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72 Teoria do Conhecimento
Filosofia
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FILOSOFIA E MÉTODO <Anderson de Paula Borges1
Filosofia e Método 73
Ensino Médio
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Ensino Médio
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Filosofia
cha é do que nós sabemos em direção ao que as coisas são de fato. Pro-
< www.gallery.spacebar
cure não fazer confusão sobre esse ponto. Essa é a razão pela qual
os melhores alunos na escola são aqueles que desenvolvem o hábito
de acompanhar os pontos principais do conteúdo. A regra de ouro é:
compreenda os conceitos principais, mais gerais, só então se dedique
ao estudo dos pontos particulares. Muitas vezes esses alunos são toma-
dos por “inteligentes”, mas não é nada disso. Adquirir conhecimento
é uma questão de saber como procede o aprendizado. Muitos que ti-
ram os primeiros lugares nos vestibulares não dedicam mais do que 4
horas de estudo por dia no período de preparação, o que escandaliza
os demais que no mesmo período chegam a estudar 10 horas por dia
e não alcançam os mesmo resultados.
DEBATE
1. Releia o que foi exposto anteriormente sobre o processo de conhecimento e desenvolva as seguin-
tes questões:
a) Faça um levantamento com seus colegas sobre alguns conteúdos de física, matemática, histó-
ria, etc., que você já estudou.
b) Escreva no caderno o que lembrar e ponha à prova a tese de Aristóteles. Verifique, sobretudo,
se o que você aprendeu segue o esquema do geral ao particular.
c) Peça ajuda a seu professor para organizar os conteúdos que você lembra de acordo com essa
metodologia.
d) Depois disso, recorde os métodos usados pelos professores: quais foram os que iniciaram seus
conteúdos por apanhados gerais e, posteriormente, acrescentaram os detalhes.
2. Explique os principais pontos da Teoria das Formas de Platão.
3. Justifique as críticas que Aristóteles faz a Platão.
Apresente as respostas à turma para debate.
As regras para o debate encontram-se na introdução deste livro.
z A lógica aristotélica
Os limites deste texto não permitem expor de forma detalhada mui-
tos pontos importantes da visão aristotélica do conhecimento. Mas não
poderíamos deixar de dizer uma palavrinha sobre a lógica aristotélica.
Antes de Aristóteles não houve nenhum filósofo que se preocupasse
com a formalização de regras que pudessem garantir a validade de ra-
ciocínios e argumentos. Este é propriamente o objeto da lógica. Como
destaca Zingano (2002), para Aristóteles era mais desafiante encontrar
uma forma de organizar a massa de dados do conhecimento do que
propriamente reuni-los. Nesse sentido, Aristóteles percebeu que se fa-
zia necessária uma classificação dos conhecimentos: ele dividiu as ci-
ências em teóricas (matemática, física e metafísica), práticas (ética e
Filosofia e Método 77
Ensino Médio
O que caracteriza a lógica? política) e produtivas (agricultura, metalurgia, culinária, pintura, enge-
nharia, etc.). Mas o filósofo também concluiu que é fundamental es-
“Uma vez que a lógica não
tudar o procedimento correto que deve orientar uma investigação em
é apenas argumento válido,
mas também reflexão sobre qualquer destas áreas. Foi então que nasceu a lógica, conjunto de re-
os princípios da validade, es- gras formais que servem para ensinar a maneira adequada de se pro-
ta só aparecerá naturalmente duzir argumentos, raciocínios, proposições, frases e juízos.
quando já existe à disposição Aristóteles em vida não pôde organizar sua obra. Essa tarefa ficou
um corpo considerável de in- a cargo de seus alunos. Os escritos que tratavam do raciocínio foram
ferências ou argumentos. A reunidos num único volume que recebeu o título de Organon, literal-
investigação lógica, a de pu- mente “instrumento”. O Organon é um conjunto de diferentes tratados
ra narrativa, não é suscitada (exposição sistemática de um tema): Categorias, Tópicos, Dos Argu-
por qualquer tipo de lingua- mentos Sofísticos, Primeiros Analíticos, Segundos Analíticos e Da Inter-
gem. A linguagem literária,
pretação.
por exemplo, não fornece su-
ficiente material de argumen- Segundo o historiador da filosofia Giovanni Reale, Aristóteles sabia
tos e inferências. As investi- que estava sendo pioneiro quando começou a estudar uma forma de
gações em que se pretende argumentação chamada silogismo. Por meio das análises que o filóso-
ou procura uma demonstra- fo fazia de textos de sofistas, de Sócrates e do pensamento de Platão,
ção é que naturalmente dão a lógica aristotélica:
origem à reflexão lógica, uma
vez que demonstrar uma pro-
posição é inferi-la validamen- (...)assinala o momento no qual o logos filosófico, depois de ter amadu-
te de premissas verdadeiras.
recido completamente através da estruturação de todos os problemas, co-
“(KNEALE, 1991, p. 03)
mo vimos, torna-se capaz de pôr-se a si mesmo e ao próprio modo de pro-
ceder como problema e assim, depois de ter aprendido a raciocinar, chega
a estabelecer o que é a própria razão, ou seja, como se raciocina, quando
e sobre o que é possível raciocinar.(REALE, 1994)
PESQUISA
Faça uma pesquisa na internet em sites que trazem conteúdos introdutórios de lógica. Encontre de-
finições e usos em textos ou exercícios dos seguintes termos: juízo, premissa, argumento, proposição,
conclusão, sofisma e silogismo.
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Filosofia
< http://almez.pntic.mec.es
Uma das obras mais fundamentais da filosofia chama-se Discur-
so do Método e traz o seguinte subtítulo: “para bem conduzir sua razão
e buscar a verdade nas ciências”. Será que não é pretensão demais para
um texto escrito de forma autobiográfica? A trajetória do texto e o po-
der que exerceu sobre a tradição posterior revelam que não. O Dis-
curso do Método é uma obra destinada, inicialmente, a servir de prefá- < René Descartes (1596-1650).
cio a três ensaios do filósofo e matemático Descartes: a Dióptrica, os
Meteoros e a Geometria. Os dois primeiros só interessam hoje aos his-
toriadores do pensamento cartesiano. Já o terceiro teve ampla divulga-
ção entre os matemáticos, por razões que veremos mais tarde. Quan-
to ao Discurso, dividido em seis partes, apesar de Descartes dizer que
seu propósito era apenas “(...) mostrar de que maneira ele se esforçou
para bem conduzir sua razão.” (Descartes, 1962) frase que devemos
atribuir à modéstia de Descartes, na verdade a obra expõe com clare-
za uma série de argumentos que permitem à filosofia fundamentar to-
do o edifício do saber.
Na segunda parte do Discurso, Descartes enumera quatro preceitos
que devem conduzir a ciência. Acompanhemos o texto do filósofo:
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ção das mais simples de todas, tentarmos conhecer todas as outras, atra-
vés dos mesmos processos. (in: COTTINGHAM, 1989).
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“No preceito ou passo 1, as coisas indubitáveis (círculos marcados com i) passam por um “funil”, que im-
pede a passagem de coisas que tragam dúvidas (d). No segundo, as coisas são analisadas, ou seja, di-
vididas para melhor compreensão; no terceiro, procede-se a síntese, ou agrupamento em graus de com-
plexidade crescente. No último passo, as conclusões são ordenadas e classificadas.”
< (http://pt.wikipedia.org/wiki/Descartes)
ATIVIDADE
Produza um texto com o seguinte tema: “Análise e conhecimento em Descartes.” Não ultrapasse
15 linhas. Procure refazer os passos expostos no texto de Descartes e no esquema reproduzido acima.
Crie um texto argumentativo que prioriza a defesa das quatro regras. Pense também em expressões que
definam cada regra. A primeira é a regra da evidência, a segunda é a regra da... Etc. Em seguida, com-
pare com o texto dos colegas verificando se a turma aplicou o método cartesiano.
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Ensino Médio
z Filosofia e matemática
Na escola você aprende que geometria significa, etimologicamen-
te, “medir a terra”. É uma definição que está na origem das noções geo-
métricas, quando egípcios e babilônios desenvolveram técnicas para
medir a extensão de rios, terras e observar o movimento dos astros.
Aos poucos essa noção rudimentar foi sendo aprimorada pelas mate-
máticas dedutivas gregas que chegaram, até Euclides, num nível de
< http://cgfa.sunsite.dk
A geometria analítica
Segundo o racionalismo de Descartes, o melhor caminho para a com-
preensão de um problema é a ordem e a clareza com que processamos
nossas reflexões. Um problema sempre será mais bem compreendido se o
dividirmos em uma série de pequenos problemas que serão analisados iso-
ladamente do todo. Com intuito de ilustrar o alcance do método filosófico
para o raciocínio e a busca da verdade, Descartes utilizou o terceiro apêndi-
ce de sua obra para a descrição de um tratado geométrico com os funda-
mentos daquilo que conhecemos hoje como geometria analítica.
Em essência, a geometria analítica pensada por Descartes seria uma tra-
dução das operações algébricas em linguagem geométrica, e a essa nova
forma de proceder segue uma enorme crença do autor no novo método co-
mo uma forma organizada e clara de resolver problemas de natureza geo-
métrica.
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Filosofia
DEBATE
1. Demonstre a resolução do problema descrito no plano cartesiano.
2. Qual a relação entre as regras metodológicas de Descartes e a geometria analítica?
3. Por que Mello diz que a fragmentação do conhecimento é um problema?
Apresente as respostas à turma para debate.
As regras para o debate encontram-se na introdução deste livro.
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Ensino Médio
foi uma guardiã, no sentido literal, de todo o saber que foi transmito
pelos antigos.
Mas esse zelo também impedia que teorias modernas ganhassem
< Da Vinci. Homem Vetruviano.
espaço e ameaçassem o conhecimento tradicional. O pensamento car-
tesiano não deixa de se chocar com esse panorama. Sua física, por
exemplo, diz que os dois principais conceitos do universo são “maté-
ria” e “movimento”. Não há para Descartes, como havia para os teó-
logos católicos e aristotélicos, algum tipo de finalidade no mundo, ou
seja, um sentido e função prévios definidos por alguma inteligência di-
vina.
A biologia cartesiana também entra em conflito com a descrição me-
dieval do homem. Para Descartes o corpo humano tem a estrutura de
uma máquina, funcionando em perfeita harmonia como um relógio.
Para os medievais o que move o corpo é a alma, mas Descartes não
aceita isso. Para ele o corpo deve ser explicado a partir de sua estrutu-
ra física: veias, sangue, circulação, cérebro, músculos, membros, etc. É
uma revolução que deixou perplexa sua época. O corpo em Descartes
deixava de ser um receptáculo do espírito para se tornar um mecanis-
mo complexo ao alcance da compreensão e estudo humanos.
PESQUISA
1. Faça uma pesquisa sobre a atmosfera intelectual que cercava Descartes, buscando informações
sobre os seguintes filósofos, astrônomos e matemáticos:
a) Nicolau Copérnico (1473-1543);
b) Johannes Kepler (1571-1630);
c) Galileu Galilei (1564-1642).
2. Em grupos, apresente o material em forma de seminário para a turma. Procure dividir a apresenta-
ção por temas:
a) biografia;
b) principais obras;
c) descobertas e atividade intelectual;
d) cronologia;
e) disputas com o Santo Ofício,
f) correspondências entre os pares.
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Filosofia
z Referências
ANGIONI, Lucas. Aristóteles – Cadernos de Tradução 1: Física livros I e II. Campinas: IFCH-Unicamp,
2002.
COTTINGHAM, J. A filosofia de Descartes. Rio de Janeiro: Edições Setenta, 1989.
DESCARTES, R. Obra Escolhida. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962.
FARIA, M. C. B. Aristóteles: a plenitude do Ser. São Paulo: Moderna, 1994.
GLEISER, Marcelo. A Dança do Universo: dos mitos da criação ao Big-Bang. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2002.
IDE, P. A arte de Pensar. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
ROSS, D. Aristóteles. Lisboa: Dom Quixote, 1987
ZINGANO, Marco. Platão e Aristóteles; os caminhos do conhecimento. São Paulo: Odysseus,
2002.
ANOTAÇÕES
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