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10.08.

07 - BRASIL

Pecado estrutural e as boas intenções

Jung Mo Sung *

Adital -
Uma das grandes novidades teóricas da Teologia da Libertação (TL) foi o conceito
de "pecado estrutural". De início, falava-se na "dimensão social do pecado" para
mostrar que todo pecado - ainda visto como algo pessoal - tinha implicações e
impactos na sociedade na medida em que as pessoas são também seres sociais -
vivem na sociedade - e suas ações afetam a vida social. Depois o conceito evolui
para "pecado social" para mostrar que há situações sociais que são de pecado e
também para indicar que há pecados que são cometidos pela própria sociedade
ou por grupos sociais, e não apenas por indivíduos. Paralelamente ao uso da
noção de pecado social, surgiu a de "pecado estrutural" revelando que há
estruturas sociais, econômicas, políticas ou culturais que são pecaminosas -
produzem sofrimentos, opressões, o mal - pelo próprio funcionamento da sua
lógica, quase que independente das intenções das pessoas envolvidas nestas
estruturas.
Deixe-me dar um exemplo para melhor compreendermos a idéia do pecado
estrutural. Em uma sociedade escravista, por melhor cristão que seja o fazendeiro
senhor de escravo, e por melhor que ele trate os seus escravos seguindo os bons
conselhos de um bom padre ou de pastor, a relação de escravidão é má,
pecaminosa. Mas, o pior é que, em uma economia escravista, este fazendeiro
cristão não pode prescindir de escravos. Pois sem escravos não há produção, na
medida em que não há trabalhadores assalariados neste sistema social. O caráter
pecaminoso desta estrutura econômico-social independe da boa ou má intenção
ou do grau de honestidade das pessoas. É claro que faz alguma diferença na vida
concreta de um escravo se o seu dono é uma pessoa violenta ou não, mas a
situação fundamental não muda.
Este conceito foi uma grande novidade porque tradicionalmente - desde os tempos
antigos até o surgimento das teorias sociais modernas - acreditava-se que a forma
como a natureza e a sociedade funcionam vinha diretamente da vontade divina,
de forças sobre-naturais ou da própria natureza. Sendo assim, ninguém
questionava a ordem natural das coisas e todos viam a ordem social também
como uma forma de ordem natural. Por isso, diante do mal, toda atenção recaía
sobre a intenção ou a santidade ou a moralidade das pessoas envolvidas.
Neste tipo de teoria moral e social centrada na intencionalidade subjetiva, o único
caminho para construir uma boa sociedade é educar ou converter todas as
pessoas para que aceitando o seu lugar e a sua missão dentro da ordem natural
das coisas ou da vontade divina agissem de modo correto e adequado. No fundo é
a idéia de que se mudarmos o coração e a mente de todas as pessoas, o mundo
será bom e justo.
A TL questionou esta visão de mundo e da sociedade e, com a noção de
pecado estrutural, mostrou que além das mudanças pessoais é preciso mudar
também as estruturas econômicas, políticas e culturais da sociedade e a forma de
organizar e funcionar das principais instituições. Por isso é que na década de 1970
e 80 se falava bastante em "revolução" (não necessariamente algo violento) para
mostrar a necessidade de transformações estruturais profundas.
Eu estou retomando este tema aqui porque tenho a sensação de que este
conceito de pecado estrutural está meio desaparecido entre setores da TL e do
cristianismo de libertação.
Alguns exemplos para justificar esta minha impressão. Por ocasião dos
escândalos de corrupção que atingiram o governo Lula e a diversos dirigentes do
Partido dos Trabalhadores (PT), a maioria das críticas ao PT e ao governo Lula
feita pelos setores da "esquerda cristã" foi centrada na noção de ética pessoal.
Criticou-se muito a falta de "ética" e do compromisso com o povo por parte destas
pessoas, como se a estrutura de funcionamento e de organização do PT, da
administração federal e da política nacional não tivesse nenhum peso importante
no processo.
Diante de tantos problemas sociais e ambientais que afetam o nosso povo, muito
do que se escreve se concentra em criticar a má intenção ou a falta de boa
vontade política dos dirigentes políticos e da elite do país; ou então, apelar para a
boa vontade das pessoas, chamado-as para a indignação através de denúncias e
mais denúncias (muitas vezes sem análise das causas e das alternativas
possíveis), seguidos de apelos "morais". Em alguns casos, uma imaginação
poético-romântica sobre o futuro ocupa o lugar de projetos de sistemas
econômico-sócio-políticos e, assim, não fornecem quase nenhuma pista sobre
como será a nova estrutura social e como podemos construí-las.
A noção de pecado estrutural indica que, na dinâmica social, as boas ou más
intenções não são suficientes para determinar as conseqüências das ações
individuais e sociais. Existe uma estrutura social dominante que limita e condiciona
as possibilidades e as conseqüências das nossas ações (sem esquecermos dos
limites e possibilidades colocados pela própria natureza). Na prática isto significa
dizer que boas intenções ou vontade política não são suficientes, que há uma
diferença entre a intenção da ação e os seus resultados; e entre o que "deveria
ser" e o que "pode ser".
Há aspectos da nossa vida e da sociedade que podemos mudar para melhor
mesmo antes das transformações estruturais; mas há outros que não podemos
antes destas grandes transformações nas principais instituições da sociedade e da
própria estrutura sócio-política. Por isto, precisamos trabalhar de uma forma
articulada em vários espaços e níveis e com perspectivas de tempo adequadas
para cada um deles. Tudo isto, sem esquecermos que há também coisas boas e
desejáveis que estão além da nossa condição humana e da história. Perseverar
na luta dentro destas contradições e frustrações tem a ver com sabedoria
espiritual.
• Professor de pós-graduação em Ciências da Religião

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?idioma=PT&cod=28977 acessado em
23/02/2009 às 13:32 h.

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