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GERAIS
❚ BADERNA
DETENTOS DE DELEGACIA NO CARLOS PRATES, NOROESTE DE BH, ABREM BURACO EM PAREDE DA CELA,
PEGAM ARMAMENTO, DESTROEM DELEGACIA, TROCAM TIROS COM POLICIAIS E LEVAM VIATURA
Redução de público
Presos roubam armas espelha decadência
e fogem após tiroteio
LANDERCY HEMERSON
Uma troca de tiros entre poli-
ciais e presos rebelados da 4ª De-
legacia Distrital, ontem à tarde,
deixou em pânico, novamente,
moradores da rua Rio Espera, no
bairro Carlos Prates, Noroeste da
capital. Em pouco mais de um
mês, é a segunda fuga que acon-
tece na unidade policial com de-
tentos armados enfrentando de-
tetives de plantão. Oito consegui-
ram escapar ontem, levando nu-
ma viatura um policial sob mira
de armas, além de tentarem fa-
zer refém uma criança de dois
anos durante a fuga.
De acordo com o advogado
Luciano do Carmo Moura, vizi-
nho da delegacia, por volta das
14h teve início a troca de tiros.
“Só percebi quando um policial,
escondido atrás de um carro es-
tacionado na rua, tentava conter
os presos. Apenas com uma pis-
tola, ele enfrentou vários deten-
tos armados com escopetas e me-
tralhadoras. Ele só não morreu
por milagre”, disse o advogado,
que contabilizou nove marcas de
tiros de grosso calibre no veículo
e nos muros das casas.
Muito abalado, o detetive
❚ VIOLÊNCIA
Mistério cerca morte
de enfermeira em BH
A Polícia Civil deve iniciar
esta semana as investigações
sobre a morte misteriosa da
técnica em enfermagem Ercília
Trindade Moreira da Silva, de
21 anos. Ela morreu na sexta-
feira, no Hospital de Pronto-So-
corro João XXIII, três dias após
ter tido 70% do corpo queima-
do. A família, que somente
prestou queixa do desapareci-
mento da moça no dia do seu
falecimento, diz desconhecer
qualquer motivo que levasse al-
guém a cometer tamanha bar-
baridade e quer empenho da
polícia na apuração do caso.
Na terça-feira passada, Ercí-
lia saiu do apartamento no San-
ta Amélia, na Pampulha, onde
mora com o primo e o irmão
mais velho, no final da tarde pa-
ra mais um plantão na Santa Ca-
ESTADO DE MINAS - SEGUNDA-FEIRA, 13 DE OUTUBRO DE 2003
MARCAS
Vários carros foram alvejados. Insegurança deixa vizinhos apavorados
Eduardo, que trocou tiros com os
rebelados, não quis falar sobre a
fuga. Seu colega Paulo Venâncio,
que depois de enfrentar os presos
foi rendido e levado como refém,
contou que teve uma arma colo-
cada contra seu pescoço. “Em
maior quantidade, eles me pega-
ram quando acabou minha mu-
nição. Fui obrigado a entrar na
viatura com os oito foragidos e só
consegui escapar quando eles pa-
sa, região Leste da cidade, e não
voltou mais. Ela foi encontrada
na rua Goitacazes, em frente ao
número 1.647, no Barro Preto,
região Centro-Sul - uma região
comercial, que fica deserta à
noite -, e levada para o HPS por
uma equipe de resgate.
No hospital, o prontuário de
Ercília foi preenchido com seu
nome completo, somente com
uma troca no sobrenome, nome
dos pais e número de identida-
de. Porém, junto aos pertences
da jovem, que foram entregue à
mãe, Marlene Trindade Silva,
não havia nenhuma documenta-
ção. Fato que causou descon-
fiança em Marlene, que ainda
não acredita no acontecido. “Mi-
nha filha era perfeita, sempre
estava presente. Era a conselhei-
ra das primas. Não faz sentido
GIL LEONARDI
raram para tomar um carro de
assalto”, recordou Venâncio.
Os oito detentos escaparam
por um buraco aberto na parede
da cela 1, que abrigava 16 inter-
nos. A passagem aberta dava
acesso à área administrativa da
delegacia, que foi destruída pelos
rebelados. Eles arrombaram os
armários e pegaram armas de
grosso calibre e coletes. Em se-
guida, acuaram os dois policiais
GIL LEONARDI/REPRODUÇÃO
Ercília morreu após ser achada
com 70% do corpo queimado
uma morte desta forma.”
Ercília estava terminando o
curo de técnica em enfermagem
e fazia um estágio na Santa Ca-
sa. Seu sonho era cursar medi-
cina. E poderia ser realizado no
ano que vem se não fosse a tra-
gédia. Seu pai, Luiz Moreira da
Silva, havia conseguido dinheiro
para custear a faculdade da fi-
lha. Mas nem mesmo teve a
oportunidade de contar a novi-
dade para Ercília.
de plantão a tiros e roubaram a
viatura Uno placa HMG 1744.
ROTA DE FUGA
Na fuga, eles se dividiram em
dois grupos, um com cinco inte-
grantes, que tomaram de assalto
o Vectra GNU 1722, abandonado
durante perseguição policial no
bairro Goiânia, Nordeste de BH.
Os outros três criminosos leva-
ram um Fiat Tipo, abandonado
ainda na região do Carlos Prates.
Em seguida pegaram o Corsa
GML 5583, obrigando o casal que
estava no carro a deixar seu filho
de dois anos e seis meses. A mãe
da criança enfrentou os foragidos
e tirou o menino pela janela da
porta de trás. Os detentos troca-
ram de veículo no Centro, levan-
do uma caminhonete Nissan,
abandonada próximo à favela Pe-
dreira Prado Lopes.
De acordo com o delegado Ar-
len Bahia, da 4ª DP, a carceragem
abrigava 51 presos, embora sua
capacidade seja para 12. No dia 5
de setembro 21 detentos fugiram
da unidade policial depois de ata-
carem dois policiais, que ficaram
feridos. Desde então, estava pre-
vista para segunda quinzena des-
te mês a desativação da cadeia.
❚ ESTRADAS
Um morto e
vários feridos
em acidentes
Em João Pinheiro, a 380
quilômetros da capital, na
região Noroeste do Estado,
uma pessoa morreu em um
acidente durante a madru-
gada. O motorista da carre-
ta Scania placa QWI 6444
perdeu o controle do veícu-
lo, que saiu da pista e depois
tombou. De acordo com a
Polícia Rodoviária Federal, o
caminhoneiro, que não ha-
via sido identificado, deve
ter dormido ao volante.
Quatro pessoas se envol-
veram em outro grave aci-
dente, ontem, na BR-040, no
sentido Rio de Janeiro. Uma
tentativa de ultrapassagem
resultou no capotamento
que destruiu o Gol placa GOI
5646. Gumercindo José do
Carmo, de 61, que dirigia o
veículo, Elaine Cristina Al-
ves do Nascimento, de 23,
Bárbara Martins Silva, de
10, e Elza Alves Moreira, de
54, feridos, foram levados
para o Hospital João XXIII,
no início da tarde.
Outras sete pessoas fica-
ram gravemente feridas e
levadas para o Hospital Pú-
blico de Betim nos dois aci-
dentes na BR 381, altura
dos km 473 e 487, em Be-
tim, Região Central.
❚ FESTA DO DOZE
CELEBRAÇÃO REÚNE APENAS 4 MIL PESSOAS
LUIZ FERNANDO CAMPOS
De Ouro Preto
A tradicional comemoração
de aniversário da Escola de Mi-
nas da Universidade Federal de
Ouro Preto (Ufop), que este ano
completou 127 anos, regada a
bailes e homenagens aos ex-
alunos, cada vez mais perde es-
paço para as festas nas repúbli-
cas e a farra de rua que deixa a
Praça Tiradentes tomada por
jovens à procura de diversão. A
Festa do Doze, em Ouro Preto,
a 95 quilômetros de Belo Hori-
zonte, região Central do Estado,
é o retrato da decadência de
uma data que sempre foi desta-
que no calendário da cidade
histórica, e hoje mais se asse-
melha a um Carnaval. Este ano,
um dos reflexos foi a antecipa-
ção das festividades da Escola
de Minas – que homenageou os
formandos de engenharia de
1953 e 1978, com o jubileu de
ouro e de prata, respectivamen-
te – para o dia 4 último.
Mas, desde 2001, o assassi-
nato da estudante Aline Soares
Silveira, de 18 anos, encontra-
da morta no cemitério da Igre-
ja da Mercês de Cima, a movi-
mentação nas ladeiras vem
perdendo popularidade. Con-
forme o major Marcos Antônio
Janeiro, comandante da 8ª
Companhia Independente da
Polícia Militar de Ouro Preto, o
número de freqüentadores vem
caindo ano a ano. Se em 2002
o município recebeu cerca de
FIM DE FESTA
Na Praça Tiradentes, estudantes tentam manter clima de Carnaval
Repúblicas atraem turistas
Nas mãos de Renata, Ali-
ne, Sérgio, Tânia e Rodnei, to-
dos entre 19 e 21 anos e estu-
dante de 2º grau no bairro
Cardoso, região do Barreiro,
em Belo Horizonte, garrafas
de vinho, cachaça e batida de
frutas. A turma, que passava
o dia de ontem para “curtir” a
Festa do Doze, junto à aglo-
meração de pessoas no Cen-
tro Histórico, queriam liber-
dade. “Aqui a gente conhece
pessoas novas e ninguém te
discrimina. Quem quiser po-
de beber, pode fumar, e tudo
fica numa boa”, desabafa-
ram. A pista de dança da re-
pública Masmorra, na rua Di-
reita, fervia com a entrada e
10 mil pessoas, a festa, ontem,
não ultrapassou os 4 mil visi-
tantes. “É uma festa oficiosa
que nada mais tem relação com
sua origem de confraternização
de ex-alunos da Ufop. Além dis-
so, não há o apoio da comuni-
dade”, comentou.
Cerca de 200 policiais fize-
ram, desde sexta-feira, o patru-
lhamento na cidade, espalha-
dos por todos os bairros para
coibir atos de violência. Um re-
forço de 40 homens foi enviado
pela 1ª Companhia de Missões
Especiais, com sede em Conta-
gem, Região Metropolitana de
BH. Major Janeiro informou
que, durante os três dias de co-
memoração, foram realizadas
operações preventivas, batidas
e entrega de folhetos sobre a
origem da Festa do Doze.
Foram registradas poucas
ocorrências, segundo o militar,
entre elas a apreensão de duas
armas de fogo, prisão de um
traficante da região, o “Brown”,
com 3 quilos de maconha, e o
furto de uma carteira e de um
carro Fusca, que posteriormen-
te foi localizado pela polícia. O
tapógrafo James Nonato Val, de
43, natural de Juiz de Fora, na
Zona da Mata, e há 19 morador
de Ouro Preto, conta que, por
sua tradição, a festa deve ser
mantida, mas não como vem
ocorrendo. “Ela traz benefícios,
mas atualmente tem trazido
problemas de vandalismo com
pessoas que só querem saber
de bagunça”, opinou.
JAIR AMARAL
saída de visitantes. Um seguran-
ça fazia o controle na porta, por
onde só podiam passar hóspedes
e mulheres. Um dos moradores,
o estudante do 5º período de en-
genharia geológica da Ufop, An-
derson Arcanjo, contou que, des-
de sexta-feira, foram recebidos
15 turistas, a maioria da capital,
interior e Rio de Janeiro.
“É a minha primeira Festa do
Doze e estou adorando o entra e
sai de mulheres”, comentou o
hóspede carioca Diego Terry, et-
nógrafo de 25, que une a farra
com um estudo que faz sobre as
repúblicas de Ouro Preto. Sobre
a mudança na data da festa da
Ufop, Anderson acredita que a
decisão colabora para o enfra-
quecimento da festa. “Não justifi-
ca, pois a festa quer promover
justamente o convívio entre os
ex-moradores de repúblicas e vi-
sitantes”, afirmou. Alguns alunos
da Escola de Minas disseram, no
entanto, que a mudança da data
se deu por causa de um congres-
so médico que aconteceu durante
o fim de semana, com cerca de 3
mil profissionais, o que deixou os
hotéis lotados.