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PORTO

REDUX
Releases
001*

REDUX: ALGUNS AVISOS


POLITICAMENTE
(IN)CORRECTOS
Porto Redux
ou>(re)habitar a
cidade.

*NUNO PORTAS Seminário entre


cidade, arquitectura
e património

Abril Maio 2008

OPOZINE + CCRE +
Dédalo + MIPA
1. (Re)habitar é um dos componentes de revitalizar partes de uma
cidade que já foi única e agora é múltipla, como são o Porto ou
Lisboa. Mas não nos iludamos: já não será para as mesmas classes de
pessoas que lá foram ficando nem para as mesmas classes de pessoas
que foram procurando outros lugares no espaço metropolitano – por
razões de custos, de modo e de modos de vida, de proximidades, de
ambiente.

Os futuros habitantes das áreas centrais, se se mantêm as tendências


de outras nacionalidades, serão outra gente, city-user’s como agora
lhe chamam: mais novos, mais solventes, mais em trânsito ou
temporários, talvez mais pedestres, mas também, outros, como os
imigrantes dependentes de empregos de serviços que ocupam os
nichos residuais não reabilitados. Programas rígidos morosos e caros
como o do Barredo (anos 70) não se tem repetido – nem em
Bolonha!

2. Os outros componentes de revitalizar uma área central não têm


tanto que ver com o habitat mas com o trabalho, com os serviços, os
consumos, os ócios (restauração incluída) e, cada vez mais, a
01.Mercado do Bolhão visto
hotelaria e as residências especiais ou de função. Estes têm sido, na da rua Sá da Bandeira.
“Europa das cidades”, os motores da revitalização económica e da
02.Formas criativas de
reabilitação dos imóveis. O que parece óbvio, como solução - e falo ‘ocupação’ do espaço público.
das cidades maiores – não o é tanto na prática, devendo ter-se em Berlim.

conta que esta revolução funcional entra em conflito com os


desígnios políticos de manter a função habitacional tradicional, com
os desígnios ambientais de evitar o transporte individual e, ainda,
com os desígnios de coexistência entre os comércios e escritórios
tradicionais e os novos que dão prestígio e pagam o m2 de
centralidade. Com o critério do não se pode ter tudo ou não se devem
pôr todos os ovos no mesmo cesto, as soluções mais conseguidas são
as de compatibilização de interesses a priori inimigos. O caso do
Chiado (que não é o da Baixa) é um exemplo interessante dos
compromissos satisfatórios e dos que ainda faltam. Aliás, depois de o
Metro lá chegar, as perspectivas melhoraram.
3. Deixei para trás um aspecto mais polémico – o cultural – ou seja, o
de se manterem ou alterarem mais ou menos profundamente, o que
se poderia chamar a imagem herdada de uma área urbana,
sobretudo quando reconhecida como característica de uma época. Já
sabemos que não é resposta a este problema que se arrasta à quase
um século entre contextualistas e renovadores. E falo já da imagem
arquitectónica, lida nos edifícios singulares ou nos conjuntos e não da
imagem urbana que pode sobreviver às sucessivas e variadas culturas
artísticas como verdadeiro palimpsesto que manterá e qualifica no
essencial o sistema estruturante do espaço público. Enquanto a
edificação se renova, obedecendo aos cadastros de regras de
implantação aceites como suficientemente consensuais. Estas regras
dependem obviamente das características de cada área urbana em
transformação – desde as mais unitárias e emblemáticas (a Baixa de
Lisboa, o miolo intra-muros de Guimarães ou Évora), às mais ecléticas
e que ofereçam maiores graus de liberdade (as avenidas novas de
várias cidades burguesas). O bom senso e bom gosto, como diziam os
homens cultos de oitocentos...
03. Mercado do Bolhão no
início do século XX.

04. Rua Sá da Bandeira no


4. A polémica do Bolhão (como do Parque Mayer na Capital), teria
início do século XX.
uma saída suficientemente consensual se não fosse a trapalhada
05. Convent Garden , Londres,
administrativa arranjada pelo município ou pela SRU por razões
depois da renovação.
conjecturais, de quem não percebeu a tempo como devia conduzir o
processo – desde os antecedentes (que eram respeitáveis) aos
consequentes que se revelaram irresponsáveis. E a prova está na
evidente dificuldade presente em reconduzir a termos sensatos ou
aceitáveis um processo de concurso, pelos vistos sem as regras
necessárias e suficientes para orientar ou balizar os negócios
legítimos dos concorrentes. Não está em discussão, neste momento,
a decisão de alienar o Mercado, nem sequer a exigência de
intocabilidade da sua construção. Há exemplos já citados na
discussão pública – como o de Convent Garden em Londres ou de
St.Germain em Paris – que podiam ter ajudado a definir essas regras.
Para já não falar da proposta a concurso anteriormente escolhida que
mesmo sem ser imposta na sua integridade (já que correspondia a
outro processo) teria indicado as limitações arquitectónicas e não só:
também as dotações de estacionamento ou dos tipos de alojamento
aceitáveis (certamente de tipo hoteleiro) e de mix comercial (para
proteger interesses locais ou tradicionais). E agora?

A verdade é que o caso Bolhão teve antecedentes no afã de decidir


sem medir as consequências – ou de se querer mostrar que tudo o
que se fez antes estava errado...E afinal, neste como noutros casos
conhecidos, estava-se no caminho certo e podia-se ter evitado o pior.

5. O caso Bolhão – para além da questão, nada secundária, como


disse atrás, de ser renovado mantendo a memória da pedra e do
ferro, do arquitecto Correia da Silva, e da escola do arquitecto
Marques da Silva (que não foi um arquitecto qualquer) – não deixa
de levantar uma questão, mais geral, de governância urbana e de
conformação arquitectónica.

É a questão da escolha dos programas para certos lugares ou edifícios


singulares que se bem doseados podem detonar ou ancorar as
reabilitações generalizadas no seu entorno (efeitos colaterais ou de
catálise como também se diz).

Estes programas são sujeitos a duas tentações extremas: a da


continuidade temática a acompanhar o mimetismo físico ou, no
outro extremo, a da mudança radical de programa, em geral por
razões financeiras, que já são lugares comuns, e que transformam o
existente numa espécie de caricatura, deixando alguns elementos do
antigo como álibis envergonhados da mudança. Entre estes dois
extremos, o conservador e o novo-rico-fantasista, há felizmente 06. Projecto da empresa

diversas composições de funções e linguagens dos espaços que holandesa TCN para o Bolhão.

podem trazer novidade à área consolidada, mas, decadente à sua 07. Vista aérea do Mercado
nos anos 40.
volta. Inovação temática que carece de imaginação na alternativa a
programas convencionais, serão esgotados, que resultaram noutras 08. Rua Miguel Bombarda, em
frente do Centro Comercial
situações urbanas e podem falhar nas áreas centrais em perda e
Bombarda, em tarde de
pedra. Pré-reformadores imaginativos precisam-se! Do mesmo inaugurações.
modo, a ingénua solução de fingir que se conserva a memória do
lugar tornando-a décor alusivo pode nem ter o efeito de renovação e
atraiçoar o de conservação. Arquitectos transfiguradores (com bom
senso) precisam-se igualmente!

6. Isto dito, em termos genéricos, não queria terminar sem voltar ao


lugar do Bolhão. Toda a opinião, sem experimentar hipóteses mais
concretas é sempre um risco, sobretudo, quando os problemas
obrigam a repensar e avaliar, ao mesmo tempo, programa(s) e
configuração(ões). À partida, quer-me parecer que a compacidade e
regularidade do conjunto de ruas e quarteirões e a singularidade do
edifício-quarteirão, que é o mercado, não deixaria muitas dúvidas
que este não é um lugar para invenções descontextualizadas,
incluindo a substituição da coerência e unidade da fachada pétrea
que encerra e abre para as ruas. O exercício que me proporia seria o
de repensar o novo programa dessa parede para o interior e, ao
mesmo tempo, do interior para fora. Assim, e, ao contrário, do que
se faz habitualmente num centro comercial solitário, neste caso o
programa não pode ser um dado padronizado, mas, uma resultante
nova do que essa dialéctica “interior/exterior” e “pré-
existente/modificação” nos imporia. E mais não digo!

09. Escadaria do Mercado do


Bolhão (anos 60).

10. Casa Hortícola, loja


exterior do torreão sudoeste
do Mercado do Bolhão.

*Nuno Portas, Abril 2008, Porto [Arquitecto e Urbanista]

**Este texto foi escrito, pelo arquitecto Nuno Portas, no âmbito da segunda
sessão do seminário Porto Redux. Agradecemos, desta forma, a
disponibilidade e o interesse demonstrado pelo autor. [nota: composição de
imagens: Porto Redux]

***Sessão realizada no dia 24 de Abril de 2008, no Espaço Oficina da Galeria


Fernando Santos, sobre o tema: Cidades: emergências + permanências.
Contou com a presença de: Rui Losa [Arquitecto - SRU], Rio Fernandes
[Geógrafo - FLUP], Alexandra Gesta [Arquitecta - Guimarães], Rui Moreira
[Economista - Associação Comercial Porto]; Moderador: Nuno Grande
[Arquitecto - FAUP]

Porto Redux Releases [Agosto 2008]

OPOZINE + CCRE

www.opozine.blogspot.com + http://web.ccre.arq.up.pt/main/index.php

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