Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
COMENTÁRIOS
Primeiro, fato humano involuntário não é conduta. Sob a ótica finalista de Welzel, conduta implica
vontade dirigida para uma finalidade. Para o pós-finalismo não é diferente. Seja sob o Funcionalismo
radical do Günther Jakobs, seja sob a perspectiva moderada de Roxin, ou ainda, em qualquer linha do
Garantismo, a conduta há de ser voluntária, assim entendida como ação ou omissão teleologicamente
orientada.
Assim, a assertiva I não pode estar certa. Convém recordar que mesmo sob a perspectiva causal-
naturalista, de Beling, dir-se-ia que “ação é movimento voluntário do corpo que dá causa a um
resultado” e “omissão é uma ausência voluntária de movimento do corpo”. Ou seja, desde então já se
reconhecia excludentes da tipicidade, por ausência de conduta, nos eventos decorrentes de ato reflexo,
estado de inconsciência e vis absoluta (coação física irresistível, já que nessas hipóteses não havia
sequer controle voluntário na inervação – ação - ou no relaxamento muscular - omissão.
O gabarito aponta como verdadeira a segunda assertiva, entendendo, conforme a Teoria Normativa
do Resultado, que todo crime produz resultado, este consistente em afetar bem jurídico. Assim, não
seria apenas na Omissão Imprópria, nos delitos comissivos-omissivos, que se poderia falar em dever de
agir para evitar o resultado, de acordo com o que dispõe o artigo 13, § 2º do Código Penal Brasileiro.
Também nos crimes omissivos puros, aqueles que não dependem de qualquer resultado naturalístico,
como é o caso da Omissão de Socorro (Art. 135) haveria o dever de agir para impedir o resultado
normativo. Aqui o dever de agir deriva da norma de proibição implícita no próprio tipo penal, em
sentido contrário à conduta omissiva descrita. Já na Omissão Imprópria o dever de agir encontra-se
insculpido na referida norma incriminadora por extensão: “A omissão é penalmente relevante quando o
omitente podia e devia agir para impedir o resultado”.
A terceira assertiva, apontada como correta, vai encontrar supedâneo na doutrina de Eugênio Raúl
Zaffaroni, mais uma vez homenageada com a sua adoção pela Banca da Examinadora PGR. Neste
ponto é suficiente repetir a lição do grande mestre, em seu Manual de Direito Penal Brasileiro ( 5ª ed. Ed
RT, pg 391):
“Não é verdade que a única conduta que nos interessa seja a conduta típica...há tipos que
requerem a realização de certas condutas por parte do sujeito passivo: o rapto consensual requer o
consentimento (art. 220 CP); o induzimento a erro essencial e a ocultação de impedimento matrimonial
(art. 236, caput, CP) requerem que o outro que ignora o impedimento case com o autor etc. Estas
hipóteses deixam bem claro que no Direito Penal têm relevância condutas que não são típicas.”
A quarta assertiva erra ao afirmar como de “validade absoluta a parêmia latina “societas delinquere non
potest”. Consabido que, a despeito de retumbantes protestos doutrinários, a incriminação da Pessoa Jurídica
já não se pode ter como inadmitida pelo ordenamento jurídico brasileiro, uma vez prevista na própria CF, art.
225, § 3º, tipificada na Lei 9.605/98 e já concretizada pela Justiça Federal, em delito contra o meio ambiente.
COMENTÁRIOS
Na letra “a” descreve-se um atentado violento ao pudor. Não há estupro sem conjunção carnal, não há
conjunção carnal – para o Direito Penal – sem coito vagínico.
Incorreta a alternativa “b”: nada impede que mulher atue em concurso de pessoas com o homem,
autor material da penetração, com este respondendo pelo crime.
Também incorreta a alternativas “c”. Comutação é espécie de Indulto, trata-se de indulto individual e
parcial. Como tal, inadmissível para os crimes hediondos, teor do artigo 2º, inciso I da Lei 8.072/90.
Cooreta a letra “d”, por apresentar o atual entendimento da jurisprudência brasileira, sobre a
matéria.
COMENTÁRIOS
A letra “a” é incorreta, pois o § 5º do artigo 1º da Lei 9.613/98 prevê causa de diminuição de pena,
minorante que não se confunde com atenuante.
O furto não faz parte do rol de crimes pressupostos e antecedentes, descritos nos oito incisos do artigo
primeiro, só sendo possível assim considerá-lo se praticado por organização criminosa ou para
financiamento de ‘terrorismo’, o que não corresponde à hipótese fática descrita. Logo, a letra “b” não
apresenta a solução.
A alternativa “d” peca por limitar o efeito citado da condenação à duração da pena privativa de
liberdade aplicada, quando o artigo 7º, inciso I, da Lei, prescreve interdição pelo dobro da pena
apllicada;
Logo, correta só pode ser a alternativa ‘c’. De fato, embora criticável falar-se em relação de
acessoriedade do crime de ‘Lavagem’, em face da necessária ocorrência de um delito antecedente,
certo é que a Lei Brasileira manteve-se na segunda geração da legislação mundial referente ao tema.
Melhor seria se adotássemos a concepção mais moderna, onde não se especifica qualquer crime como
pressuposto necessário para a “lavagem”. Entende-se, portanto, em tal contexto, que se diga ser este
um crime acessório, sendo certo que pode “ser cometido por quem não perpetrou o delito principal
antecedente”.
A questão, como formulada, não suscita maiores indagações. A alternativa “d”mostra-se conforme o
artigo 92 do Código Penal, onde se estabelecem os efeitos específicos e não automáticos da condenação
criminal, dentre os quais a apontada perda do cargo, função pública ou mandato eletivo do agente
condenado. Observe-se que o referido dispositivo refere-se expressamente às condenações iguais ou
superiores a um ano, o que não invalida a resposta oferecida na alternativa “d’ onde se fala apenas em
superior a um ano”.
COMENTÁRIOS
A alternativa “a” subsume-se no artigo 181 do Código Penal, como causa pessoal de exclusão da pena,
ou seja, escusa absolutório.
Incorreto é o item ‘b’. O crime complexo é uma unidade, incindível em sua estrutura típica. Nele
encontra-se um grau especial de violação a bem jurídico superior ao simples somatório das lesões
menores dos delitos que o compõem. Assim, uma possível extinção da punibilidade para um dos delitos
constitutivos não teria o condão de atingir o crime complexo.
Verdadeira a alternativa “c”: as causas extintivas (art. 107 do CPB) ali apontadas são objetivas –
diferentemente das causas pessoais trazidas no mesmo artigo 107, como a morte ou a retratação do
agente - não sendo possível diferenciá-las entre os sujeitos na co-delinqüência.
Igualmente verdadeira a afirmação contida em “d”, no sentido de que “não se acomodou a
jurisprudência sobre a natureza da sentença concessiva do
perdão judicial”, a despeito da súmula 18 do STJ: “A sentença concessiva do perdão judicial é
declaratótria da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”. Aliás, a
edição desta súmula não explicitou uma solução para o dilema consistente em se entender se a
concessão do perdão judicial pressupões sentença absolutória ou condenatória. Neste sentido, há um
precedente esclarecedor do STF, no
RE 104679 / SP (DJ 06-12-1985 PG-22585), onde se entendeu que “ O PERDAO JUDICIAL PRESSUPOE
CONDENAÇÃO”. A mesma Suprema Corte, em decisão posterior (RE 104977 / SP, DJ 23-05-1986 PG-
08784), pontificou: “PERDAO JUDICIAL - IMPEDE A APLICAÇÃO DOS EFEITOS PRINCIPAIS DA
CONDENAÇÃO, MAS SUBSISTEM OS EFEITOS SECUNDARIOS (LANCAMENTO NO ROL DOS
CULPADOS E PAGAMENTO DE CUSTAS)”.
COMENTÁRIO
“ O MPF h5ª TURMA TRANCA AÇÃO PENAL CONTRA DONAS DE COLÉGIO QUE
QUITARAM DÍVIDA COM O INSS E, MESMO ASSIM, FORAM PROCESSADAS” Proc.
2003.02.01.016644-8
A resposta “d”, apontada como correta, mostra-se conforme o entendimento do STJ. Veja-
se, a respeito, “AG 540795, relatoria do douto Ministro FELIX FISCHER, DJ 07.05.2004:
“Possibilidade em tese ... de concurso material entre
os crimes de estelionato e gestão fraudulenta de instituição
financeira, porquanto ofendem bens jurídicos e sujeitos passivos
distintos.
As demais assertivas trazidas na questão estão corretas e acordes com o posicionamento
dos tribunais superiores em face da Lei 7.492/86.
COMENTÁRIO
A alternativa “a” apontada como correta pela banca examinadora revela a adoção da Teoria
do Objetivo-Subjetiva ou do “Domínio do Fato”, em sede de Concurso de Pessoas, uma vez
que aponta como co-autor, e não como ‘partícipe” aquele que se conduz como o advogado
da narrativa do comando da questão. E assim é: embora se trate de crime de mão própria, o
falso testemunho, onde, de ordinário, entende-se não ser possível a co-autoria, e sim a
participação, as demais alternativas apresentam-se inaceitáveis.
Assim, não é de se aceita a alternativa “b”, onde se nega a possibilidade de concurso de
pessoas em delito de mão própria. Impossível de aceitação a resposta trazida em “c”, pois
a própria corrompida não pode ser sujeito ativo de corrupção, se existente. Quanto à
retratação, a teor do que dispõe o artigo 242 em seu § 2º, tem-se que “o fato deixa de ser
punível se, antes da sentença no processo em que se deu o ilícito, o agente se retrata ou
declara a vontade”.
Logo, restou com única resposta aceitável, embora controversa, que o advogado Rogério
quando “DEU DINHEIRO A MARISA E CONSEGUIU, ASSIM, QUE A MENCIONADA
TESTEMUNHA FIZESSE AFIRMAÇÃO FALSA EM JUÍZO”, ele, segundo a doutrina de Zaffaroni
e Pierangeli, atuou como “autor de determinação”, em um “tipo especial de concorrência”,
possível de ser incriminado na fórmula geral e abrangente da do artigo 29 do CPB, onde se
diz que “quem de qualquer modo concorre para o crime, responde nas penas a este
cominadas...”.
Destaque-se que nos STJ e STF encontram-se precedentes de aceitação, em tese, de co-
autoria em delito de falso testemunho, muito embora os julgados em questão, lacônicos,
sequer tenham esboçado justificativa teórica para tal entendimento.
COMENTÁRIO
O gabarito traz como solução a resposta “c”, indicando como erradas as de números II e III.
Bem assim, a assertiva trazida em I está correta, vez que a irretroatividade de lex gravior é
princío constitucional explicitado no artigo 5º, XL da Carta Magna.
Em II, o autor destes comentários confessa não entender a razão pela qual a douta banca
examinadora considerou incorreta a afirmativa ali exposta, a saber: “para aplicar a lei mais
favorável ao réu definitivamente condenado, deve-se esperar o término do respectivo período de vacatio
legis”. Ora, se o réu já se encontra condenado, em sentença trânsita, é de se entender que
apenas uma novatio legis in mellius vigente permite que dela se faça a benéfica aplicação.
E isto não ocorre enquanto flui a vacatio legis, período anterior ao início da vigência.
Já a terceira assertiva, sem dúvida, está errada porquanto contraria a Teoria da Ação, ou da
Atividade, segundo a qual considera-se como momento do crime aquele em que se pratica
a ação no todo ou em parte,embora outro seja o momento em que se produzirá o resultado.
Ou seja, as leis excepcionais ou temporárias aplicam-se aos fatos praticados durante a sua
vigência, independente de quando virão a se produzir os resultados decorrentes.
Da quarta assertiva não cabe qualquer questionamento, abolitio criminis apaga o crime,
não restando qualquer conseqüência penal, impondo-se a extensão dos seus benefícios até
para aquele que já tiver cumprido a sua pena.
COMENTÁRIO
A resposta apontada como correta é a trazida na letra “d”, o crime impossível. E não há
dúvida de que se trata de uma absoluta impropriedade do objeto, vez que este, in casu, não
é coisa alheia. Conforme, portanto ao artigo 17 do CPB.
Merece registro, porém, que o crime putativo, delito imaginário, pode decorrer de um erro
de tipo, configurando o que a doutrina convencionou chamar de “delito putativo por erro
de tipo”. Sob esta ótica, “O crime impossível por impropriedade absoluta do objeto é espécie do
delito putativo por erro de tipo” (Damásio de Jesus).
“As outras duas espécies de crime putativo são delito putativo por erro de proibição e delito putativo
por obra de agente provocador”(idem).
Veja-se que este é precisamente o caso de alguém que subtrai coisa própria pensando
tratar-se de coisa alheia. Não sendo “coisa própria’ elementar do artigo 155, é de se ver
que o agente está a cometer um crime imaginário por erro de tipo, conceito que em nada
destoa do gênero “crime impossível”.
Contudo, sem aprofundar o tema, a doutrinação majoritária singelamente repete que não se
confundem crime impossível (art. 17 do CPB) e crime putativo (este visto como erro de tipo
às avessas). E neste compasso, ficou o examinador.
Por tudo, enfim, o candidato deveria mesmo ter marcado a alternativa “d”, para a qual não
há dúvida.
COMENTÁRIO
103. RENATA CONHECIA MARCOS, MAS NÃO SABIA QUE ELE TRABALHAVA
NA DIVISÃO DE RECURSOS HUMANOS DA CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL. OS DOIS SE ENCONTRARAM NUMA LANCHONETE E
AJUSTARAM ENTRAR NO PRÉDIO DA CEF, PARA TIRAR ÀS
ESCONDIDAS, ALGUNS OBJETOS, DURANTE O INTERVALO DA
REFEIÇÃO. INGRESSARAM NA SEDE DA EMPRESA E FORAM À SALA DO
DEPARTAMENTO JURÍDICO. ESTAVA VAZIA. OS SERVIDORES TINHAM
SAÍDO PARA O ALMOÇO. RENATA E MARCOS APROVEITARAM A
OCASIÃO, SUBTRAINDO VÁRIOS OBJETOS – MICROCOMPUTADORES,
CARTUCHOS PARA IMPRESSORAS, CANETAS ETC – PERTENCENTES À
EMPRESA PÚBLICA FEDERAL. DIAS DEPOIS, VALDOMIRO, QUE ERA
DONO DE UMA LOJA DE INFORMÁTICA E DESCONHECIA A ORIGEM
ILÍCITA DOS BENS, COMRPOU, POR R$ 600,00 (SEISCENTOS REAIS), OS
MICROCOMPUTADORES SURRUPIADOS, QUE CUSTAVAM, NO
MERCADO APROXIMADAMENTE R$ 17.000,00 (DEZESSETE MIL REAIS).
NESTE EXEMPLO,
a. Valdomiro responde por receptação; Renata, por furto qualificado; Marcos, por
peculato.
b. a hipótese é de concursus delictorum, devendo Marcos, Renata e Valdomiro
responderem por furto qualificado e receptação, pois participaram da prática dos
dois crimes;
c. Renata e Marcos praticaram, em concurso de pessoas, o delito de peculato,
enquanto Valdomiro perpetrou o crime de receptação;
d. Valdomiro, Renata e Marcos praticaram, em concurso, peculato.
COMENTÁRIO
A princípio, registre-se que nem todo furto praticado por servidor, ou equiparado, contra a
Administração Pública implica Peculato. É preciso que o agente se valha desta condição
funcional, de algum modo, para que se configure o crime de “Funcionário” contra a
Administração Pública.
Neste passo, embora o comando da questão não deixe claro que Marcos se valeu da sua
condição de trabalhar na Divisão de Recursos Humanos da CEF para subtrair os vários
objetos do Depto Jurídico, outra resposta não há senão aquela exibida na letra “a”.
COMENTÁRIO
COMENTÁRIO
Já na segunda fase, não é possível falar em ‘agravante inominada’ (“ainda que não esteja
prevista em lei”). Inominadas, só as atenuantes, segundo o dispõe o artigo 66 do CPB. Logo,
está errada a assertiva III.
Também incorreta é a assertiva de número III, vez que na terceira fase não se tem como
limite o mínimo ou o máximo da pena cominada em abstrato, devendo o magistrado
obedecer ao comando legal de aumento ou diminuição da pena aplicável ao fato, ainda que
desborde dos referidos limites.