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uma totalidade. Há, na vida e na escrita, uma intermitência que deixa lacunas como rastros,
numa busca do ser pela libertação dos ideais de ordem e perfeição. Argumenta Walter
Benjamin (1993, p. 226) que o gosto pelo aspecto fragmentário, pelo não-pleno e por tudo
que mostra a morte através da arte, cumpre a tarefa de reconhecer a ação corrosiva do
Cornélio Penna (1896-1958), que representa a queda do regime patriarcal, juntamente com
a libertação dos escravos. O fato de ser uma narrativa ambientada na segunda metade do
problemas do Brasil. Essa “mudez histórica” dialoga com o conflito tratado no presente
Embora não seja muito conhecido, Cornélio Penna configura-se para os críticos
como escritor de qualidade peculiar na literatura brasileira. A repercussão dos seus livros foi
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Adonias Filho, Tristão de Ataíde, Mário de Andrade, Sérgio Milliet e Augusto Frederico
Schmidt. O primeiro estudo completo foi feito por Luiz Costa Lima no livro A perversão do
trapezista (1976), talvez o maior responsável por Cornélio não ter caído no esquecimento.
Além de Costa Lima, nos serviremos das ideias de Josalba Fabiana dos Santos (2004;
2010), estudiosa que tem publicado recentemente inúmeros trabalhos sobre a obra
corneliana.
a produção está no auge quando a filha mais nova do Comendador e de D. Mariana morre,
eis a “menina morta”. Há inúmeros agregados e três centenas de escravos. A narrativa inicia
com os preparativos para o sepultamento da menina. Ela, um ser cujo nome nunca é
proferido, arrasta consigo todas as virtudes da fazenda, aludidas pela sensação de perda
que todos sentem, inclusive os escravos. As únicas personagens que não lamentam em
palavras a morte dela são os pais, os quais sofrem um drama íntimo encoberto pelo orgulho
e pela individualidade reinante. O clima de mistério é constante, não se sabe qual o mal que
acarretou nessa morte prematura. A casa é habitada predominantemente por mulheres, são
espaciais em que cada senhor com seus parentes agregados encenam uma guerra
silenciosa. Através dos mistérios, em que se mostra algo e se esconde outros tantos, a
narrativa corneliana envereda sua crítica à estrutura patriarcal. Muitas vezes a luz lançada
sobre um ponto tem objetivo maior de “realçar” a escuridão que está por trás do objeto do
que iluminar ele próprio. É a partir desse jogo de claro-escuro que vão se delineando os
conflitos na casa. Sem contar que o excesso de luz presume o seu contrário.
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Com o estudo sobre o espaço vamos percebendo o mal que corrói a casa-grande e
a mente das personagens, principalmente após a morte da menina isso é intensificado, pois
muitos veem o futuro com apreensão. A partir dessa noção vemos que a ambientação como
signo do mal tem seus desdobramentos refletidos pela casa: nos cômodos, na natureza, no
personagens. Cornélio Penna com suas metáforas espaciais do mal cria um clima
misterioso que muitas vezes se confunde com os pensamentos e ações dos viventes. Para
nossa análise tomamos a definição de Paulo Astor Soethe (2007, p. 223), em que o espaço
narrador, incluindo-se nessa percepção qualidades como grandeza, massa, textura, cor e
contorno do que é visto. Decerto que todas essas noções espaciais estão imbricadas no
romance.
estão na mesa de jantar, e pela maneira como estão perfilados notamos a gradação
existente na casa (PENNA, 1958, p. 782)3. Do lado do Comendador estão seus primos, o Sr.
Mariana está vazia, restando sua parenta Celestina e mais três cadeiras vazias dos filhos
que viviam na Corte. Ausências que se somam à ausência da menina, enquanto metáforas
do silenciamento na casa.
“encontros” que conotamos o sentido declarativo ético do espaço, defendido por Paulo A.
Soethe (2007, p. 221), quando o estudioso diz que “perceber o espaço possibilita conceber
uma fronteira e as fileiras de cadeiras como trincheiras, cada senhor com seu pequeno
batalhão. Dividem a mesma comida e de certa forma o mesmo espaço, embora o conflito
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seja implícito com a permanência de D. Mariana em seu quarto, coibida de participar e saber
Como apontamos antes, a guerra na casa também se estende aos parentes dos
propriedade e ela foi convidada pelo seu primo a morar no Grotão. Já ao chegar foi tratada
com o silêncio, ausência e frieza de D. Mariana, a qual “nem sequer a olhara de frente por
muito tempo, e lhe dirigia a palavra como se cada uma delas fosse esmola que deixasse cair
quando se encontravam” (PENNA, 1958, p. 814). Humilhada pela sua própria história e pela
Senhora, viu no nascimento da menina um motivo de felicidade para ela que não teve filhos
e poderia transferir algum sentimento bom para a criança. Mesmo assim vê seus limites
maternos escancarados pela ama de leite Libânia, escrava alforriada sobre a qual D.
Virgínia não tem grande poder. Passada essa fase, empreita um ataque a D. Mariana
tornando-se
Senhor se vê como “rival” na tentativa de “ferir” a Senhora. Além disso há toda uma noção
espacial em ganhar “terreno” e “firmar-se”. Após toda a empreitada sem sucesso contra D.
Mariana, é até digno de ironia o modo como D. Virgínia agora tenta atacar: lendo as cartas
chegadas da Corte. Fato que não é de todo irrelevante, haja vista que ela sabe de muita
Inacinha e Sinhá Rola. Pela localização já vemos que as duas irmãs estão abaixo de D.
Virgínia, embora todas dividam o passado de terem vindo de fazendas arruinadas. Com a
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morte do pai, são resgatadas pelo seu primo para o Grotão, chegam com a dor da
humilhação e vivem como estranhas deslocadas na casa. Por não serem protagonistas da
vida na fazenda elas vivem aos cochichos, de modo que sabem de muita coisa escutada de
canto em canto. Não tecem maiores comentários sobre o conflito dos senhores, denota-se
contrariá-lo, sob qualquer aspecto, é mascarado pelo respeito e silêncio com que vivem.
Carlota, a filha mais velha do casal, não chega da Corte. Em oposição a D. Virgínia que é
simplesmente” (PENNA, 1958, p. 742). Embora não haja registro de alguma ação da jovem
contra o Senhor ou suas primas, a antipatia por D. Mariana é transferida para ela.
Interrogou a velha senhora, e breve riso a fez estremecer. Toda ela exprimia vingança e
mofa diante de injúrias antigas e alheias” (PENNA, 1958, p. 742). Mais uma vez a marca do
tanto que seguindo a cena, D. Virgínia aceita e pede que Celestina a chame de prima, uma
flexibilidade momentânea tendo em vista o instante delicado no qual estão. É tanto que
durante o resto da narrativa a jovem não torna a dizer “prima”, nem a outra amolece o trato
O prestígio ou a falta dele está expresso também na gradação dos nomes das
parentas. Começa no topo com Dona Virgínia, suscitando ironicamente alguma pureza e
Rola, que não é Dona nem Senhora e é tratada por um apelido. No caso de Celestina não
há sequer pronome de tratamento, marcando seu lugar na base, também por ser a mais
jovem de todas.
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Ainda sobre a cena do jantar, veja-se que além da cadeira ocupada por Celestina há
a ausência dos filhos pelo lado de D. Mariana. As três cadeiras dos filhos nesse lado os
entre eles – três estudam na Corte e a mais nova morreu – tornando o convívio da Senhora
na fazenda mais isolado. A falta do lugar da menina na mesa abre uma questão sobre o
qual lado ela estaria, se do pai ou da mãe. Daí, tem-se novamente as ausências do nome da
início do isolamento diziam às visitas que estava doente até que todos foram se
distanciando e surgindo comentários de que ela envergonhava a família. Haja vista que as
primas do Comendador parecem guardar algum segredo. Todo esse silenciamento revela
que as palavras de alguma forma ganham materialidade naquele espaço, haja vista
condição de D. Mariana; o refúgio está para as parentas quando conversam sobre a história
da família, criando narrativas paralelas à principal. Por outro lado, a condição de prisioneira
da fazendeira é um lugar de refúgio para o marido, que se servia desse bloqueio para
O fechamento desse primeiro ciclo ocorre justamente numa das poucas vezes que D.
Mariana sai do quarto. É inclusive um momento ímpar em que temos acesso às palavras
dela. A circunstância é novamente um jantar, com a diferença que dessa vez está presente
na mesa o Padre Estêvão. Sua visita é devido à morte do escravo Florêncio, que
supostamente cometeu suicídio alguns dias depois de atentar contra a vida do Comendador.
Ao sair do quarto a fazendeira já causou o maior espanto em todos, ainda mais quando
disse então ao sacerdote, em voz bem alta, que dominou o ruído do arrastar
e
das cadeiras de jacarandá: – Sr. P. Estêvão, quero pedir-lhe faça a
encomendação do corpo de um de nossos escravos, falecido ontem. Fez-se
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respondeu a ela que já tinha encomendado o corpo antes do enterro. A partir desse
Florêncio era um escravo e não seria necessário um pedido tão exclusivo; e segundo
porque dias antes o negro tentara matar o Comendador com um tiro, daí a sua esposa
evidencia que ele “foi suicidado”, expondo aos convivas a monstruosidade do marido.
provoca. É tanto que sua ousadia ocorre na mesma noite de sua partida repentina.
escravidão – posto que ele assassinara Florêncio. O quarto é uma trincheira da qual D.
Mariana avança até seu posto na mesa, culminando o ataque quando ultrapassa a fronteira
acrescente-se que na obra pode ser visto como ausência ou presença de algo: em relação a
D. Mariana é uma mordaça do Comendador, como um sinal da violência, por outro lado a
falta da voz é um protesto, ainda mais por ela tratar tudo com frieza num sinal de
basta sua presença para todos ficarem afoitos, destarte que é também uma fraqueza, prova
disso é o cerceamento das vozes na casa quando o assunto é a família, deixando implícito o
medo da revelação de alguma coisa. Josalba Fabiana dos Santos (2004, p. 117) vê esses
silêncios como lugares de memória onde há fraturas incuráveis, vejamos que o Comendador
tenta abafar qualquer voz sobre a história da família. Como argumenta a estudiosa, são
espaços abertos, semelhantes a uma boca, onde qualquer recordação pode depositar algum
dado indesejável ao patriarca, noção reforçada, não por acaso, pelo nome da fazenda do
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Grotão. Ideia que Josalba F. dos Santos (2004, p. 117) analisa com a “definição de
boqueirão, que além de sinônimo de grotão é sinônimo de bocarra, boca grande. Então
grotão é a boca que narra e a boca que omite, é a fronteira entre o dito e o interdito ou entre
a linguagem e o silêncio”.
paternal do marido para com os escravos é arranhada, sobretudo diante da família, do padre
e do hóspede presentes à mesa. Como diz Josalba F. dos Santos (2004, p. 117), esses
entre-lugares entre o dito e o silêncio cintilam a elucidação de mistérios acerca das fraturas
constantes. Em A menina morta encontramos corredores escuros, mesmo pelo dia, quem se
embrenhava num deles tinha a “sensação de penetrar em gruta imensa, sem limites no alto
e nos lados, pois suas paredes eram escuras, com os móveis sombrios, lisos e quase
estrutura patriarcal que perdura por tantos anos na família. Figuras retas, fechadas e
Além do escuro, o Comendador também está ligado à terra, pois explora o café
juntamente com o trabalho escravo. Sua lei abarca todos os espaços, desde a lavoura até a
casa, na qual se configura um labirinto com todos os seus inúmeros cômodos e passagens.
estriado de Deleuze e Guattarri (1997), como aponta Josalba Fabiana dos Santos (2010), ao
dizer que embora haja várias regras, limites e proibições no Grotão, a homogeneidade
do sistema patriarcal. Ideia que a estudiosa reforça com a imagem das retas paralelas e
espacial são movimentos semelhantes a um jogo em que uma trincheira rompe uma
fronteira para se firmar mais adiante. Retomamos a ideia de Josalba F. dos Santos (2010)
estrutura fixa, delimitada e funcional na configuração dos seus cômodos, bem como
externamente na terra do cafezal. A casa ocupa um lugar central no Grotão, dela partem
pelo menos dois caminhos: um em direção à Corte e outro, no sentido oposto, à mata.
A oposição casa versus mata é tratada por Costa Lima (1976, p. 101), quando ele
caminho Costa Lima (1976, p. 101) alia à presença do feminino, daí decorrem a liberdade, a
barbárie e a não-segmentação espacial. Josalba F. dos Santos (2004) diz que o bárbaro, em
oposição ao civilizado, é rústico, violento e sem princípios morais (p. 63), ou seja, é livre,
desmedido, tende ao rompimento da ordem, como se fosse um elemento natural do seu ser.
Embora hoje o Comendador possa ser visto como bárbaro pelos seus atos, na época era
normal, sendo que é D. Mariana, o ser da mata, que opera de forma indireta a
com o patriarca mantém resistência. Como bárbara ela é o outro na visão do marido,
destarte precisa ser dominada justamente porque causa medo. É tanto que quando Carlota
retorna da Corte, o pai tenta atraí-la para seu lado, sendo que adiante, sob a ideia da mãe,
liso, que para os teóricos é um espaço nômade, não métrico, nem direcional, é um espaço
movimento bárbaro de quebra dos valores e da ordem. Assim, D. Mariana rasga, se não
fronteira nesse ponto é o quadrado divisor dos caminhos, sem contar que é naturalmente
fronteiriço, haja vista ser um lugar frequentado por todos os moradores. O quadrado é um
terreiro onde de um lado está a casa-grande e defronte a senzala, na outra lateral está a
Corte.
É a partir do quadrado que Costa Lima (1976, p. 101) define os dois sentidos opostos
dos caminhos da Corte e da clareira na mata. O primeiro com um vetor definido, estriado, e
reto, enquanto da mata o vetor está em todas as direções, ou seja, a abertura espacial
concomitantemente ligada à natureza e à barbárie. E que tem o mar no próprio nome, como
aponta Josalba Fabiana dos Santos (2004, p. 49). Não esquecendo também que sua aliada
Celestina remete ao céu. Natureza que idealmente livre e clara metaforiza uma discrepância
Não é por acaso que o lugar da mata relacionado a ela é uma clareira, como asserta
Costa Lima (1976, p. 100). A memória da Senhora está ligada àquele espaço, o qual foi
visitado por ela ainda menina quando estava de passagem pelo local. Mais tarde tornou-se o
lugar preferido da menina morta. Some-se a isso o momento que Carlota, sua filha mais
velha, está no lugar e é confundida com a mãe (PENNA, 1958, p. 1142). Diz Josalba F. dos
Santos (2004, p. 53) que “como o romance se constrói muito em torno do claro-escuro, é
sintomático que a clareira identifique e ilumine a menina morta, Carlota e Dona Mariana”. A
união das três personagens no mesmo espaço como ideias é gradativa, sobretudo porque
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essas mulheres carregam a ruína do Grotão: a morte da menina é vista como anúncio de
mau agouro; D. Mariana rompe o silêncio denunciando o marido; e Carlota aos poucos vai
tomando consciência do mal que ronda o lugar através das histórias que as negras contam
tríade é consumada pela natureza quando após passados dias escuros vem a notícia da
morte do Comendador: “Era tarde e o sol conseguira ultrapassar as nuvens que o tinham
aprisionado desde a manhã e tomara radiante coloração dourada, pondo tons de mel nos
móveis escuros e nas paredes cobertas de papel sombrio” (PENNA, 1958, p. 1262). O sol,
enquanto natureza e metáfora da luz materna, auxilia Carlota para dias depois libertar os
escravos do Grotão. Ato que é paralelo ao rompimento anterior empreendido pela mãe, aqui
exemplificado na cena do jantar. Paulo A. Soethe (2007) teoriza que a ação de uma
palavras no universo simbólico, cultural e ético das relações que aí se estabelecem” (p.
225). Por isso é tão cara a imagem de Carlota sendo iluminada pela memória espacial da
mãe na clareira, ainda que inconsciente. Pois a abolição da escravatura pela jovem imprime
Quando Carlota chegou ao Grotão a mãe já não estava lá, contudo a ligação entre
ambas já está implícita na cena da mesa em que a cadeira da moça está vazia e,
“conquistar” a filha: oferece-lhe a cadeira de medalhão e, muito mais que isso, arranja-lhe
D. Mariana. Ato ineficaz, tendo em vista a ligação entre elas ser mais antiga e,
mãe.
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Grotão. O narrador ao final da obra descreve a fazenda à deriva “em grande mar profundo,
de águas traiçoeiras, sobre as quais a fazenda flutuava vacilante e abandonada, sem rumo
marítimo de espaço liso (1997, p. 162). A queda do regime significa a derrubada de algumas
fronteiras pela trincheira da Senhora, o lugar que era estriado por natureza e sedentário sob
as ordens do patriarca agora se aplaina. A casa está sem rumo no mar de D. Mariana,
ressalve-se que embora a lei – espaço estriado – do Comendador tenha se rompido o saldo
da ruína é um mal que permanece como mácula na memória. Como aponta Walter
Benjamin (1993), mencionando a imagem do Angelus novus de Paul Klee que olha para o
passado e “onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única,
que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés” (p. 226).
casa é anterior à morte da menina, circunstância que, de certa forma, serve como alerta
renovação das personagens, as quais começam a dar relevo às diferenças silenciadas pela
lei do Comendador.
Como diz Paulo A. Soethe (2007), a força ética declarativa do espaço esta no modo
como ele é partilhado. Sobre isso, a imagem do jantar é valiosa porque nela as personagens
modo como os agregados se veem dentro da casa entre si e perante os donos da fazenda
todos vivem com receio de infringir alguma norma, por isso vivem num clima defensivo.
Outro ponto é a quebra do silêncio por D. Mariana, que num tom agressivo põe em
sendo que a claridade de D. Mariana consumada por Carlota arruína a fazenda juntamente
com o sistema.
Pensando na ética do espaço, toda a estrutura que foi construída e semeada com sangue e
suor escravos é derrubada. Essas quedas de fronteiras e avanço das trincheiras só vão se
solidificar ao final da obra, quando Carlota se alia à mãe, liberta os escravos e por fim se
declara ser a menina morta. Momento que retorna a tríade da clareira – da mãe e das suas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da História. In: Magia e técnica, arte e política:
Ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sergio Paulo Rouanet. 6. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1993. v. 1. p. 222-232.
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Pál Pelbart e Janice Caiafa. São Paulo: 34, 1997. v. 5. p. 157-189.
SOETHE, Paulo Astor. Espaço literário, percepção e perspectiva. Aletria. Belo Horizonte, v.
15, 2007. P. 221-229. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/poslit. Acesso em: 10 jan.
2010.
1
Este artigo é parte integrante do projeto A questão do mal em Cornélio Penna e Lúcio Cardoso, que recebe
apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
2
Graduando do curso de Letras-Português pela Universidade Federal de Sergipe e Voluntário do Programa de
Iniciação Científica (PICVOL). luizeduardo@teachers.org.
3
Embora a edição seja de 1958, todas as citações de A menina morta foram atualizadas para a ortografia
vigente.