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São tantas e tão graves as medidas deste governo para degradar as condições de trabalho
dos professores que se torna difícil escolher a pior de todas elas. Mas a mais odiosa de
todas, tendo em conta o desprezo que revela pela dimensão reflexiva e criativa da
actividade docente, é o aumento brutal do horário de trabalho dos professores, que
ultrapassa largamente as 35 horas definidas na lei.
Todos sabemos que as aulas implicam um grande dispêndio de energia mental, afectiva
e física. O trabalho docente começa antes e prolonga-se para lá de cada aula. Daí que
um professor precise de um horário semanal pouco pesado que lhe permita investigar,
planificar, produzir materiais de ensino, avaliar, repensar e redefinir o seu trabalho.
Nada disto parece impressionar Maria de Lurdes e seus dois muchachos. Pelo contrário,
em nome da pseudo ocupação plena dos alunos e do chamado aproveitamento racional
dos recursos humanos, querem transformar a escola num armazém de criancinhas e os
professores em máquinas para todo o serviço, que saibam de tudo um pouco e muito de
coisa nenhuma, numa estratégia clara para diminuir ainda mais o seu reconhecimento
social.
Nesta como noutras matérias, depois da grandiosa Marcha da Indignação, esse trio de
ataque instalado na 5 de Outubro sentiu-se obrigado a refrear o instinto malfazejo,
aceitando salvaguardar um tempo mínimo para o trabalho individual, que passou a ser
de 8 horas para os docentes do pré-escolar e 1º ciclo, e de 10 ou 11 horas (conforme se
tenha menos ou mais de 100 alunos) para os docentes dos outros ciclos do ensino básico
e ensino secundário. Temendo, no entanto, que esse tempo pudesse ser em demasia,
logo trataram de tirar com a mão direita o que deram com a esquerda, integrando nessas
horas as reuniões de carácter ocasional. Como as reuniões de carácter ocasional se
tornaram quase tão frequentes como as de carácter regular, esse tempo indispensável
para o trabalho individual fica, na maior parte das semanas, substancialmente
diminuído, obrigando os professores a trabalho extraordinário e gracioso.
c) De acordo com o art. 83º do ECD, todo o serviço prestado pelos docentes para
além do número de horas registadas no seu horário de trabalho é considerado
serviço extraordinário.
Simeão Quedas