tg2 (sen x + 1) [tg(sen x + 1)]0
.
= 3 tg2 (sen x + 1) cos x sec2 (sen x + 1)

Exercício 6.3.
Calcule a derivada de cada uma das funções definidas por:
µ ¶
1
a) y = tg ; b) y = tg2 (x2 + 1) ;
x+3

c) y = cos2 x + tg (x sen2 x) ; d) y = tg2 x2 + 1 + tg (cos x) .

Exercício 6.4.
Considere a função real de variável real definida por:

f (x) = 4 tg (4x) .

Em vários pontos do gráfico de f o declive da recta tangente é 16. Escreva


uma equação de uma dessas tangentes.

(4) Derivada da função co-tangente


A função co-tangente é derivável no seu domínio, isto é, em

{x ∈ R : x 6= kπ, k ∈ Z}

tendo-se
1
(cotg x)0 = − = −1 − cotg2 x = − cosec2 x.
sen2 x
Demonstração.
1
Como cotg x = , x 6= kπ, k ∈ Z, vem:
tg x
µ ¶0
0 1 (tg x)0 1
(cotg x) = =− 2 =− 2 .
tg x tg x sen x
¤

Mais geralmente, se f é uma função derivável num intervalo I tal que


f (I) ⊂ D, então cotg f é derivável em todos os pontos de I, tendo-se:
f0
(cotg f )0 = − = −f 0 cosec2 f.
sen2 f
7. DERIVADA DA FUNÇÃO EXPONENCIAL E FUNÇÃO LOGARíTMICA 185

Exemplo 6.4.
Considere os seguintes exemplos:
(a)
£ ¡ ¢¤0 ¡ ¢0 ¡ ¢ ¡ ¢
cotg π3 − 3x = − π3 − 3x cosec2 π3 − 3x = 3 cosec2 π3 − 3x

(b)
¡ √ ¢0 √ ¡ √ ¢0
sen x cotg x = (sen x)0 cotg x + sen x cotg x =
√ 1
= cos x cotg x − sen x √ √ =
2 x sen2 x
√ sen x
= cos x cotg x − √ √ .
2 x sen2 x

Exercício 6.5.
Derive cada uma das funções seguintes: µ ¶
3 2 1 √
a) y = cotg (3x + 2x) ; b) y = 1 + cotg + x ;
x
c) y = tg (sen x) + cotg (cos x) ; d) y = cotg2 x2 + sen2 x2 .

7. Derivada da função exponencial e função logarítmica

(1) Derivada da função exponencial de base e


A função exponencial de base e é derivável em R e

(ex )0 = ex , x ∈ R.

Demonstração.
Tem-se
¡ ¢
ex+h − ex ex eh − 1 eh − 1
lim = lim = ex lim = ex .1 = ex .
h→0 h h→0 h h→0 h

Mais geralmente se f é derivável em I então ef é derivável em I e


¡ f ¢0
e = ef f 0 .

¤
186 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

Exemplo 7.1.
Considere os seguintes exemplos:

0
(a) (e3x+1 ) = (3x + 1)0 e3x+1 = 3e3x+1 .
¡ ¢0
(b) esin(3x) = [sin (3x)]0 esin(3x) = 3 cos (3x) esin(3x)

Exercício 7.1.
Resolva cada um dos seguintes exercícios.
(a) Seja f a função real de variável real definida por f (x) = e2x+5 . Escreva
uma equação da tangente ao gráfico de f no ponto de abcissa 2.
(b) Calcule a derivada de cada uma das funções definidas por:
x
(i) y = e− 2 ;
(ii) y = (x − 1)2 − e−x ;
1
(iii) y = ex sin x + e x .

(2) Derivada da função exponencial de base a


A função exponencial de base a (a > 0) é derivável em R e para todo o x ∈ R,
tem-se:
(ax )0 = ax ln a.

Demonstração.
Uma vez que ax = ex ln a , vem

(ax )0 = (x ln a)0 ex ln a = ln aex ln a = ln a ax .

Mais geralmente se f é derivável em I, af é derivável em I e


¡ f ¢0
a = af f 0 ln a.

Exemplo 7.2.
³ ´0
2 0 2 2
2x +3x = (x2 + 3x) 2x +3x ln 2 = (2x + 3) 2x +3x ln 2.
7. DERIVADA DA FUNÇÃO EXPONENCIAL E FUNÇÃO LOGARíTMICA 187

Exercício 7.2.
Resolva cada um dos seguintes exercícios:
(a) A recta da equação y = 2x ln 2 + 1 é tangente ao gráfico da função real de
variável real definida por

t (x) = 22x .

Determine as coordenadas do ponto de tangência.


(b) Derive as funções definidas por:

(i) y = 2tg x ;
1 − 3x
(ii) y = ;
cos
√ x
(iii) y = e 3x + 5cos x ;

3x
(iv) y = e + 5cos x .

(3) Derivada da função logarítmica de base a


A função logarítmica de base a (a ∈ R+ \ {1}) é derivável em R+ e
1
(loga x)0 = , x ∈ R+ .
x ln a
Demonstração.
A função
h : R+ → R
x → y = loga x
é a função inversa da função

g : R → R+
.
y → x = ay
Então h é derivável em R+ e para todo o x > 0,
1 1 1
h0 (x) = = = .
g 0 (y) ay ln a x ln a
Se f é derivável em I e f (I) ⊂ R+ então loga f é derivável em I, tendo-se:
f0
(loga f )0 = .
f ln a
¤
188 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

Exemplo 7.3.
(3x + 1)0 3
[log2 (3x + 1)]0 = = .
(3x + 1) ln 2 (3x + 1) ln 2

Caso particular: Se a = e (número de Neper) vem


1 f0
(ln x)0 = e (ln f )0 = .
x f

Exercício 7.3.
Calcule a derivada de cada uma das funções definidas por:
a) y = log3 (x2 + 1) ; b) y = log2 [tg (ex + x)] ;
c) y = log2 [tg (ex + x)] ; d) y = log7 (sen x2 ) ;
e) y = ln (x2 + 1) ; f) y = ln (e3x + x2 ) ;
g) y = ln (sen x) .

8. Derivadas sucessivas

Seja f uma função real de variável real definida em I ⊂ R cuja derivada é uma
função f 0 também definida em I. Se a função f 0 admitir por sua vez uma função
derivada, esta é dita segunda derivada ou derivada de segunda ordem de f e representa-
se por f 00 . Do mesmo modo, definem-se as derivadas sucessivas de f : f (n) é a derivada
da derivada de ordem (n − 1) de f , isto é,
¡ ¢0
f (n) = f (n−1) .

Convencionamos que a derivada de ordem 0 é a própria função, isto é,

f (0) = f.

Exemplo 8.1.
Suponhamos que f (x) = ln x e procuremos uma expressão da derivada de ordem n.
Resolução:
1 1 2
f 0 (x) = ; f 00 (x) = − ; f 000 (x) =
x x2 x3

−3 × 2 4×3×2
f (4) (x) = 4
; f (5) (x) = .
x x5
9. REGRA DE CAUCHY 189

Observando as sucessivas derivadas, conclui-se que

(−1)n+1 (n − 1)!
f (n) (x) = .
xn

Exercício 8.1.
Sendo y = sin (4x) , mostre que y 000 + y 00 + 16y 0 + 16y = 0.

Exercício 8.2.
Sendo g(x) = e5x−1 , determine g (n) (x) .

9. Regra de Cauchy

Se as funções f e g admitem derivada numa vizinhança de um ponto a, e se

lim f (x) = lim g (x) = 0


x→a x→a

e se existir

f 0 (x) f (x) f 0 (x)


lim , então, lim = lim .
x→a g 0 (x) x→a g (x) x→a g 0 (x)

Observações:

• A regra de Cauchy é aplicável quando a é (+∞ ou − ∞) .

f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→±∞ g (x) x→±∞ g (x)


• É igualmente aplicável no levantamento de indeterminações do tipo , seja

a finito ou infinito.

Exercício 9.1.
Mostre que:
cos x − 1 1 x3 + x2 ex − x − 1 1
a) lim+ =− ; b) lim = 0; c) lim = .
x→0 x sen x 2 x→+∞ x ex − x x→0 xex − x 2
190 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

10. Sentido de variação de uma função

Vamos analisar os seguintes gráficos

Gráfico1 Gráfico2

Gráfico3
Gráfico 4

Verifica-se (gráfico 1) que a derivada é positiva em qualquer ponto de ]a, b[ e que a


função é estritamente crescente em ]a, b[ . Note-se que a derivada pode ser nula num
ponto de ]a, b[ (gráfico 4 ) mantendo-se a função estritamente crescente. Para que tal
ocorra, os pontos onde a tangente à curva é horizontal têm de ser pontos isolados.
Se a derivada for negativa em todos os pontos de ]a, b[ , a função será decrescente
nesse intervalo (gráfico 2).
Finalmente se em qualquer ponto de ]a, b[ a derivada é nula então a função é cons-
tante nesse intervalo (gráfico 3).
10. SENTIDO DE VARIAÇÃO DE UMA FUNÇÃO 191

Teorema 10.1.
Seja f derivável num intervalo ]a, b[ .

(1) Se para todo o x ∈ ]a, b[, f 0 (x) é positiva então f é estritamente crescente em
]a, b[ .
(2) Se para todo o x ∈ ]a, b[, f 0 (x) é negativa então f é estritamente decrescente
em ]a, b[ .
(3) Se para todo o x ∈ ]a, b[, f 0 (x) é nula então f é constante em ]a, b[ .

Exemplo 10.1.
Determinar os intervalos de monotonia da função definida por

x2 + 1
h (x) = 2 .
x −1

Resolução: Tem-se
−4x
h0 (x) =
(x2 − 1)2

h0 (x) = 0 ⇔ x = 0 ∧ x 6= 1 ∧ x 6= −1.

x −∞ −1 0 1 +∞
h0 (x) + s/s + 0 − s/s −
h(x) % s/s % 0 & s/s &

Portanto h é crescente em ]−∞, −1[ ∪ ]−1, 0[ e decrescente em ]0, 1[ ∪ ]1, +∞[ .

Exercício 10.1.
Estude a monotonia das funções definidas em R por:

x−1 1
a) p (x) = 1 − x − 4x3 ; b) q (x) = ; c) r (x) = ;
x−6 x
x2 − 4
d) g (x) = ; e) m (x) = (2x2 + 3) e−x .
x
192 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

11. Extremos relativos

Definição 11.1.
Sejam f uma função definida num intervalo [a, b] e x0 ∈ ]a, b[ . Diz-se que f atinge:

• um máximo (respectivamente um mínimo) relativo ou local em x0 ou que f (x0 )


é um máximo (respectivamente um mínimo) relativo de f , se existir uma vi-
zinhança V de x0 tal que para todo o

x ∈ V, f (x) ≤ f (x0 ) (respectivamente f (x) ≥ f (x0 )) ;

• um máximo (respectivamente um mínimo) relativo ou local em a ou que f (a)


é um máximo (respectivamente um mínimo) relativo de f , se existir uma vi-
zinhança V de a tal que

x ∈ V ∧ x ≥ a =⇒ f (x) ≤ f (a) (respectivamente f (x) ≥ f (a)) ;

• um máximo (respectivamente um mínimo) relativo ou local em b ou que f (b) é


um máximo (respectivamente um mínimo) local de f , se existir uma vizinhança
V de b tal que

x ∈ V ∧ x ≤ b =⇒ f (x) ≤ f (b) (respectivamente f (x) ≥ f (b)) .

Nota: Um extremo (máximo ou mínimo) f (x0 ) é absoluto se para todo o x ∈ Df se


verificar f (x) ≤ f (x0 ) (máximo) ou f (x) ≥ f (x0 ) (mínimo).
11. EXTREMOS RELATIVOS 193

Exercício 11.1.
Indique os extremos relativos e absolutos das funções cujos gráficos são:

Teorema 11.1.
Se f tem um extremo em x0 ∈ ]a, b[ e se f 0 (x0 ) existe, então f 0 (x0 ) = 0.

Demonstração.
Suponhamos, por exemplo, que f (x0 ) é um máximo. A existência de f 0 (x0 ) implica a
¡ ¢ ¡ −¢
existência e a igualdade das derivadas laterais f 0 x+
0 e f
0
x0 . Como f (x) ≤ f (x0 )
para todo o x numa vizinhança de x0 , temos
¡ ¢ f (x) − f (x0 )
f 0 x+
0 = lim ≤ 0,
x→x0
x>x0
x − x0
¡ ¢ f (x) − f (x0 )
f 0 x−
0 = lim ≥ 0,
x→x0
x<x
x − x0
0

¡ ¢ ¡ −¢
donde f 0 (x0 ) = f 0 x+ 0
0 = f x0 = 0. ¤

Um ponto x0 ∈ ]a, b[ tal que f 0 (x0 ) = 0 chama-se ponto crítico ou estacionário


para f .
194 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

A recíproca do teorema anterior é falsa: Se f 0 (x0 ) = 0, f não tem necessariamente


um extremo relativo em x0 . É por exemplo o caso da função f definida por f (x) = x3
no ponto 0.

y 8
6
4
2

-2 -1 1 2
-2 x
-4
-6
-8

Vimos que f pode ter extremos em pontos críticos. No entanto uma função pode
admitir um extremo em x0 sem ser derivável em x0 (diz-se então que x0 é um ponto
singular para f ): A função definida por f (x) = |x| tem um mínimo no ponto x0 = 0
mas não é derivável nesse ponto.
Podemos resumir da seguinte forma: Uma função definida num intervalo só pode
atingir um extremo num ponto crítico, num ponto singular ou nas extremidades do
intervalo.

11.1. Determinação dos extremos.

(1) Suponhamos que x0 é um ponto crítico para f


Teste da primeira derivada

x x0 x x0
f 0 (x) − 0 + ; f 0 (x) + 0 −
f (x) & Min. % f (x) % Máx. &

• Se no ponto x0 a derivada passa de negativa a positiva então f tem um


mínimo local em x0 .
• Se no ponto x0 a derivada passa de positiva a negativa então f tem um
máximo local em x0 .
11. EXTREMOS RELATIVOS 195

Em alternativa ao teste da primeira derivada pode usar-se o teste da se-


gunda derivada.

Teste da segunda derivada

f 0 (x) − f 0 (x0 )
• Se f 00 (x0 ) > 0 ou lim = +∞ então f atinge um mínimo
x→x0 x − x0
relativo em x0 .
f 0 (x) − f 0 (x0 )
• Se f 00 (x0 ) < 0 ou lim = −∞ então f atinge um máximo
x→x0 x − x0
relativo em x0 .
• Se f 00 (x0 ) = 0, seja m a ordem da primeira derivada que é diferente de
zero no ponto x0 .

f (m−1) (x) − f (m−1) (x0 )


— Se m é par e f (m) (x0 ) > 0 ou lim = +∞,
x→x0 x − x0
f atinge um mínimo relativo em x0 .

f (m−1) (x) − f (m−1) (x0 )


— Se m é par e f (m) (x0 ) < 0 ou lim = −∞,
x→x0 x − x0
f atinge um máximo relativo em x0 .

— Se m é ímpar, f não tem extremo em x0 .

Exemplo 11.1.
Determinar os extremos relativos da função definida em R por g (x) = 2x4 −
12x2 + 10.
Resolução:
(a) Dg = R e g0 (x) = 8x3 − 24x, pelo que g só poderá ter extremos em pontos
críticos.

g 0 (x) = 0 ⇐⇒ 8x (x2 − 3) = 0
√ √
⇐⇒ x = 0 ∨ x = − 3 ∨ x = 3.

√ √
Assim os pontos críticos são − 3, 0 e 3.
196 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

(b) Teste da primeira derivada

√ √
x −∞ − 3 0 3 +∞
8x − − − 0 + + +
x2 − 3 + 0 − − − 0 +
g 0 (x) − 0 + 0 − 0 +
g(x) & −8 (Min.) % 10 ( Máx.) & −8 (Min.) %

A função tem um máximo relativo igual a 10 para x = 0 e mínimos


√ √
relativos iguais a −8 para x = − 3 e x = 3.

(c) Podemos usar, em alternativa, o teste da segunda derivada.

Tem-se: g 00 (x) = 24x2 − 24


• g00 (0) = −24 < 0, g tem um máximo relativo para x = 0 igual a
g (0) = 10.
¡ √ ¢ ¡√ ¢ √
• g00 − 3 = g 00 3 > 0, g tem mínimos relativos para x = − 3
√ ¡√ ¢ ¡ √ ¢
e x = 3, iguais a g 3 = g − 3 = −8.

Exercício 11.2.
Determine, se existirem, os extremos relativos de cada uma das seguintes
funções definidas em R por:
2x
a) h (x) = x3 − 3x; b) m (x) = x4 − 2x3 + 2; c) n (x) = ;
x2+4
d) p (x) = log2 |16 − x2 | .

(2) Suponhamos que x0 é um ponto singular para f

Teste para pontos singulares


f (x) − f (x0 )
Neste caso não existe ou é infinito lim .
x→x0 x − x0
f (x) − f (x0 )
Caso existam as derivadas laterais ou os limites laterais de
x − x0
quando x tende para x0 , e estes sejam de sinais contrários, então f tem um
11. EXTREMOS RELATIVOS 197

extremo relativo em x0 . Concretamente:

¡ ¢ f (x) − f (x0 ) ¡ ¢
• Se f 0 x+0 < 0 (ou lim+ = −∞ ) e f 0 x−0 > 0 (ou
x→x0 x − x0
f (x) − f (x0 )
lim− = +∞), então f atinge um máximo em x0 .
x→x0 x − x0
¡ ¢ f (x) − f (x0 ) ¡ −¢
• Se f 0 x+0 > 0 (ou lim = +∞ ) e f 0
x0 < 0 (ou
x→x+0
x − x0
f (x) − f (x0 )
lim− = −∞), então f atinge um mínimo em x0 .
x→x0 x − x0

Exemplo 11.2.
Mostrar que a função definida em R por

⎨ |x + 1| se x≤1
h (x) =
⎩ 3−x se x>1

tem um máximo igual a 2 para x = 1 e um mínimo igual a 0 para x = −1.

Resolução: Desdobrando a expressão |x + 1| vem:





⎨ −x − 1
⎪ se x < −1
h (x) = x+1 se −1 ≤ x ≤ 1 .



⎩ 3−x se x>1

Para caracterizarmos a função derivada necessitamos das derivadas laterais


nos pontos −1 e 1.
−x − 1 − 0
(a) h0 (−1− ) = lim − = −1
x→−1 x+1
x+1−0
(b) h0 (−1+ ) = lim + =1
x→−1 x+1
x+1−2
(c) h0 (1− ) = lim =1
x→1 − x−1
198 VII. CÁLCULO DIFERENCIAL EM R

3−x−2
(d) h0 (1+ ) = lim = −1.
x→1 + x−1
A função derivada tem domínio R\ {−1, 1} e é definida por

⎨ −1 se x < −1 ∨ x > 1
0
h (x) = .
⎩ 1 se −1 < x < 1
Assim não há ponto crítico e há dois pontos singulares, x = 1 e x = −1,
onde as derivadas laterais têm sinais contrários. Logo para x = −1, h
tem um mínimo que tem o valor h (−1) = −1 + 1 = 0 e tem um máximo
para x = 1 e o seu valor é h (1) = 1 + 1 = 2.
Bibliografia

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[2] Anton, H. (2000). Cálculo. Volume I. Bookman.
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[6] Guerreiro, J. (1973). Curso de Matemáticas Gerais. Volume I. Livraria Escolar Editora.
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