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Português 12º Ano

Motivos poéticos - Temas

- Nostalgia do “eu”, de um bem


perdido (tema da perda);
- Sentimento da saudade;
- Tédio, náusea, resignação;
- Abdicação, desistência;
- Angústia, abulia, fraqueza da
vontade;
- Dificuldade em distinguir sonho e
realidade;
- Lucidez e dor de ser lúcido; dor de
pensar;
- Intelectualização das emoções:
oposição sentir/pensar;
- Estados de alma negativos: solidão,
cepticismo, tédio, angústia, cansaço,
desespero, frustração;
- Momentos inefáveis: infância, música, sonho;
- Auto-análise.

CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM E DO ESTILO

- Grande sentido da musicalidade: eufonia, aliterações, transportes ou


encadeamento de versos, ritmo, rimas, tom nasal (que conotam o
prolongamento da dor e do sofrimento);
- Versificação regular e tradicional, com verso geralmente curto (2 a 7
sílabas métricas);
- Predomínio da quadra e da quintilha (utilização de elementos formais
tradicionais);
- Adjectivação expressiva;
- Utilização expressiva de modos e tempos verbais;
- Uso frequente do presente do indicativo;
- Vocabulário simples, mas muito expressivo;
- Pontuação emotiva (frases exclamativas, interrogativas, suspensivas);
- Associações inesperadas – por vezes, desvios sintácticos (anástrofe);
- Utilização frequente de frases nominais;
- Comparações, metáforas, oximoros;
- Uso de símbolos (por vezes, tradicionais, como o rio, a água, o mar, a
brisa, a fonte, as rosas, o azul; ou modernos, como o andaime ou o cais);
- Fiel à tradição poética e não longe, muitas vezes, da quadra popular;

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OS TEMAS DE PESSOA ORTÓNIMO

1. O fingimento artístico

Escrever um poema é reelaborar a emoção sentida em emoção


intelectualizada e depois escrita. O fingimento poético é inerente a toda a
composição poética do Ortónimo e surge como uma nova concepção de arte.
O Ortónimo conclui que o poeta é um fingidor: “ finge tão completamente /
que chega a pensar se é dor/ a dor que deveras sente/”, bem como um
racionalizador de sentimentos. A expressão dos sentimentos e sensações
intelectualizadas são fruto de uma construção mental, a imaginação impera
nesta fase de fingimento poético. A composição poética resulta de um jogo
lúdico entre palavras que tentam fugir ao sentimentalismo e racionalização. “e
assim nas calhas de roda/ gira a entreter a razão / esse comboio de corda/ que é
o coração”. O pensamento e a sensibilidade são conceitos fundamentais na
ortonímia, o poeta brinca intelectualmente com as emoções, levando-as ao nível
da arte poética. O poema resulta, então, de algo intelectualizado e pensado.

2. A dor de pensar
Um poeta subjectivo, centrado sobre o “eu” (egotismo); sofrendo a
dor de pensar, a distância entre o sonho e a realidade, a incapacidade de
fruir – vivendo sobretudo pela inteligência e pela imaginação.

3.A fragmentação do eu

O poeta é múltiplo: dentro dele encerram-se vários “eus” e ele não


se consegue encontrar nem definir em nenhum deles, é incapaz de se
reconhecer a si próprio – é um observador de si próprio.
Através da fragmentação do “eu”, Pessoa procura a totalidade que
lhe permita conciliar o pensar e o sentir.
“O acto poético por excelência, diz Pessoa, resulta de um processo
de despersonalização de emoções e sentimentos, não necessariamente
coincidentes com os do artista, implicando, no mais alto grau, o
desdobramento do autor em várias personalidades poéticas.”

4.A nostalgia de um bem perdido/ a infância

Saudade de um tempo perdido em que era feliz (nostalgia de um bem


perdido – a infância). A nostalgia de um estado inocente em que o “eu” ainda não
se tinha desdobrado em “eu” reflexivo está representada no símbolo da infância. A

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infância é a inconsciência, o sonho, a felicidade longínqua, uma idade perdida e


remota que possivelmente nunca existiu a não ser como reminiscência.

Características dos Heterónimos

Alberto Caeiro Ricardo Reis Álvaro de Campos

TEMAS: TEMAS: TEMAS:


- Integração e comunhão com - Neoclassicismo formal e - As duas fases de Campos:
a Natureza; ideológico; • Futurista e
- Predomínio das sensações, - Paganismo; Sensacionalista (gosto
sobretudo visuais; - Equilíbrio interior pela busca pela vida, pela cidade,
- Recusa do pensamento de um prazer relativo; pela civilização;
abstracto. - Epicurismo e estoicismo; triunfalismo futurista,
- Tema da efemeridade da sensacionismo);
vida e do tempo;
- Aceitação calma e serena • Intimista, abúlica
da ordem das coisas; (cansaço, dor de ser
- Busca da ataraxia, do não lúcido, pessimismo,
sofrimento; nostalgia da infância
- Intelectualização das perdida, um ser
emoções. dividido entre o sonho
e a realidade);

LINGUAGEM E ESTILO LINGUAGEM E ESTILO LINGUAGEM E ESTILO

- Ausência de grandes - Linguagem erudita, - “Excesso de expressão”:


preocupações estilísticas; alatinada (no vocabulário e exclamações, interjeições,
- Predomínio da comparação; na sintaxe); pontuação emotiva;
- Simetrias, paralelismos de - Uso do gerúndio; - Mistura de registos de
construção; - Uso frequente do língua; uso de
- Assíndetos; imperativo. estrangeirismos, neologismos;
- Predomínio do presente do - Onomatopeias.
indicativo (modo real);
- Vocabulário e imagística do
campo semântico da
Natureza;
- Linguagem simples,
familiar, tautologias;
- Frases simples ou
coordenadas.

Características Características Características FORMAIS

- Versos longos e irregulares,

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FORMAIS FORMAIS com transporte;


- Versos livres;
- Verso livre; - Uso da ode;
- Rimas internas;
- Métrica irregular. - Rimas interiores;
- Irregularidade métrica. assonâncias…

ALBERTO CAEIRO

Sou mesmo o primeiro poeta que se lembrou de que a Natureza existe. Os outros
poetas têm cantado a Natureza subordinando-a a eles, como se fossem Deus; eu
canto a Natureza subordinando-me a ela, visto que ela me inclui, que eu nasço dela.
(…)
Alberto
Caeiro

Alberto Caeiro (visto pelos outros heterónimos)

(…)
A vida de Caeiro não pode narrar-se pois não há nela de que narrar. Seus poemas
são o que viveu. (...)
A obra de Caeiro representa a reconstrução integral do paganismo, na sua
essência absoluta (...). A obra, porém, e o seu paganismo, não foram nem pensados
nem até sentidos: foram vividos com o que quer que seja que é em nós mais
profundo que o sentimento ou a razão. (...)
Ricardo Reis

(...) Ignorante da vida e quasi ignorante das letras, quasi sem convívio nem
cultura, fez Caeiro a sua obra por um progresso imperceptível e profundo (...). Foi um
progresso de sensações, ou, de maneiras de as ter, e uma evolução íntima de
pensamentos derivados de tais sensações progressivas. Por uma intuição sobre-
humana, como aquelas que fundam religiões para sempre, porém a que não assenta
o título de religiosa, por isso que, como o sol e a chuva, repugna toda a religião e
toda a metafísica, este homem descobriu o mundo sem pensar nele, e criou um
conceito de universo que não contém meras interpretações. (...)
Ricardo Reis

ALBERTO CAEIRO – O "MESTRE"


Síntese das principais características da sua poesia
A. Linhas temáticas

 Defesa da objectividade – visão do real centrada no fenómeno –


nada existe para além daquilo que, de facto, é perceptível para o ser

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humano, para além daquilo que captamos através dos órgãos dos
sentidos. Recusa do pensamento abstracto (com filosofia não há
árvores, há ideias apenas).
 Predomínio da sensação sobre o pensamento (o homem deve
renunciar ao pensamento, pois este implica que se deturpe o
significado das coisas que existem). A única verdade é a sensação;
defesa do sensacionismo – vê o mundo, não porque o compreende,
mas porque o vê e ouve; conhece-o através das sensações.
Interpreta o mundo a partir dos sentidos e das sensações. Capta
apenas o que as sensações lhe oferecem na realidade imediata.
Pensa vendo e ouvindo, porque ver é conhecer e compreender.

 Comunhão total entre o Homem e a Natureza – o ser humano


deve submeter-se às leis naturais e não deve racionalizar processos
que existem naturalmente (por exemplo, as ideias de vida ou de morte,
que existem enquanto verdades absolutas).
 Neopaganismo – da ideia de comunhão absoluta com a Natureza
resulta uma visão pagã da existência, que consiste na descrença total
na transcendência; a única verdade é a sensação.
 Ruptura com os cânones estéticos tradicionais (temáticos e
formais).
 Revolução de valores – a moralidade - a realidade não é vista à luz
das ideias de moral ou imoral.
 “Desculturalização” – pensar nas coisas é não as compreender.
 Estoicismo – aceitação passiva de tudo- a vida humana deve ser
encarado como a vida dos outros seres que existem no universo; a
aceitação da realidade das coisas conduzirá à tranquilidade.
 Poeta da Natureza, ama-a e procura viver de acordo com ela,
com a sua simplicidade e paz.

B. Características estilísticas

 Linguagem simples; familiar, recurso a tautologias (ex. a flor é apenas


uma flor); uso de frases simples ou coordenadas; presença de marcas
de oralidade.
 Léxico objectivo (termos que remetem directamente para o objecto);
 Vocabulário e imagística do campo semântico da natureza;
 Adjectivação quase ausente;
 Quase ausência de metáforas, metonímias ou sinestesias (a nível de
figuras de estilo, predomínio da comparação).

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 Paralelismos de construção e simetrias;


 Assíndetos;
 Predominância das formas verbais no presente do indicativo (modo do
real).

C. Sonoridades
 Ritmo lento (remetendo para a calma aceitação das coisas);
 Alternância entre sons nasais e vogais abertas e semiabertas;
 Ausência de rima; métrica irregular; utiliza o verso livre.

Alberto Caeiro representa a antítese de F. Pessoa ortónimo, o remédio


para a sua ansiedade e angústia. Para este heterónimo, a única via para
atingir a felicidade é não pensar. Caeiro propõe uma “Desculturalização”,
na medida em que nega a visão da realidade, sujeita à análise do
pensamento, defendendo que existir é, afinal, estar de acordo com as leis
naturais.

RICARDO REIS

Características da sua poesia

“Nasceu no Porto, em 19 de Setembro de 1887.


Educado num colégio jesuíta (latinista por educação alheia e semi-helenista por educação
própria), formou-se em Medicina. Por ser monárquico, partiu para o Brasil, em 1919. Era
moreno, mais baixo e mais forte que Caeiro.”

Ao dar conta da tendência para criar em seu torno, desde criança, um mundo
fictício, Pessoa afirma: “(...) Aí por 1912, salvo erro (...); veio-me à ideia escrever
uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (...) e
abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um
vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu
soubesse, Ricardo Reis)”.
Contudo, é só depois de ter tido necessidade de arranjar discípulos para
Caeiro que vai arrancar Ricardo Reis “do seu falso paganismo”.
Com este heterónimo Pessoa projecta-se na Antiguidade Clássica. E em
termos de semelhanças com o Mestre, estas são visíveis apenas na preferência
pelo mundo exterior, muito embora este não seja por ele comentado e lhe sirva
unicamente de contemplação.
Mas Reis, tal como Caeiro, aconselha a aceitar a ordem das coisas e gozar a
vida pensando o menos possível, um pouco ao jeito das crianças [“Depois
pensemos, crianças adultas, que a vida/Passa e não fica (...)”]. As afinidades

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entre Caeiro e Reis restringem-se aos aspectos apontados, porque, na realidade,


é notória a vivacidade e a ingenuidade, o prazer e a alegria, a naturalidade e
espontaneidade do Mestre Caeiro, enquanto no discípulo Reis tudo é calculado,
ponderado, reflectido e bem perceptível num tom triste que transparece na sua
poesia e que é, certamente, resultante de uma atitude racional, que o leva a
procurar um prazer relativo que, ilusoriamente, o leva a sentir-se livre por poder
conter-se, mas que não lhe permite afastar a tristeza experimentada por saber
que as suas emoções não são tão autênticas como as daquele (Caeiro) em que
estas são espontâneas.
Infere-se, então, que o paganismo de Reis não é instintivo como o de Caeiro.
O de Reis assenta numa ideologia classicista que lhe permite elevar--se acima do
cristianismo e assumir perante ele uma atitude de desprezo.
Reis revela-se detentor de uma dignidade sóbria, de uma perfeita clareza de
ideias, e de uma concepção de vida simples. Prefere o silêncio nostálgico para
enfrentar a sorte a que os deuses o votaram.
Esta é a atitude que adopta para evitar a dor, para procurar a calma,
autodisciplinar-se, nem que para isso tenha de abdicar dos prazeres da vida, tal
como preconizava o Estoicismo. Reis revela um comportamento reflectido e
ponderado, resultante da adopção do Epicurismo, que defendia que o sofrimento
só pode ser evitado quando não há entrega às grandes paixões ou aos instintos
profundos. O prazer, para ser estável e duradoiro, não pode resultar de
sentimentos fortes, deve ser ponderado e doseado pela razão. Por isso, e para se
evitarem as preocupações, deve viver-se o momento presente (carpe diem) e
acreditar no poder da razão, remetendo a emoção para a indiferença, “sem
amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz”, deixando fluir o tempo,
simbolizado nas águas do rio, ou amando as rosas, que com ele se identificam
pela fragilidade e transitoriedade a que estão sujeitas (“Nascem nascido já o sol,
e acabam/Antes que Apolo deixe/O curso visível”).
Ricardo Reis procura ataraxia, que patenteia em vários poemas, por
exemplo em “Prefiro rosas, meu amor à pátria”, onde emite o desejo de que a
vida não o canse [“Logo que a vida não me canse (...)”] ou no seguinte:
“Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe,
E cala. O mais é nada.”

Os versos apresentados reflectem bem a tristeza que parece acompanhar


este heterónimo pessoano e ilustram a seriedade de um homem que se situa
“entre o pensamento de Caeiro e a abulia presente num certo Fernando
Pessoa (e no Campos)”.

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Ricardo Reis é o poeta clássico, por isso cultiva a ode e recorre


frequentemente à mitologia e aos latinismos. Preconiza o regresso à Grécia
Antiga por considerá-la um modelo de perfeição. Acredita na liberdade concedida
pelos deuses [“Só esta liberdade nos concedem/Os deuses (...)”] e propõe que os
imitemos [“Nós imitando os deuses, (...)/Ergamos a nossa vida/E os deuses
saberão agradecer-nos/O sermos tão como eles”].
A poesia de Reis é de cariz moralista. Nela revela-se um estilo sentencioso,
cheio de conselhos morais e um apelo constante à indiferença, factores que lhe
conferem um intenso dramatismo e fatalismo, sendo este traçado pelo destino
que atribui ao homem uma vida efémera.
As linhas ideológicas presentes na poesia de Reis reflectem um homem que
sofre e vive o drama da transitoriedade da vida, facto que lhe provoca
sofrimento por imaginar antecipadamente a morte. Ressalta, também, o amor à
vida rústica e à natureza, a procura da perfeição, a intelectualização das
emoções, facetas reveladoras de um homem lúcido e cauteloso, que procura
construir uma felicidade relativa, um misto de resignação e gozo moderado, de
forma a não comprometer a sua liberdade interior, que só existe quando há
ilusão. Propõe a fruição das coisas sem demasiado esforço ou risco e a aceitação
de tudo, uma vez que considera o Destino mais importante que a força humana.
Aceita a condição de ser humano, transformando-se num moralista que
aconselha a evitar as grandes paixões.
Poeta da razão e defensor de um Epicurismo temperado de Estoicismo,
acaba por se aproximar de Campos da fase da abulia e do tédio e do Ortónimo,
pelo tom melancólico que se liberta da sua poesia.

Síntese das características da sua poesia

➢ De formação clássica, “pagão por carácter”, segue Caeiro no amor da vida


rústica, junto da Natureza. Mas, enquanto o Mestre, menos culto e menos
complicado, pretendendo ser um homem franco e alegre, Reis é um ressentido,
que sofre e vive o drama da transitoriedade, doendo-lhe o desprezo dos deuses.
Afligem-no a imagem antecipada da morte e a dureza do Fado. Daí buscar refúgio
no Epicurismo temperado de algum Estoicismo, tal como em Horácio, seu modelo
literário.

➢ A filosofia de Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do


momento, o “carpe diem”, como caminho para a felicidade, mas sem ceder aos

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impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que
pretende alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e
tranquilidade, ou seja, a ataraxia (a tranquilidade se qualquer perturbação). Sente
que tem de viver em conformidade com as leis do Destino, indiferente à dor e ao
desprazer, numa verdadeira ilusão de felicidade, conseguido pelo esforço lúcido e
disciplinado.

➢ Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do
epicurismo e uma filosofia estóica:

 “carpe diem” (aproveita o dia); aproveita a vida em cada dia, como caminho
para a felicidade;
 Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
 Não ceder aos impulsos dos instintos (Estoicismo);
 Procurar a calma ou, pelo menos, a sua ilusão;
 Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade
(sobre esta apenas pesa o Fado).

➢ Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um


Neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase-divinas que
habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a
brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa
e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante do poder dos
deuses e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é
viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.

Temáticas:

➢ Epicurismo e Estoicismo

 Filosofia de vida: epicurismo, com a defesa do prazer do momento.


 Carpe diem, como caminho da felicidade.
 Estoicismo para não ceder aos impulsos dos instintos.
 Buscar a felicidade com tranquilidade ou a sua ilusão.
 Seguir o ideal da apatia (abulia) que permite a ausência da paixão e,
consequentemente, a liberdade.
 Não podemos opor-nos ao destino, mas antes aceitá-lo com naturalidade,
como a água segue o curso do rio, sem lhe resistir. Cada um deve apenas

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buscar a calma e a tranquilidade, abstendo-se de todo o esforço e actividade


inúteis. Consciência de um Destino superior ao homem, que o leva a ser
encarado como alguém manipulado pelos deuses.
 Deve aceitar-se o destino como um fatalismo, sendo, talvez a dor inevitável,
mas apesar disso, nada é duradouro e devemos viver a vida com lucidez.

➢ Indiferença céptica e contemplativa

 Busca da ataraxia (a tranquilidade sem qualquer perturbação).


 Viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao
desprazer.
 Ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico disciplinado.
 Apatia perante a fugacidade da vida e aquilo que perturba.
 Caeiro propunha saber ver, a obra de Reis sugere-nos saber contemplar, ou
seja, ver intelectualmente a realidade.
 É preciso saber apreciar, muito consciente e tranquilamente, o prazer das
coisas, sem qualquer esforço preocupação. É preciso viver a vida em
conformidade com as leis do destino.

➢ Classicismo
 Poeta clássico, da serenidade.
 Precisão verbal e recurso à mitologia.
 Faz dos gregos um modelo de sabedoria, pois souberam aceitar o destino e
fruir o bem da vida.
 Apesar deste diálogo com a Antiguidade, há uma angústia ou tristeza
marcadamente modernas, que se reflectem em Pessoa ortónimo e em
Campos.
 Privilegia a ode, o epigrama e a elegia.
➢ Neopaganismo

 Crença no paganismo, nos deuses da Antiguidade Clássica, nas presenças


quase-divinas que habitam as coisas.
 Fé pagã, diferente da cristã.
 Busca da calma.
 A superioridade do paganismo e o desprezo pelo cristianismo.

Características estilísticas

 Submissão da expressão ao conteúdo, às ideias.


 Complexidade da sintaxe latina (influência de Horácio):
− anteposição do complemento directo ao verbo;

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− inesperada ordem das palavras que obriga a uma leitura silabada.


 Uso de latinismos.
 Frequência da inversão (anástrofe e hipérbato) e da elipse.
 Perífrases que remetem para um contexto religioso e mitológico grego/latino.
 Estilo denso e rigorosamente elaborado.
 Preferência pela ode (influência de Horácio), com estrofes regulares em verso
decassílabo, alternado ou não com o hexassílabo.
 Uso frequente do gerúndio.
 Utilização de um tom coloquial.
 Selecção cuidada de fonemas ou vocábulos sugestivos das ideias que
pretende exprimir (a elevação, a nobreza, o classicismo da linguagem
poética).
 Verso branco ou solto, recorrendo embora, com frequência, à assonância, à
aliteração e à rima interior.

Álvaro de Campos

Perfil Poético

Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O
próprio Pessoa considera que Campos se encontra “no extremo oposto, inteiramente
oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser, como este, um discípulo de Caeiro.
Em oposição a Reis, surge “impetuosamente” um novo indivíduo “branco e moreno,
tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado,
monóculo”, de nome Álvaro de Campos. Teve “uma educação vulgar de liceu, depois foi
mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica, depois naval”.

Álvaro de Campos é o mais fecundo e versátil heterónimo de Fernando Pessoa, e


também o mais nervoso e emotivo, por vezes até à histeria.
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O drama de Álvaro de Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o


amor do mundo e da humanidade. É uma espécie de frustração total feita de
incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo
interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma
demissão da personalidade íntegra (inteira).

A obra de Álvaro de Campos, onde está presente a nostalgia do “céu azul! – o


mesmo da minha infância, -/Eterna verdade vazia e perfeita!”, passa por três fases
(faces): a decadentista – que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas
sensações (“Opiário”); a futurista ou sensacionista – que se caracteriza pela
exaltação da energia até ao paroxismo, de “todas as dinâmicas”, da velocidade e da
força (“Ode Triunfal”); a intimista – que, perante a incapacidade das realizações, traz
de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço,/íssimo, íssimo,
íssimo, /Cansaço...”:

➢ 1ª Fase (face): decadentista


Esta fase poética traduz-se por sentimentos de tédio, enfado, náusea,
cansaço, abatimento e necessidade de novas sensações. Tal é o reflexo da falta de
um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. Esta fuga era feita
habitualmente à base de estupefacientes, como o ópio. Os estupefacientes surgem
aqui como escape à monotonia e a um certo horror à vida. São um estimulante que,
afinal, nada resolvem, como ele próprio reconhece: “A vida sabe-me a tabaco louro./
Nunca fiz mais do que fumar a vida.”. Um dos poemas mais exemplificativos desta
fase é o “Opiário”, motivado por uma viagem de Campos ao oriente, escrito em 1915
para o primeiro número da revista Orpheu, todavia, datado de Março de 1914 para
documentar, mistificando, uma primeira fase de Campos.
Esta fase revela um rebuscamento, um preciosismo, o símbolo e a imagem, e
apresenta-se marcada pelo romantismo e pelo simbolismo.

➢ 2ª Fase (face): futurista e sensacionista (vanguarda e sensacionismo)


(exaltação da força, da violência, do excesso/intensidade e velocidade futuristas)

A segunda fase da obra de Campos designa-se por futurista, também conhecida


por mecanicista ou Whitemaniana, marcada pela inspiração em Walt Whitman1 e no
futurismo de Marinetti através do sensacionismo.
A fase futurista-sensacionista assenta numa poesia repleta de vitalidade,
manifestando a predilecção pelo ar livre e pelo belo feroz que virá contrariar a

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concepção aristotélica de belo (“Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza


disto,/Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos”. – “Ode Triunfal”).
Após a descoberta do futurismo de Marinetti e do sensacionismo de Walt
Whitman, Campos adoptou, para além do verso livre, um estilo esfuziante, torrencial,
espraiando em longos versos de duas ou três linhas, anafórico, exclamativo,
interjectivo, monótono pela simplicidade dos processos, pela reiteração de apóstrofes
e enumerações, mas vivificado pela fantasia verbal duradoura e inesgotável.
Álvaro de Campos, além de celebrar o triunfo da máquina, da energia mecânica e
da civilização moderna, canta também os escândalos e corrupções da
contemporaneidade, em sintonia com o futurismo.
O ideal futurista em Álvaro de Campos fá-lo distanciar-se do passado para exaltar
a necessidade de uma nova vida futura, onde se tenha a consciência da sensação do
poder e do triunfo.
Esta fase também está marcada pela intelectualização das sensações ou pela sua
desordem. Como verdadeiro sensacionista, procura o excesso violento de sensações
à maneira de Walt Whitman. Contudo, o seu sensacionismo é diferente do de seu
mestre Alberto Caeiro. O seu sensacionismo distingue-se do de Caeiro, na medida em
que este considera as sensações captadas pelos sentidos como a única realidade,
mas rejeita o pensamento. Caeiro, na sua simplicidade e serenidade, via tudo nítido e
recusava o pensamento para fundamentar a sua felicidade por estar de acordo com a
Natureza; Campo, sentindo a complexidade e a dinâmica da vida moderna, procura
sentir a violência e a força de todas as sensações.
Para Campos, a sensação é tudo. O sensacionismo torna a sensação a realidade da
vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve
existência ou possibilidade de existir. Álvaro de Campos é quem melhor procura a
totalização das sensações, mas sobretudo das percepções conforme as sente, ou
como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
O poema “Ode Triunfal” exemplifica claramente esta fase poética do heterónimo
Álvaro de Campos. O título sugere logo qualquer coisa de grandioso, não só no seu
conteúdo como na forma. A irregularidade métrica e estrófica, típicas da poesia
modernista, afastam logo o poema da lírica tradicional portuguesa. Este ritmo
irregular traduz a irreverência e o nervosismo do próprio poeta. A nível estilístico,
sobressaem inúmeras metáforas, comparações, imagens, apóstrofes, anáforas (entre
outras), a fim de realçar o sensacionismo. Há que destacar que nem tudo é
entusiasmo nesta ode. Assim, logo no início, o poeta escreve “À dolorosa luz das
grandes lâmpadas eléctricas da fábrica” e tem “febre”. Ao longo do texto há o
desfilar irónico dos escândalos da época: a desumanização, a hipocrisia, a corrupção,
a miséria, a pilhagem, os falhanços da técnica (desastres, naufrágios), a prostituição
de menores, entre outros. O poeta manifesta o desejo de humanizar as máquinas

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(Unanimismo2 ), através das apóstrofes (“Ó rodas, ó engrenagens, ó máquinas!”),


como também de se materializar ao identificar-se com as máquinas (“Ah! poder eu
exprimir-me como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina!”). O
mais surpreendente no poema é, depois de o poeta ironizar os ridículos da sociedade
moderna, identificar-se com eles ao exprimir: “Ah, como eu desejava ser o
souteneur3 disto tudo!”.

➢ 3ª Fase (face): intimista (abulia e tédio)

Esta fase caracteriza-se por uma incapacidade de realização, trazendo de


volta o abatimento. O poeta vive rodeado pelo sono e pelo cansaço, revelando
desilusão, revolta, inadaptação, devido à incapacidade das realizações. Após um
período áureo de exaltação heróica da máquina, Álvaro de Campos é possuído pelo
desânimo e frustração.
Parece apresentar pontos comuns com a primeira fase – a decadentista -,
contudo, há que salientar que a intimista traduz a reflexão interior e angustiada de
quem apenas sente o vazio, depois da caminhada heróica.
Segundo Jacinto do Prado Coelho, este Campos decaído, cosmopolita,
melancólico, devaneador, irmão de Pessoa ortónimo no cepticismo, na dor de pensar
e nas saudades da infância ou de qualquer coisa irreal, é o único heterónimo que
comparticipa da vida extraliterária de Fernando Pessoa, afirmando o próprio “eu e o
companheiro de psiquismo Álvaro de Campos”.
Em “Lisbon revisited” (1923), o poeta debate-se com a inexorabilidade da
morte, desejando até morrer (“Não me venham com conclusões!/A única conclusão é
morrer.”). Todo o poema é disfórico, daí a acumulação de construções negativas.
Recusa a estética, a moral, a metafísica, as ciências, as artes, a civilização moderna,
apelando ao direito à solidão, apontando a infância como o símbolo da felicidade
perdida (“Ó céu azul – o mesmo da minha infância-/Eterna verdade vazia e
perfeita!”).
Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido (“O que
há em mim é sobretudo cansaço –“; “Três tipos de idealistas, e eu nenhum
deles:/Porque eu amo infinitamente o infinito,/Porque eu desejo impossivelmente o
impossível”). A construção antitética destes versos é, sem dúvida, o espelho interior
do poeta.

Linguagem e Estilo:

- Vocabulário técnico; estrangeirismos; neologismos; mistura de registos de língua;


- “Excesso de expressão”: exclamações, interjeições, pontuação emotiva;

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- Adjectivação múltipla;
- Metáforas ousadas, hipérboles, hipálages, anáforas, anástrofes; oximoro; apóstrofe;
- Predominância de formas verbais no presente do indicativo;
- Verso livre e, em geral, muito longo (com transportes);
- Rimas internas
- Construções nominais e infinitivas;
- Onomatopeias; aliterações; jogos de sons;

Motivos poéticos e Temas:

- Poeta plural (como Pessoa) – não evolui, viaja por três fases / facetas: 1.
Triunfalismo futurista das Odes; 2. Decadentismo de “Opiário”; 3. Cansaço e Angústia
de “Tabacaria” e outros.
- Gosto pela vida, pela cidade, pela civilização moderna, pelo mar.
- Triunfalismo / alegria futurista (com reservas); sensacionismo (“Sentir tudo de todas
as maneiras”).
- Abulia, tédio, cansaço, náusea, decadência.
- Dor de ser lúcido – “Pára, meu coração, não penses / deixa o pensar na cabeça.”
- Ironia, auto-ironia e autodepreciação.
- Pessimismo, inadaptação ao real.
- Nostalgia da infância perdida.
- Busca de soluções: o ópio; o sensacionismo futurista (o sentir tudo de todas as
maneiras); o regresso (impossível) à infância.
- Um ser dividido entre o sonho e a realidade.

Álvaro de Campos é um poeta urbano, futurista. Focou a cidade e a sua


multidão anónima e também o cansaço e o tédio de si mesmo. Evoluciona
de uma euforia desmedida para uma imensa angústia que se exprime por
meio de ironias amargas.

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OS LUSIADAS E A MENSAGEM

Os Lusíadas A Mensagem

- Camões imortalizou-se como o cantor do - Pessoa assume-se como o cantor do fim do


início do império português. Escreve um império português. Pessoa escreve um pouco
pouco depois de o império se ter levantado. antes de ele se desmoronar.

- Camões celebrou o império real, o - O objectivo de Pessoa é perseguir uma


expansionismo material para oriente, a “Índia que não há”. É o anunciador de um
cruzada religiosa, a ultrapassagem dos novo Quinto Império. O Portugal que antevê
obstáculos físicos que se erguiam aos no futuro situa-se além do material. “E a
portugueses por terra e por mar. nossa grande raça partirá em busca de uma
Índia nova, que não existe no espaço, em
naus que são construídas daquilo que os
sonhos são feitos”. Será talvez um império da
língua portuguesa.

- N’ Os Lusíadas, havia já um sentimento de


decadência. A epopeia de Camões não é
meramente laudatória, contém um apelo,
sublinha uma lição, valoriza o risco corrido
pelos portugueses, justifica pela dor e pela
experiência o prémio alcançado. Camões
dirige-se a uma “gente surda e endurecida”
que teima em não o compreender.

- Camões escreve às portas da perda da - Pessoa escreve refugiado na pátria dos


independência. mitos numa hora de “nevoeiro” nacional.

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-Na epopeia, ressalta uma antinomia - Há uma antinomia passado/presente,


grandeza/decadência, um contrapor o grandeza/ declínio, “Mar
passado ilustre ao presente de “austera, Português/”Nevoeiro”, heroísmo do passado
apagada e vil tristeza”. contraposto à hora presente.
- Os heróis que Camões canta conquistaram o - Também na Mensagem “Quem quer passar
alto valor por mérito próprio. O caminho de além do Bojador / Tem que passar além da
heroísmo é caminho de sofrimento. dor.”
- O sofrimento é colectivo e generalizado ao - O sofrimento regressa ao plano interior
povo que o suporta corajosamente. individual.

- Abordam-se figuras e factos históricos da - torna em Mito as figuras históricas.


História de Portugal.

- os heróis são homens de carne e sentidos. - os heróis são mitificados. São apresentados
com valores simbólicos.

- Os heróis situam-se no plano da história, - Os heróis, sob a forma de mito são “o nada
com grandezas e fragilidades, próprias de que é tudo”, a transfiguração das
quanto é humano. personagens em símbolos mitificados.
- Canta-se o Portugal que foi, o passado. - Canta-se o Portugal “a haver”, o futuro.
- Camões objectiva as navegações, nomeia as - Pessoa abstrai das viagens, dos padrões e
terras, os povos, os portos e seus itinerários. dos mares a grande significação do navegar
enquanto acto de esforço físico e enquanto
metáfora do espírito rumo ao plano do ideal. A
matéria da Mensagem não é histórica, factual;
não fala dos acontecimentos e dos lugares,
mas de uma essência de Portugal e de uma
missão a cumprir-se.
- Os Lusíadas são a mensagem do Passado. - A Mensagem, Os Lusíadas do Futuro. O
O Portugal criado. Império do Mundo. Portugal criador. V Império do espírito. Exalta
as façanhas do passado, em função de um
apelo para as grandezas futuras.

Primeira Parte – Brasão

A primeira parte intitulada Brasão aponta para a origem e fundação da


nacionalidade. Referem-se mitos e figuras históricas de Portugal. Pretende-se
transmitir a imagem de um Portugal erguido à custa do sacrifício e coragem de
muitos heróis, de um Portugal que há-de ser “rosto” da Europa.
Esta primeira parte encontra-se subdividida em cinco outras partes, sendo a
primeira delas Os Campos e que engloba poemas como O dos Castelos e O das
Quinas. O campo surge como um símbolo de espaço da vida e da consolidação do
reino, sendo o castelo o símbolo da protecção.
A segunda parte, dentro da primeira que se intitula Brasão, designa-se Os
Castelos que são símbolo de protecção, baluartes de defesa e residência de reis.
Significa, também, as conquistas dos heróis.
Os heróis dos castelos, representados na Mensagem, surgem associados a
desígnios ocultos que necessitam de ser desvendados.
Ulisses foi o fundador mítico de Lisboa, um herói doutro tempo e doutro espaço,
a força do mito e a importância que pode assumir para que Portugal cumpra a sua
missão. “O mito é o nada que é tudo”, ou seja, o mito enquanto estiver oculto nada
vale; quando revelado e explicado, desvenda a Verdade.

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Na primeira parte, Brasão, desfilam os heróis lendários ou históricos, desde


Ulisses a D. Sebastião, ora invocados pelo poeta, ora definindo-se a si próprios, como
em inscrições lapidares, epigramáticas.
Cada uma das seguintes secções desta parte é constituída por tantos poemas
quantos os elementos representados em cada componente do brasão. Assim, há dois
poemas para os Campos: o dos Castelos e o das Quinas; há sete para os castelos, por
serem sete os castelos tomados aos mouros por D. Afonso III; há cinco para as
Quinas, por serem cinco as chagas de Cristo; há um para a Coroa; e há três para o
grifo, sendo um para a cabeça e dois para as asas.

Segunda Parte – Mar Português

A segunda parte da obra Mensagem, Mar Português, subdividida em doze


poemas, simboliza a essência da vocação de Portugal para o mar e para o sonho.
Referem-se personalidades e factos dos descobrimentos portugueses, sempre
encarados na perspectiva de missão que competia a Portugal cumprir.
Encontramos, em Mar Português, os retratos dos heróis impulsionadores da
expansão portuguesa: os marinheiros que descobriram as terras novas: Diogo Cão,
Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães e o mais ilustre de todos, Vasco da Gama.
Em Mar Português, é ainda possível detectar a concepção messiânica que
Fernando Pessoa possui da História já que afirma que o processo de criação implica
Deus como causa primeira, o homem como agente intermediário e a obra como
efeito: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.
Os poemas da primeira parte apresentam o valor do mito e do sonho, bem como
as figuras heróicas, já verdadeiros mitos, que contribuíram para a concretização real
desse mesmo sonho. Agora, nesta segunda parte, surge o sonho convertido em
acção, unificando o acto humano e o Destino traçado por Deus.
Esta segunda parte da Mensagem poderia sintetizar-se desta forma: O Infante (D.
Henrique) concebe a ideia de um império marítimo português (“O Infante”); partem
as suas naus em busca de novas terras (“Horizonte”); Diogo Cão toma oficialmente
posse, em nome de Portugal, das terras descobertas (“Padrão”); o Mostrengo
simboliza as dificuldades enfrentadas na aventura marítima (“O Mostrengo”), mas é
simbolicamente vencido por Bartolomeu Dias, ousadia que virá a pagar com a vida
(“Epitáfio de Bartolomeu Dias”); as outras nações europeias lançam-se também na
aventura marítima, mas os seus feitos não passam de uma sombra dos feitos de
Portugal (“Os Colombos”); prosseguem as caravelas do Infante e encontram as terras
do Ocidente, especificamente o Brasil (“Ocidente”); descobertos todos os novos
continentes e ilhas sem fim, procedem os nautas a uma viagem de circum-
navegação, proeza que as forças adversas do universo irão punir (“Fernão de
Magalhães”); obreiros de gestos heróicos, os marinheiros são convertidos em semi-

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deuses e ascendem ao Olimpo, como acontecia na Antiguidade (“Ascensão de Vasco


da Gama”); sujeito às leis inexoráveis do tempo, que tudo consome, o império
marítimo português (“Mar Português”) também morre; com a partida de D. Sebastião,
o último navegante do Mar Português, para Alcácer-Quibir – “a noite veio” (“A última
Nau”); mas, ansiosos por se perpetuarem no tempo e no espaço e cientes de que é
esse o seu destino manifesto imploram a Deus que lhes conceda a graça de um
Império que não morra (“Prece”).

Terceira Parte – O Encoberto

Na Primeira Parte, Portugal realiza-se na “terra”; na segunda, realiza-se no


“mar”; e na terceira, realiza-se no “céu”. Podendo-se, portanto, afirmar que, na
economia da Mensagem estão presentes os quatro elementos: a terra na Primeira
Parte; a água na Segunda; e o ar e o fogo na Terceira.
Refere-se que Portugal parece estar encerrado numa “prisão servil”, parece
estar “envolto em trevas”. Apesar disso, um novo império se erguerá, anunciado
pelos símbolos e pelos avisos. O Portugal que hoje é “nevoeiro” regenerar-se-á.
Na Terceira Parte, anuncia-se que o Quinto Império, a criar sob a égide de
Portugal, será essencialmente um império do espírito.

Criar um novo Portugal, ou melhor, ressuscitar a Pátria Portuguesa, arrancando-a do túmulo


onde a sepultaram alguns séculos de obscuridade física e moral, em que os corpos definharam e as
almas amorteceram.

O ENCOBERTO

I – OS SÍMBOLOS II – OS AVISOS III – OS TEMPOS


 A apologia do sonho  Três profecias do Quinto  A ânsia da edificação do
 A crença na ressurreição Império Quinto Império
do Império moribundo

Carácter épico - lírico da MENSAGEM

A poesia da Mensagem é uma poesia épico-lírica, não só pela forma


fragmentária como pela atitude introspectiva de contemplação no espelho da alma.
A Segunda Parte (Mar Português) é a mais marcadamente épica, no sentido
tradicional, em consonância com a celebração do mar que se cumpriu. Em “Mar

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Português”, perpassa um sopro épico, exalta-se o esforço heróico dos portugueses no


domínio dos mares
A Terceira Parte (O Encoberto) é aquela onde o lirismo mais se faz notar.

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