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«O JOGO DA (MINHA) VIDA»

"O jogo é o espelho da vida e o suporte da aprendizagem."

(Froebel)

Um dia recebi um daqueles e-mails que não se conhece a sua origem.


Falava de uma senhora de 80 anos que tinha regressado à Universidade e,
numa conversa com um aluno bem mais jovem, ela dizia: ”Não deixamos de
jogar porque ficamos velhos. Ficamos velhos porque deixamos de jogar.”

Joguei voleibol durante dez anos, numa fase da vida em que se faz
grande parte da construção da nossa personalidade. Mas mesmo depois de
abandonar a prática deste desporto, sempre vivi rodeada pelo voleibol e pelos
amigos que a ele estiveram ligados e pelos que ainda estão neste desporto.
Joguei num tempo em que as equipas podiam estar a servir durante meia
hora sem que fosse feito qualquer ponto.
Não fui uma “grande jogadora”, nem sequer uma “jogadora grande”. Tinha
algumas dificuldades no jogo junto à rede, devido à minha forte relação com a
força da gravidade. Sentia-me mais à vontade a servir, receber ou defender …
mas a posição de “libero” era desempenho que ainda não fazia parte das
regras do jogo.
Mas mesmo tendo deixado de praticar este desporto, será que alguma
vez deixei de “jogar”?
Enquanto o nosso coração bate e o nosso cérebro permite o raciocínio e a
manifestação de emoções, não estamos nós a “jogar”?
E se a nossa vida for um “jogo”, ou vários “jogos” dentro de um
“campeonato”, porque não ter as regras do voleibol, como fio condutor, para o
disputar de uma forma compatível com os valores que fundamentam as regras
da sociedade em que vivemos?

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Senão vejamos:
No voleibol, quando se entra em campo, sabemos que nunca poderemos
jogar para o empate. Por isso só há duas hipóteses a considerar: a vitória ou a
derrota.
Independentemente do resultado final, e da forma como o conseguimos
gerir, no jogo, como na vida, é importante que entremos em campo com
confiança nas nossas capacidades e empenho.
Se olharmos o jogo como se da discussão de um tema se tratasse, tendo
a bola como tema e os gestos técnicos como os argumentos, facilmente
perceberemos que para ganhar temos que argumentar muito bem. E nem
sempre é a força que faz ganhar a jogada. Muitas vezes é a inteligência, uma
atitude positiva e quase sempre, ou sempre, a entreajuda...
Num jogo de equipa as conquistas, são conquistas partilhadas com os
companheiros. As explosões de alegria das vitórias “suadas” e da conquista de
títulos são sensações únicas. Também na vida é gratificante poder partilhar
com os amigos objectivos, ideias e ideais…
Contudo, não partilhamos com os amigos apenas as vitórias. Partilhamos
também as lágrimas de desalento e a tristezas das derrotas.
“Perder” não é um verbo que nos agrade utilizar quando nos referimos a
momentos por nós vividos, e nem todos reagimos de igual forma a esta natural
contrariedade. Contudo, independentemente da forma como cada um reage à
derrota, “perder um jogo” deveria implicar um momento de reflexão. Para
podermos corrigir os nossos erros e superar os obstáculos, é importante que
sejamos capazes de reconhecer e assumir as nossas falhas e as nossas
dificuldades. Se formos capazes de encarar a derrota, com tolerância à
frustração, poderemos corrigir aquilo que falhou e melhorar as nossas
prestações futuras. É que, tal como no voleibol, na vida as derrotas também
nos podem dar pontos.
Uma derrota pode ter origem na superioridade física e/ou técnica do
nosso adversário, na sua perspicácia e inteligência ou até naquela “pontinha de
sorte” que nos faltou. Mas uma derrota nunca deverá ter origem na nossa falta
de empenho.
Pode acontecer também que o resultado final de um jogo possa ser
influenciado por decisões de pessoas que, fora de campo, têm como função

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avaliar o cumprimento, ou não, das regras do jogo. Estas pessoas não têm
uma tarefa fácil e, como tal, nem sempre isenta de erros.
Se não respeitarmos as regras teremos de ser “penalizados”. Mas para
que esta “penalização” não seja sentida como uma injustiça, é fundamental que
para além de isentas, estas pessoas evitem também a dualidade de critérios
nas suas avaliações.
Nem todos aceitamos, da mesma maneira, uma decisão que não nos
beneficia. E como implicados no processo, nem sempre reagimos com a calma
e a racionalidade desejáveis nesses momentos. Cabe a cada um de nós fazer
uma aprendizagem, no sentido de superar e contrariar as injustiças que, tal
como no jogo, também na vida, acontecem.
Por vezes, no voleibol, até acontece que uma equipa vença o jogo
fazendo menos pontos que a equipa derrotada. Pode parecer injusto, mas tudo
depende da forma como cada equipa aproveita as oportunidades.
Também na vida é preciso saber agarrar as oportunidades que se nos
oferecem, tendo em conta que, tal como no volei, mesmo os limites do campo
não sendo os limites do único espaço em que podemos jogar, devemos
defender o nosso espaço sem invadir o espaço dos outros.
Respeitar o adversário passa por darmos o nosso melhor, sem nunca o
subjugar. É fundamental que se cultive o “fazer bem” e não só o “fazer por
fazer”… é que os resultados só se conhecem no fim do jogo.
Às vezes as vitórias adivinham-se fáceis e provavelmente o empenho e a
entrega ficam aquém das nossas capacidades… E o jogo, tal como a vida,
“complica-se”.
Nestes momentos temos de acreditar que somos capazes de dar “a volta
ao resultado”… Por vezes, para o conseguir precisamos de um “tempo”. Neste
“tempo” para além de fazermos uma paragem, temos a oportunidade de ouvir a
opinião de quem está fora de campo a observar a nossa prestação. No campo,
temos o treinador…na vida, temos a família, um companheiro, ou um amigo …
O treinador tem como função orientar, incentivar, e às vezes a sua opção
passa por nos deixar fora de campo. Contudo, isso não significa que estejamos
fora do jogo, nem fora da equipa.

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Muitas vezes os momentos que passamos no “banco dos suplentes”, não
só servem para recuperar fisicamente, mas também para observar, numa outra
perspectiva, o jogo em que estamos a participar.
Na vida, por vezes, também temos de nos distanciar um pouco de
determinadas situações para que melhor as possamos avaliar e resolver.
Nestas alturas, frequentemente, sentimos necessidade do apoio das
pessoas que nos rodeiam. Tal como num jogo, também na vida a “assistência”
é fundamental. Ter alguém que nos apoia e incentiva, quer nos momentos
felizes quer nos momentos menos bons, é fundamental para o nosso equilíbrio
emocional.
No desporto, como na vida, perder um jogo pode fazer-nos sentir que
perdemos “meia época”, mas na grande maioria das vezes, não significa perder
o “campeonato”. Assim como ganhar um “jogo” nem sempre significa a
conquista de um “título”…

Quando decidimos praticar uma modalidade desportiva não crescemos só


fisicamente… Crescemos também emocionalmente. E este “crescimento” faz-
se dentro de um conjunto de valores que influenciam o desenvolvimento da
nossa personalidade e se reflecte nas nossas atitudes e nos nossos
comportamentos.
Não devemos perder a capacidade de acreditar na aprendizagem que
fazemos com as nossas vivências, no nosso valor e na nossa capacidade de
luta e conquista dos nossos objectivos.
Como dizia a senhora de 80 anos, não devemos perder a capacidade de
jogar… De jogar “O Jogo da (nossa) Vida”.

Cristina Pinto
Janeiro de 2004

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