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Alberto Vieira, Mernl~roda Acacleini;~Poit~igicrsaclc I-Iistóiia

e Iiiveitiçador do Ceiitro cle Estiiclos d e IIistória do Atlâiitico


o Vinho
Alberto Vieira
o Vinho
Alberto Vieira
GRANDES PATROCINADORES PATROCINADORES OFICIAIS

ANXhl- tkroportos e Navegqão AGea cla C T - Comíos de Portugal


hladein, S.k Novapista - Amplia@o do tiemporto CIO
B ' W - Banco Internacional do Funchal, S.\. F ~ c l dA.C.E.
,
BNU -Banco Nacional Ulhmarino Jorge de Sá, L"'.
Companhia de Sepms Bonança, S h Plúlips Pomiguesa
Empresa de Cenias da Madcii;i, L"'. Siemens
FEiiI -Empresa de flectiadade da hhcleira, W.
Gnipo Cimentos Wladei~a
Madeiia Tcmopolo APOIANTES
Mmoni Po@
Calm TV Madeirense
PemÇal hladeii L'".
Diário de Noticias - Empresa Diuio de Noticias
Pestana Hotels & l h m
da Macleim, L"'.
Porto Saiito h e , L"'.
Elmt &YOUII~
S U T - Sc&xlacleHispânica de Automó&, SA
Gdiacleiia - E m p r c ~cle i\rtes GSca da
S E r - Hotel Savoy Madeira, S A
Sonm, M.4 - Soaehlde de Segurança da Jornal da bladeira - h i p m a doJoinal ch
Madeiia e Açores, L"'. Madeip
Sulzer Portugal, L"'. Marina EXP0'98
TAP - Air Polhigd RDP Madeira - Racliwliliisão Portupeça, SA
Tdecel - Corn~uUca(;òesPaoais, SA. R P Madeira - Racliotc1cvis%oPo~~x~pesa, SA.
Teimague - Sociedade cle Conshuções e Tabacla & Bams, SR.
Empreendimentos da Madeira, SA. Ilie CiiífBay Resort & Me11Hoteis
PARTICIPAÇÃO DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA N A EXP0'98

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Governo da Regão Autónon~ada Madeira
Tutela Governamental
José Agostinho Gomes Pereira de Gouveia
Secretário Kegiunal cla Economia e Cooperac;ão Externa
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Selecção de Pessoal
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Escrlêiicia Rewrendíssiina Luísa Clocle


D. Tcodoro clr Faria 1)irrrIrrrri (10 ik111seiidr ,,!rlp ,SOCI-CI
rio F1111~11~1~
B!i/~u(10 ~il?Z~ll<l/
hlaiiiicl Biscoi~o
Dirprlor r10 i211rrniMiiliicipc'l tIi,sirírin ~Vr~lrli.(il

Helena iiraújo
Conceicão Estiidaiitr Divcfo,v do IVIIISPII
- IJ/1oi~lgr~il>hir~
lficrnlr).
Uivcioro Rqiollnl rlu i i ~ r i s ~ n o
Daiiiila Correia
Jogo Heiiriquc cla Silva lv7ír~ro~diirer~/ógiro
r10 iiyiicrit'
~ i w ~ ~RPgi~llfll
l o r do.$A.tsuii/m (;~i/lliinis
Isabcl hIorg.aclo
I M ~ I SIP~I P~ I I ~ P~l:rri~~ri.rm
Q I I P I.in~im

Teresa Ui.azâo
L)i~f'llJin(10 L ) ~ ~ ~ l ' ~ f l d~
f 7C
l lI lI /~ / ~I I~)tl0
~B ~

Constantiiin Palina C i ~ ~ ~ nhI~ti~ici/)ol


rfl r10 F~iiir/iril
PresNlrn/e do I~lsliltiro~ I Vi~ilio
J rlrr ~\fl(irlri,n

haiicisco Cloclc
Diwrlr~rdr SI,~~I~[.II,S
rlo I\.~II.FPII*

Aiiiândio de Sousa
Dilrrlor do i!Jt~cseitQiiiriin riris Crirzci
Concepção do Projecto Expositivo, Audiovisuais
Produqão e Montagem da Exposição AVS
Edicarte Mandala
Kumavítleo
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Francisco Clode Feirexpo
Amândio Sousa
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Rui Carita So~iasa,I\/W
Alberto Virira
Maiiuel Biscoito Seguros
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Concepção Plástica e Arquitectura


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Projectos de Engenharia
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Construção
Jiz, Lda.
Edição Pa~ilaManso
Edicarte Prclro Clodc
Pliotogr~apliia- R,luscu Viceiites
Coordenaç50 Pcclro Goines
Fraiicisco &ria Paulino Pcrestrellos Pliotograplios
Susana Silva Raimuiiclo Q~tiiital
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Concepção Gráfica Riii Caiita
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Duartc Belarcl da Foiisrra Riii Martins
João Rraiiclão SDM
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Fotografia IJiilicor
Ago~iiiilioSpíiiola
i\lfreclo Roclrigties Impressão
CEI-IA Saiitns c Closta, Lcl;~.
Feriiaiitlo Cliaves
João Dclgaclo
João I'aulo Mirtiiis
Jorgc Torres
Latira Castro Caldas 8r. Paulo Ciiitra
Madeira Teciiopolo
Mipel Percsrrclo
A Cxposi(ão hlundial de Lisl>oai um escaparite úiiico rili <111F PortugaI se mostra ao
hl~inclo,espellia a Forca da sua cultura, a clivcrsidade clas suas poiencialiclades ccniióiiiicas
e as realidades do seu desen\~ol\~imeiito.
Esta exposição é um acontecimei~toclc uina importâiicia cxcrpcinnai, cliier pela sua
rcpercussão directa c itidirecta na econoinia do país, quer pela cleiiiorisirat;ão das
capaciclades téciiicas e liialissionais dos portugueses.
A RegiSiiio Autóiioma cla Macieira ao particiliar eiiipctiliadamci~tcna EXPO'98, coiitribui
para o esforço nacional que este enrpreeiicliinento reprcsciiia c polciicia esta oportuniclacle
para divulgar a sua cultiira e o descmpenlio cio seu povo iicsle Iim ele iililénio.
Com esse ol>jectivo,a reprcsentaçrio da 1Zegiáo é coiistituícla por uni Pavillião com três
núcleos rxpositivos, uma reprcsciiiação náiitica ein que sc iiiostrairi embarcações imcli-
cionais restauradas para esta oportuiiidade, uma prograiiiayTio que rcvcla aspectos da
cultura e do desporto insulares e se descrivolve ao loiigo cle toclo o período da EXPO,
urna exposiçso que se iiiaugurará rio navio "Macleirciise" e uin prograiiia cclitorial que
procura diviilgar aspectos tia liistória e da vicia clas Illias.
rVtm das moiiograkas qiic acllii sc aprcseiitain, realizacliis por espc~cinlisiasclos tcnins
tratados, este programa erigloba tainl16iii itm catálogo Iòtogsilico da Regiâo, tini livro
sobre a iilúsica madeirense, com um CD, os iiúnieros especiais das re\iistas "Islciilia" c
"Margein" e o prograiiia das activiclades culilirais e clcsl~nrtivas.
Q~iereiiiosagradecer aos autores dos textos c citas lotogralias ;L sua l)r«iiin colabora~ii~
neste projecto, que toriia possível cleixar da participaqào da RcgGTo Aiitóiioiua cla h,Iaclcira
na EXPO'98, quanclo ela iião for mais tlo cluc iiiiia inciilória clc loclns os qnc n visitarzirii,
uni testemuilho exemplar das realidades regioiiais eiii 1998.
1. Introdução
2. O Viiiho da Madeira. Breve historial
3. O Viiiho e os seus apreciadores
4. A arte e o vinho
5. Um olhar sobre a actualidade: os exportadores de Vinho Madeira
6. Os diversos tipos de Vinho Madeira
7. Da qualidade à tradição
8. Bibliografia
"Perfuma e alegra o solo um vinho histórico, produto de castas primitivas,
sangue de raça a perpetuar na ilha o nome de Portugal. Foi este vinho compa-
nheiro dos colonos na rota da descoberta; postou-se de guarda à porta de suas
casas, de braços abertos, nwna remada acolhedora a parentes, amigos e vizinhos;
dá-lhe vida no trabalho; vibra-lhe na alma em festas de família e todos os anos
se renova no bani1 ou quartola para o aquecer no Inverno, e s w - l h e o passo
nas romarias do Verão, f m promessas, selar contratos, fechar negócios e sex
providencia económica no seu lar."
Pe. Edwrdo & P

I
OtalHaáàoengamu-se, I
não conheceu a parreira;
Não se chama Falemo;
se era bom, era Madeira.
Nicolau Tolentino i
,

1. Arma da Cidade da Fundial. C& e Mpninni 1888.


17
O vinho da Madeira. Breve Historial

,\ 1xcseeiic;a da viiilia lia i\l;irleira era uiii;i iiir\~itahilicl~itle


clo inuiiclo cristão.
O rit~ialreligioso fez tlo p8o e clo viiilio os dois cleniriitos suhstaiiciais cla sua
pr'ítica, fazcndo-os símliolos tla cssêiicia tla vitla Iiuiiiaiia e tle Cristo. O \inho c
o 11ào 6 0 ~ ~ x c e i r orlos ailaiiqo cla Ci~is~andadc, seiiclo levatlos por nionges e
ljisljos, EES~rc;llidaclc \,cio re\,ol~icionaros liáhitos aliirirritarrs cln Ocidente
cristão, a partir clo séc. 1'11, cçtalielece~idoo coiner 1180 e hel~cr\iiilio ctinio o
síinbolo do susterito huinziiio.
Ein i~icaclrisclo século X\f i. clada como certa a iiitrocliiqiio de ci:pas viiidas do
rei110 e, inais tarde, do i\lctliterriiieo. Joào Gotiçnl\.es Zarco, Tristào \Jaz
Tciscii.íi e Bartoloiiieu Perestrcllo, cluc recebcraiii o doinínio das capitaiiias do
arquipélago, sol) a clirccção c10 nioiiarca c CIO Iiifailtc D. Heriricluc, procedcraiii
ao tlesl~ia\~ainciito e ocupação clo solo coiii cli\rrsas c~ilturastrazicl;~sdo reino.
Em ~ x i ~ i ctenipo,
o a paisagcili cl;i ilha tr;iiisfoririou-se. :\s cscarpas fora111tral~a-
Iliaclas para hzer brotar as culturas e o dciiso arvorcclo foi cortado para coiistruir
lial>it;içõcs,erguer Iatatlas c dar outras pcissil~ilicladcsde lixaqâo.
Nas plai~urasjunto ao oceano, oriclr havia loriil para \.arar uni Iiarro, surgiii o
I-Ioniciii. Ein turia coiistairte roiitra a tiatrircza, tr:iqou socalros que kz tlecorar
de clouraclos trigais t. tlc verclejaii~~s \iiilias e c;iii;l\iais. No Fuiichal clo hiriclio
fcz rcsplaiideccr os caiiipos cle trigo, ciitreiiiraclos atliii e acolá por caiia\iais e
vi~ilicclos.I.:m Câni2iii1tlc Lol~os,aliigeiitaclos os lobos inariiilios, sul~iueiicosla
acinia clc picílrrta ria riiRo tiaçaiitlo o rciidilliado tlos socalcos de oiide fez '

2. Borraclieiros transportanclo vinlio debaixo de i i i i i a Iatacla 19


plaiitar a videira ein vistosas latadas. Segu~icloa tradição Soi aqui que se fez a
primeira plantação de cepas.
A viilha conquistou o solo illiéu eni tocbas as clirecçãcs, toriianclo-se o vinho uin
produto iniportaiite na activ~d~lclc agrícola do illiiu, logo no início. Assim, já cnl
1455 Caclamosto ficara clesluiiibrac~ocom o que vira na área viticola do
Fii~iclial;«...tem viiilios, inrsmo inuitíssirno boiis, se coiisiclcrar que a ilha f
Iiabitada Iiá pouco tempo. São eiii tanta q~~aiiticlaclc, qiie clicgaiii para os da
ilha e se exportain muitos deles.))
O viillio apresciitar~a-seno séc. XV corno um procluto coii~pctitivoao trigo c
açúcar c com grande peso lia ecoiioniia local. Daqui resulta que foi, clcsclc o
início, uin potencial produto CIO incrcaclo cxterno da illia. Os trstcinuiilios
aboilatórios da sua iiiiportâiicia no coinfrcio externo sãci iiiúltiplos. Sliakespcare
iião se Saz iogado lia alusão iiisistcntc rialguinas das pcqíls cle teatro qiic o imor-
talizaram. Depois, os tiigais e caiiaviais clcrain lupti hs latLtclasc l1íil5ciras c a
vililia tornoii-se iia cultiira exclusiva CIO coloiici iiiaclcirciisc, lia cluitl al~licoutoclo
o seu engenho e arte. Tudo isto projectou O viiilio I I ~ L T ~oL primeiro lugar lia
activiclacle ecoiióniica da ilha, oiidc sc niniitcvc por iiiais de tiCs s6riilo.;.
O macleirense, desde o últiino quartel do 6í.c. XVI, apostou riii exclusivo lia cul-
tuia da viiiha, tiriiiiclo dela o necessário pam o scii sustriito diário, para a
manuteiiqão cle uina vida de liixo c para a eclifirnyão cle ~uniptuosos~~ítl;icio\ c
igrejas. Se para I-Iaiis Stariclcn, crn 1547, n rcoiiornia da. ilha s r clcfi~ic.pelo
biiióinio vinlio/açúcai; jií cm 1578 Duartc Lopcs coloca o vinho c111 priinriro
lugar nas cxportaçãcs e, ern l(iGL),o c6iis~illi aiices alirina que o viiilio í. c]
i i , ~ ~ , , ~ ~ ,:.: , ~ .,, ~
; ~ .:
~ : ~ii.*iiiii.iii.,,,ji,,~ii.
I,.,;.: . ~ ~ , : ~ ~i:,>. Z\III i. ZIZ r
iiii'iiiiiiii c i i i ii,ii.iilvr.ir t i iiiiliii i i , i r ~ <a ~priii, ilml rriirl ri<iii~r;$
rlii illi;i. ;i iiiiicr
m<n<l.i<I?i r w r .\ \ladeira r i a r , tinha com <lu?nccnar anr iia\icii <IUC porrla
pa%d<am.riu a drmanda\am. rn%, o copo di. \inho. Tudo ino CI aumentar a

21
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V\,', 2, rxcl,,\i,i\,., l><,l,>t,,~~~~,,,,ili,,,,<, i~,~Ie,
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i;ii;iiii. cli~<'r qr,~~m;iclor <, rsliiii,, ii<.lirial S.i Priril-n. rm rr@iiiriiri><Ir; , ~ ~ i -
rultiira p;irn o I'ono Saiito. qilil. O flxrcerdoi- i< I r ~ r i i i i ~ a r ~ Aiiii>iiio
a<l~~~
Rodi-ivrs \ri<n<i. riii IiR2. li;ir inrcriiyi>r.; q t ~ cclrixott ria <:iniara <Ia Calliri;i
.\lar Iiiclo i ~ t nroi i n i ia". pai? tii$iqi<:inroi capa,. dr rrriiar a "rrl>rr iiricola".
rieni clc coii\,eiiccr o viliciiltor a aliaiiclniiar ;i \inlia, iiiini iiiomeiito ciii clue o
\.iiilio tla ilha tirilia graiide procurii iio ineicaclo iritcriiíicion~~l. hlesiilo Íissiin,
~ ( I L I C O Sera111 os aiios em q ~ i ca rolhcic;i era siificit~ritepara satisfazer a graridc
procura. Por isso, socorria-se tlos ~iiiliosiiircrioies elo iirirte, r at6 niesnio dri
yinlio dos Açores e C:aiiárias, para dessedcriiar o coloiiialist;~eiiropru.
Desde (1 siculo SI'cjue o illikii 1ra)ou a rota iio ni(:rcado iiititriiarioii;ii, Íirom-
p~diaiicloo coloiiialista nas siias cxpedicões e fixacão iia Ásia e i\niiric;i. O
conierciaiitc inglês, aclui iri~~~laiitaclo desclc o séc. XVII, s o ~ i l ~[irar
e partido do
I ~ n d u fazendo-[i
~o cliegar viri cjuaiitidaclcs suficieiitcs às mãos dos seiis coinpa-
triotas, que se Iiaviaiii espalliaclo pelos quatro cantos elo iiiuiido coloriial
europcu.
O ~iioviincntodo coiiiircio CIO vinlio da hilacleira ao loiigo dos sPcs. XVIII e
S I X comproinetc-se cle foriria clirecta iio traqaclo das rotas ii~aiitiiiiascoloiiiais,
~ ~ ~ e t l i i l l i passageiii
aiii obrigatória na illia. A cstas juiitaram-se outras siih-
sicliárias, quase toclas sol) coritrolo i1igl6s: são as rotas da Iilglarerra colonial cluc
fazein do Fiiiiclinl porto clc refi.csco e carga cle vii111o no seu rumo até aos iuer-
cados das Íiiclias Ocidci~taisc Orientais, de nncle regresswam, via i\~orcs,roin
o reclieio coloriial; são os ilavios portugueses da rota d;is Indias ou clo Brasil, que
rscaliii~i;I ilha oiidc r c c c h c ~ io~viiilin qiic co~icliizeinRs pi.;i)as lus~ls;são, ainda,
os n;i\lios iiiglescs cluc se dirigein à R~iacleiiacom iilari~ihctuiase fazciii 0
retorno tocailclo C;il)raltar, Lisl~oa,Porto; e, fiiialiiieiite, os iiorte-ninericanos
clur tixLen1 as f'ariiihas piiríi os inadcireriscs c regressani carregados de viiilio.
Por todas cstas razões, o \iiilio coiicluis~ou,clesdc o séc. XVI, o incrcado
colonial em Afiica,Ásia e América afümando-se até meados do séc. XiX como
a bebida por excelência do colonialista e das tropas coloniais em acção.
Regressado à sua terra de origem, após o surto do movimento indcpendentista,
o coloniaiista levava na bagagem o .&o da ilha e fazia-o ser apreciado pelos
seus pauíciw.
O momento de apogeu da exportação do vinho da ilha para estes mercados
situa-se entre fuiais do séc. X W i e princípios do séc. WL, altura em que as
exportações atingiram uma média de vinte mil pipas. Durante este período,
mais de 213 do vinho exportado seguia para o mercado colonial americano, com
e s p e d destaque para as Antilhas,a
pk,taç3es do sul da América do
Norte e Nova Ioque. A primeira
meiade do séc. XiX é o momento de
alteração na geograíii do mercado do
vinho da Madeira. A partir de 1831, a
Ingiaterra e a Rússia tomam o lugar
A MADEIRA 1
do mercado colonial.
Neste momento, a concorrèncii nos
mercados do Wiho era feroz, desta-
cando-se w de França, Espanha e
Gib.Mais uma vez, o curso da
História atraiçoou-nos. A situação é
hples. O fm das guerras europeias,
c111 princípios do séc. XIX, aliriu as coiilportas do \iiilio eiiropeu iio poiciicial
111erc;rdo coloiiial asiático c aiiiericaiio. h retiriicla do rolo~iialistirclas iírras colo-
nizadas Fez pcrcler o gosto pelo linho cla illia. Os primeiros sintoiiias disto
surge111 a piirtir clc 1814, açravailclo-se clc iiiio piira alio. As colheitas clc 1810 a
1821 niaii~i~leraiii-se estagiiaclas lios arii1az6iis, pelo qiir, ein 1820, viiitc riiil
pipiis aguardavani comprador. O retrato vc~rcladciiocla situiiqào riicoiitrainci-lo
iio voz dcscspcrada clo lioincm cla época: «Estão as casas ricas de viiilio, 11ol)i.c~
cle susteiito e de aliineilto)). Por tudo isto, a rc-.corclat;Gocio peiíotlo que tlrcorrc
entre os aiios de 18.1.0 a 1860 faz-se coin inuita dor c Iáçrinias. Fbi a Epoc;~de
inaior sofiiiiieilto do produtor viiiícolii. i\ íi~iicasolu~ãopossí\rel Ii)i a ciiiigraqão
madcirerisc, incrcc da solicitaqào e aliciaiiiciiio clc iiiglcscs c scus acólitos, qiic
fcz coiii qiie a forc;a clc traballio clo i111611cllcgassc a 1oiigíiiqu;~sparagciis prir;i
çul)stituir os escravos, agora lil~ertados.l3iiti.c 1840-50, o iiiaclcireiisc pcrclcii o
ainoi. à sua terra e foi ao ciicoiitro tle LIIII iiovo paraíso f~iqiz,ciiatl(i liclo iiig1L.s
iias iiiitillias.
Uiiia das caractcrístic2is da viiilio hflaclciia prriitlc-se cojri o processo clr viiiili-
caçiio. I'rimciro foram os iiiglcsrs ii aposi;ir ria s u ; ~alcoolizac;iio, clrpois Liii r)
rctciirso a uiii sistcina parlieular de ciivcliicciiiiciilo atrzi\~Cstio c;iioi; iios 1)ordcs
dos iiavios e clcpois cin cstul:,is. 1Ssta sitiiação rstií clc~i~iiclciiie
clii coiijuiituin ciii
c~ucailliac o com6rcio clo sru viiilio cstivcr;iin ciivol\~iclosa partir clc inraclos
do século XVII.
A Maclcira toriioii-se, a piiiiir clo s6culo XVII, unia passagciii olirig;itóri;i para
os iiavios iiiglcscs que flvziaiii a rota cl;i Íiidia. Esta escala cra aprovritacla p;im
carregar \iiihos com
destino aos portos das
colónias inglesas, mas
também para o
abastecimento das
próprias embar-
I
cacòes. Muito deste
linho fazia o per-
curso de ida e volta:
no porão das emhar-
caçòes, os tonéis de
\iiiho expostos ao
calor dos trópicos e à ,
constante baldeaqào i

resultante das ror-


rPliteS marítimas,
adquiriam pro-
priedades gustativas
diferente do comum.
Era o envelhecimento
Prematuro do vinho.
Da constataçào desta
realidade à sua
111-áticacorrente foi urn salto. Os iiiglescs, priiicipais aprrciacloies CIO viiilio
1Clacleira, foraiii ris pririieiros a rciviiiclicar cste tipo cle viiilio. Por isso, no iiier-
caclo britâiiicn, clesde filiais do século XVIII, os "Coininoii klacleira", "1,011clon
Market" c "Loiidoii Particular" foiiini pretcriclos cri1 favor do "East 11icli;l
Madeira", que enlre iiós ficou coiilieciclo como o vinho da Roda. i\ clik:rciiSa clr
P S ~ Ç O S entre urn C outro era o dobro, 1150só em resultado elos custcis do tniris-
porte, mas também da cle\lacla procura. Notc-sc que iios inesrs cle Setembro e
Noveinbro de 1790, h/li: Cliristie colocou \rcricIa iio inrrcaclo Iiritâriico tres
pi1)asclr vinlio Madeira vindo da Íiiclia c trinta c iiovc CIO Brasil.
A par clisso, gcileralizou-sc o uso clas csiufas cluc, caril umii maior econoinia clc
tcrnj~oc de custos, permitia colocar 5. clisposição c10 cliciitr um viiilio eirvellic-
ciclo. Por toda a illia surgirain estes coinpartiinciitos aq~ieciclcis.Eiii vu1g;ir ver-se
as pil~afiacciitesrios fornos de pão cla ciclaclc, ou simplcsineiite exl~ostasali sol.
Mas este viiilio estu~aclo,para aléiri de ter gcraclo accsil pciléinica cri1 l~riiicípios
elo séc~iloXIX, 1120 nlereceu os elogios CIO coiisiiniiclor.
O priiiieiro, clue ficou coiilieciclo como o \iiilio cla Iiocla, cra iiiiiiio clilèrciile e
tiiilia o coiidão de melhorar as q~~aliclnclcs orgaiiolEliticas clo viiilio, seni as
cleçraclai; o que iião succclia coiii o viiilio cstulàclo. Por isso, 21 Juiiki cla Real
Fazeiicla CIO Ftinclial procurou prolnover esta práticil, criaiitlo iiicciitivos, coriio
o rcci~il~olso dos direitos pagos 5 saícla ou uma siiiil>les f i i i i i ~até
~ ao retoiiio. A
par clisso, a própriaJu11ta proclirou proniovcr estc tipo ele crivellieciiiiciito do
vinlio em detriniciiro do liso da estlifii, cii\iaiicl» ;ilglii~iaspipas clc villho para
Cabo Verde para aí ~icririaiieccreniclurantc o períciclo cstival. \i partir dc 1823
rnadrireiisrs dos s6ciilos >(\'I11 e X I S cn\~elheciam.Foi uma mais-valia, sabia-
melite apro\.citada pelos iiisolarcs, que cativou os tradicionais apreciadores
hritánicos. A s estufas primitivas de sol que rrsultaram do linho da Roda
evoluíram e deram lugar ao processo que é, hojc em dia, um método eneológico
de iii\~lhecimeiitodo linho da Madeira.
madeirensesdos s$culos 5\'111 e X I S cnvelheriam. Foi uma mais-valia, sabia-
mplite apro\.citada pelos iiisularrs, que cativou os tradicionais apreciadores
hritániros. As estufas primitivas de sol que resultaram do linho da Roda
ewluíram e drram lugar ao processo que é, hojc em dia, nrn método eneológco
de rii\~elhecimrntodo linho da Madeira.
O vinho e os seus
apreciadores

O vinho Madeira é indispen-


sável para a garrafeira dos
apreciadores do fino
rubinéctar em todos os
recantos do Ocidente. Os
epítetos proferidos por poetas,
escritores, políticos e via-
jantes, que tiveram a possibi-
dade de o provar e apreciar
poderão ser um bom teste-
' munho desta fama. Todos
ficaram deslumbrados com
seu aroma e trago e ninguém
se escusou a tecer-lhe os
maiores e melhores elogios.
Alvise de Ca da Mosto, nome
sugestivo em questão de
vinhos não hesitava em
afirmar, nas suas
"Navegações" emitas em 1455,

I 11. Vindimas
que os da illia eram "bons" e para que não restassem dúvidas reforçava a ideia
apontando-os como "muitis<uno boiis". Oitenta anos passados, outro italiano,
Giulio Landi, rejuhila de novo com o rubinéctar madeirense, comparando-o "ao
grego de Roma". Quanto à malvasia, refere que se fazia mellior vinho que o tão
celebrado de Cgndia.
De entre todos os ingleses, Sliakespeare (1564-1616) foi um dos seus mais
11ot.ados apreciadores. A sua obra assim o testemunlia. Primeiro é-nos dito, na
peça Ricardo IIL que em finais do século XV o Duque de Clarence, prisioneiro
na Torre de Londres, se teria afogado num tonel de inalvasia madeirense. Já na
peça Henriqzie N, o dramaturgo coloca o beberão Jolin Falstaff a negociar a
sua alma com o Diabo por "um copo de Madeira e uma pata de capão". Esta
referência ao vinho Madeira na obra cle Shakespeare é mais uiii testemunho da
importância que elr adquirira no inercaclo lonclrino .
Os mais assíduos elogios são ditados no século XVIII, época nobre para o vinho
Madeira. Em 1687, Haris Sloaiie dá conta da sua exportação para as plantações
clas Íiidias Ociclentais "pois não Iiá nenhuma espécie de vinlio clue se iiiantenlia
tão bem em climas queiltes". A ideia repete-sc em todos, chaniaiido G. Forster,
em 1777, a atenção para o facto cle ter sido o vinlio que deu à ilha "fama e sus-
lento". É um vinlio capaz de resistir às mais bruscas mudanças de temperatura.
Assim o proclama em 1792 J. Barrow: "Este vinlio tcin a fama de possuir muitas
qualidades extraordinárias. Tcnho ouviclo dizcr que se Macleira genitíno for
exposto a temperaturas iiiuito Isaixas até ficar congelado numa massa sólida de
gclo e outra vcz desco~igelaclopelo fogo, se for aquecido até ao ponto de fervura
c clepois clcixaclo arrefecer ou se ficar exposto ao sol
durarite seniaiias seguidas em barris abertos ou colocado
eill ca\w húmiclas não sofierá o míiiimo dano, apesar de
sujeilo a t5o violentas alterações". Foram estas pro-
l~riedaclesque fizeram vi11gar o \inlio Madeira rio
inuiido colonial inglês e o levaram a bater-se de urna
forma privilegiada, face à concorr6ncia dos outros \irilios
europeus ou das ilhas vizinhas dos Açores e Canárias.
A adoraçào pelo hjlacleira foi grande nos Estados Unidos
d a Aiiiérica do Norte. George M1asliington c convivas
regalaram-se com ele na sua boda, em Maio de 1759,
enquaiito Joliii Aclams exclamava, com alegria no seu
diário, que senlpre bel~eu"grande porção de Madeira",
n ã o vcnclo "ne~iliuminconveriiente nisso". Ademais,
segundo constatou este estadista, clc é diferente de todos
os outros, pois mantém-se "salutar c agradável rio calor
dc Verão ou no frio do Iiivcrno". Até mesmo Tliomas
Jcffersoil, em Paris, não prescindia do seu h,ladeira, pois
era "dc superior clualiclade e o melhor". Foi certamente
com a insl~iraçãodo seu aroma que se formou o grande
einpório. Com ele se celebrou a irideperidência, acto que
é ariualmerite recordado da mesma forma. Já ein 1840,
Fitch W. laylor afirrna que a Madeira é conhecida dos
12. Vindiina no Estreito de Cimara de Lobos. 1* metade do século XX.
35
americanos pelos seus vinhos,
que aí chegam pela mão dos
mercadores ingleses.
Os europeus, levados por esta
exaltação dos políticos ameri-
canos, despertaram de novo para
o vinho Madeira. Em 1795, o
Dr. Wright exclamava: "Se
Homero o tivesse bebido, afir-
maria que o Olimpo renascia.
apesar de os deuses estarem já
fora de moda". O mesmo
recomenda o seu uso aos seus
pacientes idosos, pois é "uma das
bebidas mais úteis e eficazes para
as pessoas de idade, a quem as
funções físicas começam a
faihar". Daí o epíteto de "leite
dos velhos". Diz-se até que a
longevidade do Conde de
Canavial terá resultado do
Madeira que bebia todos os dias
em jejum.
O iiiilio da .\ladeira não roi aprnas companheiro dos ~randermornenrnc fcr
t i m r r de riihria, pais ramhérn se postou dr p a r d a nas dificiildader r solidão,
como ~urcdeiicom Napaleãa Bonaparri. Quando da rua parsigern pclo Funchal,

37
ein Agosto clc 1815, o clcposto iinperaclor recebeu clas mãos do
côiisul britânico unia pipa clc Maclcira. Esta foi sua companlieira
até 21 inorte, no exíiio de Santa Helena. O gcileral nunca provou
o viiiho e, i data cla sua morte, em 1820, o côi~sulsolicitou a sua
clevolução, o clue ocorreu passaclos clois anos. C0111 este vinlio da
volta rez-se uina iinportante garrafeira, para gáuclio dos colec-
cio~iaclores,sob o título clc "Uattle or\iVatcrloo". Winsto11
Churchill, cluanclo fez Férias na Madeira, em 1950, teve oportu-
niclacle de apreciar estc vinho ~ L I CNapoleão nunca bebeu.
Na ilha, são poucos os elogios ao vinho Madeira. AtC parece que
os literatos e poetas o ignorarain, talvez porque nunca tiverain o
atreviinento de o provar. Uispoinos, todavia, de três testeinunlios,
raros é certo, inas que corrol~orainaté ti saciedacle aquilo que
haviam escrito os estrangeiros. Ein 1891,J. A. Marliris, um
forasteiro coiitiilc~ital,caso raro nesta situação, declarava ~ L I C"as
mullieres coino os viilhos sabcin enlcvilr o espírito fazeilclo pal-
pitar os corac;õcs", para depois concluir clue "o viiillo rião é uina
siinples coinl~iiiaçãoq~~íinica; E ui11 problcina de gosto, é uin ali-
inciito c um agci-itc tcral~êuticocle priiileira ordein".
Para os inacleirci~ses,a cxiiltaçiio do viiiho assenta na sua
presença nas mcsas ilol~rcsc, por isso, ele é o einbaixador capi-
toso cla ilha. Eduardo Nuiies recorda clue o viillio h4adeira
"correu inuilclo - singrou poi4toclos os inares e rompeu todas
10. L."i\.i rom ,,,".i l,,i...,r, . <.iirrlri,i h L.,

ofciccirlo a icis r a príi>ciprr-regcnlis. a chcfes dc


ar íroiitrirns". por isso "i
?<tador a minictrar, n renhorrs feudais e iburguesia opulenta." Id8nlica é a
opqão de Eduardo Pereira, tal como podrrá constatarse a partir do texto que
alxc este opiisculu.
A arte e o vinho
17. Edincio do Instituto do Vinho da Madeira,

Os séculos XVIII e XIX


são momentos de aposta na
valorização da arquitectura
e arte madeirenses. A afir-
mação do vinho no mer-
cado consumidor colonial
conduziu inevitavelmente a
uma desusada riqueza que
foi utilizada em benefício
próprio por todos os inter-
venientes. Os grandes pm-
prietários afonnosearam as
suas casas de residência. Os
mercadores, nomeadamente
os ingleses,
- transformaram
as vivendas sobradadas de
cidade em lojas e escritórios de convívio, e as casas solarengas e quintas adap-
taram-nas ao seu gosto e exigências de conforto.
Os artefactos ingleses invadem o mercado madeirense e dão-nos meios mais
adequados para a afíma$o do c6nforto diário. A isso junta-se o gosto pelo
das9ico. A tosca e utiiitária mobília, muitas vezes feita com a madeira que
do Brasil transportava o aqúcar para a ilha dá lugar ao mobiliário estilizado. A
chamada mobília Chippendale e Hepplewhite - sofás e cadeiras - dá o toque
de classe e compõe o ambiente para os saraus dançantes ou o célebre chá das
cinco. O s museus da Quinta das Cruzes e Frederico de Freitas são, hoje, os
depositários de alguns dos exemplares rriais significativos deste tipo cle mobil-
iário que resistiram ao uso secular. O espaço interior é valorizado. A casa torna-
se no priilcipal centro de con\rí\rio. Daqui resulta que os espaços interiores se
transformaram. Surgem as amplas salas ou salões de música, palcos cle inúmeras
festas e saraus dançantes. 0 s tectos destas amplas salas são em estuque profusa-
mente trabalhado e inuitas vezes pintado.
A História de muitos dos prédios que se anieham nas ruas vizinhas do
cabrestante e da alfândega são o alvo preferencial dos mercadores estrangeiros
que chegam ao F~~nchal, no decurso do século XVIII, atraídos pelo cornércio c10
vinho. Muitas das pequenas casas térreas são clen~olidaspara dar lugar às de
sobrado, servidas de amplas caves para as pipas, sobrados de habitação e
escritórios. Uma imponente fachada ornada de cantarias e Terragens, uma torre
avista-navios dão o tom característico da arquitectura do vinho na illia. Ao per-
correr as Ruas da Carreira, Netos, Pretas, Mouraria, Mercês, Nova de S. Peclro,
Conceição, Aranhas, Ferreiros, João Gago, o transeunte depara-se com cste
espectáculo.
O edifício-sede do Instituto do Vinlio cla Madeira é um local de passagem obri-
gatória nesta peregrinação do vinlio através da Cidacle. As suas paredes guarclarn
a memória de dois séculos de História do vinho R4adeira. E no rés-CIO-cliâo,
os centenas nave-
jamentos, encontram-se
alguns materiais rela-
cionados com a faina
vitivinícola, acompa-
nhados de fotografm e
gravuras alusivas ao
tema. Perante nós per-
ffia-se uma possível
viagem ao passado,
imprescindível para
conhecer o percurso
histórico do nosso
vinho. O percurso con-
tinua na Madeira W i e
Company, onde um
museu de empresa
conduz ao passado de
Mgor das empresas que
&Iam na sua o*,
em princípios do século.
Das demais empresas,
só em D'Oliveiras
e Artur Barros e Sousa a imagem do passado persiste quase intacta. Nas
restantes, as memórias do passado convivem amenamente com os avanços
tecnológicos.
Se, na cidade, as casas térreas dão lugar aos imponentes palácios, casas de
lialii~aqào,escritórios e lojas cle comfrcio, os arreclores gniiliani outra aiiiiriaçào
corii a pralifcraqào das Quiiitas. Estas são uma criação ~iiacleireiise!a cspressào
\aluinétrica da importâiicia clc algumas das famílias iiiaclcircnses, oiicle o lazer
se conjuga coni o sector procluti\,o. A cluiiita não se rcsiirne apenas ao cspaço
agrícola c à casa de Iial~itação,pois a cla estão iriclissocia~clincnteligaclos um
jarclim e mala. Foi com OS iriglcses cluc clas ganliarain nova foriiia e ariini;iqão,
persisti~icloaté aos ilossos dias. Assirii, pcrclein o sei1 caráctcr rústico e tmiis-
rorinain-se em cspaços a~razíircisscniclos de ampliis ruas e jarcliiis de irispim~ão
oriental. bluitas clas cluiiitas madeireiises inuclararii cle mríos no drcurao clo
século XVIII. Os inglcscs, enriquecidos cnin o conitrcio do viiilio, fazeiii inwsti-
nicntos fui~rliárioslia illia, com especial clrstaclue para as q~~iiitris e serrados cle
~inlias.Alguiis adcluircrn as liabitaqões já exisleiites e traiisforniani-lias cm
aniplas quintas ajarcliiiiicias, i niocla cla época. Outros fazeiri e r p c r iinpo~ientes
casas no espaço arável ou cle pascilgci. Est,io rieste últinio caso: a Quinta cio Vale
Paraíso na Cairiacha, cle Joliii Ilalloway; a Quiiita clo Jairiiiii da Serra, Calaca e
do Sarito cla Serra, de I-Ieiiry Veitcli; a Quiiita c10 h,loiitc, de James Dalici
C;ordori.
Um olhar sobre a actualidade:
os exportadores de Vinho Madeira

O panorama actual do coniércio de exportação de vinho é distinto do dos


séculos anteriores. A crise que atorineritou o produto desde finais do século XIX
levou a uma mudanqa nestc espectro. A maioria dos estrangeiros abaiidoriou a
ilha e muitas das empresas fundiram-se. Hoje, o vinho adquiriu nova p~iaiiça
nas exportações da Madeira e o quadro empresarial mantém-se maioritaria-
mente fiel à tradicão.
No presente, a exportação do til1110 Madeira assenta nas seguintes empresas:
Artur Barros & Sousa Lda: Casa fundada em 21 de Julho de 1954 por Artur de
Barros e Sousa e Edinundo hlenezes Olim, que reuniram numa só casa corner-
ciai os vinlios velhos, Iioje religiosamente preservada pelos seus lierclciros.
H. M. Borges sucrs. Lda: Casa fiindada em 1877 por Henriclue de Menezes
Borges, que após a sua morte em 1917 passou a ser gerida pelos filhos.

Henrique & Henriques: Empresa criada eni 1850 por João Joaquim Gonqalves
Henriques, com base nas propriedades de família em Belérn (Câmara de Lobos).
Em 1913, surgiu a actual empresa, resultando da sua fusão a Casa de Virilios da
Macieira Lda., Belérn's Madeira Lda., Carrno Viillios Lda. e Aritóriio Eduardo
Benriques Sucrs. Lda. Mais tarde, em 1960, foi a vez de Freitas Wlartins
Caldeira & Cia. A firina está hoje em mãos clos sócios A. N.Jardim,
'l \'i, i . I>ii.i.i. tii % , , i , II ,,.,
\i.,,,, i,.l,, .,,,,.;,
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I8
Justino Henriques Filhos Lda: A firina foi estabelecida ern 1870 c mailténi-se
na act~ialidadecomo uma sociedade constituída por Sigfredo Costa Caml3os e a
empresa fsanccsa La hlartinknais. Tein seclc na zona industrial da Cancela.

Madeira Wine Association: Ern 1913, I-Iarry Hiiitori entra no rnercado vitiviní-
cola juntanclo-se à Blaiidy fvlacleira Ltd. (1811)\Vclsli Sr Curllia e Heilriqt~esOt
Cârnara, a clrie aderiu clepois a Doiialclsori e Krohn Brotliers. Passados doze
arios surgem outras casas conlerciais que se associaram a esta sociedacle:
Abuclarham & Filhos, Luís Gomes cla Concei~ão& Filhos (1863),Miles Madeira
Lda, F.F. Ferraz Pr Cia, T. T. da Câmara Loinelino (1820). Cossart Gordon &
Co Ltd. (1745) foi o último a juntar-se ao grupo em 1953. A partir cle 31 de
Dezembro de 1981, a firma alterou a sua desig-ilaqão para &ladeira \jVine
Company. Dispõc de Iristalações à Rua dos Ferreiros e uma adega e museu à
Rua de S. Frarai~cisco.

Pereira D'Oliveira (Vinhos) Lda: A firma coinec;ou ein 1820 corn João Pereira
$Oliveira a qiic se juntaram, ein 1975, outras cluas (Joaquim Camaclio e Júlio
A L I ~ L ICunha
S ~ O Sucrs.) e, depois, a de Vasco Luís Pereira. Sucrs.

Silva Vinhos Lda: É a rnais recente casa de vi~iliosda Macleira, com secle i10
Estreito cle Ciimara de Lobos, oricle dispõe clrsde 1990, de modernas adegas de
\iriifica~ão.A empresa foi co~istituídaem 1989 pelos irmãos JosC Olavo c João
Alexandre Rodrigucs da Silva.
Vinhos Barbcito
(Madeira) Lda:
Caia fundada em
1946 por Mário
Barheito de
Varconcelos. Ficou
instalada num antigo
engenho de
aguardente. A sua loja
de vcndas no Funchal
está aaociada a uma
hihlioicca cvoeativa
do navegador
Cristóvào Cdomho.
Os diversos tipos de vinho Madeira

As castas que deram riome ao viiilio IVIacleira são preferencialmente a I\Ialva.;ia.


Sercial, Verclelho e Boal. Com o aparecimerito da filoxera, cm 1872, esta situ-
ação alterou-se. O insecto devorou as raízes das videiras europeias fazendo-as
definhar. A partir de eritão, a cultura da vinha só foi possível em terserios
arenosos, como o Porto Santo, ou com o recurso às castas americaiias a
servirem de produtores clirectos ou de cavalos porta-enxertos. Entre as que se
mantiverain por muitos anos, como produtores directos, destacam05jaquez,
lierbeino~it,cunningham e isabella. Hoje, o grande combate do sector é a substi-
tuição das castas americanas pelas europeias.
Actualmciite são consideradas como castas tradicionais do cinlio hladeira.
Boal: existem três variedades: o boa1 da Madeira, de cheiro e do Porto Santo.
Na Madeira, o espaço preferencial para a sua cultura é os 400m, com especial
iilcidência nas zonas ribeirinhas.
Malvasia: é de todas as castas a mais conhecida c cclebrizada pelo vinho
aromático. A sua presença na ilha está documeiitada desde meados do século
XV. Hoje é Iiabitual nas zonas baixas junto ao mar, conl-iecidas c01110 fajãs.
Cultiva-se no Paul do &lar,Jardiin do Mar, Arco da Callieta, hladaleria e
Canlias. A mais popular saiu da Fajã dos Padres, em Campanário.
Sercial: popularinente conhecido por esgana e esgana-cão, produz iini \iriho seco
clc grancle qualidade. É uma casta das zonas altas, entre os 600 e 700 metros, por
isso surge no Jardim do Mar, Santo António e Estreito de Câmara de Lobos.
Tinia Ncgra Mole: esta casta pode confundir-se com
outras v?s varieclades (a tinta da Madeira, dc Lisboa e
Porto Santo) hoje praiicanlentc desaparecidas. O seu
ccossisicn~amistura-se com o das similares, surgindo em
Câinara de Lobos, Estreito dc Câmara de Lobos e
Santo António. Hoje, no norte cla ilha, nas zonas altas é
a casta que tcin subsiituído com sucesso a vinha ameri-
cana. Isto faz de S. Vicente, no presente momento, um
inlportanie prociulor.
Vcrclclho: casta branca que nos oferece um bom vinho e
I~oasuvas clc ilzesa. Foi ~nuitofrcq~~cnte, quer a norte,
q~lcra sul cla ilha. Hoje cultiva-se apenas em áreas
iiiterméclias junto ao rnai; situadas entre os 400 e 500
metros de altiiucle. Pode ser encoiltracla em Câinara de
Lobos, Estreito e Ribeira da Janela.
C0111 csias castas fa---se o vinho Maclcira que,
de acordo com a legislação rrn vigol; é aprescntaclo
ao co~~sumiclor ein vários tipos, consoante as caracterís-
ticas c iclaclc:

Vinlnge:viilho feita de uma casta nobre, numa collicita


especial, que clevc permanecer um mínimo de 20 anos
eilcascaclo c 2 anos engarrafado.

23. Borraclieiros. Erma de vinlios EIenriqiics & IIenriques


53
Extra resme: vinho composto de pelo
menos 85% da casta referida no rótulo,
com o mínimo de 15 anos;
Spe15al resme : mesmo tipo de vinho do
anterior com apenas dez anos;
Reserve o mesmo que o anterior, mas só
com cinco anos;
F i m t usa apenas nome de Madeira
associado à sua situação - Dry,
Medium, Sweet - sendo um vinho com
três anos que tem como base a tinta
negra-mole;
Rainwaln: o verdelho com apenas trff
anos; o uso deste nome derivou da difi-
culdade dos ingleses em pronunciar a
palawa verdelho.
Soler(~~:vinho datado que ao longo dos
anos recebe a adição de outros, sendo
esta de apenas 10%ao ano.

24. Garrafas de vinho Boal


Da qualidade à tradição

A ilecessiclade de defesa da q~ialidadedo vinho da ilha, tão evi-


derite em momeiltos de crise, levou à implementação de cstru-
turas institucionais. A primeira ideia surgiu em 1774, mas não se
concretizou, Todavia, só a partir de 1937 esta foi uma realidade
através da Junta Nacional do Vinho, que teve uma delegação na
Madeira. E111 1979, o sector foi regionalizado tendo sido criado
na ilha o Instit~itodo Vii~hoda Madeira. A primeira iniciativa
do Instituto foi adequar a viticultura, vinificação e comércio aos
padrões estal~eleciclospela CEE. No primeiro caso, salicnta-se a
política de reconvcrsão da viillla, com o arranque dos bacelos
americailos e a sua substituição pelas castas tradicionais. A isto
acresce a reformulação da rotulagem do vinho de acordo com os
padrões europeus e norte-americanos.
Hoje, o viilho Madeira é evocado em dois museus: o do Instituto
cle Vinho da Nlaclcira, ina~iguradoem 18 de Setembro de 1984,
na sede do mesmo instituto, e o da Madeira Wine Conlpany.
Ein aml~os,o visitante pode recordar o passado da faina vitiviní-
cola através de fotografias e ol~jectosa ela alusivos. No segundo,
o interesse do visitante é suscitado pelos painéis pintados na sala
de provas por Max Roiner e o arquivo da documentação
das clivcrsas empresas familiares que se integraram
a 22 de Abril de 1988, sob os auspícios do Instituto do Vinho da Madeira, sendo
Caricelário-mor o Dr. Aberto João Jardim, Presidente do Goverrio Regional da
Madeira. No presente, conta com cerca de uma centena de associados, oriundos
das mais diversas áreas da vida política e económica da região. Todos os anos,
pelo São Martinho, os confrades reúnem-se para degustar o vinho novo e
honrar e defender o prestígio do velho.
Tudo isto vai ao encontro da mais valia que é hoje o vinho Madeira na
economia da ilha. A tradição histórica testemunha a sua evolutiva afirmação e o
insistente interesse dos seus apreciadores num cálice deste rubinéctar cada vez
mais apurado. Perante tudo isto, o vinho Madeira continuará a ser um referen-
cial destacado da ilha, do seu passado e do seu presente, firmando-se como um
recurso destacado nos contextos da economia local e da sua afirmação no
mundo. O vinho firmou-se, assim, como uma das dominantes do quotidiano e
da história da ilha.
8. Bibliografia
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- lL193 Histúrin elo viiihu d c ~n/lntlrirci. LJc~riiinentusc f~xlas,
Funcli;il.
FOTOGRAFIAS

Henry Vizeteiiy fig. 9

R/Iigucl Pcrestrelo lig. 2, 7, 11, 12, 13.

WIuseu de Photograpliia Vicentcs fiç. 14, 17, 22, 23, 24, 27.
A REGIAO AUTÓNÓMA DA MADEIRA NA E X P 0 ' 9 8
Monografias

1. A Autonomia - Aberto João Jarclim


2. Geografia e Descobriinento - liui Caiita
3. O Açúcar - Ail>crtoVieira
4. O Vinlio - Uberto Vieira
5. O Turismo . Elcmentos para a sua História - Iolaiida Silva
6. A Diáspora - Rui Carita
7. Memória e Arte - Fraiiciscn Clode
8. As Plantas - Raiinuiido Q~~iiital
9. Os Mares - Maniiel Biscoito e Aritóriio Dorriiiigos /\breu
10. Festas e Tradições - Associaqão Xarabnncla e Jorge Torres
11. A Economia - Sílvio S a ~ i ~ o s
12. Inovação e Tecnologia - Perlro Vciitura
13. Desporto e Lazer - Fernarido Ferrcira
14. Escritores - Viajantes - Margarida Falcão
15. O Ensino - Uiiiversiclade da I\/lacleira

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