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Introdução
sempre morou nas mentes de alguns açorianos, renasceu e foi tomando forma nos meses
subsequentes à revolução.
abertamente, o país também de acordo com a bipolarização que assistia a nível mundial.
A tendência pró norte-americana ou pró soviética foi, aos poucos, agravando a situação,
de tal modo que no começo de 1975 havia uma clara hipótese de Portugal vir a cair na
órbita soviética.
olhar com outros olhos para toda a problemática associada à revolução de Abril,
também com o nascer do ano de 1975. Assim, o experiente Frank Carlucci chega a
Açores regista-se uma mudança no consulado, saindo Parris e entrando a Linda Pfeifle,
uma vez que outro colega vai analisar exclusivamente aquele importante mês), entre o
1
1974
1974, sobre os Açores, referem-se quase todos aos avanços e recuos da renogaciação do
acordo da Base das Lajes, que estava então a decorrer. Só depois do dia 25 de Abril de
1974 começam a surgir documentos relativos a tensões políticas nas ilhas açorianas.
Primeiro, surgem documentos dando conta da calma que se registou nos Açores nos
dias logo após o golpe, para no dia 25 de Maio daquele ano surgir o primeiro
primeiro ponto que espera que o Movimento se torne oficial nos dias seguintes. Além de
afirmar ser um grupo ainda pequeno e mal organizado, afirma também haver um
manifesto a suportá-lo. O Cônsul informa depois que foi contactado por Nuno Vaz
Cabral da Câmara “agrónomo retirado e membro de uma das mais antigas e ricas
famílias de São Miguel, para ter o apoio dos EUA para a independência”. As razões
avançadas por Câmara foram, segundo o Cônsul, “a longa negligência a que Lisboa
votou os Açores e a dúvida que o novo Governo de Portugal, mergulhado nas questões
ilhas”. Câmara previa para os Açores, ainda segundo este documento, uma economia
baseada nas rendas dos EUA (nas Lajes) e dos franceses (nas Flores), além de portos
que pretende viajar para os EUA, de forma a reunir apoio monetário dos emigrantes. O
Cônsul afirma que terá respondido a Câmara que os EUA poderiam apoiar os Açores
após estarem independentes, mas dificilmente o fariam numa luta contra Portugal, um
país que consideram amigo, Câmara terá respondido que os Açores precisam de ajuda
antes e não depois. O Cônsul conclui que há uma boa possibilidade do movimento
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Ponta Delgada, 0090, 25 May, 1974,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=65902&dt=1572&dl=823
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independentista açoriano ter sucesso, se os próprios açorianos conseguirem quebrarem a
açorianos não devem fazer qualquer tipo de plano para golpe, contando com o apoio
resposta aos açorianos. Assinado pelo próprio Kissinger, o documento está dividido em
três pontos; no 1º Kissinger deixa bem claro que não se deve dar apoio a Câmara ou ao
seu grupo, no 2º ponto informa que Câmara não será recebido oficialmente pelo
governo americano, na sua visita ao país, mas que se insistir, poderá haver contactos ao
mais baixo nível apenas para dar as linhas gerais da posição americana de não
envolvimento.
já conhecidas linhas gerais esperadas para a economia dos Açores, o telegrama revela
Consulado e sendo um dos activos independentistas, poderia fazer crer que o governo
que contactou João Bosco Mota Amaral sobre a independência dos Açores. Mota
Amaral terá recebido uma cópia do manifesto e disse, “em tom de brincadeira, se São
Tomé pode ser independente, porque não os Açores?”. Mais a sério, Amaral terá dito
que será necessário esperar para ver o que passará em Portugal e que, ao contrário dos
2
Washignton, 02075, 31 May 1974, http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=65167&dt=1572&dl=823
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Washigton, 11670, 4 June, 1974, http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=87896&dt=1572&dl=823
4
Ponta Delgada, 00104, 6 June 1974, http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=87024&dt=1572&dl=823
5
Lisbon, 002300, 6 June 1974, http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=86838&dt=1572&dl=823
3
territórios africanos, os habitantes dos Açores sentem-se portugueses. Parece que Mota
Carneiro.
Regista-se depois que durante todo o Verão de ’74 não há documentação sobre o
de Washington sobre a recepção a Nuno Câmara. O açoriano foi recebido por membro
baseado em São Miguel, mas com contactos com grupo semelhantes nas outras ilhas. A
lideram pequenas células. Ao todo são 91 membros. Segundo Câmara, os Açores têm
sido negligenciados por Lisboa, dando como exemplo as receitas fiscais, onde os
Açores enviam anualmente 1.5 milhões de contos e recebem 500 mil contos, na forma
comunismo no continente e que preferiria uns Açores independentes, mas próximos dos
mesmo: que não estão dispostos a apoiar o Movimento e que não vêem a possibilidade
ser resolvida entre Portugal e os Açores. Por fim, o telegrama assinado por Ingersoll,
informa que os EUA não devem estar ligados ao movimento, mas que seria bom manter
6
Washington, 240373, 1 November 1974,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=175538&dt=1572&dl=823
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No dia 7 de Novembro, o Consulado envia informação7 sobre um encontro com
Gomes de Menezes e outro não identificado (fica a dúvida, devido à tradução do nome
Autonomiado Povo Açoriano”. Menezes informa que dias antes, o Governador Civil
representante do PPD recusou e informou o MAPA do plano. Menezes pediu aos EUA
para pressionarem Lisboa para não se suspender o MAPA, sob pena de haverem
reacções pró-direita nas ilhas. O Cônsul quis saber da força do MAPA ao que Menezes
não soube responder. Costa Matos depois informou que o MAPA ia tentar influenciar os
emigrantes açorianos nos EUA para estes escrevem aos seus congressistas e senadores,
o Cônsul informa que o MAPA é bem conhecido nas ilhas e tem algum apoio e que
apesar de estar em funcionamento desde a Revolução, só nos últimos tempos tem tido
actividade, com artigos nos jornais. O Cônsul informa ainda que a ideia de Autonomia é
bem aceite pela generalidade dos açorianos e tanto os socialistas como o PPD a apoiam.
Politicamente, informa o Cônsul, o MAPA está à direita do PPD. Além disso, o MAPA
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Ponta Delgada, 00191, 7 November 1974,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=169608&dt=1572&dl=823
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1975
política levou a violência em São Miguel” 8. Diz o telegrama que “desde o dia 1 de
Janeiro que a tensão tem vindo a aumentar entre a esquerda de São Miguel, por um lado
(PCP, MDP, PS e MÊS) e o PPD e o MAPA por outro lado e que pela primeira vez
dada, reportando incidentes em diversas localidades de São Miguel, como Vila Franca
estavam a levar bem a sério o desenrolar da situação política nos Açores. Será
importante alertar para o facto do acordo da base das Lajes estar a ser re-negociado
nesta altura, de forma até que muitos dos telegramas registados abordam exactamente
esse assunto.
solicitar mais detalhes sobre eles. Deste modo, a 26 de Fevereiro é enviado novo
documento, o Consulado informa que oficiais seus estabeleceram contactos com Nuno
Câmara e José de Almeida, de forma a saber das suas posições. Ambos esperam que
Portugal caia nas malhas do comunismo, mas que os Açores devem ser independentes,
8
“Ponta Delgada, 0024, 27 January 1975”,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=414&dt=1822&dl=823, visto a 14 Abril 2009
9
Ponta Delgada, 0045, 26 February 1975”,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=22202&dt=1822&dl=823
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Ambos os entrevistados ainda são unânimes em dizer que a maioria dos
terrorista contra as propriedades (não pessoas) dos continentais. Deste modo, afirmam
que prefeririam contar com o apoio técnico e financeiro dos EUA antes de partir para
convencido que Almeida e Câmara estavam bem a sério quando falaram em acções
contra as propriedades de continentais activos à esquerda. Por fim, Daniels diz acreditar,
neste telegrama, que o governador civil dos Açores mandará prender os líderes do
MAPA e que está seguro que muitos elementos “esquerdistas” nos Açores acreditam
de Lisboa, outro assinado por Daniels, originário de Ponta Delgada) sobre a estadia de
um jornalista suíço (Walter Deuber) nos Açores durante Janeiro de 1975 e que escreveu
informações por aquele jornalista veiculadas. Deuber falara com um cidadão alemão,
identificou quatro grupos: MAPA, MIA (Mov. Ind. Açores), MIMA (Mov. Ind Açores e
10
Lisbon, 1241, 6 March 1975, http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=36758&dt=1822&dl=823 e
Ponta Delgada, 0059, 11 March 1975 http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=40607&dt=1822&dl=823
7
Madeira) e um outro que não é identificado. O artigo afirma que diariamente acontecem
reuniões de separatistas açorianos no Café Royal, cada vez com maior afluência e que o
Nuno Câmara está a acumular armas e dinamite vindas de Espanha, no entanto Daniels
não acredita em tal informação. Além disso, Deuber diz no artigo que os separatistas
bancos, negócios e férias, com um governo federal. Carlucci faz referência a Victor
Cruz, funcionário do Consulado, como um dos que vão às reuniões no Royal e a Carlos
Melo Bento “um antigo membro do partido fascista de Caetano”. Há ainda a registar a
De facto, estes dois telegramas sobre o artigo de Deuber dão muita informação
quanto seria verdadeiro. No entanto, será de acreditar nas palavras de Daniels quando
diz que não estão a chegar armas aos Açores vindas de Espanha. Porém, neste momento,
de ponderar o apoio.
continente, torna a Esquerda muito mais forte. A 13 de Março, Carlucci envia uma
análise da situação para o seu governo onde afirma que o “fracasso do 11 de Março vai
11
cit. Em B. Gomes e Tiago M. Sá, Carlucci vs Kissinger …, P. 157
8
No dia 14 de Março, Daniels informa sobre manifestações ocorridas nos Açores no
MAPA”. Daniels comenta que a demonstração foi fraca, indicativa da força da esquerda
nos Açores e realça o facto do MAPA ter pedido protecção às forças armadas devido a
Fica claro que estamos perante um momento agitado nos Açores, onde a esquerda está a
afirma que há, nos Açores, a ideia que a única hipótese de não caírem no comunismo
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Ponta Delgada, 0064, 14 March 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=40575&dt=1822&dl=823
13
Ponta Delgada, 0067, 18 March, http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=40552&dt=1822&dl=823
14
Ponta Delgada, 0069, 21 March 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=40520&dt=1822&dl=823
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altura vive-se nos Açores alguma euforia por parte da esquerda mais extrema que
aproveitou para fechar o MAPA. No entanto, o Cônsul afirma que os líderes do MAPA,
Entretanto, surge na cena política com cada vez mais influência, José de
Almeida. Há documentos da Embaixada em Londres que dizem que Almeida esteve nas
28 de Março15 dizendo aquele nasceu na Bretanha em 1935 numa família pobre, foi
protegido de Marcelo Caetano e foi eleito ao Parlamento por Viana do Castelo em 1973.
Viveu no continente até ao Outono de 1974, altura em que regressou aos Açores e
Cônsul e José de Almeida. Apesar da suspensão do MAPA, dias antes, o Cônsul afirma
principalmente em São Miguel. O Cônsul afirma não crer haver vontade de lutar pela
independência pelos açorianos, excepto em pequenos grupos como o que Câmara lidera
e afirma não haver nenhum líder realmente popular nos Açores, pois Câmara está ligado
Secretaria de Estado a não apoiar Almeida ou Câmara numa possível tentativa de golpe,
pois não têm o apoio da população. A única forma, para o Cônsul Daniels, de haver
sucesso numa tentativa de golpe seria através do surgimento de um novo líder, com “as
mãos limpas” e de preferência de outra ilha que não São Miguel, para ter o apoio das
restantes ilhas.
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Ponta Delgada, 0079, 28 March 1075,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=40476&dt=1822&dl=823
16
Ponta Delgada, 0082, 31 March 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=40460&dt=1822&dl=823
10
Entretanto, no dia 25 de Abril acontece o acto eleitoral para a Assembleia
Constituinte portuguesa que dão a uma vitória ao PS, seguido do PPD e só depois o PCP.
Nos Açores, vence o PPD que elege dois deputados, seguido do PS que elege apenas um.
sobre novos movimentos a favor da independência dos Açores. Parris informa sobre
dois movimentos: a FLA (Frente para a Libertação dos Açores) e o MIRA (Movimento
para a Independência da Republica dos Açores). Os sinais são escritos nas paredes e
Segundo o telegrama, o surgimento dos movimentos devem-se aos episódios dos dias
Cônsul que se especula que tenham sido os independentistas por trás dos incêndios.
que conta agora com o francês Bletierre. Diz o telegrama de Parris que Câmara e
Almeida afirmaram ser contra actividades terroristas, se não contassem com o apoio
americano, mas que havia partes do grupo que queriam ir em frente com essas
actividades. O Cônsul em Ponta Delgada conclui que essa franja do Movimento levou a
sua avante e os incêndios dos passados dias, são disso prova. Quanto ao MIRA, o
Cônsul não tem a certeza se se trata de apenas outro nome da FLA, se um pequeno
grupo de membros do PPD. Parris conclui afirmando que se abriu uma nova fase no
debate independentista nos Açores e que a FLA parece ter maiores possibilidades que
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Comissão Nacional de Eleições,
http://eleicoes.cne.pt/vector/index.cfm?dia=25&mes=04&ano=1975&eleicao=ar
18
Ponta Delgada, 00134, 14 May 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=91989&dt=1822&dl=823
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teve o MAPA, pois identifica-se mais com os comuns açorianos. No entanto, à FLA
grupo popular e tem que se desligar da imagem de grande proprietários de terras. Para
Parris, se a FLA conseguir esse apoio, Lisboa ficará perante uma situação difícil.
António Manuel Gomes de Menezes”, onde este mostrou a sua intenção de vir a fazer
açoriano. Apesar de receber de bom grado qualquer apoio, Menezes prefere que os EUA
dêem apoio diplomático nas Nações Unidas, a favor dos Açores, para forçar Portugal a
fazer um referendo sobre a independência das ilhas. Menezes disse acreditar que mais
ainda que, caso o referendo não fosse em frente com alguma brevidade, “moderados”,
como o próprio, não poderiam segurar mais os “extremistas”, que já pediam medidas
violentas. Confirmou ainda que a FLA e o MIRA são a mesma organização e que foram
Washington, ou Lisboa, mas não em Ponta Delgada, pois poderá levantar a suspeita que
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Ponta Delgada, 00138, 19 May 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=92481&dt=1822&dl=823
20
Washington, 117449, 20 May 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=80899&dt=1822&dl=823
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Do dia 20 de Maio data outro relatório21 enviado de Ponta Delgada que informa
deverá ter sido responsável por tal incêndio e de outros. Além disso, informa que a FLA
começaram no dia 19 de Maio e são tropas armadas patrulhando Ponta Delgada, ruas
bloqueadas e revistas a carros. Também teriam chegado a Ponta Delgada, uns dias antes,
separatistas está para muito breve. Líderes da FLA informaram agentes do Consulado
que “forças militares, por todos os Açores, estão preparadas para executar um golpe
criador de gado”, informaram Parris que no dia anterior, 28 de Maio, o Coronel Renato
Miguel, contactou Franco para pedir o apoio da FLA num golpe que seria executado
unidade estacionada no Faial já teria concordado aderir ao golpe e esperava que o 17º
Miranda terá dito ainda a Franco que o Comandante da Polícia em São Miguel e um alto
21
Ponta Delgada, 000141, 20 May 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=92583&dt=1822&dl=823
22
Ponta Delgada, 000143, 23 May, 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=92669&dt=1822&dl=823
23
Ponta Delgada, 000138, 29 May, 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=90465&dt=1822&dl=823
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oficial do exército também estariam a seu lado. José Franco informou o Cônsul que
exército.
No mesmo relatório, informa-se que Franco e Miranda entendem que aquele era
o momento ideal para avançar com o golpe, devido à instabilidade política que se vivia
em Lisboa que poderia dificultar o reunir duma força capaz de fazer frente aos
dos Açores como estado soberano e de ajuda económica, após o golpe, uma vez que
bens como petróleo chegavam às ilhas do continente. Franco pediu, assim, ajuda
golpe e que necessitava duma resposta até ao meio-dia do dia 1 de Junho seguinte.
Franco adiantou ainda ao consulado que estava num ponto em que não poderia haver
volta, que, com ou sem ajuda militar, iriam em frente com o golpe.
Ainda no mesmo relatório, Parris informa que Franco avisou que os partidos à
esquerda nos Açores estavam também a preparar movimentos contra a NATO e contra a
presença dos americanos nas Lajes e que até poderia ocorrer um ataque ao consulado,
Portugal tomasse medidas mais duras nas re-negociações de cedência das Lajes, que
Polícia apoiarem o golpe, Parris acha que poderia ser bluff, apesar de haver uma
possibilidade de ser verdadeiro, uma vez que era conhecido que tanto Miranda como o
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Comandante estavam, efectivamente, descontentes com a situação dos Açores. Parris
ainda informa que, se de facto a FLA e o exército actuarem em conjunto poderá haver
base para sucesso do golpe, ficando apenas alguns focos de possível resistência. Além
disso, Parris acredita que, caso o golpe fosse bem sucedido, a população em geral iriam
apoiar a causa separatista. No entanto, Parris não acha que fosse possível manter a
situação perante uma força militar superior, durante muito tempo. Por fim, Parris afirma
que a situação nos Açores está a caminha para um “clímax”, por essa razão o Consulado
No dia seguinte, dia 30 de Maio, o Cônsul dos EUA nos Açores envia um
fica com a impressão que a maior debilidade da FLA para ter sucesso é a sua
incapacidade de ligar todas as ilhas. Parris informa, novamente, que está para muito
Açores, onde fala sobre a possibilidade real que agora havia sobre um golpe nos Açores.
tenham o apoio militar que afirmam ter, poderá fazer toda a diferença, mas caso não
tenham o resultado será certamente a derrota, com todas as implicações que isso terá
para as relações EUA-Portugal. Carlucci afirma que é usual, nestas situações, que os
conspiradores digam que têm mais meios, do que na verdade têm, de forma a
conseguirem o apoio americano. Por outro lado, Carlucci entende que a população
açoriana apoiará os golpistas, caso haja uma liderança forte. Porém, não acredita que a
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Ponta Delgada, 00163, 30 May 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=80918&dt=1822&dl=823
25
Lisbon, 03046, 30 May 1975, http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=91725&dt=1822&dl=823
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Na verdade, Carlucci entende que a viagem de Spínola aos EUA, no final de Maio,
poderá ser para forçar o apoio americano aos Açores. Carlucci entende que, caso a
possível revolta nos Açores não seja prontamente rebatida, as relações EUA-Portugal
sofrerão um forte abalo, com implicações para as negociações do acordo das Lajes.
A 3 de Junho, Pfeifle, a agora Cônsul dos EUA nos Açores, envia um relatório26
dando conta dum encontro com Gomes de Menezes. Menezes diz que o Coronel
Miranda não aderirá ao golpe, caso os EUA não apoiem o golpe. No entanto, Menezes
afirma que o golpe será para muito breve, que a FLA tem apoio estrangeiro,
que o golpe seja para breve, pois a FLA ainda teria que resolver alguns assuntos.
Noutro relatório27, sobre a mesma conversa com Gomes de Menezes, Pfeifel fala
sobre o que Menezes prevê para o futuro dos Açores independentes, onde haveria lugar
a eleições para Assembleia constituinte, mas que não seria aceites partidos comunistas.
turismo e a produção leiteira e gado. Sobre este assunto, Pfeifel comenta que a intenção
é os principais donos de terra dos Açores aumentarem o seu domínio nas ilhas.
Ponta Delgada no dia 6 de Junho. Por um lado, estava marcada uma manifestação de
agricultores contra a política de preços do leite e carne de Lisboa, que iria para o Palácio
do Governador Borges Coutinho. Por outro lado, nesse mesmo dia chegariam aos
Açores cinco navios de guerra da NATO. Pfeifel acaba dizendo que não lhe parece que
26
Ponta Delgada 00171, 3 June 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=100597&dt=1822&dl=823
27
Ponta Delgada 00178, 4 June 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=100581&dt=1822&dl=823
28
Ponta Delgada 00179, 4 June 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=109457&dt=1822&dl=823
16
a FLA aproveite a manifestação para fazer o golpe, mas nota que ausência da ilha dos
principais líderes no poder naquele dia, poderá ser ideal para os golpistas avançarem.
os seus veículos. Não temos ideia sobre quanto tempo o aeroporto estará fechado.
3. Pormenores seguirão”
Conclusão.
Este trabalho baseou-se numa pesquisa exaustiva aos documentos dos arquivos
NARA, trata-se portando de um trabalho que lida com fontes primárias, onde outras
interpretação que é aqui feita tem por base apenas os factos que foram registados pelos
totalidade toda a dimensão dos acontecimentos ocorridos nos Açores que levaram ao 6
de Junho de 1975.
Além disso, fica-se com a clara ideia que nos Açores houve um escalar do
organizando o melhor possível para tentar conseguir aquilo que achavam ser o melhor
29
Ponta Delgada, 00180, 6 June 1975,
http://aad.archives.gov/aad/createpdf?rid=98383&dt=1822&dl=823
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para o seu futuro: a sua independência. Parece-nos que os esforços dos açorianos
envolvidos nessa organização foram dignos de registo, mas não conseguiram aquilo que
seria o elemento chave para o seu sucesso: o apoio do Governo dos EUA. Esse apoio
não aconteceu porque, como se viu, estava em curso na mesma altura a renegociação do
acordo de cedência da base das Lajes por Portugal aos EUA. Na óptica americana não
poderia haver lugar a falhas por parte dos separatistas açorianos, pois se o golpe
falhasse e se Portugal tivesse a menor suspeita que os EUA tinham apoiado os golpistas,
Não será descabido afirmar que, caso o movimento açoriano estivesse totalmente
preparado militarmente e com provas que a população iria aderir, os EUA veriam com
agrado a independência açoriana, pois seria melhor para os seus objectivos geopolíticos
Porém, não foi assim que aconteceu. Apesar da entrada de militares franceses na
organização açoriana separatista, apesar das tentativas de reunir apoio estrangeiro, por
parte dos altos dirigentes separatistas açorianos. Apesar do apoio que os militares
FLA e os outros movimentos não conseguiram nunca ter uma organização que levasse a
a distancia que existe entre os açorianos de cada ilha foi, novamente, o maior obstáculo
independência dos Açores acabaram por ser frutíferos, pois Portugal acabou por ceder a
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