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A GRAÇA DE DEUS: COMUM OU

EXCLUSIVA?

“Satanás, também, vive sempre


pronto a engendrar todo gênero de
calúnia com o fim de lançar ao descrédito
1
a doutrina da graça.” – João Calvino.
INTRODUÇÃO:

O nosso Deus é “O Deus de toda graça” (1Pe 5.10). Bem-aventurados são todos aqueles que vivem como
súditos do Reino da Graça de Deus.

2 3
“A doçura da graça” de Deus é a tônica da Sua relação com o Seu povo. Tudo que temos, somos e
seremos, é pela graça (1Co 15.10). A riqueza da graça de Deus se manifesta de modo superabundante em nós (2Co
9.14; Ef 1.7; 2.7); todavia, ela não foi revelada em toda a sua plenitude; por isso, aguardamos o regresso triunfante
de Jesus Cristo, quando Ele mesmo revelará a graça de forma mais completa (1Pe 1.13), concluindo a nossa
salvação (Fp 1.6/1Pe 1.3-5).

O tema de nossa palestra é constituído por uma pergunta que traz em seu bojo, a questão de ser ou não a graça de
Deus comum a todos os homens. Já na introdução, podemos dizer que a palavra “graça” não é empregada em toda a
Bíblia, referindo-se à relação de Deus com os ímpios. Todavia, sabemos que Deus manifesta a Sua bondade e
misericórdia para com todos os homens; desta forma, podemos dizer que a graça de Deus é exclusiva para com os
4
pecadores eleitos.

Ainda à guisa de introdução, cabe aqui uma palavra a respeito da doutrina da “Graça Comum”, a qual aceitamos
como sendo fundamentalmente bíblica. Esta doutrina, como outras, não depende de termos bíblicos específicos para
5
derivar o seu ensinamento da Palavra de Deus. A doutrina da “Graça Comum”, deriva o seu nome dos atos de

1
João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo, Paracletos, 1997, (Rm 6.1), p. 201.
2
Cf. João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 1, p. 125.
3
Packer diz que “graça” é “a palavra-chave do cristianismo”. (J.I. Packer, Vocábulos de Deus,
São José dos Campos, SP. Fiel, 1994, p. 85).
4
Falando sobre a Graça de Deus, A.W. Pink, disse: “Esta perfeição do caráter divino só é exercida
em favor dos eleitos.” (A.W. Pink, Os Atributos de Deus, São Paulo, PES., 1985, p. 68).
5
Como exemplo, citamos a palavra “Trindade” que não aparece nas Escrituras mas, nem por isso,
podemos deixar de admitir que esta doutrina seja eminentemente bíblica. A doutrina da “Providência”
tem uma terminologia fraca nas Escrituras e, a expressão “segunda vinda” não ocorre no Novo
Testamento; todavia, estes ensinamentos fazem parte da revelação de Deus.
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 2

6
bondade da parte de Deus para com todos os homens sem exceção. O nosso estudo será ministrado dentro da
7
perspectiva da exclusividade da graça de Deus, distinguindo assim, a graça da bondade misericordiosa de Deus.

1. consideraÇões gramaticais da palavra “graÇA”:

1.1. No Antigo Testamento:


O Antigo Testamento emprega duas palavras que mais especificamente se adequam ao conceito de
“graça” expresso no Novo Testamento. As palavras são: desex (iheisedh) e }"x (ihên).

1. iheisedH:
8
iHeisedh, cuja etimologia é obscura, pode ser traduzida por “bondade”,
“graça”, “benevolência”, “benignidade”, “beneficência”, “humanidade” (ARA. 2Sm 2.5), “fidelidade” (ARA. 2Sm
16.17) e “misericórdia”. Ocorre cerca de 245 vezes no Antigo Testamento, principalmente nos Salmos (127 vezes).

IHeisedh é empregada, referindo-se:

a) Manifestação de Bondade do homem para com seu semelhante: Gn 21.23; 1Sm 20.8; 2Sm 3.8; 9.1,7;
10.2; Jó 6.14; Os 6.6

b) Homens Piedosos: Is 57.1.

c) Graça, Favor ou Misericórdia de Deus: Gn 24.12,14; Ex 20.6; Dt 5.10; 2Sm 2.6; Sl 5.7; 23.6; 52.1;
57.3; 89.1,2,33,49; 107.43; Is 55.3; Lm 3.22; Jn 2.8.

Figuradamente, Deus é chamado de “Misericórdia” por Davi, no Salmo 144.2; a Sua


misericórdia dura para sempre (Sl 100.5; 106.1;107.1; Jr 33.11). Por isso Deus deve ser louvado (Sl 107.8,21,31).

Como vimos, iHeisedh pode ser empregada acerca de Deus e acerca do homem. Quando a palavra se refere
ao homem, reflete o seu amor para com o seu próximo e para com Deus; quando a palavra é aplicada a Deus, denota
a Sua graça, envolvendo dois elementos importantes:

9
(1) A Auto-Entrega de Deus a Israel na Relação de um Pacto:
6
Esta doutrina, que nada mais é do que a compreensão de que o Espírito Santo exerce influência
comum sobre os homens em geral, pode ser resumida em três pontos: 1) Uma atitude favorável da parte
de Deus para com a humanidade em geral – eleitos e réprobos –, concedendo-lhes os bens necessários
à sua existência: chuva, sol, água, alimento, vestuário, abrigo; 2) A restrição do pecado feita pelo Espírito
Santo na vida dos indivíduos e na sociedade: “A obra da graça divina se vê em tudo que Deus faz
para restringir a devastadora influência e desenvolvimento do pecado no mundo....” (L.
Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP. Luz para o Caminho, 1990, p. 436); 3) A possibilidade
de aplicar a justiça civil por parte do não regenerado: Aquilo que é certo nas atividades civis ou naturais.
No entanto, deve ser dito que esta graça: a) Não remove a culpa do pecado; b) Não suspende a
sentença de condenação, portanto, o homem continua sob o juízo de Deus. Deste modo, esta ação do
Espírito deve ser distinta da Sua operação efetiva no coração dos eleitos através da qual Ele os
regenera [Vd. L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 433ss.; Charles Hodge, Systematic Theology,
Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1986, Vol. II, p. 654ss.; A.A. Hodge, Comentario de La Confesion
de Fe de Westminster, Barcelona, CLIE., (1987), Cap. X, p. 155-156; A.A. Hodge, Esboços de
Theologia, Lisboa, Barata Sanches, 1895, Cap. XXVIII, p. 420-421; William G.T. Shedd, Systematic
Theology, Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1980, Vol. II, p. 483ss.; R.L. Dabney, Lectures in
Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1985, Cap. XLVIII, p. 583ss.; P.E.
Hughes, Graça: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo,
Vida Nova, 1990, Vol. II, p. 216-217; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo, Vida Nova,
1999, p. 549].
7
Vd. A.W. Pink, Os Atributos de Deus, p. 59ss; 68ss; 74ss.
8
H.J. Stoebe, desex: In: Ernst Jenni & Claus Westermann, eds. Diccionario Teologico Manual del
Antiguo Testamento, Madrid, Ediciones Cristiandad, 1978, Vol. I, p. 832.
9
Vd. W. Zimmerli, et. al. X/arij: In: G. Friedrich & G. Kittel, eds. Theological Dictionary of the New
Testament, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1982, Vol. IX, p. 383ss.; Walther Eichrodt, Teologia
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 3

A idéia principal é a de que Deus manifesta o Seu amor ativamente na forma de


10 11
uma relação de um pacto; iHeisedh é um “amor de Pacto” (Dt 7.9,12; Jr 31.3); “iHesedh da aliança”. O
Pacto de Deus é unilateral no que concerne às suas demandas e provisões; compete ao homem aceitá-lo ou não,
porém, não pode modificar os seus termos. O iHeisedh é a causa e o efeito do Pacto; Deus fez o Pacto por
misericórdia; Ele revela a Sua misericórdia de acordo com o Pacto (1Rs 8.23 [2Cr 6.14]; Ne 1.5; 9.32; Is 55.3; Dn
9.4).

Devido ao Seu iHeisedh, Deus voluntariamente elege o Seu povo, mantendo-Se fiel nesta relação
independentemente da fidelidade circunstancial dos Seus eleitos (Dt 7.6-11; 2Sm 2.6; Sl 36.5; 57.3; 89.49; Is 54.10;
55.3).

(2) Está ligada com a Idéia de Justiça de Deus:

O iHeisedh de Deus não é barato; Deus não age movido por um sentimento
incontrolável e incoerente; antes, Deus encontra um justo caminho para estabelecer uma relação sólida com o
homem pecador. O fundamento desta nova relação é o próprio Cristo.

2. iHên:

iHên, pode ser traduzida por “achar graça”, “mercê”, “graça”,


“favor”, etc. Ocorre cerca de 70 vezes no Antigo Testamento.

iHên não está ligada à idéia de Pacto; ela é empregada em dois sentidos principais:

(1) Alcançar o favor de alguém com ou sem a ação divina:

Esta é a forma mais comumente encontrada, tendo um sentido quase exclusivamente


secular, recaindo a ênfase sobre o favorecido, ainda que não exclusivamente (Cf. Sl 45.2; 84.11). Ver:
Gn 6.8; 18.3; 19.19; 32.5; 33,8,10,15; 39.4,21; 47.25; Ex 11.3; 12.36; Et 2.15,17; 8.5.

(2) Graça, graciosidade, formosura, encanto e beleza:

Este sentido estético, sem necessariamente uma conotação moral, é preponderante no


Livro de Provérbios. Pv 1.9; 3.22; 4.9; 5.19; 11.16,22; Na 3.4 (ARA: “encantadora”).

Quando iHên é empregado no primeiro sentido, denota a ação de um ser superior, humano ou divino, em
relação a um ser inferior; a palavra se relaciona com o socorro prestado pelo mais forte ao mais fraco que está
necessitado. Assim, de forma teológica, vemos que Noé e Moisés acharam graça diante do Senhor (Gn 6.8; Ex
33.12). O maior ou mais forte, “age mediante uma decisão voluntária, embora seja impulsionado
pela dependência ou a petição da parte mais fraca. Uma expressão típica que se emprega
para descrever semelhante evento do ponto de vista do fraco é a fórmula ‘achar graça aos
olhos de alguém’, isto é, adquirir seu favor, sua afeição, sua benevolência, sua
12
condescendência e sua compreensão.”

del Antiguo Testamento, Madrid, Ediciones Cristiandad, 1975, Vol. I, p. 213ss.


10
Van Groningen, comentando o Salmo 111.1, chama a expressão de “fidelidade pactual”; no Salmo
118.1, designa de “amor pactual” (Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho
Testamento, Campinas, SP., Luz para o Caminho, 1995, p. 351, 363). Packer, a traduz por “Amor
constante”. (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, p. 88); Eichrodt, chama de “amor solícito”. (Walther
Eichrodt, Teologia del Antiguo Testamento, I, p. 213). Harris seguindo a versão King James, crê que
uma boa tradução é “bondade amorosa” (R. Laird Harris, hsd:s,ihsd: In: R. Laird Harris, et. al., eds.
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1998, p. 503).
11
R. Laird Harris,ihsd: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo
Testamento, p. 501.
12
Hans-Helmut Esse, Graça, Dons Espirituais: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1982, Vol. II, p. 317. Vd.
também: Edwin Yamauchi, Hên: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do
Antigo Testamento, p. 495-496.
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 4

Obviamente, iHên nunca é empregado se referindo à ação do homem em relação a Deus; ou seja, o homem
não pode manifestar iHên para com Deus, visto que ninguém pode fazer-Lhe favor.

1.2. No Novo Testamento:


A palavra usada no Novo Testamento para “graça” é xa/rij (cháris), que é traduzida
por “graça”, “graciosidade”, “amabilidade”, “elegância”, etc.

Cháris é o termo que é usado normalmente para traduzir iHên, sendo o seu correspondente grego. Cháris
ocorre cerca de 155 vezes no Novo Testamento, principalmente nas Epístolas de Paulo (98 vezes), tendo a primazia
em Romanos (22 vezes).

13
É curioso que Cháris nunca foi encontrado nos lábios de Jesus, embora, o conceito tenha uma realidade
concreta em sua vida e em Seus ensinamentos.

2. definição de graça:

Operacionalmente, podemos definir a Graça de Deus como sendo um favor imerecido, manifestado livre e
continuamente por Deus aos pecadores que se encontravam num estado de depravação e miséria espirituais,
14
merecendo o justo castigo pelos seus pecados (Rm 4.4/Rm 11.6; Ef 2.8,9).

3. a graça de deus: considerações gramaticais e teológicas:

3.1. A Graça é Uma das Perfeições do Trino Deus:


Vimos que o apóstolo Pedro disse que Deus é “o Deus de toda graça” (1Pe 5.10). A
graça é uma das gloriosas perfeições da Santíssima Trindade: Perfeição do Pai (Cl 1.2); Perfeição do Filho (Rm
15
16.20; Fm 25; Ap 22.21); Perfeição do Espírito Santo (Hb 10.29). A graça origina-se em Deus mesmo, tornando-
se a fonte de todas as Suas bênçãos. Deus é gracioso em Si mesmo, independentemente de Sua relação conosco; o
que Deus manifesta em Sua relação com o Seu povo, é a expressão exata daquilo que Ele é em Si mesmo: A graça
faz parte da essência de Deus. F. Baudraz está correto, quando diz: “A graça divina não se separa de Deus,
mas é uma relação pessoal que Deus estabelece entre si mesmo e os homens: Ele os encara
16 17
com favor e com bondade.” (Vejam-se: Ex 34.6; Nm 14.18-19; 2Sm 7.15; Sl 31.16; 33.22; 42.8).

Deste conceito de graça, decorrem outros:

13
Com exceção de alguns textos com o sentido de “gratidão”, “recompensa”. E ainda assim, somente no
Evangelho de Lucas (Lc 6.32,33,34; 17.9). (Vd. H.D. McDonald, Grace: In: Merril C. Tenney, ed. ger. The
Zondervan Pictorial Encyclopaedia of the Bible, 5ª ed. Grand Rapids, Michigan, Zondervan Publishing
House, 1982, Vol. II, p. 800).
14
Vejam-se outras definições em: A.W. Pink, Os Atributos de Deus, p. 69; Idem., Deus é Soberano,
São Paulo, Fiel, 1977, p. 24; A. Booth, Somente pela Graça, São Paulo, PES., 1986, p. 31; João
Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 5.15), p. 193; R.P. Shedd, Andai Nele, São Paulo, ABU., 1979,
p. 15; W. Hendriksen, 1 y 2 Timoteo/Tito, Grand Rapids, Michigan, S.L.C., 1979, (Tt 2.11), p. 419; L.
Berkhof, Teologia Sistemática, p. 74; W. Barclay, El Pensamiento de San Pablo, Buenos Aires, La
Aurora, 1978, p. 154; L. Boettner, Predestinación, Grand Rapids, Michigan, S.L.C., [s.d.], p. 258; D.M.
Lloyd-Jones, Por que Prosperam os Ímpios, São Paulo, PES., 1983, p. 103; J.I. Packer, O
Conhecimento de Deus, São Paulo, Mundo Cristão, 1980, p. 120; Tom Wells, Fé: Dom de Deus, São
Paulo, PES., 1985, p. 101; Samuel Falcão, Predestinação, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana,
1981, p.100-101; James Moffatt, Grace in the New Testament, New York, Ray Long & Richard R.
Smith. Ind., 1932, p. 5; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p. 146, 147; John Gill, “A Complete
Body of Doctrinal and Practical Divinity,” The Collected Writings of: John Gill, [CD-ROM], (Albany, OR:
Ages Software, 2000), I.13. p. 195-196
15
Em 2Ts 1.2, a palavra “Graça” é associada a Deus e a Jesus Cristo.
16
F. Baudraz, Graça: In: J.J. Von Allmen, dir. Vocabulário Bíblico, 2ª ed. São Paulo, ASTE., 1972, p.
157-158.
17
Em todos esses textos, a palavra hebraica usada é iHeisedh.
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1) A Graça de Deus é Eterna:


A graça é tão eterna quanto Deus. A graça de Deus reina antes mesmo da nossa criação,
18
sendo ela a causa da nossa eleição (2Tm 1.9/Ef 1.3-5). Por trás deste conceito, está a compreensão bíblica de que
Deus é eternamente perfeito, sendo o que é independentemente de Sua revelação; ou seja: o que Deus revela no
tempo, faz parte da Sua perfeição eterna.

2) A Graça de Deus é Soberanamente Livre:19


A liberdade é um dos atributos da soberania. Deus é soberano e, por isso mesmo, é livre
na manifestação da Sua graça. Aliás, este conceito é fundamental à idéia bíblica de graça pois, se a graça não fosse
livre, não seria graça; graça que é obrigatória não é graça, é obrigação. Deus tem misericórdia de quem Lhe aprouve
(Ex 33.19) “A graça é absolutamente livre de toda a nossa influência, ou então não é graça de
20
modo algum.” Deus nos olha com graça porque assim O decidiu; o homem não pode exercer nenhuma
influência sobre isso, todavia, Deus é gracioso para com o homem porque determinou em Si mesmo considerar a
necessidade do Seu povo.

Packer, corretamente declarou:

“A graça é livre, no sentido de ser auto-originada e de proceder de Alguém que podia


ou não conceder graça. Somente quando se percebe que o que decide o destino do
homem é o fato de Deus resolver ou não salvá-lo de seus pecados – sendo esta uma
decisão que Ele não é obrigado a tomar em nenhum caso – é que se começa a apreender
21
a idéia bíblica da graça.”

Se Deus, soberana e livremente estabelecesse a Lei como sendo o caminho da graça, a graça continuaria
sendo graça; todavia, não haveria salvação para o homem, já que o padrão de Deus é a perfeição. A graça reina
22
livremente! (Hb 4.16). (Vejam-se: 1Rs 8.23; Is 55.3; Jr 9.24; Rm 3.24; 9.15-18).

3) A Graça de Deus é Ativa:


A graça de Deus não é simplesmente uma qualidade abstrata, pela qual temos contato
através de meditação transcendental. Não. A graça de Deus é um princípio ativo, operante, que se concretiza em atos
23
de bondade, culminando com a encarnação de Jesus Cristo. (Gn 19.19; Ex. 33.12,13; 34.9; Jo 1.16-18; 2Tm 1.9;
Tt 2.11; Hb 2.9).

18
O Sínodo de Dort (1618-1619), assim define a “Eleição”:
“Eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do
mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça
pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano bom propósito de Sua vontade,
dentre todo o gênero humano, decaído, por sua própria culpa, de sua integridade original
para o pecado e a perdição. Os eleitos não são melhores ou mais dignos que os outros,
mas envolvidos na mesma miséria.” (Cânones de Dort, I.7).
19
Vd. Hermisten M.P. Costa, O Soberano Poder de Deus, São Paulo, 1996; Idem., A Eleição de
Deus, São Paulo, 2000.
20
A. Booth, Somente pela Graça, p.14. Do mesmo modo, Parker: “Se a graça fosse uma obrigação
da parte de Deus, já não seria graça. Porém é em Sua divina liberdade que Deus nos mostra
sua graça.” (T.H.L. Parker, Gracia: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, Grand Rapids.
Michigan, T.E.L.L., 1985, p. 254b). Vd. também: [John Gill, “A Complete Body of Doctrinal and Practical
Divinity,” The Collected Writings of: John Gill, I.13, p. 196].
21
J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, p. 119.
22
Vejam-se também, Confissão de Westminster, III.5; IX.4; XV.3; Catecismo Menor, Pergs. 33,34, 35.
23
Em todos esses textos, a palavra hebraica e iHên.
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3.2. A Graça e Jesus Cristo:


Jesus Cristo é a personificação da graça; Ele encarna a graça e a verdade (Jo 1.17; 14.6).
Ele é a causa, o conteúdo e a manifestação da graça de Deus; falar de Cristo é falar da graça.

Os profetas do Antigo Testamento falavam de uma salvação futura pela graça (1Pe 1.10). Jesus Cristo, a
graça de Deus encarnada, veio na plenitude do tempo (Gl 4.4), na plenitude da graça (2Tm 1.9/Jo 1.16; 1Co 1.4; Ef
1.6,7; 2Tm 2.1). A auto-entrega de Jesus pelos pecados dos pecadores eleitos, foi um dom da graça que, como já
vimos, fora profetizada (1Pe 1.10-11/Rm 5.15; Hb 2.9). A pobreza assumida por Cristo revela a riqueza da Sua
graça (2Co 8.9); por isso, Ele, somente Ele nos dá acesso à graça (Hb 4.14-16), convidando-nos: “Vinde a mim”
(Mt 11.28).

Jesus Cristo se encarnou a fim de que Deus pudesse ser justo, e ao mesmo tempo o justificador daqueles que
confiam em Jesus para salvação (Rm 3.26); portanto, para nós que cremos, Ele se tornou justiça, santificação e
redenção (1Co 1.30).

3.3. A Graça e a Justiça:


Conforme já observamos, a graça de Deus não é barata. Nós muitas vezes nos
comportamos como filhos que, amados e agraciados com presentes de seus pais, se esquecem que se aquilo que
ganhamos foi “fácil”, “generoso”, sem mérito algum de nossa parte, custou, muitas vezes um alto preço para os pais:
privação de adquirir um outro bem para si, filas, crediários, juros, economias, etc. A graça de Deus tem um outro
lado, que com freqüência nos esquecemos: a obra sacrificial de Cristo. É um erro lamentável julgar toda a verdade
24
considerando apenas a parte que nos compete do todo. A graça de Deus se evidencia nas obras da Trindade. O
Pacto da Graça, através do qual somos salvos, foi Pacto de Obras para Cristo. A nossa salvação é muito cara, custou
o precioso sangue de Cristo (1Pe 1.18-20/At 20.28; 1Co 6.20). Isto longe de apontar para o suposto valor inerente de
nossas almas, revela o amor gracioso de Deus que confere valor a nós.

Deus não quebra a Sua justiça por amor; antes, cumpre a justiça em amor; a graça reina pela justiça (Rm
5.21). "De fato a graça reina, mas uma graça reinante à parte da justiça não é apenas
25
inverossímil, mas também inconcebível."

Abraham Booth (1734-1806) escrevendo sobre este assunto, assim se expressou:

26
“A graça de Deus está fundamentada na obediência perfeita e meritória de Cristo.”
“Ainda que este perdão seja gratuito para os pecadores, nunca devemos esquecer-
nos de que Cristo pagou um alto preço por ele. Perdão para a menor das nossas ofensas
só se tornou possível porque Cristo cumpriu as mais aflitivas condições – Sua encarnação,
Sua perfeita obediência à lei divina e Sua morte na cruz. O perdão que é absolutamente
27
gratuito ao pecador teve um alto custo para o Salvador.”
“A graça de Deus vem a nós não porque Deus revela o fato da Sua lei ser quebrada
por nós, mas porque a Sua lei foi plenamente satisfeita pelos atos de justiça que Cristo
28
fez a nosso favor. (...) Ele cumpriu perfeitamente a lei de Deus.”

Somente Jesus Cristo, através da Sua justiça, obtida na Sua encarnação, morte e ressurreição, poderia satisfazer
as exigências de Deus para a nossa salvação. Portanto, “Quando Deus justifica pecadores à base da
obediência e da morte de Cristo, está agindo com toda eqüidade. Dessa maneira, longe de
29
comprometer Sua retidão judicial, esse método de justificação em realidade a exibe.”

24
Vd. Hermisten M.P. Costa, Pode o Homem Salvar-se?. In: Revista Popular, São Paulo, Casa Editora
Presbiteriana, 4º Tri/1989, p. 56.
25
John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1993, p. 19.
26
A. Booth, Somente pela Graça, p. 15.
27
A. Booth, Somente pela Graça, p. 31. Vd. J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, p. 121.
28
A. Booth, Somente pela Graça, p. 56-57.
29
J.I. Packer, Justificação: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo, Junta
Editorial Cristã, 1966, Vol. II, p. 899b.
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3.4. A Graça e a Salvação:


A nossa salvação é decorrente do Pacto da Graça, através do qual Deus confiou o Seu
povo ao Seu Filho para que Este viesse entregar a Sua vida por ele. Cristo deu a Sua vida em favor de todos aqueles
30
que o Pai Lhe confiara na eternidade. (Sl 89.2,3; Is 42.6/2Tm 1.9; Jo 6.39; 17.1,6-26). Assim, todos os homens,
tanto no Antigo como no Novo Testamento foram salvos pela graça (At 15.11).

Mérito e graça são conceitos que se excluem (Rm 11.6). “A graça divina e o mérito das obras
humanas são tão opostos entre si que, se estabelecermos um, destruiremos o outro”, conclui
31 32
Calvino (1509-1564). De fato, a graça tem sempre como pressuposto a indignidade daquele que a recebe. A
graça brilha nas trevas do pecado; desta forma, a idéia de merecimento está totalmente excluída da salvação por
graça (Ef. 2,8,9; 2Tm 1.9). A Palavra de Deus nos ensina que a nossa salvação é por Deus, porque é Ele Quem faz
33
tudo; por isso, o homem não pode criar a graça, antes, ela lhe é outorgada, devendo ser recebida sem torná-la vã
em sua vida (2Co 6.1; 8.1/1Co 15.10).

A graça de Deus abre o nosso coração, fazendo-nos ver a necessidade da salvação, passando a desejá-la
34
ardentemente desde então; a graça de Deus promove a paz em nosso coração através da nossa reconciliação com
Deus (Rm 5.1; 2Co 5.18-21/Rm 1.7; 1Co 1.3; 2Co 1.2). Em paz com Deus, somos agenciadores desta paz através da
proclamação do Evangelho (Sl 34.14; Mt 5.9; Rm 12.18; 2Co 13.11; Hb 12.14/2Co 5.20) e, também, através de
nossa conduta. Agora vivemos na esfera do Reino da graça, estando sob a graça, num estado de graça, numa nova
posição em Cristo (Rm 5.2; 6.14; Ef 1.20; 2.6; Cl 1.13).

O Novo Testamento ensina claramente que a nossa salvação é resultado da graça de Deus; além desta
declaração abrangente, podemos encontrar ainda nas páginas do Novo Testamento, a relação de vários elementos da
“ordem da salvação”; ei-los:

35
1) Eleição:

A nossa eleição caracteriza o Reino da Graça de Deus como antecedendo à história (Rm
11.5-6; Gl 1.15; 2Tm 1.9).

A eleição não é condicionada ou dependente de “boas obras” nossas, nem de fé ou mesmo, de previsão de
36
fé, mas sim do beneplácito de Deus. (At 13.48; Rm 9.11,16,23; 11.4-7; Ef 1.7,12; 2Tm 1.9; 1Pe 1.2).

30
Vd. John Gill, A Complete Body of Doctrinal and Practical Divinity, Arkansas, The Baptist
Standadar Bearer, 1989 (Reprinted), I.13. p. 83. [John Gill, “A Complete Body of Doctrinal and Practical
Divinity,” The Collected Writings of: John Gill, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 2000), I.13].
31
J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 11.6), p. 388.
32
Vd. A. Booth, Somente pela Graça, p. 13.
33
"... Em sua inteireza a nossa salvação procede do Senhor. É sua realização. Ele mesmo
apresenta Sua noiva a Si mesmo porque ninguém mais pode fazê-lo, ninguém mais é
competente para fazê-lo. Somente Ele pode fazê-lo. Ele fez tudo por nós, do princípio ao fim,
e concluirá a obra apresentando-nos a Si mesmo com toda esta glória aqui descrita." [D.M.
Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho, São Paulo, PES., 1991, (Ef
5.27) p. 137]. Do mesmo modo acentua Murray: “A salvação é do Senhor, tanto em sua aplicação
como em sua concepção e realização.” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, p. 98).
Vejam-se, R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Michigan, SLC., 1985, p. 169ss; 177ss.; C.H.
Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo, PES., 1992, p. 12ss.
34
“A graça de Deus não só salva o homem: também mostra ao homem sua necessidade de
ser salvo e introduz em seu coração o desejo de salvação” (W. Barclay, El Pensamiento de
San Pablo, Buenos Aires, La Aurora, 1978, p. 164).
35
Vd. Hermisten M.P. Costa, A Eleição de Deus, São Paulo, 2000.
36
Veja-se, Cânones de Dort, I.9,10 e João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 11.6), p. 388-389.
Kuiper, observa corretamente: “A eleição foi inteiramente incondicional. Não foi condicionada
à fé e à obediência do homem. Deus não escolheu os pecadores para a vida eterna
dependendo se eles iam crer e obedecer. Nem escolheu certas pessoas para a salvação,
porque previu que iriam crer e obedecer.” (R.B.Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo,
PES., 1976, p. 57).
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 8

Notemos que, se a fé e as obras são resultados da eleição, obviamente, elas não podem ser a condição
de nossa salvação. (At 15.11; 1Co 4.7; Ef 2.8-10).

“Se as pessoas foram eleitas porque Deus sabia que elas iam crer, por que então
precisavam ser eleitas? Os que têm fé hão de ser salvos, de qualquer modo! Se a fé já
37
existe, a eleição é desnecessária”, conclui Booth.

Por outro lado, se Deus nos escolheu para sermos santos (Ef 1.4; 2Ts 2.13), é porque de fato não
éramos; logo, não foi devido às nossas obras que Deus nos escolheu. A declaração de Paulo elimina qualquer
centelha de orgulho por parte do suposto eleito (Vd. 1Co 1.26-31). “A graça não teria razão de ser se os
méritos a precedessem. Mas a graça é graça. Não encontrou méritos, foi a causa dos
méritos. Vede, caríssimos, como o Senhor não escolhe os bons mas escolhe para fazer
38
bons”, orienta pastoralmente Agostinho (354-430).

Calvino (1509-1564) dá um golpe definitivo em todo e qualquer conceito de merecimento: “É preciso


lembrar que sempre que atribuímos nossa salvação à graça divina, estamos confessando
que não há mérito algum nas obras; ou, antes, devemos lembrar que sempre que fazemos
39
menção da graça, estamos destruindo a justiça [procedente] das obras.”

2) Arrependimento:

O arrependimento consiste numa mudança de mente, ocasionando um sentimento de


tristeza pelos nossos pecados, que se caracteriza de forma concreta no seu abandono. O arrependimento sincero é
uma “concessão” de Deus (2Co 7.10/2Tm 2.25). “A fé e o arrependimento não devem ser reputados
coisas meritórias mediante as quais merecemos o perdão. Pelo contrário, são os meios pelos
40
quais nos apropriamos da graça de Deus.” O arrependimento, portanto, envolve uma atitude de
abandono do pecado e uma prática da Palavra de Deus. Esta prática consiste nos “frutos do arrependimento”. Paulo,
testemunhando diante do rei Agripa a respeito do seu ministério, diz: “Pelo que ó rei Agripa, não fui desobediente
à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e
aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus praticando obras dignas de arrependimento” (At
26.19,20. Vd. também: At 20.21).

O arrependimento e a fé são passos iniciais da vida cristã como resposta ao chamado divino; no entanto,
ambos devem acompanhar a nossa vida; devemos continuar crendo em Deus em todas as circunstâncias e cultivar,
pelo Espírito, uma atitude de arrependimento pelas nossas falhas. Deus deseja que procuremos agradá-Lo em todas
as coisas; no entanto, sabemos que pecamos, que falhamos, que não atingimos o alvo proposto por Deus; por isso,
conscientes de nossos pecados, devemos nos arrepender, buscando o perdão de Deus e o reparo para o nosso erro.

A Confissão de Westminster (1647) resume: “... O pecador pelo arrependimento, de tal


maneira sente e aborrece os seus pecados, que, deixando-os, se volta para Deus,
tencionando e procurando andar com Ele em todos os caminhos dos seus mandamentos”
(XV.2).

3) adoÇão:

“Por meio da fé, Cristo nos é comunicado, através de quem chegamos


41
a Deus, e através de quem usufruímos os benefícios da adoção”, escreve Calvino. Fomos

37
Abraham Booth, Somente pela Graça, p. 18.
38
Augustin, On The Gospel of St. John. Tractate 86.2-3. In: Philip Schaff & Henry Wace, eds. Nicene
and Post-Nicene Fathers of Christian Church, (First Series), 2ª ed. Peabody, Massachusettes,
Hednrickson Publishers, 1995, (Jo 15.16), p. 353-354. (Quanto aos principais conceitos de Agostinho a
respeito deste assunto, Vd. Reinhold Seeberg. Manual de Historia de las Doctrinas, El Paso,
Texas/Buenos Aires/Santiago, Casa Bautista de Publicaciones/Editorial “El Lucero”, 1963, Vol. I, p.
347ss.). Vd. John Gill, “A Complete Body of Doctrinal and Practical Divinity,” The Collected Writings of:
John Gill, I.13, p. 198.
39
João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 11.6), p. 389.
40
Leon Morris, Perdão: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. III, p. 1268a.
41
João Calvino, Efésios, São Paulo, Paracletos, 1998, (Ef 1.8), p. 30.
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 9

adotados pela graça de Deus, tornando-nos Seus filhos. (Ef 1.5,6/Gl 4.4-6). “Entre todos os dons da graça, a
42
adoção é o maior.”

A paternidade divina é entendida como um ato de intenso amor para com os homens que se encontravam
num estado de total depravação e miséria (Jo 3.16; 1Jo 3.1). O pecado tornou-nos – já que todos pecamos – inimigos
de Deus, contrários aos Seus mandamentos e propósitos.

Os homens são filhos de Deus não simplesmente por nascimento natural, mas, sim, por um novo nascimento
concedido por Deus, tornando-se, assim, Seus filhos adotivos. A nossa filiação, olhando pelo ângulo que for, é um
ato da livre graça de Deus (Jo 3.3,5; Rm 8.15; Gl 4.3-6; Ef 1.5). Todas as demais bênçãos que recebemos, decorrem
43
da “graciosa adoção divina como sua causa primeira.” A Palavra nos diz que “Deus enviou Seu
Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos
a adoção de filhos” (Gl 4.4,5).

A Palavra também nos diz que este ato histórico amparou-se no decreto eterno, livre, soberano e bondoso
de Deus: “Nos predestinou para Ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito
de Sua vontade” (Ef 1.5).

Portanto, quando falamos de nossa filiação, devemos ter em mente que ela é um dom de Deus; “é o
44
próprio Deus agindo graciosamente para conosco”.

O Catecismo de Heidelberg (1563), à pergunta 33 – “Por que é Ele chamado Filho UNIGÊNITO DE
DEUS, se nós também somos filhos de Deus?” – responde: “Porque só Cristo é o Filho eterno de Deus,
ao passo que nós, por Sua causa, e pela graça, somos recebidos como filhos de Deus.”

A Confissão de Westminster (1647) declara de forma correta: “A todos os que são justificados, Deus
se digna fazer participantes da graça da adoção....” (XII.1). Do mesmo modo, o Catecismo Menor, em
resposta à pergunta 34, – “O que é adoção?” – diz: “Adoção é um ato da livre graça de Deus, pelo qual
somos recebidos no número dos filhos de Deus, e temos direito a todos os seus privilégios.”
(1Jo 3.1; Jo 1.12; Rm 8.14-17)”.

4) justificação:

Somos declarados justos pela justiça de Cristo (Rm 3.24; Tt 3.7). A justificação é o
45
fundamento judicial da santificação; aqui há uma mudança na nossa condição legal. Na justificação Deus nos
declara justos, perdoando todos os nossos pecados, os quais foram pagos definitivamente por Cristo; por isso, já não
há nenhuma condenação sobre nós; estamos em paz com Deus amparados pela justiça de Cristo (Vd. Rm 5.1;
46
8.1,31-33). Na justificação Deus declara que já não há mais culpa em nós; aqui de fato passamos a ter vida;
mudamos da situação de um condenado que aguardava tristemente a terrível sentença condenatória para a condição
47
de filho de Deus, na expectativa da sua majestosa herança (Rm 8.14-18).

A justificação – ocorre fora de nós –, não produz nenhuma transformação espiritual em nosso ser; no
48
entanto, é uma vocação incondicional à santificação, conforme a vontade de Deus. A justificação nos livra da
condenação do pecado.

42
J.I. Packer O Conhecimento de Deus, p. 197.
43
J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 8.28), p. 294.
44
John R.W. Stott, A Cruz de Cristo, Miami, Editora Vida, 1991, p. 95.
45
Vd. L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 540.
46
Vd. George Whitefield. Cristo: Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, São Paulo, PES. (s.d.),
p. 8.
47
Vd. J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, p. 121.
48
“É certamente verdade que somos justificados em Cristo Tão-somente pela misericórdia
divina, mas é igualmente verdade e correto que todos quantos são justificados são
chamados pelo Senhor para que vivam uma vida digna de sua vocação. Portanto, que os
crentes aprendam abraçá-lo, não somente para a justificação, mas também para a
santificação, assim como ele se nos deu para ambos os propósitos, para que não venham a
mutilá-lo com uma fé igualmente mutilada.” [J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 8.13), p.
274]. Ver também: João Calvino, Efésios, (Ef 2.10), p. 63.
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 10

A nossa justificação é pela graça mediante a fé. (Gl 3.11; Fp 3.9; Tt 3.4-7) "...A fé é o instrumento
49
pelo qual o pecador recebe e aplica a si tanto Cristo como sua justiça."

Fazendo uma analogia entre a “adoção” e a “justificação”, Packer diz: “A justificação é a bênção
básica, sobre a qual a adoção se fundamenta; a adoção é a bênção do coroamento, para a
50
qual a justificação abre o caminho.”

51
5) A capacidade para crer:

Deus é Quem abre os nossos corações e mentes, para que possamos entender
salvadoramente a mensagem do Evangelho (At 3.16; 16.14; 18.27; Rm 4.16; Fp 1.29).

Deus não nos elegeu na eternidade porque um dia teríamos fé; mas sim, para que tivéssemos fé: Sem a graça de
52
Deus não haveria fé. A fé é essencial à salvação, como uma evidência da nossa eleição: Só os que crêem serão
salvos; só crêem os eleitos! (1Ts 1.3,4; 2Ts 2.13; Tt 1.1). A fé não tem méritos salvadores; ela é apenas o
instrumento gracioso de Deus para a apropriação da salvação preparada pelo Trino Deus para o Seu povo escolhido
(Lc 8.12; At 16.31; 1Co 1.21; Ef 2.8; 2Ts 2.13).

“Eu não me apresento – escreveu Schaeffer – presunçosamente pensando que posso


salvar a mim mesmo, mas entregando-me ao trabalho completo de Cristo e às promessas
escritas de Deus. Minha fé é simplesmente as mãos vazias com as quais aceito a dádiva
53
de Deus.”

A razão estigmatizada pelo pecado, que se mostra tão eficaz nas coisas naturais, perde-se diante do mistério de
Deus revelado em Cristo e, também diante da Revelação geral na Natureza: “As mentes humanas são cegas
a essa luz, a qual resplandece em todas as coisas criadas, até que sejam iluminados pelo
Espírito de Deus e comecem a compreender, pela fé, que jamais poderão entendê-lo de
54
outra forma.” A graça portanto, antecede à fé e ao conhecimento. A fé consiste na convicção de que a
salvação está além de nossos recursos; no caso as fé salvadora, significa que depositamos nossa fé em Deus através
55
de Cristo.

Sem a graça de Deus jamais creríamos na Mensagem do Evangelho, jamais poderíamos entende-la de
forma salvadora, portanto, de modo algum seríamos salvos.

6) redenção e remissão dos pecados:

Cristo redimiu-nos, levando sobre Si a maldição de nossos pecados, pagando o altíssimo


preço do nosso resgate (Rm 3.24; Ef 1.7/1Pe 1.18,19; At 20.28/ Hb 8.12). “O sangue de Cristo tem valor
56
infinito por causa da gloriosa dignidade d’Aquele que o derramou.” Cristo, com o seu próprio
57
sangue, reconciliou-nos com Deus, sendo assunto aos céus, como nosso eterno e perfeito Mediador
7) Vocação:

Deus nos chama eficazmente por Sua livre graça (Gl 1.15; 2Tm 1.9). A vocação de Deus
58
permanece e nos sustenta até o fim (Fp 1.6).

49
Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 73.
50
J.I. Packer, Teologia Concisa, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1999, p. 157.
51
Vd. Hermisten M. P. Costa, A Fé Salvadora, São Paulo, 2000.
52
“É pela fé que nos apropriamos da graça de Deus, a qual está oculta e é desconhecida do
entendimento carnal.” [João Calvino, O Livro de Salmos, Vol. 1, (13.5), p. 267].
53
Francis A. Schaeffer, O Deus Que Intervém, São Paulo, Refúgio/ABU, 1981, p. 208.
54
João Calvino, Exposição de Hebreus, Sâo Paulo, Paracletos, 1997, (Hb 11.3), p. 299.
55
Vd. Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p. 147.
56
Abraham Booth, Somente pela Graça, p. 31.
57
Vd. João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 10.22), p. 268.
58
Vd. C.H. Spurgeon, Sermôes Sobre a Salvação, p. 20.
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 11

8) A conversão:

É Deus Quem converte o homem do domínio de Satanás para o Seu Reino (At 26.18/At
11.21,23/ 1Tm 1.12-14). A conversão se evidencia em nossa caminhada, que deve se coadunar com a nossa natureza
transformada pelo Espírito Santo; agora, as coisas velhas passaram.

9) A Perseverança:

Aquele que começou a boa obra a nosso favor (Elegendo, justificando, concedendo-nos
fé, adotando, etc.), nos confirmará pela Sua graça até o fim (Fp 1.6/Jo 10.28; 1Pe 1.5). Ninguém será deixado no
59
meio do caminho!

60
10) a salvação eterna:

A salvação é uma obra exclusiva de Deus (At 15.11; Rm 6.23; Ef 2.5,8; 2Tm 1.9; Tt
2.11).

A nossa salvação é decorrente primeiramente da vontade Soberana de Deus (Mt 19.23-36; Hb 7.25; Tg 4.12).
Deus age através da Sua Poderosa Palavra (Rm 1.16; 9.16-18; 10.17; 1Co 1.18), conduzindo-nos a Cristo (Jo
6.44,65), confessando-O como nosso Senhor (1Co 12.3). Deus mesmo dá-nos a certeza de que fomos salvos pelo
61
poder da Sua Graça (Jo 10.27-29); confirmando (Rm 16.25-27); selando (Ef 1.13; 4.30), edificando (At 20.32),
santificando (2Ts 2.13) e preservando-nos (Jd 24,25), até à conclusão do Seu propósito em nós: A salvação eterna
para a Glória de Deus (Fp 1.6; 2Ts 1.11,12; 1Pe 1.3,5; 2Pe 1.3).

Nós seremos o troféu de Cristo por toda a eternidade; somos o resultado de Sua obra salvadora; por isso,
quando Ele vier, será glorificado em nós (Ef 1.5,6; 2.7/Jo 17.10; 2Ts 1,10,12). “Na eternidade, olharemos
para nós mesmos e diremos: ‘Eis aqui a prova de que Deus é bondoso – Ele me salvou!’
62
Seremos os troféus na galeria dos troféus de Deus.”

É o Espírito Quem aplica os méritos de Cristo em nós, levando-nos a aceitar a mensagem redentora de
63
Deus em Cristo; por isso é que Ele é chamado de “Espírito da graça” (Hb 10.29/Zc 12.10). Calvino (1509-1564)
afirmou corretamente, que é necessário que Cristo habite em nós para que compartilhe conosco o que recebeu do
Pai. Ele conclui dizendo que: “O Espírito Santo é o elo pelo qual Cristo nos vincula efetivamente a
64
Si.”

3.5. A Graça e o Evangelho


O Evangelho é uma mensagem da Graça de Deus (At 20.24). Esta é uma proclamação
fundamentalmente distintiva da Igreja.

Jesus Cristo é a graça encarnada – Ele encarna a Graça e a Verdade (Jo 1.17; 14.6) –, o Evangelho é a graça
verbalizada. É através do Evangelho que Deus transmite a Sua Palavra de Graça (At 14.3; 20.24). “O Evangelho

59
Vd. C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, p. 12.
60
Vd. Hermisten M.P. Costa, O Soberano Poder de Deus, São Paulo, 1999.
61
Calvino (1509-1564), comentando o texto de Rm 16.25, diz que Paulo ensina aqui a perseverança
final. "E para que descansem (os romanos) e se apoiem neste poder, indica que ele nos foi
assegurado pelo evangelho. Por isso não só nos promete a graça presente, ou seja, atual,
senão também nos dá a certeza de uma graça eterna. Pois Deus nos anuncia que não
somente é nosso Pai agora, senão para sempre, e o que é mais ainda, sua adoção
sobrepassa a morte porque nos conduz à herança eterna." (J. Calvino, La Epistola Del Apostol
Pablo A Los Romanos, Grand Rapids, Michigan, Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia
Cristiana Reformada, 1977, p. 393).
62
Tom Wells, Fé: Dom de Deus, p. 100.
63
Vd. Hermisten M.P. Costa, A Pessoa e Obra do Espírito Santo, São Paulo, 1999, p. 44ss.; A.W.
Pink, Os Atributos de Deus, p. 74.
64
João Calvino, As Institutas, III.1.1.
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 12

65
é o divulgador da graça”. A graça é-nos ensinada pelo Evangelho (Cl 1.4-6); por isso, pregar o Evangelho,
mais do que uma responsabilidade, é um “favor” de Deus (Ef 3.8).

Deus confiou à Igreja o privilégio responsabilizador de testemunhar o Evangelho da Graça (1Co 9.16; 2Tm
4.2). A graça de Deus age através da verdade (Cl 1.6); Deus mesmo confirma a Sua palavra (At 14.3). Deus não nos
chamou a pregar as nossas opiniões ou hipóteses, mas sim a Sua Palavra visto que, Ele age através dela (Jo 17.17;
66
Rm 10.17; Cl 1.5,6).

A Igreja é proclamadora da graça de Deus, tendo em sua existência histórica a concretude da graça: a Igreja
é o monumento da graça soberana de Deus! (1Pe 2.9,10).

3.6. A Graça e a Igreja:


67
“À Igreja se atribui a santidade, sem que ela seja uma qualidade da Igreja.” A
Igreja é composta por pecadores regenerados (Jo 3.3; Tt 3.5). O pecado já não tem domínio sobre nós (Rm 6.14),
todavia, ainda exerce a sua influência; por isso, o apóstolo João escreveu: "Se dissermos que não temos pecado
nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós" (1Jo 1.8).

Assim, a Igreja Santa, que é composta por pecadores, revela o triunfo da graça de Deus sobre o poder do
pecado. A graça é que começa, aperfeiçoa e conclui a obra da salvação em nós (Fp 1.6). Como bem disse Spurgeon
(1834-1892): “A graça começa, continua e termina a obra da salvação no coração de uma
68
pessoa.” Aquele que nos regenerou e justificou, também nos santifica, modelando-nos conforme a imagem de
69
Cristo (Rm 8.29).

Já vimos que a Igreja é o monumento da graça de Deus; ainda dentro deste mesmo raciocínio, observamos
que Deus objetiva a Sua graça à Igreja (2Co 4.15). Se isto é assim, podemos dizer que, o que é válido no sentido
geral o é em suas particularidades; a graça de Deus é abundante (2Co 9.8,14; Ef 1.7; 2.7), a sua manifestação na
Igreja é rica, não precisando ser suplementada: é suficiente (2Co 12.9). Deste modo, vemos a graça de Deus na
Igreja, da seguinte forma:

1) O Conhecimento de Deus: A Possibilidade de conhecimento de Deus, é uma concessão da graça;


não depende, em primeira instância de nós, mas sim de Deus usar da Sua graça (2Pe 1.2/2Pe 3.18/Mt
11.27/Mt 16.17).

2) A Vocação: Deus nos vocaciona devido a Sua graça (Rm 1.5; Ef 3.7,8; 1Co 3.10; Gl 2.8,9). (Vejam-
se: Rm 12.3/Rm 12.6/Rm 15.15).

3) Os Dons: Deus nos chama e concede-nos dons para servir-Lhe (Rm 12.6; Ef 4.7,11-14).

4) Preservação: Vivemos e nos movemos pela graça (At 14.26; 15.40).

5) Confirmação: Deus nos confirma na Sua Palavra, para que tenhamos um “coração confirmado com
graça” (2Ts 2.16,17; Hb 13.9).

6) Edificação e Santificação: Deus pela Palavra da Sua graça, nos edifica e santifica, concedendo-
nos a Sua herança eterna (At 20.32/Rm 6.14).

3.7. A Graça e a Escatologia:

65
A.W. Pink, Os Atributos de Deus, p. 74.
66
Vd. Hermisten M.P. Costa, Breve Teologia da Evangelização, São Paulo, PES., 1996, p. 22-23; 62-
63.
67
Karl L. Schmidt, Igreja: In: Gerhard Kittel, ed. A Igreja no Novo Testamento, São Paulo, ASTE, 1965,
p. 30.
68
C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo, PES., 1992, p. 45.
69
Vd. Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, São Paulo, Os Puritanos, 2000, p. 156.
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 13

A graça de Deus reina; todavia a sua manifestação mais completa dar-se-á na


consumação da história, quando Cristo vier em glória, decretando definitivamente o triunfo da graça sobre o poder
de Satanás, da morte e do pecado. Cristo será glorificado em nós e, nós seremos glorificados nEle segundo a Sua
graça (2Ts 1.10-12; 1Pe 1.13; 1Co 15.57/2Co 2.14). Aqui então se tornará plenamente efetivo o “louvor da glória
da Sua graça” (Ef 1.6).

4. atitudes para com a graça de deus:

A Bíblia nos diz para que não recebamos em vão a graça de Deus (2Co 6.1); isto significa que não devemos
banalizar a graça, fazendo pouco caso de Cristo e da Sua obra salvadora. A graça de Deus não é estéril (1Co 15.10);
a fé que é um de seus primeiros frutos, se revela em obras da graça, não para alcançar a graça: “Se nossa
70
salvação não se revela em obras não é salvação.” Positivamente, a Igreja é Igreja porque não
recebeu em vão a graça. Vejamos qual deve ser a nossa atitude:

1) Receber o Evangelho da Graça e da Vida: 1Pe 3.7; Tt 2.11/2Co 6.1.

2) Usufruir Dignamente da Graça: Não devemos usar da graça para dar ocasião aos nossos instintos
pecaminosos e heréticos (Rm 6.1,15; Jd 4). A graça de Deus não permite que fiquemos contentes no pecado.
Calvino (1509-1564) comenta: “Quanto mais exceda alguém em graça, mais deve ele
temer a queda; pois a política costumeira de Satanás é empenhar-se, mesmo à luz da
virtude e força com que Deus nos revestiu, por produzir em nós aquela confiança
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carnal que nos induz à negligência.”

3) Usar Nossos Talentos: Os talentos que temos são dons que Deus nos confiou pela graça, a fim de que os
usemos para servir-Lhe e também, ao nosso próximo. A nossa doação revela a nossa sensibilidade à graça de
Deus (Rm 12.6-8; 1Co 15.10; 2Co 8.1-9; 16-19; 9.8,14; Hb 12.28; 1Pe 4.10). “Quando Deus resolve,
por si mesmo, levar avante as coisas, ele nos toma, seres insignificantes que somos,
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como seus auxiliares e nos usa como seus instrumentos.”

4) Permanecer na Graça: Devemos nos firmar, perseverar e prosseguir na graça de Deus (At 13.43; Hb 12.15;
13.9/1Pe 5.12). Tentar viver pela lei, é anular, cair da graça (Gl 2.21; 5.4). A lei nos condena pelos nossos
pecados, a graça nos salva pelos méritos de Cristo. Por isso, devemos viver confiadamente na graça
suficiente e abundante de Cristo (2Co 1.12; 12.9/Ef 1.7; 2.7).

5) Cumprir o Propósito de nossa Eterna Eleição: Deus nos elegeu pela graça a fim de que fossemos santos e
irrepreensíveis (Ef 1.3,4/Gl 1.15/Rm 1.7; 1Co 1.2). Isso nós fazemos, crescendo no conhecimento de Cristo
que é-nos facultado através da graça (2Pe 3.18/Mt 11.27). “Conhecer as ordens de Deus é
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graça.”

6) Humildade: Viver humildemente significa ter consciência da graça de Deus em nós; tudo que somos e temos
vem pela graça (1Co 4.7/1Co 15.10; Ef 2.9). Como acertadamente diz Calvino: “.... sejam quais forem
os dons que possuamos, não devemos ensoberbecer-nos por causa deles, visto que
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eles nos põem sob as mais profundas obrigações para com Deus.” Portanto:
“Qualquer que seja a posição de um homem dentro de uma igreja, e qualquer que seja
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o poder que ostente, ou o prestígio de que usufrui, segue sendo um servo de Cristo.”
Esta doutrina jamais poderia ter sido inventada pelo homem; todavia, a Palavra nos revela o seu teor, por
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isso, podemos dizer humilde e jubilosamente: Amém!

7) Proclamar: O Evangelho da Graça é para ser proclamado por todos aqueles que foram alcançados por Ele
(At 20.24/1Co 9.16; Ef 3.8/2Tm 4.2). “O período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo
70
W. Barclay, El Pensamiento de San Pablo, p. 169.
71
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 17.5), p. 333-334.
72
J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo, Paracletos, 1996, (1Co 3.9), p. 107.
73
Dietrich Bonhoeffer, Orando com os Salmos, Curitiba, PR., Encontrão Editora, 1995, p. 31.
74
João Calvino, Efésios, (Ef 4.7), p. 113.
75
William Barclay, 1 y 2 Corintios, Buenos Aires, La Aurora, 1973, p. 49.
76
J. Gresham Machen, El Hombre, Lima, El Estandarte de la Verdad, 1969, p. 249.
A Graça de Deus: Comum ou Exclusiva? – Rev. Hermisten M.P. Costa – 25/11/2009 – 14

é a era missionária por excelência. Este é o tempo da graça, um tempo em que Deus
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convida e insta com todos os homens para serem salvos.”
8) Culto: Devemos prestar culto a Deus com graça (= gratidão) (2Co 2.14; Cl 3.16). A gratidão é o sentido que
a graça produz em nossos corações, revelando-nos os privilégios outorgados por Deus a nós; a salvação, as
bênçãos cotidianas, a glória futura, etc. O meditar sobre a graça de Deus deve conduzir-nos à adoração (2Co
9.15/2Ts 2.13/Sl 103.2). Por isso, Paulo, após meditar sobre a graça, conclui: “Graças a Deus pelo seu dom
inefável” (2Co 9.15).

São Paulo, 09 de março de 2001.


Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 187.

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