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EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
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23.1 PUNIBILIDADE
23.1.1 Conceito
Trata-se de uma categoria que não integra o conceito de crime, mas que, como
sua conseqüência jurídica, vai condicionar a imposição da resposta penal e que só
1 JESUS, Damásio E. de. Direito penal: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 389.
2 CONDE, Francisco Muñoz. Teoria geral do delito. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1988. p.
169.
2 – Direito Penal – Ney Moura Teles
Por exemplo: Flávio, maior, imputável, tendo subtraído para si dinheiro de seu
pai, terá cometido um crime de furto, não militando, em seu favor, nenhuma causa de
exclusão da ilicitude, e tampouco de culpabilidade; no entanto, não sofrerá sanção
penal, porquanto, apesar de típico, ilícito e culpável, esse fato não será punível, porque
o direito entende não dever incidir sobre esse agente a pena criminal, apesar de o crime
ter-se aperfeiçoado integralmente.
Verifica-se que, nessas situações, apesar de ter havido um crime, a pena não
poderá ser imposta ao agente, pela ausência dessas condições de punibilidade, que são
objetivas.
Dispõe o art. 181 do Código Penal, que se refere aos crimes contra o patrimônio,
exceto os de roubo e extorsão e os praticados com violência ou grave ameaça:
“É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo: I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II – de
ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.”
Esta escusa absolutória impede a imposição de pena ao filho que furta do pai, ao
marido que pratica estelionato em prejuízo da mulher, na constância do casamento, do
pai que se apropria indevidamente de coisa de propriedade do filho.
Trata-se, outra vez, de uma escusa absolutória que não exclui a existência do
crime, impedindo, apenas, a imposição da pena.
Apesar de algumas opiniões favoráveis, é certo que a morte presumida, de que trata o
art. 10 do Código Civil, não pode equiparar-se à morte real, extinguindo a punibilidade.
Assim, somente à vista de certidão de óbito, poderá ser decretada a extinção da
punibilidade.
A verdade não pode quedar-se diante de uma simples formalidade, pelo que,
excepcionalmente, deve-se admitir a revisão contra esse réu, que teve extinta sua
punibilidade pela declaração falsa de sua morte.
Dispõe o art. 48, VIII, da Constituição Federal que a anistia será concedida pelo
Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, por meio de uma lei
cujo efeito será apagar o crime, extinguindo a punibilidade e os efeitos penais, já que os
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A Lei de Execução Penal trata desses institutos nos arts. 188 a 193. O indulto
coletivo pode ser total ou parcial, extinguindo ou diminuindo as penas. Neste último
caso, não haverá extinção da punibilidade, mas tão-somente a comutação da sanção
penal.
23.2.3 Decadência
Conta-se o dia do início do prazo, que é a data em que se tomou ciência do fato.
23.2.4 Perempção
Trata-se de uma sanção imposta ao ofendido que, como titular do direito de agir,
inicia o processo e, depois, não cumpre com seus deveres processuais, salvo se houver
motivo justo para tanto; daí que a perempção deve ser decretada pelo juiz, não
ocorrendo automaticamente.
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23.2.5 Renúncia
Esta causa de extinção da punibilidade aplica-se apenas aos casos de ação penal
de iniciativa privada, exclusiva ou subsidiária de pública.
3 HUNGRIA, Nelson. Comentário ao código penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1955. v. 4, p. 120.
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indenização do dano causado pelo crime, não implica renúncia tácita, como dispõe
expressamente o parágrafo único, in fine, do art. 104 do Código Penal.
Dispõe o art. 105 do Código Penal: “O perdão do ofendido, nos crimes em que se
procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação.” O inciso V do art. 107
determina que o perdão aceito, nos crimes de ação privada, extingue a punibilidade.
O perdão do ofendido ocorre após o início da ação penal privada, devendo ser
oferecido até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (§ 2º, art. 106).
Nos crimes de calúnia e difamação, tipificados no Código Penal (arts. 138 e 139),
e nos crimes contra a honra praticados por meio da imprensa, inclusive o de injúria
(arts. 20, 21 e 22 da Lei nº 5.250/67), bem assim nos crimes de falso testemunho e
falsa perícia (art. 342, § 3º, CP), a retratação cabal do ofensor extinguirá a
punibilidade.
Nessas hipóteses, a retratação deve ser feita antes da sentença que decidir sobre
a ação, e o juiz deverá considerá-la idônea e adequada a reparar a ofensa causada, não
dependendo de aceitação do ofendido.
A dúvida é saber se a retratação, nesses casos, deve ser feita antes da sentença
prolatada no processo em que foi cometido o crime de falso testemunho ou falsa
perícia, ou se no processo instaurado contra o agente do falso.
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Perdão judicial é o ato pelo qual o juiz, apesar de condenar o agente, deixa de
aplicar a pena. Diz respeito a certas situações especiais, em que a aplicação da sanção
penal é absolutamente desnecessária ou não é recomendável, por motivos de política
criminal, ou em face do princípio da intervenção mínima.
Esta hipótese aplica-se, também, ao crime de lesão corporal culposa, por força do
que estabelece o § 8º do art. 129 do Código Penal.
A pena criminal tem como fim a prevenção e a reprovação do crime, não podendo
ultrapassar os limites da necessidade e da suficiência. Se, em certas circunstâncias, a
pena mostrar-se desnecessária, não deve ser imposta.
Não tendo agido com dolo, nem eventual, o agente se vê diante da lesão a um bem
jurídico importantíssimo de uma pessoa queridíssima, sofrendo profundamente com
seu comportamento negligente. Esse sofrimento, por si só, é já suficiente para causar-lhe
uma aflição indizível, de modo que a imposição de uma pena criminal se tornará
absolutamente desnecessária, em face de as conseqüências do fato terem, já, imposto
ao agente sofrimento muito mais grave que a sanção penal pertinente.
Outra situação em que o juiz pode perdoar o agente, isentando-o de pena, por
desnecessidade da reprovação, é a preconizada no parágrafo único do art. 176, que
assim tipifica: “Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de
meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento.”