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3 A 6 DE SETEMBRO DE 1993
SANTOS - SP
1ª Parte
1. Introdução
Allan Kardec previu que se a Doutrina se mantivesse estagnada seria decretar sua
falência: a imobilidade levará ao suicídio da Doutrina, afirmou.
Portanto, se está inscrito no código do Espiritismo, o princípio da progressividade, não
há como contestar na sua legitimidade.
O movimento de atualização é permanente, pois a vida e o progresso são dinâmicos.
Todavia, qualquer proposta de atualização ou revisão doutrinária, terá que obedecer a certos
critérios, sob pena de diluirmos a estrutura do pensamento espírita.
Temos que Ter em mente, sempre, que esse movimento deve procurar:
a) a consolidação dos princípios básicos;
b) a revisão de conceitos e interpretações específicas, próprias do tempo de Kardec e
que perderam alguma significação, no decorrer do tempo;
c) a análise da mentalidade ciada pelo movimento espírita, influência culturais,
idiossincrasias de dirigentes, médiuns e Espíritos que, sob muitos aspectos
deformaram a formulação conceitual da doutrina.
2ª Parte
1. Critérios básicos
Eis os passos que Kardec especificou para que pudéssemos, com segurança, seguir o
Caminho da constante atualização do pensamento doutrinário:
a. Não fechar as portas a nenhum progresso, sob pena de suicidar-se;
b. Não sair do círculo d idéias práticas;
c. Apoiar a descoberta de novas leis;
d. Assimilar todas as idéias reconhecidamente justas;
e. Seguir o movimento progressista com prudência;
f. Não imobilizar-se .
Esse roteiro, seguido criteriosamente, indicará o caminho claro para que o Espiritismo
alcance seus objetivos. Faremos um breve comentário a esses pontos fixados pelo fundador do
Espiritismo.
1. Não fechar as portas a nenhum progresso.
“A verdade absoluta é eterna e, por isso mesmo, invariável. Mas quem pode
orgulhar-se de possuí-la inteiramente? (...) O princípio que inscreveu em seu código será
a salvaguarda de sua perpetuidade. E sua unidade será mantida precisamente porque ela
não repousa sobre o princípio da imobilidade”
a determinação de Kardec em apresentar o Espiritismo como uma doutrina aberta, que
não teme o progresso, não pode ser abandonada, sob nenhum pretexto. A expressão de
Kardec é bem abrangente. Nenhum progresso deve ser descartado. Por isso é necessário,
dentro do esquema por ela traçado, Ter consciência do que seja “progresso”. Mas, apesar de
tudo, o que importa, segundo ele, é não rejeitar, a priori, qualquer contribuição e criar
mecanismos doutrinários capazes de absorver conflitos sem desestruturar-se.
Essa característica ímpar não tem sido adotada, porque exige uma disponibilidade
mental e intelectual capaz de absorver o progresso, filtrando as inovações, refletindo sobre as
propostas que são apresentadas na sociedade e no seio do próprio movimento.
Portanto, a conveniência de manter-se o Espiritismo atualizado é a sua própria
sobrevivência como movimento de idéias que pretende influenciar no destino humano.
b) período de maturação
É o tempo necessário para a discussão de novas idéias. Deve-se dar tempo para que
elas tenham um certo curso, uma vez que, não raro, provocam um certo impacto ao início e,
entretanto, posteriormente, podem ser melhor compreendidas.
Se obedecidas as regras e critérios deixadas por Kardec, deverão passar pelo crivo da
lógica, pela plausividade, pela consistência. Se houver um mínimo de entendimento, a
discussão, ainda que calorosa, pode conduzir-se num sentido civilizado, embora contundente
ou positivo.
c) período conclusivo
Após o período mais ou menos longo de maturação a idéias é rejeitada ou aceita,
Totalmente ou em parte. Nesse caso, produzirá inevitáveis alterações nos conceitos atingidos
ou na globalidade do entendimento, conforme o caso.
A assimilação pode ser, como vimos, parcial ou total e influenciará de forma gradual ou
total, como demonstra o quadro abaixo:
QUADRO DEMONSTRATIVO DA INFLUÊNCIA POSSÍVEL DE NOVAS IDÉIAS
___________________________________________________________________________
TIPO DE ASSIMILAÇÃO
Parcial – somente uma parcela é aceita e assimilada, descartando se, por inadequada,
as demais.
MODIFICAÇÕES POSSÍVEIS
C) Instâncias Hierarquizadas
Kardec atribuiu aos Congressos periódicos, de estrutura mundial, a tarefa de atualizar a
Doutrina. Nesses Congressos seriam pautadas para estudo, as hipóteses que os estudiosos
apresentariam.
Considerando 1) que o desenvolvimento do Espiritismo kardecista ao obedeceu às
esperanças do seu fundador; 2) que a prática de Congressos do tipo que ele previu não se
consolidou; 3) e, mais ainda, que não se pode levar a sério, para esse propósito, os recentes
Congressos internacionais promovidos por entidades comprometidas com a religião e o
misticismo; temos que procurar um caminho adequado para a consolidação das mudanças que
se tornem necessárias, mesmo contrariando o estereótipo geralmente aceito e o poder que tais
organismos possuem.
Acreditamos firmemente no poder das idéias. Como fez Kardec: “Desejando ser aceita
livremente, por convicção e não por coação, proclamando a liberdade de consciência,
como um direito natural imprescritível, ela (a Doutrina) diz: Se estou com a razão, os
outros acabarão por pensar como eu; se estou errado, acabarei por pensar como
outros.”
Conclusão
A conclusão óbvia é que Allan Kardec não só desejava, como preparou o Espiritismo
para atualizar-se. Então porque a grande maioria dos dirigentes recusa-se a pensar em mudar,
em atualizar?
Uma coisa parece inevitável. Ou voltamos aos parâmetros básicos de Kardec, para que
tenhamos bases para manter o Espiritismo atualizado, progressivo ou ele perecerá por
engessamento, imobilidade e pela doença incurável do misticismo.