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Um destes dias o João Pedro, um sem-abrigo em Coimbra, veio a nossa casa pedir

algo para comer. Já era noite. Convidámo-lo a entrar e perguntamos-lhe o que desejava
jantar. Admirado pela questão disse que queria apenas aquilo que tivéssemos preparado.
Insistimos que ele nos dissesse aquilo que tinha vontade de comer, visto que de facto, não
tínhamos nada previsto. A sorrir disse: “umas costeletas com batatas fritas caíam mesmo
bem!”. Óptimo, disse-mos nós, e convidámo-lo a vir preparar o jantar connosco. Foi
neste clima que ele partilhou connosco a sua vida de sem-abrigo. Entre as muitas lições
da sua vida retive a frase: “O que mais me custa é quando alguém não me olha, me evita
ou me condena pelo seu olhar. Porque me olhas assim? Apetece-me muitas vezes
perguntar… Sou pessoa como tu, mesmo vivendo na rua”.

Porque não me olhas?


Não olhar, não querer ver, ou passar ao lado é a atitude mais fácil diante do
incómodo que pode ser um sem-abrigo, um drogado, um imigrante… De consciência
“tranquila” continuo o meu caminho. Recuso-me olhar para o lado. Os que estão à beira
do caminho não têm nada para dar e o melhor é não parar, assim nem arrisco me
questionar.
Esta atitude recordou-me um dos conselhos de Tobite a seu filho “Nunca afastes de
algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus” (Tb 4, 7). O pobre,
seja ele o meu vizinho, ou aquele que vive algures em Africa, na Asia, na America, ou
nos suburbios de uma grande cidade, é o preferido de Deus. Talvez não tenha nada para
me dar, mas no seu olhar posso-me encontrar comigo, com Deus e com o próximo.
Porque não me olhas? Talvez porque o meu olhar me pode denunciar, mas “Ninguém é
tão rico que não tenha mais nada a receber, nem tão pobre que não tenha nada para dar”.
Porque não me olhas? Questão que eu sinto particularmente pertinente em relação
aos países do Sul. Desde que cheguei do Congo que posso contar as vezes que ouvi falar
dos problemas que vivem os povos africanos. Os nossos olhos só vêm o que alguns
escolhem para vermos. Porque não interessam aos olhos da comunicação social os
milhões de pessoas que vivem no limiar da pobreza? Nascem, lutam diariamente pelo
“pão nosso de cada dia”, morrem… no silêncio. E quando temos a coragem de olhar,
como olhamos?

“Porque me olhas assim?”


O nosso olhar é o espelho do que nos vai no coração. Pelo nosso olhar podemos
acolher ou rejeitar aqueles que se cruzam connosco. Quando temos a coragem de olhar
não corramos o risco de julgar, seria melhor não parar. Mais do que uma esmola o pobre
espera ser olhado como um irmão. As feridas de um passado atribulado, da solidão, da
exclusão são profundas e não temos o direito de, continuamente, as metermos ao
descoberto com o nosso “triste” olhar.
Porque me olhas assim? Tem vontade de dizer o João Pedro e tantos milhões de
pessoas que só são, tantas vezes, dignas de um olhar, quando é para julgar ou salientar o
“espectáculo” dos seus dramas quotidianos.
Porque me olhas assim? Esta expressão pode igualmente ter um sentido positivo.
Quantas pessoas pelo seu olhar, pela sua proximidade, pela a sua atenção deixam aquele
que sofre sem palavras e mesmo embaraçados concluem: não tenho nada para te dar. É o
caso de todos aqueles que encontram a sua felicidade trabalhando pela felicidade do
outro. Os seus olhares têm uma misteriosa força.

A força de um olhar
No dia 15 de Março faz 173 anos que nasceu Daniel Comboni, o homem de olhar
apaixonado, profundo e confiante. Olhou nos olhos o povo a quem foi enviado. Deixou-
se apaixonar. Foi um amor à primeira vista: “O primeiro amor da minha juventude foi
para a infeliz Nigricia”. Viveu intensamente esta paixão, de manhã à noite, dia após dia e
até dar a vida: “ Quero partilhar a sorte com cada um de vós, e o mais feliz dos meus dias
será aquele em que puder dar a vida por vós”.
Um olhar profundo. Discerniu os sinais da presença de Deus e percebeu as
potencialidades daqueles povos: “A África salvará a África”. Trabalhou incansavelmente
pela abolição da escravatura e não poupou esforços para atingir o objectivo “Não
pouparei canseiras, nem viagens, nem a vida, para ter êxito nesta empresa, Morrerei com
o nome da África nos lábios”.
Um olhar confiante em Deus. As suas palavras manifestam a sua fé: “Há que tentar
todos os caminhos e enfrentar todos os sacrifícios, confiando naquele que tudo vê e tudo
pode, que ama todos os povos e a todos quer salvar”. O seu plano é o plano de Deus para
a humanidade, a salvação a felicidade para todos. Esta certeza leva Comboni a dar a vida,
porém o sue plano está apenas começado. A missão de olhar com paixão, com
profundidade e confiança os mais pobres e abandonados continua actual e urgente. É
tempo de acreditar e de arriscar. É tempo de preparar a Páscoa para todos.
É tempo de olhar com os olhos de Deus… que são os teus!
Estamos a começar a Quaresma. Quarenta dias de preparação do nosso coração
para viver o mistério central da nossa fé: a paixão, morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
Que o nosso olhar seja o reflexo do olhar de Deus. Um simples olhar pode fazer renascer
das cinzas, construir pontes e abrir novos horizontes para ti e para aqueles que se cruzam
contigo. Arrisca olhar de frente, acolher o diferente e amar toda a gente!

Para reflexão:
“Erguendo o olhar e reparando que uma grande multidão viera ter com Ele, Jesus
disse então a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?» (Jo 6, 5)
Lê a passagem Mc 10, 17-22. Jo 6, 1-15 Jesus um olhar de eleição para a missão.

Como te sentes olhado/a por Deus?


Como olhas o diferente, o desconfortável, o imigrante, o excluído?
Jesus ergueu o olhar, viu e agiu em favor da multidão que veio ter com ele. O que
vês que te interpela à acção?

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