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ISSN 1679-5709

AS FÁBULAS DE ESOPO
WILSON A. RIBEIRO JR.
Grécia Antiga, São Carlos, v. 1, n. 1, p. 26-30, 1998

Fábulas são "histórias fictícias que simulam verdades" (Theon Rhetor, apud Dezotti, 1991),
têm sempre fundo moral ou didático, envolvem freqüentemente deuses e animais falantes e são,
muitas vezes, humorísticas.

Os fabulistas

Dos dois mais importantes fabulistas que escreveram em grego, Esopo e Babrius, Esopo é
sem dúvida o mais importante, e talvez seja também o mais antigo. Ironicamente, embora as fá-
bulas sejam bem conhecidas, pouco se sabe sobre os fabulistas.

"Esopo". Busto de mármore, provavelmente romano. Data:


séc. I-V. Roma, Villa Albani. © Philosophische Fakultäten,
Friedrich-Alexander Universität.

Segundo a tradição, Esopo (gr. Αἴσωπος) era um ex-escravo procedente da Frígia, região
que ficava na parte noroeste da Anatólia, e que viveu em meados do século -VI. Todos os dados
que temos a seu respeito são incertos e, ironicamente, fabulosos. Na realidade, as historietas em
prosa que circulavam na Antigüidade sob seu nome e das quais conhecemos cerca de duzentas e
cinqüenta são totalmente anônimas.
De L. Valerius Babrius (gr. Βάβριος) sabemos apenas que era súdito romano e que viveu
na Síria na época dos Severos (193/231). Escreveu cerca de cento e vinte fábulas em verso, à i-
mitação de Esopo.

As coletâneas

Embora as fábulas já estivessem presentes em alguns dos mais antigos textos gregos (Ilí-
ada, Odisséia, Os Trabalhos e os Dias), somente nos séculos -V e -IV alcançaram popularidade,
notadamente junto aos filósofos e poetas cômicos. Eis alguns exemplos: Platão (Fédon, 259b;
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Teeteto, 174a); Aristófanes (Paz, 125; Aves, 650; Vespas, 1400). No fim do Período Clássico, fo-
ram incorporadas como recurso discursivo pelos oradores.
Apesar da popularidade da fábula, a primeira coletânea, a Coletânea de Discursos Esópicos
de Demétrio de Fáleron (c. -354/-283), surgiu apenas no início do Período Helenístico, e não che-
gou até nós. Todas as coleções que sobreviveram datam do Período Greco-Romano.
Dentre as fábulas atribuídas a Esopo, ditas "esópicas", cerca de duzentas e setenta chega-
ram até nós. Mais ou menos duzentas e trinta foram reunidas na Antigüidade em forma de cole-
tânea nos séculos IV-V e compõem uma coleção que os eruditos modernos chamam de Augusta-
na; outras quarenta, aproximadamente, provêm de manuscritos diversos.

A fábula esópica

Em geral, a fábula começa pelo título, depois vem uma curta narrativa em prosa e, quase
sempre, um epimítio. No epimítio o fabulista freqüentemente apresenta aquilo que chamamos, na
atualidade, de "moral da história".
Os personagens são muito variados: homens e mulheres, personagens mais ou menos his-
tóricos, deuses e deusas, animais falantes — todos descritos de forma sucinta, porém muito viva.

Fontes

As principais fontes para as fábulas esópicas são a "recensão I" e a "recensão Ia". A pri-
meira, conhecida também por Augustana, baseia-se no manuscrito Monacensis 564 (séc. XIV),
cópia de uma coletânea efetuada originalmente no século IV ou V. Os originais da segunda re-
montam provavelmente aos séculos III-IV.
A edição princeps de "Esopo" é a de Bonus Accursius, publicada em Milão em 1474; a edi-
ção aldina saiu bem mais tarde, em 1505.
"Fábulas de Esopo" é um dos textos gregos mais publicados de todos os tempos. Dentre as
edições mais recentes, a de Schneider (1812) é importante, mas as de Chambry (1927) e de Per-
ry (1952) são as mais completas e acessíveis. Aqui, foi utilizada a edição bilíngüe de Loayza
(1995), baseada em Chambry e Perry.

Traduções

Em portugal, as mais antigas traduções do texto grego são as de Manuel Mendes da Vidi-
gueira (1603; edição corrigida em 1672 por João Ferreira de Almeida) e de João Félix Pereira
(1820); no Brasil, a edição mais antiga é a de Dezotti (1991).

Passagens selecionadas

As fábulas apresentadas aqui foram reunidas por Loayza (1995) com base no texto de Per-
ry (ver Anexo I). Na primeira fábula, todos os personagens são humanos; na segunda, um deus
que se relaciona com um simples mortal não leva a melhor; na terceira e na quarta, os persona-
gens favoritos de Esopo: simples animais, discutindo francamente a respeito de vários aspectos
da vida. Observe-se que a resposta da leoa na quarta fábula é um dos melhores exemplos da ca-
pacidade de síntese da língua grega...
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O marido e a mulher difícil

Um homem tinha uma mulher de gênio muito difícil com todos da casa, e quis sa-
ber se também com os escravos do pai dela se comportava do mesmo modo; por
isso, com uma desculpa bem arranjada, enviou-a ao pai. Depois de alguns dias,
ela regressou e o marido perguntou como os escravos a tinham acolhido. Ela res-
pondeu: "os boieiros e os pastores olharam-me por baixo das sobrancelhas". E
ele disse a ela: "Mas, mulher, se você se tornou odiosa a eles, que conduzem os
rebanhos de madrugada e só à tarde voltam, o que se pode esperar daqueles
com quem você convive todos os dias?"
Assim, muitas vezes tornam-se evidentes as coisas grandes a partir das peque-
nas, e as ocultas a partir das visíveis.
Pr. 95 / Ch. 49

Hermes e o escultor

Hermes, querendo saber da estima que gozava entre os homens, apresentou-se


em forma humana na oficina de um escultor. Vendo uma estátua de Zeus, per-
guntou quanto era. Ao lhe responderem que era uma dracma, riu e perguntou
quanto era uma de Hera, e responderam que era ainda mais cara. Vendo também
a estátua dele, supôs que, por ser um mensageiro e também favorecer o lucro,
era bem considerado por todos os homens. Por isso perguntou quanto era uma de
Hermes, e o entalhador disse: "Se você comprar essas, eu a darei de brinde".
A fábula convém aos homens presunçosos, que não gozam de nenhuma conside-
ração junto aos demais.
Pr. 88 / Ch. 108

O lobo e o cordeiro

Um lobo viu um cordeiro bebendo no rio e quis devorá-lo através de um motivo


bem fundamentado. Assim, colocou-se mais acima e depois acusou-o de turvar a
água e não permitir-lhe beber. O cordeiro disse que bebia com o extremo do lábio
e, além disso, não é possível do lado de baixo turvar a água do lado de cima. O
lobo, falhando na acusação, disse: "Mas no ano passado você injuriou meu pai". E
quando o cordeiro respondeu que nessa época nem tinha nascido, o lobo disse:
"Se você tem justificativas de mais, não te comerei de menos".
A fábula mostra que para aqueles cujo propósito é injusto, nenhuma justificativa
tem valor.
Pr. 155 / Ch. 221

A leoa e a raposa

A leoa, reprovada pela raposa por ter um só filhote ao invés de muitos, respon-
deu: "Sim, mas um leão.".
A fábula mostra que a excelência não está na quantidade, mas na qualidade.
Pr. 257, Ch. 194

BIBLIOGRAFIA

BOWDER, D. Quem foi quem na Grécia Antiga. Trad. M.R.A. Marcondes. São Paulo: Círculo do Li-
vro / Art Editora, 1988.

CRANE, G. (ed.). Aesop. Perseus Digital Library, disponível em http://perseus.tufts.edu. Acessado


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em março de 1995.

DEZOTTI, M.C.C. (coord.). A Tradição da Fábula. Araraquara: FCL-UNESP-Ar, 1991.

LOAYZA, D. Esope. Fables. Paris: GF Flammarion, 1995.

ANEXO I: texto original

Ἀνὴρ καὶ
καὶ γυνὴ
γυνὴ ἀργαλέ
ργαλέα [Pr. 95, Ch. 49]

Ἔχων τις γυναῖκα πρὸς πάντα λίαν τὸ ἦθος ἀργαλέαν ἠβουλήθη γνῶναι εἰ καὶ πρὸς
τοὺς πατρωίους οἰκέτας ὁµοίως διάκειται· ὅθεν µετὰ προφάσεως εὐλόγου πρὸς τὸν πατέρα
αὐτὴν ἔπεµψε. Μετὰ δὲ ὀλίγας ἡµέρας ἐπανελθούσης αὐτῆς ἐπυνθάνετο πῶς αὐτὴν οἱ οἰκεῖοι
προσεδέξαντο. Τῆς δὲ εἰπούσης· "Οἱ βουκόλοι καὶ οἱ ποιµένες µε ὑπεβλέποντο, "ἔφη πρὸς
αὐτήν·"Ἀλλ', ὦ γύναι, εἰ τούτοις ἀπήχθου οἳ ὄρθρου µὲν τὰς ποίµνας ἐξελαύνουσιν, ὀψὲ δὲ
εἰσίασι, τί χρὴ προσδοκᾶν περὶ τούτων οἷς πᾶσαν τὴν ἡµέραν συνδιέτριβες;"
Οὕτω πολλάκις ἐκ τῶν µικρῶν τὰ µεγάλα καὶ ἐκ τῶν προδήλων τὰ ἄδηλα
γνωρίζεται.

Ἑρµῆ
ρµῆς καὶ
καὶ ἀγαλµατοποιό
γαλµατοποιός [Pr. 88, Ch. 108]

Ἡρµῆς βουλόµενος γνῶναι ἐν τίνι τιµῆι παρὰ ἀνθρώποις ἐστίν, ἧκεν ἀφοµοιωθεὶς
ἀνθρώπωι εἰς ἀγαλµατοποιοῦ ἐργαστήριον. Καὶ θεασάµενος Δίος ἄγαλµα ἐπυνθάνετο
πόσου. Εἰπόντος δὲ αὐτοῦ ὃτι δραχµῆς, γελάσας ἠρώτα· "τὸ τῆς Ἥρας πόσου ἐστίν;"
Εἰπόντος δὲ ἔτι µείζονος, θεασάµενος καὶ ἑαυτοῦ ἄγαλµα ὑπέλαβεν ὅτι αὐτον, ἐπειδὴ καὶ
ἄγγελός ἐστι καὶ ἐπικερδής, περὶ πολλοῦ οἱ ἄνθρωποι ποιοῦνται. Διὸ προσεπυνθάνετο· " Ὁ
Ἡρµῆς πόσου; "καὶ ὁ ἀγαλµατοποιὸς ἔφη· "Ἀλλ' ἐὰν τούτους ἀγοράσηις, τοῦτόν σοι
προσθήκην δώσω. "
Πρὸς ἄνδρα κενόδοξον ἐν οὐδεµίαι µοίραι παρὰ τοῖς ἄλλοις ὄντα ὁ λόγος ἁρµόζει.

Λύκος καὶ
καὶ ἀρ
ἀρήν [Pr. 155, Ch. 221]

Λύκος θεασάµενος ἄρνα ἀπό τινος ποταµοῦ πίνοντα, τοῦτον ἐβουλήθη ἀπό τινος
εὐλόγου αἰτίας καταθοινήσασθαι. Διόπερ στὰς ἀνωτέρω ἠιτιᾶτο αὐτὸν ὡς θολοῦντα τὸ
ὕδωρ καὶ πιεῖν αὐτὸν µὴ ἐῶντα. Τοῦ δὲ λέγοντος ὡς ἄκροις τοῖς χείλεσι πίνει καὶ ἄλλως οὐ
δυνατὸν κατωτέρω ἑστῶτα ἐπάνω ταράσσειν τὸ ὕδωρ, ὁ λύκος ἀποτυχὼν ταύτης τῆς
αἰτίας ἔφη· "Ἀλλὰ πέρυσι τὸν πατέρα µου ἐλοιδόρησας. "Εἰπόντος δὲ ἐκείνου µηδέπω τότε
γεγενῆσθαι, ὁ λύκος ἔφη πρὸς αὐτόν· " Ἐὰν σὺ ἀπολογιῶν εὐπορῆις, ἐγώ σε οὐ κατέδοµαι;"
Ὁ λόγος δηλοῖ ὅτι οἷς ἡ πρόθεσίς ἐστιν ἀδικεῖν, παρ' αὐτοῖς οὐδὲ δικαία ἀπολογία
ἰσχύει.
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Λέαινα καὶ ἀλώπηξ [Pr. 257, Ch. 194]


καὶ ἀλ

Λέαινα, ὀνειδιζοµένη ὑπὸ ἀλώπεκος ἐπὶ τῶι διὰ παντὸς ἕνα τίκτειν, ἔφη· "Ἀλλὰ
λέοντα."
Ὁ λόγος δηλοῖ ὅτι τὸ καλὸν οὐκ ἐν πλήθει, ἀλλ' ἐν ἀρετῆι.

Artigo disponível em
www.greciantiga.org/outros.asp?num=0085

© Wilson A. Ribeiro Jr., 2008. Portal Graecia Antiqua (www.greciantiga.org).

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