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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoñam)
APRESErsTTAgÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO III

36
DEZEMBRI

1 9 6
ÍNDICE

Pág.
NCIA E RELIGIÁO

1) "A ciencia moderna insinúa por vézes que a Religiáo nao


é senáo
nao nina forma de tratamento psiquiátrico. Assim como faz
bem a militas
umitas pessoas, pode ser desnecessária
' e mesmo nociva a
ou tras.
lis.

Que dizer dessa tese ?"

II. DOGMÁTICA

¿) "Pódese crer que I)eus m'w tenha culpa nlt/uma vos pe


cados que os hornea* cornete»! ?" i
■',94

III. SAGRADA ESCRITURA

■i) "Como se han de entender ox dizerex de Jesús em


Mt 12,-10 : 'Quem nao está comino, extá contra Mim, e. quem nao
reeoihe comigo dispersa' ?
Nao estariam em contradican com nutran ¡miavrax de Cristo
referidas em Me 9,40 : 'Aquéle que nao é mvtra nos, é por nos' ?
E como pode a tgreja Católica afirmar que possiii a {mica e
verdadeira Religiao ?"

IV. MORAL

i) "Afirmam alginm untares que a castidade prc-nupcial ou


é imposstvel ou é nociva a saúde.
Nao obstante, os moralistas católicos continuam a incutir a
castidade perfeita como ahjn de oMgatMo anteriormente ao casa
mento e mesmo no estado de viuve;. Como se justifica vito ?" .. 50G
ñ) "Deve-se dizer a ¡nn doente a rerdade a respeito do seu
estado de saúde ?
Nño será licita ul¡iuniu mentira ¡Mira evitar maiores mttles?" SI.',

V. HISTORIA DO CRISTIANISMO

i!) "Qual a atilinte du lurrja Católica frente, as demais denn-


minaedes religiosas ?
Os direitos da verdade exetuem urna postado de tolerancia
diante daqneles que nao prafexxnm a verdade ?" 5J&

CORRESPONDENCIA MíCDA (Ir/reja "Romana", efeitos


da Eucaristía.. .) 50.5

COM APROVAgAO ECLESIÁSTICA .


«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Ano III — N« 36 — Dezembro de 1960

I. CIENCIA E RELIGIAO

MIGUEL (Bahia):

1) «A ciencia moderna insinúa Dor vézes que a Beligiáo


nao é senao urna forma d© tratamento'psiquiátrico. Assim como
faz bem a muitas pessoas, pode ser'desnecessária e mesmo
nociva a outras.
Que dizer dessa tese?»

Em verdade, registra-se nos nossos dias estranho fenó


meno: a Medicina e a Religiáo tendem nao sómente a se entre-
lacar, mas até mesma a se absorver mutuamente. Com efeito,
• a) A Medicina, principalmente a Psiquiatría, por voz de
um ou outro clínico, nega a autonomía do fenómeno religioso,
reduzindo-o a um estado patológico ou a urna modalidade (ora
mais, ora menos útil) de psicoterapia.
Devassando o interior do ser humano ou as profundidades da
alma, a Psicología e a Parapsicología elucidam multo naturalmente
certos aspectos do comportamento humano que até época recente
eram tidos como misteriosos e, por isto, explicados á luz da Religiáo
e do sobrenatural. Assim certos casos de reacSes e convulsóes nervosas
que outrora eram considerados como possessao diabólica, hoie sao
apresentados como casos de histeria e epilepsia. O pecado, para nao
poucos autores, nao significa mais culpa moral, mas é mero fenómeno
patológico que nao afeta a consciéncia (o Dr. Hesnard em 1954
publicou mesmo o livro «Moral sem pecado», em favor desta concepcáo).
O sentimento de culpa moral é considerado como sentimento de
angustia e mal-estar recoberto de rótulo piedoso...
Em particular, a psicanálise freudiana explica o fenómeno religioso
como expressáo de um complexo de reacoes eróticas do individuo. Freud
considerava a Religiáo como a neurose obsessiva do género humano e
predizia a solucáo désse mal mediante os progressos da psicanálise
(tese esta proposta no livro «Die Zukunft einer Illusion» [O futuro de
urna ilusáo]. Viena 1927). Para o médico austríaco, o «Deus» dos
adultos nao seria mais do que a projec.áo da imagem do «pai»
que a criancinha concebe em seus primeiros anos; ora, se Deus nao
existe, a Religiáo é o culto de urna ficcao; é ela mesma urna grande
ilusáo, que, entre outros graves inconvenientes, provoca o acovarda-
mento do ser humano.
Nao querendo ir táo longe quanto Freud, outros médicos aceitam
a Religiáo, mas únicamente á guisa de método psicoterápico, aconse-
lhável em muitos casos patológicos, destituido, porém, de valor
universal.

— 487 —
tPEKGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 1

b) De outro lado, registram-se avangos de certas cor-


rentes religiosas no setor da Medicina, visando destruir a auto
nomía da ciencia médica. Apregoam a fé como grande fator
de curas da alma e do corpo; a Religiáo seria a garantía
do bem-estar espiritual e também temporal do crente. Tenham-
-se em vista o curandeirismo moderno, certos procederes da
«Ciencia Crista», do espiritismo, etc.
Atendendo á questáo proposta no cabegalho déste artigo,
examinaremos aqui os avangos da Psiquiatría nos setores da
Religiáo. Consideraremos brevemente também os beneficios que
possam provir da colaboragáo do médico psiquiatra e do sacer
dote. E concluiremos com urna advertencia sobre a genuína
mensagem crista referente a ésse assunto.

1. O médico frente á Religiáo

1. A sentenga de Freud, aceita por nao poucos analistas


contemporáneos, ensina que a Religiáo é expressáo deformada
ou doentia da alma humana...
Pois bem; a esta proposito podem-se fazer duas impor
tantes observagóes:
a) É inegável que milhóes e milhóes de seres humanos
até hoje professaram a crenga em Deus sem por isto se aco-
vardar perante a realidade da vida; o vigor de seu ánimo nao
foi parausado pela obediencia a Deus. Ao contrario, o autén
tico Cristianismo, longe de dispensar a luta da criatura humana
na_ conquista do seu ideal, é o primeiro fator a estimulá-la, de
acordó com sabio adagio dos teólogos: «Facienti quod in se
est, Deus non denegat gratiam. — Á quem. faz o que está em
seu alcance, Deus nao denega a graga».
Éste axioma vem a ser urna exortagáo ao discípulo de
Cristo para que utilize todos os seus predicados em demanda
da perfeicáo crista.

Em «P. R.» 19/1959, qu. 1, já íoram enunciadas algumas das


grandes conquistas de civilizacáo e cultura que a Religiáo tem inspi
rado ao homem no decorrer dos séculos.

b) A experiencia dos próprios discípulos de Freud deu-


-lhes a ver que justamente o abandono da Religiáo, longe de
ser cura de neurose, constituí um dos grandes fatóres de desa
justes psíquicos em nossos dias. O famoso analista Cari Jung,
por exemplo, que comegou seus qstudos na escola de Freud,
pode mais tarde declarar na base de sua experiencia: «Parece-
-me que o aumento considerável do número de neuroses em
nossos dias corresponde ao declínio da vida religiosa».

— 488 —
RELIGIÁO E PSIQUIATRÍA

O mesmo autor dava outro notável testemunho:


«Durante os últimos trinta anos, pessoas de todas as regióes
civilizadas vieram-me consultar. Tratei de centenas de pacientes...
Ora... pode-se afirmar que todos tinham caído doentes porque todos
tinham perdido aquilo que qualquer religiáo sempre deu a seus adeptos
através dos .séculos; nenhum déles foi verdadeiramente curado sem
ter encontrado de novo as suas idéias religiosas».

A guisa de ilustracáo, seja citado o seguinte fato: o famoso


escritor francés Joris Cari Huysmans (tl907), depois de ter sido fiel
á Religiáo em sua infancia, entregou-se a urna vida devassada ou
até mesmo (como já se disse) satánica. Em conseqüéncia, chegou a
tal estado de abatimento e desespero que seu amigo Barbey d'Auré-
villy pode observar: «Um só dilema restava a Huysmans: ou o
revólver [suicidio] ou o crucifixo». — Para felicidade sua, Huysmans
escolheu o Crucifixo, voltando a Deus e á sua prática religiosa.
Certamente éste fato bem ilustra como a carencia de Deus na
vida de um homem é realmente ocasiáo de desequilibrio e desatinos,
ao passo que a adesáo ao Senhor coloca a criatura na sua auténtica
posiQáo.

Em vista dos fatos que a experiencia cotidiana assinala,


os próprios discípulos de Freud, em vez de falar do «futuro de
urna ilusáo» (= ruina da Religiáo, conforme Freud), preferem
acentuar «a eternidade de urna realidade» (assim, por exemplo,
Viktor Frankl, analista vienense). A Religiáo destarte vem
a ser conceituada nao mais como ilusáo, mas como realidade
(expressáo da verdade ou da auténtica natureza humana),
oxpressáo destinada nao a procer, mas a atrav«\ssar vitoriosa-
mente os séculos!

2. Diante de tais resultados, entende-se quanto errónea


c a tendencia a classificar os fenómenos religiosos como mani
festares meramente biológicas ou doentias.
Todo fenómeno patológico ou todo caso de doenca é vivido
pelo paciente por cima de outro fenómeno, aínda mais profundo
e constante: o fenómeno religioso, a sede do Bem que nao se
acabe (e que alguns chamam «Deus», enquanto outros o
chamam «paraíso terrestre» a ser obtido pelo progresso mate
rial). Já que ninguém se contenta com finalidade menos elevada
do que a consecucáo do Bem ilimitado, é a procura déste que
continuamente agita o homem sobre a térra. Esta agitacáo
básica pode por vézes exprimir-se em perturbacóes de periferia
ou em estados mórbidos do corpo. Conseqüenteniente, ao tratar
da saúde física de seus pacientes, o médico e o psiquiatra háo
de admitir a possibilidade de um problema ulterior néles latente:
o problema de Deus, que é o problema típicamente humano.
Ao psiquiatra, portante, toca urna boa parte — a parte cientí
fica e técnica — na cura de seus enfermos; essa parte, porém,
nao resume toda a sua tarefa; incumbe-lhe também abrir os

— 489 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, gu. 1

olhos do paciente para a posigáo que ele ocupa diante de Deus


g, se necessário (o que muitas vézes é o caso), encaminhar o
enfermo para ulterior instancia, ou seja, para o sacerdote, que
atenderá ao problema de Deus nessa alma. Assim, e sómente
assim, se promoverá a recuperagáo do paciente.

O Dr. V. von Weizsacker, na obra «Diesseits und Jenseits der


Medizin», Stuttgart 1950, 124, observa a propósito:
«Compreendemos que a finalidade da Medicina nao é simples-
mente a de levar o enfermo ao gozo da saúde; trata-se de coisa
assaz diferente: a intervencáo do médico deve ser incluida, como
parte da tarefa, no rol dos servicos que se prestam a um homem
posto a caminho do seu Fim Supremo; a doenca, frente a éste, nao
é senáo urna etapa, urna ocasiáo na estrada».

3. A esta altura impóe-se urna observagáo assaz impor


tante: há, sem dúvida, grandes médicos que respeitam ou
mesmo recomendam a prática da Religiáo. Recomendam-na,
porém, como já notamos, apenas como expansáo libertadora
da alma humana; é algo de útil, mas inteiramente subordinado
aos interésses do homem. — Ora quem assim conceitua a Re
ligiáo, engana-se.
As aspiragóes religiosas inatas em todo individuo podem
ser comparadas á agitagáo da agulha magnética de urna
bússola. Nao é em váo que esta se move irrequieta; fora déla,
o norte a atrai; existe urna fórga real que, embora invisive!,
é o motivo da sua inquietagáo. Na verdade, pode-se dizer para
lelamente que a inquietude religiosa de todo homem só se explica
pela existencia de um Ser real, apreendido pela Religiáo, Ser
que é Deus. — Donde se vé que Religiáo nao é mera projegáo
do individuo para fora de si; mas constituí, antes, a resposta
a algo de objetivo e preexistente ao homem. Por conseguinte,
quando o fator religioso entra na reconstrugáo de urna exis
tencia desequilibrada, deve-se dizer que o enfermo dá entrada
em sua vida a um agente pessoal — Deus — com seus auxilios
sobrenaturais; doenga e cura assumem entáo aspecto diferente,
passando para um plano secundario.

A Psiquiatría nao pode fornecer aquilo que a Religiáo, entendida


nestes termos genuínos, comunica. Nem o sacerdote pode por suas qua-
lidades dar aquilo que o próprio Deus dá na Religiüo; o sacerdote ó
imprescindivel, sim, mas cumpre o papel de mero canal pelo qual o
Salvador faz passar incontaminados os seus dons.
A éste propósito poderiam ser citadas as palavras de Shakespeare:
«Há mais coisas no céu e na térra, ó Horacio, do que quanto a vossa
filosofía possa imaginar». — Sem düvida, a graca de Deus é urna
dessas «coisas» invisíveis. que a sabedoria meramente humana nao
sabe por si apreender.

— 490 —
REUGIAO E PSIQUIATRÍA

2. O hornera, religioso
frente aos recentes resaltados da Psiquiatría

1. Dizíamos que nao é lícito ao médico querer reduzir


a Religiáo a mero setor da Psicoterapia. Faz-se mister agora
acrescentar que também nao é lícito ao homem religioso querer
reduzir a Medicina a mero setor da Religiáo, ou seja, julgar
toda e qualquer perturbacáo de um individuo á luz exclusiva
da Religiáo e da Moral; hoje em dia, mais do que outrora,
reconhecem os estudiosos que em certas problemas religiosos
há fatóres dependentes da Medicina e da Psicoterapia, de sorte
que a cura do paciente em tais casos só pode ser obtida mediante
recurso a um clínico competente. Tratar tais problemas como
problemas únicamente religiosos e moráis equivaleria a perder
tempo e deformar a personalidade do enfermo. Sacerdote e
psiquiatra devem, em tais circunstancias, colaborar; ao médico
cabera entáo o papel de libertar a personalidade do paciente,
isentando-a de certas maneiras de reagir devidas a um estado
doentio; ao sacerdote tocará a funcjío de educar essa persona
lidade, apelando para a sua responsabilidade moral.
Tais afirmac5es se tornaráo bem claras pela apresentacáo de
um caso histórico.
O Dr. Marcelo Eck, conceituado psiquiatra, descreve algo da sua
experiencia pessoal:
«Uma de minhas pacientes, escrupulosa como era, nao receava
importunar seu confessor porque se servirá de manteiga mima sexta-
-íeira usando a mesma faca com que na véspera havia cortado o seu
salame. Ela mesma se privava do acesso á Mesa Sagrada a fim de
estar certa de que nao suscitava tentacóes no sacerdote oficiante.
Ora essa senhora foi submetida a uma análise psicológica, a qual
evidenciou que a paciente nutria vivos sentimentos de inveja para
com uma irmá, mais jovem e mais formosa do que ela. Era capaz
de permanecer acordada horas a fio ñas noites em que sua irma
ia a algum baile;aguardava assim a noticia de um desastre de auto-
móvel em conseqüéncia do qual a irma voltaria para casa desfigurada,
enferma, destituida da esperanza de ulteriores sucessos. A transposi-
gSo do sonso de culpa para o seu verdadeiro setor até entáo ignorado
está concorrendo para libertar da angustia a paciente» («Morale sans
peché?». París 1955, 40).
Como se vé, os escrúpulos de tal pessoa religiosa no setor da
abstinencia de carne e da S. Comunháo nao eram senáo reflexos de
um seritimento latente de culpa devida a ciumes desregrados. Compre-
ende-se que, para debelar eficazmente os escrúpulos, nao bastava
recomendar obediencia ao confessor, mas era preciso trazer á tona
a verdadeira raiz do mal, a fim de que esta fósse diretamente atacada
pelo zélo da paciente e do seu confessor. Ora tal descoberta do mal
latente só podía ser efetuada por recurso á técnica da Medicina.
Em particular no tratamento de pessoas escrupulosas, o sacerdote
terá que levar em conta a possibilidade de que um fundo patológico
ou de constitulcáo somática esteja motivando as angustias ou o
sentimento de culpa do escrupuloso. O escrúpulo é as vézes, para

— 491 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 1

quem eré no sobrenatural e no pecado, um «alibi» ou urna atitude


de fuga na qual alguém se concentra para esquecer um problema
mais duro do qual a pessoa se senté envergonhada.
2. Seja permitido aqui observar o seguinte: sempre que se trata
de escolher um psiquiatra ou um analista, requer-se a máxima cautela:
nao basta levar em conta o cabedal técnico de que dispSe; é preciso
ponderar também o género de filosofía que professa; caso nao reco-
nheca a espiritualidade e a dignidade própria da alma humana,
posslvelmente deformará mais do que reformará a personalidade do
cliente. Distinga-se bem entre a técnica e a filosofía de Freud:
aquela é construtiva e louvável, ao passo que esta é errónea: cf.
<P. R.» 8/1958, qu. 1.

3. Ao homem religioso, diziamos, incumbe respeitar o


papel da ciencia médica na cura de certos fenómenos patológi
cos; nao queira tratar todos os males do corpo e da alma
únicamente mediante recomendagóes de Índole moral e reli
giosa...
Corroborando esta proposicáo, deve-se aínda observar o
seguinte: nao é condizente com a sabedoria de Deus querer
atribuir-Lhe intervengóes milagrosas a esmo ou a bel-prazer
dos devotos... Assim o curandeirismo, na longa variedade dos
seus aspectos (uns mais requintados, outros mais grosseiros),
rejeitando os procederes da medicina científica para recorrer
a urna medicina «religiosa» (sugerida por interpretacóes arbi
trarias do Evangelho ou de outro código sagrado), deve ser
tido como aberragáo tanto do ponto de vista religioso como do
ponto de vista científico. Já em «P. R.» 32/1960, qu. 2 pro
curamos mostrar que o curandeiro, aparentando (muitas vézes,
de boa fé) estar em contato íntimo com a Divindade, aplica
ritos religiosos que desencadeiam um processo de reagáo psico
lógica no paciente; éste, em conseqüéncia, pode recuperar a
saúde. A cura assim obtida nao se deve á intervengáo direta
de Deus ou de um espirito superior, mas únicamente a um
fenómeno de psiquismo natural do paciente, fenómeno que
poderia ser (e que tem sido) provocado independentemente
da receita do curandeiro; esta desempenha no processo apenas
o papel de sugestionante e catalisador, papel que pode perfei-
tamente ser desempenhado numa clínica, sem encenagáo reli
giosa. No citado artigo de «P. R.» encontrar-se-áo ulteriores
esclarecimentos sobre o assunto.

3. A genuína mensagem crista frente ao problema


«Medicina-Religiao»

Os dois parágrafos anteriores acentuaram a harmonía em


que devem colaborar Medicina e Religiáo a fim de proporcionar
ao homem a consumagáo da sua personalidade.

— 492 —
RELIGIAO E PSIQUIATRÍA

Nao se poderia, porém, deixar de lembrar que a mensagem


crista, embora aceite e preconize essa colaboragáo, tem em si
algo de paradoxal. Para o cristáo, a doenga nao é necessária-
mente um mal; a extingáo da doenga nao é condigáo essencial
para que a vida humana tenha significado ou valor. A existen
cia de urna pessoa doente, aparentemente inútil neste mundo,
pode ser profundamente rica, caso tal pessoa aceite a molestia
em atitude crista e assim a transfigure. Veia-se a propósito
«P. R.» 30/1960, qu. 3.

Colocando-se num ponto de vista meramente natural, o Dr.


Weizsacker podia observar:
«Ser doente é u'a maneira de ser homem» («Diesseits und Jenseits
der Medizin». Stuttgart 1950 pág. 199).

Por sua vez, dentro de urna perspectiva estritamente crista, o


Sto. Padre o Papa Pió XII lembrava:
Nossa dor e nossa morte, «o Pai das misericordias as tomou em
suas máos; fé-las passar pelo corpo, pelas veias, pelo coracáo de seu
Filho bem-amado... íeito hp'niem para ser o Salvador do mundo.
Assim a dor e a marte se. tornaram, para todo individuo que nao
rejeite o Cristo, meios de Redencáo e santificacao. Assim a caminhada
do género humano, que se vai desenvolvendo sob o signo da cruz
e sob a lei da dor e da morte, tornando mais madura e raals pura
a alma neste mundo, leva-a á íelicidade ilimitada de urna vida que
n3o terá fim.
Sofrer, morrer; tal é, para usarmos da expressáo ousada do
Apostólo dos gentios, a loucura de Deus, loucura mais sabia do que
toda a sabedoria dos homens» (texto traduzido da coletánea «Direo-
tives de S. S. Pie XII» 2289s).

O paradoxo cristáo é bem elucidado por outra observagáo


de Pió XII: «É certo que nenhuma anomalía e nenhuma defi
ciencia física podem impedir alguém de atingir a mais elevada
santidade» (Documentation catholique 1953, col. 1361). Como
se vé, a atitude crista se explica pelo fato de que o discípulo de
Cristo estima a saúde da alma ou o vigor sobrenatural (em
urna palavra: a santidade) mais do que a saúde do corpo.
Ora a doenga do corpo pode justamente servir de ótimo subsi
dio para a saúde da alma, pois ela torna mais evidente a ín
dole efémera desta existencia terrestre; facilita o olhar para
a vida que nao passa; é um convite á reflexáo e ao aprofunda-
mento — verdade esta que já foi expressa em termos aparen
temente ousados:

«Mais se aproxima da categoría do 'homem doente' a pessoa


que possui em seu corpo vitalidade exuberante a ponto de esmagar
o espirito e suas iniciativas, do que a pessoa cujo corpo é íraco, mas
totalmente sujeito á alma e posto á disposicao desta na caminhada
para Deus» (idéia apresentada por B. Háring, La Loi du Christ III321).

— 493 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 2

A luz desta verdade, verilica-se que a doenca do homem está


longe de ser fenómeno incompatlvel com a bondade de Deus... Leve-se
em conta outrossim que, para o cristáo, a enfermidade entrou no
mundo em conseqüéncia do pecado. Mais ainda: todo pecado que se
cometa atualmente, é por si um atentado contra a saúde do corpo,
pois o homem nao pode estar em harmonía consigo mesmo, desde
que ele entre em desarmonia com Deus e de Deus se separe. Quanto
mais o homem retarda a sua volta para Deus, tanto mais há de
sentir no corpo a desordem de seu espirito ou do seu afastamento
em relacáo a Deus.

Á guisa de conclusáo das consideracóes propostas até aqui,


seja citada urna das mais características frases de Pascal:

«Só há duas categorías de pessoas que possamos chamar razoá-


veis: aquetas que servem a Deus de todo o seu coracao, porque O
conhecem; e aquelas que procuram a Deus de todo o seu coracáo,
porque ainda nao O conhecem».

Em urna palavra: fora da adesáo (iniciada ou consumada)


a Deus, só há desatino... Tal parece ser a mensagem nao
sómente de Pascal, mas também a da ciencia moderna e a da
experiencia prática de nossos dias.

n. DOGMÁTICA

MACHADO (Vitoria):

2) Pode-se crer que Deus nao tenha culpa algunra nos


pecados que os homcns cometem?»

O assunto, em suas linhas gerais, já foi mais de urna vez indireta-


mente abordado em «P. R.»; assim, ao se tratar do problema do mal,
em P. R.» 5/1957, qu. 1, ou do inferno em «P. R.» 3/1957, qu. 5.
Voltamos, nao obstante, ao tema, visto que é constantemente
focalizado pela opiniáo pública. Procuraremos raciocinar sobre tal
assunto com rigor, colocando-nos bem ácima de qualquer tendencia
sentimentalista, pois em geral é urna visáo sentimental e periférica
que provoca düvidas e perplexidades sobre o problema do mal.
A resposta compreenderá tres etapas; nocáo de pecado (§ 1);
o pecado e a criatura (§ 2); o pecado e Deus (§§ 3 e 4).

1. Que é o pecado?

1. Logo no limiar do nosso estudo, deveremos desvencilhar-nos


de
ae urna
urnaconcepcáo errónea
concepcáo errónea multo
muito aivi
divulgada, que se torna grave
emDecilho
empecilho Dará
para a solucün
solucio ñn nrohlema.
do problema.

Ao contrario do que geralmente somos inclinados a crer,


o mal nao é urna entidade positiva, nao é um ser própriamente

— 494 —
DEUS, CAUSA DO PECADO?

dito, mas carencia de ser, e... de ser que deveria existir em


tal e tal criatura.

A carencia pode registrar-se


ou na ordem física, isto é, na linha da esséncia ou da
estrutura característica de um ser; tem-se entáo o mal físico
(por exemplo, carencia de máos e pés num individuo humano),
ou na ordem moral, isto é, na linha da atividade humana
comparada com o seu Fim Supremo, Deus; tem-se entáo o
mal moral ou o pecado (falta de conformidade de um ato
humano com a sua Regra Suprema, que é a Lei de Deus).

Para ilustrar quanto acaba de ser dito, podemos comparar o


mal, e em particular o mal moral ou o pecado, ás trevas: na estimado
comuna, estas parecem ser algo de positivo, como sua antitese a
luz, é algo de positivo (energía, ondas, corpúsculos...). Na verdade,
porém, as trevas sao mera negacao: sao mera lacuna de luz (ondas
ou energia luminosa). Assim o pecado é a carencia de orientacáo posi
tiva que um ato humano deveria ter em relacáo ao seu Fim Supremo,
Deus.

Disto se segué que o pecado supde sempre urna entidade


positiva ou urna atividade boa, á qual a lacuna ou a carencia
sobrevém. Todo e qualquer tipo de mal só pode existir num
sujeito ou num suporte, que é bom na medida em que é alguma
coisa.

Tenha-se em vista, por exemplo, o pecado de furto. Geralmente


quem rouba p5e em acáo seus cabedais de inteligencia, fdrga de
vontade, prudencia, agilidade do eorpo, robustez física, etc.. Cada
urna dessas virtualidades de per si é algo de bom, e muito bom;
o mal ou o pecado consiste apenas no fato de que a mobilizacáo de
todos ésses talentos, no latrocinio, carece de conformidade com o
Exemplar supremo da conduta humana, que é a Lei de Deus; o
exercicio da inteligencia e da sagacidade, que em si constituí um
verdadeiro bem, no ato de furtar nao é devidamente rematado; daí
dizer-se que o Iadráo comete um ato mau ou um pecado. Se o exer
cicio da inteligencia e da sagacidade do mesmo individuo gozasse de
tal complemento que é a conformidade com a Lei de Deus (digamos:
se se destinasse ao pagamento de alguma divida ou á concessáo de
esmola), o ato assim oriundo seria totalmente bom, seria ato de virtude.

2. A hediondez do pecado pode ser perceblda á luz mesma da


razao natural. Contudo ela só se paténtela em plenitude a quem
conhece a Revelacáo crista: esta ensina que Deus tudo criou por
amor e chamou o homem ao consorcio da vida divina; tolerou, porém,
ser repudiado por um ato de revolta dessa criatura bem-amada. O
drama da Redengáo pela cruz e o sangue, as ofensas, feitas a Cristo,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, ilustram de maneira única a
tragedia do pecado «ofensa a Deus». Cf. «P. R.» 6/1957, qu. 2.

— 495 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 2

2. A nossibUidade de oecar
inerente a toda criatura

1. Sómente Deus, o Ser Absoluto e independente de qualquer


outro, é a sua própria regra de vida e de perfeicáo. Por conse-
guinte, sómente Deus é infalível, impecável por sua própria
natureza; para Deus, desviar-se do Exemplar ou da Norma seria
desviar-se de Si mesmo, seria simplesmente destruir-se. Ou
Deus existe, e existe sem a mínima possibilidade de errar; ou
Deus simplesmente nao existe.
2. Justamente o contrario se dá com toda e qualquer
criatura. Esta, sendo por definigáo dependente do Criador, tem
á sua Regra Suprema fora de si. E, se a criatura é dotada
de livre arbitrio, ela tem por sua natureza mesma a possibili
dade de aderir ou nao á sua regra suprema de vida. Supor
urna criatura livre que seja ao mesmo tempo incapaz de pecar,
é supor urna criatura que seja a sua suprema norma de vida,
ou urna criatura que seja o próprio Criador — o que vem a ser
absurdo ou contraditório.

Deus pode nao criar seres livres, mas, caso os crie, éles tém que
ser falíveis. Exigir que Deus faca urna vontade livre incapaz de
falhar (ou incapaz de realizar urna escolha errada) equivale a exigir
que Deus faca urna vontade criada que seja a regra mesma de sua
conduta,... urna vontade criada portento ácima da qual nSo haja
outro ser ao qual ela seja devedora — o que seria urna vontade
criada e, ao mesmo tempo, incriada, algo de relativo e, ao mesmo
tempo, algo de absoluto,... verdadeiro absurdo.
Numa palavra, é táo impossivel a Deus fazer urna criatura impe
cável por sua natureza mesma quanto impossivel é fazer um circulo
quadrado (nesses casos, em vez de se dizer que «Deus nao pode fazer
tal ou tal ente...», melhor se diz que «nao pode existir tal ou tal
ente...»; cf. S. Tomaz, Suma Teológica I 25, 3).

3. Dizíamos que Deus pode nao criar seres livres, mas,


caso os crie, éles tém que ser falíveis... Ora, na verdade, Deus
quis criar seres livres falíveis. Assim procedendo, o Senhor
visava diretamente dar a tais seres urna dignidade própria, ou
seja, a capacidade de aderirem espontáneamente (nao de ma-
neira impulsiva e cega) á sua Regra Suprema. Essa capacidade,
é claro, fica indissolüvelmente associada á possibilidade de se
desviarem da mesma Regra Suprema. Contudo, tal possibilidade
de desvio, o Criador nao a intencionou em si mesma, apenas
tolerou-a, visando-a indireta e secundariamente, como algo de
inseparável da possibilidade (dignificante para o homem) de
aderir livremente ao Supremo Bem.

Note-se que Deus, ocasionando indiretamente a possibilidade de


que o homem pecasse, de modo nenhum ocasionava o próprio pecado.

— 496 —
DEUS, CAUSA DO PECADO?

O «poder pecar» atada nao é «pecar». Pode-se mesmo conceber que


a capacidade de pecar nunca se traduza por algum pecado real.

«Poder pecar e, na realidade, nao pecar», isso supóe, por


parte da criatura, um ato grandioso de amor a Deus ou um
ato de livre preferencia e total entrega ao Supremo Bem. Ora
tais atos sao táo belos em si e táo caros a Deus que éles, por
assim dizer, «justificam» aos olhos do Altíssimo a obra de
criar, e de criar seres livres, com tddas as conseqüéncias que
daí possam decorrer.
Vejamos entáo o que se dá quando a criatura peca.

3. Deus e o pecado

1. Deus, embora fizesse seres por sua natureza mesma faliveis,


podia por meios sobrenaturais e gratuitos preservá-los de pecar- filé
o faria, porém, impondo necessidade ao livre arbitrio criado ou seia.
sufocando a prerrogativa característica da criatura humana. Ora o
Senhor nao quis proceder de tal maneira, pois isso seria pouco digno
da Sabedoria Divina. Falando metafóricamente, diriamos: em vez de
produzir diretamente frutos já consumados, Deus quis que as criaturas
humanas passassem pela fase da planta em flor á demanda do
fruto; é, sim, mais condizente com a natureza mesma do fruto «provir
da flor» do que «aparecer feito no universo» (no caso, o fruto simbo
liza a bem-aventuranca ou a consumacáo do ser humano).

2. Acontece, porém, que, deixando a criatura optar


livremente pelo Bem Supremo, Deus de modo nenhum se torna
causa de alguma faina ou de algum pecado que a criatura venha
a cometer. Com efeito, o pecado é, como dissemos, lacuna ou''
carencia de ser; é um nao-ser. Ora o nao-ser nao pode ter
causa própria ou direta. Toda causa só age na medida em que
é, e, nessa medida mesma, produz entidade. O náo-ser só pode
ocorrer no efeito, dado que na própria causa naja «ser» mes-
ciado de «nao-ser». E a causa em que há «ser» mesclado de
«náo-ser» só pode ser a criatura, nunca o Criador, pois Éste,
por definicáo, o o Ser Absoluto, ao passo que a criatura é o
ser oriundo do náo-ser e continuamente ameacado de recair
no nao-ser.

Por conseguinte, em todo pecado distinga-se entre a enti


dade positiva désse ato (aplicagáo da inteligencia, da vontade,
da energía...) e a lacuna ou carencia que a essa entidade
sobrevém. A entidade positiva tem causa direta, a saber- o
próprio agente criado (o ser humano) e, em última análise,
Deus, o Autor Supremo de todo ser e de todas as perfeigóes
das criaturas. Quanto á «lacuna» ou «carencia», ela só tem
causa indireta; e essa causa indireta é exclusivamente a cria-

— 497 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960. qu. 2

tura humana que utiliza de maneira falha as suas faculdades,


nao realizando em termos rematados o efeito que ela devia
realizar.

Diante do ato íalho ou pecaminoso da criatura, Deus íica isento


de culpa. Sim; da sua parte, o Senhor dá a todo e qualquer homem
os meios necessários (as gracas) para proceder corretamente; nao o
íorca, porém, a aceitar tais meios. Caso, portante, a criatura se
subtraia ao auxilio divino, ela peca por sua própria e exclusiva culpa.
O papel do Senhor Deus em tais casos se pode comparar ao do bom
músico que se serve de urna flauta desafinada; por mais que o artista
empregue arte e esmero para tirar de tal instrumento urna bela
melodia, jamáis o conseguirá, nao por lhe faltar talento musical, mas
únicamente porque o instrumento nao está adaptado a receber o
influxo belo e perfeito do seu senhor. Assim a criatura mal disposla
pode falhar ou pecar sem que Deus, da sua parte, falhe.

Ademáis, leve-se em conta que todo pecado implica sempre


urna aversáo a Deus. Ora é impossível que Deus seja causa
de aversáo ao próprio Deus; Ele fez o homem para Si, e nao
pode deixar de o atrair continuamente a Si. É impossível, pois,
que Deus queira fazer o homem pecar ou que Deus provoque
ao pecado.

Nao obstante, Calvino no séc. XVI julgava que Deus quer o


pecado e é, por sua acáo direta, causa das culpas humanas:
«O que digo, a ninguém deve parecer estranho: Deus nao gómente
previu a queda do primeiro homem, e nesta a ruina de toda a sua
posteridade, mas Ele a quls como tal» (Institution chrétienne 1. III c.
23 n. 7).
«Alguns recorrem á distincáo entre vontade e permissao de Deus,
asseverando que os iníquos perecem porque Deus o permite, nao,
porém, porque o queira. Contudo porque diríamos que Ele o permite
se nao porque Ele o quer?» (ib. n. 8).
«A fim de executar seus designios mediante o demonio, que é
o ministro da ira divina, Deus orienta, o alvitre dos maus como bem
Ule apraz, move a vontade déles e confirma seus esforcos» (ib. 1. II
.c. 4 n. 3).
Nao será preciso insistir na incoeréncia de tais idéias.
Verdade é que a S. Escritura em urna ou outra passagem afirma
ter Deus endurecido o coracSo humano (cf. Éx 4,21; 7,3; 14,4; Rom
9,18; Is 6,9s; Jo 12,39s). Nesses trechos a Biblia serve-se de mero
expresslonlsmo semita. O judeu nao tinha termos próprios para distin
guir entre «causar diretamente» e «permitir»; por isto atribuía dire-
tamente a Deus tudo que de bom e de mau se fazia no mundo.
— Na verdade, as mencionadas passagens significam apenas que Deus
envlou sinals ou mensagens aos homens, visando converté-los e
atraf-los; essas mensagens, porém, nao sendo devidamente aceitas,
tornaram-se ocasiáo de endurecimento e ruina das criaturas obstinadas
(dai dizer o semita impropriamente que «Deus endureceu o coracao
dos homens»). Cf. E. Bettencourt, Para entender o Antigo Testamento,
2* ed. pág. 155.

— 498 —
DEUS, CAUSA DO PEGADO?

3. Longe de ser causa ou culpado das falhas do homem,


Deus aparece, na revelagáo judaico-cristá, sequioso da salvacáo
humana, excedendo mesmo todos os direitos e expectativas da
criatura; impelido por seu Amor, dir-se-ia que «persegue» os
pecadores com extremadas solicitacóes da sua misericordia.
Haja vista, em primeiro lugar, o tema central da mensagem
crista: a Paixáo e a morte que o Filho de Deus quis padecer na cruz
a finí de transformar a triste sorte do pecador em meio de Redencáo
e santificacáo; Ele se assemelhou em tudo aos iníquos, exceto na
iniqüidade, a fim de que nenhuma das miserias acarretadas pelo
primeiro pecado ficasse sendo mera miseria, mas tomasse, antes,
um valor de purificacáo e de volta ao Pai: «Assim amou Deus o
mundo a ponto de dar o sen Filho Unigénito, a fim de que todo o
que eré n*ÉIe nao pereca, mas possua a vida eterna» (Jo 3,16).
Antes de iniciar a PabcSo redentora, o Filho de Deus inculcou
mais de urna vez a imensa misericordia do Pai celeste para com as
criaturas:
«Qual o homem dentre vos que, se um filho lhe pedir pao, lhe
apresentará urna pedra? Ou, se pedir um peixe, lhe apresentará urna
serpente? Se, portanto, vos, maus como sois, sabéis dar a vossos
filaos sómente as coisas que sao boas, quanto mais vosso Pai que
está no céu estará pronto a dar boas dádivas aqueles que Lhe pedem!»
(Mt 7,9-11).
Dir-se-ia que o pecador polariza as misericordias divinas como
o imá atral as limalhas de ierro; em conseqüéncia, Cristo chegava a
«escandalizar» alguns dos seus contemporáneos, que Lhe perguntaram:
«Porque comes e bebes com os publícanos e pecadores?». Ao que
o Senhor respondeu: «Nao sao os que gozam de boa saúde que precisan*
de médico, mas, sim, aqueles que estao doentes. Nao vim chamar
os justos, mas os pecadores, á penitencia» (Le 5, 30-32).
Merecem mencao outrossim as tres parábolas referentes á inesgo-
tável misericordia divina em Le 15 — a da ovelha perdida, a da
moeda perdida, e a do filho pródigo —, dominadas pela declaracáo:
«Eu vó-lo digo: haverá mais alegría no céu por causa de um só
pecador que faca penitencia do que por noventa e nove justos que
nao precisam de penitencia» (Le 15,7).
Pregado á cruz, o Senhor orou por seus inimigos e perdoou ao
ladráo arrependido (cf. Le 23, 34. 43).
Apcsar de tudo, porém, urna questáo ainda se faz ouvir: em vez'
de realizar o grande drama da Redencáo, porque nao quis o Senhor
Deus de antemáo evitar o pecado, só criando homens bons?... homens
que Ele sabia seriam em tudo fiéis á; vontade divina?
É o que passamos a considerar diretamente.

4. Porque nao quis Deus criar apenas criaturas fiéis?

Antes do mais, referimos a quanto já foi dito sobre o


assunto em «P. R.» 31/1960, qu. 4.
Aqui observaremos que, embora a solugáo de só criar
homens fiéis, fosse exeqüível, seria artificial e, por conseguinte,
pouco condizente com a Sabedoria Divina.

— 499 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960. qu. 2

Sim; tendo Deus determinado criar flores habilitadas a


se tomar frutos, era normal que Ele aceitasse o «risco» de ver
certo número dessas flores (poucas ou muitas; nao o sabemos)
frustrar a sua finalidade.

Urna sobria ponderacáo das potencialidades da natureza de urna


planta nos leva ¡mediatamente a desistir de querer que toda flor
dé fruto... Assim também urna reflexáo serena sobre a natureza do
homem nos dissuade de esperar que toda vontade livre opte sempre
pelo mesmo alvitre ou pela fidelidade a graca, sem exercer a possi-
bilidade oposta (de contradizer a graca); em ambos os casos espe
raríamos algo de pouco natural, quase algo de contraditório. O Criador,
portanto, produzindo um género humano que só quisesse o bem,
embora pudesse também querer o mal, teria feito algo de pouco
consentáneo com a natureza do homem como tal — o que nao seria
digno da Sabedoria Divina.

Eis a razáo pela qual Deus permite haver falhas e pecados


no mundo. Há, porém, nessa ordem de coisas agora vigente
urna grandeza nao menos estimável do que a grandeza de um
mundo sem pecado. Sim; S. Agostinho e, depois déle, S. Tomaz
formularam famoso axioma: «Deus jamáis permitiría que algum
mal existisse em suas obras, se Ele nao fósse bastante poderoso
é bom para tirar do próprio mal o bem» (Enchiridion ll; S.
Teol. I, qu. 2, a. 3 ad 1).

Eis a marca de Deus no mundo e na historia: embora cada


criatura configure livremente o seu curriculo de vida, a Providencia
Divina utiliza o procedimento de todas em vista de urna só finalidade
suprema, á qual ninguém escapa e que consiste em proclamar o
Bem Infinito ou dar gloria a Deus: assim o pecado de Adáo tornou-se
o fundo ao qual sobreveio a Redengáo...; a incredulidade dos judeus
veio a ser a ocasiáo para que Deus empreendesse a «loucura da cruz»
(cf. 1 Cor 1,23) a fim de salvar os homens (a cruz de Cristo é o
mais eloqüente testemunho de quanto Deus está longe de ser indife
rente á miseria humana); por fim, no dia do juizo final também os
reprobos afirmaráo a Bondade de Deus em unissono com os justos,
embora uns e outros tenham tomado posigOes diferentes (& esquerda
e á direita) em relacáo a Cristo; cf. «P. R.» 31/1960, qu. 4.
Portanto, se Deus permite o pecado no mundo (para nao violentar
a liberdade da criatura), de antemáo Ele assegura a utilizacáo do
próprio pecado para a realizagáo de um plano salvífico sumamente
sabio e bom. É o que leva S. Tomaz a dizer que na raiz de toda e
qualquer obra de Deus está a misericordia; esta é a grande inspiradora
e motriz da acao divina neste mundo (S. Teol. I qu. 21 a. 4).

A guisa de conclusáo, sejam aqui citadas as oportunas


palavras de Jacques Maritain:

«Deus nao inventou o mal moral e o pecado. Nao foi Ele quem
concebeu a idéia de tantas nódoas e abominacñes (moráis); nao foi
file quem concebeu os escarros desprezivos lancados á Sua Face,

— 500 —
«QUEM NAO ESTA COMIGO ESTÁ CONTRA MIM»

as traigSes, os atos de luxúria, crueldade, covardia, maldade bestial,...


as depravagóes do espirito que as suas criaturas contemplam. Tais
coisas tiveram origem únicamente na deficiencia da liberdade humana;
déste abismo é quo elas procedem. Ele as permite, pois sao produtos
do nosso poder de 'produzir o nada*.
Ele as permite porque é bastante forte, conforme a palavra de
S. Agostinho, para fazer redundar em maior bem todo o mal que
queiramos introduzir no mundo... O homem de fe, por ter urna
nogáo pálida das proporgóes désse bem maior e por se maravilhar
a respeito délas, avalia qual possa ser a importancia do¡ mal que um
tal bem maior há de recobrir sobejamente...
Já que a maldade de todo ato livre é produgáo nossa, Deus deixa
que os nossos atos monstruosos se proliferem até as últimas conse-
qüéncias... para que a liberdade divina manifesté finalmente a sua
sublime onipoténcia, tirando do próprio mal o bem maior que Ela
tem em vista» (Court Traite de l'existence et de l'existant 191-3).

III. SAGRADA ESCRITURA

PAIVA (Natal):

3) «Como se háo de entender os dizeres de Jesús em


Mt 12,30: 'Quem nao está comigo, está contra Mim, e quem
nao recolhe comigo dispersa'?
Nao estariam em contradicho com outras palavras de
Cristo referidas em Me 9,40: 'Aquéle que nao é contra nos,
é por nos'?
E como pode a Igreja Católica afirmar que possui a única
e verdadeira Religiáo?»

A fim de pe.rceber com clareza o significado das palavras de


Jesús, analisaremos separadamente os textos de Mt 12,30 (=Lc 11,23)
e Me 9,40 (=Lc 9,50).

1. A «intransigencia» em Mt 12,30

1. Antes do mais, impóe-se breve observagáo filológica: a segunda


parte da sentenga de Mt 12,30 recorre evidentemente a urna figura
de linguagem: «recolher..., dispersar...». Pois bem; esta metáfora
tem sido considerada por alguns exegetas k luz da linguagem ocor-
rente no Talmud (colegao de dizeres rabinicos tradicionais): ai «reco
lher, ajuntar» tem nao raro o sentido de «abster-se, n|o fazer», ao
passo que «estender» pode significar «fazer». Em particular, «recolher
o pé» quer dizer «nao caminhar»; «expandir o pé» equivale a «cami-
nhar». Explicado dentro desta perspectiva, o texto de Mt 12, 30b
significaría: «...quem nao permanece junto a Mim (=quem nao
recolhe comigo), faz caminhada inútil e extravia-se (= dispersa)».
Esta explicagáo é um tanto sutil; como quer que seja, ela nao
modifica o sentido geral da frase do Senhor.
Procuremos agora sondar a mensagem de Cristo.

— 501 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 3

2. As palavras de Jesús em Mt 12,30 tém o caráter de


máxima simples e, ao mesmo tempo, cheia de majestade: em
duas frases sinónimas (urna de sentido próprio, a outra de
sentido metafórico) enunciam a mesma idéia, tendendo assim
a calar fundo no ánimo dos leitores. Por seus dizeres, Cristo
se apresenta como o centro ou eixo do género humano, diante
do qual ninguém pode ficar indiferente: os homens sao neces-
sáriamente ou por Cristo ou contra Cristo; quem nao milita em
favor da causa de Cristo, perde tempo e fadiga. Jesús assim
se propóe como o Valor absoluto, em dependencia do qual todos
os outros bens tém valor relativo e fora do qual nada é valioso;
é a adesáo a Cristo que torna digno de aprego qualquer bem
humano. Em última análise, Cristo afirma ser Deus, e Deus que
se fez homem, a fim de ser padráo de todos os valores nao
sómente invisiveis, sobrenaturais e futuros, mas também visí-
veis, naturais e presentes.

Em verdade, nao é possivel ser neutro diante de Cristo ou


diante de Deus tal como Ele veio a nos no misterio da Encarnagáo.
Com efeito, quem queira explicar a vida humana independentemente
de Cristo, embora nao combata explícitamente a Jesús, já implícita
mente Lhe está contradizendo; tal pessoa professa que o mundo e o
homem podem muito bem ser entendidos sem Jesús ou sem Deus;
Éste seria mero rótulo ou complemento de ideología, complemento
dependente do gósto particular de cada individuo. Ora colocar Cristo
(Deus) na posicao de complemento acidental equivale simplesmente a
renegar a Cristo, pois o Senhor Deus por definicáo é tudo (e entáo
dá estrutura ao pensamento humano) ou simplesmente nada é (neste
caso, nem Lhe compete um lugar de periferia).
Sobre as provas da Divindade de Jesús, veja «P. R.» 8/1957, qu. 1;
7/1958, qu. 4.
Sobre a impossibilidade do laicismo, veja «P. R.» 5/1958, qu. 8.

3. Táo peremptória afirmacáo exige ulteriores explica-


góes.
Em primeiro lugar, pergunta-se: como podem optar por
ou contra Cristo tantos homens que, vivendo em regióes remo
tas, nunca ouviram falar do Senhor Jesús?
— Na verdade, também ésses homens, sem o saber, sao in
terpelados por Cristo e tomam posigáo frente a Ele. Sim; nao há
quem nao ouga no seu intimo a voz da consciéncia, com seu
ditame básico, igual em todo ser humano: «Faze o bem, evita
o mal». Tal voz nao é senáo a voz do Criador, voz que o Senhor
Jesús veio corroborar e explicitar; por conseguinte, quem se
norteia pelo ditame de sua consciéncia, sem jamáis lhe contra-
dizer, em última análise está seguindo a Cristo; salvar-se-á
no paganismo, no budismo, no confucionismo..., desde que,
de pleno acordó com sua consciéncia, cumpra tudo que sua reli-

— 502 —
«QUEM NAO ESTA COMIGO ESTA CONTRA MIM»

giáo lhe mandar. Note-se contudo:... salvar-se-á por aplicacao


dos méritos de Cristo ou mediante a Redencáo que o. Crucifi
cado com seu sangue granjeou para o género humano inteiro.
Tal pessoa, embora nunca tenha ouvido falar explicitamente
de Cristo, pertence ao rebanho do Senhor. Se, ao contiário,
procedesse em oposicáo á voz de sua consciéncia, estaría em
oposigáo a Cristo. — Ora, já que ninguém pode deixar de tomar
posigáo por ou contra a sua consciéncia, conclui-se que ninguém
pode deixar de optar por ou contra. Cristo.

4. Consideremos agora a parte do género humano que


ouve explicitamente falar de Cristo ou a quem é explicitamente
levada a mensagem do Evangelho. Sabemos que varias sao as
comunidades e os credos cristáos: há a Igreja Católica com
sua profissáo de fé, a comunidade luterana, a anglicana, a
batista, ... cada qual com seu símbolo de fé. Já que essas
comunidades nao professam todas a mesma doutrina, mas em
alguns pontos chegam a ser contraditórias entre si, só urna
dessas profissóes de fé pode ser verídica; as demais háo de
ser tidas como falsas.

Sem dificuldade entcnde-se que Deus, havendo anunciado aos


horneas a sua palavra, nao tenha deixado de muni-la de credenclais
capazes de identiíicá-la aos olhos de todas as geracóes através dos
séculos. Pregar a verdade e deixá-la eneoberta ou deixá-la entregue &
acáo deturpadora dos homens, de modo que hoje nao se possa mals
perceber, de maneira objetiva e segura, onde está a genuina mensagem
de Cristo, tal obra seria indigna de Deus; urna vez que se admita o
misterio da Encarnacáo ou a Divindade de Cristo, deve-se lógicamente
admitir que até o fim dos tempos a mensagem de Cristo ressoará
pura e incontaminada na térra; a Providencia Divina certamente zela
por éste objetivo; se nao, vá teria sido a Encarnacáo.

Qual seria entáo o criterio para se distinguir, entre as


diversas confissóes cristas, a auténtica mensagem de Cristo?
O criterio mais obvio e o principal é o da continuidade...
Cristo prometeu a seus apostólos a sua assisténcia infalivel
até a consumagáo dos séculos (cf. Mt 28,20). Daí urna conclusáo
assaz clara se depreende: só pode ser na linhagem dos Apostólos
e dos pastores de almas que sem interrupgáo se sucedem aos
primeiros Apostólos, continuando a obra déles e de Cristo até
hoje, que se vai encontrar incontaminada, garantida pela tutela
do próprio Senhor, a palavra de Cristo. Essa linhagem, e
sómente essa (em que há sucessáo apostólica de geracüo em
geracáo através dos séculos), é depositaría da promessa da
assisténcia infalivel de Cristo; ao contrario, qualquer linhagem
ou sociedade crista que exista separada do tronco por efeito
de urna ruptura ou de urna pretensa «Reforma» da obra de

— 503 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 3

Deus, há de ser tida como espuria; é obra meramente humana,


nao obra de Deus. É mesmo obra táo evidentemente humana
que, desde que Lutero no séc. XVI arrogou a si o direito de
reformar a Igreja, nao cessam mais as reformas da reforma;
cada reforma deixa sempre a desejar...
Donde se vé que, para nao dispersar, nño basta ser cristao de
qualquer modo; nao basta colhér com Cristo segundo o bom senso
subjetivo de cada um; ninguém tem o direito de «íazer seu Cristianis
mo» ou de pretender «redescobrir» o Evangelho, distanciando-se da
linhagem que se liga com Cristo e com os Apostólos.

Dir-se-á contudo: essa linhagem dos Apostólos nao será


meramente invisível ou espiritual? — Nao; consoante o misterio
da Encamacáo, ela tem sua face visível e característica; Deus
sempre falou, e ainda em nossos dias fala, aos homens por meio
de sinais objetivos; a Sta. Igreja de Cristo e dos Apostólos,
portante, tem sua face visível na térra; é a ela, pois, como se
apresenta em nossos tempos, que temos de aderir, porque
sómente nela vive Cristo, como Ele prometeu. Tudo que nao
esteja dentro de tal linhagem, visivelmente representada por
Pedro e seus sucessores, está fora de Cristo, vem a ser disper-
sáo e ilusáo (por mais doloroso que seja dizer isto).

Mas, talvez insista alguém, nao se poderia admitir que


cada confissáo crista contém urna faceta da mensagem de
Cristo, faceta, em grau maior ou menor, mesclada de tradiqóes
duvidosas e humanas, de tal sorte que, em última análise, todos
os credos cristáos sao equivalentes?
— Nao; nao se pode crer que a doutrina de Cristo tenha
sido de algum modo deteriorada, de sorte que hoje em
dia só exista acompanhada de erro. Repitamo-lo: o misterio
da Encamacáo haveria sido frustrado se a sua mensagem nao
se devesse conservar inteiramente pura até o fim dos sáculos.
De resto, a promessa de assisténcia de Cristo é penhor de
incontaminacáo absoluta.
Eis a doutrina contida na máxima: «Quem nao está comigo, está
contra Mim, e quem nao recolhe comigo dispersa» (Mt 12,30). Resta-
-nos agora examinar

2. A «tolerancia» em Me 9,40

O significado exato das palavras de Jesús em Me 9,40 tem que


ser deduzido dos versículos que as precedem:
9,38 «Tomando a palavra, disse Joao a Jesús: 'Mestre, vimos um
homem que nao nos seguía, expulsar demonios em teu nome e nos
Iho proibiamos, porque ele nao nos segué'. 39 Jesús, porém, lhes disse:
'Nao Iho proibais, porque nao há quem faca um milagre em meu
nome e possa logo falar mal de Mim. 40 Quem nao está contra nos,
está a nosso favor».

— 504 —
«QUEM NAO ESTA COMIGO ESTA CONTRA MIM»

Ponderemos agora as duas seguintes proposigóes:


1) Dos versículos precedentes depreende-se que Jesús
tomava como ocasiáo de sua afirmacáo o fato de que alguém
expulsava os demonios, e os expulsava em nome de Cristo. Ora
expulsar os demonios (supóe-se aqui um auténtico detrimento
de Satanaz, ou seja, urna diminuicáo do seu dominio sobre as
almas) nao pode ser obra demoniaca, mas só pode ser obra
de Deus (cf.Mt 12,25-28). Era o próprio Deus, portante, quem
agia por intermedio de tais exorcistas judaicos, dando-lhes urna
certa intuigáo de que Cristo era o Messias e Salvador.
2) Durante os anos de ministerio público de Jesús, enquan-
to a mensagem evangélica ia sendo manifestada até atingir o
seu pleno desabrochar, era possivel que alguém pretendesse
aderir a Cristo sem se incorporar visivelmente ao grupo dos
Apostólos e discípulos do Senhor. A Igreja (Corpo Místico de
Cristo, corpo prolongado visivelmente pelos sacramentos) nao
estava fundada (como ensinam os teólogos, Ela foi fundada
quando do lado de Cristo crucificado jorraram agua e sangue,
ou quando o Espirito Santo desceu sobre os Apostólos em
Pentecostés). Em conseqüéncia, verifica-se que o amigo de
Jesús de que trata o texto de Me 9,40, embora quisesse militar
por Cristo, nao tinha obrigacáo de se incorporar visivelmente
á comunidade dos Apostólos, porque esta ainda nao fóra cons
tituida como «Igreja» ou como instituigáo de salvagáo. Daí
as palavras de Jesús: «Aquéle que nao é contra nos, é por
nos» (Me 9,40). Essa frase — diga-se de novo — visava cir
cunstancias especiáis da historia do Cristianismo, circunstan
cias que depois de Pentecostés nao mais se reproduziriam.
Antes da constituigáo definitiva e da manifestagáo pública da
Igreja, bastava, sim, que alguém nao fósse contra Jesús para
ser em favor d'Éle.

Leve-se em conta outrossim que, quando Jesús falava em Me


9,40, os ánimos na Palestina estavam tao divididos em torno de Cristo
que bastava nüo ser do grupo dos adversarios de Jesús para ser amigo
do Divino Mestre; todos tinham que tomar posicáo diante do Senhor;
aos amigos de Jesús, porém, nao se impunha, de maneira táo imperiosa
como após Pentecostés, a incorporado k comunidade dos Apostólos,
já que esta ainda nao constituía prdpriamente a Igreja.
Depois de Pentecostés, a via normal de santificagáo é a incorpo-
racao visível á Igreja mediante o Batismo e, se possivel, a Eucaristía;
admite-se, sem düvida, que alguém pertenca á Igreja de maneira invi-
sível, caso siga integralmente os ditames da sua consciéncia numa
outra sociedade religiosa; todavía nao basta hoje em dia que alguém
nao seja adversario de Jesús para poder ser dito «amigo de Jesús»;
é preciso algo mais: é preciso que sinceramente nao veja a necessidade
de pertencer visivelmente á Igreja de Cristo e que esteja disposto a
se incorporar visivelmente a esta (pelos sacramentos) desde que tenha
evidencia de que a Igreja visível é a instltuicáo normal de salvacáo.

— 505 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 4

Ássim se percebe que nao há relativismo e muito menos


contradigáo ñas palavras de Cristo. Todo amigo de Jesús tem
que levar a sua amizade ao Senhor até as últimas conseqüén-
cias possíveis (dentro do grau de iluminacáo sobrenatural que
Ihe seja dada pelo Pai do céu).

IV. MORAL .

DAVINO (Rio de Janeiro):

4) «Afirmam certos autores que a castidade prenupcial


o^ujéjmpossível.ou é nociva á.saúdfi.
Nao obstante, os moralistas católicos continuam, a incutir
a castidade perfeita como algo de obligatorio anteriormente
ao casamento e mesmo no estado de viuvez. Como se justifica
isto?»

Por «castidade» entende-se a virtude que assegura á alma o


dominio sñbre os prazeres sexuais. Já que o deleite sexual íoi insti
tuido! pelo Criador como elemento concomitante da procriagáo (a fim
de facilitar a conservacáo da especie humana), compreende-se que a
ninguém é licito usufruir do deleite sexual senáo dentro do matrimonio;
o matrimonio é, sim, a instituicáo natural que tem como fim primario
e essencial a procriagáo da especie. \ ' v v..-. », ■.. \ .
O principio segundo o qual o ato sexual só é licito dentro do
matrimonio, entende-se bem pelo fato de que a fungió dos genitores
■.tifio se reduz a colocar mais um ser vivo no mundo; quem gera, tem
l'aobrigacáo de educar. Ora a educagáo só é possivel nos termos devidos
sTTRf colaíjóracad'de pai e máe num consorcio de vida estável, que
é o matrimonio. — Além disto, observe-se que a doacáo Intima que a
criatura faz de si ao entrar em relacoes sexuais, nao é prdpriamente
, humana se é meramente carnal; a fungió sexual, no ser humano, só
se exerce normalmente se é precedida e acompanhada pelo amor, ou
seja, por urna doacáo psíquica. Donde se vé que a cópula humana
supute e exige doácao total da personalidade do vario a da mulher
e vice-versa; ora essa doacáo total (que naturalmente há de durar
a vida inteira) só se realiza na vida conjugal selada por auténtico
contrato matrimonial.
r •

Com SIo Tomaz, os moralistas distinguem duas especies de casti


dade: a castidade perfeita e a castidade comiun.
A castidade perfeita consiste na abstencáo completa das fungSes
sexuais, sejam estas realizadas com outra pessoa, sejam provocadas
pelo individuo consigo mesmo (masturbacáo). É também chamada
«continencia perfeita»; deve caracterizar o género de vida das pessoas
nao casadas, quer simplesmente solteiras, quer viúvas.
A castidade cómum caracteriza o estado conjugal. Consiste na
I renuncia a todo deleite sexual que nao se concille com a finalidade
¡ primaria do matrimonio (procriagáo da prole) ou com alguma das
prerrogativas déste (monogamia e indissolubilidade).
Está claro que a castidade ou a continencia nao se restringe
.penas ao corpo humano; ela se estende também aos pensamentos.
tOdas as afeigóes e intengóes do coragáo humano, impedindo que-

— 506 —
CASTIDADE PRÉ-NUPCIAL

se apliquem a objetos indevidos. Note-se outrossim que a castidade


nao é algo de meramente negativo; nao é mera renuncia nem oposi-
cao. mas constituí aadesáo mais plena da criatura humana ao Criador
e aos seus sabios designios; Viña6~a~ ser, como diremos adiante. ver-
dadeiro "éñrlquéclmento da personalidade.
Ñas consideracCes que se seguem, focalizaremos primeiramcnte
os auténticos ditames da Medicina em relacáo á castidade; a seguir,
voltaremos nossa atencáo para as objegóes que sao comumente for
muladas contra tais normas.

1. Os ditames da Medicina <. •

1. A medida que o organismo do Jovem e da jovem se


vai desenvolvendo, os órgáos genitais se váo tornando aptos
para realizar a sua fungáb. Despertá-se entáo a tendencia sexual
no adolescente. Ésse despertar é paulatino; as aspiragóes daí
decorrentes nao sao tais que se lhes deva dar satisfagáo ime-
diata; nao sao a tal ponto imperiosas. Ao contrario, em vista
do equilibrio físico e psíquico da personalidade, tais aspiragóes
háo de ser devidamentejreprimidas até que o individuo tenha
atingido a maturidade de corpo e alma necessária para poder
contrair uniáo matrimonial. Esta coibigáo é necessária e salutar
por mais de um motivo: . ;. ..,,•.• ';' "*' ''■■
a) enquanto o organismo humanase estájiesenvolverido,
ele armazena forgasque déveráTíéspendef mais farSeT~ñáo
devé~~portañto exercer alguma de suas fungóes vitáis antes
de estar plenamente habilitado para isso. • .. •■ -%•
Tal norma se aplica de maneira especial a funcao de reprodugáo.
Esta, mais acentuadamente do que qualquer outra, passa por'urna
curva de ascensáo ou desenvolvimento, apogeu e declinio. O periodo
de desenvolvimento, que comeca já antes dos quinze anos de idade,
é justamente aquéle em que se formam os órgáos e se áperfeicoam
as faculdades concernientes á geracáo. É no periodo de apogeu que
o individuo pode usufruir naturalmente do potencial de energía e
vitalidade preparado durante o seu desenvolvimento. Se_porém, desde
o desabrochar do atrativo sexual o jovem comeca a usar de suas
íungóes genitais, nao pode deixar de experimentar funestas conse-
qüéncias de tal abuso, pois as células só se reproduzem normalmente,
quando hipernutridas; entre tais lamentaveis conseqüéncias, assinala-
-se a debilitado geral da saúde do jovem, o aparecimento de doencas
! venéreas, de psicastenias ou molestias nervosas com todo o cortejo
de niales que á isto se prende ¡"tal abusó'pode mesmo acarretar a
morte precoce.

i «O uso prematuro dos órgáos genitais, diz Hufeland, é o melhor


.'e o mais seguro meio de inocular-se a velhice. Com efeito, se, para
-gozar dos prazeres venéreos, nao se espera o completo desenvolví-
mérito do corpo, o crescimento déste estaciona, e o individuo expóe-se
a tornar a desear a rampa antes de a ter subido por completo. Com
vinte anos, as faculdades comecam a alterar-se, as enfermidades apa-
recem e, dez anos mais tarde, oferece-se o aspecto repelente de urna

— 507 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 4

decrepitude prematura» (texto citado pelo Dr. Mario Alcántara de


Vilhena, em «Da continencia e seu fator eugénico». Rio 1921, 74).

Dir-se-á: mas o fato de que_jo_adoleacente~por volta dos


quinze ou dezessete anos está apto para fecundar um óvulo
feminino nao deve ser interpretado como licenca concedida
pela natureza mesma para o exercício de tal fungáo? — Res-
ponder-se-á que nao; tal fenómeno fisiológico de modo nenhum
significa que o jovem, na referida idade, esteja apto para
assumir as responsabilidades e o pesado encargo de construtor
de um lar; equivale apenas a urna etapa percomda pela natu
reza em demanda da completa e formal virilidade. Conforme
lialguns autores, a natureza leva oito ou dez anos para fazer
¡de um rapaz um homem apto a exercer as suas fungóes sexuais
late as últimas conseqüéncias acarretadas por estas.
Damos aqui a palavra mais urna vez a um médico, o Dr. Mario
de Vilhena:
«Do poder um individuo usar de seus órgáos genitais antes de
os ter maduros e completos, nao se segué... que já o deva, ou que
já lho convenha íazer, da mcsma forma que um automóvel cujo
reseryatório requeira sessenta litros de gasolina, poderá andar com
um litro apenas, mas isto nao convém.
i Eis um dos mais funestos fatos para o desenvolvimento do individuo.
As excitacóes ficticias e añoraríais que nao tém na sua fonte a matu-
ridade funcional dos árgáos, produzem..., em virtude d&stes abusos
ou déstes usos milito precoces, o estiolamento dos próprios órgáos;
os testículos estiolados, por sua vez, dáo produtos estiolados e de
má qualidade. O organismo assim tornado débil fornece germens
debéis; a progenie sofre com isto» (obra citada, pág. 29s).

/A b) Sabe-se outrossim que as glándulas humanas funcio-


nam todas em estreita correlagáo entre si; em particular, as
que segregam os hormónios das fungóes genitais nao servem
sómente a estas fungóes, mas beneficiam outras atividades do
! I organismo humano. Em conseqüéncia, a abstengáo da vida
| i sexual permitirá que as glándulas hormónicas favoregam com
'mais intensidade outras fungóes vitáis do individuo.
O Prof. D.r. Henriqúe Tanner de Abreu observava:
, í «A endocrinología reconhece nos testículos a existencia de hor-
mónios múltiplos, dos quais uns presidem ao desenvolvimento dos
caracteres sexuais.e sao produzldos pela glándula intersticial, notada-
mente pelas células de Leydig, e outros de que independem os carac
teres do sexo e que estimuTám as trocas gerais de materia ou trocas
Intimas do metabolismo orgánico, os quais tém origem na linha semi
nal e ñas células de Sertoli.
Dir-se-ia que o testículo se desdobra em duas glándulas a se
compensarem fisiológicamente, a falta de exercício de urna délas
devendo favorecer o revigoramento da funcáo da outra. A carencia

— 508 —
CASTIDADE PRÉ-NUPCIAL

do exercício da funcao genética resultará benéfica á funcáo estimu


ladora da nutricáo geral» (Resposta ao 3' quesito da consulta ieita
pela Liga pela Moralidade, em marco de 1918).

Mais recentemente o Dr. Joaquim Moreira da Fonseca perante


urna assembléia de médicos asseverava:
Nos casos de abstengáo sexual, «as (secrecñes) endocrinas váo
estimular órgáos distantes, especialmente o sistema nervoso central,
dando-lhe tenacidade e vigor admiráveis. Assim se explica a geniali-
dade de tantos homens castos heroicos. De fato, no caso de pluralidade
de funcóes do mesmo órgáo, o nao-uso de urna délas... beneficia a
atividade das óutras... Nao é o náo-funeionamento dos órgáos sexuais,
mas, sim, a extracáo déles, a causa "da" degenerescencia' intelectual
dos castrados» (cí. Dr. Joaquim Moreira da Fonseca, O fator endocri-
riico e a continencia masculina, em «Atas do 1' Congresso Brasileiro
de Médicos Católicos». Sao Paulo 1947, 275).
Nesta passagem merece especial atencáo a referencia á castracao,
ou seja, a mutilacáo do organismo que alguém possa empreender a
íim de se conservar casto. Tal recurso artificial, como nota o Dr.
Moreira da Fonseca, longe de ser benéfico, acarreta verdadeiro detri
mento para a personálidade humanappóis a priva violentamente do
concurso de urna Jfuncáo que está Íntimamente relacionada nao só
com a reproducao, mas também com as demais atividades psico-so-
máticas do paciente. • . ■«

, Ao contrario, a continencia natural, facilitando a concen-


tragáo de energía ou de fungóes vitáis, permite mais Intensa ; ■
aplicagáo ao estudo; permite também manifestacáo mais lúcida
da inteligencia do respectivo sujeito. O amor ou o exercício da
vontade se torna mais firme e puro enTvlrfüae" da continencia
espontánea:.«Aqueles que guardaranra castidade, sao melfidres !
niáridos, melhores pais que os outros... A continencia propor-m
ciona urna reserva de fórgas. A.economía sexual favorece al!'
longevidade e as diversas formas da atividade intelectual» (Ch. \1
Feré, L'instinct sexuel: évolution et dissolution). — Como
insinúa éste depoimento, a continencia vem a ser outrossim fator
de robustez para o corpo mesmo do individuo: «O vigor físico
que a continencia acarreta, é aproveitado pelos atletas e des-
portistas. Sabido é que os lutadores se conservam continentes,
assim como... nos dias de encontros os jogadores de futebol
se conservam sob um regulamento que lhes veda toda intem-
peranga. Também os boxistas ingleses atuais sao submetidos,
no período de peleja, a urna dieta particular e á continencia
sexual» (cf. Vilhena, ob. cit 106).

2. É na base das consideragóes ácima que as autoridades


médicas se tém repetidamente pronunciado em favor da con
tinencia perfeita anterior ao matrimonio.

Haja vista, por exemplo, urna das conclusóes do 1» Congresso


Brasileiro de Médicos Católicos realizado em Fortaleza, de 1* a 7
julho de 1946:

— 509 —
tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 4

«A continencia masculina até o matrimonio, mesmo quando apre


ciada exclusivamente sob o ponto de vista endocrínico, deve ser prati-
cada, porque dá em resultado maior desenvolvimento da glándula
intersticial e daí maior atividade e vigor corporais e psíquicos» (Atas,
pág. 277).
O Congresso de Eugenesia reunido no Rio de Janeiro em 1929,
congregando numerosos médicos, juristas, educadores brasileiros e
estrangeiros, aprovou unánimemente a seguinte tese:
l «É preciso ensinar á juventude masculina que nao sómente a
castidade e a continencia sao possíveis e nao sao nocivas, mas também
' que estas virtudes sao as mais recomendáveis sob o ponto de vista
simplesmente médico e higiénico e que constituem um importante
falor eugénico».

Com estas palavras o Congresso de Eugenesia corroborava a


conclusáo já unánimemente aprovada em 1902 por 150 autoridades
médicas (Drs. Gailleton, Landouzy, Lassar, Neisser...) reunidas na
Conferencia Internacional de Profilaxia Sanitaria e Moral em Bruxelas,
com a participacáo de quatorze nacSes.

Por último, seja citado o depoimento unánime da Conferencia


Nacional de Defesa contra a Sífilis, reunida no Rio de Janeiro em 1940:
! «Imp6e-se ensinar e divulgar por todas as formas que a prática
1 da continencia extra-conjugal é o meio mais seguro de profilaxia
anti-venérea, e nao acarreta em nenhum dos dois sexos nem em
alguma idade, disturbios de saúde ou alterares de desenvolvimento
físico e intelectual».
Semelhantes testemunhos se poderiam multiplicar. Encon£ram-se
colecionados, por exemplo, na obra de Vilhena 83-87.

3. A necessidade da continencia perfeita fora do estado matri


monial ainda pode ser ilustrada pela fisiología comparada ou pelo
que se dá na vida dos animáis irracionais." "
Com efeito, nos irracionais os instintos nao se desviaram e podem
ser observados na* sua pureza primitiva (excetuados casos raros em
que a domesticacáo haja modificado radicalmente a sua conduta de
vida). Ora o instinto sexual nos animáis irracionais íicou sendo própria
e realmente jo instinto da reproducáo. Desde que a maturidade dos
órgaos sexuais permita a perpetuacáo da especie, macho e fémea se
unem, em condigoes, porém, bem determinadas, forá das quais toda
atividade sexual no macho fica suspensa. Sim; em certas épocas do
ano, as fémeas, tornando-se aptas para receber a sementé masculina,
produzem emanagóes odoríferas características; assim avisado pelo
.sentido do olfato, o macho se senté impelido ao ato sexual, que ele
nao poderia nem evitar nem adaptar a algum fim que nao f6sse a
|"reproducáo (o instinto é «correto» e certeiro). Fora de tais ocasióes,
o macho observa perfeita continencia sem prejuizo para a sua saúde
física ou para a sua capacidade generativa.
Vé-se, pois, que existe nos animáis irracionais urna pureza sexual
rigorosa, embora inconsciente. Por conseguinte (observam alguns
autores), íora de propósito é dizer-se que o homem libertino se torna
bestial ou desee ao plano do animal irracional quando se entrega
desmedidamente aos prazeres sexuais. Seria, antes, muito para désejar
que os individuos humanos se norteassem, de maneira consciente, pela
pureza de intencóes que move os animáis inconscientes á cópula sexual.
Estes dados de íisiologia comparada corroboram a conclusáo de
que no individuo humano a continencia fora do matrimonio é real-

— 510 —
CASTIDADE PRÉ-NUPCIAL

mente possível, ou melhor, exigida pelas próprias leis da natureza;


vem a ser íator de equilibrio físico e boa~saúde. ' ~ ■

4. A esta altura, porém, perguntará alguém: se tal é


a realidade, como se explica que tantas pessoas julguem o
contrario?
Isto se deve a artificios e preconceitos de u'a mentalidade
ou de urna moral decadentes.
Com efeito, desde que se desperta o atrativo sexual em
nossos jovens, ésse atrativo é muitas vézes indevidamente
agucado pelas circunstancias do ambiente em que vive o ado
lescente. Tais circunstancias sao:

a opiniáo pública ou o erróneo preconceito de que a continencia


é impossivel ou nociva;
a literatura, o cinema e o teatro pornográficos, que nutrem a v »
obsessáo do fruto proibido e a crenca de que o victo_é_ necessário; T
as solicitacSes de companheiros e colegas pervertidos—-*"-•—
Tais íatdres criam u'a mentalidade no jovem e o Ievam ao desvio
moral ou ao vicio sexual. Maus hábitos sao assim contraidos; a repe-
ticSo do ato desregrado produz a «necessidade» de o realizar, neces
sidade que se torna cega ou mesmiToBSesslvaTúiüárido na verdade a
funcáo sexual deveria ser facultativa^ ou seja, inteiramente sujeita
ao alvitre da vontadel O que'priSprlamente merecería o nome de
«aptidáo sexual», é entáo tido como «imperiosa indigencia sexual»,
á qual, idizem, nínguém se pode subtrair, como ninguém se pode
furtar á necessidade de comer ou beber, sem detrimento para a saúde.
Ora tal comparacao é vá: a pretensa necessidade vem a ser mero
produto de preconceito ou de mentalidade. A castidade física pode
ser perieitamente observada desde que no respectivo sujelto haja
castidade intelectual, ou seja, urna interpretacao auténtica dos fenó
menos fisiológicos, acompanhada de amor aos verdadeiros bens.
«Urna verdadeira castidade nao se poderá cultivar senáo na base .
de conceitos claros e de nocoes moráis que o individuo procurará ,'
■aprofundar continuamente e que ele aprenderá a estimar» (Dr. Paúl "'
Dubois, professor de neuropatologia na Faculdade de Medicina de *
Berna, na obra «L'éducation de soi-méme. Chasteté», 323). '*■
, Está claro que ninguém conseguirá combater eficazmente o mau ''
hábito se nao adquirir a consciéncia de que a pretensa «necessidade»
é meramente ficticia, podendo ser debelada mediante reta átltúde
de ánimo ou mediante firmeza de vontade (á qual jamáis faltará a
gracá de Deus). Caso alguém, talvez vencido pela vergonha, se dispo-
,nha a reprimir o vicio da incontinencia, julgando que vai sufocar um
t impeto vital com nrejuízo para a sua saúde, caira naturalmente
num estado de exacerbacao nervosa ou de neurastenia, acrescentando
novo mal ao anterior.
Dito isto, resta-nos aínda a consideracüo de algumas objecdes que
se costumam levantar contra o hábito da continencia.

.. 2. Tres dávidas. ..

a) Há quem assevere que a continencia produz atrofia


da natureza.

— 511 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 4

— «Apócrifo temor», responde o Dr. Max Hühner (Pertur


baciones de la Función Sexual en el Hombre y en la Mujer.
Filadelfia 1920, 278). O mesmo autor explica: ;

«É lato comprovado que os órgáos sexuais estao sujeitos a prin-


cípios inteiramente diversos dos que governam a maiorla dos
outros órgáos do corpo. Sua estrutura especifica permite-lhes exercer
intermitentemente a sua atividade; suas íuncees podem mesmo ser
indefinidamente suspensas sem que isto resulte em detrimento da
sua anatomia ou fisiología.
! As glándulas mamarias nos oferecem auténtico testemunho do
que digo. Quando a mulher concebe um filho..., suas glándulas
mamarias, que durante anos se encontravam em estado latente,
súbitamente crescem e disp6em-se a segregar leite. Quando termina
a lactacao, tornam as ditas glándulas a reduzir-se de tamanho e
cessa a sua secrecáo, podendo permanecer inativas durante mais anos,
depois dos quais se lór novamente fecundada a mulher, voltaráo
a aumentar e a produzir leite sem dificuldade».

Além disto, note-se que nada é váo ou frustrado na natureza.


Ora há periodos na vida conjugal em que o marido é, pela natureza,
/obrigado a privar-se das relacóes sexuais com sua esposa: assim,
dois meses pelo menos antes do parto. Compreende-se que esta exi-
■ géncia nao pode redundar em detrimento da saúde do esposo, nem
se pode tornar pretexto para que viole outra norma da natureza,
recorrendo á íornicacáo, ao adulterio ou á masturbacao. A natureza
por si mesma deve garantir a possibilidade de comportamento conti-
I nente sadio quando é ela mesma que o impoe.

b) Outra fonte de hesitacóes a propósito da castidade sao


as freqüentes polugóes noturnas que, conforme dizem, caracte-
rizam o estado continente.
— Em resposta, faz-se mister observar que as polugóes
noturnas sao motivadas por dois fatores: um fisiológico e outro
psíquico. Do ponto de vista fisiológico, «elas sao perfeitamente
normáis, contanto que nao se déem com demasiada freqüéncia
nem sejam acompanhadas de sentimentos de acentuada de-
pressáo» (Hühner, ob. cit. 117); o Dr. Hermann Rohleder julga
que duas polugóes por semana sao algo de normal. Explicam-se
pelo fáto de que a natureza mesma espontáneamente se encar-
rega de eliminar o excesso de certas secregóes glandulares. Tal
fenómeno, dentro das proporgóes assinaladas, nao é indicio de
estado mórbido nem acarreta conseqüéncias funestas para o
respectivo sujeito.
Quando se tornam excessivamente freqüentes, as polugóes
noturnas em muitos casos se devem a um_fator_psíquico, ou
. ,,seja, á excitagáo mais ou menos voluntaria e anormal da
>" concupiscencia; o fato de que alguém se deixe invadir desre-
#.gráaa5ñéñté por preocupagóes de ordem sexual terá como
\ conseqüéncia obvia o desencadeamento das fungóes genitais

— 512 —
CASTIDADE PRÉ-NUPCIAL

em estado de inconsciencia ou de sonó. — Deve-se frisar, porém, '*


que tal desordem é própriamente de índole psíquica; o seu
,saneamento, portante, consistirá no exercício de disciplina
(Psíquica (controle dos pensamentos e afetos), e nao em desre-
• gradas concessoes a natureza.

! c) Ouve-se outrossim dizer que a continencia torna o


homem triste, duro, selvagem ou aínda neurasténico e angus
tiado, p
A éste rumor respondem grandes médicos e psiquiatras, <=-'-*
qualifícando-o de preconceito destituido de fundamento real: *«

«Quanto as perturbares nervosas e psíquicas,... nao há obser- < <C


vacáo concludente. Nos mesmos, nao só procuramos, durante cinco * T
anos de vida académica á beira, dos leitos dos doentes, um só caso
de molestia em que achássemos algo que pudesse ser atribuido á '
continencia e nao o encontramos, mas recomendamos a todos os -l-í'
nossos amigos e colegas que nó-lo procurassem nos servicos em que
trabalhavam e nao nos deram relacáo de um sequer...
Por mais que procurássemos nos trabalhar de psiquiatría, nao
encontramos coisa alguma que nos fizesse concluir contra a con
tinencia. ..
No nosso Hospital Nacional de Alienados nao nos consta, por
mais que procurássemos, haver algum demente senil que tivesse
sido casto...
Muito ao contrario, segundo as varias observacSes do Dr. Onofre
Infante, o número de alienados em conseqüéncia de excessos sexuais
é enorme» (Vilhena, ob. cit. 98-100).

,; Pode acontecer, sem dúvida, que um individuo continente seja. ao


■ mesmo tempo, melancólico ou duro. — Frisar-se-á, porém, que tal
estado de alma, longe de ser conseqüéncia necess'ária de sua vida
casta, resulta de algum deleito psíquico, que se pode corrigir dentro
mesmo da conduta de vida continente".

O fator religioso será decisivo no saneamento de tais


anomalías psíquicas. Estas muitas vézes se derivam de um
conflito moral ou de consciéncia (que em última análise é
confuto religioso), e só mediante solucáo désse conflito (ou r t
seja, mediante volta a Deus ou á Leí de Deus) poderáo ser '1'
removidas. Além do mais, o cristáo sempre levará em conta .."■■
o papel imprescindível da graga divina para a reforma dos
costumes e a aquisicáo das virtudes. Em conseqüéncia, na sua v •' ■
vida espiritual, o discípulo de Cristo recorrerá á oracáo; a -•--
seguir, utilizará os múltiplos meios de santificacáo que Cristo >-'<•
oferece aos seus fiéis na Santa Igréja (entre os quais ocupam Ve
lugar primacial os sacramentos). A fidelidade ao Senhor será "'-"
sempre o grande esteio dé urna vida humana nobre e reta;
o amor a Deus vem a ser a expressáo por excelencia do ins- ^V
tinto de amor que todo ser humano experimenta dentro de si ^ I

— 513— ? ; . v*
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 5

e que táo espontáneamente tende a se atuar na vida sexual;


esta será digna e dignificante se fór plenamente subordinada
ao amor de Deus. «Conhecer a Deus é viver, e servir a Dens
é reinar» (Missal Romano, postcomunháo da Missa pela paz).
Recomenda-se outrossim, em vista da conservacáo da castidade,
a disciplina geral dos sentidos e dos prazeres: tanto o jovem como
o adulto se acautelaráo contra conversas, leituras e divertimentos
tendenciosos ou libertinos, os quais, contribuindo para amolecer o
ánimo, só íazem diminuir ou solapar o poder de resistencia ás paixóes.
Enfim tdda essa disciplina será facilitada e corroborada pelo cultivo
] de certa higiene íísica: seja a alimentacáo frugal e'sadia; as bebidas
e o .fumo, moderados; a educacáo fisica e os esportes teráo seu
lugar eñTtal regime, principalmente por constituirem ótimo derivativo
-^ para a vitalidade que se afirma no jovem e no homem maduro; banho
e asseio geral tornam-se indispensáveis; quanto ao sonó, será regular,
, ,,.' devendo a pessoa evitar ficar ociosamente no leito. "

Eis, em linhas gerais, quanto a consciéncia crista e a


Medicina tém a dizer a respeito da continencia, ou seja, a
respeito do exercício de urna fungáo sagrada que o Criador
•; •} incutiu ao homem nao para que éste tropecé moralmente, mas
-A" a fim de que se engrandega e santifique.

ESTUDANTE (Salvador):

5) «Deve-se dizer a um doente a verdade a respeito do


seu estado de saúde?
Nao será lícita alguma mentira para evitar maiorcs males?»

Em resposta, desenvolveremos os tres principios da Moral crista


que elucidam o caso proposto; urna reflexao final rematará a
explanacáo.

1. Tres principios. ..

1) Via de regra, nao é lícito ao médico e aos familiares


do doente iludir ou deixar na ilusáo a respeito de seu estado
nm paciente gravemente enfermo.

A veracidade desta proposigáo decorre das seguintes pre-


missas:
Todo homem deve procurar proceder sempre em confor-
midade com a sua natureza de criatura humana.
Ora, sendo o homem urna criatura inteligente e social, é
consentáneo com a sua natureza passar de maneira consciente
pelo transe da morte.
Torna-se, por conseguinte, muito desejável que todo indi
viduo, desde que incorra em serio perigo de vida, seja devida-

— 514 —
DIZER A VERDADE AO DOENTE?

mente informado da gravidade do seu estado e da proximidade


do desenlace final. Sómente assim poderá preparar-se para o
encontró com o Senhor Jesús na hora da morte; sómente assim
poderá desincumbir-se de suas responsabilidades perante a
familia e a sociedade, dispondo de seus bens, estabelecendo
ordem em suas tarefas, dando as últimas recomendagóes aos
seus íntimos. 1
Em vista disto, toca aos que assistem a um enfermo o
dever de o ajudar a tomar consciéncia da gravidade do seu
estado; a morte repentina e imprevista é considerada um mal
pela Santa Igreja, que pede na Ladaínha de todos os Santos:
«A subitánea et improvisa morte, libera nos Domine». Por sua
vez, o Santo Padre o Papa Pió XII, dirigindo-se a urna assem-
bléia de enfermeiras, lembrava que «o fato de se protelar, por
motivo de reticencias, a preparagáo do doente para a grande
passagem da eternidade poderia fácilmente tornar-se grave
culpa» (discurso de 21 de maio de 1952).
A luz déstes dizeres, verifica-se que o médico, interrogado
pelo seu cítente a propósito do respectivo estado de saúde, em
consciéncia nao pode afirmar aiguma inverdade ou recorrer á
mentira. Esta é repudiada nao sómente pela" Moral crista, mas
também pela Ética profissionalí a liceidade da mentira médica
impediría que o paciente depositasse confianca no seu clínico.

O Professor H. Péquignot atesta o seguinte:


«Num recente inquérito do qual tomei parte, íieou apurado que
a totalidade dos pacientes interrogados exigia, lhes dissesse o médico
a verdade a respeito do seu estado de saúde em casos graves. Está
claro que nutriam ilusóes a propósito da sua coragem; contudo é
evidente que os médicos n3o poderfio por multo tempo negligenciar
um desejo tao firmemente expresso» (Cahiers Laennec, L'information
medícale du public n' I 1954, pág. 34).

2) O médico tem a obrigagáo de manifestar ao doente,


a respeito do seu estado de saúde, as verdades que lhe possam
ser úteis, nao, porém, toda e qualqner verdade.

Como se vé, a obrigacáo que incumbe ao médico, de dizer


a verdade ao seu cliente, nao é irrestrita. Com efeito, muitos
dos conhecimentos do médico nao interessam ao cliente, nem
para que se trate nem para que se desincumba de suas respon
sabilidades perante o próximo. Acontece também que, por
vézes, o médico nao está seguro do seu diagnóstico ou dos seus
prognósticos, devendo, por isto, ser sobrio em suas declaragóes
ao enfermo.

Ao iníormar o doente a respeito do seu estado de saúde, o médico


deve levar em conta a fraqueza física e psíquica do mesmo; procurará,

— 515 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 5

portante, proceder segundo um método caridoso e progresslvo na


manifestado das verdades úteis ao paciente.

3) Só será licito velar a um doente a gravidade do seu


estado, caso se preveja que a noticia da prosrfmidade da morte
o fará cair nura estado de desespero ou de vida infra-normal.

Em tais casos, por respeito á personalidade do enfermo,


ou seja, a finí de que as suas faculdades características nao
sejam perturbadas pela ansia, a consciéncia crista permite dis
simular o diagnóstico; há, com efeito, pessoas que nao podem
mais viver urna vida própriamente humana, desde que saibam
estarem os seus dias contados. Vé-se destarte que, mesmo
quando se encobre a gravidade do estado ao paciente, é a
estima da personalidade humana que sugere essa dissimulagáo.

Fazendo eco á tese restritiva, há quem assim argumente: comu


nicar a um doente a gravidade do seu estado equivale a tirar-lhe
grande piarte da sua energía combativa e da sua fdrca de reacáo
contra a molestia; ademáis, em vista dos progressos da Medicina
moderna, pode-se dizer que doenca grave nao é necessáriamente doenca
mortal, como outrora acontecía. Dai deduzem alguns autores a con
veniencia de nem»sempre comunicar aos doentes os prognósticos
graves que os concernem.
Tal argumento nao deixa de ter seu peso. O médico poderá
vafler-se de tais consideracdes, contanto que o faca em consciéncia,
levando em conta os interésses sobrenaturais da personalidade do
enfermo e a necessidade que a esta incumbe, de comparecer devida-
mcnte preparada ante o Juiz Eterno.

O Prof. Jean Bernard, da Faculdade de Medicina de París, descre-


ve as mais diversas atitudes tomadas pelos doentes ao serem infor
mados da gravidade do seu estado. Citamos aqui apenas os dois
seguintes casos:
Eminente médico mandou tirar radiografías de urna de suas
pernas, na qual experimentava dores agudas. Em conseqüéncia, um
tumor maligno foi ai descoberto. Sixnulou entao ter recebido as chapas
de um amigo do interior do país, e foi mostrá-las a diversos radiolo-
gistas, pedindo-lhes indicagfies precisas sóhre a natureza maligna do
tumor e sobre o prazo de vida que se podia prever para o respectivo
sujeito. Urna vez a par de tudo, redigiu o seu testamento, confiou os
seus filhos aos cuidados de tais pessoas, os seus alunos ao zélo de
tais outras; ainda levou a termo algumas pesquisas que havia ini
ciado em seu laboratorio; a seguir, íaleceu sem dar a minima prova
de abatlmento moral durante os quatro meses de preparativos cons
cientes para a morte!
Bis, sem dúvida, o caso de um paciente que multo lucrou por
haver sido devidamente informado da gravidade do seu estado.
Nem' sempre, porém, o curso das coisas é tSo sereno. Haja vista
o episodio de um banqueiro multo feliz que, aos 50 anos de idade,
se viu acometido pela molestia de Hodgkin. Desde que o mal foi diag
nosticado, o médico assistente lho declarou com toda a franqueza.
O paciente acolheu a noticia com muito ánimo, pois mal avaliava
o alcance da doenca. Mais tarde, porém. suspeitando da gravidade

— 516 —
DIZER A VERDADE AO DOENTE?

do mal, comprou todos os livros que o podiam informar sdbre a


molestia; tendo-os lido, habilitou-se a acompanhar passo por passo
os progessos da enfermidade; foi entáo tomado de inquietado pro
funda, pois vivía analisando o seu estado e espreitando os síntomas
de piora. Assim passou dols anos, angustiado e totalmente incapaz
de tratar de suas obrigacoes. _ Neste caso, o conhecimento exato
da molestia — ao menos pela via como foi obtido — nao serviu á
personalidade do paciente; ao contrario, contribuiu para que esta
decaísse do seu nivel de vida normal.

Cf. J. Bernard, Au chevet des cancéreux, em «Cahiers Laennec»


n« 3, 1957, pág. 34.

A consciéncia do médico, portante, é que deverá em cada


caso determinar até que ponto se torna oportuno ocultar ao
paciente o que lhe diz respeito; esforcar-se-á por tratar o doente
como personalidade humana, dotada de responsabilidades e
deveres perante Deus e perante a sociedade humana; procurará
ajudá-lo a desempenhar-se de tais deveres (nao a furtar-se
a éles). Acautele-se bem o clínico, em tais casos, contra toda
e qualquer tendencia ao comodismo covarde ou ao sentimenta
lismo.

2. Reflexao final

Tende a difundir-se ñas familias cristas o costume de nao informar


o paciente ou de só o informar nos estertores da morte sdbre a
gravidade da sua sltuagáo de saúde. «Reconhecamo-lo francamente:
há nisso urna baixa da consciéncia crista. Entre cristáos, mesmo
praticantes, a fé na vida eterna... nao parece consistir apenas em
palavras que váo sendo repetidas desde o catecismo, sem que expri-
mam realmente urna crenca?» (p. j. starck, L'Eglise et le mourant,
em «Cahiers Laennec» n« 3, 1957, pág. 46s).
É particularmente lamentável o fato de que muitas familias
só chamam. o sacerdote para atender a um doente quando éste se
acha ñas últimas instancias, muitas vézes já inconsciente ou ao menos
incapacitado de falar. A assisténcia religiosa a um enfermo, longe
de surpreender, deveria, antes, reconfortar os ánimos tanto do paciente
como de seus familiares. A morte é essencialmente o encontró da
alma esposa com o Cristo Esposo, encontró que dá inicio as nupcias
da vida eterna na patria bem-aventurada. Compreende-se entáo que
há toda vantagem em que alguém conscientemente e de espirito bem
preparado se dirija a ésse encontró, mesmo que a noticia da morte
próxima lhe abrevie de alguns dias ou horas a vida presente. Nao
se Justificaría a h¡pótese contraria: deixar que alguém passe mais
alguns dias aqui na térra, inconsciente da gravidade do seu estado,
arriscando-se assim a ser visitado pelo Senhor Jesús sem a devida
preparacao. «Aqui nao se trata mais apenas de Ética médica, mas da
realidade da fé e da esperanca... Cremos ou nSo que o céu é o Bem
Supremo que possamos desejar a quem amamos? O inferno será, sim
ou nao, o sofrunento que ácima de tudo desejamos afastar da pessoa
que amamos?» (Starck, ob. cit 49).

— 517 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 6

V. HISTORIA DO CRISTIANISMO

OBSERVADOR (Belo Horizonte):

6) «Qual a atitude da Igreja Católica frente as demais


denomínameles religiosas?
Os direitos da verdad© excluem urna posicao de tolerancia
diante daquéles que nao professam a verdade?»

A tolerancia consiste em urna disposicáo de longanimidade em


virtude da qual alguém, por motivos de prudencia, deixa que outras
pessoas pensem e exprimam opinióes erróneas ou aparentemente
erróneas, opinióes que dito individuo nao compartilha. Essas opinióes
podem ser de índole filosófica, literaria, política, religiosa... Aqui
interessar-nos-áo de modo especial as opinióes religiosas.
Dividiremos as nossas consideraedes em duas partes, a primeira
das quais analisará rápidamente a mentalidade do hornera moderno
no tocante á «verdade»; na segunda etapa fixaremos os principios para
a solucáo do problema «verdade e tolerancia».

1. Genuína e falsa tolerancia

«O zélo em prol da verdade muitas vézes tetn servido de


pretexto para os mais funestos males e para a revolta das
paixoes humanas», verifica Víctor White, no artigo «Religious
Tolerance» em «The Commonweal», set. 4, 1953.

Em conseqüéncia, julgam muitos que, para evitar o desen-


I cadeamento das paixóes e proporcionar pacata convivencia dos
/ homens entre si, é preciso remover todo zélo em prol da ver-
) dade ou todo apego á verdade, principalmente no setor da
{Religiáo (pois a verdade religiosa é a que mais marca as
personalidades).
Na base de tal principio, apregoa-se a tolerancia religiosa
em nossos dias, afirmando-se que todas as confissóes tém o
mesmo valor; cria-se assim um clima de tolerancia .que.equivale.
a indiferenca 6íi mesmo desprézo para com.a verdade eque
acarreta embotamehto e preguica do espiritó.~Náo sé "i3nüte
mais criterio estável para caracterizar a verdade religiosa; a
«verdade» e o «erro», no setor da Filosofía e da Religiáo, sao
tachados como categorías subjetivas de pensamento, categorías
que podem perfectamente yariar_dg individuo a individuo.

Acontece, porém, por vézes que os cétlcos ou indiferentes em


materia de Religiáo tém as pessoas que nao sao céticas nem indife
rentes, na conta de bárbaras, infantis ou humanamente pouco evoluídas;
passam entáo a desprezá-las e repudiá-Ias, chegando a infligir-lhes
o tratamento que o homem intolerante inflige ao incrédulo. O ceti-

— 518 —
A VERDADE SERA TOLERANTE?

cismo destarte se evidencia táo intolerante quanto o fanatismo: torna-


-se «o fanatismo da dúvida».
_ Explica-se bem que tais pessoas, tao tolerantes em suas declara-
coes, venham a comportar-se de maneira fanática: sao, em última
analise, pessoas de índole particularmente dada ao fanatismo, as
quais nao encontram outro remedio para o seu fanatismo a nao
ser a desistencia de possuir a verdade; se elas aderissem a um credo
que considerassem verídico, seriam levadas a medidas extremas a
íim de implantar por íórca a sua crenca entre os concidadáos. Ora
nao há dúvida de que a tolerancia preconizada por tais pessoas é
um suicidio, intelectual e moral; urna ordem social ou democrática
que se quisesse assentar sobre o ceticismo geral, entraría num
processo de auto-destruicáo: com efeito, nenhuma sociedade pode
sobreviver sem afirmar enérgicamente os conceitos de liberdade de
justica, de lei, além de outros valores básicos da democracia.

As idéias relativistas ácima recenseadas foram ainda re-


centemente propugnadas nos EE. UU. da América pelo jurista
tcheco Hans Kelsen, arauto da «justificaeáo relativista da
democracia». Para Kelsen, democracia implica desconhecimento
ou ao menos dúvida frente a verdade, seja religiosa, se]'a
metafísica. Para ilustrar éste ponto de vista, Kelsen recorre
ao exemplo de Pilatos, que se furtou a distinguir entre «justo»
e «injusto» no processo de Jesús, lavando-se as máos em sinal
do indiferenca. Foi tambóm Pilatos quem perguntou a Cristo:
«Que é a verdade?» e, a seguir, entregou o Senhor á multidáo.
Disso concluí Kelsen que Pilatos, ignorando o que é a verdade,
apelava para o povo a fim de que éste decidisse. Pois bem;
conforme Kelsen, algo de análogo se dá em toda sociedade
democrática: o govérno deve oficialmente ignorar o que é a
verdade religiosa e metafísica; é ao povo que compete decidir;
e a decisáo se processará numa atmosfera de certa indiferenca
(chamada «tolerancia mutua») porque, em última análise,
também entre o povo ninguém sabe o que é a verdade!

Em outros termos, assim se poderia resumir o pensamento de


Kelsen:
«Todo aquéle que conhece ou aspira a conhecer a verdade absoluta
ou a justica absoluta, nao pode ser um demócrata, porque nao pode,
nem intenciona, admitir a possibilidade de outro modo de ver que
nao o seu (tido como o verdadeiro modo de ver). O metafísico e o
homem de fé sao levados a impor a sua verdade eterna aos demais
cidadáos, aos ignorantes e ao povo que nao vé. Arrogam a si o direito
de empreender a santa cruzada dos que conhecem contra os que nao
conhecem ou nao compartilham a graca de Deus. Sómente quando
estamos conscientes da nossa ignorancia do que é o Bem, é que
podemos entregar ao povo a decisao> (resumo apresentado por Helena
Silving, em «Nova et Vetera» 32 [1957] 163).

Frente a éste modo de pensar, urna observagáo se impóe:


a verdade nao exige daqueles que a professam, fagam violén-

— 519 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 6

cia física ou empreendam luta armada contra aqueles que nao


a reconhecem. Averdadeé o objeto da.inteligéncia; é, portanto,
pela inteligencia que ela tem de ser recebida e professada.
Ora os meios de constrangimento físico ficam num plano infe
rior ao da inteligencia. O homem, sendo animal racional, deve
irradiar o que éie tem de mais nobre mediante o raciocinio,
nao mediante a fórca bruta. Em particular, o cristáo sabe que
«fé constrangida é hipocrisia odiosa a Deus e aos homens»
(Cardeal Manning, f 1892); por isto, longe de empreender a
«guerra santa» entre os seus concidadáos, ele lhes apresenta,
de um lado, os argumentos que levam a verdade, e, de outro
lado, o testemunho do seu amor fraterno.
Merecem especial atencáo a éste propósito as palavras de
Pió XII:

«O dever de reprimir os desvios moráis e religiosos nao pode ser


tomado como norma suprema de acáo. Deve ser subordinado a normas
mais elevadas e mais gerais que em certas circunstancias permitem
que se imponha... como o melhor alvitre o de nao impedir o erro,
a íim de se promover um bem maior...
Um olhar para a realidade das coisas... mostra que o erro e o
pecado se encontram no mundo em larga escala. Deus os reprova; nao
obstante, permite que existam. De outro lado, verilica-se que mesmo
á autoridade humana Deus nao impós um preceito absoluto e universal
(de repressáo violenta), nem no setor da fé nem no da moral. Tal
preceito nao se encontra nem na conviccáo comum dos homens, nem
na consciéncia crista, nem ñas fontes da Revelacao nem na praxe da
Igreja. Para nao falarmos aqui de outros textos da S. Escritura...,
«Cristo na parábola do joio fez a advertencia seguinte: 'No campo
do mundo deixai crescer o joio juntamente com a boa sementé por
causa do trigo' (Mt 13,24-30)».
Donde concluí o Sto. Padre: «Primeiramente: o que nao corres-
'ponde a verdade e á lei moral, nao tem objetivamente direito á exis
tencia, nem k propaganda nem á atividade. Em segundo lugar: nao
obstante, em vista de um bem superior e maior, pode-se justificar
■ o fato de nao se impedir por leis do Estado e meios coercitivos a
existencia do mal ácima apontado» (Discurso aos juristas católicos
italianos, em 6/XII/1953).
Como se vé, a posse da verdade e, de modo particular, o reco-
nhecimento consciente da verdade religiosa nao implica em coagáo e
violencia. Pouco acertada, portanto, é a posicáo de Kelsen, que consi
dera o relativismo_e_o. ceticis,ma_religiosos como elementos essenciais
para queaUimocracia possa sobreviver. Mesmo em regime democrá
tico deve haver distincáo entre verdade e erro, aíirmacáo daquela e
repudio déste, pols tais atitudes sao exigidas pela própria natureza
intelectiva, que íoi feita para apreender a verdade e viver desta.
Repitamo-lo: querer desconhecer oficialmente a distincáo entre verdade
el erro significa suicidio ou degradacáo da natureza humana. — É
preciso, porém, acrescentar que da afirmagáo nítida de verdade e
erro nao pode decorrer violencia no tratamento de qualquer cidadáo
que seja.

— 520 —
A VERDADE SERÁ TOLERANTE?

Em resumo, fícam assim suficientemente conceituadas a


verdadeira e a falsa tolerancia:
A genuína tolerancia supóe convicgáo e otimismo, ao passo
que a falsa tolerancia implica relativismo, ceticismo e, por
conseguinte, desvirtuamento de: qualquer ideal humano;
a genuína tolerancia denota vigor de ánimo, enquanto a
falsa tolerancia é sinal de fraqueza e incompetencia;
a genuína tolerancia se traduz em zélo salvífico, ao contra
rio da falsa tolerancia, que gera indiferenga mais ou menos
cómoda e egoísta.

Passemos agora a um enunciado preciso dos principios que devem


reger a solucao do problema «verdade e tolerancia».

2. Os principios de solugao

Tais principios se reduzem ao binomio já formulado por


S. Agostinho (f430): «Errores interficite. Errantes diligite.
— Morte ao erro; amor, porém, aos que erram»; o que também
assim se pode exprimir: «Odiar o erro. Amar, porém, com toda
a sinceridade a pessoa que erra».
Tal contraste, tal associagáo de amor e odio exige alguma
elucidacáo, que vai abaixo proposta:

a) «Odiar o erro».

1. Por «erro» entende-se aqui


qualquer doutrina contraria á verdade (existe a verdade
nao sómente no setor das ciencias naturais, mas também no da
Beligiáo, verdade para a qual a inteligencia humana, racioci
nando, tem a capacidade de se encaminhar);
qualquer costume ou instituto contrario á Lei de Deus
(seja lei positiva, seja lei natural).
Nao há dúvida; em todo erro costuma haver um núcleo
ou urna ponta de verdade ou de bem. Nos casos em que isto se
dá, a consciéncia humana manda, sim, que, de um lado, se
salve tal cerne verídico ou bom, mas, de outro lado, se impega
peremptóriamente a existencia e a propagacáo do que resta,
de errado.

É o famoso escritor católico Emanuel Mounier quem observa


com muito acertó:
«Ninguém destrói o erro mediante a fórca bruta e a má fe, mas,
sim, mediante a verdade. E a verdade mals apta a remover o erro-
é precisamente essa parte de verdade que se acha prisioneira no
erro. É por causa dessa parcela de verdade que o erro vive, se propaga
e ganha os coracdes. Separando ésse núcleo de verdade do erro que
o monopoliza, dando a ésse núcleo a possibilidade de se afirmar plena-

— 521 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960. qu. 6

mente, subtrairemos ao erro o seu poder de atracáo» (cf. «Mounier


et sa génération*. Ed. du Seuil 1956).

2. A intransigencia da verdade perante o erro é sugerida pela


solene declaracao de Jesús:

«Julgais que vim trazer a paz á térra? Eu vos digo: nao vim
trazer a paz, mas a separacáo. Daqui por diante, cinco pessoas de
u'a mesma casa estaráo divididas entre si: tres contra' duas, e duas
contra tres. Estaráo divididos: o pal contra o filho, e o filho contra
o pai? a mae contra a filha, e a íilha contra a máe; a sogra contra
a sua ñora e a ñora contra a sogra» (Le 12,51-53).

O Senhor, com estas palavras, quer dizer que a verdade (e, de


modo especial, a verdade religiosa), sendo o valor máximo, se torna
um sinal de contradicáo; nSo há quem se possa dispensar de tomar
posicao diante déla, a menos que se queira rebaixar a um plano
iníra-humano (pois, lembremo-lo de novo, o homem foi íeito para a
verdade). Por isto, no interior da mesma lamilla, onde costuma reinar
unanimidade, a verdade de Cristo, apresentando-se, pode suscitar
atitudes diferentes. O Senhor nao recua diante de tal perspectiva;
nao. a julga anómala, mas, ao contrario, assevera que a tomada de
posicáo franca e decidida diante da verdade é normal e necessária.
Contuso note-se bem que, conforme a mente do Senhor, a opeáo
sugerida pela apresentacáo da verdade de modo nenhum deve implicar
em odio de uns contra os outros. Odiar o próximo por causa da
verdade é aberracáo. ""
Com efeito, o fanatismo nao é fruto da auténtica Religiáo. Ele
só se explica como efeito da fraqueza ou miseria humana: sim, os
valores mais elevados e sagrados, como sao, por exemplo, os valores
religiosos, produzem tal impressáo sobre o homem que éste, empol-
gando-se, se pode deixar obcecar pela paixao; desencadeia-sc entáo
o fanatismo como expressao do egoísmo e da vontade de predominio
que afetam radicalmente qualquer ser humano; no fanático a Religiáo
vem a ser mero rótulo para a expansáo de tendencias desregradas.
Nunca, portanto, pela violencia física se combaterá o erro, mas,
sim, pela manifestado mais pura e clara da verdade; mobilizar-se-áo
para éste fim os recursos da inteligencia, nao os da ífirca bruta.

3. A intolerancia para com o erro há de ser o apanágio


particular da Santa Igreja, pois a missáo desta aqui na térra
consiste justamente em guardar e transmitir o depósito da
verdade revelada por Deus a fim de promover a salvacáo eterna
dos homens. A tolerancia do erro, que se costuma insinuar
sorrateiramente ñas malhas da verdade, seria traigáo da Igreja
ao Senhor e constituiría válido motivo para que os homens
negassem todo crédito á Esposa de Cristo. Exigir que a Igreja
renuncie á sua propalada «intolerancia dogmática» seria exigir
que Ela renuncie a crer que está de posse da verdade (absurda
exigencia, aos olhos mesmo da sá razáo). — Nao obstante,
a Esposa de Cristo, posta em presenga do erro, pode recorrer
as normas da paciencia, aguardando o desenrolar dos acon-
tecimentos, pois as vézés o mal se dissipa por si mesmo. Sómen-

— 522 —
A VERDADE SERA TOLERANTE 7

te em casos de obstinagáo comprovada, a Igreja recorre a


sancóes, e sanc.6es de índole espiritual.

,,«. ^als s^nc3es sao a excomunháo, a suspensáo de ordens e o inter-


dito (cf. can. 167 8 1 n. 4; 731 8 2; 795, n. 2; 2314-16; 2339; 2372),
penas estes de foro externo apenas; visam a situagáo jurídica do
fdelínqueme perante a Igreja, sem significar condenacao ao inferno-
,a Igreja, excomungando, por exemplo, nao decide a sorte postuma
do reu, mas apenas declara que nao pertence á sua comunhao visivel
aiguem que previamente se separou déla, professando de maneira
voluntaria e obstinada idéias contrarias ás da RevelacSo crista.

Particularmente em se tratando do serio problema da uniáo


dos cristáos, compreende-se que a Santa Igreja nao possa acei
tar transagóes com as confissóes náo-católicas, fazendo conces-
sóes em materia dogmática; o dogma nao pertence nem á
Igreja nem a alguma entidade déste mundo, mas é patrimonio
divino confiado a Esposa de Cristo. Em conseqüéncia, esta
zela para que seja conservado como bloco granítico, no qual
nenhuma brecha pode ser tolerada.

O Concilio do Vaticano exprimía muito bem a mente da Igreja


ao afirmar:
«A doutrina da fé revelada por Deus nao foi proposta ao espirito
humano como doutrina filosófica que o homem tivesse de aperfeicoar,
mas foi confiada á Esposa de Cristo como depósito divino que Ela
deve conservar fielmente e apresentar sem erro algums> (Denzinger,
Enehiridion 1800).
Consciente disto, a Igreja repetirá sempre ao mundo as palavras
de Sao Pedro:
«Julgai vos mesmos se é justo diante de Deus obedecer a vos
mais do que a Deus. Quanto a nos, nao podemos deixar de falar>
(At 4,19s).
Táo absoluta intransigencia frente ao erro há de ser acompanhada
na Igreja pela caridade. Dai a segunda norma enunciada por S.
Agostinho:

b) «Amar aos que erram».

Dois sao os fundamentos desta regra:


aa) o cristáo está obrigado a respeitar o direito que a
cada criatura humana compete, de procurar livremente a ver-
dade. A profissáo da verdade, especialmente da verdade reli
giosa, há de ser um ato livre, jamáis sujeito a ser extorquido.
O Código de Direito Canónico prescreve, nao seja batizado algum
adulto, sem que o saiba e queira (can. 752); observa outrossim que
ninguém deve ser constrangido a abracar a fé católica (can. 1351).

bb) Além disto, o preceito da caridade se impóe também


aqui. Se o discípulo de Cristo tem obrigagáo de amar até os

— 523 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960, qu. 6

inimigos, nao há dúvida de que deve nutrir a mesma disposicáo


para com aqueles que erram e cometem o mal.

Eis como o Concilio de Trento, dirigindo-se aos pastores de


almas, lhes explanava os deveres da caridade para com todos os
homens:

«Lembrem-se de que foram constituidos pastores, e nao perse


guidores; deyem proceder em relacáo aos seus súditos de tal modo
que a superioridade nao degenere em prepotencia altiva; amem-nos,
considerem-nos como seus filhos e irmáos e empenhem-se zelosamente
por desviá-los do mal mediante suas exortac.5es e seus bons conselhos,
a lim de que nao se vejam obrigados a recorrer aos castigos neces-
sários aos que caissem em faltas. Caso, porém, aconteca que seus
súditos se deixem por fragilidade humana arrastar ao pecado, os
bispos observaráo o preceito do Apostólo: repreendé-los-áo, admoes-
tá-los-áo e trataráo de os reerguer á custa de muita bondade e paciencia
(cí. 2 Tim 2, 24s); íreqüentemente mais valem para a correcáo dos
pecadores os testemunhos de afeto do que o rigor, mais a exortacáo
do que a ameaca, mais a caridade do que a fórca. Mas, se a culpa
fór grave a ponto de se tornar necessária a vara, temperarao a auste-
ridade com a brandura, a justica com a misericordia, a severidade
com a benignidade, de modo que, de um lado, seja conservada a
disciplina... e, de outro lado, se emendem os que tiverem sido punidos,
ou, se estes nao se quiserem emendar, sejam os demais desviados do
vicio pelo salutar exemplo dos castigos. Com efeito, é dever de um
pastor vigilante e, ao mesmo tempo, caridoso empregar, para curar
as molestias de suas ovelhas, em primeiro lugar os remedios suaves
e, a seguir, se a gravidade do mal o exigir, recorrer aos medicamentos
mais fortes e violentos; caso estes de nada sirvam, entáo, mediante
a separacáo das ovelhas, procurará impedir a contaminacáo das
sadias» (sess. XIII, De reform. c. 1).
De maneira geral, dever-se-á dizer que nenhum tipo de polémica
ofensiva ao próximo poderá ser inspirado ou empreendido em nome
da auténtica Religiáo.

Destas duas grandes normas aqui propostas deduzir-se-áo


na prática cotidiana ulteriores principios para regrar a tole
rancia dos católicos ñas suas relagóes com os náo-católicos.
Essas ulteriores prescrigóes seráo sempre dependentes de duas
virtudes: prudencia c caridade; poderáo variar de acordó com
as circunstancias contingentes que caracterizam cada caso ou
situagáo.

Um setor no qual a Sta. Igreja costuma fazer apelo direto e


pfemente á consciéncia de cada um dos seus filhos, é o setor dos
casamentos mistos (casamentos de urna parte católica com outra
náo-católica): dada a importancia capital que deve tocar á Religiáo
na conduta de vida de todo ser humano, compreende-se que nao
convém se unam pelos íntimos lagos do matrimonio pessoas de credos
diferentes; entre outros perigos dai decorrentes, aponta-se o relati
vismo que em muitos casos impregna o lar, fazendo que a prole se
torne mais ou menos indiferente á Religiáo. É o que explica que a
Igreja, em tese, proiba a seus filhos tais matrimonios (cf. can. 1060;

— 524 —
A VERDADE SERÁ TOLERANTE?

1064s; 1071); em casos de excecáo, porém, ela os tolera, concedendo a


respectiva «dispensa do impedimento» aqueles que em consciéncia
julguem ter motivos para pedi-la.
Sabe-se que, ao outorgar tal licenea, a Igreja exige do cónjuge
náo-católico prometa deixar ao católico ampia liberdade para praticar
a sua Religiáo; ambos deveráo outrosslm comprometer-se a só se
casar conforme o rito católico e a mandar batizar e educar toda a
prole na Igreja Católica.
Dir-se-á talvez que por esta cláusula a Igreja ultrapassa seus
direitos, impondo a um náo-católico atitude contraria ás suas convic-
coes. Tenha-se em vista, porém, o liame que prende a Igreja a seus
filhos; ela tem o poder e o dever de proteger a fé de seus fiéis; por
conseguinte, se um déstes pede favor excecional, toca a autoridade
eclesiástica formular as condicoes que ela julgue necessárias ao bem
do fiel católico; a parte náo-católica será assim atetada, mas indireta-
mente apenas, ou seja, pelo fato de querer entrar em relacoes matri
moniáis com um membro da Igreja.
Outros temas de aparente intolerancia já foram abordados em
«P. R.»; assim a Inquisicáo, em «P. R.» 8/1957, qu. 9; Joana d'Arc,
em 8/1958, qu. 9; os Templarios, em 16/1959; qu. 7; a noite de Sao
Bartolomeu, em 1/1958, qu. 12.

Á guisa de resumo e conclusáo de quanto ácima dissemos,


váo aquí citadas as palavras muito claras de J. Maritain:

«Trate-se de ciencia, metafísica ou religiáo, o homem que diz:


'Que é a verdade?', como Pilatos disse, nao é homem tolerante, mas
um traidor do género humano. Só há tolerancia real e auténtica,
quando alguém está firme e absolutamente convicto de uma verdade
ou do que ele tem como verdade e quando, ao mesmo tempo, reco-
nhece áqudles que negam essa verdade, o direito de existir, de lhe
contradizer e de exprimir o seu modo de pensar próprio. Isto,... nao
porqué tais homens nao tenham a obrigacáo de aceitar a verdade,
mas porque éles procuram a verdade por suas vias próprias e porque
o discípulo da verdade respeita néles a natureza humana e a dignidade
humana — ... natureza humana e dignidade humana mediante as
quais élesf poderao um dia atingir a verdade» (Tolérance et vérité,
em «Nova et Vetera* XXXII [1957] 166).

CORRESPONDENCIA MIÚDA

LORENZI (Sao Paulo) : O amigo pergunta se o título de "Igreja


Romana" constituí uma das características essenciais da Igreja de Cristo.
— A Ipreja de Cristo ou a Igreja Católica (universal) tem entre as
suas características essenciais o fato de estar fundada, por designio
divino mesmo (cf. Mt 16, 17-19), sobre um alicoree visível, que é Pedro
(o qual, como se compreende, é sustentado, por sua vez, pelo próprio
Cristo, fundamento invisível da Igreja ; cf. 1 Cor 3,11).
Em conseqtténcia, a Igreja de Cristo é necessáriamente petrina.
1. Pergimta-se agora: Pedro onde terá estabekcido a sua sade de
pastor de almas ?
— Fixou-a em Roma. É o que a tradigáo incute por meio de inscrigóes
arqueológicas e textos literarios, desde o primeiro sáculo da Igreja até

— 525 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 36/1960

hoje. É também o que corroboram as recentes escavacóes levadas a efeito


em Roma no local apontado como "túmulo de Sao Pedro" (os documentos
da Tradicáo e os resultados da arqueología contemporánea já foram ana-
lisados em "P.R." 13/1959, qu. 2-4 e 14/1959, qu. 3). Torna-se assim
bem compreensível que a Igreja de Cristo, a qual é Igreja petrina, seja
também Igreja Romana.
A Igreja é, sim, Igreja Romana porque a fungió de alicerce visível,
confiada primeiramente a Pedro, nao se pode ter extinto com a morte
déste Apostólo ; em tal caso, o edificio visível da Igreja teria ficado
sem o respectivo fundamento : haveria entáo perdido a sua consistencia,
teria desmoronado... Por conseguirte, a missáo de fundamento visível
se transmitiu e vai transmitindo aos sucessores de Pedro na cátedra de
Roma, fazendo que se perpetué a expressáo "Igreja Católica Romana".
Como se vé, o título de "Romana" nao tem que ver com nacionalismo
nem com preponderancia partidaria dentro da Igreja Santa ; a sua ori-
gem está ñas próprias notas constitutivas da Igreja que Cristo fundou.
É claro que essa característica ("Romana") nao constituí algo que de
antemáo, anteriormente ao estudo da historia, se pudesse prever como
nota niévente e essencial da Igreja de Cristo. Tal nota depende, antes,
de um livre e positivo designio da Sabedoria Divina, a qual poderia ter
disposto de outro modo o curso dos acontecimentos da historia, mas na
realidade nao o dispós de outro modo... — A Providencia podia, sim,
ter feito que Pedro fixasse finalmente sua Sé episcopal em Antioquia, em
Jerusalém ou em Alexandria. Em tais casos, a única Igreja de Cristo,
sendo sempre petrina, ficaria sendo conseqüentemente "antioquena",
"jerosolimitana" ou "alexandrina" ; na verdade, porém, Ela é "romana",
porque o_Espirito Santo, que de modo especial guiou os Apostólos na
propagagáo do Evangclho, dirighi definitivamente os passos de Pedro
para Roma.
2. Passemos agora a um aspecto secundario da questáo, aspecto a
propósito do qual fica a cada fiel a liberdade de opinar.
a) Os mais abalizados teólogos af.irmam que o sucessor de Sao
Pedro na chefia da Igreja universal (ou seja, o Santo Padre o Papa)
deverá sempre conservar o título e as atribuicóes de bispo de Roma. Por
motivos acidentais ou extraordinarios, porém, poderá acontecer que nao
resida em Roma. Foi, alias, o que se deu na Idade Media, de 1305 a 1376,
durante o chamado "exilio de Avdnhfio": os Papas, detendo o seu cargo
de bispos de Roma e pastores da Igreja universal, residiram entáo na
cidade francesa de Avinháo.
Era termos técnicos, essa sentenca ensina : nao pode haver mudanca
de sede, mas pode haver mudanca de residencia do Papado ; onde quer
que residam, os Papas ficarño sendo sempre os bispos de Roma. Caso a
cidade de Roma venha um día a ser destruida, os sucessores de Pedro
ficaráo sendo por direito os bispos de Roma ; só deixariam de o ser «o
realidade pelo fato de haver sido destruida a cidade.
b) Ao lado dos teólogos que assim pensam, existe pequeño grupo,
menos abalizado, ao qual se deve a seguinte opiniáo : se um día a sede
episcopal de Roma desaparecer (por ruina da cidade ou invasáo de
agentes do Anticristo), o Papa deixará, por direito mesmo, de ser bispo
de Roma, podendo entáo f icar sem sede episcopal própria ou escolher outra.
Em última análise, a divergencia entre as duas sentencas é sutil e
de pouca importancia atual.
Na ordem de coisas agora vigente, os principios ácima expostos le-
vsm qualquer fiel cristáo a proclamar, de acSrdo alias com urna decla-
racáo do "Syllabus" de Pió IX (18(54), que "nunca um decreto de con
cilio universal ou a vontade comum dos povos poderá transferir o Sumo

— 526 —
CORRESPONDENCIA MIÜDA

Pontificado, inerente ao bispo e á cidade de Roma, para outro bispo e


outra ddade" (cf. Denzinger, Enchiridion 1735). Segundo a sentenca
mais comum, deve-se mesmo dizer que nem ao próprio Papa seria lícito
separar da sé de Roma as funcóes de Supremo Pastor da Igreja (cf. L.
Billot, De Ecclesia Christi 591 ; Ch. Journet, L'Église du Vevbe Incarné
I. París 1941, 527).

UMASSINANTE (Curitiba): As afirmacóes do Antigo Testa


mento tém que ser lidas á luz do Novo Testamento, pois, conforme S.
Agostinho, "o Antigo Testamento é patente no Novo, e o Novo Testa
mento ó latente no Antigo". As Escrituras Sagradas de Israel cncami-
nhavam os fiéis para a plenitude da Revelagáo em Cristo. Nessa cami-
nhada, consoante a sua sabia pedagogía, o Senhor Deus tolevava no
povo do Antigo Testamento algumas conceptees rudimentales (nao erró
neas nem pecaminosas, mas infantis e pobres), concepcóes que Israel
hoi-ilara dos povos antigos do Oriente v que Deus nao quís corrigír mila
grosamente ou por via brusca ; aos poucos, sob a influencia pedagógica
¿o Senhor Deus (exercida principalmente por meio dos profetas), Israel
deveria aprimorar e foi de fato aprimorando ésses conceitos primitivos.
Sendo assim, vé-se que nao nos é lícito usar de um texto do Antigo
Testamento independentemente do seu contexto, ou abstracto feita das
circunstancias em que foi redigido, a fim de tirar désse texto o argu
mento para urna tese que queiramos estabelecer a nosso gósto. — Tais
principios se aplicam em particular á doutrina da ¡moitalidade da alma,
o;:jo ampio alcance o povo de Israel nao peroebeu desde os seus pri
mordios ; é sómente nos livros de Daniel, da Sabedoria e dos Macabeus
(séc. II/I a.C.) que o povo judaico mostra ter clara 1105S0 de vida
consrinnte após a morto, ressui reigáo da carne e justa retribuigáo. Cf.
K. IMlcnruui'l, I'ara "iiii-nder 11 Antigo Testamento (ed. Aílílt), cap. XII.

SÓNIA (Cam¡ios): A rospeito do existencialismo v de Sartre, veía


"P.R." 22/1950, qu. 1.

FAMINTO (E. S.): Nao há dúvida, a S. Eucaristía exeree efeitos


benéficos nao sómente sobre a alma, mas tamben» sobre o corpo do
comungante :
1) Em relasao a éste, ela é, antes do mais, antídoto da concupis
cencia desreglada, concorrendo para amainar as tentacáes provenientes
de más ind.inac.oes contraídas por heranca ou por efeito de culpas passa-
das do individuo.
2) A Eucaristía pode ter também agáo benéfica sobre a saúde
dn corpo, na medida (é claro) em que esta concorra para o bem da
alma do comungante. Ésse subsidio para o corpo, a Igreja o faz pedir
em algumas de suas ora?óes oficiáis :
"Seja-me éste sacramento protegáo para a alma o puní » corpo",
dizem o celebrante da S. Missa e cada um dos fiéis na preparado ¡me
diata para a Comunháo.
"Purificai, Senhor, e renovai benignamente as nossas almas me
diante o sacramento celeste, a fim de que consigamos também o auxilio
necessário para o corpo no presente e no futuro" (Postcomunháo do
domingo XVI após Pentecostés).
3) Contudo é principalmente em vista da ressurreic.áo final da
carne que a Eucaristía exeree atualmente sua agáo sobre os corpos.
Colocando na carne mortal de cada comungante a carne ¡mortal e glo
rificada do Senhor, ésse sacramento vem a ser como que urna sementé
de imortalidade para o cristáo peregrino na térra (cf. Leáo XIII, ene.
"Mirae caritatis").

— 527 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS.- 36/1960

Cada comunhSo estabelece dcstaite novo vinculo entre o corpo ¡mor


ral de Cristo e o corpo mortal do cristáo, confer.indo a éste como que
novo titulo para vencer as enfermidades da carne com Cristo e como
Cristo,
D. ESTÉVAO BETTENCOURT O. S. B.

A TODOS OS NOSSOS LE1TORES E AMIGOS FIQUEM AQUÍ


EXPRESSOS OS NOSSOS MAIS EFUSIVOS VOTOS DE BOM
NATAL E FELIZ ANO NOVO.

"EM TI ESTA A FONTE DA VIDA,


E SOB A LUZ DE TUA LUZ VEREMOS A LUZ !"

(SI 35,10).

A DIREQÁO DE "P.R.".

Dado o elevado custo da vida atual, comunicamos nova tabela de


pregos de "P.R.", baseada ñas estritas necessidades de cobrir as des
pesas da revista. Gratos pela benevolencia que sempre nos dispensaran!
os leitores.

Assinatura anual de 1961 Cr? 200,00


Assinatura anual de 1961 (via aérea) Ci$ 250,00
Número avulso de 1961 Cr$ 20,00
Número de ano atrasado Cr$ 25,00
Colecáo encadernada de 1957 Cr$ 320,00
Colecto encadernada de 1958, 1959, 19G0 . . Cr$ 450,00 (cada)

"Volta as fontes" Cr$ 10,00


"Centelhas" Cr$ 20,00 (cada)
"Plano de leitura da Sagrada Escritura" .. CrS 30,00

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
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Calxa Postal 2666 R. Real Grandeza, 108 —Bofafogo
Bio de Janeiro Tel. 26-1832— Río de Janeiro
1960

ÍNDICE
ÍNDICE 1960

<Os números á direita indicam respectivamente fascículo, ano de


edicáo, questüo focalizada e paginagáo)

ABORTO TERAPÉUTICO 25/1960, qu. 4, pág. 26.


ACAO DE GRACAS, após a Missa .. 35/1960, corr. muida, pag. 483.
ADAO E EVA, seu pecado ¡¡Si &1%S%S e 329.

^SffíSS^-^^ 33/1960. qu. 1. pág. 362.


AGLUTINOGÉNIO 25/1960, qu. 4. pag. 29
ALMA HUMANA 33/1960, qu. 6, pag. 389;
E CORPO 26/1960, qu.3, pág. 57;
INTELECTIVA NO EMBRIAO .. 25/1960, qu. 4, pág. 28. '
AMAR OS QUE ERRAM ^SS1 qUl 5' P?g- 5??'
ANALGÉSICOS, seu uso 34/1960, qu. 4, pag. 417.
ANGLICANISMO (episcopado e sa- .
cerdócio) 25/1960, qu. 6, pag. 38.
ANJOS BONS E MAUS NO ISLA-
MISMO 33/1960, qu. 6, pág. 389.
ANTICONCEPCIONISMO 25/1960, qu. 4, pág. 25.
ANTtGONE 35/1960, qu. 1, pág. 445.
ANTIINTELECTUALISMO EX AGE-
RADO 25/1960, qu. 1, pág. 6.
ANTI-SEMITISMO 25/1960, qu. 1, pág. 4.

EMG¡rr° AS CRIATURAS 26/1960, qu. 4, pág. 62.


APARICAO DO MESSIAS. a primoira 25/1960, qu. 3, pág. 20.
APELATIVOS DO MESSIAS 25/1960. qu. 3, p&g. 17
APÓCRIFO 35/1960, qu. 3, pág. 460.
ÁRABE, ANTIGÁ RELIGIAO 33/1960, qu. 6, pág. 388.
ARISTÓTELES E O DIREITO 3oA960, qu. 1, pág. 445.
ARTE E MORAL, relacóes 23/1?3 qU-1' P?g' ll\
ASSUNCAO DE MARÍA 3^/1^S> qU' «' P^ ít
ATIVIDADE ARTÍSTICA 25/1960, qu. 5, pág. 35.
ATO SEXUAL 25/1960, qu. 4, pág. 25.
AUTO REGULACAO ''.'..'. 33/1960, qu. 1, pág. 356.
AUTORIDADES CIVIS. CIENCIA E
BEM COMUM 26/1960, qu. 6, pág. 72.
AVICENA 26/1960, qu. 3, pág. 58.
AZAR..'.'.'.'.'.'.'..'....'. 27/1960. qu. 1, pág. 91.

1í!í&otodrerededseEJo ...::::::::: S^S SI Sí if


TS DOSM°RTOS 3/ ■"• * **■

— 2 —
BEM-AVENTURANCA NATURAL DO
HOMEM 28/1960, qu. 3, pág. 140.
BERGSON, HENRI 25/1960, qu. 4, pág. 65.
BIBLIA E CIENCIAS N ATURÁIS 26/1960, qu. 4, pág. 65.
BOM EXEMPLO 34/1960, qu. 5, pAg. 425.
BRUNO, GIORDANO •.. 32/1960, qu. 7, pág. 347.

CADÁVERES, DISSECACÁO DE 29/1960, qu. 6, pág. 218.


CALVINO 36/1960, qu. 2. pág. 498.
CAMINHAR DO HOMEM j^AulA A
FRENTE 35/1960, qu. 4, pág. 465.
CAMINHO DA CHUü 26/1960, qu. 8, pág. 80.
CAPITALISMO E IGREJA 30/1960, qu. 1, pág. 229.
CARATER HUMANO DO MESSIAS .. 25/1960, qu. 3, pág. 19.
CASTIDADE PRÉ-NUPCIAL 36/1960, qu. 4, pág. 506.
CENSURA DAS OBRAS DE ARTE ... 25/1960, qu. 5, pág. 37.
CERTEZA DA SALVACAO ETERNA 32/1960, qu. 5, pág. 333.
CHAMADO DE DEUS 25/1960, qu. 1, pág. 8.
CIENCIA E RELIGIAO 26/1960, qu. 1, pág. 48;
INFUSA (dom da) 28/1960, qu. 3, pág. 142;
MODERNA 36/1960, qu. 1, pág. 487.
«CIENTIFICISMO» 35/1960, qu. 1, pág. 5.
CIRCUNCISAO 30/1960, corr. miúda, pág. 263.
CLAUSURA RELIGIOSA 27/1960, qu. 6, pág. 124.
COEDUCACAO de meninos e meninas 28/1960, qu. 6, pág. 157.
COLABORACAO DO SACERDOTE E
DO PSIQUIATRA 36/1960, qu. 1, pág. 491.
COLOQUIOS DE DEUS COM O HO
MEM, narrados na Biblia 30/1960, qu. 5, pág. '241.
COMPARACAO ENTRE AS VIRTUDES 32/1960. corr. miúda, pág. 351.
COMPETICÁO, estado de 30/1960, qu. 5, pág. 210.
CONCENTRACOES RELIGIOSAS .... 27/1960, qu. 6, pág. 124.
CONCORDISMO 29/1960, qu. 5, pág. 210.
CONDENACAO DE GIORDANO
BRUNO 32/1960, qu. 7, pág. 347.
CONDENADOS A MORTE E MÉDICO
PESQUISADOR ." 26/1960, qu. 6. pág. 75.
CONFIANCA NA AUTO-CRÍTICA .. 27/1960, qu. 5, pág. 118.
«CONFISSOES» de Santo Agostinho 25/1960, qu. 5, pág. 36.
CONHECIMENTO DA VOCACAO .... 25/1960, qu. 2, pág. 9.
CONSELHOS EVANGÉLICOS 25/1960, qu. 2, pág. 11.
CONSEQÜÉNCIAS DO PECADO DE
ADAO .' 28/1960, qu. 3, pág. 139.
CONTINENCIA PERFEITA 36/1960, qu. 4, pág. 506.
CONTRADICAO EM Mt 25, 29? 34/1960, qu. 3, pág. 405.
CORPO HUMANO, estimacao crista do 30/1960, qu. 2, pág. 231.
CORPOS DE HENOQUE E DE ELIAS 27/1960, qu. 3, pág. 105.
CORPO MORTAL E CORPO RESSUS-
CITADO 26/1960, qu. 2. pág. 53.
CORRENTES DE ORACOES 27/1960, qu. 1, pág. 91.
COSMOLOGÍA DOS ANTIGOS JUDEUS 26/1960, qu. 4, pág. 65.

— 3 —
CRIACÁO DO MUNDO EM SEIS DÍAS .... 26/1960, qu. 4 pac 62"
OU EVOLUCAO? 29/1960 qu. l pág. 179-
SUCESSIVA E ETER.MDADE 30/1960, qu. 4, pág 245
CRITERIOS DE VOCACAO 25/1960 qu 2 nal 11
CULTO DAS RELIQUIAS 29/1960, qu. 3, pág." 194.
CURANDEIRISMO 32/1960, qu. 2, p&g. 317;

36/1960, qu. I, pág. 488.


DARVVI.N 29/19G0, qu. 1, pág. 179.
-DECRETO GELASIANO 35/1960. qu. 3, pág- 459.
DEMONIO E SUPERSTIQAO 27/1960. qu. 1. pág. 95
DERRAMAMENTO DE SAL XA MESA .... 27, 1960. qu 1. pág 9Ü
DESCARTES 25/1960, qu. 1, pág. 5.
DESESPERO DA SALVACAO 25/1960 qu 2 pág 14
DEUS E O PECADO 36/1960, qu. 2, pág. 497.
DIACONISTAS 27/1960, qu. 2, pág. 100.
DIGNIDADE REGIA DO MESS1AS 25/1960, qu. 3, pág 17
DIREITO DE VIVER DA MAE E DO FILHO 25/1960, qu. 4, pág. 28.
DIREITO CANÓNICO E RELIQUIAS 29/1960, qu. 3, pág. 202-
NATURAL 35/1960, qu. 1, pág. 443;
POSITIVO 35/1960, qu. 1. pág. 444.
DISCERNIMENTO DAS VOCACÓES 25/1960, qu. 2, pág. 11
DISCIPLINA DO ARTISTA 25/1960, qu. 2, pág. 33.
DISSECACAO DE CADÁVERES 29/19(50, qu. 6. pág. 218.
DISTINCAO DAS TRES REGIÚES DO UNI
VERSO 26/1960, qu. 4, pág. 65:
ENTRE A IGREJA E OS SEUS FILHOS 32/1960, qu. 7, pág. 351.
DIVERGENCIA ATUAL DE TRENCAS RE
LIGIOSAS 28/1960, qu. 7, pág. 1G7.
DIVINDADE DE JESÚS CRISTO 25/1960, qu. 3, pág. 23.
DOENCA, sen significado para o cristáo . . . 30/1960, qu. 3, pág. 241;
DE SAO PAULO 29/1960, qu. 4, pág. 203;
DO CORPO E CONSCIÉNCIA MORAL 32/1960, qu. 4, pág. 311;
PSICO-SOMÁTICA 35/1960, qu. 4, pág. 468.
DOGMA DA ASSUNCAO DE MARÍA 35/1960, qu. 3, pág. 458.
DOGMÁTICA ISLAMÍTICA 33/1960, qu. 6, pág. 389.
DOMESTICACAO DO ANIMAL E EDUCA-
CAO DA CRIANCA 33/1960. qu. 2, pág. 366.
DONS SOBRENATURAL 2S/19ÍU), qu. 3, pág. 139;
PRETERNATURAL 28/1060, qu. 3. pág. 148:
DO ESPIRITO SANTO 28/1960, qu. 3, pág. 141;
33/1960, qu. 3, pág. 372.
DURACAO REAL, segundo Bergson 25/1960, qu. 1, pág. 5.

EDUCACAO DA FÉ 34/1960, qu. 5, pág. 424.


EDUCADORES CATÓLICOS E VOCACAO
SOBRENATURAL 25/1960, qu. 2, pág. 15.
EINSTEIN E PROBLEMA DE DEUS 26/1960, qu. 1, pág 48
ELIAS «ARREBATADO» AOS CÉUS 27/1960, qu. 3, pág 105
ENDOCRINOLOGÍA 36/1960, qu. 4, pág. 508.

— 4 —
-ENTRE DOIS MUNDOS», livro 31/1960, qu 6 pá" ">54
ERITROBLASTOSE 25/1960 q\, 4 pág. 30
ESCÁNDALO 34/1960 qu 5 páf 420
ESCOLA MISTA Is/im o ' 6 pá" 157
ESCOLHA DO ESTADO 25/1960 qu 5 pág 9
ESPIRITO CRÍTICO 27/1960 qu ? Sal" 118
ESPIRITUALIDADE DA CLAUSURA 27/1960, qu. 6. pá« 12á"
IIÍSdo^pXrXdisíacó •:::::::::::: SS; ;uu: í: gf: S
ESTATURA ERECTA DO CORPO HU-

::: S
ESTILO DA NARRATIVA DA CHÍA-
CAO DO MUNDO 26 1960. qu. 4, pAe 62
ETERNIDADE E TEMPO 30/1960, qu. -l! pá". 244
EUTANASIA 34/1960, qu. 1, pin: 410.
EVOLUCIONISMO 26/1960. c!u. 1, pág\ 50.
EXEGESE ANTIGA E EXEGESE MO-

S™:::::::::::::;::::;:: %^Zl$¿™
EXISTENCIALISMO 35/1960, qu. 1 pág. 447
EXPERIMENTACAO MÉDICA 26/1960, qu. 6, pág 71
EXTREMA-UNCAO 33/1960, qu. 1, pág. 362;
corr. miúda, pág. 396.

FALHAS DA NATUREZA E EXIS


TENCIA DE DEUS 32/1960. qu. 3. pág. 326.
FAMILIA DE JESÚS 25/1960, qu. 3. pág. 15.
FARISAICO. ESCÁNDALO 34 1960, qu. 5, páí'. 426.
FATOR RELIGIOSO E ANOMALÍAS
PSÍQUICAS 36/1960, qu. 4, pág. 513.
FATOR RH 25/1960. qu. 4, pág. 29.
FAQUIRES 33/1960. qu. 4, pág. 377.
FÉ E nOAS OBRAS 32/1960. qu. 6. pág. 341.
FENÓMENOS SUPERSTICIOSOS .... 27/1960, qu. 1, pá" 91
FERRADURA DE CÁVALO 27 1960, qu. 1, pág. 96.
FETO. ORGANISMO AUTÓNOMO ... 25 1960. qu. 4 pág. 2S.
FIDELIDADE AO CHAMADO DIVINO 25/1960, qu. 2. pac. 10.
FONTF.S DO GftNESIS 26/1960, qu. 5, páf. 70.
FORMA K MATKIUA 2(¡/líK¡0, <¡n 2, |i:i«' 5t
FRANKL, VÍCTOR 36-' 1960. (¡u. 1, pág. 18!).
FREUD E RELIGIAO 36/1960, qu. 1. páp. 487.
FUNDAMENTOS BÍBLICOS DO CUL
TO DAS RELIQUIAS 29/1960, qu. 3, pág. 195;
DO DIREITO NATURAL .. 35 1960. qu. 1, pág. J4S;
DO DOGMA DA ASSUNCAO 33 ■1960. qu 2. pág I.M

«GELASIANOn DECRETO 35 1960. qu. 3, pág. 459.


GÉNERO LITERARIO 29/1960. qu. 5, pá^ 215
GIORDANO BRUNO 32/1960, qu. 7, pág. 347.'
, GRACA SANTIFICANTE 28/1960, qu. 3, pág. 141.
i GRAFÍA DOS CURANDEIROS 32/1960, qu. 2, pág. 323.
'GRAVIDEZ FORA DO MATRIMONIO 25/1960, qu. 4, pág. 27.
GRÓCIO. HUGO 35/1960, qu. 1. pág. 446.

HABITO MONÁSTICO 26/1960, qu. 8, pág. 80.


HAECKEL 26/1960, qu. 1, pág. 49.
HARMONÍA DENTRO DO PRÓPRIO HOMEM 28/1960, qu. 3, pág. 139.
HEDIONDEZ DO PECADO 36/1960, qu. 2, pág. 495.
HENOQUE 27/1960, qu. 3, pág. 105.
HENRIQUE VIII da Inglaterra 25/1960, qu. 3, pág. 39.
«■HEXAÉMERON> 26/1960, qu. 4, pá". 62.
HIGIENE E DOENCA 30/1960, qu. 3, pág. 240
HISTÓRICO DA CLAUSURA RELIGIOSA .. 27/1960, qu. 6, pág. 124;
DA DEVOCAO DA VÍA SACRA 26/1960, qu. 8, pág. 81.
HOBBES, THOMAS 35/1960, qu. 1, pág. 446.
HORAS CANÓNICAS 26/1960, qu. 8, pág. 80.
HULME. KATHRYN 31/1960, qu. 6, pág. 294.
HUMANISMO 35/1960, qu. 1, pág. 445.
HUYSMANS. JORIS CARL 36/1960, qu. 1. pág. 489.

IDENTIDADE ESPECÍFICA E NUMÉRICA


DO CORPO 2f./infiO. qu. 2, pág. 52.
IGREJA CATÓLICA o domáis donominacoos
religiosas 36/1960, qu. 6, pág. 518;
E PROGRESSOS DAS CIENCIAS 32/1960, qu. 7, pág. 347.
ILUMINACAO REPENTINA DO ESPIRITO 25/1960, qu. 2, pág. 12.
IMORTALIDADE (dom da) 28/1960, qu. 3, pág. 142.
TMPASSIBILIDADE fdom da) 28/1960, qu. 3, pág. 142.
IMPULSO VITAL 25/1960, qu. 1, pág. 5.
ÍNDICE DOS LIVROS PROIBIDOS 27/1930, qu. 5, pág. 118.
INDIVIDUALISMO E SUBJETIVISMO 35/1960, qu. 1. pág. 446.
INDIV1DUOS-MONSTROS 32/1960. qu. 3, pág. 326.
INFALIBILIDADE DA IGREJA 29/1960, qu. 5, pág. 216.
INFERNO 31/1960, qu. 4, pág. 2S7.
INSPIRACAO BÍBLICA 26/1960, qu. 5, pág. 70.
INSTINTO E INTELIGENCIA 33/1960, qu. 2, pág. 362.
INSTRUMENTO DE TRABALHO 33/1960, qu. 2, pág. 36S.
INTELIGENCIA E INSTINTO 33/1960, qu. 2. pág. 362.
INTENCAO DO AUTOR SAGRADO DO
GÉNESIS 2G/1960. qu. A, pas- «5.
INTERÉSSES DA CIENCIA E A MEDICINA 26/19G0, qu. 6, pág. 72.
INTERPRETACAO DO GÉNESIS 29/1960, qu. 5, pág. 208.
«INTRANSIGENCIA» etn Mt 12. 30 36/1960, qu. 3, pág. 501.
INTUICAO OU CONSCIÉNCIA 25/1960, qu. 1, pág. 5.
IRMAOS SIAMESES 34/1960, qu. 1, pág. 400.
ISLAMISMO 33/1960, qu. 6, pág. 3S5.
ISAÍAS PROFETA 25/1960, qu. 3, pág. 19.

— 6 —
J

JANSENISMO
qu. 7, pág. 254.

tigo
^L profeciasdoAn:
Testamento 2=í/i£}fin mi 3 ns» 10
iMp part «J/ioou, qu. d, pag. 19.

SgfsTÍs^OMANÓS- E O DÍREITÓ $3» ^ 1,' & Jf


K

KATHRYN HULME 31/1960 oit 6 dAp 2Q4


KITCHEN, bispo de Llandaff \ 25/l%a $.' J pí|.' 39

LAGRANGE, MARIE-JOSEPH 29/1960 au 5 náe 212


LEGITIMIDADE DO SERVICO MILI- q P g'
J^R 34/1960, qu. 6, pág. 429.

LIBERDADE 31/1Q(?n nn 4 n-iS 9Q«


lícito e ilícito 20/1000 a\" (; S?S" -r
LIMITACAO DA NATALIDADE .'. '. '. '. 25/lMO" qu 4 pte 2^'
L1NGUAS HUMANAS E TORRE DE 0/ JW¡ qU> 4l paí" Jl'
LINHAEGLEM DE SEM ".'."! i! ] [ [ [ \ ¡¡'AS Jí 35' gf" íf'
LITURGIA E SIMBOLISMO .........' 28/1960,' JÍÍ! S, gf" í|9-
LIVROS APÓCRIFOS S/ÍIS' qu' 3* gf' 4¡í:
BÍBLICOS INSPIRADOS POR Q 'P g' '
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^KÜIBIDOS
26/1960. qu. 5, pág. 70;
27/1960 nu T nárr TR
LUGAR DO NASCIMENTO DOMES- ^í/19bü-fl"-3, pág. 18.
SIAS 25/1960, qu. 3, pág. 18.

MACONS EM ATOS DA LITURGIA DA


IGREJA 33/1960. corr. miúda, pág. 395.
MANIFESTACOES DE' DÉüs" AO H¿- 32/196° 3 á 326
o do ' me-ssías •::::: UÍS % ¡- gf-
MANUAIS DE HISTORIA SAGRADA 26/1960,', qü.'
q 4' Sf"
Sf 62
MAO DO HOMEM E SIMBOLISMO .. 33/1960, qu.A, páf.' 466.
— 7 —
MARITAIN, JACQUES — sua doutrina 33/1960, corr.miúda, pág. 394;
35/1960, qu.l, pág. 450;
36/1960, qu. 2, pág. 501.
MASSORÉTICO. TEXTO DA BIBLrA 31/1960, eor.r. miúda, pág. 308.
MASTURBACAO 35/1960, qu. 5, pág. 472.
MATERIA E FORMA 26/1960, qu. 2, pág. 54;
PRIMEIRA E MATÉRrA SEGUNDA 26/1960, qu. 2, pág. 55.
MATERNIDADE DIVINA 35/1960, qu. 2, pág. 455.
MATEUS PARKER. sua sagracáo .. . 25/1960, qu. 6, pág. 39.
MATRIMONIO E PROLE 25/1960, qu. 4. pág. 25.
MECANICISMO DA SORTE HUMANA 31/1960, qu. 1, pág. 271.
MEDICINA OCULTISTA 32/1960. qu. 2, pág. 317;
E RELIGIAO 36/1960. qu. 1, pág. 487.
MÉDICO CATÓLICO 25/1960, qu. 4, pág. 28;
E DOENCA 32/1960, qu. 1. pág. 315;
E PACIENTE 26/1960, qu. 6, pág. 73.
MENSAGEM CRISTA 36/1960, qu. 2, pág. 499;
DO «HEXAÉMERON • 26/1960, qu. 4, pág. 68;
DO ISLAMISMO 33/1960, qu. 6, pág. 385;
DE LA SÁLETE 28/1960, corr. miúda, pág. 175.
MENTALIDADE DO ESTILITA 27/1960, qu. 6, pág. 127;
DO HOMEM SUPERSTICIOSO .. 27/1960, qu. 1, pág. 98;
JANSENISTA 30/1960, qu. 7, pág. 254.
MESSIÁNICAS PROFECÍAS 25/1960, qu. 3, pág. 15.
MESSIAS. FILHO DE UMA VIRGEM 25/1960, qu. 3, pág. 18;
PRIMEIRA E SEGUNDA VINDA 25/1960, qu. 3, pág. 20.
METAFÍSICA DO AMOR 25/1960, qu. 1, pág. 7.
MÉTODO DE ESTUDO E TRABALHO 27/1960, qu. 5, pág. 123.
METRIOPATIA 30/1960, qu. 2, pág. 237.
MILITAR, SERVICO . 34/1960, qu. 6, pág. 42!).
MISERIA DO HOMEM E FÓRCA DE
DEUS 31/1960, qu. 7, pág. 305.
MISERICORDIA DE DEUS 31/1960, qu. 4, pág. 287.
MISSA, POSICOES DOS FIÉIS NA .. 28/1960, qu. 8, pág. 169.
MISSAO TERRESTRE DO MESSIAS 25/1960. qu. 3, pág. 19.
MISTERIO DA SALVACAO ETERNA 32/1960, qu. 5, pág. 333.
MÍSTICA 33/1960, qu. 3, pág. 371.
MODERNISMO 29/1960. qu. 5, pág. 211.
MODO SOBRENATURAL DO CONIIE-
CIMENTO 33/1960, qu. 3, pág. 372.
MOLESTIAS MORTAIS 32/1ÍKÍ0, qu. I, pá«. 315.
MONOTEÍSMO ISLAMlTIOO 33/1960. qu. (i, pág. 3S7.
MONSTROS HUMANOS 34/1960, qu. 1. pág. 399.
MORAL CATÓLICA FRENTE Á SI-
TUACAO RH 25/1960. qu. 4, pág. 31;
CATÓLICA E SERVICO MILITAR 34/1960, qu. 6, pág. 436;
sua definicáo 25/1960, qu. 5, pág. 35;
DO EVANGELHO 25/1960, qu. 1, pág. 7;
MAOMETANA 33/1960, qu. 6, pág. 390;
DO OBSTETRICISTA 25/1960, qu. 4, pág. 29;
E RELIGIAO DINÁMICA 25/1960, qu. 1, pág. 5.
MORTE APARENTE E MORTE REAL 33/1960, qu. 1. pág. 359.
MORTIFICACAO CRISTA E ASCESE
PAGA 30/1960, qu. 6, pág. 250.
MOSTEIRO DE «PORT-ROYAL> 31/1960, qu. 7. pág. 300.
MULTIFORME GRACA DE DEUS .. . 33/1960, qu. 3. pág. 372.
N

NACIONALISMO 31/1960 qu 1 r>á¡? 270


NATURAL. SOBRENATURAL E PRE- ÓU1JW' qU'l' pag' 2í0-
TERNATURAL 28/1960 qu 2 Dáe 136
NATUREZA CAÍDA, MAS RESGATADA 28/1960 qu 3pág 145-
"V^ANA 35/1960, qu.l, pág! 448.'
NEUROSES 32/1960, qu. 1, pág. 313;

NORMAS DA IGRE.TA S6BRE O CUL- 36/1960> ^ *' "** ^


TO DAS RELIQUIAS 29/1960, qu. 3. pág. 194
NOSTALGIA DO DIVINO 27/1960 qu 1 pá" 95
NULIDADE DAS ORDENARES AN-
GLICANAS 25/1960, qu. 6, pág. 11.
NUMERO SETE. simbolismo 25/1960 qu 4 pá" 63-

nutr,caotueze ::::::::::::: SSS Sí i Ú t.

OBEDIENCIA DO MESSIAS 25/1960, qu. 3 pac 20


OBJETO DO CONTRATO MATRIMO- '
NIL 25/1960, qu. 4, pág. 25.
ODIO DO ERRO 36/1960, qu. 6, pág. 521.
ORACAO E VOCACAO 25/1960, qu. 2 pág. 15"
E PERSEVERANQA FINAL 32/1960, qu. 5, pág 337
ORDEM NATURAL o ativiclades mis-
tí'riosax ;ia Rraca 25/1960, qu. 2. dAr. 11;
SOBRENATURAL 25/1960, qu. 2, pá« S
ORDENAQÜES ANGLICANAS 25'1960, qu. 6. pá" 40
«ORDINARIO DO LUGAR» 29/1960, qu. 3, pág. 202 (nota).
ORGULHO DO SÉCULO XX 31/1960. qu. 2. pág. 279.

PACIENTE E DOENCA 32/iftfiO. qu. 1, |)á¡>. 31(»


I'AIXAC) K (¡I.OlíIKlCACAO DO SK-
N11OR JESÚS 25/ l!)(J0, ()u.:;. i.áj.'. 21.
PALAVRA FALADA E PALAVRA ES
CRITA 27/1960, qu. 5. pág. US.
PARAÍSO E DONS DA GRACA 28/1980. qu. 3, pág. 139
PARAPSICOLOGÍA 36 1960. qu. 1, pág. 487.
PATRIA DO MESSIAS 25/1960. qu. 3, pág. 15.
PAULO, SAO, E SUA DOENCA 29/1960, qu. 4, pág. 203.
«PAZ CLEMENTINA» 31/1960, qu. 7, pág. 304
PECADO 36/1960, qu. 2. pág. 494;
DE ADAO E EVA ' 32/1960, qu. 3. pág. 139;
32 1960, qu.3e4, pág.326e329.
PENA DE MORTE 26/1960, qu. 6. pág. 75.
PEREGRINACAO EM MINIATURA . . 26/1960, qu. 8, pág. 80.
PERFEICAO ESPIRITUAL 34/1960, qu. 3, pág. 409.

' — 9 —
PERFEITO DOMINIO (dom de) 28/1960, qu. 3, pág. 143.
PERSEVERABA FINAL 32/1960, qu. 5, pág. 333.
PESSIMISMO EM RELACAO AO COR-
PO HUMANO 30/1960, qu. 2, pág. 233.
PESSOA DOENTE 36/1960, qu. 1, pág. 493.
PESSOAS RAZOAVEIS 36/1960, qu. 1, pac. 494.
PIÓ XI E- A VOCACAO SOBRENATU
RAL 25/1960, qu. 2, pág. 11.
PIÓ XII E O DESCOBRIMENTO DO
FATOR «RHESUS» 25/1960, qu. 4, pág. 32;
E A DOENCA 36/1960, qu. 6, pág. 493;
E A VERDADE 36/1960, qu. 6, pág. 520.
PITAGORISMO 30/1960, qu.2, pág.232.
PLATAO 30/1960, qu.2, pág. 232.
POBRES E ESPÓRTULAS DE MISSA 30/1960, corr. miúda, pág. 262.
«PORT-ROYAL» 31/1960, qu. 7, pág. 300.
POSIOÓES DOS FIÉIS DURANTE A
MISSA 28/1960, qu. 8, pág. 169.
POSITIVISMO JURÍDICO 35/1960, qu. 1, pág. 447.
POSSIBILIDADE DE PECAR 36/1960, qu. 2, pág. 496.
PRECURSOR (SAO JOAO BATISTA) 25/1960, qu. 3, pág. 21.
PRIMADO DA ACAO E DOS VALO
RES PRATICOS 31/1960, qu. 2, pág. 278.
PROCESSOS HIPNÓTICOS E LETÁR
GICOS 28/1960, qu. 3, pág. 21.
PROCLAMACAO DOS «DIREITOS DO
HOMEM» 35/1960, qu. 1, pág. 450.
PRODUCAO DOS HABITANTES DAS
TRES REGIOES DO UNIVERSO .. 26/1960, qu. 4, pág. 65.
PROFECÍAS MESSIÁNICAS 25/1960, qu. 3, pág. 19.
PROLIFERACAO 33/1960, qu. 1, pág. 356.
PROPAGACAO DA ESPECIE HUMANA 25/1960, qu. 4, pág. 25.
PROPRIEDADE PARTICULAR 31/1960, qu. 1, pág. 269.
PRUDENCIA E CARIDADE 36/1960, qu. 6, pág. 524.
PSICANALISE 36/1960, qu. 1, pág. 487.
PSICOLOGÍA DO CURANDEIRO .... 32/1960, qu. 2, pág. 318.
PSICO-SOMATICA, MOLESTIA 32/1960, qu. 1, pág. 311;
35/1960, qu. 4, pág. 468.
PSIQUIATRÍA 36/1960, qu. 1, pág. 487.

QUALIDADE DO ARTISTA 25/1960, qu. 5, pág. 38.


QUEBRA DE ESPELHO 27/1960, qu. 1, pág. 96".

RACIONALISMO 25/1960, qu. 1, pág. 5.


RACISMO 34/1960, corr. miúda, pág. 437.
REALIDADE HUMANA E O ARTISTA 25/1960, qu. 5, pág. 38.
REENCARNACAO E RESSURREICAO 26/1960, qu. 3, pág. 57.
«REFLEXOS CONDICIONADOS» 27/1960, qu. 1, pág. 98.

— 10 —
RELIGIAO, conceito de Bergson 25/1960, qu. 1, pág. 6:
E CULTO DIVINO 31/1960, qu. 2, pág. 280;
DE MAOMÉ E EVANGELHO .... 33/1960, qu. 6, pág. 388;
E MEDICINA 36/1960, qu. 1, pág. 487;
E VERDADE 31/1960, qu. 2, pág. 276.
RELIQUIAS SAGRADAS 26/1960, qu. 2, pág. 57.
REPARACÁO DO ESCÁNDALO 34/1960, qu. 5, pág 420
REPOUSO, BÉNCAO FINAL 26/1960, qu. 4, pág. 66;
SEMANAL 26/1960, qu. 4, pág. 67.
RESPEITO AO CORPO HUMANO .. 35/1960, qu. 4, pág. 463.
RESPONSABILIDADE DA VOCACAO 25/1960, qu. 2. pág. 11.
RESSURREICÁO DOS DEFUNTOS NO
DÍA DA MORTE DO SENHOR .. 33/1960, qu. 5, pág. 383;
GERAL DOS CORPOS 26/1960, qu. 2, pág. 51.
RETIDAO (dom da) 28/1960, qu. 3, pág. 142.
REVELACÁO INTELECTUAL IME-
DIATA 30/1960, qu. o, pág. 249;
PUBLICA E REVELAQÁO PAR
TICULAR 27/1960, qu. 1, pág. 94;
E TRADICAO 35/1960, qu. 2, pág. 452.
«RH» NO SANGUE 25/1960, qu. 4, pág. 25.
«ROMANCE IDEOLÓGICO» 27/1960, qu. 5, pág. 120.
«ROPETRICK» 33/1960, qu. 4, pág. 392.
ROSACRUCIANISMO 31/1960, corr. miúda, pág. 307.

SALVACAO DAS MENINAS NO AN-


TIGO TESTAMENTO 30/1960, corr. miúda, pág. 263;
DAS ALMAS 25/1960, qu. 2, pág. 14.
SANGUE RH 25/1960, qu. 4, pág. 29.
SANTIDADE, TIPOS DE 30/1960, qu. 2, pág. 238.
SARTRE, JEAN-PAUL 35/1960, qu. 1, pág. 447.
SAÚDE E HIGIENE 30/1960, qu. 3, pág. 240.
SEMBLANTE TRANSLÚCIDO 35/1960, qu. 4, pág. 465.
SEPARACAO DA VIDA HUMANA .. 27/1960, qu. 6, pág. 126.
SERVICO MILITAR E IGREJA 34/1960, qu. 6, pág. 429.
SIAMESES, IRMAOS 34/1960, qu. 1, pág. 400.
SIMBOLISMO DO CORPO HUMANO 28/1960, qu. 1, pág. 170;
DOS NÚMEROS DO HEXAÉME-
RON 26/1960, qu. 4, pág. 60.
SIMPATÍA INTELECTUAL 25/1960, qu. 1, pág. 6.
SINAIS DE PERSEVERANCA FINAL
NO BEM 32/1960, qu. 5, pág. 339.
SOCIALISMO 31/1960, qu. 1, pág. 267.
SUGESTIONABILIDADE 32/1960, qu. 2, pág. 311.
SUPERSTICAO 27/1960, qu. 1, pág. 98.

TEMPERAMENTO E VOCACAO .... 25/1960, qu. 2, pág. 13.


TEMPO E ETERNIDADE 30/1960, qu. 4, pág. 244.
«TENTAR A DEUS» 25/1960, qu. 2, pág. 14.
■TESTAMENTO ESPIRITUAL DE '"■
■ BERGSON 25/1960, qu. 1, pág. 5. 'y;?^%&
TESTEMUNHA DE ADONAI 31/1960, qu. 5, pág. 293." ' '-",
TESTES PSICOLÓGICOS 25/1960, qu. 2, pág. 11.
TEXTO MASSORÉTICO DA BIBLIA 3171960, corr. miúda, pág. 308.
«THEOTÓKOS» 35/1960, qu. 2, pág. 455.
TIPOS DE SANTIDADE 30/1960, qu. 2, pág. 238.
«TOLERANCIA» EM Me 9, 40 36/1960. qu. 3, pág. 504.
TOLERANCIA RELIGIOSA 36/1960, qu. 6, pág. 518.
TORRE DE BABEL E ORIGEM DAS
L1NGUAS 28/1960, qu. 5, pág. 150.
TRADICAO DOS ESCRITORES CRIS-
TAOS 35/1960, qu. 2. pág. 454.
«TRANSITUS MARIAE» 35/1960, qu. 2,.pág. 461.
TREVO DE QUATRO FOLHAS 27/1960, qu. 1 pág. 97.
TRIBO DE JUDÁ 25/1960, qu. 3, pág. 16.

ULTIMO FIM DO HOMEM 25/1960 qu. 2, pág. 77.


UNCAO DOS DOENTES 33/1960, qu. 1, pág. 362;
corr. miúda, pág. 396.
UNIDADE FÍSICA E UNIDADE MO-
RAL 26/1960, qu. 6, pág. 74.

'y' VARRAO, escritor romano 27/1980, qu. 1, pág. 92.


■?-. VERDADE E CONDUTA PESSOAL .. 31/1960, qu. 2, pág. 279;
.' AO DOENTE SOBRE SEU ESTA-
•■ DO DE SAÚDE 36/1960, qu. 5, pág. 514;
E TOLERANCIA 36/1960, qu. 6, pág. 512.
V . VERÓNICA 27/1960, qu. 4, pág. 112.
VERRUGAS, cura pela sugestüo 28/1960, qu. 1, pág. 135.
VERSOS MNEMOTÉCNICOS DE WIL-
LIAM WEY 26/1960, qu. 8, pág. 83.
VÍA SACRA DO SENHOR 26/1960, qu. 8, pág. 80.
VIDA MÍSTICA 33/1960, qu. 3, pág. 371;
E SENSIBILIDADE 35/1960, qu. 4, pág. 469.
VIDA POSTUMA NO ISLAMISMO .. 33/1960, qu. 6, pág. 389.
VIRGINDADE DE MARÍA 35/1960, qu. 2, pág. 455.
VIRTUDES INFUSAS 28/1960, qu. 3, pág. 141.
VISAO MERAMENTE INTRÍNSECA 30/1960, qu. 5, pág. 248.
VOCACAO 25/1960, qu. 2, pág. 8.
VONTADE SALV1FICA UNIVERSAL
DE DEUS 29/1960, qu. 2, pág. 189.
VOTOS SOLENES E VOTOS SIMPLES 27/1960, qu. 6, pág. 124.

— 12 —

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