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Introdução
A proposta deste artigo é efetuar uma livre-associação sobre a Psicologia da Saúde e suas
diversas ramificações ou aplicações. Essa reflexão acontecerá utilizando-se dos ambientes
acadêmico, institucional e político. A Psicologia da Saúde visa o atendimento dos pacientes
internados ou não, bem como as pessoas envolvidas no processo de adoecer-curar. Em termos
estruturais, o autor, baseado na experiência clínica-hospitalar ou de posto de saúde de mais de
9 anos, discute brevemente a história da Psicologia da saúde, faz um resumo das principais
teorias e técnicas dentro dos hospitais e finaliza com a necessidade de realização de pesquisas
qualitativas. Estas últimas poderão clarear a prática futura dos psicólogos da saúde, entendida
como humanizadora, facilitadora e suportiva de ser e estar paciente.
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indicado para o tratamento de algumas doenças ou de realização de cirurgias.
Considerando o dramático ritmo de aceleração tecnológica, o maior desafio dos hospitais é
conseguir tratar os pacientes com rapidez e qualidade no plano da humanização, independente
da classe social ou econômica dos mesmos. Isso é difícil e não é tarefa exclusiva para apenas
um grupo político ou profissional. Deveremos implementar uma estratégia mais eficaz de
implantação da saúde, pois esperar que a pessoa fique doente para depois tratá-la é muito mais
arriscado e caro. O planejamento de ações de saúde pressupõe que a mesma não acontece
naturalmente, mas que ela deva ser conquistada nas pequenas ações do cotidiano. Dentro
desse panorama diversificado, complicado e cheio de barreiras sociais e econômicas, está a
Psicologia da Saúde, mas quem é ela? quando ela “nasceu”? Quais são suas expectativas ou
metas?
Qualidade e pesquisa
Não é demais repetir que o atendimento é a chave-mestra no trabalho psicológico no hospital.
Quando um paciente ou grupo recebe atendimento humanizador ou suportivo de qualidade, essa
prática pode ter um efeito acelerador do tempo de internação. Outro efeito bastante visível é a
multiplicação e a socialização das informações na equipe que atende o paciente. Isso favorece
não apenas a imagem da Psicologia, mas também a própria instituição. Sabemos que o paciente
é um só, e que as divisões entre mente e corpo existem somente no plano teórico, didático ou
de pesquisa. Uma vez que o ser humano é capaz de aprender com a experiência e passar a
informação ou atendimento recebido como uma “receita” que humaniza as relações, diminui a
penosidade de ser ou estar doente. Pode parecer um pouco idealizada essa situação de
atendimento, mas tenho certeza de que essa prática permite um certo aprendizado sobre si e a
doença e fica mais agradável o clima na equipe assistencial.
Realizar pesquisas no campo das tarefas psicológicas humanizadoras pode ser entendida
como a busca de compreensão ou de relações causais entre os fatores somáticos e os
emocionais. O tipo de pesquisa, bem como os instrumentos têm relação direta com a teoria
psicológica que o profissional adota ou acredita. Assim, alguns psicólogos procuram um “perfil”
do cardíaco, do portador do vírus da AIDS, do diabético, do hemofílico etc. Nessa procura
aplicará instrumentos desenvolvidos pela Psicologia. Os psicólogos podem usar entrevistas
estruturadas, estudos de casos, questionários ou os testes para tentar uma aproximação do que
seja o mundo interno do paciente. O perfil tem muita semelhança com a personalidade: pode ser
o tipo, o estilo, as angústias, as defesas ou estratégias cognitivas para lidar com o processo de
adoecimento, internação, tratamento, cirurgias, recuperação, alta ou eminência da morte.
A prática da Psicologia da Saúde não está ligada necessariamente ao paciente. Suas
aplicações ultrapassam o atendimento breve ou suportivo para aquele que está sob seus
cuidados. Muitas vezes é necessário atender a família do enfermo, o que obriga o psicólogo a
possuir recursos cognitivos de abordagem grupal (dinâmicas de grupo de integração ou
aprofundamento temático), casal ou familiar (diagnóstico, intervenção e avaliação do
atendimento).
No entanto, mais importante do que todas as considerações efetuadas sobre o campo da
Psicologia da Saúde, a discussão e a compreensão da identidade do psicólogo se torna
primordial, pois as ferramentas mais importantes na prática dos profissionais da área são suas
emoções, intuições ou feeling, combinadas com a habilidade técnica e racional. Essas
ferramentas podem configurar um atendimento psicológico de qualidade e efetivo.
Em qualquer atividade desenvolvida pelo psicólogo da saúde (clínica, ambulatorial, pesquisa,
docência e supervisão), ele deverá documentar o atendimento ou intervenção efetuado. Essa
prática visa não apenas o cumprimento de aspectos éticos-administrativos, mas a elaboração de
documentos sérios. Essas informações escritas poderão ser futuras pesquisas que nortearão as
práticas dos psicólogos da saúde.
Considerações finais
Quando comecei atender os pacientes da pediatria em 1991, por diversas vezes pensei em:
1- Fornecer apenas informações técnicas e racionais sobre a doença aos pacientes; 2-
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Funcionar como o falicitador das comunicações da criança com os familiares ou equipe; 3-
Brincar e emprestar brinquedos para não entrar em contato com a dor do paciente; 4- Fazer
apenas grupo de mães, uma vez que elas falavam a linguagem simbólica com mais facilidade; e
5- Desistir ou “torcer” para que o paciente ganhasse alta logo, não precisasse de atendimento
psicológico ou fosse atendido pela outra psicóloga. Nas supervisões, pude compreender esses
desejos. O que é tudo isso se não uma racionalização ou resistência em aceitar a tarefa
assistencial? Eu bem sei que começar com atividades definidas ou programadas não mobiliza
angústias, mas como é possível, se cada paciente é único e as variáveis do ambiente são
complexas?
Só que não precisamos cometer os erros dos nossos colegas, devemos aprender com a
experiência deles. Para que isso seja possível, é necessário o compartilhamento de
informações. Assim, penso que cinco elementos da formação e atuação dos psicólogos da
saúde são fundamentais para a realização de um trabalho assistencial com qualidade:
1.Aprimorar os conhecimentos racionais sobre a patologia e as ferramentas técnicas de ajuda
psicológica;
2.Estar integrado à equipe multi ou interdisciplinar (saber dos objetivos da área);
3.Adotar a política de sempre pesquisar ou estar aberto para novas aprendizagens;
4.Atender com supervisão psicológica periódica; e
5.Submeter-se à maratonas, workshops, vivências, psicoterapia ou análise.
Tudo o que foi dito aqui, não existe desvinculado de ideologias, crenças, valores,
conhecimento sobre si mesmo e o mundo interno do paciente. Paralelamente a isso, existe o
atual estágio da Medicina e Psicologia: muitos avanços foram feitos por ambas, o que resulta
em pontos de acordo e/ou pontos nebulosos.
Neste ano de 1998, a AIDS está deixando de de ser diagnóstico de terminalidade graças ao
coquetel de drogas. Ela passou para a categoria de doenças crônicas e oportunistas. O fator
limitante é o custo dos medicamentos, pois os ricos possuem acesso ao coquetel. O câncer já
pode ser controlado pela quimioterapia sem grandes efeitos colaterais e isso foi uma conquista
de um oncologista brasileiro.
Considerar as necessidades de A. Maslow ou psicogênicas de A. Murray são fundamentais
para uma humanização eficiente do paciente internado, independente da fase em que ele se
encontra no entender de Klüber-Ross.
Assim, independente da teoria e condições de atuação dos psicólogos da saúde ou do
hospital, uma psicoterapia ou análise pessoal poderá facilitar em muito um atendimento com
qualidade e humanização na complexa tarefa assistencial. Diagnósticos, tratamentos
quimioterápicos, dores, cirurgias, mutilações, identidades sexuais, abortos, adoções,
infertilidades, abusos, vitimizações, eutanásia, suicídio ou morte são os principais conteúdos
dos trabalhos psicológicos na área da saúde. Como esses temas podem ser abordados pelos
psicólogos sem que eles façam uso da negação ou racionalização?
Finalmente, mais uma pergunta: quem é que decide se uma prática psicológica está
adequada ao nosso tempo, se esse tempo é de acelerada mudança, de incorporação de
Megatendências e quebra de vários valores e paradigmas? O que fazer com a pressão pelo
atendimento psicológico via Internet? Considere que existem vários diagnósticos médicos que
são feitos por esse sistema. Assim, acredito ser urgente a pesquisa séria e compromissada na
área. Elas deverão indicar os caminhos das práticas humanizadoras e suportivas na área da
saúde e o resgate da identidade dos profissionais envolvidos.
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