Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE
1 9 6 I
ANO III
ÍNDICE
Pág.
I. FILOSOFÍA K RELIGIAO
II. DOGMÁTICA
"i) "O muñe <lc Ifitu.i mcrladn no Anlir/o Trsliniiiiitn ilirv ser
pronunciado JA Vfi ou JKOVA ?" Mil
IV. MORAL
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
I. FILOSOFÍA E RELIGIÁO
— 267 —
daos; outros autores, entre os quais Hipódamo de Milcto, propugnavain
só fósse reconhecido o direito de propriedade ás classes inferiores.
Já na era crista, os antigos bispos (S. Basilio, S. Gregorio de
Nazianzo, S. Joao Crisóstomo...) admoestavam freqüeritemente os
fiéis a utilizarem suas posses de modo a beneficiar os indigentes.
Na Idade Media, os movimentos populares de reforma dos costumes
(os dos Cataros, por exemplo, Valdeos.es, Patários, Arnaldinos...),
simultáneamente com dou trinas religiosas, íaziam ouvir teses afins
ás dos socialistas atuais: igualdade das classes sociais e coletivismo...
— 268 —
J. Proudhon, por oxemplo, num opúsculo fortemente antibur
gués intitulado «Que é a propriedade?», respondía simples-
mente ser esta um furto (1840).
— 269 —
atingida no decorrer do ano de trabalho, a fim de que se possa
atender as indigencias dos cidadáos em particular e ainda
satisfazer as demais despesas que fagam parte do orcamento
nacional. O Estado deve mesmo procurar criar um fundo de
reservas que possam ser devidamente utilizadas nos anos em
que, por um acídente qualquer, a produgáo nacional venha a
ser insuficiente para cobrir as despesas orgamentárias.
— 270 —
2. Um juízo sobre o Socialismo
— 271 —
a intervengáo de urna Providencia Divina, inspirou de perto
as idéias dos socialistas clássicos : estes consideravam pri
mariamente o homem como um «individuo», isto é, como
urna unidade dentro da massa humana material, nao tanto
como personalidade, ou seja, como criatura dotada de alma
espiritual, imortal e chamada a se realizar na adesáo incon
dicional ao Transcendente ou a Deus.
— 272 —
da pré-história, da etnología e da geografía (cf. «P. R»
19/1959, qu. 1).
— 273 —
Tal resultado, penoso e decepcionante como é, torna-se inevitável
desde que nao se dé lugar a outros valores que os da materia, na
conceituacáo do homem e de sua verdadelra lelicidade.
«Nos tempos de Lea o XIII (íins do séc. XIX) podia-se dizer que
o socialismo era um só; propugnava principios doutrinais bem defini
dos e unidos num sistema; agora, ao contrario, vai dividido em dois
partidos principáis, que discordam as mais das vézes entre si, sao
mesmo inimigos encarnigados, mas, nao obstante, nao se afastam do
fundamento anticristáo que caracteriza o socialismo.
Com efeito, um partido do socialismo... se precipitou no comu
nismo, o qual ensina e propugna dois pontos, nao já por vias ocultas
ou por rodeios, mas abertamente e «om todos os meios...: a mais
agucada luta de classes e a aboligáo absoluta da propriedade particular.
... Mais moderado é o outro partido, que conservou o nome de
socialismo: nao só professa repelir toda e qualquer violencia, mas,
embora nao repudie a luta de classes o a abolicüo da propriedade
particular, abranda-a ao menos com atenuacóes e medidas... Dir-se-ia
que o socialismo se dobra de algum modo e se aproxima daquelas
verdades que a tradlcáo crista sempre e solenemente ensinou, pois
nao se pode negar que as suas reivindicacóes se aproximem, por vézes
e muito de perto. das que, com muita razáo, propoem os reformadores
cristáos da sociodade...
Que dizer, porém, do socialismo, dado que, no tocante á luta de
classes e á propriedade particular, ele se tenha realmente moderado
e corrigido, a ponto de nao haver mais nada que se lhe possa censurar
sobre ésses dois pontos? Porventura terá o socialismo, com isso,
renunciado subitáneamente k sua índole anticrista? Ai está a questáo
que mantém suspensas muitas almas. Nao poucos sao os católicos
que, bem conhecendo como os principios cristáos nao podem ser nem
— 274 —
abandonados nem apagados, parecem dirigir os olhares para esta Sé
Apostólica e pedir ansiosamente que decidamos se tal socialismo
emendou seus erros a tal ponto que, sem prejuízo de algum principio
cristáo, possa ser admitido e de algum modo aprovado. Para satisfazer,
de conformidade com a Nossa solicitude paternal, a ésses desejos,
declaramos o que se segué: o socialismo, quer seja considerado como
doutrina, quer como íato histórico, quer como acüo, se permanecer
verdaderamente socialismo, mesmo depois de ter cedido lugar á verda-
de e á justica sobre os pontos de que íalamos, nao se pode conciliar
com os ensinamentos da Igreja Católica, visto que o seu conceito de
sociedade é de todo contrario á verdade crista.
Com efeito, segundo a doutrina crista, o lim para o qual o homem
dotado de natureza sociável se acha sobre a térra, é que, vivendo na
sociedade e sob urna autoridade social ordenada por Deus, cultive e
desenvolva plenamente todas as suas faculdades, para louvor e gloria
do Criador, e, cumprindo fielmente os deveres de sua profissáo ou
vocacáo, qualquer que seja, chegue á posse da íelicidade temporal e
também eterna. O socialismo, ao contrario, ignorando por completo
essa táo sublime finalidade do homem e da sociedade, supóe que a
sociedade humana nao tenha sido instituida senáo para o exclusivo
bem-estar (material)».
Segundo a concepcao socialista, «os homens sao obrigados, no
tocante á producáo material, a se submeter inteiramente á sociedade;
!• o objetivo de se conseguir maior abundancia de riquezas que possa
servir ás comodidades da vida, é tido em tanta consideracao que se
lhe devem postergar os bens mais elevados do homem, especialmente
a liberdade, sacrificando-se tudo ás exigencias de urna producáo mais
eficaz. A .sociedade, pois, como ó imaginada pelo socialismo, nao
pode existir, nem se pode conceber, sem o emprégo de coagao real
mente excessiva; doutro lado, porém, ela goza de licenca nao nv»nos
íalsa, por lhe faltar urna verdadeira autoridade social, visto que
esta nao so pode íundar sobre as vantagens materiais e temporais
mas só pode vir de Deus, Criador e Fim de todas as coisas.
Dado que o socialismo, como todos os erros, contenha algo .le
verdade..., nao obstante ele se funda sobre urna teoría da sociedade
que lhe é própria e que é incompatível com o auténtico Cristianismo.
Socialismo religioso e socialismo cristáo, pois, sao termos contradi-
torios; ninguém pode ser bom católico e ao mesmo tempo verdadeiro
socialista».
A essa citacao o autor do artigo acrescenta o seguinte comentario:
«Nos casos que focalizamos, estamos diante de partidos que
repudiam mais ou menos explícitamente as posicóes clássicas do socia
lismo dito científico e parecem quase renunciar á solicitacáo dos
meios de produgáo e troca, a fim de apresentar, no setor económico
social, reivindicaeñes que, ao menos em teoría, nada mais tem que
repugne a verdade católica. Resta, porém, o nome, resta a inspiracáo...
Ésse novo socialismo que... se recusa a se deixar ligar pelos prin
cipios de Marx ou de Engels para nao se tornar urna seita, nao
declara qual é a sua nova regra de conduta, nem como atualmente
ele se distingue do individualismo liberal...
Mostramos, & luz do ensinamento da Igreja, que o socialismo,
mesmo em suas modalidades mais temperadas, mesmo que repudie
Marx, a socializacáo e a luta de classes, nao se pode conciliar com a
profissáo de catolicismo, e que ninguém pode ser bem católico e
ao mesmo tempo, verdadeiro socialista».
As linhas ácima dispensam qualquer ulterior comentario.
— 275 —
n. DOGMÁTICA
O. D. F. (Araxá) :
1. Religiao e Verdade
— 276 —
metafísica e da teología), julgam muítos pensadores que nao
se pode chegar á certeza. Sendo assim, as proposigóes que
nao possam ser provadas por tais métodos (como é o caso
das proposicóes religiosas) só parecem interessar ao senti-
mento e á vida afetiva de individuos ; preconiza-se o respeito
para com essas fórmulas ; julga-se, porém, que sao arbitra
rias, válidas apenas para quem as queira adotar.
— 277 —
únicamente a criterios subjetivos na orientagáo de sua con-
duta, sofreu urna deformacáo em sua mentalidade. O homem
que só admite certeza no setor das ciencias positivas, fecha-se
intencionalmente a toda urna ordem de coisas ainda mais ricas
do que as coisas visíveis ; os objetos sens'veis sugerem con-
clusóes contingentes, muito sujeitas a ser reformadas (basta
lembrar como os cientistas váo sucessivamente remodelando
suas explicacóes dos fenómenos); ao contrario, a realidade
que fica além do empírico, a realidade metafísica, é, como
dizia o filósofo grego Aristóteles (f 322 a. C), «necessária,
eterna e imutável», oferecendo, por isto, certeza tal que as
ciencias empíricas geralmente nao conseguem obter.
Nao repetimos aqui o que já foi dito em «P. R.» 20/1959, qu. 1,
em favor das possibil idades de chegarmos ao conhecimento da verdadc.
— 278 —
foi o teor de vida exemplar dos cristáos que para muitos
pagaos se tornou a prova palpável da origem divina da Jgreja.
— 279 —
denciadas. Sim; deve-se levar em conta, de um lado, que
Deus, por definigáo, é o Ser absoluto, infinitamente mais rico
do que o homem ; por conseguinte há de ter seus misterios.
Doutro lado, tendo criado o homem por benevolencia, Deu?
nao podia deixar de lhe revelar algo de seus designios, assim
como os meios necessários para que o homem volte ao Cria
dor. Pois bem ; tal revelagáo divina foi feita e há de ser aceita,
por vías objetivas, por um magisterio anterior e superior ao
individuo, devendo éste, por conseguinte, prestar fé. Nao há
dúvida, é mais cómodo ao intelecto humano criar ou inventar
do que simplesmente aceitar a realidade religiosa já feita.
Essa «comodidades, porém, é ilógica ; desvirtúa o conceito
de Religiáo, pois Religiáo significa entrega do homem a Deus,
Ser vivo, pessoal e transcendente. Será sempre preciso reco-
nhecer que Deus precede o homem,... que há efeitos sobre
os quais éste nao pode dispor, enfim... que ao homem toca
necessáriamente entrar numa ordem de coisas que ele nao
inventou.
— 280 —
composto de alma e corpo, dotado de índole social; a vida
do homem se desenvolve normalmente 1) mediante o uso de
suas faculdades corpóreas e 2) em ambiente comunitario;
cf. «P. R.» 15/1959, qu. 3.
— 281 —
pena dos que soírem; basta ter o senso humanitario ou filantrópico
natural, que é comum a todos os individuos, antes mesmo que pro-
fessem alguma crenca religiosa positiva).
Nao .sem razáo, pode-se julgar que a recusa do aspecto sacramen
tal e ritual do Cristianismo é inspirada pelo orgulho do homem
contemporáneo; o recurso aos elementos materiais e sensíveis (agua,
pao, vinho, óleo...) instituidos por Cristo como cañáis da graga
parece ser algo de pequenino demais para o cidadáo do século XX,
o qual pouco compreende que Deus se revela aos humildes e pequeños
(cf. Mt 11,25).
— 282 —
— Na verdade, muito se deve lamentar a existencia de
tais cristáos. Sua atitude, pouco ou nada influente na vida
social, em parte terá dado motivo á reagáo dos náo-católicos
contra o culto católico. Contudo o proceder incoerente dos que
váo á Missa, mas nao difundem os frutos da Missa no mundo,
aínda tem significado: exprime na sociedade o desejo de nao
romper com Deus, mas de manter contato com Ele.
— 283 —
2. Tais meios sao gcralmente consentáneos com o curso
natural das coisas; já que Deus é o Autor das leis que as
regem, Ele costuma utilizar as criaturas para executar seus
designios no mundo.
— 284 —
Entre as credenciais da Boa Nova, devem-se notar outrossim os
milagres que acompanharam a pregagáo dos Apostólos (cf. At
5,12-17);... também a surpreendente propagacáo do Evangelho,
doutrina da Cruz, num mundo corrupto e hostil, que até 323 perseguiu
os cristaos...
— 285 —
6. Deve-se mesmo dizer (quase paradoxalmente) que,
para quem nao possui um ánimo sincero e dócil para aceitar
os meios ordinarios de salvacáo, nem mesmo os meios extraor
dinarios ou milagrosos servem de alguma coisa. Sim; a alma
mal disposta nao se rende nem diante dos sinais mais retum
bantes, mas está sempre pronta a retorcer e anular o signifi
cado de qualquer milagre.
Está claro que a tais homens o Senhor nao pedirá contas de urna
profissüc de fé e de observancias religiosas que, sem culpa própria,
teráo ignorado ou jamáis teráo conhecido auténticamente. Seráo
julgados conforme a sua fidelidade aos ditames de sua consciéncia e
poderáo conseguir a bem-aventuranga celeste destinada a todos os
justos (contanto que perseveren» rigorosamente de boa íé no^ erro,
fazendo lealmente tudo que a consciéncia lhes mande, até o fim da
sua vida); cf. «P. R» 1/1958, qu. 7.
— 286 —
TEÓFILO (Sao Paulo) :
— 287 —
De tal atitude nao pode deixar de resultar tremendo dua
lismo ou penosa dilaceragáo dentro da alma humana ; a sua
natureza, feita para o Bem Infinito, continua a bradar por
Deus, enquanto a vontade adere a um bem finito.
— 288 —
7. Tal é o estado em que, logo após a morte, entra na
turalmente a alma de quem tenha pecado gravemente. Vé-se
entáo como, antes mesmo que Deus profira alguma sentenga
sobre ela, essa alma já traz dentro de si o inferno, ou o maior
tormento possível. O juizo postumo que o Senhor formula a
seu respeito, nao vem a ser senáo o reconhecimento de tal
situagáo ; nada de novo induz na sorte que tal alma ocasionou
para si.
Mas porque é que o Senhor reconhece e nao muda essa
ordem de coisas vigente na alma do réu ?
O Senhor nao a muda, porque só o faria forcando ou
violentando a livre deliberagáo da criatura. Ora Deus, que
dotou de personalidade livre o ser humano, nao lhe retira a
dignidade assim outorgada ; antes, respeita-a plenamente.
— 289 —
sao a Deus e apego apaixonado á criatura, para o futuro
sentirá, de um lado, a tremenda dilaceragáo que éste afeto
acarreta, mas, de outro lado, nao desejará em absoluto voltar
para Deus, desfazendo-se do seu amor desregrado ao finito ;
nao o desejando, está claro que o Senhor nao o forcará.
Ve-se assim algo de aparentemente paradoxal, mas su
mamente verídico e significativo : nao há quem esteja no in
ferno e daí queira sair; os reprobos sofrem, mas nao querem
abandonar o estado que lhes motiva o sofrimento. Se algum
déles pedisse perdáo, Deus nao lho negaría.
— 290 —
que é o ser, existir, Deus o quis tomar a seus exclusivos cui
dados; o Criador o dá irrevogávelmente; nao o retira, mesmo
que o homem nao cumpra a sua parte, abusando do dom do
Benfeitor. O homem, por conseguinte, existirá sempre, como
Deus planejou bondosamente, mesmo que, em conseqüéncia
de uma livre opeáo sua, nao exista feliz. Sua existencia, mesmo
nessas circunstancias, nao carecerá de significado e valor.
10. Talvez ainda nos aflore a mente uma última dúvida:
Deus, sabendo que tal ou tal criatura se perdería no inferno,
nao poderia ter deixado de a criar ? Nao deveria ter feito
apenas criaturas que usassem da sua liberdade para o bem ?
Refutamos um pouco sobre o valor dessa «sedutora» so-
lucáo do problema. «Liberdade» diz, por seu conceito mesmo,
variedade e multiplicidade de realizacóes ; é natural, portante,
que a liberdade humana se afirme na historia com essa mul
tiplicidade de formas que a caracterizam ; se tal variedade
nao se verifica, tem-se estranha liberdade,.. . liberdade arti
ficialmente canalizada numa só diregáo ; ora, isto nao sendo
normal, nao se poderia pretender que Deus procedesse assim.
O essencial é que nenhuma das criaturas Iivres, mesmo usando
plenamente da sua liberdade, deixe de ser uma expressáo da
santidade do Criador ; ora isto se verifica também nos repro
bos, os quais, por todo o seu ser, no inferno, proclamam a
Perfeicáo e, em particular, a Bondade do Criador.
— 291 —
em geral, nao costumavam escrever senáo as consoantes de seus
vocábulos. As vogais deviam ser mentalmente supridas pelo respec
tivo leitor, de acordó com os seus conhecimentos gerais da língua
hebraica; algumas consoantes (ou semi-consoantes), tidas como «ma-
trizes ou indicadoras da leitura» (matres lectionis), serviam para
denunciar a presenca dos sons vocálicos.
— 292 —
pelos demais sacerdotes que abencoassem o povo no santuario, de
acordó com Núm 6,23-27; mesmo em tais casos, porém, parece que
era pronunciado em tom de voz muito baixa. Um autor do séc. XVII,
orientalista holandés, Johannes Leusden, diz ter oferecido a um judeu
pobre de Amsterdam elevadas quantias de dinheiro para que éste
proferisse o nome inefável; em váo, porém. Os exegetas créem mesmo
que alguns judeus antigos e modernos nao sabiam mesmo como se
pronunciava o tetragrama sagrado, por nao terem ocasiáo de o ouvir.
Os escrúpulos israelitas que acabamos de referir, deram ocasiáo
a que na tradicáo judaica, provávelmente a partir do séc. IV a.C, se
introduzisse o costume de proferir «Adonai» (Meu Senhor) todas as
vézes que se visse escrito o tetragrama JHWH.
— 293 —
IV. MORAL,
C. S. R. (Rio de Janeiro) :
— 294 —
a sua crise de vocacáo, crise que, havia muito, se ia esbo
gando: a Irma Lucas, possuidora de temperamento assaz amigo
da autonomía, dotada outrossim de notável inteligencia e cul
tura, difícilmente se submetia a disciplina da Regra ; a título
de melhor praticar a caridade, postergava um tanto a fide-
lidade aos seus sagrados votos. Principalmente na Bélgica,
sob o regime nazista, a Religiosa tomou atitudes que a punham
em sucessivos conflitos com a Regra e as Superioras: ten-
tava auxiliar a resistencia aos nazistas, guardando em seu
coracáo ressentimentos e animosidade ; recebia, fora dos trá
mites habituáis da vida religiosa, jomáis clandestinos, me
diante os quais veio a saber da morte de seu pai assassinado
pelos nazistas. Consciente de que estava desempenhando no
convento um papel ambiguo, a Irma Lucas, nao obstante, nao
se sentía disposta a se reintegrar dentro da disciplina claus
tral ; o conflito assim chegou ao auge, impelindo finalmente
a Religiosa a pedir a dispensa de seus compromissos, embora
as Superioras muito Ihe aconselhassem tentasse readaptar-se
á observancia conventual... Gabrielle Van Der Mal acabou
voltando ao sáculo, devidamente desligada da sua profissáo
regular ; em 1945, num campo de deslocados da U.N.R.R.A.
encontrou Kathryn Hulme, a quem narrou aos poucos a sua
historia anterior. Ora foi justamente essa narrativa que a
escritora norte-americana pretendeu apresentar ao público
dez anos mais tarde sob forma de biografía, muito agradável
e atraente por seu estilo, intitulada «The Nun's Story».
— 295 —
corresponde fielmente á historia que Gabriela viveu no
convento ?
— Em resposta, dir-se-á que, embora Kathryn nao tenha
tido a intengáo de fazer da vida de Irma Lucas um romance,
ela parece nao haver reproduzido com exatidáo a realidade
que a Irma Lucas experimentou. Com efeito ; cada um dos
quadros particulares que K. iHulme descreve, tem sua veros-
similhanca, podendo ser considerado fidedigno ; ninguém ne
gará falhas de orientagáo cometidas por Superioras Religio
sas pouco abertas á vida moderna ; ninguém desconhecerá a
necessidade de atualizacáo («aggiornamento») preconizada
pelo Santo Padre o Papa XII para as Ordens e Congregacóes
Religiosas. Falta de inteligencia e falta de generosidade podem
existir em toda parte onde naja criaturas humanas. Contudo
o conjunto que resulta dos quadros e episodios particulares
referidos por Kathryn Hulme, é demasiado seco e formalista
para que se possa crer corresponda a realidade de alguma
das comunidades religiosas hoje existentes na Santa Igreja.
Em particular, está averiguado que a Congregacáo Religiosa
(mantida no livro sob anonimato) a qual Gabriela Van Der
Mal pertenceu, longe de ser espiritualmente estéril, é, ao
contrario, movida por auténtico fervor. Á vista disto, a crítica
pergunta se Kathryn Hulme, desejosa de melhor realcar o
drama íntimo e as ligóes de psicología do enredo, nao «estili-
zou», exagerando alguns tragos do «formalismo», e omitindo
outros, que os contrabalancariam, sacrificando, em suma, algo
da plena realidade histórica, a fim de mais vivamente impres-
sionar os leitores e incutir-lhes profunda reflexáo sobre o
assunto. Há mesmo quem julgue ter Kathryn Hulme apre-
sentado urna «caricatura» da vida religiosa (quem assim pensa,
nao duvida de que a escritora norte-americana haja sido ani
mada por sincera intengáo de fazer crítica construtiva).
«O livro é perturbador pelo quadro que ele oíerece da vida reli
giosa. Exato na aparóneia. mas falso no fundo; materialmente veros-
símil, a obra, na verdade. faz caricatura. Pois a vida religiosa que
ela apresenta, é demasiado carecente de alma: observancia períeita-
mente correta, mas destituida de interioridade...
Se tal é a vida religiosa, se o culto da Regra pSe de lado a cari-
dade evangélica, compreende-se bem que a Irma Lucas nao a tenha
podido sustentar. Mas compreende-se menos bem que ela tenha susten
tado dezesseis anos... Ora justamente recuso-me a aceitar ésse quadro
da vida religiosa. Rejeito-o, porque nao é cristáo. Nao me venham
dizer que as cóisas em tal ou tal CongregacSo nao se apresentam
táo esteréis e formalistas. Tenho certeza de que em parte alguma
as coisas se dáo como o livro as descreve» (H. Holstein, em «Études»
décembre 1957, 427).
— 296 —
doutrinárias mais do que historiográficas ao compor os
quadros da vida de Irma Lucas. Tal sentenga nos parece
acertada.
3. Outra observacáo se impóe ao leitor sereno: se a
Irma Lucas suportou durante dezesseis anos a sua vida con
ventual e depois a abandonou, é de crer que éste passo final
nao tenha sido motivado exclusivamente pelas deficiencias da
mentalidade do ambiente. A própria narrativa sugere, sim,
que Gabriela, da sua parte mesma, foi declinando do fervor
inicial; foi perdendo seu espirito de Religiosa consagrada a
Deus, para mais e mais dar lugar á mentalidade de urna en-
fermeira ou de urna pessoa simplesmente zelosa em seu «mé-
tier» de tratar os doentes...
— 297 —
Deus» (cf. «Entre dois mundos» 424) : «Neste momento, pa-
rece-me que sómente no claustro aínda existe um pouco de
fé deixada na térra», dizia Lisa ao reafirmar sua vocacáo
religiosa.
3. Reflexáo final
— 298 —
1) pode acontecer no claustro que o amor á observancia
externa deva ser sacrificado ao espirito da Regra ; admitam
os Superiores, em casos particulares, a necessidade de adaptar
a letra das Constituicóes a circunstancias novas, a fim de que
a caridade nao venha a sofrer detrimento, mas, ao contrario,
seja sempre favorecida pela vida regular. As leis, em Religiáo,
nao foram concebidas para sufocar a vida sobrenatural, mas,
antes, para assegurar-lhe o ambiente normal de expansáo.
— 299 —
mais precioso que o homcm possa apresentar a Deus, mais precioso
do que as próprias tarefas de tratar os doentes, ensinar aos que erram,
visitar os encarcerados, etc.; estes aíazeres sao obras externas que
no convento devem ser praticadas em espirito de renuncia total e
jamáis podem servir de ocasiáo ou de fomento ao culto da vontade
própria. As atividades, mesmo apostólicas, que os membros de Ordens
e Congregag5es exercem, para ser genuinas, háo de ser praticadas
segundo a Regra e a obediencia que cada um professou.
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
— 300 —
1. Os acontecimentos...
— 301 —
Revestiu-se de rude la, pds-se a fazer os repugnantes curativos
das chagas de urna noviga, passou a levantar-se durante a noite para
orar, etc. O bom exemplo arrastou a comunidade, a qual sem demora
voltou a viver em estreita pobreza e austeridade. Aos 25 de setembro
de 1609, data famosa nos anais de Port-Royal e conhecida como
«Journée du Guichet», restaurou-se a clausura na Abadía, tendo a
Abadessa recusado a entrada do mosteiro a seu próprio pai; tal atitude
provocou protestos e súplicas da parte da íamília Arnauld. A Abadessa,
porém, nao se demoveu, obtendo assim a vitória final dos seus desig
nios de reforma.
— 302 —
Écoles) em que seria aplicada nova pedagogía destinada principal
mente á formacáo do caráter; as monjas (Les Vierges) puseram-se
a dirigir as escolas íemininas. ao passo que os ascetas (Les Messieurs)
se encarregaram da educagáo e do preparo dos meninos.
— 303 —
para outros cenobios; estas, no «exilio», fecharam-se em seu
orgulho, escrevendo «relatónos de cativeiro». Diante disto, a
autoridade eclesiástica em 1665 mandou reunir de novo a
comunidade em Port-Royal des Champs e sobre ela lancou o
interdito, isto é, a privagáo de toda a vida sacramental!
Éste estado de coisas durou quatro anos, após os quais
o partido jansenista e as monjas resolveram subscrever urna
fórmula de submissáo, cujos dizeres eram anulados por de-
claragóes particulares dos signatarios. Como quer que seja,
o Papa Clemente IX deu-se por satisfeito com o teor oficial
da fórmula, promulgando em 1669 a «Paz Clementina».
— 304 —
centes e a própria igreja, deixando de pé apenas as «granjas»
dos Solitarios. Permaneceu, porém, o cemitério, ao qual passa-
ram a afluir os peregrinos ferrenhos. A vista disto, S. Majes-
tade ordenou outrossim a destruigáo da necrópole : as fami
lias interessadas foi permitido retirar os restos mortais de
seus caros defuntos (Racine, Sáo-Cirano, Nicole) ; os despojos
dos demais foram exumados e atirados numa fossa comum.
— Triste fim de um esplendor que estava baseado nao pró-
priamente em Deus, mas, sim, no garbo humano !
2. Koflexao final
— 305 —
Vista, porém, em seu conjunto (com as suas manchas
negras), diremos que a historia de Port-Royal vem a ser mais
urna afirmacáo do principio solene que Sao Paulo já no limiar
da era crista ouviu do próprio Deus : «É na fraqueza (do
homem) que por excelencia se manifesta a fórca (de Deus)»
(2 Cor 12,9).
— 306 —
CORRESPONDENCIA MIÚDA
Iies]>. : Nao. Tal associac.áo nao pode de modo nenhum ser justi
ficada aos olhos da consciéncia católica. A í-azáo desta negativa nao é
nina pretensa mentalidade sectaria ou estreita que se atribuí ao Cato
licismo. Lembremo-nos, antes, de que a dignidade humana mesma rejeita
qualquer incoeréncia ou contradicho do homem consigo mesmo ; ora
há contradi;áo da parte de quem quer aderir simultáneamente ao Cato
licismo c ao Rosacrucianismo ou ao ocultismo.
— Mas como há cr.ntradicáo se tanto o Catolicismo como a Ordem
de Rosa-Cruz o o ocultismo visam incitar seus ade|itos á plática do
hem o h fuga do vicio ?
— Verdade c que, no tocante as recomendacóes pláticas ou na
Ética, há major ou menor afinidade entre as citadas denominares.
Acontece, porém, que o homem nao pode platicar o bem sem saber
previamente o que é o bem e o que é o nial, ou, com outras palavras:...
sem ter urna certa filosofía da vida,... sem, antes do mais, estabelecer
urna hierarquia de valores. Ninguém pratica ou trabalha em alguma
coisa sem luz ; ora a luz, no nosso caso, é a filosofía. Pois bem ¡ a
filosofía da vida crista é diametralmente diversa da filosofía rosacru-
clana ou ocultista. Sim ; para o cristáo o primeiro Valor, Deus, é dis
tinto da natureza e do homem; c um Ser Fessoal, que conhece e ama,
a ponto de se apresentar como o "Pai nosso que está nos céus". Ao
contrarío, para a Ordem de Rosa-Cruz, Deus é urna substancia neutra,
identificada com o mundo e com o homem ; é a Mente Cósmica, que
vai tomando consciéncia de si dentro do homem, na medida em que
fist»! sv aporfuicoa ; ¡i criatura humana c urna centelha ou urna parte
de. L'i-us mesmo... (filosofía esta panteista ou monista).
Essas duas concepsóes, como se vé, nao se podem conciliar ; há
contiad¡c.5o entre elas como entre Verdade e erro. Errónea, sim, é a
filosofía que admite identidade entre Deus — o Absoluto e Infinito e
o homem — ser mutável e finito. Nao há transigáo do Infinito, Eterno
para o finito, temporal, e vice-versa ; cf. "P.R." 7/1957, qu. 1 e
30/U'fiO, qu. 4.
Xa prática, portanto, vem a ser ilógico, contraditório querer
ptofessar o Catolicismo, mediante a recepgáo dos sacramentes na
iKroia, c o Rosacrucianismo ou o ocultismo, mediante a par-
t¡cipnc.iio dos atos e cursos déste sistema filosófico. Quem tente fazer
ésse duplo papel, nao pode ser nem bom católico nein. bom rosacruciano;
somente a falta de esclarecimento pode justificar tal jógo... Verdade
ó fjDc a filosofía rosacruz, como alias todas as correntes de filosofía
l'antdsta-monista, encobre seu erro usurpando fórmulas semelhantes
as dos católicos para se referir a Deus, supondo destarte um Deus pes-
soal, transcendente, distinto do homem. É semiente por se dissimular
assir/: que o monismo-panteísmo pode captar a adesáo de católicos.
Verifica-se outrossim que a "Rosa-Cruz" faz questáo de dize- que
nao (■ ReligiSo e que, por isto, se concilia com qualquer religiáo. Na
:ealioade, porém, o Rosacrucianismo incute urna visáo do homem e do
universo táo característica que, na medida em que se revela, ela vai
exclvindo qualquer outro modo de ver ou qualquer religiáo. A "Rosa-
-Cruz" vem a ser a "ReligiSo" do seu discípulo.
— 307 —
De resto, um católico iosacruciano só pode íeceber válidamente a
absolvigáo sacramental e fazer uma comunháo eucarístíca frutuosa,
caso declare ao confessor que professou o Rosacrucianismo e proponha
firmemente nao mais o professar. Se nao há propósito firme de se
desligar da escola rosacruz, nao adianta perante Deus receber os
sacramentos católicos. Do seu lado, nenhum sacerdote pode em cons-
ciéncia permitir que o penitente continué a viver em contvadigáo con
sigo mcsmo e com Deus.
O mesmo se deve intimar as pessoas que pretenden) ser catóticas
e espiritas ao mesmo tempo. Embora o espiritismo nao professe o
panteísmo, contradiz em muitos pontos á verdade crista, de modo a
induzir á incoeréncia (consigo e com Deus) aqueles que julgant poder
fazer duplo jógo.
GUILGAMECHE (Uberaba): "Texto massorético" da Biblia é o
texto munido dos sitiáis de vogais tais como forain acrecentados pelos
rabinos do séc. VI d.C, de que falamos noste fascículo á pág. 293.
A colocagáo explícita de tais vogais pressupunha, ñas passagens
obscuras da Biblia, uma maneira de interpretar que os rabinos masso-
retas adotaram ora com mais acertó, ora com menos acertó. O texto
massorético tornou-se o texto do Antigo Testamento ainda hoje utili
zado. É sujeito a ser retocado e mclhorado, nao, porcm, em pontos de
significado essencial.
ABDIAS (Rio de Janeiro): A respeito da Igreja e da pronrfcdadc
particular veja "P.R." 32/1959, qu. 5.
Sobre a posigáo da Igreja peíante o seivigo militar, deverá em breve
sor publicada urna resposta fin "P.R.". Rntrementos poderá l.-r ulgo
a propósito da liceidade da guerra emi "P.R." 22/19M, qu. 4.
UM LEITOR PAULISTA: A página de livro que V.S. nos enviou
com sua pergunta, versa sobre "restiiíáo mental", tema abordado em
"P.R." 18/1959, qu. fi. K h luz dos principios ex postos nesse artigo
que V.S. entenderá o trecho do livix) citado ; a doutrina 6 a riiesmn
em ambos os casos.
FRANCISCO (Porto Ales/re): Em tese, nao é lícito fazer a alte-
rac.áo referida. Antes, poróm, de condenar o procedimento de alguém,
faz-se mister examinar as circunstancias próprias do caso; há íatfm-s
ocultos que podem mudar totalmente o problema.
Recebemos ainda varias outras consultas sem enderégo algum para
nossa referencia. Já que o espago desta correspondencia miúda é limi
tado, devenios pesarosamente resignar-nos ao silencio diante de tais
consultas.
D. ESTÉVAO BKTTKNCOÜRT O. S. «.
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
REDACAO ADMINISTRACAO
Cslxa Postal 2666 R. Real Grandeza, 108 — Botafogo
Rio de Janeiro Tel. 26-1822 — Rio de Janeiro
Assinatura anual: Cr$ 150,00
Número avulso do ano corrente : Cr$ 15,00
Número de ano atrasado : Cr$ 20,00
Índice de 1959 : Cr$ 15,00
Colegáo encadernada de 1957 : Cr$ 2S0.00
" 1958 ou 1959 : Cr$ 380,00
«Volta ás fontesi. (separata de
«P. R.» 20/1959 qu. 2 e 3) CrS 10.00