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MERITÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA JUSTIÇA

FEDERAL DE PASSO FUNDO – RS

O SINDICATO RURAL DE PASSO FUNDO,


pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ sob o nº
90.781.006/001-36, com sede na Av. Brasil Oeste, nº 1185, Bairro
Boqueirão, em Passo Fundo, RS, vem, respeitosamente, através de
seus procuradores firmatários, à presença de Vossa Excelência,
propor a presente

AÇÃO ORDINÁRIA

em razão da UNIÃO FEDERAL – FAZENDA


NACIONAL, representada, nos termos do art. 12, inciso V, da
Lei Complementar nº 73/93, pela Procuradoria da Fazenda
Nacional, com escritório na Rua Antônio Araújo, 1154, em Passo
Fundo, RS, pelos seguintes fatos e fundamentos.

DOS FATOS
O Sindicato Rural de Passo Fundo, RS, ingressa com
Ação Ordinária em razão da Fazenda Nacional, na condição de
substituto processual dos empregadores rurais da base territorial
do Sindicato de Passo Fundo, demandando ao Poder Judiciário

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Federal que declare incidenter tantum a inconstitucionalidade da
contribuição social incidente sobre o resultado da comercialização
dos produtos rurais, prevista no art. 25, incisos I e II, da Lei nº
8.212/91, com última redação dada pela Lei nº 10.256/01, nos
termos da fundamentação, determinando imediatamente (através
de liminar) a inexigibilidade do recolhimento da referida exação
tributária aos sujeitos passivos para os quais o tributo é
inconstitucional.

Ao final, pleiteia, também, a respectiva repetição dos


indébitos até o limite da prescrição legal.

DO DIREITO

I – QUESTÕES PRELIMINARES
O mérito da questão se concentra nos fundamentos
pelos quais o STF reconheceu a inconstitucionalidade do art. 1º da
Lei nº 8.540/92 no julgamento do RE 363.852-1, em 03/02/2010.
Tais razões informam o direito dos substituídos.

Antes, porém, de adentrar no mérito da questão, é


necessário fazer algumas considerações sobre (a) a legitimidade
ativa do sindicato para atuar nesta demanda; (b) a
desnecessidade de autorização expressa e relação nominal dos
substituídos; (c) a possibilidade de veiculação de matéria
tributária; e (d) a conveniência do ajuizamento de ação ordinária
em substituição.

(a) DA LEGITIMIDADE ATIVA DO SINDICATO

Os sindicatos têm legitimidade ativa para pleitear em


Juízo a tutela dos interesses da categoria. A Constituição Federal,

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inclusive, atribuiu, nesse sentido, um direito-dever aos sindicatos,
conforme dicção do art. 8º, inciso III:

Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou


individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas

A atuação da entidade sindical em Juízo, no caso


específico, visa à consecução de suas finalidades institucionais: a
defesa dos interesses dos filiados na base territorial do Sindicato
Rural de Passo Fundo, como manda o Estatuto Social da Entidade:

Art. 1º. O Sindicato Rural de Passo Fundo-RS (...) é constituído


para fins de estudos, coordenação, defesa e representação da
categoria econômica dos empregadores rurais (...)
Art. 2º. No desempenho de suas atribuições e finalidades, o sindicato
tem por objetivos, entre outros: I – estudar, propor, pleitear e
adotar medidas cabíveis aos interesses dos produtores rurais,
constituindo-se em defensor e cooperador de tudo quanto possa
concorrer para a prosperidade da categoria que representa; (...)
Art. 3º. São prerrogativas do Sindicato: VI – defender os direitos e
os interesses da categoria, inclusive em questões judiciais e
administrativas (...)
Art. 6º. Poderão fazer parte, como associado do Sindicato, os
empregadores rurais, pessoa física ou jurídica, integrantes da
categoria econômica rural.

É que a entidade sindical congrega os sujeitos passivos


sobre os quais incide a exação tributária inconstitucional.
Portanto, há interesse institucional que o Sindicato os substitua
em Juízo na busca de um provimento genérico e que irá beneficiar
a categoria na área incidente, independentemente de ser
sindicalizado ou não. Nesse sentido, a jurisprudência do STJ:

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL COLETIVA.


DIFERENÇAS DE CORREÇÃO MONETÁRIA DE CONTAS DO FGTS.
LEGITIMAÇÃO ATIVA DAS ENTIDADES SINDICAIS. NATUREZA E
LIMITES. PROVA DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO AFIRMADO
E DOCUMENTO ESSENCIAL À PROPOSITURA DA DEMANDA.
DISTINÇÕES. 1. As entidades sindicais têm legitimidade ativa
para demandar em juízo a tutela de direitos subjetivos
individuais dos integrantes da categoria, desde que se tratem de
direitos homogêneos e que guardem relação de pertencialidade com
os fins institucionais do Sindicato demandante. 2. A legitimação

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ativa, nesses casos, se opera em regime de substituição
processual, visando a obter sentença condenatória de caráter
genérico, nos moldes da prevista no art. 95 da Lei n. 8078/90,
sem qualquer juízo a respeito da situação particular dos
substituídos, dispensando, nesses limites, a autorização
individual dos substituídos. (...) 6. Recurso especial a que se nega
provimento. (REsp 487.202. STJ. Ministro Teori Albino Zavascki.
24.05.2004)

Portanto, ao atuar em regime de substituição


processual, o Sindicato Rural de Passo Fundo possui a mesma
legitimidade ativa que cada um de seus substituídos tem na
situação particular.

(b) DA INEXIGIBILIDADE DE AUTORIZAÇÃO


EXPRESSA E RELAÇÃO NOMINAL DOS SUBSTITUÍDOS

Sobre o tema, o STF já se posicionou no sentido de que


não é necessária autorização expressa para que o Sindicato atue
na condição de substituto processual.

EMENTA: CONSTITUCIONAL. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL.


SINDICATO. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA. INEXIGIBILIDADE. I - A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no
sentido de que não se exige, no caso de substituição processual,
a autorização expressa prevista no inciso XXI do art. 5º da CF.
Precedentes. II - Ausência de novos argumentos. III - Agravo
regimental improvido (AI-AgR 566805. STF. 20.11.2007. Relator
Ministro Ricardo Lewandowski)

Não precisa, ainda, apresentar relação nominal dos


substituídos, pois a decisão, prolatada de forma genérica, somente
beneficiará aqueles que comprovarem o direito em liquidação de
sentença.

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO


COLETIVA. SINDICATO. LEGITIMIDADE ATIVA. SUBSTITUIÇÃO
PROCESSUAL. OCORRÊNCIA. AUTORIZAÇÃO. SUBSTITUÍDO.
RELAÇÃO NOMINAL. DESNECESSIDADE. 1. Os Sindicatos têm
legitimidade para representarem seus filiados em juízo, seja em
ações coletivas ou mandamentais, pela substituição processual,
sem necessidade de autorização expressa ou da relação nominal
dos substituídos. Precedentes desta Corte. 2. Agravo regimental

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improvido. (AgRg no Ag 934400/RS. STJ. 18.03.2008. Relator
Ministro Jorge Mussi.)

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL COLETIVA.


DIFERENÇAS DE CORREÇÃO MONETÁRIA DE CONTAS DO FGTS.
LEGITIMAÇÃO ATIVA DAS ENTIDADES SINDICAIS. NATUREZA E
LIMITES. PROVA DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO AFIRMADO
E DOCUMENTO ESSENCIAL À PROPOSITURA DA DEMANDA.
DISTINÇÕES. 1. As entidades sindicais têm legitimidade ativa para
demandar em juízo a tutela de direitos subjetivos individuais dos
integrantes da categoria, desde que se tratem de direitos
homogêneos e que guardem relação de pertencialidade com os fins
institucionais do Sindicato demandante. 2. A legitimação ativa,
nesses casos, se opera em regime de substituição processual, visando
a obter sentença condenatória de caráter genérico, nos moldes da
prevista no art. 95 da Lei n. 8078/90, sem qualquer juízo a respeito
da situação particular dos substituídos, dispensando, nesses limites,
a autorização individual dos substituídos. 3. A individualização da
situação particular, bem assim a correspondente liquidação e
execução dos valores devidos a cada um dos substituídos, se não
compostas espontaneamente, serão objeto de ação própria
(ação de cumprimento da sentença condenatória genérica), a
ser promovida pelos interessados, ou pelo Sindicato, aqui em
regime de representação. 4. Não se pode confundir "documento
essencial à propositura da ação" com "ônus da prova do fato
constitutivo do direito". Ao autor cumpre provar os fatos que dão
sustento ao direito afirmado na petição inicial, mas isso não significa
dizer que deve fazê-lo mediante apresentação de prova pré-
constituída e já por ocasião do ajuizamento da demanda. Nada
impede que o faça na instrução processual e pelos meios de prova
regulares. 5. Em se tratando de ação coletiva para tutela de direitos
individuais homogêneos, que visa a uma sentença condenatória
genérica, a prova do fato constitutivo do direito subjetivo
individual deverá ser produzida por ocasião da ação de
cumprimento, oportunidade em que se fará o exame das
situações particulares dos substituídos, visando a identificar e
mensurar cada um dos direitos subjetivos genericamente
reconhecidos na sentença de procedência. 6. Recurso especial a
que se nega provimento. (REsp 487.202. STJ. Ministro Teori Albino
Zavascki. 24.05.2004)

A ação do Sindicato não impede que o interessado


ingresse individualmente com sua ação, reivindicando o mesmo
direito, pois a litispendência somente será verificada na execução
da sentença genérica pelo particular.

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É que a pretensão coletiva da demanda é,
precipuamente, resguardar os direitos dos filiados, através de um
provimento judicial liminar de suspensão da cobrança do tributo
para a categoria inteira, bem como a condenação genérica à
repetição do indébito que fixe o prazo prescricional para todo
aquele que desejar executar individualmente a sentença coletiva,
após seu trânsito em julgado.

(c) DA POSSIBILIDADE DE VEICULAÇÃO DE


MATÉRIA TRIBUTÁRIA EM AÇÃO ORDINÁRIA EM
REGIME DE SUBSTITUIÇÃO

Os sindicatos são legitimados constitucionalmente para


ingressarem em Juízo em defesa dos direitos de seus substituídos,
nos termos do art. 8º, inciso III, da Carta Magna, como foi exposto
anteriormente.

Ao abordar matéria tributária, entretanto, não podem


se utilizar processualmente da Ação Civil Pública, por conta da
vedação do art. 1º, §único, da Lei nº 7.347/85.

A limitação processual antes mencionada, todavia, não


interfere nos interesses do Autor, já que os efeitos pretendidos na
demanda podem ser satisfeitos pelo processamento ordinário.

Ademais, o processo é instrumento e não finalidade em


si mesmo, e “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito”, segundo o art. 5º, inciso XXXV, da
CF/88. Portanto, se o Juízo não pode conhecer da matéria
tributária na ação prevista na lei 7.347/85, poderá fazê-lo em sede
de ação ordinária, com outra dinâmica processual, autorizada a
ação do Sindicato em regime de substituição como determinado
no art. 8º, inciso III, da Constituição Federal, nesse sentido já se
manifestou, inclusive, o TRF da 4ª Região.

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PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONVERSÃO EM
ORDINÁRIA. LEGITIMAÇÃO DO SINDICATO. TRIBUTÁRIO.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 1. O fundamento da ação é o
artigo 8º, III, da CF/88, que, ao atribuir aos sindicatos o direito-dever
de postular judicialmente em prol de suas respectivas categorias,
também lhes atribui a possibilidade de lançar mão de ações
coletivas aptas a defesa desses direitos. 2. O § único do art. 1º da Lei
n° 7.347/85, introduzido originariamente, pela Medida Provisória n°
1.984-18, de 1º/06/2000 e, atualmente veiculado pela MP 2.180-35,
de 27.08.2001, veda a utilização da ação civil pública para versar
pretensões de natureza tributária. 3. Tendo em vista o princípio da
instrumentalidade das formas, inserto no artigo 250 do CPC,
converte-se a ação civil pública em ordinária. (AC
200271000532953. TRF4. Relator Desembargador Joel Ilan
Paciornik. 10.12.2008).

As conseqüências da via processual eleita estão no


plano dos efeitos. Nesse caso, a ação ordinária é compatível com o
que se pretende: a sentença prolatada terá efeitos limitados aos
empregadores rurais da região circunscrita pelo Sindicato Rural
de Passo Fundo e somente poderá ser executada por aqueles que
pertencerem à categoria econômica e comprovarem residência na
zona da abrangência do Sindicato.

(d) DA CONVENIÊNCIA DA AÇÃO ORDINÁRIA


AJUIZADA EM SUBSTITUIÇÃO

Ao propor a demanda em nome de seus substituídos, o


Sindicato, em primeiro lugar, cumpre sua função institucional,
promovendo a defesa dos interesses de seus filiados. Em segundo
lugar, marca o ponto de contagem da prescrição para os
substituídos que pretenderem executar a sentença genérica. Em
terceiro lugar, protege os direitos dos integrantes da categoria
sem a necessidade de pleitos individuais. Em quarto lugar, a lide
soluciona a questão de forma genérica e possibilita à classe inteira
(da região circunscrita) que se beneficie do processo, tanto em
sede liminar, quanto em sentença, podendo, a partir dele, liquidá-
lo conforme o seu direito.

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Além disso, a safra 2010 está a alguns dias de ocorrer.
Nesse período há grande circulação de produtos rurais sobre os
quais incide o imposto execrado. Uma ordem genérica beneficiaria
a um sem número de integrantes da categoria, substituindo-se
assim a necessidade de apreciação de vários pedidos liminares
individuais.

A cobrança ilegal feita pelo FISCO FEDERAL de um


tributo viciado e indevido espolia os agricultores, que já
enfrentam inúmeras dificuldades da atividade econômica que
exercem. Se o Supremo Tribunal Federal já considerou a exação
tributária inconstitucional, o Judiciário de Primeiro Plano não
deve permitir, desde já, que o Poder Público prossiga nessa
espoliação.

Junte-se a isso o fato de que alguns adquirentes dos


produtos rurais, responsáveis pela retenção do tributo, não estão
recebendo a produção de agricultores que têm decisão liminar
para não recolher a contribuição social, porque têm medo de não
reter o tributo e serem responsabilizados. Preferem, assim,
receber a matéria prima apenas de quem aceita recolher a
contribuição social. Com isso descumprem as liminares que já
estão na praça e promovem uma verdadeira perseguição a quem
está buscando seus direitos.

A ação veiculada através do Sindicato permite ao


Magistrado a abrangência necessária para promover a unificação
da ordem na base territorial do Sindicato Rural de Passo Fundo.
Uma única sentença regulará o procedimento e deverá ser
cumprida por todos. Trata-se de medida que restaura a isonomia e
a equanimidade, pois se uns tem direito, todos os demais, que
estão em situação idêntica, também tem.

Por tudo isso é conveniente e válida a atuação do


Sindicato em nome da categoria, tanto pelo motivo do
aproveitamento processual quanto pela necessidade de fazer
frente ao embate econômico antes referido. Pretende-se com isso
evitar o prejuízo econômico iminente aos substituídos, seja pelo

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pagamento do tributo indevido, seja pela concorrência junto aos
responsáveis pela retenção do tributo. E, em última análise,
pretende-se que a atuação da categoria através de seu Sindicato
sinalize ao Poder Judiciário o anseio dos produtores rurais da
região da Produção Passo Fundense de não ser obrigada entregar
parte do valor de sua sofrida produção aos cofres do Fisco por
determinação de lei abusiva, que excedeu as balizas da legalidade.

II - DO MÉRITO

(1) A COGNIÇÃO DA QUAESTIO


A compreensão da controvérsia no nível constitucional
pode se resumir a isto: a contribuição social prevista no art. 25,
incisos I e II, da Lei nº 8.212/91, com redação primeiramente
modificada pelo art. 1º da Lei nº 8.540/92 e, por último, pelo art.
1º da Lei nº 10.256/01, estendeu, sem autorização constitucional,
o preceito do art. 195, §8º, a sujeitos passivos diversos dos que lá
estavam previstos, onerando ilegalmente a classe dos
empregadores rurais com um tributo que somente é devido por
segurados especiais.

A exposição de mérito será guiada pelos seguintes


itens (2) evolução histórica do Funrural; (3) da extinção do
Funrural operada pela constituição de 1988; (4) dos arquétipos
constitucionais padronizados; (5) da contribuição social especial
dos segurados especiais; (6) as razões do art. 195, §8º, da CF/88;
(7) dos vícios de ilegalidade e de inconstitucionalidade do tributo;
(8) da pessoa jurídica; (9) a evidência da procedência de todas as
alegações: a proposta de emenda constitucional nº 233/08; (10)
não existe tributo retroativo nem constitucionalidade
superveniente; (11) do efeito vinculante; (12) da não modulação
de efeitos; (13) da repetição do indébito; (14) da correção
monetária; (15) dos juros moratórios; (16) da prescrição.

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(2) EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO FUNRURAL

1955 A União Federal, através da Lei nº 2.613, instituiu uma


entidade autárquica chamada Serviço Social Rural - SSR, cuja
finalidade era a prestação de serviços sociais no meio rural. Para a
manutenção dessa assistência social o Fisco passou a cobrar 3%
sobre a soma dos salários das pessoas físicas e jurídicas que
exerciam atividades ligadas à indústria rural.

1963 Com a edição da Lei nº 4.214, conhecida como


Estatuto do Trabalhador Rural, criou-se o FUNRURAL – Fundo de
Assistência e Previdência do Trabalhador Rural, cuja finalidade
era a manutenção de benefícios previdenciários rurais. O Fundo
passou a ser financiado através da cobrança da alíquota de 1% do
valor dos produtos agropecuários comercializados.

1971 Neste ano foi criado o PRORURAL– Programa de


Assistência ao Trabalhador Rural pela Lei Complementar nº 11.
O FUNRURAL passou a ter personalidade jurídica de entidade
autárquica e foi imbuído a dar execução ao PRORURAL, cuja
finalidade era prestar os benefícios previdenciários ao homem do
campo. A partir de então, começou-se a cobrar a alíquota de 2%
incidente sobre a comercialização dos produtos rurais para o
financiamento do fundo.

1988 Com a promulgação da Constituição Federal ocorreu


uma unificação das previdências urbana e rural. Pôs-se um fim ao
tratamento diferenciado. A Carta Maior ordenou que toda a
sociedade iria contribuir de forma direta e indireta para o
financiamento da seguridade social, e, para tanto, promoveu uma
grande ampliação nas fontes de captação dos recursos a ela
destinados. Definiu que, a partir de então, não se faria mais
distinção entre beneficiários urbano ou rural, organizando a
seguridade social com base na uniformidade e equivalência dos
benefícios e serviços às populações urbanas e rurais. Padronizou
fontes de custeio. Para os empregadores urbanos e rurais impôs
uma contribuição linear sobre a folha de salário de seus
empregados. Para o segurado especial, o Constituinte, sabedor de

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sua situação vulnerável, e que em sua grande maioria não tinha
renda para fazer sequer as contribuições individuais à
previdência, determinou que sua inclusão no sistema seria
automática, mas toda vez que estes segurados comercializassem
algum produto rural lhes seria cobrado percentual sobre o
resultado da comercialização. Pela lógica principiológica
inaugurada pela Constituição Federal da unificação do sistema e
da padronização das fontes de custeio, o FUNRURAL foi extinto.

1989 As normas programáticas editadas na Constituição


Federal demorariam, evidentemente, alguns anos para serem
executadas. Contudo, já em 1989, a Lei nº 7.787, determinou em
seu art. 3º, §1º, que a partir de 01/09/1989 estavam suprimidas
as contribuições ao PRORURAL. A lei apenas declarou o que
Constituição Federal havia previsto programaticamente. Mas, a
contribuição incidente sobre o resultado da comercialização dos
produtos rurais continuou sendo cobrada, então, arbitrariamente,
por força da Orientação de Serviço IAPAS/SRP 230/89, editada
alguns dias após a Lei 7.787/89.

1991 Através das Leis nº 8.212 e 8.213 foram inaugurados


o Plano de Custeio e o Plano de Benefícios da seguridade social,
em obediência às normas programáticas da Constituição Federal
em 1988. O art. 25 da Lei 8.212 determinava que os segurados
especiais deveriam pagar uma contribuição social incidente sobre
o resultado da comercialização dos produtos rurais e os
empregadores, em geral, sobre a folha de salários de seus
empregados. A Lei 8.213 fez um registro por escrito, em seu art.
138, de que estava extinto o regime de previdência social
instituído pela Lei Complementar nº 11/71. Todavia, tal regime,
como mencionado anteriormente, já não havia sido recepcionado
pela Constituição Federal de 1988, que instituiu um regime único
de previdência.

1992 Numa manobra astuta, o art. 1º da Lei nº 8.540, sem


permissão constitucional, modificou a redação do art. 25 da Lei
8.212 e incluiu o empregador rural pessoa física, ao lado do
segurado especial, entre os sujeitos passivos obrigados a recolher

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a contribuição social sobre a comercialização da produção rural. O
STF declarou a inconstitucionalidade do art. 1º da Lei 8.540/92 na
ocasião do julgamento do RE 363.852-1, em 03/02/2010. Parte da
jurisprudência dos Tribunais vinha se posicionando no sentido de
que a Lei nº 8.540 havia trazido novamente ao sistema a
contribuição instituída pela Lei Complementar nº 11. Com a
decisão do STF, este entendimento foi vencido. A norma é
inconstitucional. O Tributo é inconstitucional para os
empregadores rurais.

1994 O art. 25 da Lei 8.870/94 pegou carona com o art. 1º


da Lei nº 8.540 e ampliou a cobrança da contribuição social sobre
a comercialização dos produtos rurais também para os
empregadores rurais pessoa jurídica e para às agroindústrias,
quanto ao valor estimado da produção agrícola própria.

1996 No dia 18/12/1996, o STF, no julgamento da ADIn


1103/DF, declarou inconstitucional o §2º da Lei 8.870/94 que
estendia a cobrança da contribuição social para às agroindústrias.
No acórdão, os Ministros da Corte deixaram claro que o
reconhecimento da inconstitucionalidade geral do tributo só não
foi feito a todos os demais sujeitos passivos, à exceção do
segurado especial, por falta de pertinência processual, porque
somente os representantes das agroindústrias pleitearam.

1998 A Emenda Constitucional nº 20 fez alterações


periféricas no art. 195 da Constituição Federal, mas não modificou
a essência do inciso I e do §8º do referido artigo.

2001 Nesse ano, o Executivo Federal conseguiu que o


Congresso Nacional aprovasse a Lei nº 10.256, revogando os
dispositivos que haviam sido declarados inconstitucional pelo STF
na ADIn 1103-1 e que, sorrateiramente, permitia ao FISCO
prosseguir cobrando a contribuição social sobre o resultado da
comercialização dos produtos rurais dos empregadores rurais. É
que através de uma alteração na redação do art. 25 da Lei nº
8.212, em que se referiu de forma inequívoca que o empregador
rural pessoa física, em substituição ao pagamento sobre a folha de

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salários, deveria contribuir assim como o segurado especial,
conseguiu manter a dita exação no sistema. Conseguiu ainda
manter a cobrança do tributo para a pessoa jurídica, alterando,
também o art. 25 da Lei nº 8870/94. Contudo, o Governo deixou
de cobrar o tributo dos empregadores rurais pessoa jurídica,
passando, até mesmo, a restituir administrativamente, em forma
de créditos, os valores cobrados.

2008 A Lei nº 11.718 inseriu no art. 25 da Lei 8.212/91 os


parágrafos 10 e 11 suprindo uma falha muito alegada em Juízo: a
falta de Fato Gerador definido em lei. É que, até então, o fato
gerador do tributo estava irregularmente disciplinado em ato do
Poder Executivo, em contrariedade com o art. 97, inciso III e art.
114, ambos do CTN.

2010 O Supremo Tribunal Federal, ao finalizar o julgamento


do RE 363.852-1, em 03/02/2010, reconheceu incidenter tantum,
a inconstitucionalidade do art. 1º da Lei nº 8.540/92,
desobrigando, assim, as partes daquele processo, do recolhimento
da contribuição incidente sobre a comercialização dos produtos
rurais. Os fundamentos pelos quais o Supremo Tribunal Federal
julgou procedente o RE 363.852-1 revelam que a exação tributária
em comento, cobrada dos empregadores rurais, é inconstitucional
desde a vigência da Constituição Federal de 1988.

(3) DA EXTINÇÃO DO FUNRURAL OPERADA


PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988.

A Constituição Federal Brasileira erigida no ano de


1988 unificou os regimes de previdência social urbana e rural,
redesenhando e ampliando as fontes de custeio do sistema,
organizando-as de forma padronizada.

Na relação padronizada das fontes de custeio da


seguridade social não constou o arquétipo legal que contemplasse
as contribuições destinadas ao PRORURAL.

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Além disso, a CF88 digitou regras rígidas ao Sistema
Tributário Nacional, impondo várias limitações ao Poder de
Tributar. Tais normas não permitiam a continuidade da cobrança
de qualquer exação tributária que estivesse em dissonância com o
comando constitucional.

O FUNRURAL tinha incompatibilidades de caráter


material com os preceitos inaugurados pela Carta Magna, pois se
utilizava de elementos que o texto constitucional não autorizava,
tais como base de cálculo e sujeito passivo conflitantes, e, acima
de tudo, significava a continuidade de um sistema de previdência
bipartido e diferenciado, em total contradição com o objetivo
constitucional da unificação do sistema. Desta forma, o
FUNRURAL não foi recepcionado pelo Constituinte.

Na nova seguridade social unificada, as fontes de


custeio foram elencadas em tipos constitucionais equânimes e
rígidos, conforme será visto no tópico seguinte.

(4) DOS ARQUÉTIPOS CONSTITUCIONAIS


PADRONIZADOS

A Constituição Federal determinou em seu art. 195 que


a seguridade social seria financiada por toda sociedade, de forma
direta e indireta, através de recursos provenientes dos poderes
públicos e dos particulares.

Dentre os recursos provenientes dos particulares, o


Constituinte elencou possibilidade da cobrança de contribuições
sociais. Todavia, somente estava autorizada cobrança das
contribuições sociais que se amoldassem aos arquétipos
constitucionais padronizados por art. 195 da CF:

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Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na


forma da lei, incidentes sobre: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho


pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe
preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998)

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não


incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas
pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

III - sobre a receita de concursos de prognósticos;

IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a


ele equiparar; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de
19.12.2003)

Convém-nos dar foco ao empregador rural, por isso


pusemos em negrito, na citação acima, as alíneas do inciso I do art.
195 da CF. É que a Constituição Federal foi taxativa, enumerando
em numerus clausus as hipóteses de cobrança de contribuição
social dos empregadores, no supramencionado inciso, com a
finalidade de financiar a seguridade social.

Face a isso, os empregadores rurais e urbanos não


estão compelidos a pagar tributos cujo arquétipo legal não esteja
previsto no inciso I do art. 195 da CF. A contribuição incidente
sobre o resultado da comercialização dos produtos rurais não está
elencada como base de cálculo para contribuição social dos
empregadores urbanos e rurais.

15
Os segurados especiais, por sua vez, não são
empregadores rurais. Poderiam estar enquadrados no inciso II do
art. 195, mas, por conta de situação peculiar de ter parcos
recursos financeiros, recebeu uma proteção constitucional
especial do Constituinte, conforme será visto a seguir.

(5) DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL ESPECIAL DOS


SEGURADOS ESPECIAIS

A Constituição Federal insculpiu, em seu art. 195, §8º,


uma exceção aos arquétipos legais padronizados do art. 195,
incisos I e II, instituindo uma modalidade de tributação exclusiva
para o segurado especial. Determinou que:

§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o


pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam
suas atividades em regime de economia familiar, sem
empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social
mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da
comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos
da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

A exceção constitucional tem sua razão de ser e será


vista no tópico seguinte.

Visualize-se, neste momento, que ao prever a


incidência de uma tributação exclusiva, em exceção e substituição
àquelas formas de tributação que estão padronizadas na regra
geral do art. 195, incisos I e II, para um sujeito passivo
diferenciado, a Carta Magna foi específica e restringiu a aplicação
do art. 195, §8º, à situação lá descrita.

Não houvesse tal exceção, o sujeito passivo do art. 195,


§8, participaria do sistema pela a incidência do art. 195, incisos I
ou II, da CF. Assim, caso a Lei Maior tivesse pretendido dar
incidência da tributação referida no §8º a outros sujeitos passivos,
além do segurado especial, teria ampliado, e não restringido, os
destinatários do §8º do art. 195 do Diploma Constitucional.

16
Agora, para que se possa compreender o porquê desta
forma de tributação exclusiva do segurado especial, é preciso se
voltar às razões do §8 do art. 195 da Constituição Federal.

(6) AS RAZÕES DO ART. 195, §8º, DA CF/88

O art. 195, §8º, da CF/88, é reservado em caráter


exclusivo ao agricultor segurado especial porque este é um
segurado que possuiu poucos recursos financeiros e, por óbvio,
(a) não tem empregados; e (b) não é pessoa jurídica (ou entidade
a ela equiparada). E que não tem, portanto, como contribuir sobre
apuração de (1) folha de salários; (2) faturamento ou receita; ou
(3) lucro, previstos no art. 195, inciso I, alíneas “a”, “b” e “c”.

Nesse sentido a manifestação do Ministro Cesar Peluso


no julgamento do RE 363.852-1.

Ora, a contribuição sobre o resultado da comercialização da


produção rural, objeto do 195, §8º, existe precisamente porque seu
destinatário, o produtor rural sem empregados permanentes não
pode, por óbvio, contribuir sobre folha de salários, faturamento
ou receita, já que não dispõe de empregados nem é pessoa
jurídica ou entidade a ela equiparada. Logo, é imediata a
conclusão de que o sujeito passivo, previsto da parte inicial do artigo
25, não entra na exceção do 195, §8º, reservada em caráter
exclusivo ao segurado especial que recebe proteção
constitucional por conta de sua vulnerabilidade sócio-
econômica. (Voto do Ministro Cezar Peluso, em plenário, no
julgamento do RE 363.852-1, em 03/02/2010, gravado pela
TVJUSTIÇA, disponível em http://www.youtube.com/watch?v= Ni_bGu
1N8G0, [03:45 a 11:33])

Na mesma linha, o Relator Ministro Marco Aurélio:

A razão do preceito é única: não se ter, quanto aos nele referidos, a


base para a contribuição estabelecida na alínea “a” do inciso I
do artigo 195 da Carta, isto é, a folha de salários. Daí a cláusula
contida no § 8º em análise “... sem empregados permanentes...”. (Voto
do Relator Ministro Marco Aurélio no RE 363.852-1 STF em
17.11.2005. Arquivo em anexo)

17
Mas não apenas isto. O segurado especial também
não tem condições financeiras de contribuir na forma do art. 195,
inciso II, para si e para toda sua família. E, para que não ficasse à
margem do sistema, sem direito aos benefícios da previdência
social, anotou a Constituição que a única forma pelo qual este
poderia participar do custeio, seria através do recolhimento de
percentual sobre o resultado toda vez que comercializasse seus
produtos rurais. E isto é o que foi feito.

O Ministro Eros Grau em seu voto no julgamento do RE


363.852-1, ressaltou, a propósito, essa realidade:

10. Os maiores focos de sonegação de contribuição previdenciária


ocorriam, naquela época, no meio rural. Decorriam da dificuldade de
fiscalização e controle das atividades exercidas pelos trabalhadores,
bem assim da impossibilidade de acesso dos rurícolas ao
sistema e da falta de recursos financeiros daqueles cuja
produção era afetada por intempéries. 11. A Lei n. 8.212/91
corrigiu essa distorção, instituindo contribuição diferenciada para o
produtor rural pessoa física e para o segurado especial, de modo que
passassem efetivamente a contribuir para o sistema, reduzindo-se a
sonegação. (Voto do Ministro Eros Grau no RE 363.852-1 STF em
30.11.2006. Arquivo em anexo)

Portanto, a forma de tributação e o sujeito passivo


previstos no art. 195, §8º, da CF/88, existem (1) porque o
segurado especial não tem como contribuir nos arquétipos legais
dos incisos I e II do art. 195 da CF/88; e (2) para corrigir uma
distorção sócio-econômica que deixava os agricultores em regime
de economia familiar à margem do sistema.

(7) DOS VÍCIOS DE ILEGALIDADE E DE


INCONSTITUCIONALIDADE DO TRIBUTO

Uma vez compreendidos o ideal de unificação da


seguridade social, a padronização das fontes de custeio e a
exceção deferida ao segurado especial, previstas na Constituição

18
Federal, passa a demonstrar onde estão os vícios de ilegalidade e
de inconstitucionalidade da exação tributária em comento.

Ao estender a incidência da contribuição social do art.


195, §8º, da CF/88, específica dos segurados especiais, ao
empregador rural pessoa física, o art. 25, incisos I e II, da lei
8.212/91, com última redação dada pela lei 10.256/01,
transbordou os limites da constitucionalidade.

Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em


substituição à contribuição de que tratam os incisos I e II do art. 22, e
a do segurado especial, referidos, respectivamente, na alínea a do
inciso V e no inciso VII do art. 12 desta Lei, destinada à Seguridade
Social, é de: (Redação dada pela Lei nº 10.256, de 2001).

I - 2% da receita bruta proveniente da comercialização da sua


produção; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97).

II - 0,1% da receita bruta proveniente da comercialização da sua


produção para financiamento das prestações por acidente do
trabalho. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97).

Veja que o caput do artigo está equiparando e


determinando a dois sujeitos passivos distintos (o empregador
rural pessoa física e o segurado especial) o recolhimento da
mesma contribuição social: 2,1% sobre a receita bruta
proveniente da comercialização dos produtos.

Quanto ao segurado especial, a forma de tributação


obedece ao disposto no art. 195, §8º, da CF, mas, quanto ao
empregador rural pessoa física, que, por óbvio, não é segurado
especial, o citado artigo inovou.

(7.1) Falta de previsão constitucional

É que o arquétipo legal pelo qual o empregador rural


pessoa física deveria participar do financiamento da seguridade
social está bem definido no art. 195, inciso I, alínea “a”, da CF, ou
seja, sobre a folha de salários. Mas, ao invés de contribuir como
deveria, o empregador rural pessoa física foi compelido pelo art.
25 da Lei nº 8.212/91, a financiar a seguridade social através do
19
resultado da comercialização de seus produtos rurais, assim como
o segurado especial, nos moldes do art. 195, §8º, da CF.

Por óbvio a legislação ordinária que instituiu tal exação


tributária se encontra irremediavelmente viciada de
inconstitucionalidade. A Constituição Federal definiu os
arquétipos legais do sistema tributário justamente para balizar o
legislador infraconstitucional. Quando este legislador inferior
determina que o empregador rural pessoa física deixará de
contribuir sobre a folha de salários e contribuirá da mesma forma
que o segurado especial, sobre o resultado da comercialização de
seus produtos, ele está instituindo um tributo sem previsão
constitucional, ultrapassando os limites a que deveria se ater, pois
não cumpre o disposto no art. 195, inciso I, alínea “a”, da CF.

(7.2) Extensão do tributo a sujeito passivo diverso

O tributo não guarda subsunção com o art. 195, inciso


I, alínea “a”, da CF, como deveria ser. Guarda subsunção com o
arquétipo legal do §8º do mesmo artigo, destinado exclusivamente
ao segurado especial. Tal subsunção é evidente. O art. 25 da Lei
8.212/91 colocou o empregador rural pessoa física ao lado do
segurado especial, mandando que recolhesse, inclusive, a mesma
alíquota sobre a mesma base de cálculo. Com isso, a legislação
ordinária, sem autoridade constitucional, estendeu um tributo
destinado constitucionalmente ao segurado especial a um sujeito
diverso, ao arrepio de sua legalidade.

(7.3) Nova fonte de custeio inconstitucional

Portanto, a substituição operada pelo art. 25 da Lei nº


8.212/91 não se encaixa no sistema. Além disso, determinar ao
empregador rural pessoa física que faça recolhimento de uma
contribuição social que não se amolda ao art. 195, inciso I, alínea
“a”, nem ao art. 195, §8º, ambos da CF, a legislação impugnada
está inaugurando nova fonte de custeio para a seguridade social.

20
Ocorre que para se instituir nova fonte de custeio para
a seguridade social se deve obedecer as balizas do art. 195, §4º e
art. 154, inciso I, da CF, segundo as quais somente através de Lei
Complementar se pode instituir um novo tributo. Portanto, no
caso concreto, a instituição da contribuição social e todas as suas
modificações legislativas posteriores foram operadas por lei
incompetente.

Nas palavras do Ministro Cesar Peluso, no julgamento


do RE 363.852-1, substituição válida do sujeito passivo de um
tributo somente pode ser determinada através de Lei
Complementar.

Parece evidente, como se disse, a necessidade de lei


complementar para válida instituição do tributo. É falsa, com o
devido respeito, a idéia de que seria mera sucessora do FUNRURAL, e
como tal, modificável por lei ordinária. É que a contribuição não
extrai seu fundamento de validade ao 149, nem tampouco às fontes
padronizadas de custeio do 195, I. Em última análise, a legislação
impugnada pretendeu aplicar diretamente a previsão do 195, §8, a
sujeitos passivos diversos daqueles em relação aos quais a
Constituição autorizou a incidência, substituição válida reclamaria
exatamente por isso, lei complementar nos termos do 195, §4º,
que havia a contribuição, tal como criada, não pode sustentar-se quer
no inciso I do 195, quer no seu parágrafo 8º. Mas não foi o que se
deu. (Voto do Ministro Cezar Peluso, em plenário, no julgamento do RE
363.852-1, em 03/02/2010, gravado pela TVJUSTIÇA, disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=Ni_bGu1N8G0, [03:45 a 11:33])

A instituição da nova fonte de custeio, ainda, deve ser


não-cumulativa, não pode ter o mesmo fato gerador ou base de
cálculo de contribuições já discriminadas constitucionalmente.
Não obstante, tivesse obedecido a estes comandos constitucionais,
ainda assim, padeceria de inconstitucionalidade, pois a situação é
ainda mais grave.

(7.4) Falta de isonomia e equidade tributária

É que ela desnuda uma ofensa ao princípio da


isonomia, já que, enquanto os empregadores urbanos pessoa física
fazem sua contribuição para a seguridade social através da folha

21
de salários de seus empregados, os empregadores rurais pessoa
física tem que contribuir sobre o resultado da comercialização de
seus produtos rurais, o que acaba configurando uma situação
muito mais onerosa e desfavorável ao homem do campo.

A exação tributária, nesses moldes, fere princípio da


isonomia e da equidade na forma de participação do custeio da
seguridade social, porque distingue o contribuinte rural do
contribuinte urbano.

O art. 150, inciso II, da Constituição Federal condena a


instituição de tratamento desigual aos contribuintes:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se
encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção
em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos,
títulos ou direitos

A situação ainda se agrava em relação às pessoas


jurídicas agroindustriais que, por ocasião da ADIn 1103,
obtiveram provimento junto ao STF para restaurar sua
contribuição sobre a folha de salários ao invés de pagar sobre o
valor estimado da produção agrícola.

Nesse sentido, a manifestação do Ministro Cesar Peluso


no julgamento do RE 363.852-1.

Além disso, com a base de cálculo adotada o empregador rural


pessoa física recebe um tratamento tributário desfavorável em
relação aos contribuintes não rurais que contribuem apenas sobre as
fontes de valores previstas nas alíneas do 195, I, o que desnuda uma
ofensa ao principio da isonomia. Assim, o 150, II, é atingido
gravemente com 194, V, que estabelece a equidade na forma de
participação do custeio. E pior, o desfecho da ADIn 1103, relatada
pelo Ministro Mauríco Corrêa, torna a situação duplamente
iníqua porque a declaração de inconstitucionalidade da base de
cálculo da contribuição aos produtores rurais pessoas jurídicas
agroindustriais que o 25, §2, da lei 8870 que a definia valor estimado

22
da produção agrícola restaurou a incidência sobre a folha de salário.
Isso importa em tratamento desigual ao produtor rural pessoa
física cuja situação jurídica se torna desvantajosa, tanto em
relação aos empregadores urbanos quanto às agroindústrias.
(Voto do Ministro Cezar Peluso, em plenário, no julgamento do RE
363.852-1, em 03/02/2010, gravado pela TVJUSTIÇA, disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=Ni_bGu1N8G0, [03:45 a 11:33])

O professor Francisco de Assis e Silva demonstra o


porquê esta forma de tributação é muito mais onerosa e
desfavorável ao contribuinte empregador rural pessoa física do
que ao empregador urbano pessoa física.

Apenas para se ter uma idéia da discrepância arrecadatória, sob


qualquer análise, é sabido que, por exemplo, para a criação de gado,
para Cada 1.000 Rezes na Fazenda, a empresa vai depender de 1 a no
máximo 2 Empregados. Portanto se a em uma Fazenda de 100 mil
cabeças de Gado, ter-se-ia, 100 Empregados. Com média salarial de
R$ 1.000,00 cada qual, Ter-se-ia uma folha de salários de R$
100.000,00. Com isto, uma Contribuição Normal sobre a Folha em
torno de R$ 28.000,00. A mesma Fazenda atendendo a Lei e
recolhendo pelo FUNRURAL, em substituição à Folha, ao vender sua
produção de 100.000 cabeças de Gado, ao preço de R$ 59,00 ( preço
São Paulo em 27/02/04), haveria de recolher aos cofres da
previdência, 2,1% sobre o valor da Venda, haveria de recolher aos
Cofres da Previdência algo em torno de R$ 1.982.400,00. Ou seja,
infinitas vezes sobre o Valor que deveria recolher com Base na
FOLHA de salários. Os contornos Legislativos vêm se tornando
polêmicos na medida em que o Resultado Financeiro do Produto
Rural, nem sempre realiza um lucro superior a 2%, e com isto há
muito questionamento acerca da Justiça Fiscal da referida
Contribuição. Embora o produtor Rural, pessoa Física que tenha
empregados, recolha não mais sobre 20% da folha e sim 2% da
produção, ainda assim, por qualquer cálculo simples, concluiremos
que a exação será muito superior. (Acesso em 03/03/2010.
Conteúdo do site www.agricont.com.br/artigos/funrural.htm)

Quando a Constituição Federal autorizou a incidência


de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da
produção rural, assim fez porque o agricultor segurado especial
gera pequenas receitas com sua produção. E, por isso, tal alíquota
se equivaleria às contribuições dos demais contribuintes do
sistema. Mas, ao aplicar tal alíquota aos demais produtores rurais,
os 2,1% se tornam uma fortuna. E como disse o professor

23
Francisco de Assis e Silva, muitos produtores não chegam a ter 2%
de lucro em sua produção agrícola.

(7.5) Exação confiscatória

A cobrança da contribuição social, em muitos casos,


torna-se um verdadeiro CONFISCO, porque o produtor rural
encerra sua colheita sem lucro algum e ainda fica devendo para os
bancos que financiaram sua produção e, mesmo assim, o FISCO
impõem cobrança ilegal, confiscando-lhes vultuosa quantia em
dinheiro.

A manutenção da exação tributária nos moldes que se


encontra não observa a proporcionalidade e a capacidade
contributiva, em afronta aos princípios digitados no art. 5º, inciso
LIV, e no art. 145, §1º, ambos da CF.

Além de retroagir ao regime diferenciado de


previdência social que existia antes da Constituição Federal de
1988, em dissonância com o princípio insculpido no inciso V do
§único do art. 194 da Lei Maior, manter esse encargo ao homem
do campo é ser conivente com a ocorrência de verdadeiros
CONFISCOS dissimulados pela roupagem de contribuição
social, num atentado ao preceito do art. 150, inciso IV, da CF.

(7.6) Fato Gerador não previsto em lei

Outra situação que atenta contra a legalidade do


tributo é que seu Fato Gerador não está definido por lei, como
manda o art. 97, inciso III, e art. 114, ambos do CTN, mas sim por
regulamento do Poder Executivo, art. 241 e 224 da Instrução
Normativa MSP/SRP nº 3 de 14/07/2005. Tal conclusão foi
lançada pelo Ministro Eros Grau em 2006 em seu voto no RE
363.852-1.

22. A Lei n. 8.212/91 não determina, no entanto, o fato gerador da


obrigação tributária. Este elemento da regra-matriz de incidência
está descrito em textos normativos emanados do Poder Executivo, o

24
que se não pode admitir visto que excede os limites da função
regulamentar que lhe fora conferida pela lei.
23. Os arts. 241 a 244 da Instrução Normativa MSP/SRP n. 3, de 14
de julho de 2005, definem o fato gerador da contribuição: (...)
24. Em matéria tributária --- e dessa matéria cuida-se nestes autos ---
a legalidade prevalece em termos absolutos. Não há espaço, no que
concerne à obrigação tributária principal, para o exercício, pelo
Poder Executivo, de qualquer parcela de função regulamentar.
25. Nenhum dos preceitos da Lei n. 8.212/91 autoriza ou poderia
autorizar o Poder Executivo a determinar, por ato seu, no exercício
de função regulamentar, o fato gerador da contribuição social. O
Código Tributário Nacional estabelece, em seu art. 97, III e 114, que
somente a lei pode fixar o fato gerador de tributo.
26. Daí porque se torna impossível a exigência do tributo dos
empregadores rurais pessoas físicas e dos segurados especiais.
(Voto do Ministro Eros Grau no RE 363.852-1 STF em 30.11.2006.
Arquivo em anexo)

Contudo, o Executivo Federal conseguiu através do art.


9º, da Lei nº 11.718/08, modificar a Lei nº 8.212/91 e regularizar
esta situação, incluindo os parágrafos 10 e 11, em que define o
fator gerador do tributo.

Mas até a data da edição da Lei 11.718, de 20 de junho


de 2008, o tributo execrado era cobrado ao arrepio do CTN, até
mesmo para os segurados especiais.

A partir da referida data, 20/06/2008, ele passou a ser


exigível sem vício apenas do segurado especial, pois para os
demais contribuintes, mesmo depois do dia 20/06/2008, continua
eivado de inconstitucionalidade.

Não se pode, ainda, validar o tributo para o período


anterior a 20/06/2008; pois, no sistema constitucional brasileiro,
não existe tributo retroativo, nem legalidade superveniente.

(7.7) Vício de interpretação

Face às evidencias de que a contribuição social em


destaque não se amoldava aos pressupostos constitucionais do
sistema tributário, a União Federal tentou validar sua cobrança
argumentando no RE 363.852-1 que a autorização constitucional
25
não era dada pelo art. 195, §8º, mas sim pelo art. 195, inciso I,
alínea “b”, ambos da CF, porque faturamento e receita bruta se
equiparavam.

Isto é, o resultado da comercialização da produção


rural, chamada de “receita bruta” pelo art. 25 da Lei nº 8.212/91,
com redação dada pela Lei nº 10.256/01, se equipara a
faturamento, previsto no art. 195, inciso I, alínea “b”, da Lei Maior.

Ora, basta raciocinar que, se a base de cálculo prevista


no art. 25 da Lei nº 8.212/91 é a mesma para o segurado especial
e o empregador rural pessoa física, ou ambos estão autorizados
pelo art. 195, §8º, ou ambos estão autorizados pelo art. 195, inciso
I, alínea “b”, da CF. Se a União Federal diz que o empregador rural
pessoa física paga o tributo face à previsão do art. 195, inciso I,
alínea “b”, da CF, a mesma norma então se aplica ao segurado
especial, não havendo o porquê existir o §8º da Lei Maior, como
aduziu o Relator Ministro Marco Aurélio no RE 363.852-1:

Ora, como salientado no artigo de Hugo de Brito Machado e Hugo de


Brito Machado Segundo, houvesse confusão, houvesse sinonímia
entre o faturamento e o resultado da comercialização da produção,
não haveria razão para a norma do § 8º do artigo 195 da Constituição
Federal relativa ao produtor que não conta com empregados e exerça
atividades em regime de economia familiar.

No mesmo julgamento, o Ministro Eros Grau se


reportou ao fato de que tal argumento já fora rechaçado em
situações análogas, porque, sobre a base de cálculo do art. 195,
inciso I, alínea “b”, já incidem o PIS e a COFINS, com autorização
constitucional expressa. Caso quisesse o constituinte que mais
uma contribuição social incidisse sobre a mesma base de cálculo
teria sido igualmente taxativo:

31. Quanto ao argumento de equivalência entre as expressões,


“receita bruta” e “resultado da comercialização da sua produção”,
lembre-se o recente posicionamento do Tribunal no julgamento dos
Recursos Extraordinários ns. 346.084, 358.273, 357.950 e
390.840, sessão do dia 09.11.2005, que trataram de questão
análoga com relação à base de cálculo do PIS e da COFINS.

26
32. Aqui a amplitude das expressões é ainda maior, uma vez que
“receita bruta” é espécie do gênero “resultado”, que por sua vez não
pode ser equiparado a “faturamento”.

Por fim, o Ministro Cesar Peluso, afirmando que


resultado é conceito distinto de faturamento:

A posição invocada pela recorrida, segundo o qual o


faturamento e receita bruta seriam conceitos indistintos já foi
categoricamente rechaçado pelo Tribunal. Não vinga tentativa de
equiparação proposta pela Fazenda no sentido de que a contribuição
incide exclusivamente sobre a comercialização da produção rural, ou
seja, sobre a receita propriamente dita e nada mais. Ainda que na
prática o universo factualmente submetido à tributação pelo
faturamento pudesse ser idêntico em certos casos ao conjunto de
fatos abrangidos pelo critério resultados ou receitas, essa não seria a
razão jurídica apta a corrigir a inconstitucionalidade originária e
insanável na norma que transbordou dos limites a que deveria ater-
se. Ainda que a extensão da efectualidade da contribuição fosse
exatamente a mesma, atingindo grandeza coincidente com o
faturamento, a inconstitucionalidade residiria na incompatibilidade
entre a definição intencional e o comando do texto Constitucional.
Em outras palavras, embora possa ter o legislador ao visar o
resultado atingido involuntariamente algo semelhante a
faturamento, a inconstitucionalidade da instituição do tributo
não se desvanece, e como bem apontou o Ministro Eros Grau, a
hipótese revela distorção ainda mais grave do que aquele em
que pretende equiparar faturamento à receita bruta, pois o que
se sugere aqui é igualar faturamento a resultado, conceito mais
amplo do que receita, embora a lei 8.212 tenha empregado
eufemisticamente o vocábulo receita bruta ao instituir a exação do
25, I e II. (Voto do Ministro Cezar Peluso, em plenário, no julgamento
do RE 363.852-1, em 03/02/2010, gravado pela TVJUSTIÇA, disponível
em http://www.youtube.com/watch?v=Ni_bGu1N8G0, [03:45 a 11:33])

A equiparação mencionada entre faturamento e receita


bruta afronta o art. 110 do CTN, segundo o qual:

Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o


alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado,
utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal,
pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito
Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências
tributárias.

27
Como dito no voto do Ministro Eros Grau, a questão já
foi resolvida pela corte em casos análogos, em que ficou assentado
que o legislador quando quis que as duas contribuições sociais
incidissem sobre a mesma base de cálculo, ele mesmo estabeleceu
o modelo, assim como fez com a COFINS e o PIS. Portanto, se o
Constituinte assim quisesse teria registrado que o art. 195, inciso
I, alínea “b”, é a base de cálculo para a COFINS, o PIS e também
para o “FUNRURAL”. Mas não o fez, até porque o FUNRURAL foi
extinto em 1988.

(7.8) Afronta ao Valor Social do Trabalho e ao


Objetivo Constitucional do Desenvolvimento Nacional

A contribuição social incidente sobre o resultado da


comercialização da produção rural, como foi visto, está eivada de
vício inconstitucional quanto à sua conformação no Sistema
Tributário Brasileiro.

Mas ela também é conflitante com os princípios


constitucionais do Valor Social do Trabalho, art. 1º, inciso IV, e do
Desenvolvimento Nacional, art. 3º, inciso II, ambos insculpidos na
Carta Magna.

Ao instituir um tratamento tributário mais oneroso ao


empregador rural, a norma desestimula a geração de empregos e
a expansão de atividades econômicas, conformando o produtor a
resignar-se com rendas de mera subsistência.

A tributação agressiva patrocina o atraso no


desenvolvimento nacional. Ao invés de investir em subsídios e
apoio material, o Poder Público investe na espoliação do homem
do campo.

O próprio Ministro Cesar Peluso, em seu voto, lido em


plenário no dia 03/02/2010, no julgamento do RE 363.852-1,
convenceu-se de que a existência do tributo traiçoeiro no sistema
brasileiro era uma armadilha:

28
Por fim, é forçoso reconhecer que a norma em questão embora a
todo efeito não fosse suficiente para caracterizar, por si só, a sua
inconstitucionalidade, é contraproducente porque incentiva o
produtor rural a resignar-se a viver das rendas de mera subsistência.
É inegável que o produtor pessoa física sem empregados que
pretenda permanecer como tal ou não consiga expandir suas
atividades, se deve garantir um tratamento tributário diferenciado
condizente com sua realidade adversa. Daí a razão de ser do 195, 8.
Advirta-se, contudo, que se esse produtor, numa ambição mínima de
progresso econômico, contratar funcionário e gerar empregos, será
punido pela incidência mais gravosa, porque além de pagar sobre o
resultado da produção, instituída, como mostramos, sem apoio da
Constituição, contribuirá, também, sobre a folha de salários, em
exação de questionável constitucionalidade sobre o faturamento.
Cuida-se de genuína armadilha contra a produção e o emprego,
atingindo preceitos tão importantes quanto o valor social do
trabalho e o objetivo fundamental do desenvolvimento
nacional.” (Voto do Ministro Cezar Peluso, em plenário, no julgamento
do RE 363.852-1, em 03/02/2010, gravado pela TVJUSTIÇA, disponível
em http://www.youtube.com/watch?v=Ni_bGu1N8G0, [03:45 a 11:33])

Por estas razões principais, a exação tributária do art.


25, inciso I e II, da Lei 8.212/91, foi declarada inconstitucional no
dia 03/02/2010, à unanimidade, pelos Ministros do STF reunidos
em plenário para o julgamento do RE 363.852-1.

Resumo.

Com isso, o art. 25, incisos I e II, da lei 8.212/91, com


redação dada pela lei 10.256/01, instituiu, de fato, (7.1) uma
tributação sem previsão constitucional, fora dos parâmetros
rígidos do arquétipo legal do art. 195, inciso I, aliena “a”, da CF;
(7.2) a extensão da contribuição prevista no art. 195, §8º, da CF, a
sujeito passivo que lá não estava previsto; (7.3) a inauguração de
uma nova fonte de custeio para a seguridade social através de lei
ordinária, embora somente se possa instituir uma nova fonte de
custeio através de Lei Complementar, nos termos do art. 195, §4º,
do art. 146, inciso II, e do art. 154, inciso I, todos da Constituição
Federal; (7.4) um tributo que não observa a isonomia entre os
contribuintes nem a equidade na forma de participação do
custeio, pois difere o empregador urbano do rural, onerando
excessivamente este último, em afronta aos princípios insculpidos

29
no art. 5º, inciso I, art. 150, inciso II, e art. 194, §único, inciso V,
todos da CF; (7.5) a cobrança de uma exação tributária que não
observa a proporcionalidade e a capacidade contributiva do
contribuinte, segundo o art. 5º, inciso LIV, e art. 145, §1°, ambos
CF, configurando-se, por vezes, numa situação de CONFISCO, ao
arrepio do princípio constitucional do não-confisco, forte art. 150,
inciso IV, da CF; (7.6) em desacordo com a legislação tributária
ordinária, já que desrespeitou o comando do art. 97, inciso III, e
art. 114, ambos do CTN, e definiu o Fato Gerador do tributo por
meio de regulamento do Poder Executivo, e não através de lei
(pelo menos até 20/06/2008); (7.7) um tributo que, em sua
interpretação, descumpre os limites impostos pelo art. 110 do
CTN; (7.8) um tributo que conflita com o valor social do trabalho,
presente no art. 1º, inciso IV, da CF, pois, como dito pelo Ministro
Cezar Peluso “cuida-se de genuína armadilha contra a produção e
o emprego”, que vai na contramão do princípio Constitucional do
Desenvolvimento Nacional, art. 3º, inciso II, da CF, já que, ao invés
de incentivar a produção rural, onera excessivamente e
desestimula o homem do campo.

(8) DA PESSOA JURÍDICA

Quanto ao produtor rural pessoa jurídica há poucas


palavras a serem ditas. Primeiro, porque o Poder Executivo
acolheu a tese de que sua cobrança é inconstitucional, após o
julgamento da ADIn 1.103. Segundo, porque as contribuições que
foram efetuadas até 2001, data da edição da Lei nº 10.256/01,
estavam sendo devolvidas pelo o governo através de processos
administrativos. Terceiro, porque, desde então, o Executivo parou
de cobrar a exação tributária das pessoas jurídicas.

Convém registrar, entretanto, que o art. 25 da Lei nº


8.870/94, com redação dada pela Lei nº 10.256/01, continua
aparecendo no sistema legislativo brasileiro como válida, embora
o FISCO FEDERAL não tenha feito sua cobrança.

30
Face a isso, pleiteia-se, neste mesmo processo de
cognição, que o judiciário seja uniforme em seu provimento e, ao
declarar o direito, diga-o também quanto à pessoa jurídica.

É que a Lei nº 10.256/01 não alterou apenas o art. 25


da Lei nº 8.212/91, alterou também o art. 25 da Lei nº 8.870/94,
dizendo o seguinte:

Art. 25. A contribuição devida à seguridade social pelo empregador,


pessoa jurídica, que se dedique à produção rural, em substituição
à prevista nos incisos I e II do art. 22 da Lei no 8.212, de 24 de julho
de 1991, passa a ser a seguinte: (Redação dada pela Lei nº 10.256, de
9.7.2001)
I - dois e meio por cento da receita bruta proveniente da
comercialização de sua produção;
II - um décimo por cento da receita bruta proveniente da
comercialização de sua produção, para o financiamento da
complementação das prestações por acidente de trabalho.

Mas essa modificação da Lei nº 10.256/01 na Lei nº


8.870/94 foi sorrateira e acabou não gerando efeito assim como
gerou quanto ao empregador rural pessoa física. O Professor
Francisco de Assis e Silva explica esta situação:

Veja-se que a esperteza governamental é vigorosa, que após a


edição da Emenda Número 20, Edita-se a Lei 10.256/2001, dando
uma nova roupagem à redação da Lei, para que o interprete
desatento, entenda que, se a Lei 10.256/2001 é posterior a Emenda
20, então teremos uma legitimação do Funrural. (...) Veja para o
FUNRURAL os contribuintes hão de ser: empregadores e produtores
rurais. Podem ser empregadores e produtores rurais, pessoas físicas
ou jurídicas. O Supremo só não estendeu a inconstitucionalidade
a todos, por falta de propriedade material processual eis que os
autores da ação eram representantes de entidades de pessoas
jurídicas. Após o Julgamento do STF, o INSS continuou exigindo até
julho de 2001 dita contribuição. Em procedimentos
administrativos, no entanto, tem acolhido a
Inconstitucionalidade declarada pelo Supremo, devolvendo aos
contribuintes, na forma de Créditos, os valores recolhidos
indevidamente. Mas, o acolhe somente em relação às Pessoas
Jurídicas. Como o Governo precisa arrecadar para conter o desfalque
constante nos cofres da Previdência, conseguiu que o Congresso
Nacional, aprovasse a Lei 10.256, que introduziu várias alterações da
Lei 8.212, inclusive Revogando os itens da Lei 8.870, que tinham sido

31
Declarados Inconstitucionais pelo Supremo. Mas, ao Editar a Lei
10.256, e revogar aquilo que já estava declarado inválido, o
Governo introduziu novamente o FUNRURAL, mexendo na
redação do Artigo 25, continuando a exigir de todos a
Contribuição para o FUNRURAL com base no valor da venda da
produção rural. Ignorou que o Supremo, ao Julgar a ADI 1103,
havia entendido que a Contribuição era Inconstitucional não por
ser dirigida à Pessoas Jurídicas (Interessados Processualmente na
ADI) mas, sim porque a exação feria os princípios e regras
constitucionais dantes mencionados. O Supremo não disse que o
FUNRURAL era inconstitucional para Pessoas Jurídicas. Declarou-o
Inconstitucional. (Acesso em 03/03/2010. Conteúdo do site
www.agricont.com.br/artigos/funrural.htm)

O Executivo Federal reconheceu, por sponte própria,


administrativamente, a inconstitucionalidade da cobrança do
tributo às pessoas jurídicas, que já pagam contribuição social
sobre todas as bases de cálculos possíveis prevista na Constituição
Federal. Senão vejamos, (a) sobre folha de salários a contribuição
conhecida como INSS; (b) sobre a receita ou faturamento, a
COFINS; e (c) sobre o lucro, a CSLL, não havendo mais espaço
para outra contribuição social, nos termos do art. 154, inciso I,
pois, segundo manifestação do STF no RE 228.321, a Constituição
Federal não consente com a incidência de mais de uma
contribuição previdenciária sobre o mesmo fato gerador ou base
de cálculo

Ademais, a cobrança da exação tributária às pessoas


jurídicas padece dos mesmos vícios de inconstitucionalidade em
sua instituição quanto ao empregador rural pessoa física, tendo
sido anotado basicamente na ADIn 1.103 que sua instituição foi
feita por lei incompetente e se utiliza de base de cálculo não
prevista na Constituição Federal.

Numa breve pesquisa feita junto aos responsáveis


legais pela retenção da contribuição social em comento e
contadores, de fato, este procurador verificou que na região de
Passo Fundo ninguém mais faz esta cobrança às Pessoas Jurídicas
há tempos.

32
Portanto, o Judiciário deve se manifestar quanto à
cobrança direcionada aos empregadores rurais pessoa jurídica
apenas para abranger pró-forma toda a inconstitucionalidade do
tributo, já que, efetivamente, ela não é mais cobrada há tempos.

(9) A EVIDÊNCIA DA PROCEDÊNCIA DE


TODAS AS ALEGAÇÕES: A proposta de Emenda
Constitucional nº 233/08
A evidência de que o próprio Executivo Federal
reconhece que a Contribuição Social incidente sobre o resultado
da comercialização rural está irremediavelmente viciada pela
inconstitucionalidade é que inseriu na prometida Reforma
Tributária, a proposta de Emenda Constitucional nº 233 de 2008,
em tramite atualmente na Câmara dos Deputados, que se desse a
seguinte redação ao §12º do art. 195 da CF:

§12º. Nos termos da lei, a agroindústria, as cerealistas, o produtor


rural pessoa física ou jurídica, o consórcio simplificado de
produtores rurais, a cooperativa de produção rural e a associação
desportiva podem ficar sujeitos a contribuição sobre a renda, o
faturamento ou o resultado de seus negócios, em substituição à
contribuição de que trata o inciso I do caput, hipótese na qual não
se aplica o disposto no art. 149, §2º, I.”

Por óbvio que, se a União Federal pretende inserir tal


premissa na Lei Maior, é porque ela não está lá, e, portanto, a
legislação ordinária que instituiu o referido tributo o fez sem
autorização constitucional. A confissão governamental é a prova
cabal do direito dos autores.

(10) NÃO EXISTE TRIBUTO RETROATIVO


NEM CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE.

No capítulo da Limitação do Poder de Tributar, a


Constituição Federal dispõe que é vedado cobrar tributos em
relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da
lei que os houver instituído (art. 150, inciso III, alínea “a”). Isto é,
não existe tributo retroativo.

33
Assim, mesmo que uma Emenda Constitucional venha
a ser aprovada, autorizado a cobrança de um tributo, não é
possível aplicá-la a fatos geradores pretéritos.

Tampouco existe constitucionalidade superveniente.


Se o tributo foi cobrado inconstitucionalmente de 2000 a 2010,
não se tornará constitucional no futuro.

Mesmo que uma Emenda Constitucional torne o tributo


constitucional, somente o faz a partir de então, pois à época tal
permissivo não existia. Pensar o contrário é o mesmo que permitir
ao Estado cobrar tributo retroativo.

Além disso, é um vitupério admitir que se possa


primeiro instituir um tributo inconstitucional, através de lei
ordinária, e depois fazer a Constituição Federal se adequar à lei. É
a lei que deve se adequar à Constituição e não o contrário.

A Constituição vem primeiro, as leis vêm depois.


Entender o contrário é ruir as bases sobre os quais está fundado o
Estado Democrático de Direito do Brasil e admitir sua falência.

(11) DO EFEITO VINCULANTE

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o mérito do


Recurso Extraordinário 363.852-1, cujo assunto foi classificado
como sendo de Repercussão Geral, aplicou à matéria um efeito
vinculante, efetivo ou virtual, tornando objetiva a declaração de
inconstitucionalidade, conforme as palavras do Presidente do
Tribunal, Ministro Gilmar Mendes:

Minha opinião coincide com a do Ministro Eros no que concerne a


essa tendência de objetivação do Recurso Extraordinário, e
especialmente agora nessa fase da Repercussão Geral, que
estamos a selecionar casos que, de fato, acabam tendo senão um
efeito vinculante efetivo, um efeito vinculante virtual, de modo
que, proclamo o resultado: o Tribunal, à unanimidade, conheceu e
deu provimento ao Recurso Extraordinário. (Manifestação do
Ministro Gilmar Mendes no Julgamento do RE 363.852-1, em

34
03/02/2010, gravado pela TVJUSTIÇA, disponível em
www.youtube.com/ watch?v=Ni_bGu1N8G0, [28:17 a 29:05])

Isto porque qualquer outra demanda que aportar no


Poder Judiciário, com supedâneo no mesmo fundamento jurídico,
estará fatalmente submetido ao precedente do STF, já que a
Suprema Corte não voltará a julgar, em plenário, matéria que já foi
apreciada e que não apresente novos elementos. A manifestação
da Ministra Ellen Gracie, embora vencida em seu voto, deixa muito
clara essa situação

Presidente! Apenas, sem polemizar, mas considerando a evolução do


sistema brasileiro, eu verifico que a partir de agora nós não
teremos, na realidade, muitos precedentes sobre uma mesma
matéria. Nós deveremos solucionar a matéria de uma só vez. E,
portanto, neste caso, que vem pela primeira vez a plenário, parece-
me, com devido respeito, ensejaria sim a oportunidade de modulação
de efeitos. (Manifestação da Ministra Ellen Gracie no Julgamento do
RE 363.852-1, em 03/02/2010, gravado pela TVJUSTIÇA, disponível em
www.youtube.com/ watch?v=Ni_bGu1N8G0, [18:30 a 18:59])

Portanto, declarada inconstitucional a norma do art.


25, incisos I e II, pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, a sua
inconstitucionalidade não voltará a ser debatida naquela corte.
Presente, assim, o efeito vinculante.

(12) DA NÃO MODULAÇÃO DE EFEITOS

No mesmo julgamento, a Fazenda Nacional requereu a


modulação do pronunciamento do STF no sentido de que, se fosse
reconhecida a ilegalidade da cobrança do tributo, e o direito de
repetição, que o Tribunal o fizesse limitando sua eficácia ex nunc,
ou seja, a partir da data do julgamento, já que a decisão poderia
motivar inúmeras ações judiciais e causar desfalque ao Tesouro.

O Relator, Ministro Marco Aurélio, manifestou-se no


sentido de que a declaração de inconstitucionalidade tem eficácia
ex tunc, ou seja, retroage à data de criação do tributo ilegal,
porque a Constituição Federal foi promulgada de forma rígida em
1988, e não é admissível ser mitigada sua eficácia para dizer que

35
até o julgamento da lide valeu a lei e a partir de então valerá a
Constituição. Destacamos:

Presidente! No dia de hoje, deu entrada no gabinete petição da União.


Petição da União em que, numa premonição, imaginou que este
recurso seria realmente provido, como está sendo. E nessa petição,
com tintas fortes, em termos de argumentação quanto ao que é
arrecadado ou que poderá ser deixado de ser arrecadado, pleiteia a
União, e é o que eu submeto como Relator ao colegiado, que se
module o pronunciamento do Supremo, que se dê, neste processo
subjetivo, se dê eficácia à Constituição Federal a partir deste
julgamento, como se realmente não tivesse sido promulgada de
forma rígida em 1988. Presidente! Tenho me pronunciado, até
mesmo em processos objetivos, quanto à necessidade até de se
adotar uma postura pedagógica, não se estimulando o
descumprimento da Constituição Federal. Tenho votado no
sentido da eficácia da Constituição Federal, tal como se contém,
independentemente da guarda, - e se tem a guarda, e não a
possibilidade de mitigação -, atribuída ao Supremo. (...) Não posso, a
essa altura, inverter os valores, e a inversão dos valores está no
momento em voga, para dizer que até aqui prevaleceria a lei e
não a Constituição Federal e que a Constituição Federal somente
passa a vigorar com o sentido reconhecido pelo Supremo a
partir desta data. Por isso, adianto o meu ponto de vista no sentido
da inadequação da modulação pretendida. (Manifestação do Relator
Ministro Marco Aurélio de Mello no Julgamento do RE 363.852-1, em
03/02/2010, gravado pela TVJUSTIÇA, disponível em www.you
tube.com/watch?v=Ni_bGu1N8G0, [12:13 a ])

No mesmo sentido, também o Ministro Cezar Peluso


votou pelo indeferimento modulação alegando que, se em todos os
casos de inconstitucionalidade em matéria tributária fossem
modulados seus efeitos, estariam extintos os institutos da
repetição de indébito e da prescrição:

Essa generalização dos efeitos em matéria tributária, na prática,


implica, pura e simplesmente, na abolição do instituto da repetição
de indébito. Simplesmente. Se todos os casos de decisão de
inconstitucionalidade em matéria tributária, o Tribunal for
dispor que só vale dali para frente, a repetição de indébito
tributária, a prescrição, e etc, não serve para mais nada.
(Manifestação do Ministro Cezar Peluso no Julgamento do RE 363.852-
1, em 03/02/2010, gravado pela TVJUSTIÇA, disponível em
www.youtube.com/ watch?v=Ni_bGu1N8G0, [20:00 a 20:25])

36
A Ministra Carmem Lúcia enfatizou que a postura de
fazer o Estado pagar pelo erro cometido é pedagógica, não sendo
admissível a quem quer que seja afrontar a Constituição.

Presidente, eu faço só uma observação nessa matéria. É que,


primeiro, a Constituição, como lembrou o Ministro Marco Aurélio,
aliás, de maneira muito firme, tem repetido isso aqui, essa é uma
Constituição rígida que uma vez que ela foi afrontada, foi
afrontada! E, a não ser em situações excepcionalíssimas, em que a
execução do que nós decidimos gere mais problemas sociais,
principalmente, não econômico-financeiros, que realmente poderia
ensejar a prática dessa natureza, em caráter excepcionalíssimo, nós
temos que manter o que é até pedagógico para o Estado e para
os órgãos de Estado. Não se pode afrontar a Constituição! Nem
nós aqui, que nos submetemos à Constituição, nem o Congresso
Nacional, nem o Poder Executivo. Errou, eu pago na minha vida
pessoal e o Estado paga também. Então, não se pode fazer disso
uma prática comum. [23:13] Intervenção do Ministro Cezar Peluso -
É reduzidíssimo o universo dos produtores rurais com
empregados ![23:18] Então, eu acompanho inteiramente o relator,
realmente acho que não é o caso, acompanho no sentido de adotar
exatamente o que está decidido é para ser executado. O Supremo
Tribunal decidiu, acabou! (Manifestação da Ministra Carmen Lúcia
no Julgamento do RE 363.852-1, em 03/02/2010, gravado pela
TVJUSTIÇA, disponível em www.youtube.com/watch?v=Ni_bGu1N8G0,
[22:14 a 23:32])

O Ministro Toffoli afirmou que não é possível impedir


que as pessoas busquem seus direitos, especialmente após a
norma ter sido declarada inconstitucional pela mais alta corte do
país.

Presidente! Também eu, louvando o trabalho da Procuradoria da


Fazenda Nacional e da Advocacia Geral nesta tentativa, mas não
entendo ser ela cabível! O Tribunal declarou esta norma
inconstitucional, ao dar provimento ao Recurso Extraordinário,
e evidentemente que isso vai gerar direitos e gera diretos
aqueles foram à justiça e os que eventualmente pretendam ir à
justiça futuramente. Eu não vejo como determinar a modulação
dos efeitos a fim de impedir que as pessoas vão atrás de um
direito reconhecido pela mais alta corte do país. Então, nesse
sentido, eu acompanho o eminente relator. (Manifestação do Ministro
Toffoli no Julgamento do RE 363.852-1, em 03/02/2010, gravado pela
TVJUSTIÇA, disponível em www.youtube.com/watch?v=Ni_bGu1N8G0,
[21:28 a 22:11])

37
O Ministro Marco Aurélio enfatiza, ainda, não ser
possível dizer que os contribuintes interessados não poderão
acionar o Poder Judiciário em busca de seus direitos. Aduz,
também, que a segurança jurídica não é dada pela modulação,
mas, sim, pela prescrição.

Presidente! Há balizas! Nós estamos a julgar aqui um conflito de


interesse específico. Podemos decidir quanto a interesses jurídicos
não versados neste processo? E simplesmente dizer que os cidadãos
em geral ou as empresas, as pessoas jurídicas, não poderão ingressar
em Juízo para reclamar devoluções? Quanto à segurança jurídica,
nós sabemos que há um elemento que a informa, que é a
prescrição quanto à repetição do indébito. Então, eu creio que, no
caso, no que se quis preservar a segurança jurídica, se preservou,
cogitando de prazo para o ajuizamento da ação. (Manifestação do
Ministro Marco Aurélio no Julgamento do RE 363.852-1, em
03/02/2010, gravado pela TVJUSTIÇA, disponível em
www.youtube.com/watch?v=Ni_bGu1N8G0, [19:00 a 19:54])

Outros ministros se manifestaram no mesmo sentido,


com exceção da Ministra Ellen Gracie, tendo restado indeferido o
pedido de modulação e confirmado o direito do contribuinte de
repetir o indébito.

(13) DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO

Uma vez considerada ilegal a contribuição social sobre


o resultado da comercialização dos produtos rurais do agricultor,
o contribuinte passa a ter o direito de ser ressarcido pelos
pagamentos indevidos feitos à Fazenda Pública, a esse título, como
informa o art. 165 do CTN.

Segundo o art. 165 do CTN:

Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de


prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual
for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do
artigo 162, nos seguintes casos:

38
I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou
maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da
natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente
ocorrido;

Conforme já foi mencionado, o Supremo Tribunal


Federal não modulou seu pronunciamento no RE 363.852-1,
permitindo, dessa forma, aplicação de eficácia ex tunc ao direito
do contribuinte repetir seu indébito.

Assim, o direito à repetição de indébito tributário é


medida natural daquele que pagou indevidamente o tributo ao
Fisco quando não precisaria tê-lo feito.

(14) DA CORREÇÃO MONETÁRIA

Sobre o valor do crédito tributário indevidamente


recolhido aos cofres do Fisco, deve incidir, na sua repetição,
correção monetária.

Nos termos da Súmula 162 do STJ, “na repetição do


indébito tributário, a correção monetária incide a partir do
pagamento indevido”. O valor deve ser corrigido monetariamente
através da aplicação da taxa SELIC.

(15) DOS JUROS MORATÓRIOS

É entendimento cristalizado pelo Superior Tribunal de


Justiça, através da Súmula 188, de que “os juros moratórios, na
repetição de indébito tributário, são devidos a partir do trânsito em
julgado da sentença”. E, conforme jurisprudência do STF
(AI715333), o valor a ser aplicado, a título de juros moratórios, é
de 1% ao mês.

(16) DA PRESCRIÇÃO

A Lei Complementar nº 118, decretada em 09 de


fevereiro de 2005, com vigência a partir de 09 de junho de 2005,
modificou a interpretação sobre o termo inicial da contagem do

39
prazo prescricional de 5 (cinco) anos, prevista no art. 168, inciso I,
do CTN, para determinar que a contagem do prazo se inicia na
data do pagamento indevido (art. 150, §1º, do CTN) e não na data
da homologação do lançamento (art. 150, §4º, do CTN).

Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso


do prazo de 5 (cinco) anos, contados:
I - nas hipótese dos incisos I e II do artigo 165, da data da extinção do
crédito tributário;

Até então, a Jurisprudência Pátria considerava


pacificamente que a contagem da prescrição do art. 168, inciso I,
do CTN, iniciava quando da homologação expressa ou tácita
lançamento. Se não houvesse homologação expressa, considerava-
se, e ainda se considera, homologado tacitamente o lançamento
após o decurso de 5 (cinco) anos (art. 150 ,§4º, do CTN), e
iniciava-se, a partir daí, a contagem do prazo prescricional do art.
168, inciso I, do CTN, resultando na fórmula conhecida como 5 + 5,
a partir do Fato Gerador.

Contudo, a Lei Complementar determinou, não só


apenas a mudança de paradigma, mas, também, a retroação dos
efeitos dessa mudança, para atingir Fatos Geradores pretéritos.

Nesse ponto, a dita norma extrapolou os limites da


constitucionalidade. Ao pretender modificar relações jurídicas
pretéritas, está afrontando o princípio constitucional insculpido
no art. 5º, inciso XXXVI, segundo o qual “a lei não prejudicará o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Vide a
seguinte jurisprudência:

ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE - ARTIGO 4º DA LEI


COMPLEMENTAR Nº 115, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005 - VIOLAÇÃO
AO INCISO XXXVI DO ARTIGO 5º DA CONSTITUIÇÃO DE 1988.
1 - Mesmo as leis que ostentem pretensão interpretativa, a despeito
do que dispõe o art. 106 do Código Tributário Nacional, sujeitam-se
ao inciso XXXVI do art. 5º da Constituição de 1988, segundo o qual "a
lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada".
2 - É inconstitucional a expressão "observado, quanto ao art. 3º,
o disposto no art. 106, I, da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de

40
1966-Código Tributário Nacional", constante do art. 4º, segunda
parte, da Lei Complementar nº 118/2005.
3 - O art. 3º da Lei Complementar nº 118 entrou em vigor em 9 de
junho de 2005, passando a ser aplicável somente a partir de então.
(ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE NA AC Nº
2004.72.05.003494-7/SC, julgada em 16.11.2006)

O Superior Tribunal de Justiça ao julgar o AI nos


Embargos de Divergência em REsp nº 644.736, reconheceu ser
inconstitucional a aplicação retroativa do prazo prescricional pela
Lei Complementar nº 118, também por ofender o art. 2º da
Constituição Federal, já que modificaria o entendimento atribuído
pelos Tribunais sobre a aplicação da prescrição do art. 168, inciso
I, do CTN, até a edição da LC 118/05.

Ocorre que o art. 4º da Lei Complementar 118/2005, em sua


segunda parte, determina, de modo expresso, que, relativamente ao
seu art. 3º, seja observado “o disposto no art. 106, I, da Lei 5.172, de
25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional”, vale dizer, que
seja aplicada inclusive aos atos ou fatos pretéritos. Ora, conforme
antes demonstrado, a aplicação retroativa do dispositivo importa,
nesse caso, ofensa à Constituição, nomeadamente ao seu art. 2º
(que consagra a autonomia e independência do Poder Judiciário em
relação ao Poder Legislativo) e ao inciso XXXVI do art. 5º, que
resguarda, da aplicação da lei nova, o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada. (STJ - Agravo de Instrumento em Embargos
de Divergência em Recurso Especial nº 644.736, Relator Ministro Teori
Albino Zavascki, 06.06.2007)

No mesmo julgamento, o Relator Ministro Teori Albino


Zavascki, manifestou-se de maneira prática, indicando como deve
ser contada a prescrição do art. 168, inciso I, do CTN, após
09.06.05, data do início da vigência da LC 118/05:

Assim, na hipótese em exame, com o advento da LC 118/05, a


prescrição, do ponto de vista prático, deve ser contada da seguinte
forma: relativamente aos pagamentos efetuados a partir da sua
vigência (que ocorreu em 09.06.05), o prazo para a ação de repetição
do indébito é de cinco a contar da data do pagamento; e
relativamente aos pagamentos anteriores, a prescrição obedece ao
regime previsto no sistema anterior, limitada, porém, ao prazo
máximo de cinco anos a contar da vigência da lei nova. (STJ - Agravo
de Instrumento em Embargos de Divergência em Recurso Especial nº
644.736, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, 06.06.2007)

41
Na prática então, e considerando que esta ação é
ajuizada antes de 09 de junho de 2010, ou seja, antes de completar
os cinco anos de início da vigência da LC 118/05, todos os
pagamentos indevidos realizados pelos substituídos, com Fato
Gerador a partir de março do ano 2000, devem ser repetidos.

Isto porque (1) prescreve em cinco anos a repetição


dos créditos extintos pelo pagamento na vigência da LC nº 118, de
2005, ou seja, dos pagamentos indevidos feitos a partir de
09/06/2005; (2) prescreve em dez anos, contados do fato gerador
(CTN, art. 150, § 4º e art. 168, I) a repetição dos créditos antes da
vigência da LC nº 118, de 2005;

Portanto, no caso concreto, os substituídos têm


direito de repetir seus indébitos com fato gerador ocorrido nos
últimos 10 anos contados do ajuizamento da ação judicial.

III – DOS PROVIMENTOS

Nesta seção serão tratadas as questões referentes à


efetivação do provimento jurisdicional.

(a) DA SENTENÇA JUDICIAL PROLATADA NA


FORMA DO ART. 95 DO CDC

Considerando que Sindicato Rural de Passo Fundo


figura no pólo ativo desta demanda na qualidade de substituto
processual dos contribuintes titulares do direito pleiteado, o
provimento judicial buscado é aquele previsto no art. 95 do
CDC, destinado à solução das lides nos processos coletivos, em
que a condenação é prolatada de forma genérica.

42
É como ocorre, por exemplo, quando uma grande
empresa é condenada por comercializar um produto defeituoso
no mercado nacional que vem a lesionar um sem número de
consumidores. O Juiz da Causa, ao julgar procedente a demanda,
não aponta o nome de cada pessoa lesionada, apenas determina
que a empresa indenize os substituídos processuais da ação
coletiva.

Da mesma forma, guardadas as proporções, deverá ser


condenada, genericamente, a FAZENDA FEDERAL a (a) parar de
cobrar a exação ilegal dos substituídos; e (b) devolver os valores
cobrados indevidamente até o alcance da prescrição legal.

O alcance da ordem judicial neste caso, ao contrário da


Ação Civil Pública, será restrito e limitado. Restringir-se-á a
reconhecer o direito dos substituídos, os empregadores rurais
pessoa física ou jurídica que tenham residência na base territorial
do Sindicato Rural de Passo Fundo.

(b) DA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA GENÉRICA


PELO CONTRIBUINTE INDIVIDUAL

A sentença prolatada na forma do art. 95 CDC tem uma


liquidação chamada de “liquidação imprópria” pela doutrina
brasileira. É que cada contribuinte poderá executar essa sentença
individualmente, fazendo prova do seu direito particular. Sobre o
assunto ensina Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr. que:

A liquidação da sentença de condenação genérica, em tais casos, tem


as suas peculiaridades. A mais importante delas, sem dúvida, diz
respeito à extensão do seu thema decidendun: nesta liquidação,
apurar-se-ão a titularidade do crédito e o respectivo valor. Não se
trata de liquidação apenas para a apuração do quantum debeatur,
pois. Em razão disso, foi designada de “liquidação imprópria”. Trata-
se de lição assente na doutrina brasileira. Nesta liquidação, serão
apurados: a) os fatos e alegações referentes ao dano individualmente
sofrido pelo demandante; b) a relação de causalidade entre esse
dano e o fato potencialmente danoso acertado na sentença; c) os
fatos e alegações pertinentes ao dimensionamento do dano sofrido.
(DIDIER JR, Fredie. ZANETI JR, Hermes. Curso de Direito Procesual

43
Civil: processo coletivo. 4.vol. 4ª Ed. Editor JusPodivm: Salvador,
2009. Pág. 374-375)

Como é da lição acima transcrita, o Juízo do


Cumprimento da Sentença deverá (a) identificar o direito do
exeqüente; (b) fazer o seu enquadramento; e (c) medir sua
extensão. Aplica-se, assim, os efeitos da sentença genérica à
situação individual dos substituídos que a executarem. A cognição
nessa fase, então, não será de mérito, mas, sim, de incidência do
direito declarado.

É que o Juízo do Cumprimento de Sentença, ao qual for


distribuída a inicial individualizada, deverá analisar as provas
apresentadas pelo substituído que pretende se beneficiar do
comando genérico.

Vale dizer, ficará a cargo do Juízo da liquidação a


parcela da cognição da lide que decidirá quanto à incidência do
direito genérico à situação particular. O magistrado julgará o
enquadramento do contribuinte exeqüente aos moldes da
sentença genérica. Este também é, inclusive, o ensinamento do
Ministro do STJ, Teori Albino Zavascki, Relator do REsp 487.202:

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL COLETIVA.


DIFERENÇAS DE CORREÇÃO MONETÁRIA DE CONTAS DO FGTS.
LEGITIMAÇÃO ATIVA DAS ENTIDADES SINDICAIS. NATUREZA E
LIMITES. PROVA DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO
AFIRMADO E DOCUMENTO ESSENCIAL À PROPOSITURA DA
DEMANDA. DISTINÇÕES. 1. As entidades sindicais têm legitimidade
ativa para demandar em juízo a tutela de direitos subjetivos
individuais dos integrantes da categoria, desde que se tratem de
direitos homogêneos e que guardem relação de pertencialidade com
os fins institucionais do Sindicato demandante. 2. A legitimação ativa,
nesses casos, se opera em regime de substituição processual, visando
a obter sentença condenatória de caráter genérico, nos moldes
da prevista no art. 95 da Lei n. 8078/90, sem qualquer juízo a
respeito da situação particular dos substituídos, dispensando, nesses
limites, a autorização individual dos substituídos. 3. A
individualização da situação particular, bem assim a
correspondente liquidação e execução dos valores devidos a
cada um dos substituídos, se não compostas espontaneamente,
serão objeto de ação própria (ação de cumprimento da sentença
condenatória genérica), a ser promovida pelos interessados, ou

44
pelo Sindicato, aqui em regime de representação. 4. Não se pode
confundir "documento essencial à propositura da ação" com "ônus da
prova do fato constitutivo do direito". Ao autor cumpre provar os
fatos que dão sustento ao direito afirmado na petição inicial, mas isso
não significa dizer que deve fazê-lo mediante apresentação de prova
pré-constituída e já por ocasião do ajuizamento da demanda. Nada
impede que o faça na instrução processual e pelos meios de prova
regulares. 5. Em se tratando de ação coletiva para tutela de
direitos individuais homogêneos, que visa a uma sentença
condenatória genérica, a prova do fato constitutivo do direito
subjetivo individual deverá ser produzida por ocasião da ação
de cumprimento, oportunidade em que se fará o exame das
situações particulares dos substituídos, visando a identificar e
mensurar cada um dos direitos subjetivos genericamente
reconhecidos na sentença de procedência. 6. Recurso especial a
que se nega provimento. (REsp 487.202. STJ. Ministro Teori Albino
Zavascki. 24.05.2004)

Assim, a apresentação das provas de que os


substituídos eram empregadores rurais e recolhiam o imposto
indevido é postergado ao Juízo do cumprimento da sentença.

Outra questão acerca da liquidação individual é que


deverá ser determinado, na sentença genérica, a distribuição
solidária e dinâmica prova constitutiva do direito, conforme será
tratado no tópico a seguir.

(c) DA DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA E


SOLIDÁRIA DA PROVA CONSTITUTIVA DO DIRETO NO
CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

A prova do direito na Ação de Conhecimento da


demanda coletiva, que visa um provimento genérico, não exige o
acesso às provas fáticas, desde logo. Tal prova será produzida
somente na liquidação de sentença, conforme exposto no tópico
anterior.

Contudo, o Juízo do Processo de Conhecimento deverá


determinar ao FISCO, na sentença genérica, que traga aos autos de
cada liquidação individual ajuizada, as informações que possuir
acerca da prova constitutiva do direito do contribuinte lesado.

45
É que, assim como está previsto no art. 6º, VIII, do
Código de Defesa do Consumidor, a possibilidade de inversão do
ônus da prova a fim de facilitar a defesa dos interesses do
consumidor, presumidamente hipossuficiente na relação
consumerista, também o contribuinte é hipossuficiente diante
do FISCO.

Não fosse hipossuficiente, a Fazenda Nacional não teria


força para cobrar um tributo inconstitucional durante 22 anos,
prejudicando não apenas um, mas, sim, milhares de contribuintes.
Portanto, até mesmo como lição pedagógica, deverá, agora,
fornecer extrato discriminado contendo o quanto foi arrecadado
pelo CPF dos substituídos na rubrica da contribuição social
prevista no art. 25, incisos I e II, da Lei 8.212/91, nos últimos 10
anos, devendo servir este documento como base para a liquidação
da sentença.

Mas não apenas isso, tal pleito se funda também na


dificuldade dos contribuintes de guardarem todos seus
documentos fiscais, durante todos esses anos, e também à
amplitude de negociações sob as quais incidiu o tributo ilegal;
torna-se difícil aos substituídos apresentarem todos os
documentos nos quais está provado o recolhimento da
contribuição que pretendem repetir.

A autorização para tal ordem é informada pelo


princípio democrático da distribuição dinâmica do ônus da prova,
segundo o qual o Juiz deve fazer recair o ônus da prova a quem
tem as melhores condições de fazê-la, não permitindo que a parte
mais fraca não tenha acesso a seu direito por conta da formalidade
processual. Nesse sentido, inclusive, vem sendo o posicionamento
da doutrina:

A doutrina contemporânea vem pugnando pela flexibilização


destas regras de distribuição do ônus da prova no sentido de
permitir ao juiz que, deparando-se com nítido desequilíbrio
das condições probatórias entre as partes, motivadamente,
decida por adequar a regra de distribuição do ônus da

46
prova ao caso concreto, determinando que este ônus
recaia sobre a parte que dispuser das melhores condições
de provar os fatos submetidos a julgamento. (...)
MARINONI e ARENHART “um processo verdadeiramente
democrático, fundado na isonomia substancial, exige uma
postura ativa do magistrado” (...) Aquela visão estática que,
aprioristicamente, obriga ao autor provar os fatos
constitutivos de seu direito invocado; e, ao réu, os fatos
obstativos da pretensão contra ele articulada, sem levar em
consideração as condições probatórias de cada parte, não
condiz com os preceitos da atual sistemática do Processo Civil
Brasileiro. Em nome da submissão inconteste à regra advinda
do art. 333, do Código de Processo Civil, a prestação
jurisdicional, muitas vezes, não produz lídima Justiça à causa
submetida à apreciação pelo Poder Judiciário, pois, pela regra
geral tradicional, o ônus da prova poderia recair sobre a
parte mais fraca do processo, isto é, sobre quem não tem
condições de fazer a melhor prova capaz de lhe assegurar o
direito por ela invocado e o juiz não faria nada para
amenizar essa suposta injustiça, apenas aplicaria a regra do
ônus da prova se, ao final, do processo as partes não
apresentarem suas alegações devidamente provadas.
Corrigindo grande parte desses disparates provocados pela
adoção de um regramento completamente rígido, que fere a
tantos princípios constitucionais, consoante demonstrado
anteriormente, desponta a moderna teoria, por meio da qual o
ônus da prova pode recair tanto no autor como no réu, a
depender das circunstâncias do caso e da situação processual
de cada uma das partes. Ao magistrado é permitido fazer
um juízo de ponderação e, mediante decisão devidamente
motivada, respeitando todas as garantias constitucionais
asseguradas às partes, modificar a regra de distribuição do
ônus da prova fazendo incidir sobre a parte que tem o
controle dos meios de prova e, por isso mesmo, se
encontra em melhores condições de produzi-la a
contento, ou seja, apta a trazer aos autos a prova capital
que descortinaria a verdade dos fatos controvertidos. É
logicamente insustentável que se há uma parte em melhores
condições de produzir a prova, deixe de fazê-la unicamente
pelo apego a formalismos exacerbados, e por que não dizer
desarrazoados. O processo moderno não mais coaduna
com esse tipo de idéias, pois que seu escopo maior é
garantir o direito a quem realmente o titule. (in A Teoria
Dinâmica de Distribuição do Ônus da Prova no Direito
Processual Civil Brasileiro. Antonio Danilo Moura de Azevedo.
Publicado em http://jusvi.com/artigos/27730/1. Acesso em
08/02/2010)

47
A exigência da apresentação destas informações é
essencial ao pleno exercício do direito dos substituídos, visto que,
se o contribuinte não puder repetir seu indébito porque não
guardou ou juntou todos documentos que fariam a prova e a
Fazenda, tendo acesso a essas informações, recusar-se informá-
las, estar-se-á pactuando com a irresponsabilidade do Estado e
permitindo-o que se locuplete à custa da ineficiência das
Instituições de Direito.

Ademais, tais informações fazem parte do patrimônio


jurídico dos substituídos, não sendo admissível que o Estado se
negue a dar este acesso, sob pena de ferir importantes princípios
constitucionais que informam a atividade do Estado e os direitos
dos cidadãos, previstos nos incisos XIV, XXXIV alínea “b”, LV e
LXXII alínea “a”, todos do Art. 5º da Constituição Federal.

Tal medida tornará os processos de liquidação mais


céleres, mais exatos, mais efetivos e justos. Dispensa-se, aliás, o
enorme esforço de amealhar a prova e juntá-la ao processo,
saneando e tornando objetiva a execução do julgado. Facilita,
inclusive, ao Judiciário, que não precisará receber no processo
cada nota fiscal que o Autor emitiu nos últimos dez anos.

A Receita Federal do Brasil, por sua vez, não poderá


alegar que não tem posse de tais informações, pois no cruzamento
das várias fontes de dados fiscais, pode, perfeitamente, através de
uma simples regra de três, chegar ao montante negociado
anualmente pelo contribuinte. Depois, basta aplicar a alíquota de
2,1% e o resultado é o valor que foi recolhido anualmente na
rubrica do imposto.

Ademais, o FISCO, que não é sonso, recebe as


informações da atividade rural dos contribuintes e àquelas
referentes às informações previdenciárias, presentes na
GFIP, sendo capaz, inclusive, de dizer, com exatidão, o que foi
legalmente movimentado por uma pessoa num ano.

48
Por estas razões, requer-se ao Juízo da fase de
conhecimento que determine em seu decreto judicial que o FISCO
forneça as informações que possui acerca de cada contribuinte
que vier liquidar a sentença

(d) DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar inconstitucional


a contribuição social cobrada sobre o resultado da produção rural,
no RE 363.852-1, em 03/02/2010, liquidou a presunção de
constitucionalidade da referida norma, e possibilitou ao
Senado Federal, nos termos do art. 52, inciso X, da CF, suspender o
dispositivo viciado. Quem poderá dizer que o tributo é
constitucional, se o Plenário do STF disse que não é?

A perda da presunção de constitucionalidade da norma


declarada inconstitucional incidentalmente é evidente. O Ministro
Sepúlveda Pertence, no julgamento do RE nº 191.898, de sua
relatoria, registrou a seguinte passagem em seu voto, sobre isso:

A decisão plenária do Supremo Tribunal declaratória de


inconstitucionalidade de norma, posto que incidente, sendo
pressuposto necessário e suficiente a que o Senado lhe confira
efeitos erga omnes, elide a presunção de sua
constitucionalidade.

A manifestação do Ministro reforça o princípio de que


os fundamentos fazem coisa julgada, e mesmo incidentalmente,
o efeito é erga omnes, como anotado pelo Ministro. Note-se, ainda,
que a inconstitucionalidade foi declarada pelo PLENÁRIO DO STF,
o órgão máximo do Poder Judiciário.

A exação tributária está viciada desde a promulgação


da Constituição Federal em 1988, de modo que todas as leis
posteriores que instituíram ou modificaram sua cobrança não
puderam suprir os vícios de inconstitucionalidade que ela
carregava.

49
O próprio Executivo Federal se convenceu de que a
inconstitucionalidade do tributo era irremediável e fez uma
proposta de emenda à Constituição para legitimar sua
cobrança (Proposta de EC 233/08), ainda não votada.

Com o julgamento do RE 363.852-1, cujo caráter se


tornou objetivo, já que eleito como assunto de Repercussão Geral
pelo STF, o conflito passa a ser resolvido através da aplicação do
efeito vinculante senão efetivo, virtual (nas palavras do
Presidente do STF Gilmar Mendes), estendendo a solução da
lide para todos os demais contribuintes que estão na mesma
situação. Portanto, não há mais espaço para a cobrança da referida
exação tributária.

O Juízo deve, em cognição imediata, determinar a


inexigibilidade do recolhimento do tributo ilegal pelos
agricultores da base territorial do Sindicato Rural de Passo
Fundo, RS, como medida natural da eficácia vinculante da decisão
do Supremo Tribunal Federal, evitando inclusive a instrução de
inúmeros outros processos nos quais também será pedido,
liminarmente, a suspensão da cobrança da contribuição social.

Como já mencionado, a Ação movida pelo Sindicato


Rural de Passo Fundo permite ao Juízo a abrangência necessária
para que a Ordem Judicial tenha um amplo alcance e unifique o
entendimento Judicial sobre o assunto na base territorial
desse Sindicato.

Simultaneamente, em todo o Brasil, os contribuintes


lesados estão pleiteando seus direitos. O Fisco Federal não terá
mais condições de continuar cobrando o tributo ilegal,
indevido e inconstitucional face à pressão nacional que está
ocorrendo. Já temos notícias de várias liminares coletivas
pipocando País afora, como por exemplo, liminar obtida pela
APROSSOJA do Mato Grosso (www.aprossoja.com.br – Processo
nº 2010.36.00.002155-7 – 5ª Vara Federal de Cuiabá- MT), pela
CECAFÉ (Processo nº 7528-56.210.4.01.3400 – 2ª Vara Federal de

50
Brasília-DF), pela AIBA (Associação de Agricultores e Irrigantes
da Bahia, Vara Federal de Barreiras – BA), dentre outras.

A legalidade e o respeito à Constituição Federal é a


salva guarda da ordem social e se permitirmos que ela seja
mitigada, estaremos pondo em risco nossa segurança jurídica. Se
há verossimilhança de que o tributo é inconstitucional, e há
material suficiente para que o Juízo possa avaliar isso em
sede liminar, é um dever constitucional do detentor do Poder de
dizer o Direito, que o faça em nome preservação do Estado
Democrático de Direito Brasileiro.

Não podemos admitir a espoliação ou a mitigação dos


direitos dos cidadãos. A Constituição Brasileira foi promulgada de
forma rígida em 1988 e todo o ato que atentar contra sua eficácia
é ato temerário à existência da própria Ordem no Estado
Brasileiro.

A classe dos empregadores rurais pagou caro ao longo


de 22 anos. Ficou aguardando pacientemente o STF se manifestar
sobre a inconstitucionalidade da exação. Agora que se manifestou,
não há mais o que esperar: a liminar é questão de preservação
da Justiça! Especialmente nesse período que se aproxima a época
de mais uma safra, quando há uma intensa comercialização de
produtos onde incide o tributo sorrateiro. Faz-se necessário que
o Juízo administre a Justiça no tempo eficaz!

A medida liminar de Antecipação de Tutela deve ser


considerada providência natural após o julgamento do RE
363.852-1. E o deferimento de tal pedido tem lugar nesta
contenda porque a situação fática atende aos requisitos do art.
273, do CPC, segundo o qual:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou


parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde
que, existindo prova inequívoca, se convença da
verossimilhança da alegação e:

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil


reparação

51
A imediata suspensão da exigibilidade da exação
tributária resguarda os substituídos dos possíveis prejuízos
advindos da cobrança de um tributo indevido. Também afasta o
fundado receio de que o Fisco Federal lance os substituídos em
dívida ativa e com isso cause outros problemas aos produtores
rurais, como, por exemplo, negativa de crédito rural.

Não se pode permitir que o FISCO continue cobrando a


exação ilegal porque a restituição do indébito, na melhor das
hipóteses, ainda assim, é demorada, e mesmo que a União tenha
capacidade econômica para suportar a condenação mais tarde, o
pagamento ainda obedece a fila interminável e instável dos
precatórios.

(d) DA EFETIVIDADE E OPERACIONALIZAÇÃO


DA SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO TRIBUTO

Nos termos do art. 151, inciso V, do CTN, suspende


exigibilidade do crédito tributário, a concessão de medida liminar
ou de tutela antecipada. O Sindicato Rural de Passo Fundo, em
seus requerimentos, faz o pedido liminar para desobrigar seus
substituídos de recolher o tributo execrado.

A operacionalização de tal pedido é simples. O juízo (1)


expedirá Certidão Narratória do processo, de forma genérica,
declarando que, em sede de liminar, os empregadores rurais
residentes na base territorial do Sindicato Rural de Passo Fundo
estão desobrigados ao recolhimento da contribuição social
incidente sobre a comercialização de sua produção rural; (2)
expedirá Ofício Circular ao Sindicato Rural de Passo Fundo para
que este apresente o documento em todos os estabelecimentos
onde se faz a retenção do tributo; e (3) determinará publicação da
decisão em jornal de circulação local, para conhecimento da
comunidade.

A Certidão Narratória e o Oficío Circular serão


entregues ao Sindicato Rural, que disponibilizará o primeiro aos

52
empregadores rurais e o segundo aos estabelecimentos
comerciais e demais responsáveis pelo recolhimento do tributo. O
primeiro informa o direito aos titulares e o segundo orienta o
responsável legal como proceder.

A decisão liminar se limitará a declarar o direito, em


antecipação de tutela, e determinar a expedição dos documentos
acima citados. A identificação do empregador rural perante o
responsável legal pelo recolhimento do tributo será
meramente declaratória, assim como são apurado todos os
tributos declaratórios, a exemplo da Declaração do Imposto de
Renda, até que o Executivo Federal tome as providências
competentes.

Tanto no Ofício Circular quanto na Certidão Narratória


deverá constar a determinação do Juízo para que conste nas notas
fiscais emitidas o número do processo judicial que desobrigou a
retenção do tributo, tornando-se, inclusive, prova para o FISCO.

Observe-se, ainda, que não haverá qualquer prejuízo


para o FISCO, pelos seguintes motivos:

(1) Os responsáveis legais pela retenção do tributo


têm, por obrigação legal, que manter a escrituração contábil de
suas operações, podendo o FISCO, a qualquer momento, fiscalizá-
las e identificar possíveis sonegadores;

(2) Todo aquele que faz a retenção do tributo


previdenciário é obrigado a prestar tal informação mensalmente
na GFIP, possibilitando ao FISCO, assim, a qualquer momento,
cruzar as informações do sistema e identificar os contribuintes
que deixaram de recolher o tributo mas não são empregadores;

(3) É impossível algum segurado especial ludibriar o


FISCO dizendo ser empregador rural, pois além de ser
automaticamente identificado pelo sistema por não possuir o CEI
(Cadastro de Específico do INSS) como empregador, não faz
recolhimento dos tributos de empregador através da GFIP. Vale

53
dizer, o FISCO cruza o CPF do Autor com o banco de dados do
FGTS, se o CPF do autor não pagou nada de FGTS para terceiros,
logo, não tem empregados;

(4) O Segurado especial não movimenta grandes


valores de produtos rurais, pois do contrário não seria segurado
especial, logo, a Receita Federal terá facilidade de identificar as
operações suspeitas de sonegação e poderá proceder à
fiscalização e responsabilização dos fraudadores;

(5) Todo o produtor rural deverá continuar


contribuindo 0,2% para o SENAR, e através de tal informação, o
FISCO poderá saber quanto foi negociado por cada produtor rural,
sem precisar sair da sede da RECEITA FEDERAL e ainda poderá
cobrar o percentual exato devido, caso o produtor não seja
empregador rural;

(6) O produtor rural, por obrigação do Imposto de


Renda, tem que fazer a declaração de sua atividade rural, por onde
pode o FISCO visualizar muito bem que tipo de contribuinte é
aquele.

(7) O FISCO tem acesso a todos os bancos de dados


fiscais do país, pode cruzar informações de ICMS, ITR, IRPF, FGTS,
INSS, INCRA, SENAR, pois o que mais tem no País são tributos.
Além disso, o FISCO tem as informações de todos os contribuintes,
pode acessar qualquer CPF ou CNPJ de sub-rogados para conferir
as operações.

PORTANTO, se as informações podem ser cruzadas


com facilidade, a identificação do empregador rural perante o
responsável pelo recolhimento do tributo poderá ser meramente
declaratória. Não haverá prejuízos para as partes. A operações
ficarão documentadas e serão de fácil fiscalização para o FISCO.

Os responsáveis legais que não procederem desta


maneira poderão ser oficiados pelo Juízo, a pedido do Sindicato
Rural de Passo Fundo.

54
DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

1. LIMINARMENTE, em Antecipação de Tutela, seja (a)


determinada, imediatamente, a inexigibilidade da contribuição
social prevista no art. 25, incisos I e II, da Lei nº 8.212/91 e art. 25
da Lei nº 8.870/94 (ambas com redação dada pela Lei nº
10256/01), popularmente conhecida como “FUNRURAL”,
considerada inconstitucional pelo STF no julgamento do RE
363.852-1, para que os substituídos possam comercializar seus
produtos rurais sem efetuar, a partir de então, o recolhimento do
referido tributo; (b) seja determinando à ré que se abstenha de
inscrever os substituídos em dívida ativa e em cadastros de
restrição de crédito; (c) seja comunicado o teor da decisão à
Autoridade Fazendária competente; (d) seja determinada a
publicação da decisão em jornal local para conhecimento da
comunidade; (e) seja determinada a expedição de Certidão
Narratória genérica do processo, bem como Ofício Circular, ambos
ao Sindicato Rural de Passo Fundo, RS, para que este entregue o
primeiro para os empregadores rurais e o segundo aos
estabelecimentos sub-rogados responsáveis legais pela retenção
da exação tributária;

2. A CITAÇÃO DA RÉ para que, querendo, conteste a


ação, no prazo legal, sob pena de revelia;

3. A PRODUÇÃO DE PROVAS, todas as que forem


admitidas em direito, abrindo-se o respectivo prazo para que a
parte Autora as indique no momento oportuno;

4. A PROCEDÊNCIA DA AÇÃO reconhecendo incidenter


tantum a inconstitucionalidade da contribuição social do art. 25,
incisos I e II, da Lei nº 8.212/91, e art. 25 da Lei nº 8.870/94
(ambas com redação dada pela Lei nº 10256/01), prolatando-se a
sentença na forma do art. 95 da Lei 8.078/90, para decretar a
55
inexigibilidade do tributo de forma genérica aos substituídos,
condenando a ré a repetir os indébitos a partir de março do ano
2000, com a aplicação de correção monetária pela taxa SELIC
desde a data dos pagamentos indevidos e a cominação de juros
moratórios, após o trânsito em julgado da sentença, no valor de
1% ao mês, tudo como exposto na fundamentação.

5. A CONDENAÇÃO DA RÉ para que, por ocasião da


liquidação da sentença a ser efetuada individualmente por cada
substituído interessado, que forneça extrato discriminado
contendo o quanto foi arrecadado pelo CPF do liquidante na
rubrica da Contribuição Social prevista no art. 25, incisos I e II, da
Lei nº 8.212/91, e art. 25 da Lei nº 8.870/94, nos últimos 10 anos,
sob pena de multa;

6. A CONDENAÇÃO DA RÉ AOS ÔNUS SUCUMBÊNCIAIS,


fixando-se os honorários advocatícios em 20% sobre o valor da
condenação, bem como ao pagamento das custas e despesas
processuais;

7. Dá a causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Passo Fundo, 18 de março de 2010.

NERI PERIN
Advogados Associados
OAB/RS 2.978

Advogado Neri Perin


OAB/RS 25.833

Advogado Lucas Dall’Oglio


OAB/RS 65.192

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ROL DE DOCUMENTOS

(1) Estatuto Social;


(2) CNPJ;
(3) Carta sindical;
(4) Ata de eleição e posse dos representantes legais do Sindicato;
(5) Procuração;
(6) DARF – Pagamento das custas (R$ 500,00);

NERI PERIN
Advogados Associados

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