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A persistência contemporânea: mandonismo e coronelismo

Antônio da Silva Câmara e Altair Reis de Jesus


Revista Sociologia, número 14, 2007.
O clientelismo no Brasil, hoje, não pode ser visto no qual o Brasil aparece simultaneamente como um País
como uma característica nacional ou regional, pois é que teria vivenciado o feudalismo e o patrimonialisrno
conseqüência das tradições, contradições e condições enquanto modo de produção e ordem social. Segundo os
estruturais de reprodução do capitalismo no cenário autores, essas situações não teriam sido puras, mas
mundial também histórico do País. determinariam o atraso no desenvolvimento das relações
O clientelismo, entendido como troca de benesses de produção capitalista, na forma de gestão do Estado e
entre os detentores do poder econômico e político e no relacionamento deste, em suas diversas instâncias,
aqueles que são excluídos deste, tem sido tratado com a população. A tal atraso poderia ser debitado o
principalmente por historiadores e cientistas políticos, clientelismo, o mandonismo e o coronelismo.
quase sempre a partir de uma perspectiva weberiana que Mais recen-temente, a tais abordagens acrescen-
implica em analisar a tam-se outras que
assimetria na têm tentado ver o
distribuição do poder clientelismo para
por meio de tipos de além do atraso pré-
dominação. Na capitalista, compre-
clássica visão de endendo que este faz
Weber (1983) deve- parte efetiva da lógica
se entender de reprodução
dominação como a capitalista, assumindo
probabilidade de feições distintas no
obtenção de obe- período atual.
diência dentro de um Um autor pi-
grupo determinado. A oneiro no estudo do
dominação pode sus- clientelismo e de sua
tentar-se sobre os relação com o
mais diversos “moti- coronelismo no Brasil
vos de subordinação” é Vitor Nunes Leal
e compreenderia “um (1948) que, ao
mínimo” de vontade analisar a vida política
de obedecer. Weber no interior do País,
identificava três tipos percebia o coro-
básicos de do- nelismo como “[...]
minação com le- resultado da su-
gitimidade: legal, tra- perposição de formas
dicional, carismática. Charge elaborada pelo cartunista Alfredo Storni, 1927. desenvolvidas do
No primeiro regime representativo
caso, estaríamos diante da crença na legalidade, no direito a uma estrutura econômica e social inadequada. Não é,
instituído e nas ordenações da autoridade legal; no pois, mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia
segundo, diante da crença na tradição e na legitimidade constitui fenômeno físico de nossa história colonial. É,
das autoridades; no último, diante de uma situação antes, uma forma peculiar de manifestação do poder
excepcional de santificação, heroísmo ou exemplaridade privado, ou seja, uma adaptação em virtude da qual os
daquele que exerce a autoridade. Para os fins deste artigo resíduos do nosso antigo exorbitante poder privado tem
interessa-nos principalmente os dois primeiros tipos de conseguido coexistir com um regime político de extensa
dominação: a legal, exercida por meio do uso do aparato base representativa. Por isso mesmo, “o coronelismo” é,
burocrático com a aplicação racional das normas legais, sobretudo, um compromisso, uma troca de proveitos entre
e a tradicional, exercida pela crença na “persona” investida o poder público, progressivamente fortalecido, e a
de legitimidade herdada de tempos imemoriais. O decadente influência social dos chefes locais, notadamente
patrimonialismo e o feudalismo teriam sido formas de os senhores de terras”. (LEAL, 1948).
exercício deste último tipo de dominação, no qual as Logo, o poder dos coronéis no interior do Brasil não
relações de proximidade e de familiaridade seriam poderia ser atribuído apenas a uma herança colonial e
fundamentais na organização da ordem social, orientadas sim a um novo arranjo político nacional, que ocorreria a
predominantemente pela ação tradicional. Já a dominação partir da instituição da primeira República. De um lado, o
legal se orientaria predominantemente por objetivos poder central com base representativa; de outro, os
racionais relativos afins e, nela, a organização burocrática coronéis que reforçam tal poder em detrimento das
impessoal, visando o cumprimento das funções do Estado, direções políticas estaduais.
substituiria os vínculos pessoais predominantes na Nunes já apontava para as práticas políticas
dominação tradicional. O moderno capitalismo, para decorrentes do coronelismo, tais como o mandonismo, o
Weber, teria esse modelo de dominação racional, e teria filhotismo, o falseamento do voto e a desorganização dos
substituído, parcialmente, as formas anteriores. serviços públicos locais. Este último já indicando situações
A bibliografia sobre o clientelismo, no Brasil, parte de clientelismo, percebida por este e por outros autores
também, por vezes, de uma perspectiva de ordem no âmbito eleitoral. Nos municípios, embora existisse um
evolutiva na qual o conceito de modo de produção oriundo representante do poder político legal – o prefeito – o
do marxismo clássico funde-se com o da proposição verdadeiro chefe municipal era o “coronel”, ator primário
weberiana. que exercia a liderança e comandava uma determinada
Este procedimento levou alguns pioneiros das região por intermédio do voto de cabresto, obtido em
Ciências Sociais a construir um modelo histórico-evolutivo função do prestígio político do coronel e fruto da sua
2 - Madonismo e Clientelismo
situação econômica e social de grande proprietário de A forma como se governava evidenciava uma prática
terras. política nacional vinculada a interesses específicos de
Isto pode ser evidenciado pelo distanciamento continuísmo no poder tanto do local como do estadual.
econômico entre o coronel e os por ele subordinados. Para essa perpetuação no poder, eram utilizadas formas
“Esta sua ascendência resulta muito naturalmente da sua personalistas e autoritárias no trato das questões políticas.
qualidade de proprietário rural. A massa humana que tira As práticas coronelistas são compreendidas por
a subsistência das suas terras vive no mais lastimável Nunes Leal como próprias da República, embora seus
estado de pobreza, ignorância e abandono. Diante dela, traços pudessem ser encontrados no passado, pois “o
o coronel é rico” (ibidem, p. 10-11). fenômeno estudado é característico do regime
Em suma o coronel superpõe-se às instituições republicano, embora diversos dos elementos que ajudam
sociais, como por exemplo, agindo com ampla jurisdição a compor o quadro do coronelismo fossem de observação
sobre seus dependentes, arbitrando suas rixas e freqüente durante o Império.e alguns deles no próprio
desavenças. Leal justificava tal poder devido à imensa período colonial. Já se notou, aliás, mais de uma vez,
concentração da propriedade fundiária, pois os grandes que uma excursão ao interior do Brasil equivale, de certo
proprietários eram minoria irrisória dentre os detentores modo, a uma incursão no passado nacional”. (ibidem,
de terra. Para a constatação de Nunes, pode-se observar p.184).
que, de acordo com o censo de 1940, os proprietários O aumento significativo do poder público a partir
detentores de propriedades com mais de 1000 hectares dos anos 1930 não teria se traduzido em enfraquecimento
representavam apenas 1,6% do total; no entanto, do coronelismo, logo, não estávamos diante de uma
concentravam mudança estrutural;
50,86% das terras o exercício do poder
agrícolas disponíveis. em nível macro-
Situação ainda mais estrutural apenas
agravada quando adequava-se à
adicionamos a estes forma de dominação
proprietários os política e econômica
detentores de 100 a na sociedade. No
1000 hectares: as novo regime, a
duas faixas juntas relação entre o
apropriam-se de 82% poder público e o
das terras, repre- privado, repre-
sentando apenas sentado pelo
14,57% da popu- coronelismo, per-
lação. Situação que maneceu intacta do
não sofrerá grandes ponto de vista
alterações nas últimas social, político e
seis décadas do econômico. Sobre a
século XX, apesar das decadência política
transformações da Republica Velha,
ocorridas no cenário os resquícios de um
nacional (industriali- coronelismo de-
zação, urbanização, cadente, observa-se
entre outros fatores). que “o quadro
Nesse quadro O poder exercido pelas oligarquias rurais prevaleceu na formação da República. político da República
apresentado pelo Velha refreou,
autor, os coronéis agiriam de modo bastante semelhante quando pôde, esse ajustamento, e finalmente rompeu-
ao dos políticos que atuariam na esfera estadual e se pela falta de flexibilidade. Mas o ajustamento aludido
nacional. “Os políticos estaduais e federais começam no foi incompleto e superficial, porque não atingiu a base de
município, onde ostentam a mesma impura falta de sustentação do “coronelismo”, que é a estrutura agrária.
idealismo que, mais tarde, quando se acham na oposição, Essa estrutura continua em decadência pela ação
costumam atribuir aos chefes locais. O problema não é, corrosiva de fatores diversos, mas nenhuma providência
portanto, de ordem pessoal, se bem que os fatores ligados política de maior envergadura procurou modificá-la
à personalidade de cada um possam apresentar, neste profundamente, como se vê, de modo sintomático, na
ou naquele caso, características mais acentuadas: ele é legislação trabalhista, que se detém, com cautela na
profundamente vinculado a nossa estrutura econômica e porteira das fazendas. O resultado é a subsistência do
social” (ibidem, p.22-23). “coronelismo”, que se adapta, aqui e ali, para sobreviver,
Era também por meio da troca de favores que os abandonando os anéis para conservar os dedos”. (ibidem,
coronéis exerciam o seu poder, como destacava Nunes p.184).
Leal: “Não se compreenderia, contudo, a liderança Considerava-se que o coronelismo pressupunha a
municipal só com fatores apontados. Há ainda os favores decadência da antiga estrutura rural. Porém era preciso
pessoais de toda ordem, desde arranjar emprego público compreender que neste processo de decadência haveria
até os mínimos obséquios. É neste capítulo que se um ponto positivo para o funcionamento do sistema, que
manifesta o paternalismo, com a sua recíproca: negar se traduziria na busca por estabilizar aquela situação um
pão e água ao adversário” (ibidem, p.23). tanto favorável de forma a consolidar o poder privado
O importante era que o chefe local obtivesse a vitória, residual que o caracterizava. Desta forma, ao buscar traçar
o que significava ter para o seu grupo o apoio da situação alguns aspectos fundamentais sobre a questão por ele
estadual. Daí originavam-se as desavenças e conflitos pesquisada, possibilitou a outros estudiosos do assunto
que se processavam com seus adversários políticos pelo a elaboração de novas questões referentes à estrutura
controle do reduto eleitoral. O autor nos apresenta, sob agrária, ao poder político local, e aos partidos, sobretudo
sua ótica, um aspecto muito importante, posto que “o os reflexos das práticas políticas sobre o conjunto da
coronelismo é um sistema de reciprocidade”. sociedade brasileira. No entanto, a tese do coronelismo
Madonismo e Clientelismo - 3
como derivado da estrutura agrária no País, certamente mais amplo.
não encontraria respaldo na atualidade; isso porque a Clientelis-
via da expansão capitalista no campo manteve o elevado mo assemelha-
grau de concentração da terra. No entanto, a necessidade se, na am-
de inserção dos produtos agrários no mercado capitalista plitude de seu
tem alterado significativamente as relações sociais de uso, ao conceito
produção com a precarização das condições de vida da de mandonis-
população camponesa e a destruição de laços de mo. Ele é o
solidariedade e subordinação verificados no início do mandonismo
século passado. Logo, seria mais adequado compreender visto do ponto
a força do coronelismo na insuficiência da expansão da de vista bila-
produção capitalista de mercadorias no campo do que na teral”. (ibidem,
estrutura agrária concentracionista. p.233).
Requisitando os textos sobre coronelismo e Por vezes,
clientelismo, Murilo de Carvalho observa a existência de assinala o autor,
um acúmulo de estudos sobre o problema político do poder confunde-se o
local e poder nacional a partir de discussões conceituais clientelismo
que caminham de forma circular, pois não conseguem urbano em
chegar a nenhum resultado devido a imprecisões períodos mais
conceituais. Assim a proposta do autor se situa na recentes da
tentativa de esclarecer estes conceitos e teorias. “Parece- história do País
me que este é um desses momentos nos estudos de poder com o co-
local e suas relações com o Estado nacional no Brasil. Há ronelismo. “As
imprecisão e inconsistência no uso de conceitos básicos relações clien-
como mandonismo, coronelismo, clientelismo, telísticas, nesse
patrimonialismo, feudalismo. A dificuldade não é caso, dispen-
certamente privilégio brasileiro, uma vez que tais sam a presença
conceitos são reconhecidamente complexos. Basta, como do coronel, pois
exemplo, mencionar a imensa literatura produzida em ela se dá entre
torno do fenômeno do clientelismo, as discussões sobre o governo, ou
o conteúdo deste conceito e as dificuldades de emprega- políticos, e
lo de maneira proveitosa”. (CARVALHO, 1997, 229). setores pobres
O autor chama a atenção para o fato de que no caso da população.
brasileiro não somente os conceitos universais Deputados Vereador “Vitinho” tem sete mandatos
denominados de clientelismo e patrimonialismo, como trocam votos consecutivos na cidade de Valença.
também coronelismo e mandonismo, necessitariam de por empregos e O clientelismo cria currais eleitorais que
uma revisão para auxiliar no avanço da pesquisa empírica. serviços pú- garantem a perpetuação do poder.
A ênfase centra-se nos conceitos de mandonismo, blicos que con-
coronelismo e clientelismo fazendo referências às noções seguem graças a sua capacidade de influir sobre o Poder
de patrimonialismo e feudalismo. Executivo. Nesse sentido, é possível mesmo dizer que o
Quanto ao conceito de coronelismo em Nunes Leal, clientelismo se ampliou com o fim do coronelismo e que
o autor o considera datado historicamente, pois seria fruto ele aumenta com o decréscimo do mandonismo”. (ibidem,
da “confluência de um fato político com uma conjuntura p.233). A estabilidade do sistema dependia basicamente
econômica. O fato político é o federalismo implantado do pacto que era estabelecido entre os coronéis e o
pela primeira República em substituição ao centralismo governo, ainda que essa maioria pudesse ser substituída.
imperial. O federalismo criou um novo ator político com Neste sentido, o sistema do clientelismo/coronelismo tinha
amplos poderes, o governador de estado. (ibidem, como característica básica a compra de votos e
p.230)”. Este fato confluiria para a conjuntura econômica, manipulações eleitorais em detrimento de um grupo
na qual se observava a decadência econômica dos político específico. Entretanto, o voto teria uma
fazendeiros trazendo como conseqüência o importância secundária, pois o fundamental era o apoio
enfraquecimento do poder dos coronéis em prol do tácito, a não rebelião na lógica do sistema coronelista.
fortalecimento do poder central. “O coronelismo era fruto Ainda há a discussão sobre a persistência do
de alteração na relação de forças entre os proprietários clientelismo no Brasil contemporâneo para a modernização
rurais e o governo e significava o fortalecimento do poder das instituições políticas e, conseqüentemente, para o
do Estado antes do predomínio do coronel. O momento enfraquecimento de práticas vistas por Weber como
histórico em que se deu essa transformação foi Primeira próprias da dominação tradicional. Uma abordagem
República, que durou de 1889 até 1930”. (ibidern, p.231). complementar e contrária, em certos aspectos, a esta
Por sua vez, Carvalho considera que o conceito é, perspectiva, aponta para a estrutura produtiva da
por muitas vezes, confundido com o de coronelismo. Para sociedade contemporânea, como o faz FARIAS (2007),
o autor, o clientelismo seria indicativo de “um tipo de observando que as classes dominantes utilizam-se de
relação entre atores políticos que envolve concessão de mecanismos para manter a dominação independente da
benefícios públicos na forma de empregos, benefícios sua racionalidade burocrática, ou até mesmo fazendo uma
fiscais, isenções, apoio político, sobretudo na forma de fusão entre estes mecanismos e formas consideradas
voto”. (ibidem, p.233). “tradicionais”. Observe-se que mesmo a forma
Dessa forma, o “clientelismo seria um atributo considerada tradicional do clientelismo, expresso na
variável de sistema político macro e pode conter maior compra de votos, não desapareceu no Brasil. A
ou menor dose de clientelismo nas relações entre atores Transparência Brasil, em 2004, verificou que em todas as
políticos. Não há dúvida de que o coronelismo, no sentido regiões do País ocorreu a compra de votos ou a utilização
sistêmico aqui proposto, envolve relações de troca de do aparelho de Estado com vistas a fraudar as eleições.
natureza clientelística. Mas, de novo, de não pode ser Essa abordagem nos permite compreender porque
identificado ao clientelismo, que é um fenômeno muito o clientelismo deslocou-se da esfera privada, local e
4 - Madonismo e Clientelismo
eleitoral para manter-se e reproduzir-
se se na esfera pública
institucionalizada (municipal, estadual
e federal). O denominado de
clientelismo estatal encontra-se
presente no Brasil atual. Ele
compreende novas relações sócio-
políticas geradas por mecanismos
burocráticos, aparentemente mais
racionais como a municipalização da
saúde, da educação, saneamento
básico, gestão do meio ambiente,
entre outros; propiciando o
enfraquecimento do poder político
estadual em detrimento do poder
federal que aparece como o principal
repassador de recursos para os
municípios.
Ao lado destas modificações na
relação entre as instâncias de poder,
com a anuência e estímulo de
organismos internacionais, o governo
federal tem criado uma profusão de
programas sociais de auxílio à
população mais pobre tanto nas
cidades do interior como nas metrópoles. As trocas entre contraídas com o capital), e ao tráfico de influência de
o poder público e estas parcelas da população, mediada parlamentares eleitos que retribuem com emendas
pelas prefeituras e por agentes sociais, reverte-se em parlamentares em benefício de empresários. A
benefícios limitados para a população (endemicamente contrapartida desta transferência são os elevados valores
desempregada), e em amplos benefícios para os políticos monetários doados pelo capital aos partidos políticos no
com base local (prefeitos, deputados etc.) e para o período eleitoral. Não podemos dizer que tais situações
presidente da República. são novas na política brasileira, no entanto não foram
A profusão de bolsas compensatórias no governo estudadas como parte do clientelismo que abarca não só
FHC e, atualmente o Bolsa Família, são exemplos de o voto, mas uma imensa rede de favores entre aqueles
programas que permitem a expansão deste clientelismo que ocupam formalmente os postos de poder e os grupos
estatal. De forma diversa daquela estudada por Nunes capitalistas. A nosso ver, a sucessão de escândalos,
Leal, a troca de favores entre governo e população carente favorecimentos e desvios de recursos públicos pode
tem permitido a eleição e reeleição de governantes’. também ser compreendida como uma das faces do
Outras facetas do clientelismo continuam visíveis na clientelismo. Isso não significa atraso nas relações sociais
sociedade brasileira, tais como: a existência de cargos capitalistas, ainda que apontem para o não cumprimento
públicos de confiança que são preenchidos por indicações das normas jurídicas criadas pelas classes dominantes
políticas, permitindo que servidores sejam admitidos a para regular a acumulação capitalista, mas indica a
partir de acordos políticos prévios, constituindo-se distância entre as formulações jurídicas e ideológicas e
retribuições a cabos eleitorais e militantes, e as verbas prática efetiva dos grupos detentores do poder na
de representação que são utilizadas pelo legislativo para sociedade burguesa.
a contratação de funcionários em suas bases eleitorais A peculiaridade do Brasil talvez seja o fato de não se
obedecendo ao grau de fidelidade pessoal. encontrarem obstáculos políticos à disseminação do
A mudança de estratégia de atuação de agências de clientelismo, em função da conversão de partidos de
fomento ao desenvolvimento e bancos internacionais que esquerda ao pragmatismo político.
passaram a investir diretamente em municípios por meio
de organismos da sociedade civil (ONGs, associações
culturais, associações de produtores etc.) tem criado
situações paradoxais, pois o próprio Estado estimula o
surgimento de entidades que, assim, tornam-se
captadoras de recursos que, quando aplicados, renderão
prestígio às administrações estaduais ou locais. A relação
de ONGs, associações culturais e blocos carnavalescos
com o poder público também torna-se objeto de ações
clientelistas.
Por fim, é necessário analisar situações
extremamente distintas do clientelismo analisado no
passado, não envolvendo setores dominantes em relação
assimétrica e de troca de favores com setores dominantes.
Estas situações envolvem relações de favorecimento
estatal a empresas, bancos e partidos políticos, de forma
lícita ou ilícita. Os escândalos que desde o governo FHC
têm aparecido na imprensa brasileira e que se agravaram
no primeiro mandato de Luis Inácio Lula da Silva apontam
para a prática de transferência de recursos públicos para
a esfera privada (desvio de recursos públicos por parte
de funcionários do Executivo para pagamento de dívidas

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