Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
1
mais ultrapassado, adquirindo, assim, um domínio de aplicação
cada vez mais amplo do que os das próprias fontes jurídicas
nacionais.
1
A data da fundação da Universidade portuguesa pelo rei D. Dinis, na cidade de Lisboa, foi durante
muito tempo considerada incerta, podendo apenas apontar-se como “termo a quo” o dia 12 de Novembro
de 1288 e como “termo ad quem” o dia 9 de Agosto de 1290: o primeiro, por ser a data da expedição da
carta em que vários prelados de ordens religiosas e de igrejas seculares comunicavam ao Papa Nicolau
IV terem acordado com D. Dinis em que as rendas das varias igrejas que lhes estavam confiadas e de que
o rei era padroeiro fossem aplicadas aah fundação dum Estudo Geral na cidade de Lisboa, solicitando do
pontífice a necessária aprovação e confirmação; e a segunda, por ser a data da bula De statu regni
Portugaliae, do mesmo papa, dirigida “aah Universidade dos mestres e escolares de Lisboa”, - que
pressupõe, portanto, já juridicamente instituída e entrada em funcionamento - . a aprovar a sua fundação e
a outorgar-lhe diversos privilégios.
Nela, o papa, alem de confirmar a fundação do Estudo e de aprovar a sua dotação com as rendas
eclesiásticas que lhe haviam sido afectadas, outorga aos mestres e estudantes privilégios e determina que
nela possam os escolares obter o grau de licenciados em Artes, em Direito Canónico e Civil e em
Medicina.
2
Pode afirmar-se que, durante todo o século XIII, a justiça comarcah, em Portugal, continuou a ser
exercida, fundamentalmente, pelos juízes municipais, de eleição popular (os alcaldes, juízes ou alvazis, de
que falam os forais
2
Foram estas razoes, fundamentalmente, que nos primórdios do
Reino de Portugal se recorrem como direito subsidiário, a “textos de
segunda mão”, como lhes chama o Professor Braga da Cruz, -
antes de aparecerem traduções para português do Código de
Justiniano ou das Decretais de Gregório IX.
3
gerais do Reino, ao tempo promulgadas, tal como cita o Professor
Doutor Paulo Mereha.
4
(1383 a 1433) – em data incerta, mas, de qualquer modo, antes de
1426 – foi feita por ordem do próprio monarca uma tradução
portuguesa do Código de Justiniano, bem como da respectiva Glosa
de Acursio e dos respectivos Comentários de Bartolo, tendo o
monarca mandado que esses textos fossem acatados nos tribunais
como direito subsidiário.
5
pelas glosas de Acursio e pelas conclusões de Bartolo. Agora, a fim
de evitar as dúvidas resultantes da tradução e sempre no sentido de
tornar unívoca a jurisprudência entendia fazer acompanhar em
princípio, isto é, exceptuados os casos mais claros, cada preceito (a
lei, a glosa, o comentário bartoliano) de um esclarecimento ou
decretação. Pelo disposto no texto traduzido e segundo o sentido
que lhe houvesse sido fixado em esclarecimento, nas hipóteses em
que tal se verificasse, deveriam futuramente ser decididos os feitos.
6
Nele distingue-se o dito de Bartolo da declaração ou determinação
e antepõe-se, manifestamente, o direito romano e o direito pátrio. A
posição de Acursio é secundária em relação a Bartolo.
ORDENAÇOES AFONSINAS
juiz e procurador dos feitos de el-rei; a outra, pelo corregedor da corte, pelos ouvidores e por alguma
pessoa autorizada que o monarca lhes agregasse. Todavia, nos casos graves ou difíceis, podia o regedor
reunir alguns ou mesmo todos os vogais das duas secções.
Se se verificasse empate de votos numa secção, juntavam-se ambas para decidir. E se aquele subsistisse,
prevalecia o voto a que se acostasse o regedor, exceptuados, no entanto, os casos cuja última resolução
dependia da intervenção do monarca. Os desembargadores, na primeira mesa, alem dos negócios de
justiça, tinham a seu cargo os de graça, ou mercê, como perdão e comutação de penas e, com algumas
excepções, a resolução das petições dirigidas ao soberano; na segunda, cumpria aos ouvidores, entre
outros negócios de justiça, conhecerem de todas as apelações cíveis e crimes para cujo julgamento a Casa
do Cível não tinha competência específica. Esta a regra geral. Acentue-se, no entanto, que dependia da
vontade do monarca determinar as excepções. E, assim, por vezes cometia o rei aos ouvidores da corte o
julgamento de causas cuja jurisdição pertencia aah Casa do Cível. Com base na demora que se verificava
no despacho dos feitos, propuseram os povos, nas Cortes de Coimbra de 1472, que se elevasse para três o
numero de mesas, o que, de facto, algumas vezes se verificou, inclusive no próprio reinado de D. Afonso
V (1438-81). As Ordenações Manuelinas, reestruturando os tribunais superiores, determinaram que, no
caso do rei ou a Casa da Suplicação se encontrarem em lugar diferente do da Casa do Cível,
desembargaria aquela as apelações do lugar (e de cinco léguas em redor) e que, igualmente, a ela
subiriam
Os agravos das demandas cujo valor excedesse 8 marcos de prata. Filipe I de Portugal que extinguiu a
Casa do Cível de Lisboa e criou outra no Porto, com o nome de Casa da Relação, em 27 de Julho de
1582, deu novo regimento aah casa da Suplicação, estatuindo a sua fixação em Lisboa, mesmo que a
Corte se deslocasse. E a ela subiriam todas as apelações e agravos dos corregedores do crime e juízes da
cidade (ou de quaisquer outros), tal como anteriormente subiam aah Casa do Cível.
7
dos seus cultores, como em ordenar o valor das opiniões de Acursio
e Bartolo.
8
do Reino, ainda que, porventura, seja diversa a solução perfilhada a
esse respeito pelo direito romano, ai designado simplesmente pela
expressão leis imperiais.
9
isso uma curiosa justificação complementar, qual seja a da
obediência que em tal caso é devida «ao Padre Santo, e à santa
Igreja, do que os Cânones procedem».
10
carácter de direito comum, dentro do âmbito subsidiário, sendo
preterido pelo canónico em matérias espirituais e nas temporais de
pecado, apenas. Na falta de lei romana não seria de aplicar o
cânone, mesmo que este contemplasse a questão, passando-se
imediatamente à Glosa de Acursio e à Baroli opinio”.
11
direito subsidiário quando em conformidade como canónico e para
alem deste, bem como no caso de matéria temporal que não fosse
pecado. Só uma vez esgotadas todas estas possibilidades se
recorreria a Acursio e, depois, a Bartolo.
12
ORDENAÇOES MANUELINAS
6
Todos os autores que desde o século XVIII se interessaram pelos problemas da nossa história jurídica
mostram ter pleno conhecimento da existência duma edição das Ordenações Manuelinas com data de
1514 (saída da oficina de João Pedro Bonhomini); e há entre eles quem, como Joze Anastasio de
Figueiredo, revele perfeita consciência de que as Ordenações de 1521 não são simplesmente uma nova
edição daquela obra – ainda que correcta e aumentada -, mas uma nova versão, em muitos pontos
substancialmente diversa da anterior.
Objecto de controvérsia era apenas o problema de saber se as Ordenações de 1514 seriam a primeira
impressão da reforma cometida por D. Manuel em 1505 a Rui Boto, Rui da Grã e João Cotrim, ou se o
trabalho já teria sido impresso antes dessa data. Era crença generalizada que sim, porque todos os cinco
livros da edição de 1514 contem no «incipit» a indicação de «nouamete corregido na seguda epressam»;
mas alguns autores mostravam-se um pouco cépticos, pelo facto de não ser então conhecida qualquer
outra referência concreta coeva a uma tal impressão e também não ser conhecido, ao tempo, nenhum
exemplar dela.
13
foram esses trabalhos de revisão que deram lugar a um texto
bastante mais refundido, finalmente impresso e divulgado em 1521
como lei geral do pais, ao mesmo tempo que se mandavam destruir
todos os exemplares da «impresam velha» - razão da sua extrema
raridade nos nossos dias -, cominando-se uma severa pena de
multa e de degredo contra quem ousasse desrespeitar a ordem
regia, conservando em seu poder algum exemplar dessas primeiras
Ordenações. Ora o titulo referente ao direito subsidiário é
justamente um dos exemplos mais flagrantes destes dois escalões
da reforma manuelina, pois tem uma redacção muito diversa na
versão primitiva e na versão definitiva das Ordenações de D.
Manuel I.
Quando o caso não puder ser resolvido pelo direito romano nem
pelo direito canónico, remetem as Ordenações de 1521, por ordem
de precedências, como as Ordenações anteriores, para a Magna
Glosa de Acursio e para a opinião de Bartolo, reproduzindo, porem,
a propósito duma e doutra destas fontes subsidiarias, a restrição já
introduzida pela versão primitiva das Ordenações Manuelinas, ou
seja, a exigência de não serem contrariadas pela opinião comum
dos doutores.
14
Por ultimo, remete o texto manuelino de 1521, como o texto das
Ordenações anteriores, para o arbítrio do monarca, quer na
hipótese de o problema não ter solução através de nenhuma das
fontes ate ai enumeradas, quer nos caso especial de o caso não
envolver pecado e ser tratado somente, mas de maneira diversa,
por os textos dos Cânones e por as Glosas, e Doutores das Les.
ORDENAÇOES FILIPINAS
15
formal, entre os títulos referentes às relações do Estado com a
Igreja. Só agora com a reforma filipina, o legislador tomou
consciência da necessidade de cortar esse “cordão umbilical”.
16
«coactivo», mas apenas «subsidiário» e que as leis pátrias não
eram «correctivas», nem tão pouco «odiosas».
17
A generalidade dos autores, porem, não toca neste problema,
mesmo quando cita rotineiramente aqueles tópico sobre o primado
da razão natural – quase só no sentido de que o bom senso tem
primazia sobre a própria lei -, admitindo assim, implicitamente, a
aplicação dos preceitos do direito romano, a titulo subsidiário, sem
quaisquer reservas.
18
e do usus modernus pandectarum e com a sua consagração pela
Lei de 18 de Agosto de 1769, que ficou conhecida na historia do
nosso direito por Lei da Boa Razão, em virtude do repetido uso que
dessa expressão se faz no respectivo texto.
19
profundas observada nesta Lei é o afastamento da aplicação da
Glosa de Acursio e das Opiniões de Bartolo bem como da aplicação
do direito canónico nos tribunais civis.
20
vinculativo; e outra a arvorar em supremo critério de integração das
lacunas do direito nacional aquela boa razão que o texto das
Ordenações já tinha determinado “que fosse na praxe de julgar
subsidiária”.
21