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MELO, Indianara P.

de1

AFRODITE E O MITO DA MULHER


MODERNA

RESUMO: O mito como forma de explicar as relações antigas e atuais entre homens e mulheres e onde a
satisfação e frustração do desejo feminino se encaixam, analisando a situação feminina atual e relacionando-
se com ela.

PALAVRAS-CHAVE: Mito; Afrodite; Sexualidade feminina; Desejo; Submissão: Sociedade.

Para entender o novo lugar da mulher na sociedade atual, é preciso passar pelos
processos históricos que a trouxeram até este ponto, utilizando o seu maior símbolo de
sensualidade e feminilidade: a deusa Afrodite.
Pela versão do mito na Teogonia de Hesíodo, Afrodite era a mais bela das deusas,
nascida do esperma de Urano caído no mar, a partir da sua castração. É possível afirmar, a
partir daqui, que aparece um primeiro ponto a ser observado nas relações entre homens e
mulheres: o medo e desejo do aspecto masculino para com o aspecto feminino.
Na sociedade grega antiga, a mulher era submissa, e a grande maioria ficava reclusa
ao ambiente domiciliar, como afirma a autora Muraro: "Nas casas dos poderosos havia um
recinto reservado para os homens e outro para as mulheres – o gineceu."2. Esta separação
entre homens e mulheres advém do medo do homem em relação à mulher, considerada
misteriosa, sedutora, dissimulada e perigosa, visão essencialmente patriarcalista. Além
dessa separação corporal, não poderia haver também nenhuma relação emocional; a mulher
era propriedade masculina e assim deveria ser. Neste âmbito, onde a mulher é tão reclusa e
submissa, como pode haver um exemplo feminino como Afrodite? Para responder a tal
pergunta, recorremos ao mito de Eros e Psiquê, na versão do poeta latino Apuleio, em que
Afrodite (a mãe-amante) se choca com a visão de Psiquê. No mito, a jovem mortal é
adorada como a "nova Afrodite". A deusa, então, sente-se rivalizada pela jovem e ordena
ao seu filho-amante Eros que a faça se apaixonar pelo homem mais vil da Terra. Não
cumprindo a ordem recebida, Eros toma Psiquê como esposa.

1
Idianara Pereira de Melo é graduanda do Curso de psicologia da Faculdade Ruy Barbosa e realizou este
trabalho sob a orientação do Prof. José Menezes.
2
Muraro, Rose Marie. A mulher do terceiro milênio. p. 89.
2

A aversão e o ódio, de um lado,e, de outro, a posterior aceitação da deusa em


relação à nora ocorrem pelo fato de as duas serem visões antagônicas da representação
feminina atual, difusa pelo novo papel assumido na sociedade e pelo amor. Afrodite
encarna a visão da fertilização e do prazer libidinoso e sensual da mulher, ao passo que
Psiquê, ainda que apresente dúvidas e conflitos interiores, como diz o autor Junito em "... A
que no mesmo corpo, odeia o monstro e ama o marido. "3, apresenta a visão da mulher
“perfeita”, sendo fiel e submissa.
A submissão aos desejos do cônjuge em detrimento dos próprios cria mulheres
frustradas e assombradas pelo fantasma do próprio "eu". As mulheres que ousam viver sua
sexualidade plenamente eram, e ainda são, excluídas socialmente, ainda que no novo
contexto social esta "tendência" tenha se suavizado. Sempre sendo comparadas a modelos
de mulheres perfeitas, sofrem dificuldades em se afirmar, que vão desde as mais simples
formas de aceitação até a falta de orgasmo.
Desde a Antigüidade tem sido outorgado à mulher o papel de pecadora e de
afastadora do homem para com Deus, como a autora Rose Marie Muraro afirma: "... O
homem ainda culpa a mulher por sua transgressão à lei do Pai, que é a origem de todos os
males (...) e é isto mesmo que diz o Gênese: Porque Adão preferiu a mulher, foi
simbolicamente morto pelo Pai. Daí a mensagem de que a mulher é tentadora destrutiva e
que desestabiliza as relações do homem com Deus."4. Com esse estigma produziu-se o mito
da mulher, que as gerações seguintes carregam até hoje.
Logicamente, a educação concedida à menina influi no que ela será quando mulher.
A educação dada, por exemplo, às atenienses antigas era a doméstica, uma vez que não
deviam apresentar interesse pelo sexo; sua função era apenas reprodutória, como afirma a
autora Camille Paglia: “Através da história, sempre se esperou das mulheres respeitáveis
que mantivessem um olhar reservado.Ou seja, não olhar fixamente, conservar os olhos
quedos.”5 Falta de interesse este que Afrodite não apresentava, possuindo diversos amantes
e desfrutando de seu prazer, embora pudesse cometer adultério; era uma deusa e não uma
mortal. Porém, nos tempos atuais, a mulher ganhou mais liberdade, porque “agora nós
estamos num tempo em que é permissível às mulheres transformar os homens em objetos

3
Brandão, Junito de Souza. Mitologia grega. p. 229.
4
Muraro, Rose Marie. A mulher do terceiro milênio. pp. 72/73.
5
Paglia, Camille. Vampes e vadias. p. 42.
3

sexuais.”6 Novamente afirmando, Paglia demonstra que apesar de os tempos terem mudado,
ainda hoje a mentalidade masculina permanece quase “inalterada”.
Nesse meio, onde o homem teme a mulher, não era incomum a homossexualidade
masculina, já que a feminina era quase inexistente numa sociedade rivalizada pela busca
dos melhores provedores “Mas sim em Lesbos, onde a sociedade aceitava tanto homens
quanto mulheres e os educava conjuntamente.”7 como afirma Muraro.
O pensamento masculino daquela época refletiu até os dias atuais na idéia de
inferioridade feminina em relação ao homem. Até o grande filósofo Aristóteles considerava
“natural” a mulher ser inferior ao homem. Sendo assim, como então poderiam os gregos,
tendo uma deusa como Afrodite, apresentar tal pensamento? Os gregos descendem de uma
civilização conhecida como Minóica – uma sociedade matriarcal e matrilinear, mas que foi
dominada pelos egeus, um povo altamente militarista. Foi preciso quebrar o poderio
feminino, que se opunha ao masculino militarista, dividindo-o em várias facetas, dando
origem às diversas deusas do panteão grego clássico. Afrodite, em sua origem, é uma deusa
“importada” absorvida de culturas orientais, onde ainda era vigente o sistema matrilinear;
ela nunca foi totalmente grega, e por isso assumia o caráter sensual e sexual, que era
negado às mulheres gregas, dando vazão a estes sentimentos, ocultados pelas mulheres.
Mulheres como Helena de Tróia e Cleópatra eram consideradas perigosíssimas, pois
acentuavam mais ainda o medo masculino, resultando, com isso, em imagens distorcidas
pela história, como por exemplo: adúltera,causadora de milhares de mortes, e prostituta,
apenas porque elas viveram intensamente suas vidas, não só sexuais, sem serem
subordinadas aos homens.
Outro paralelo possível de ser traçado é com o povo romano. A sociedade de Roma
era fortemente patriarcal; as mulheres não possuíam um nome próprio, o que as reduzia
mais ainda ao status de objeto; a virgindade era muito prezada, assim como é nos dias de
hoje, com a “pequena” ressalva de que o pai podia matar a esposa ou a filha não casta,ou,
até mesmo, vendê-la como escrava.
Aspecto parecido acontece nos dias atuais: apesar de a virgindade ser tão prezada
quanto antes, o preço agora é a vergonha pública e o isolamento social.Outro aspecto
interessante a ser notado é que a liberdade de hoje advém da revolução industrial e do
período de guerras, permanecendo assim no período dos pós-guerras, que,devido à

6
Idem. p. 42.
7
Muraro, Rose Marie. A mulher do terceiro milênio. p. 90.
4

necessidade, a mulher passou a exigir seu espaço e prazer, encarando, dessa forma, homens
despreparados, em razão de milênios de submissão feminina. A mulher conseguiu, então,
um novo lugar na sociedade: como provedora da casa, em altos postos de chefia e onde
realmente atingiu o ego masculino, como novas chefas de família.
Ocupada a posição tida como exclusivamente masculina, a mulher consolidou sua
presença ativa no meio não somente socioeconômico, como também nas esferas pessoais.
Apesar dessa independência adquirida, ela acabou com duas “jornadas de trabalho”: uma
como provedora do sustento familiar e a outra como mãe e dona de casa. Contudo, as
mulheres só se tornaram realmente independentes no período de guerras, quando não
existiam homens suficientes para realizar os ofícios industriais, com a vinda das mulheres
para as fábricas, fazendo com que até culturalmente elas passassem a usar roupas
confortáveis e práticas e também começassem a fumar e beber, comportamento considerado
masculino porque é nesse ponto que elas realmente assumem a posição masculina, de
provedoras do sustento familiar.
Não obstante, a mulher não ficou livre de preconceitos e tabus que persistem ainda
hoje: a virgindade, as relações interpessoais, o que a mulher “pode” ou “não” fazer, e até
mesmo a menstruação, que ainda é um tabu em culturas como a islâmica.
Aparentemente, as culturas orientais demonstram certo “retrocesso” em relação à
mulher se comparadas ao Ocidente. Na China, por exemplo, ainda é vigente o costume do
infanticídio pós-natal de meninas, principalmente em áreas rurais, tendo em vista sua falta
de utilidade na mão-de-obra e tendo preferência masculina, porque, além de tudo, o
governo auxilia quando se tem um filho e os pais pagam impostos quando têm uma menina.
Remontando as possíveis raízes desta diferenciação, observa-se um interessante
comportamento das épocas imperiais: O atamento dos pés das meninas. Era um costume
bastante popular; “as flores de lótus”, como eram chamadas, mutilavam os pés até doze ou
dez centímetros, já que ter um pé pequeno era um símbolo sexual de forte apelo à libido
masculina.
Mas o que há por trás desse costume é o que deve ser observado. Com os pés
atados, as mulheres não poderiam ir muito longe sem seus maridos, além de causar
problemas lombares e de dificuldade óbvia de locomoção. Mais uma vez a mulher está
submissa aos caprichos masculinos, até mesmo no jogo de sedução.
A repressão sexual vai além da mutilação corporal. Estupros, relações incestuosas e
humilhações eram comuns não somente na China, mas em muitos países onde a máxima da
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negação do prazer feminino é mutilar sua genitália, prática ainda comum em certas culturas
africanas.
Para falarmos da sexualidade feminina recorremos de novo a Afrodite. Uma deusa
de uma natureza dúbia, hora afável e gentil como uma mãe, hora vingativa e possessiva
como uma “mulher”. A dupla natureza dessa deusa explicita ainda mais a natureza
feminina, uma vez que é justamente por essa razão que os homens temem tanto as
mulheres.
Embora as deusas ainda fossem veneradas, eram vistas como um grande mal
infringido por Zeus aos homens. Um bom exemplo disso é Pandora, que foi dada como
“presente” aos homens, sendo acompanhada também por uma caixa, pithos (jarro). Por sua
curiosidade, abriu a caixa e espalhou todos os males pela Terra, analogamente à Eva, que
separou o homem de Deus; por isso deve ser trancada e vigiada no gineceu.
Como criação, nossa sociedade tem base na crença judaico-cristã, que é repressiva
em relação ao sexo, e não só ao desejo feminino, mas também ao masculino. Claro que a
repressão é maior para as mulheres. O Levítico, escrito por volta do séc XXX a.C.,
demonstra claramente isso; criado com a intenção de ser um código de leis para um povo
desagregado, ele fez duras imposições e restrições para com a mulher, tais como: “Se uma
mulher parir macho, será imunda por sete dias e estará separada, da mesma sorte, que nas
purgações menstruais.(...) se parir fêmea, será imunda duas semanas, como nas purgações
menstruais.”8 Novamente, era preferível ter rebentos meninos que meninas. O desejo era
altamente reprimido. Os fluxos, como menstruação e orgasmo, eram formas de impurezas
humanas e deveriam ser expurgados; no caso da menstruação, era um “desperdício de
vida”, já que o simbolismo forte do sangue era a representação da vida, tornando a mulher
realmente um ser “assexuado”, submetendo-a, assim, aos seus limites.
Encarcerado no próprio corpo, ao desejo era proibido qualquer forma de expressão,
até mesmo a nudez e o autoconhecimento, sendo considerados atos imorais, repugnados e
severamente punidos, a exemplo da masturbação. Inserido neste contexto, apresentam-se as
teorias freudianas, dentre elas as apresentadas nos trabalhos Totem e Tabu, na ótica da
mulher como um ser sem desejo e submisso. E o que o Mito de Afrodite transformaria nas
teorias freudianas? A resposta é um tanto óbvia e relativamente simples. Afrodite é uma
mulher que persegue seus objetivos, não é passiva nem submissa e se sente bem na forma

8
Lv: 12, v:2:5.
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que possui sendo mulher. Dona dos mesmos desejos irrefreáveis e ardorosos, como o
masculino, ela não os reprime dentro de si, liberando-os das mais diversas maneiras,
independentemente do contexto social grego. Neste ângulo, ela é uma mulher completa e
feliz, pois vive totalmente sua sexualidade e todos os menores e maiores prazeres que lhe
são negados; ela é independente.
Na tradição judaico-cristã, nega-se o desejo, exprimindo-o, sufocando-o, como se
tentasse apagar sua existência. Já com os gregos e seus mitos femininos tem-se uma
liberação desse desejo, ainda que de forma não plena. Todavia, há exemplos de mulheres
que se destacaram, como a poetisa Safo e mulheres como hetairas – mulheres donas de
suas vidas e cultas, mas nem sempre cortesãs. Essas mulheres de mentes livres exerciam
sua liberdade e serviam de companhias desejáveis para os homens apenas em reuniões
noturnas, lugares não só para se fazer sexo, como também para conversar, declamar poesias
e divertir a mente e o corpo de diversas formas.
Em muitas dessas reuniões podiam-se encontrar alguns filósofos importantes e
outras personalidades masculinas bem vistas na sociedade; à mulher (com exceção as já
citadas hetairas) não era dada tal liberdade.
Para sintetizar pontos de vista antagônicos, como o da tradição judaico-cristã e o
Mito de Afrodite, surge o filósofo Platão em duas obras, cujo Eros é discutido por ele; são
elas: República e o Banquete.
Em República, a ação do Eros é encarada como negativa, pois é associada à tirania
dos sentidos, onde tudo é falso; em Banquete, o Eros é objeto de vários elogios, inclusive
de Sócrates: “O amor é um agente educativo, e que a aspiração à verdade, ao ser
impulsionada, é por ele ativada.” O bem, o belo e o justo são a busca eterna do homem, e o
Eros, por sua vez, conspira para que estes objetivos sejam alcançados.
Para Platão, a razão deveria sobrepor os sentimentos, vistos que estes derivavam do
mundo dos sentidos (falso), e não do mundo das idéias (verdadeiro); o amor platônico
falava justamente sobre um “amor racional”, sem se deixar levar pelo desejo; havia desejo
sim, mas ele deveria ser, como já fora dito, subjugado pela razão, a fim de que o homem
encontrasse sua felicidade sendo justo e virtuoso, mas, acima de tudo, amando.
Nas mulheres de hoje, ainda vivem deusas como Afrodite e várias outras
fragmentadas, casadas ou não com Eros ou Hefestos, mas verdadeiramente aprisionadas
num corpo de Eva, que, em luta constante, desejam libertar-se do falso moralismo e dos
preconceitos da sociedade patriarcal em que vivem, perpetuando, assim, a eterna luta de
7

suas duas naturezas: A de Afrodite e a de Psiquê.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MURARO,Rose Maria. A mulher do terceiro milênio. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos,
2000.
BRANDÃO,Junito de Souza. Mitologia grega. Petrópolis: Vozes Ltda,1997. v. 2.
Bíblia Sagrada. Reader’s Digest, 2000.
PAGLIA, Camille. Vampes e vadias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora
S/A,1994.
< http://www.hottopos.com/videtur18/gilda.htm >
< http://warj.med.br/femimito.asp?ver=0&prt=sim >
< www.cientefico.frb.br >

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