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O bem jurídico protegido é, uma vez mais, a fé pública, a confiança que as pessoas
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles
Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar uma das condutas descritas na norma.
Sujeito passivo é o Estado.
66.2 TIPICIDADE
O caput do art. 293 contém a figura típica básica. O § 1° descreve outras condutas
equiparadas. O § 2° tipifica a supressão de sinais indicativos da inutilização desses papéis
públicos. O § 3°, o uso de papéis públicos inutilizados. O § 4° descreve a restituição à
circulação de papéis públicos falsificados ou alterados. Finalmente, o § 5° contém norma
explicativa.
A conduta típica fundamental é falsificar, que significa imitar, fraudar, por meio de
fabricação ou alteração. Fabricar é criar, elaborar, manufaturar. Alterar é modificar o
conteúdo. Os objetos materiais sobre os quais recai a falsificação são os descritos nos
incisos I a VI do art. 293.
O inciso III refere-se ao vale postal; todavia, foi o dispositivo revogado pelo art. 36
da Lei nº 6.538/78. Vale postal é o título emitido pelo Correio à vista de um depósito de
quantia para pagamento na mesma ou em outra unidade postal (art. 47 da Lei nº
6.538/78).
Por fim, no inciso VI, estão definidos como objeto material do crime o bilhete de
transporte em empresa administrada pela União, Estados e Municípios, o passe, que
também permite o acesso do usuário ao serviço de transporte público, e o conhecimento,
que é documento que comprova a entrega de coisa a ser transportada por empresa
transportadora administrada pelo poder público.
No inciso III, além das mesmas condutas descritas no inciso II, a norma incrimina
ainda a exposição à venda, o depósito e a utilização, por qualquer forma, em proveito
próprio ou alheio, no exercício da atividade comercial, de produto ou mercadoria na qual
tenha sido aplicado selo de controle tributário falsificado ou sem o selo exigido pela
legislação tributária. Expor à venda é oferecer, mostrar para vender, exibir, deixar à mostra
do consumidor. Depositar é guardar, estocar ou armazenar. Utilizar em proveito próprio
ou alheio no exercício da atividade comercial ou industrial é dar à coisa, qualquer destino
com finalidade lucrativa, na atividade da empresa.
Equipara-se à atividade comercial, para os fins do que está previsto no inciso III,
qualquer forma de comércio, irregular ou clandestino, inclusive o que é exercido em vias,
praças ou logradouros públicos e residências (art. 293, § 5°).
Se quem pratica qualquer dessas condutas definidas nos incisos I ao III é o próprio
agente da falsificação, seu autor ou o dela partícipe, não será incriminado uma segunda fez,
pois sua conduta será post factum impunível. Assim, incidirá na incriminação a pessoa que
não seja agente da falsificação do papel.
Há conduta típica quando o agente suprime o sinal ou o carimbo que indica sua
inutilização. Suprimir é, de qualquer modo, eliminar a prova de que o papel já foi utilizado
e não mais o pode ser. É remover a tinta do carimbo, raspá-la ou fazer desaparecer a marca
representativa de sua inutilização.
Desse modo, pretende o agente fazer crer que o papel ainda pode ser utilizado
porque fez desaparecer o carimbo ou o sinal de sua inutilização.
É crime doloso. O agente deve estar consciente de que aquele sinal ou carimbo é
indicativo da inutilização do objeto material e suprimi-lo com vontade livre e para tornar o
papel novamente utilizável, que é o fim especial, o segundo elemento subjetivo do tipo.
O § 3º do art. 293 pune com reclusão de um a quatro anos e multa “quem usa,
depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o parágrafo anterior”.
A conduta incriminada é usar qualquer dos papéis públicos legítimos que foram
inutilizados, mas que tiveram suprimido o carimbo ou o sinal indicativo de sua inutilização
pelo agente do crime definido no § 2º do art. 293. Usar significa conferir ao papel qualquer
utilidade, empregá-lo na realização de qualquer fato jurídico, dá-lo, emprestá-lo, enfim,
fazer uso dele, de qualquer modo.
É crime que será realizado por outra pessoa, porque se é o próprio agente da
supressão do sinal indicativo que faz uso do papel, estará realizando post factum
impunível.
Para realizar o tipo do § 4º, é indispensável que o agente tenha recebido um desses
papéis – falsificado ou com o sinal indicativo de inutilização suprimido – de boa-fé. Isto é,
recebeu-o na certeza de que se tratava de um papel verdadeiro e utilizável.
É preciso que, após tê-lo recebido de boa-fé, o agente tome conhecimento de que se
trata de um papel falsificado ou verdadeiro, porém, inutilizado e com o sinal indicativo de
inutilização suprimido, ou seja, alterado.