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EFEITOS DA CONDENAÇÃO E
REABILITAÇÃO
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1 Direito penal: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 1991. v. 1, p. 555.
2FRANCO, Alberto Silva. Código Penal e sua interpretação jurisprudencial. 5. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1995. p. 1074.
2 – Direito Penal – Ney Moura Teles
Com base nas normas contidas nesses dois artigos do estatuto repressivo
brasileiro, extrai-se uma primeira conclusão. Os efeitos mencionados no art. 91 são
genéricos, aplicando-se a todo e qualquer crime, e automáticos, ao passo que os
descritos no art. 92, além de se referirem a certos tipos de crimes, dependem de
declaração expressa e motivada na sentença.
vê, com a sanção penal, a recomposição do valor do bem atingido. Esta só é possível
com a indenização, com o ressarcimento do prejuízo, com a restauração da integridade
do bem violado, ainda que por uma ficção jurídica, transformando-se o bem destruído
num valor que será entregue ao ofendido.
É o que diz o art. 91, I: “a condenação criminal torna certa, exata, a obrigação de
indenizar o dano causado pelo crime”. Decidida, definitivamente, a condenação, o
titular do bem jurídico atingido, seu representante ou seus herdeiros promoverão, com
base na decisão criminal, a execução civil da obrigação de reparar o dano (Código de
Processo Penal, art. 63).
É certo que a decisão prolatada pelo juiz criminal não cuida da reparação do dano,
mas apenas da existência do crime – do fato típico, ilícito e culpável – e de sua
conseqüência legal, a pena, não determinando ao acusado a obrigação de indenizar,
mas o art. 475-N, do Código de Processo Civil, estabelece: “São títulos executivos
judiciais: (...); II – a sentença penal condenatória transitada em julgado.”
Nesta hipótese, a vítima não poderá demandar a reparação civil e, se o fizer, terá
sua pretensão rechaçada porquanto o poder judiciário já terá decidido que o fato não
aconteceu. Se o fato não ocorreu, não se pode sequer pensar em existência de dano.
Outra hipótese é não haver prova de que o fato aconteceu. Aqui, a situação
é diferente. Se a justiça criminal não conseguiu provar a ocorrência do fato, porque o
depoimento das testemunhas apresentadas não autoriza condenação, enfim, por não
ter sido produzida prova cabal da existência do fato, nem por isso se pode concluir que
o fato não aconteceu. Apenas que não houve provas de sua existência. Tal situação
implica a absolvição do acusado, mas não impõe a conclusão de que não houve o fato.
Assim, na hipótese de o fato atípico ser ilícito civil, o ofendido pode pleitear a
reparação do dano.
contudo, tiver afirmado categoricamente que o acusado não é o autor, nem partícipe do
crime, será impossível a reparação civil.
“Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser
proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência
material do fato.”
O princípio do in dubio pro reo manda o juiz criminal absolver o réu quando
não houver prova suficiente para a condenação.
Nessa hipótese, a ação civil poderá ser proposta, em seu âmbito haverá de ser
desfeita a dúvida, pelo menos quanto à reparação do dano.
“Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito
cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito.”
Todavia, nas seguintes situações, mesmo tendo o agente agido licitamente, a ação
civil poderá ser promovida, visando à reparação do dano.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de
terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a
importância que tiver ressarcido ao lesado.”
Quando o acusado é absolvido por não ser culpado, porque foi considerado
inimputável, por ter agido sob coação moral irresistível, em obediência hierárquica, ou
em erro de proibição inevitável, inclusive no caso de descriminante putativa, o fato
típico terá sido ilícito, mas não culpável. Sendo ilícito, terá havido lesão ao bem
jurídico, e, presente esta, deve ser ressarcido o dano.
8 – Direito Penal – Ney Moura Teles
Melhor teria sido que a lei a cominasse para algumas espécies de crimes, como os
chamados “do colarinho branco”, os contra a ordem tributária e a ordem econômica.
A Lei nº 9.268, de 1º-4-1996, deu nova redação ao inciso I do art. 92, que ficou
assim redigido:
Agora, nessa hipótese basta que a pena seja superior a um ano de privação de
liberdade, e não mais a quatro, para que seja possível declarar a perda do cargo ou da
função pública.
A outra novidade é que, nos crimes cometidos sem abuso de poder ou sem violação
de dever para com a administração pública, o efeito poderá ser declarado apenas
quando a pena for superior a quatro anos.
Na primeira situação, o efeito poderá ser aplicado nos casos de crimes definidos
nos arts. 312 a 326 do Código Penal – peculato, concussão, corrupção passiva,
prevaricação, violência arbitrária etc. – bem assim em qualquer hipótese de crime
praticado por funcionário público durante o exercício de sua função, com abuso de
poder e com violação de dever funcional, como homicídio, estupro, atentado violento ao
pudor, furto, roubo etc.
O mesmo inciso I do art. 92, com a nova redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º-
4-96, repete, como efeito específico e não automático, ao lado da perda de cargo ou
função pública, a perda do mandato eletivo.
A Constituição Federal de 1988, todavia, em seu art. 15, III, assim estabelece:
fundamentais.
A norma do art. 15, III, da Constituição Federal, trata dos direitos políticos para
dizer, em primeiro lugar, que sua cassação é vedada, proibida. Mas, o preceito admite a
perda e a suspensão dos direitos políticos. Necessário, pois, distinguir cassação de
perda, e de suspensão. Por cassação há de se entender a anulação, a invalidação, a
usurpação, a subtração autoritária dos direitos políticos do cidadão, por ato unilateral,
imotivado ou injustificado. O regime autoritário instalado no Brasil a partir de 1964
inaugurou a prática antidemocrática de tornar sem efeito mandatos eletivos,
utilizando-se da expressão cassação. Também por aquele tempo foi comum a prática de
suspender direitos políticos por dez anos.
transitada em julgado.
tacitamente revogado.
De conseqüência, norma do art. 92, I, do Código Penal, na parte que trata da perda
do mandato eletivo, é inaplicável, remanescendo seu comando apenas com relação à
perda de cargo ou função pública. Não pode a lei ordinária contrariar a norma
constitucional, nem regulamentá-la dispondo de modo contraditório. Não há menor
harmonia entre a norma do art. 92, I, do Código Penal, e o preceito constitucional.
Se o condenado com sentença transitada em julgado não pode ser eleito, não pode,
igualmente, continuar o exercício do mandato para o qual tiver sido eleito
anteriormente à condenação. É da mais límpida obviedade.
Se o agente tiver praticado crime doloso sujeito à pena de reclusão contra seu
próprio filho, um tutelado ou curatelado, o juiz, ao condená-lo, poderá declarar,
14 – Direito Penal – Ney Moura Teles
Os requisitos para a imposição desse efeito são: (a) seja o crime doloso; (b) seja
cominada pena de reclusão; (c) tenha sido praticado contra o filho, o tutelado ou o
curatelado do agente; (d) seja necessário, para os fins de reprovação e prevenção do
crime.
Alguns crimes, como os de natureza sexual, por exemplo, são de molde que esse
efeito seja imposto, devendo é claro constar da sentença, motivadamente.
O pai que estupra a própria filha não tem, é da mais límpida lógica, a mínima
condição de continuar exercendo o pátrio poder. O tutor que favorece a prostituição de
sua tutelada, igualmente, deve ser destituído desse dever.
Este efeito só é possível quando o veículo tiver sido utilizado para a prática de um
crime doloso, por exemplo, um homicídio, um crime de lesão corporal, ou o tráfico
ilícito de entorpecentes.
20.3 REABILITAÇÃO
20.3.1 Conceito
Toda e qualquer condenação penal, ainda que a uma pena restritiva de direito ou de
multa, e mesmo depois de integralmente cumprida, constitui um estigma, um sinal, uma
marca na vida do condenado, acompanhando-o por todos os seus dias.
O direito penal, atento a esse problema, criou a reabilitação a fim de, se não
eliminar, pelo menos diminuir as conseqüências indesejáveis da condenação.
Esse sigilo, ensina ALBERTO SILVA FRANCO, “já existe automaticamente a partir do
cumprimento ou da extinção da pena, diante do que dispõe o art. 202 da LEP4”:
É da mais alta importância o respeito a essa norma para que o condenado possa
alcançar efetivamente a reinserção social. Enquanto for estigmatizado, marginalizado,
impedido de obter trabalho lícito, por força de informações sobre a condenação, o
egresso do sistema penitenciário não terá mínimas possibilidades de voltar ao convívio
social normal em condições que possibilitem sua recuperação.
O respeito ao sigilo imposto pelo art. 93 dirige-se a todas as pessoas, que não
podem lançar mão de informações contidas no processo, nem acerca da condenação
sofrida pelo reabilitado.
O sigilo somente não será respeitado à vista de requisição de juiz criminal, como
manda o art. 748 do Código de Processo Penal:
Não podia ser diferente, pois a reabilitação é, como se verá adiante, condicional,
podendo ser revogada, daí que, instaurado novo processo penal, é do interesse do juiz
saber sobre o passado do acusado.
20.3.2 Requisitos
Não basta esse requisito, pois o condenado deve ter permanecido com seu
domicílio no país durante os dois anos após o cumprimento ou extinção da pena. A
prova do cumprimento desse pressuposto poderá ser feita documentalmente, com
atestado de residência ou por testemunhas idôneas, e ainda por quaisquer outros meios
lícitos.
Além disso, o condenado deve provar que teve, durante o período de dois anos,
bom comportamento público e privado. A existência de outras ações penais, e até
mesmo de inquéritos policiais em curso, instaurados durante o prazo de dois anos,
iniciado após a extinção da pena, é suficiente para obstar a concessão da reabilitação,
pois indica comportamento insatisfatório. Por comportamento privado deve-se
entender aquele relativo a sua vida no âmbito do meio familiar, de suas relações com
filhos, mulher ou companheira, que deve, igualmente, ser satisfatório.
Efeitos da Condenação e Reabilitação - 17
A lei não exige comportamento exemplar, de alguém que se purificou, mas tão-
somente comportamento positivamente bom.
Os juízes devem ser mais rigorosos com esse requisito, pois a vítima deve merecer
especial atenção do direito penal.
20.3.3 Efeitos
A habilitação para dirigir veículo automotor, perdida nos termos do art. 92, III,
será readquirida com a reabilitação, sem qualquer restrição.
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20.3.4 Revogação
A reabilitação é condicional.
O fato pelo qual o reabilitado será condenado deverá ter ocorrido após o trânsito
em julgado da sentença penal que o condenou pelo crime anterior (art. 63, CP). Se,
todavia, tiver transcorrido cinco anos entre a data do cumprimento da pena anterior ou
de sua extinção e o fato novo, computado nesse tempo o período de prova do sursis e do
livramento condicional, não se falará igualmente em reincidência (art. 64, I, CP).
Não basta que o reabilitado seja indiciado em inquérito policial, e tampouco que
seja denunciado. Instaurado o processo, não há, ainda, motivo para a revogação da
reabilitação.
Finalmente, nada impede que o condenado que teve sua reabilitação revogada
volte a obter outra reabilitação, desde, é óbvio, que preencha todos os seus
pressupostos.