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Resumo
O presente artigo decorre da nossa experiência educativa que teve como objetivo geral
compreender como o currículo da formação inicial dos pedagogos buscou promover o
princípio da interdisciplinaridade. Foram os seguintes interlocutores da experiência:
professores e estudantes que vivenciaram no processo de formação nas práticas
interdisciplinares. A metodologia desta investigação privilegiou a abordagem qualitativa, por
meio e questionários abertos e análise documental. O diálogo entre as referências teóricas
como Apple (2006), Bernstein (1996, 1998), Fazenda (2005, 2008), Goodson (2005),
Sacristán (2000), Santomé (1998) e Silva (2005) com os achados da nossa experiência
educativa pautou-se, em compreender o conceito de interdisciplinaridade, currículo
interdisciplinar e práticas interdisciplinares. Os resultados da experiência apontaram para
alguns aspectos que foram reconhecidos nesta prática como: todos os envolvidos na
experiência concordam sobre a importância da prática interdisciplinar, reconhecem a
fragilidade do processo de construção desta prática, mas salientam o amadurecimento que a
mesma proporcionou a todos e mencionam que por meio desta vivência no processo de
formação tornou-se mais significativo para estudantes e professores. Enfim, consideramos que
este trabalho não está fechado. A nossa expectativa é que as ponderações provoquem novas
reflexões com vistas ao aperfeiçoamento de práticas e vivências interdisciplinares.
Introdução
1
Doutorando do PPG em Educação da Universidade de Brasília – UnB e professor da Universidade do Estado
da Bahia – UNEB - Campus XVII – Bom Jesus da Lapa – Bahia.
1797
O presente texto tem por objetivo discutir, refletir e socializar as nossas experiências e
vivências educativas com base no currículo do curso de pedagogia que busca como uma das
suas diretrizes promover a interdisciplinaridade entre as várias áreas que o compõe.
Inicialmente o texto apresenta uma contextualização da temática e o porquê de assumirmos
uma postura e prática interdisciplinar.
Logo em seguida tecemos algumas reflexões sobre os elos entro o currículo e a prática
interdisciplinar com base nos estudos sobre o currículo integrado ou coleção tendo como
referência alguns autores que trazem suas contribuições neste campo. Prosseguindo,
apresentamos as nossas considerações sobre o fazer interdisciplinar e os seus pressupostos.
Por fim, apresentamos algumas considerações sobre nossa experiência interdisciplinar,
tendo por base os depoimentos dos professores e estudantes envolvidos nesta vivência
colhidos por meio de questionário aberto e também pela análise do projeto do curso de
Pedagogia. Desse modo, a partir das discussões e reflexões aqui tecidas com os autores e
autoras que debatem acerca da interdisciplinaridade, este texto procura trazer contribuições,
comentários e reflexões sobre o fazer interdisciplinar em educação.
Contextualizando a temática
compreendermos qual concepção de currículo que os atores sociais que vivenciarão o trabalho
pedagógico possuem, pois o currículo é uma construção dos atores que o constituem, ele
expressa uma identidade (SILVA, 2005). Buscar construir uma forma de relação dialógica e
dialética entre as várias áreas que compõe o currículo tanto da escola como da universidade
implica a todos nós compreendermos o currículo como um artefato social, uma produção
histórica observando o tempo e espaço no qual o mesmo está inserido (SILVA, 2005).
Torna-se assim inevitável na sociedade atual que se diz ser da aprendizagem uma
concepção e prática de um currículo grade, fragmentado, coleção (BERNSTEIN, 1988, 1996).
É preciso conceber o currículo que cada vez mais ganha destaque no debate educacional como
um campo de lutas, tensões, contradições, pode e outros aspectos (APPLE, 2006), pois as
novas relações tanto de tempo e de espaços de aprendizagens se configuram novas relações
com o saber instituindo um processo híbrido.
Vale salientar que neste trabalho não teceremos maiores considerações sobre a história
do currículo, pois já encontramos autores como Silva, Moreira, e outros que com muita
competência já trazem este percurso. Explicitamos apenas estas questões para percebemos o
quanto a concepção tradicional de currículo manifesta-se ainda por meio das suas relações.
Buscarmos compreender as acepções da palavra currículo, para podermos constatar
quanto o mesmo expressa visões, crenças e interesses, pois este se constitui por meio de um
processo que envolve pessoas e procedimentos. Esse processo, pela sua própria natureza do
desenvolvimento curricular não pode ser negligenciado que é caracterizado tanto pelo
processo interpessoal (vários autores) quanto pelo processo político (tomada de decisões)
(PACHECO, 2005).
Repensar o currículo e a sua expressividade em uma sociedade das aprendizagens
significa, acima de tudo, repensar alguns pressupostos que norteiam a sociedade da
informação, do conhecimento e das aprendizagens. Nesse contexto, impõe-se romper com a
concepção do currículo isolado, descontextualizado, fragmentado que não propicia a
construção e a compressão de nexos que permitam a sua estruturação com base na realidade
(SANTOMÉ, 1998).
Construir ou buscar uma atitude que rompa ou saia dessa perspectiva de currículo
fragmentado, do tipo coleção (BERNSTEIN, 1988) implica não somente um desejo, mas uma
vontade política que vá além do discurso, redimensionando velhos paradigmas ou concepções
eu muitas vezes estão arraigados em nossa formação, acreditando no novo, porque na
construção de uma proposta curricular não podemos negligenciar que “[...] é preciso levar em
consideração que existem diferentes classes de conhecimento e que cada uma delas é reflexo
de determinados propósitos, perspectivas, experiências e valores humanos” (SANTOMÉ,
1988, p.100).
A concepção apresentada e defendida por Santomé (Ibid.) traz no seu âmago
vantagens como: uma intervenção educativa mais aberta, dialógica, que propicia o exercício
do protagonismo, tanto no ato de aprender como no ato de ensinar, uma maior abertura do
canal de comunicação entre os atores sociais que constroem o cenário curricular, maior
possibilidade de trabalho, análise e interpretação dos conteúdos culturais.
Corroborando essa idéia, Bernstein (1988) salienta que o currículo do tipo coleção se
expressa por meio de uma relação fechada, conteúdos claramente delimitados e separados
entre si. Nessa formatação este tipo de currículo implica uma hierarquia, existe uma forma
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poderosa de controle, a relação educativa tende a ser hierarquizada e ritualizada, sendo dessa
forma um currículo rígido, pois “a ordem provém de sua natureza hierárquica e das relações
de autoridade, da ordenação sistemática dos conteúdos separados, de um controle de exame
relativamente objetivo e explícito”. (Ibid., p. 79).
Entretanto, o autor propõe como forma de superação o currículo integrado, que possui
uma relação aberta entre si. Para Bernstein (1988) integração dos conteúdos se relaciona a
uma idéia, os diferentes conteúdos são partes de um todo e cada função dessa parte é explicar
este todo não havendo nenhuma redução da autonomia do conteúdo. Na proposta do
currículo integrado, quando acontece a interação “[...] há uma troca e um equilíbrio na relação
pedagógica” (Ibid., p. 96).
Concebida dessa forma a idéia de integração, a tensão entre o currículo coleção e o
integrado não é simplesmente uma questão do que se ensina. Essa tensão procede de
diferentes formas de poder e controle que permeiam a sociedade. Trata-se também de um
“[...] conflito entre as diferentes concepções de ordem moral e social” (Ibid., p.77).
O autor destaca alguns pontos nessa construção de um currículo integrado que subsidia
o nosso referencial analítico:
a) Deve haver algo de consenso com respeito à idéia integradora em si, para que esta
funcione; b) A idéia deve ser explícita; c) A natureza entre a vinculação e a idéia e
os diversos conteúdos deve ser desenvolvida sistemática e coerentemente; d) Há de
se estabelecer um consenso de alunos e professores para desenvolver um controle
sensível para a tarefa global; e) É de fundamental importância desenvolver um
critério de avaliação muito claro (IBID., p.79).
Assim de acordo com Fazenda (2005) o trabalho interdisciplinar não se ensina, nem se
aprende, ou seja, vivencia-se, constrói-se, pois o que caracteriza um trabalho interdisciplinar é
a busca, a pesquisa e a ousadia em romper os limites das fronteiras estabelecidas entre as
várias áreas de conhecimento, entretanto, respeitado cada área onde na construção
interdisciplinar estes campos de conhecimentos não se anulam, nem somem, contudo
estabelecem um diálogo dialético respeitado a especificidade do estatuto epistemológico de
cada área do saber.
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Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus XVII localizado na cidade de Bom Jesus da Lapa – Bahia.
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Os nomes mencionados no texto tanto dos professores quanto dos estudantes são nomes fictícios para que a verdadeira
identidade dos mesmos fosse preservada.
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docência e gestão em espaços formais; no sétimo docência e gestão em espaços não formais e
no oitavo gestão educacional. A partir destas temáticas os professores que faziam parte do
semestre e de acordo com o componente curricular que ministrava iriam propor atividades
dentro da temática já estabelecida no documento.
De acordo com Fazenda (2005) o projeto interdisciplinar nasce espontaneamente, no
suceder diário e não imposto a partir de uma proposição ou prescrição do currículo, pois o
fazer interdisciplinar parte de uma construção coletiva em prol de um novo conhecimento
despojado dos conceitos pré-concebidos e arraigados no consciente.
É importante salientar que durante a nossa experiência interdisciplinar percebemos
momentos em que houve uma verdadeira integração entre professores e estudantes, onde cada
um exercia o seu papel de ator social vivenciando uma situação e ação educativa mais
produtiva, criativa e crítica. Entretanto tivemos situações onde os próprios professores não se
envolviam na atividade. Neste sentido compreendemos,
Outro aspecto essencial na nossa análise nesta vivência diz respeito à formatação do
currículo do curso. Saímos de uma lógica curricular onde as disciplinas estavam organizadas
de forma linear, hierárquicas e com pré-requisitos, cada uma na sua gaveta ou caixinha e
fomos para uma lógica onde as mesmas aparecem com uma nova formatação sendo agrupadas
em círculos pressupondo uma relação entre aquelas que compõem o semestre e sendo agora
denominadas de componentes curriculares.
Entendemos que mudar somente a forma ou a nomenclatura não produz avanços
significativos. Claro que as denominações carregam uma carga semântica forte, contudo
construir uma prática interdisciplinar não será pela obrigação de trabalharmos desta forma ou
simplesmente mudar o desenho como as disciplinas se apresentam, pois uma atitude
interdisciplinar é uma,
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Atitude diante das alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante
os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao
diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo –
atitude de humildade diante da limitação do proporia saber, atitude de perplexidade
ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio
perante o novo desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento e
comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois
de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de
responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, enfim de
vida (FAZENDA, 2008, p.82).
Com relação às falas dos estudantes no que diz respeito aos entraves destacamos:
A falta de qualidade nos cursos de formação de professores que não tiveram esta
experiência interdisciplinar e agora tem que cumprir com o que o currículo
diz. Falta de oportunidade para pensarem coletivamente a educação e a proposta
interdisciplinar, pois muitos docentes não se encontram para planejarem por estar
um docente no início da semana e outro no final de semana. (Maria, estudante).
Assim, também buscamos dos interlocutores envolvidos a sua visão sobre quais as
possibilidades que tanto os professores como os estudantes veem para o trabalho
interdisciplinar. Por meio dos docentes foi citado buscar um maior envolvimento de todos os
envolvidos, implementar mais a pesquisa na vivência acadêmica, maior atividade de
planejamento e encontros pedagógicos, grupos de estudos ou reuniões pedagógicas para
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Reflexões finais
REFERÊNCIAS
1807
BERNSTEIN, Basil. Clases, códigos y control – hacia uma teoria de lãs transmisiones
educativas. Trad. Rafael Feito Alonso. Madrid-Espanha: AKAL, 1988.
GOODSON, Ivo F. Currículo: teoria e história. Trad. Attílio Brunetta. 7.ed. Petrópolis,RJ:
Vozes, 2005.
SACRISTÁN, J. Gimeno. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. 3.ed. Trad. Ernani F. da
Fonseca Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2000.