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BORDADO DA MADEIRA
Alberto Vieira
Funchal, 2006
TÍTULO O Bordado da Madeira
EDIÇÃO:
Webpage: http://www.bordal.pt
ISBN: 978-989-20-0416-7
Apresentação ..................................................................9
O Bordado no Mundo ......................................................19
Do Bordado Caseiro ao Bordado industrial .........................27
A Crise ou mudança do Bordado ......................................45
As Casas de Bordado ......................................................53
As Técnicas e os Materiais ...............................................75
O Processo de Fabrico do Bordado Madeirense ...................81
Os pontos do Bordado Madeira ........................................93
Os Mercados do Bordado Madeira ...................................107
Os Estrangeiros e o Bordado ..........................................117
Conclusão....................................................................131
7
Apresentação
10
O bordado faz parte da cultura e História dos
madeirenses. E, a exemplo do vinho, é uma das
marcas que os identifica. A sua presença suplan-
ta as barreiras naturais do arquipélago para se postar em mesa
ou cama rica em todas as partes do mundo. Executado em meio
pobre, mas quase sempre solicitado para mesa ou cama nobre.
11
Bordadeiras.
12
fabrico e circulação da mercadoria foram asseguradas pelas
casas de bordados. Ao mesmo tempo aprimorou-se tecnicamente
o produto e regulamentou-se o trabalho da agulha de acordo com
as exigências da nova clientela e a moda de cada época. O acto
de bordar deixou de ser uma forma de lazer para se transformar
numa actividade de subsistência, por vezes, exercida a tempo
inteiro.
13
Bordadeiras dadeira. Por ser um trabalho eminentemente feminino a con-
cretização ocorria em casa de forma a poder conjugar-se a
azáfama caseira diária com o trabalho da agulha.
14
As lides caseiras passaram a ser companheiras da arte de bordar.
Borda o pai,
borda a filha
e borda a mãe.
15
Mulheres bordando.
Fotografia de
Museu Vicentes
16
visita e descoberta deste trabalho manual que teima em persis-
tir na era post-industrial.
17
Pormenor da toalha
apresentada no
Pavilhão da Madeira
da Expo-98 em
Lisboa.
Desenho de Leandro
Jardim.
18
O bordado
no mundo 19
20
A o contrário do que possa parecer a História
do bordado não se esgota na Madeira e tão
pouco se resume ao período decorrente da
afirmação a partir de finais do século XIX. Tudo isto porque o bor-
dado não é criação madeirense e o trabalho da agulha ocupou
sempre o sexo feminino nos quatro cantos do Mundo. Segundo a
tradição o berço do bordado situa-se no Oriente, Médio Oriente e
Rússia. E parece que esta actividade se perde nos anais da
História. Em 1964 o achado arqueológico de um caçador do “Cro-
Magnon”, datado de cerca de 30.000 AC revelou-nos o primeiro
registo fossilizado de um pano bordado com pontos à mão. O
primeiro bordado que se preserva em pano é chinês e data de
3500 AC. A China foi um dos espaços de afirmação da arte de
bordar, que remonta à dinastia Shang (1766-1122 AC.) e tornou-
se muito popular na dinastia Ming (1368-1644).
21
Bordadeiras. por força da necessidade dos trajes de culto litúrgico bordados a
ouro, defendeu e divulgou a arte de bordar em todo o mundo sob
Bilhete Postal. 1909
a sua influência. Roma, como sede do papado, transformou-se a
partir do século XVI num dos mais importantes centros do traba-
lho da agulha, por força da exigência das vestes de cerimónia do
papa e cardeais. O Cristianismo encarregou-se de divulgar a arte
em todo o lado e os conventos femininos foram centros de rele-
vo no incentivo da tradição de bordar.
22
marcada por profunda transformação fruto da mecanização do
trabalho com a máquina de bordar, considerada uma séria
ameaça para o bordado à mão de regiões como a Madeira. Em
1913 causou alvoroço no Funchal a notícia de que fora autoriza-
da a importação de máquinas de coser para o bordado. Foi nesta
época que se procedeu a uma maior divulgação dos motivos
através dos desenhos em revistas, contribuindo para o estabele-
cimento de padrões que em diversos momentos foram moda. A
divulgação de desenhos impressos terá começado no século XVI
com a publicação dos primeiros livros sobre o tema.
23
Camponesa, litografia da Mulher moendo cereal em moinho de mão.
Colecção Palhares, 1842. Litografia de P. Springett, 1843.
24
Fiar o linho.
Litografia de J. Gellaty de 1840
25
A Bordadeira.
Monumento
escultórico de Anjos
Teixeira, inaugurado
em 30 de Junho de
1986 nos Jardins do
IVBAM
26
Do bordado caseiro
ao bordado industrial
27
Miradouro do Largo
das Cruzes com o
Convento de Santa
Clara.
Gravura de Frank
Dillon, 1850.
28
Peças de vestuário
O
antigas
29
Peças
de vestuário
antigas
30
Peças
de vestuário
antigas
31
objectivo de promover junto dos madeirenses e
visitantes, as diversas indústrias e artesanato do
arquipélago. A escolha do mês de Abril deveu-se
ao facto de ser o mês em que havia maior
número de estrangeiros na ilha. O sucesso parece
que se ficou pela valorização comercial das obras
de artesanato expostas, nomeadamente o borda-
do.
32
Pormenor
de bordado
antigo
33
madeirense tem dado lugar a alguma confusão.
É comum dizer-se que foi esta donzela britânica
que introduziu o bordado na ilha. Pelo que atrás
ficou dito parece estar demonstrado que o bor-
dado já existia na ilha muito tempo antes da sua
chegada e que o contributo mais significativo foi
o de o divulgar à sociedade britânica, abrindo as
portas para um promissor mercado.
34
os primeiros a interessar-se pelo
comércio do bordado.
35
Bordadeiras.
Painel de Azulejo
na Avenida Arriaga.
Funchal. 1932
37
ainda, que os desenhos eram até então criação das bordadeiras,
mas com esta nova técnica os desenhos passaram a ser feitos e
estampados no tecido antes de serem entregues às bordadeiras.
Para facilitar o processo introduziram-se as máquinas de picotar.
A técnica obrigou ao estabelecimento de casas comerciais
no Funchal com a função de proceder ao trabalho de preparação
e à distribuição do tecido e linhas pelas bordadeiras. Junto destas
actuavam os caixeiros que procediam à distribuição pelas bor-
dadeiras dos panos e que depois os recolhiam já bordados. Toda
a tarefa de engomar e embalar os bordados estava reservada à
casa, com sede no Funchal.
38
nuarem o comércio de bordado, mas apenas desvi-
ou a atenção para novos mercados.
39
Pormenor de
Bordado antigo
40
Pormenor de
Bordado antigo
41
42
43
44
Desenho para toalha de Leandro Jardim
A crise
ou mudança do bordado
45
46
A situação da economia mundial na primeira
metade do século XX, muito marcada pelas
duas guerras mundiais (1914-19, 1929-35),
condicionou a evolução do mercado do bordado. A guerra isolou
a ilha, impedindo-a de contactar com os mercados fornecedores
de matéria-prima e consumidores de bordado. Pior que isso foi a
crise económica que lhe andou associada e que condicionou o
poder de compra dos potenciais clientes. E, como o bordado
madeirense era considerado um produto caro, não era fácil
encontrar saída. Ao mesmo tempo sucederam-se entraves em
alguns mercados. A Inglaterra estabeleceu em 1917 a proibição
de importação do bordado Madeira, sendo secundados no ano
47
Aspecto da Igreja de
Santa Clara depois do
bombardeamento
alemão de 12 de
Dezembro de 1917.
Colecção de Photographia
Museu Vicentes.
As represálias fizeram-
se sentir ao nível
económico no sector
dos bordados.
48
Desenho humorístico Bordadeiras
de Re-Nhau-Nhau.
49
KASSAB.
Desenhos
humorísticos
de Re-Nhau-Nhau.
Documento da
firma KASSAB.
50
Edifício do IVBAM. Aspecto do Núcleo Museológico do IVBAM.
51
52
Interior casa de bordados. Colecção de Photographia Museu Vicentes.
As casas de bordado
53
Os Caixeiros.
Colecção
de Photographia
Museu Vicentes.
Casa de Bordados
Emil Marghab Cª
Lda Sucr.
Arquivo do Museu
Photographia
Vicentes
54
O mercado do bordado da Madeira foi marcado ao
longo dos últimos cento e cinquenta anos por uma
elevada instabilidade, que denuncia a fragilidade
da indústria no mercado mundial. Para isso contribuiu, não só, a
conjuntura internacional, mas também, a precariedade das casas
de bordados criadas por estrangeiros, nomeadamente ingleses,
alemães e sírios. A cada grupo correspondeu uma forma de inter-
venção e mercados distintos. Os ingleses foram os primeiros a
intervir no processo. Mas foram os alemães que deram o impul-
so decisivo na diversificação dos mercados. O avanço foi travado
apenas por influência dos ingleses e acabou por ser interrompi-
do com a Primeira Guerra Mundial. Estes, forçados a sair por
força da represália política, permitiram que os sírios assumissem
o comando dos negócios.
55
Arquivo de antiga
Casa de Bordados.
56
mação, com a afirmação das casas de bordado em detrimento
dos exportadores. A diferença estava em que os últimos se limi-
tavam a adquirir o bordado às bordadeiras, enquanto os segun-
dos passaram a intervir directamente no processo produtivo
dando às bordadeiras o tecido já com os desenhos estampados.
Para isso montaram uma rede de agentes em toda a ilha, que
procedia à distribuição dos panos e depois recolhia-os já borda-
dos. A mudança incrementada pelos alemães conduziu à afir-
mação das chamadas Casas de Bordados. No primeiro quartel do
século XX são referenciadas as seguintes casas: A. J. Fróes, Casa
Bradwil, Casa Grande, Casa Hougas, Casa Maru, Casa Suiça,
Companhia Portuguesa de Bordados, H. C. Payne, Hamú, José
Clemente da silva, Mallouk Bros, M. R. Silva Diniz, Wagner,
Schinitzer, União Madeirense de Bordados, Casa Americana.
57
Escola de bordado.
Arquivo do Museu
Photographia
Vicentes
58
Lavandaria de casa de bordados. Selo holográfico.
59
60
Publicidade
Bilhete antigo
da Bordal (1968)
61
Bordadeiras. Dezembro de 1938, a obrigatoriedade de o bordado para venda
dispor de um selo de garantia. A criação por decreto regional do
Painel de Azulejo
na Avenida Arriaga.
IBTAM em 1977 veio a atribuir uma nova dinâmica e intervenção
Funchal.1932 do Governo Regional no sector. A defesa da qualidade do borda-
do continuou a ser uma aposta definindo-se a partir de 2000 o
uso do selo holográfico como forma de evitar falsificações. Por
outro lado a aposta na inovação levou o Governo Regional a criar
o Centro de Moda e Design. Dos objectivos fazem parte a apos-
ta na criação de novos produtos, servindo-se das tecnologias de
ponta, com a introdução do Design, Imagem e Marketing. A par-
tir daqui abriu-se uma nova oportunidade para o sector do bor-
dado. E hoje é evidente que o bordado Madeira conquistou um
lugar cativo na moda, surgindo vários estilistas madeirenses que
apostaram com sucesso na utilização do bordado no vestuário.
62
A BORDADEIRA
A bordadeira
63
Desenhos
humorísticos de
Re-Nhau-Nhau
64
Bordadeiras.
Bilhete Postal
65
66
Acabamentos na produção do bordado.
só em 1863 no relatório de Francisco de Paula Campos e Oliveira
sobre as indústrias do arquipélago. Aqui considera-se o bordado
já como uma indústria caseira muito importante que ocupa 1029
mulheres em toda a ilha. Não obstante esta ser uma actividade
caseira usual era na cidade e freguesias vizinhas do recinto ur-
bano que se notava uma maior incidência de mulheres dedicadas
a esta actividade. Apenas o Funchal e Câmara de Lobos totalizam
mais de 97% do total. Isto resulta certamente da proximidade do
local de venda e de ainda não estar montada a rede de dis-
tribuição e recolha organizada pelas casas comerciais. O Norte da
ilha não assumia ainda qualquer importância.
68
Bordadeiras.
Bilhete Postal
69
domínio exclusivo do processo de fabrico.
Entrou-se num ciclo de produção em que
intervêm diversos agentes, como os dese-
nhadores, estampadores, agentes, veri-
ficadoras e engomadeiras. Ao lado da bor-
dadeira caseira surgiu a profissional que
trabalha nas casas de bordados. A estas
juntam-se ainda outros trabalhadores que
intervinham no processo. Todavia este
grupo é diminuto. Em 1922 eram 2500 que
trabalhavam nas 70 casas, enquanto em
1968 as 88 casas empregavam apenas 450
e estavam servidas de 1500 agentes.
70
muitos casos uma actividade que as
ocupasse o dia inteiro. Os centavos dos
pontos eram sempre bem vindos. Em
1952 os 47.252 contos contemplavam
mais de cinquenta mil famílias em toda
a ilha, o que representava 18% do total
da população.
71
Pormenor de Bordado antigo
72
madeirenses para o Brasil. No Rio de Janeiro, S. Paulo, Santos e
Ceará é notória a presença do bordado madeirense. No morro de
São Bento, em Santos o bordado já não tem a qualidade dos anos
sessenta e está em vias de desaparecimento. Em Itapajé, no Ceará
em Fortaleza, mantém-se vivo. Aqui a cidade é conhecida como a
capital do bordado, porque o mesmo é uma das principais activi-
dades económicas. Na Venezuela, os testemunhos de muitas das
mulheres madeirenses que saíram da ilha nos anos cinquenta reve-
lam que não se perdeu o hábito de bordar, havendo casos em que
se enviavam as peças desde o Funchal e que depois eram devolvi-
das já bordadas.
73
74
Material para estampagem dos desenhos. Núcleo Museológico do IVBAM
As técnicas
e os materiais 75
Máquina
de estampar
desenhos.
Núcleo Museológico
do IVBAM
76
A segunda metade do século dezanove foi marca-
da por profundas alterações nas técnicas usadas
no bordado, nos tecidos e nos padrões bordados,
ajustando-os nos padrões mais solicitados pelos mercados de des-
tino do bordado. Primeiro os ingleses, através de Miss Phelps e,
depois, os alemães deram o contributo mais significativo para a re-
volução do bordado e a afirmação no mercado externo.
Os tecidos mais comuns para bordar eram o algodão de
cassa, cambraia, linho, seda natural, sendo aplicada a linha bran-
ca baça e raramente a azul e vermelha. O bordado em algodão e
seda foi promovido pelos alemães que também apostaram na
linha branca. Mas a introdução do bordado em seda é considera-
do um contributo da senhora Counis. Quanto ao tecido usado,
temos algumas referências: em 1849 enviou-se para Lisboa o
bordado em esguião de linho. E no ano imediato, na exposição
organizada pelo Governo Civil peças de bordado apresentadas
em seda, matiz e de “passe em filó”(uma espécie de renda).
A maior parte dos tecidos com que se bordavam eram de
importação. Da Inglaterra e da Holanda importava-se linho,
enquanto da Alemanha chegava o algodão. A presença do algo-
dão foi promovida de forma clara a partir de 1897 pelo governo
77
Memória histórica
do bordado,
vendo-se a máquina
de picotar e alguns Desenho
desenhos enrolados. humorístico
de Re-Nhau-
Bordal. Nhau
78
Oficina de
desenho
e picotar.
79
Máquina de picotar.
80
O processo de fabrico
do bordado madeirense
81
O processo de fabrico do bordado Madeira pode ser dividido em
cinco fases, descritas a seguir por Maria da Soledade.
82
É desacertado classificar de artífice o desenhador,
pois a sua função não é, como se possa julgar,
copiar, ampliar, decalcar, etc; ele é, antes, um artista criador de
inesgotáveis recursos.
O desenho
do bordado
Desenhar
83
Curvímetro
Contagem
dos pontos
com o curvímetro
84
inesgotável que é a imaginação
deste artista ao qual não foi ainda
reconhecido todo o real mérito.
Mas, vamos continuando a
“nossa viagem”.
O desenho passa em seguida
para a secção da “contagem” dos
pontos a fim de se apurar a verba a
pagar à bordadeira. Os preços ou-
trora eram feitos por cálculo medi-
ante o critério, dos industriais,
adquirido com a prática. Ainda há
pouco ouvimos uma referência ao
assunto, reportando-se há vinte
anos atrás, em que “ilhós” e “grega”
eram pagos a X centavos... por palmo...
Os pontos são classificados e, feito a média, apura-se o
preço. Há que medir todos os traços do desenho (incluindo as
brides do “richelieu”) para achar o total exacto.
A medição faz-se com o curvímetro – aparelho para medir o
comprimento de linhas curvas- que vai registando as medidas pe-
rante as quais o encarregado da contagem “acha” o número de
pontos que a ela corresponde: “Xis” metros de “caseado” equivale
a “Ipsilon” de pontos, (...)
O curvímetro tem um pequeno cabo onde se pega para o
manejar, e é provido dum mostrador, redondo, com a circunfe-
rência de 9,5 cm., aproximadamente. Um pequeno rodízio vai
deslizando por todos os traços e o ponteiro do mostrador acusa a
medida – cada volta equivale a um metro.- O empregado, com a
mão livre, vai anotando os metros e assinalando a vermelho, leve-
mente, os traços já percorridos pelo curvímetro, para que não haja
falhas ou repetição. (...)
Quando o formato da peça e o modelo do desenho se
prestam, tanto este, como a medição refere-se apenas a uma
quarta parte, fazendo-se depois o desdobramento.
Feita a “contagem dos pontos” o desenho vai para a secção
de picotagem.
85
Máquina de picotar. Picotagem do desenho
Picotar
86
Estampagem.
Estampar
A estampagem ou estresido
(passar o desenho para o tecido) faz-
-se em largas mesas pondo o papel,
bem estendido, em cima da peça que
se pretende bordar, fixando-o com
pesos para que não deslize. Depois as
operárias passam, em toda a superfí-
cie, picotada com uma “boneca” de
algodão embebida em anil desfeito
com petróleo e uma mistura de cera,
e imediatamente o desenho passa
para ao tecido.
87
Desenho
pintado para
a bordadeira
88
Bordadeiras. Arquivo do Museu Photographia Vicentes Bilhete-Bordal
Bordar
89
Lavar e engomar
90
Remates finais do bordado. Recorte de uma
Arquivo do Museu Photographia Vicentes peça bordada.
91
92
Os pontos
do bordado
madeira
93
94
H oje, os bordados feitos na nossa ilha abrangem,
praticamente, quase todas as modalidades em
voga em todo o país, quer em configuração quer
nos “pontos” e por esse motivo é vasta a denominação dos mes-
mos, que vamos apontar tanto quanto possível:
Granitos “garanitos” – pequenas circunferências, a cheio,
pouco maiores que cabeças de alfinetes; Ilhó; Folha Aberta e
Folha Bastida (bastido é o bordado a cheio e aplica-se em várias
formas e formatos); “Richelieu” e Oficial (o desenho é do mesmo
género, mas o “oficial” é todo feito em cordão, incluindo as
brides, ao passo que, como se sabe, o “richelieu” é caseado;
Ponto francês, (no continente, ponto Paris) singelo ou duplo para
aplicações de tecido simples ou sobreposto; Grega (ilhós contor-
95
Pontos
do Bordado
Madeira
96
Toalhas de bordado madeira, Bordal
97
MATIZ
E PONTO CHÃO
ARRENDADOS,
ponto de crivo
98
BASTIDOS
ou ponto cheio
CASEADOS
99
CAVACAS
GRANITOS
ou garanitos
100
ILHÓS
101
PESPONTO
ou ponto de areia
RICHELIEU E OFICIAL
102
Ponto Cordão ou pau
PONTO FRANCÊS
E PONTO SOMBRA
103
Tabela de Contagem de Pontos de Bordar
Aprovada por Despacho Ministerial de 9 de Janeiro de 1946
(A) ILHÓS
Ilhó aberto até 6mm de diâmetro Um
Ilhó fechado (bastido) até 6mm de diâmetro, Um
Ilhó aberto de grega até 6mm de diâmetro; Dois
(B) FOLHAS
Folha aberta até a area de 25mm2 e até o
comprimento de 8mm Um
Folha fechada (bastida) até a are a de 25mm2 Um
e até o comprimento de 8mm..
(C) GRANITOS
Granitos seguidos até a área de 3mm2,
por cada 6 granitos Um
Granitos rematados até a área de 3mm2
por cada quatro granitos Um
Granitos seguidos até a área de 3mm2
em forma de estrela, por cada seis granitos Um
Granitos bastidos até área de 3mm2 em forma de
viúva, por cada cinco granitos Dois
(E) DIVERSOS
Pesponto, por cada 1cm2 Quatro
Bastido-Matiz, por cada lcm2 Quatro
Ponto de sombra (reverso) por cada 1cm2 Dois
Ponto Chão Três
104
(E) ARRENDADO
Até a area de 5cm2, por cada Cm2 Dez
Superior a 5Cm2 até a area de 15cm2 por cada Cm2 Oito
Superior a 15cm2 até 25cm2 por cada Cm2 Seis
Superior a 25cm2, por cada Cm2 Cinco
(I) CAZIADOS
Caziado liso até 4mm, de espessura por cada metro Sessenta
Caziado bastido ate 4mm de espessura,
por cada metro Oitenta
Caziado: prendendo o contorno de aplicação ou
bainha (excepto na orla da bainha quando o
caziado seja para recortar) aumento de 50%
dos pontos industriais.
105
Bomboteiros.
Colecção de Photographia
Museu Vicentes
106
Os mercados
do bordado madeira 107
Funchal.
Século XIX
Casa de Bordados
Alexander I Hamrah
Inc - Lavadeiras,
1919.
Arquivo do Museu
Photographia Vicentes
108
O mercado do bordado Madeira em pouco mais de
século e meio evoluiu de acordo com as con-
tingências da conjuntura internacional, apresen-
tando-se como um produto vulnerável face às mudanças no mer-
cado de destino, pelo simples facto de ser um produto de luxo.
Ao longo deste período foi evidente a fixação quase exclusiva em
determinados momentos em quase só um mercado, o que veio a
condicionar a evolução desta indústria. Primeiro tivemos os ingle-
ses, seguiram-se os alemães, os norte-americanos, o Brasil e,
finalmente a Itália. A tudo isto acresce que desde o século XIX o
mercado europeu do bordado era extremamente competitivo,
não dependendo apenas da existência da ilha da Madeira, uma
vez que em várias regiões da Europa esta indústria artesanal
existia e passou por um lento processo de transformação. O
processo de mecanização do trabalho desde meados do século
XIX e, depois, a concorrência do mercado oriental foram fortes
entraves à afirmação do bordado artesanal da Madeira.
109
o seu valor comercial nas trocas locais e depois
na exportação para distintos mercados. Em
meados do século XIX, antes que chegasse ao
mercado britânico, vendia-se porta a porta aos
inúmeros estrangeiros de visita ou de pas-
sagem pelo Funchal. Durante muito tempo o
mercado local de souveniers foi alimentado por
estas vendas feitas pelas próprias bordadeiras.
110
Funchal. Século XIX. Casa de Bordados
Alexander I. Hamrah
o que denúncia uma crise do bordado que será superada com a Co. Inc, 1920.
presença dos alemães a partir dos anos oitenta. Depois só volta- Arquivo do Museu
mos a dispor de dados a partir de 1890, que assinalam uma Photographia Vicentes
mudança no mercado de destino do bordado. Os alemães, desde
1881 passaram a intervir localmente e de imediato assumiram
uma posição dominante, desviando o rumo das exportações para
a Alemanha. A viragem foi significativa a partir de 1895 e man-
teve-se até 1911, altura em que começou a perder importância.
O mercado inglês foi sempre muito reduzido nunca ultrapassan-
do as 3,5 toneladas, enquanto o alemão desde 1895 suplantou
as 30 t, atingindo mais de 50 em 1907. Nos primeiros anos do
século XX o bordado assumiu uma posição de relevo nas expor-
tações, sem conseguir suplantar o vinho.
111
Os dados disponíveis sobre a exportação para o período da
guerra provam precisamente o contrário do que é comum afir-
mar-se. A guerra não provocou qualquer crise no bordado que
continuou a ter mercado garantido e encontrou nos sírios os per-
feitos substitutos dos alemães. Aliás, o período foi de prosperi-
dade para o bordado, sendo os anos vinte o momento de plena
afirmação nas exportações. As vendas que em 1906 não suplan-
tavam os 6 contos atingem em 1924 os 100.000 contos. Em
1923 o bordado ocupava mais de 70.000 madeirenses e o comér-
cio era garantido por 100 casas que o exportavam para a
América do Norte, Canadá, Inglaterra, França.
112
Pormenor de Bordado antigo
113
Funchal
Princípios século XX
Funchal hoje.
114
Casa Portuguesa
de Bordados.
Arquivo do Museu
Photographia
Vicentes
Casa de bordados Perestrellos.
Arquivo do Museu Photographia Vicentes
115
Bomboteiros no Porto do Funchal.
116
Os estrangeiros
e o bordado 117
Pormenor de Bordado antigo.
118
Lenço antigo.
OS ALEMÃES
119
Pormenor de toalha.
Núcleo Museológico
do IVBAM
OS INGLESES
120
bordadeiras. Todavia, isto não era impedimento para que as Pormenor de
Bordado antigo.
exportações fossem elevadas chegando a 25 toneladas. Ainda no
mesmo ano o norte-americano Anthony J. Drexel Biddle afirma-
va que a Madeira era famosa pelo bordado, ocupando a indústria
o sexo feminino na cidade e no campo. O trabalho de Miss
Phelps, na promoção da actividade a partir de 1856 é motivo de
orgulho para os britânicos.
OS PORTUGUESES
121
Aspecto de toalha. Núcleo Museológico do IVBAM Peças de quarto de dormir.
Núcleo Museológico do IVBAM
122
Ai borda Rica Filha borda borda
Ai borda rica filha borda bem
Em casa rica filha todos bordam
E borda o pai e borda a filha e borda a mãe.
Em 1924 Raul Brandão no périplo pelas ilhas, que reportou em Quarto de Dormir.
As Ilhas Desconhecidas, apresenta o fadário da bordadeira insular: As
Núcleo Museológico do
mulheres bordam. É a grande indústria feminina dos Açores e da IVBAM.
Madeira. Em quase todas as cabanas se vêem raparigas atentas
sobre o linho de dedal enfiado no dedo. A América leva tudo. O nego-
ciante fornece-lhes o pano estampado e elas compram as linhas.
Pouco ganham. Mas criam hábitos de trabalho. Tornam-se atentas e
delicadas. Desde que bordam que no campo se fala mais baixo.
123
Saiote.
124
adaptar-se aos modernos desenhos.
Para António Montes (Terras de Portugal, 1939) o que mais o
comoveu na visita foram os ajuntamentos de mulheres que bor-
dam: Das indústrias regionais madeirenses, é, no entanto, a dos
bordados, a mais notável, e, por isso, mesmo, a que constitui fac-
tor económico apreciável.(...).
125
Pormenor de Bordado
126
Peças de Bordado
com selo holográfico
127
bordado e deixando para a mãe ou para a avó a parte mais difícil.
São 70.000 operárias recrutadas em todas as idades, desde as que
começam a espigar até às velhas simpáticas de óculos encavalita-
dos no nariz. Trabalham muito, lutam heroicamente pela vida.
A indústria dos bordados é a primeira das exercidas no distri-
to do Funchal. Rara é a mulher da Madeira que não sabe bordar e
que não aproveita o tempo que lhe sobra das lides da casa para
ganhar algum dinheiro por essa forma.(...)
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Bordadeira.
Gravura de Max
Romer, 1925
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Conclusão
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Peças de Cama. Bordal.
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O bordado como mercadoria de exportação com peso
evidente na economia da ilha tem pouco mais de
cento e cinquenta anos, mas está presente desde
os tempos do povoamento do arquipélago na casa dos
madeirenses. Durante este silêncio de mais de trezentos e
cinquenta anos a madeirense bordava de portas adentro para
compor o seu enxoval ou para presentear os parentes e amigos.
A assiduidade da presença de estrangeiros na ilha, de passagem
ou em actividade de negócios e o seu interesse evidente pelos
usos e costumes propiciou a revelação do quotidiano madeirense
e a valorização do trabalho artesanal, como as flores, as rendas
e o bordado.
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Toalha de Mesa. Bordal
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escritores, cientistas. Foram estes que, em estâncias demoradas
em casas e quintas dos madeirenses, descobriram o segredo dos
lavores guardados portas adentro, apaixonando-se pelo lavor das
mulheres que os fizeram.
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Peças de bordado. Bordal
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Pormenor
de bordado
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Toalhas de Mesa Bordal