Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
"A
DOR
DO
MUNDO"
por
Simone
Mascarenhas
Há
milhares
de
anos
nos
embrenhávamos
pelas
matas
e
planícies
buscando
lugares
para
criar
o
nosso
mundo.
Não
estávamos
em
busca
de
um
lugar
qualquer,
mas
um
lugar
especial,
perto
de
um
rio,
com
caça
abundante,
recursos
naturais
fartos.
E
encontrávamos.
Sempre
encontrávamos.
Neste
lugar
especial,
fincávamos
um
pedaço
de
madeira
no
solo
simbolizando
que
ali
iríamos
construir
o
nosso
universo.
Ao
redor
desse
pequeno
objeto,
erguíamos
nossas
tendas
ou
nossas
ocas
juntamente
com
nossa
família,
amigos
e
parentes,
e
aquele
pequeno
local
se
tornava
para
nós,
um
lugar
sagrado.
Éramos
uma
unidade.
O
xamã
sabia
disso.
Ele
era
o
médico,
psicólogo,
conselheiro
e
sábio.
Ele
sabia
que
quando
alguém
estava
doente,
o
grupo
estava
doente.
Não
havia
separação,
tudo
estava
integrado
e
inter‐relacionado.
Vivíamos
em
harmonia
uns
com
os
outros
e
com
o
ambiente,
portanto
quando
alguém
sofria,
o
grupo
sofria.
Toda
dor
era
desencadeada
por
fatores
dos
quais
éramos
todos
responsáveis.
O
enfermo,
do
corpo
ou
da
alma,
era
acolhido
por
todos
que
se
juntavam
ao
redor
do
fogo
purificador,
fechando
o
círculo
para
auxiliar
o
xamã
na
roda
de
cura,
já
que
todo
membro
do
grupo
era
um
pequeno
fragmento,
e
quando
um
fragmento
se
perde,
se
perde
a
inteireza.
E
as
curas
ocorriam
para
assombro
e
espanto
da
nossa
contemporânea
comunidade
científica.
Misticismo,
magia,
uma
força
sobrenatural?
Não.
Apenas
uma
visão
do
todo,
da
unidade,
a
compreensão
de
princípios
simples
que
regem
o
universo.
O
xamã
sabia.
Nós
sabíamos
que
as
coisas
funcionavam
assim.
Mas
o
que
isso
tem
a
ver
comigo
ou
com
você?
Num
primeiro
momento,
parece
que
nada.
Não
mais
nos
identificamos
com
esses
povos
"primitivos"
e
com
essas
"crendices".
É
bem
verdade
que
o
mundo
mudou,
e
mudou
muito.
As
comunidades
cresceram,
se
separaram.
Nos
isolamos
cada
vez
mais,
nos
tornamos
cada
vez
mais
auto‐centrados,
egoístas
e
egocêntricos.
Ou
é
do
meu
jeito,
ou
não
tem
conversa.
Quando
estou
doente
não
recorro
mais
ao
xamã
na
minha
comunidade,
mas
a
um
médico
ou
um
psiquiatra
que
nunca
me
viu
na
vida.
Um
alguém
que
me
vende
pílulas
de
esperança,
mas
não
é
capaz
de
curar
a
dor
da
minha
alma.
Artigo
publicado
em
23/04/2011
www.simonemascarenhas.com.br
2
E
essa
dor
inconsciente
é
a
dor
da
separação.
Perdemos
a
unidade,
a
integração,
a
inteireza.
E
o
preço
é
alto.
O
preço
é
a
depressão,
a
angústia,
a
tristeza,
uma
eterna
sensação
de
vazio.
De
que
por
mais
que
a
gente
faça,
sempre
falta
alguma
coisa.
Tentamos
em
vão
preencher
esse
vazio
com
"coisas",
uma
doce
ilusão.
Mesmo
sem
perceber,
buscamos
pessoas
afins,
sondamos
grupos
a
nossa
volta
para
restaurar
na
nossa
alma
a
sensação
de
completude,
de
inteireza,
de
"fazer
parte".
Redes
sociais,
grupos
de
meditação,
de
pintura
em
porcelana,
a
paróquia
da
igreja.
O
futebolzinho
no
sábado
com
os
amigos,
se
torna
"sagrado".
Quando
sofremos,
também
a
nossa
alma
se
fragmenta.
Os
xamãs
acreditam
que
adoecemos
porque
parte
da
nossa
alma
foi
embora.
Nossa
alma
é
fluído
vital,
é
pura
energia,
mas
essa
energia
tem
consciência,
e
sem
energia,
sem
vitalidade
e
sem
essa
parte
da
nossa
consciência,
abrimos
espaço
para
a
doença
se
instalar
no"
buraco"
que
ficou,
como
diz
a
xamã
contemporânea,
Sandra
Ingerman.
O
estudo
da
consciência
humana
já
provou
que
a
nossa
psique
também
se
fragmenta.
Somos
seres
múltiplos
e
isso
não
é
uma
patologia,
mas
um
mecanismo
de
sobrevivência.
Mas
quando
um
pedaço
vai
embora,
fica
um
vazio.
Nosso
trabalho
é
trazer
de
volta
o
que
se
foi,
para
novamente
nos
tornarmos
inteiros.
É
fazer
o
caminho
de
volta
para
casa.
A
dor
do
mundo
é
a
dor
da
separação,
e
a
maior
doença
é
a
intolerância.
Quando
uma
parte
do
meu
corpo
dói,
qual
é
a
melhor
solução?
Cortar
ela
fora,
ou
tentar
entender
o
que
está
causando
a
dor
e
tratar
de
resolver
o
problema?
Arrancar
um
pedaço
de
mim
só
vai
trazer
mais
dor.
Quando
me
sinto
excluída
de
algo,
de
um
relacionamento,
da
família,
de
um
grupo,
de
uma
comunidade,
ou
seja
lá
do
que
for
‐
dói,
e
dói
muito.
Eu
me
sinto
"separada"
e
tento
desesperadamente
mais
uma
vez
me
incluir.
E
nessa
tentativa,
surge
outro
conflito.
Percebo
que
uma
parte
de
mim
quer
"estar
junto",
e
outra
parte,
a
parte
orgulhosa,
não
quer.
E
assim,
ocorre
uma
nova
fragmentação,
só
que
agora
na
minha
alma,
na
minha
vontade,
no
meu
querer.
A
parte
orgulhosa
que
não
quer
as
vezes
vai
embora
contrariada,
e
se
Artigo
publicado
em
23/04/2011
www.simonemascarenhas.com.br
3
perde
no
tempo
e
no
espaço
remoendo
seus
próprios
pensamentos.
E
eu,
fico
"dividida",
sentindo
que
falta
um
pedaço
de
mim.
Se
eu
novamente
me
incluir
no
grupo,
posso
ficar
com
a
sensação
de
que
"não
é
a
mesma
coisa".
E
não
é
mesmo.
Você
não
é
o
mesmo,
faltam
os
pedaços
de
você
que
foram
embora
contrariados.
Pense
nisso.
Tudo
o
que
ocorre
no
microcosmo,
ocorre
no
macrocosmo.
Basta
mudar
o
olhar
para
perceber.
Basta
fazer
o
que
os
xamãs
faziam,
observar
o
mundo
e
a
natureza
das
coisas.
Como
diziam
no
antigo
Egito
"o
que
está
em
baixo
é
como
o
que
está
em
cima
e
o
que
está
em
cima
é
como
o
que
está
em
baixo.
Onde
quer
que
você
pouse
o
olhar,
verá
sempre
a
mesma
dor.
É
tempo
de
juntar
os
nossos
pedaços,
colar
as
partes
e
voltar
para
casa.
Simone
Mascarenhas
é
Psicoterapeuta
de
Orientação
Transpessoal
especializada
em
Terapia
de
Vidas
Passadas,
Regressão
Terapêutica,
Captação
Psíquica,
Florais
de
Saint
Germain,
Psicossomática,
Reiki,
Estimulação
Neural.
Fonte:
http://www.simonemascarenhas.com.br/?p=1341
Links
relacionados:
http://www.simonemascarenhas.com.br/?page_id=1223
BIBLIOGRAFIA
CAES,
André
Luiz.
“A
Experiência
da
Consciência
Cósmica:
breve
história
da
busca
religiosa
do
ser
humano.”
ELIADE,
Mircea.
O
Sagrado
e
o
Profano,
A
essência
das
religiões.
Martins
Fontes,
2010
CAVALCANTI,
Raissa.
O
Retorno
do
Sagrado.
Cultrix,
2000
WEIL,
Pierre.
A
Consciência
Cósmica.
Vozes,
1976
INGERMAN,
Sandra.
Resgate
de
Alma.
Vida
&
Consciência,
2008
GODINHO,
J.S
.
Conflitos
Conscienciais.
Holus
Editora,
2007
CARTER,
Rita.
Multiplicidade,
A
Nova
Ciência
da
Personalidade.
Rocco,
2008
INICIADOS,
Três.
O
Caibalion.
Pensamento,
2008
Artigo publicado em 23/04/2011 www.simonemascarenhas.com.br