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GRANDE DO SUL
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
COMPONENTE CURRICULAR ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM
SERVIÇO SOCIAL III
Tuparendi, 2009.
Prefeitura Municipal de Tuparendi
Estado do Rio Grande do Sul
1. Identificação
Tem como eixo temático a questão do abuso sexual, com ênfase no abuso sexual
intrafamiliar. A demanda posta para o Serviço Social compreende a existência comprovada de
vários casos de abuso sexual doméstico no município de Tuparendi, situação que leva a
sociedade a fazer cobranças de ações não só de tratamento, mas também preventivas sobre esta
questão. O objeto do presente projeto é, portanto, a prevenção do abuso sexual contra crianças
e adolescentes, envolvendo estes e outros sujeitos sociais, como família, profissionais e
sociedade em geral.
O eixo de discussão abordado diz respeito as formas de violação dos direitos das
crianças e adolescentes, especialmente no que concerne o abuso sexual doméstico e outras
formas de exploração da sexualidade infanto-juvenil. Esta é uma realidade inegável e latente
no município de Tuparendi, comprovada pela emergência simultânea de casos graves
envolvendo abuso sexual, tanto por parte de pessoas estranhas quanto por membros da própria
família.
3. Diagnóstico
Sabe-se que vivemos em uma sociedade capitalista, dividida em classes sociais pela
divisão social do trabalho, em que há uma polaridade entre cidadãos incluídos e cidadãos
excluídos da ordem social oficial. Existe portanto, uma discrepância entre aqueles que possuem
muito e aqueles que não possuem nada, um abismo entre ricos e pobres, típico da sociedade
capitalista.
É uma minoria também que são assalariados, com Carteira de Trabalho regular e uma
situação estável de vida, comuns a classe média. Uma grande parcela da população sobrevive
do trabalho informal, isento de direitos sociais e sujeito a contingências, mas que, entretanto,
conseguem manter um certo padrão razoável de vida.
4. Justificativa
Através da experiência de estágio, pode ser feita a afirmação de que o abuso sexual
intrafamiliar é uma realidade profundamente latente no município de Tuparendi/RS. Embora
não seja a única, e a demanda mais significativa e grave que exige respostas imediatas e
qualificadas do poder público municipal e do Serviço Social, em especial.
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Dados coletados no DAS em 2008;
Esses casos chegaram ao conhecimento da população, e causaram sentimento de revolta
geral. Mas entre outras coisas, a emergência desses casos à público, significa que as dimensões
do problema a ser enfrentado são muito mais relevantes, já que são raros os casos desvendados,
e a maior parte deles fica encoberto pelo silêncio das famílias, por vezes para sempre.
É imprescindível a realização das ações previstas nesse projeto, a fim de que toda a
sociedade assuma seu papel em proteger os direitos das crianças e adolescentes, ajudando a
identificar e denunciando casos suspeitos. Todos os segmentos da sociedade devem estar
conscientes de que o abuso sexual é crime, e que é um dever denunciar.
5. Objetivos
Orientar crianças e adolescentes sobre o abuso sexual através de oficinas nas escolas;
Realizar atividades específicas através de palestras com a família das crianças e
adolescentes
Realizar uma palestra de capacitação para profissionais ligados à infância e à adolescência
sobre formas de identificação e providências a serem tomadas;
Elaborar um folder informativo para ser distribuído à população em geral contendo
informações centrais acerca do abuso sexual;
Utilizar espaços na mídia escrita e falada local para esclarecimentos sobre a temática.
6. Referencial Teórico
No caso do abuso sexual doméstico, o adulto agressor que comete essa vitimização
sexual é alguém com que a criança e/ou adolescente tenha laços de parentesco,
consangüinidade, afinidade ou responsabilidade, como pais biológicos ou adotivos, padrastos,
avôs, irmãos, tios, primos, tutores, etc. (AZEVEDO e GUERRA, 1989).
É importante ressaltar que este abuso sexual não compreende apenas o ato sexual em si,
ou seja, a penetração anal ou vaginal, e sim, diz respeito a todo contato sexualizado, como a
exposição da criança a nudez, manipulação dos genitais, exposição a materiais pornográficos,
etc. (GUERRA, 1998 apud NEVES e ROMANELLI, 2006).
As condições em que isso acontece, segundo Neves e Romanelli (2006), são as mais
diversas, não estando o fenômeno do abuso sexual intrafamiliar restrito as classes econômicas
subalternas. É uma situação que existe independente da condição social, gênero ou idade. A
diferença básica é que nas classes mais baixas, há propensão a agravantes ligados diretamente a
condição de vulnerabilidade social, e além disso, como não há privacidade, os casos são
identificados mais facilmente.
A vitima tem perfis também variados, sendo, como afirma Azambuja (2004), na
maioria das vezes meninas, por que, por serem mais frágeis se tornam presas fáceis, muito
embora essa não seja uma regra, pois existem muitos casos de crianças do sexo masculino que
são abusadas sexualmente. Além disso, o abuso acontece mais com vítimas do sexo feminino,
conforme essa autora, em decorrência da histórica dominação do homem sobre a mulher,
colocando esta última – e a sua sexualidade – a serviço do mais forte.
O senso comum muitas vezes aponta para um “consentimento” da vítima, como uma
forma de desviar a responsabilidade do agressor: vale ressaltar que, segundo Saffiotti (1995),
em situações de abuso sexual “ceder” não é sinônimo de “consentir”, pois o agressor usa-se
dos sentimentos da vítima para vencer a sua resistência, indo desde a sedução, manipulação da
culpa, medo e vergonha da criança, do seu medo da desintegração familiar, e por fim, da
ameaça e da violência física.
O agressor não necessariamente pode ser acometido de alguma patologia, nem mesmo
apresentar sinais claros de ser um abusador sexual. São pessoas normais, e muitas vezes, acima
de qualquer suspeita. Segundo Azambuja (2004), esta agressor pode ter distúrbios
psicológicos, dificuldade de se aceitar, baixa auto-estima, necessidade de exercer poder e
dominação sobre outras pessoas. Além disso, embora não seja uma regra, Furniss (1993)
aponta que alguns agressores podem ter sido vítimas de abuso na infância e transferem essa
situação para a vítima. De acordo com Santos (1991), os pais são os principais abusadores de
suas próprias filhas.
Na maioria dos casos, o abuso é mantido em segredo, que Furniss (1993) chama de
complô do silêncio. A família, segundo Cunha (2005) apud Azambuja (2004), protege este
segredo por um muro de tabus, medos, culpas e vergonhas, ou ainda, num contexto de
dependência financeira e emocional do agressor, além das ameaças e agressões. Araújo (2002)
relata que o agressor utiliza-se de vários mecanismos para perpetuar o abuso e seu exercício de
poder sobre a vítima.
A mãe, ou o adulto não abusador não pode ser considerado sempre um agente de
proteção para a criança. Embora, como aponta Oliveira (2004) quando existe a proteção
materna, as chances de o abuso ser rompido antes de ter maiores conseqüências é grande, em
muitos casos a mãe não assume essa postura e sim, posiciona-se em defesa do agressor.
Entretanto, como aponta Azambuja (2004), essa conivência com o abuso sexual praticado
contra os filhos, pode ser explicada pela dependência econômica e emocional das mulheres em
relação ao companheiro, ou ainda, ao fato desta também estar sendo agredida e ameaçada.
Embora, como já dito, o abuso sexual possa acontecer em qualquer ambiente social,
com qualquer pessoa, não implicando na existência de um perfil de famílias incestuosas e de
agressor, Matos et al (2003) apud Azambuja (2004), apontam como fatores de risco a
vulnerabilidade social, os relacionamentos familiares pautados no poder e no medo, o uso de
drogas lícitas e ilícitas, a violência, a ausência do afeto materno e da presença materna no lar, a
negligência dos pais.
Mees (2001) apud Azambuja (2004) apontam que o abuso sexual, especialmente
quando praticado por pessoas em quem a criança confia, traz implicações físicas e psicológicas
para a vitima, traumas que podem perdurar por toda uma vida. Segundo Zavaschi (1991) apud
Azambuja (2004), as vítimas de abuso sexual podem apresentar em algum momento de sua
vida sintomas como tendências suicidas, auto-mutilação, uso de drogas, depressão, isolamento
afetivo, distúrbios de conduta, agressão sexual, etc.
Na Constituição Federal de 1988, art. 227, fica bem claro que qualquer agressão sexual
contra crianças e adolescentes devem ser punidas severamente. O Estatuto da Criança e
Adolescente, por sua vez, é uma iniciativa louvável em busca da efetiva proteção aos direitos
das crianças e dos adolescentes, estabelecendo mecanismos para essa proteção. Mas como é de
conhecimento geral, existe no Brasil uma discrepância muito grande entre os direitos previstos
em lei e a sua operacionalização na prática. A responsabilização do agressor, portanto, é
prevista em lei, e o abuso sexual é crime, e embora a primeira preocupação deva estar ligada ao
atendimento da vítima, o adulto abusador precisa ser submetido à lei e enfrentar as
conseqüências de seu ato criminoso (AZAMBUJA, 2004).
Nesse contexto, não há como ignorar a necessidade de tratamento especializado para
vitima e família, e a necessidade de atendimento ao agressor, visto que, segundo Azambuja
(2004), ele também é um ser humano que precisa superar a situação em que se encontra.
Segundo esta autora, não há agressores sexuais que mudem seu comportamento sem a
intervenção externa, e se esta não for eficaz, este sujeito continuará buscando novas vítimas.
7. Metodologia
Assim que forem concluídas as oficinas com as turmas do Ensino Fundamental e Médio
das escolas atendidas, deverão ser realizadas atividades específicas voltadas para os pais, em
forma de palestra e com a utilização de recursos audiovisuais para auxiliar no entendimento e
na realização das discussões, estimulando a participação e o esclarecimento de dúvidas. Deve
ser realizada pelo menos uma reunião com os pais em cada uma das escolas.
Deve ainda, ser organizado um roteiro de informativos para esclarecimento nas Rádios
presentes no município de Tuparendi, a Rádio Mauá FM e Rádio Comunitária FM, e conforme
disponibilidade, na Rádio Noroeste AM que possui grande audiência no município. Além
disso, será utilizado espaço no Jornal Destaque para vinculação de matérias de esclarecimento
acerca do abuso sexual, além de outras matérias de divulgação do projeto no Jornal Noroeste e
Gazeta Regional.
Por fim, deve-se realizar uma ampla discussão com a equipe da Secretaria de Saúde e
Ação Social a fim de dar direcionamento às próximas ações a serem realizadas posteriormente
a conclusão deste projeto.
8. Recursos
8.1 Humanos
8.2 Materiais
9. Cronograma Físico
Referências Bibliográficas
AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. Violência Sexual Intrafamiliar: É possível proteger a
criança? Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed., 2004.
GUERRA, V. Violência de pais contra filhos: a tragédia revisitada. São Paulo: Cortez, 1998.
SAFFIOTI, Heleisth. Circuito fechado, abuso sexual incestuoso. In: Mulheres vigiadas e
castigadas. São Paulo: Claden, 1995.