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HISTÓRIA DA QUÍMICA

Teorias
ácido-base
do século XX
Aécio Pereira Chagas

Esta seção contempla a história da química como parte da história de pH (Sørensen, 1909) etc. Apesar de
da ciência, buscando ressaltar como o conhecimento científico é todos esses avanços, desde o início a
construído. Neste artigo, são apresentadas as diferentes teorias teoria mostrou-se restrita à água, sendo
ácido-base propostas durante o século XX, mostrando como que em alguns casos foi possível
evoluem e como estão relacionadas entre si. estendê-la a outros solventes, e em sis-
temas sólidos não havia possibilidade
reações ácido-base, teorias ácido-base, história da química de aplicá-la.
As críticas de Werner Feito pelo Wesley
No período de 1895 a 1911, Alfred
Werner, o fundador da química de coor-
denação, teceu uma série de críticas

N
ovas tendências do ensino de solventes (1905), protônica (1923),
química procuram enfatizar os eletrônica (1923), de Lux (1939), de às teorias ácido-base (Arrhenius e as
aspectos sociais, históricos, Usanovich (1939) e ionotrópica (1954), teorias do século XIX ainda em uso),
28 chamando a atenção para a semelhan-
filosóficos, tecnológicos etc., e um bom sem esquecer as críticas de Werner
tema que satisfaz várias dessas ca- (1895 a 1911). Vejamos um pouco de ça funcional da neutralização com
racterísticas é o desenvolvimento das cada uma delas. outras reações:
teorias ácido-base no século XX. Esse BF3 + KF = KBF4 (2)
tema traz muitas facetas interessantes: Teoria de ArrheniusFeito pelo Wesley
é parte do conteúdo usual do ensino Apresentada em 1887 pelo químico PtCl4 + 2KCl = K2PtCl6 (3)
médio e é relativamente simples do sueco Svante Arrhenius, como parte de CO2 + Na2O = Na2CO3 (4)
ponto de vista histórico, pois sua evo- sua teoria da dissociação eletrolítica.
lução se faz de maneira quase linear Segundo essa teoria, ácido é toda Werner reinterpretou o processo de
ao longo do tempo. Ele permite tam- substância que em água produz íons neutralização não como uma simples
bém mostrar como uma teoria deixa H+ e base é aquela que produz OH–. A reação de adição, mas como uma rea-
de ser ‘boa’, dando então espaço a neutralização seria a reação entre ção de transferência, levando à forma-
outra, bem como as correlações com essas duas espécies iônicas, produ- ção de espécies coordenadas, de
outras áreas da química. zindo água: modo que as reações acima poderiam
O comportamento ácido-base é ser equacionadas como:
H+(aq) + OH–(aq) = H2O(l) (1)
conhecido de longa data. Os termos BF3 + KF = K+ + [BF4]– (5)
‘ácido’ e ‘sal’ datam da Antiguidade, Esta teoria foi muito importante, pois
‘álcali’, da Idade Média e ‘base’ do sé- além de dar conta de um grande nú- PtCl4 + 2KCl = 2K+ + [PtCl6]2– (6)
culo XVIII. Boyle, no século XVII, estu- mero de fenômenos já conhecidos, pro-
CO2 + Na2O = 2Na+ + [CO3]2– (7)
dou os indicadores, inclusive o coran- vocou o desenvolvimento de várias li-
te vermelho do pau-brasil. Os indi- nhas de pesquisa, inclusive contribuindo
Teoria dos sistemas
cadores começaram a ser utilizados para estabelecer as bases científicas da
em titulações no século XVIII. As teorias química analítica. Alguns exemplos: solventes Feito pelo Wesley
ácido-base, ou seja, as teorias que pro- aplicação da lei de ação das massas a Começou a ser desenvolvida em
curam explicar o comportamento des- equilíbrios iônicos e a obtenção da lei 1905 por E.C. Franklin, principalmente
sas substâncias baseando-se em al- de diluição de Ostwald (Ostwald, 1887); para a amônia (NH3) líquida, e depois
gum princípio mais geral, são também a equação de Nernst, que relaciona a por vários outros pesquisadores, por
bastante antigas, porém vamos consi- força eletromotriz das pilhas com a generalização da teoria de Arrhenius a
derar apenas as do século XX. As prin- concentração dos íons (Nernst, 1888- vários outros solventes. Essa teoria
cipais, cronologicamente em relação 1889); o efeito tampão (Fernbach, 1900); considera que todo solvente sofre uma
a seu surgimento, são as teorias de o primeiro estudo quantitativo de um auto-ionização, gerando um cátion
Arrhenius (1887) 1 , dos sistemas indicador (Friedenthal, 1904); o conceito (ácido) e uma base (ânion):

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Teorias Ácido-Base N° 9, MAIO 1999


solvente = cátion + ânion (8) a entidade transferida. Ácido é um re- buíram para popularizar a teoria, fican-
Ácido é tudo que faz aumentar a ceptor de O2– e base, um doador. Uma do a forma preconizada por Ingold
concentração do cátion característico reação entre um óxido ácido (CO2) e restrita ao estudo dos mecanismos de
do solvente e base é o que aumenta a um óxido básico (CaO) seria uma reações orgânicas e a denominação
concentração do ânion característico. reação de neutralização: de Sidwick, ao campo da química de
A neutralização é a formação do CO2 + CaO = Ca2+ + CO32– (16) coordenação, não figurando em textos
solvente a partir desses cátions e mais gerais ou introdutórios.
ânions característicos. SiO2 + K2O = 2K+ + SiO32– (17) Em 1938, Lewis retornou ao tema
ácido-base, especificando os critérios
2H2O = H3O+ + OH– (9) Essa teoria mostrou-se bastante útil
fenomenológicos (ou macroscópicos)
para tratar de reações envolvendo líqui-
para esse comportamento:
2NH3 = NH4+ + NH2– (10) dos iônicos (sais e óxidos fundidos)
• A reação entre um ácido e uma
que ocorrem na metalurgia, na fabrica-
2POCl3 = POCl2+ + POCl4– (11) base (neutralização) é rápida.
ção de vidro e cerâmica, nos sistemas
• Um ácido (ou uma base) pode
Dezenas de solventes foram geoquímicos etc.
deslocar de seus compostos um
estudados, principalmente visando
Teoria eletrônica Feito pela Vívian ácido (ou uma base) mais fra-
obter novas reações e compostos.
co(a).
Como conseqüência de sua teoria
Teoria protônica Feito pela Vívian • Ácidos e bases podem ser titula-
do par eletrônico para explicar as liga-
dos um com o outro por meio de
Foi proposta em 1923, independen- ções químicas, G.N. Lewis propôs uma
indicadores.
temente, por G. Lewis (EUA), T. Lowry teoria ácido-base em 1923 (juntamente
• Ácidos e bases são capazes de
(Inglaterra) e J. Brønsted (Dinamarca). com a teoria protônica). Considerava
atuar como catalisadores.
O último foi um dos que mais contribuiu que ácido (A) é toda espécie química
Esses critérios são uma síntese bri-
para o desenvolvimento da mesma. capaz de receber um par eletrônico e
lhante do comportamento ácido-base
Segundo essa teoria, ácido é um doa- que base (B) é aquela capaz de doar
e Lewis une essas observações feno-
dor de prótons (seria o mesmo que o um par eletrônico (representado por : ).
menológicas com a interpretação 29
íon H+, o núcleo do hidrogênio, porém De maneira geral:
molecular (microscópica). Depois dis-
essa definição ajuda a diferenciar a A + : B = A:: B (18) so sua teoria ‘decolou’, passando a ser
teoria da de Arrhenius) e base, um
O composto A:: B recebe nomes vista, em sua generalidade, como uma
receptor de prótons. A reação de
diversos, conforme a circunstância: teoria unificadora, saindo dos con-
neutralização seria uma transferência
aduto, sal, complexo, complexo ácido- textos restritos em que estava antes.
de prótons entre um ácido e uma base.
base, complexo doador-aceitador, O desenvolvimento posterior da
AH + B = BH + A (12) etc.2 A eq. 18 representa uma reação teoria eletrônica foi caracterizado prin-
Exemplos: genérica de neutralização. cipalmente pela sua quantificação.
Como exemplos de reações de Alguns exemplos dos estudos desen-
HCl + NH3 = NH4+ + Cl– (13)
neutralização estão todas as reações volvidos: o ácido etilenodiamintetra-
HAc + H2O = H3O+ + Ac– (14) já citadas e outras como: acético (EDTA) e outros agentes que-
lantes (G. Schwartzenbach, 1940); o
H3O+ + OH– = H2O+ H2O (15) BF3 + : NH3 = H3N:: BF3 (19)
estudo de efeitos estéricos em adutos
(Ac– = acetato) Essa reação, e muitas outras seme- (H. Brown, 1940); os conceitos de áci-
Essa teoria permitiu o estudo em lhantes, passaram então a ser conside- dos duros e moles (R. Pearson, 1963);
sistemas fortemente ácidos (ácido sul- radas reações ácido-base, e não as equações EC para prever as ental-
fúrico como solvente), em sistemas haviam sido englobadas pelas teorias pias de formação de adutos (R. Drago,
sólidos; o desenvolvimento de indica- anteriores. a partir da década de 60); os conceitos
dores para estes meios (Hammett, Essa teoria foi aplicada inicialmente de doabilidade (‘donicidade’) e acei-
1928); estudos de catálise ácido-base, no estudo de reações orgânicas tabilidade e suas medidas, bem como
com a respectiva equação de Brønsted (Lowry, Robinson, Ingold e Lapworth, a correlação de fenômenos ácido-base
(Brønsted, 1924); estudos de próton- na Inglaterra) e na química de coor- e de óxido-redução (V. Gutmann,
afinidade em fase gasosa (propostos denação (Sidwick, na Inglaterra). Sur- idem); a aplicação da química quântica
por Sherman em 1932, mas cujas me- giram então os termos doador e acei- às reações ácido-base (Klopman,
dições só foram iniciadas na década tador (Sidwick, 1927) e reagentes ele- idem), e a química supramolecular
de 60) etc. É uma teoria bastante utili- trofílicos e nucleofílicos (Ingold, 1933). (Lehn, a partir da década de 70).
zada e atual. Os termos cunhados por Ingold envol-
viam não apenas ácidos e bases, mas Teoria de Usanovich Feito pela Fabiana
Teoria de Lux Feito pela Vívian
também oxidantes e redutores, gene- Em 1939, o químico soviético M.
Proposta por H. Lux em 1939, é, em ralizando assim os próprios conceitos Usanovich apresentou uma teoria que
sua forma, semelhante à teoria protô- de Lewis. Porém os diversos nomes e pretendia generalizar todas as teorias
nica, considerando o ânion óxido (O2–) a generalidade excessiva não contri- existentes. Definia ácido como a es-

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pécie que reage com a base para for- rência de alguma espécie química Notas
mar sais, doando cátions ou aceitan- (eqs. 12 a 17). Na teoria eletrônica, a
1. Nem sempre as épocas históri-
do ânions ou elétrons, e base como a neutralização inicialmente pode ser vis-
cas coincidem com o calendário.
espécie que reage com o ácido para ta como uma síntese (eq. 18), porém
Pode-se dizer que a Teoria de Arrhenius
formar sais, doando ânions ou elétrons nos exemplos citados o par eletrônico
é o início da química do século XX.
ou combinando-se com cátions. Essas pode ser compartilhado (síntese, eqs.
2. Essa circunstância muitas vezes
definições são de certo modo seme- 1 e 19) ou transferido (eqs. 2 a 4), con-
é mais de caráter ‘social’ que químico,
lhantes aos conceitos de reagentes forme a estrutura eletrônica (ligação
pois as denominações variam confor-
eletrofílicos e nucleofílicos de Ingold. química) do produto resultante, supe-
me a área da química onde se empre-
Apesar de constar por algum tempo rando a aparente oposição entre os
gam os termos.
em vários textos, e ser eventualmente dois esquemas formais.
mencionada, praticamente não gerou
Usanovich Referências bibliográficas
nenhuma linha de pesquisa.
Eletrônica CHAGAS, A.P. Como se faz
Teoria ionotrópica Feito pela Fabiana química. 2. ed. Campinas: Editora
É uma generalização das teorias Ionotrópica da Unicamp, 1992.
protônica, dos sistemas solventes e de DAVANZO, C.U. e CHAGAS, A.P.
Sistemas Gilbert Newton Lewis e a revolução
Lux proposta por I. Lindqvst e V. Arrhenius Solventes
Protônica dos pares eletrônicos. Química
Gutmann em 1954. As reações ácido-
Nova v. 16, n. 2, p. 152-154 e 262
base podem ser formuladas como:
(errata), 1993.
base + cátion característico = ácido (20) Lux DRAGO, R.S. e MATWIYOFF,
N.A. Ácidos y bases. Barcelona: Ed.
base = ácido + ânion característico (21) Reverté, 1972.
GUTMANN, V. The donor-accep-
Exemplos de cátions característi- tor approach to molecular interactions.
30 cos: H+ (Brønsted), NH4+ (em NH3 lí- Figura 1: Diagrama de Veen mostrando as Nova Iorque, Plenun Press, 1978.
quida) etc. Exemplos de ânions carac- relações conceituais entre as teorias consi- JENSEN, W.B. The Lewis acid-ba-
terísticos: OH– (em água), O2– (Lux) etc. deradas (baseado na Fig. 2.2 do livro de se concepts. Nova Iorque: Wiley, 1980.
Essa teoria praticamente não gerou Jensen). NYE, M.J. From chemical philo-
nenhuma nova linha de pesquisa (pro- Uma ‘boa’ teoria, além de explicar sophy to theoretical chemistry. Ber-
blemas, previsões etc.). Seus próprios os fatos de seu domínio, tem também keley, CA: University of California
autores fizeram posteriormente contri- que gerar pesquisas, propor problemas Press, 1993.
buições valiosas para o desenvolvi- e fazer previsões que, ao serem SERVOS, J.W. Physical chemistry
mento da teoria eletrônica. confirmadas, além de darem um emba- from Ostwald to Pauling. Princeton,
samento mais forte à teoria, geram NJ: Princeton University Press, 1990.
Relações entre as teorias VÖGTLE, F. Supramolecular che-
Feito pela Fabiana também novas pesquisas e assim por
Pode-se notar que as teorias ácido- mistry. Chichester: Wiley, 1991.
diante. Uma ‘boa’ teoria necessita tam-
base foram surgindo como uma gene- bém ser prática, simples e funcional, Para saber mais
ralização da precedente, não se contra- para que possa ser facilmente utilizada Para se ter uma visão ampla so-
pondo frontalmente, o que é interessan- pelos pesquisadores e também ensi- bre história, comportamento e teoria
te. Cada uma abarca um universo pró- nada. Todas as teorias mencionadas fo- ácido-base, recomendamos o exce-
prio de reações químicas que vai se ram ‘boas’ no sentido de explicar. Todas lente texto de Jensen, citado nas
ampliando, procurando abranger cada geraram novas linhas de pesquisa, cada referências bibliográficas. Uma boa
vez mais os fenômenos conhecidos, e uma em seu tempo, exceto a de introdução à teoria eletrônica é o
cada teoria antiga vai se tornando um Usanovich e a ionotrópica. Pode-se dizer pequeno livro de Drago e Matwiyoff,
caso particular da nova. A Fig. 1 apre- também que foram práticas, simples e também citado nas referências.
senta um diagrama de Veen, mostrando funcionais, também em seu tempo. As Alguns aspectos da teoria eletrônica
a abrangência conceitual de cada uma que mais se destacam por todas essas relacionados com as interações
das teorias. caracteristicas citadas, sendo também moleculares e a formação de adutos
Outro aspecto interessante é o for- as mais utilizadas, são as teorias podem ser encontrados nos artigos:
malismo químico associado a cada protônica e eletrônica. AIROLDI, C. e CHAGAS, A.P. A
uma das definições de neutralização. química de adutos do Brasil: de
Na teoria de Arrhenius e na dos siste- Aécio Pereira Chagas, bacharel e licenciado em 1934 a 1981. Química Nova v. 6, n.
mas solventes, a neutralização é uma química pela USP, doutor em ciências (química) 1, p. 13, 1983.
reação de síntese ou adição (eqs. 1 e também pela USP, é livre-docente (físico-química) pela CHAGAS, A.P. e AIROLDI, C. Os
Unicamp. Foi professor titular de físico-química no Ins- livros-texto e alguns aspectos da
8 a 11). Na teoria protônica, na de Lux
tituto de Química da Unicamp até 1994, quando se
e na ionotrópica, a neutralização é uma ligação química. Química Nova v. 6,
aposentou. Atualmente é professor convidado na
reação de dupla troca ou de transfe- mesma instituição. n. 2, p. 60, 1983.

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