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A evolução crítica
Fábio Coutinho Silva
2009
Fábio Coutinho Silva
José Veríssimo
1. A evolução da obra de José Veríssimo
1.1.2. Tratam-se de estudos etnográficos, históricos e linguísticos, “através dos quais se pudesse
apreender a essência do tipo brasileiro” (Op. cit., p. XVIII)
1.2. Segunda fase: de 1891 a 1900, participação na vida intelectual do Rio de Janeiro, como
crítico literário, professor e editor.
1.2.1. “vai ser caracterizada exatamente pelo esforço em libertar-se daquelas limitações geracionais”.
(Op. cit., p. XXIV)
1.2.2. Segunda série de Estudos Brasileiros: “elo de transição metodológica entre sua atividade
vinculada às transformações desencadeadas pela „geração de 70‟ e a sua especificidade como
crítico individualizado das obras seguintes”. (Op. cit., p. XXV)
1.3. Terceira fase: de 1901 a 1916, “vai revelar dois tipos de preocupação cultural: de um
lado, é o desejo de especificar a sua atividade (...); de outro lado, é a permanente
aspiração em participar da vida nacional pela crítica dos acontecimentos sociais e
políticos (...)” (Op. cit., p. XXXIV)
1.3.1. Ao final, reúne seus textos e livros e escreve a História da literatura brasileira, publicada no
mesmo ano de sua morte, 1916.
1.3.2. “De sua HLB também se disse, com muita justiça, que é um „pequeno monumento de síntese
objetiva‟, erigido depois de mais de vinte e cinco anos de análises da literatura brasileira”
(ALENCAR, H., 1963, p. XXVI)
1.3.3. Nessa obra, modifica muitas de suas posições apresentadas em textos anteriores, “como
documento da humildade e da probidade intelectual de José Veríssimo.” (Op. cit., p. XIII-XIV)
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2. Textos estudados
2.1. Das condições da produção literária no Brasil. In.: Estudos da literatura brasileira: 3ª
série. Introdução de Oscar Mendes. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, Ed. da USP,
1977.
2.3.1. BARBOSA, J. A. Introdução. In.: José Veríssimo: teoria, crítica e história literária.
_________ (seleção e apresentação). Rio de Janeiro, Livros técnicos e Científicos;
São Paulo, Ed. da USP, 1977.
2.3.2. Prefácios de Oscar Mendes e Heron de Alencar às obras Estudos literários
brasileiros e História da literatura brasileira, respectivamente.
2.3.3. http://pt.wikipedia.org/wiki/José_Veríssimo
2.3.4. História da literatura brasileira disponível para download (texto integral):
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000116.pdf
3. Modo de ler
3.1. “a leitura que se propõe de José Veríssimo deve levar em conta, simultaneamente, a
posição de seus textos dentro do contexto histórico-cultural, neste caso permitindo uma
abordagem ampla da série literária, e a especificidade de sua resposta aos problemas e
questões com que se defrontava” (1977, p. X)
3.2. Notaremos no primeiro texto o que Barbosa aponta como “esforço desempenhado pelo
escritor no sentido de encontrar a sua própria linguagem, isto é, a maneira individual de
articular a diacronia de suas experiências e a sincronia do seu texto”. (Op. cit.)
3.3. Se é possível notar na segunda fase esse empenho em superar impasses teórico-
metodológicos sobre a abordagem do texto literário, “buscando fugir do estado de
indeterminação” que caracterizava a crítica de seus predecessores, por outro lado,
percebemos ainda certa insuficiência da linguagem e foco, algo que aparecerá bem mais
amadurecido em sua História da literatura brasileira.
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4.2.1. “Somente a história nos poderá dar um conceito exato da arte e das suas condições
de produção como da literatura e das condições de produção que lhe são próprias, da
sua natureza, das suas funções, dos seus fins e até dos seus meios e das variações
deles”. (p. 31)
4.2.2. Estudo comparativo: “Um método só e exclusivo em crítica é, com efeito, por via
de regra, perigoso e falaz, e o único meio de escapar aos defeitos que lhe são
próprios será verificar os seus resultados por outros processos, sujeitá-lo a outras
provas, examinar e estudar os fatos a outra luz”. (p. 32)
4.3. Observa que pela escassez de documentos necessários ou pela dificuldade de acesso a
eles, o “estudo direto das obras de arte não era fácil”.
4.5.2. Considera então, na esteira de Michel e Taine, as condições geográficas, políticas, herança
psicológica, nascimento, meio familiar, educação, leituras, fatos históricos e biográficos,
influências confessadas pelo autor, etc.
4.5.3. “A cultura, e certo, pode modificar, e muito, esse produto, mas não é ainda capaz de destruir nele
os elementos com que a herança e o meio geográfico, social e moral, o afeiçoam. Alargada assim,
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em nem a posso compreender senão assim, a hipótese de Taine parece-me ainda exata, e preciosa
para entendermos a gênese e a evolução literária”. (p. 35)
4.7. Nesse ponto, analisa a presença das condições geográficas das diferentes regiões do país
sobre a produção literária.
4.8. Apesar de afirmar que a geografia não seja determinante, aponta diferenças entre a
poesia do Norte e a do Sul do Brasil, considera as artes européias em diversos países e
suas diferentes condições de produção e, consequentemente, de resultados.
4.9. Sobre a origem da literatura no Brasil, observa que “A causa desta nossa florescência
poética não foi a terra, nem essa beleza exagerada que lhe emprestou o nosso nativismo
(...). Foi a herança portuguesa, a tradição literária e poética de um povo cuja poesia, no
século da conquista, era das mais ilustres da Europa.” (p. 38-39)
4.10. No período colonial, com a exceção de Gregório de Matos, vê uma literatura
“insignificante, incaracterística, sem personalidade, palaciana (...), aduladora do poder”.
4.11. Mais tarde conclui: “E uma sociedade incaracterística não pode produzir senão uma
literatura incaracterística”.
4.12. Assim resume o conjunto dos poetas anteriores ao Romantismo: “a maior parte sem
talento real, não são mais que pálidos imitadores dos da metrópole, e , todos entregues ao
pseudo-classicismo, ficam inteiramente estranhos à nova natureza, às novas coisas, aos
novos aspectos que os rodeiam”. (p. 42)
4.13. O evolução literária brasileira é analisada segundo os fatos históricos que fizeram-
na, de início, predominantemente nortista e, mais tarde, sulista (Minas Gerais e Rio de
Janeiro).
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apesar de sua pobreza, tem uma sociabilidade mais fácil, tem mesmo mais sociedade que o Sul.”
(p. 41)
4.16. Analisa que, por razões políticas, mais precisamente no período dos reinados,
houve absoluta “liberdade espiritual”, sem desconfiança dos governos sobre as idéias
veiculadas na literatura.
4.20. Nisso despreza as manifestações locais e isoladas de literatura: “Tais literaturas não
têm reais condições de vida em mesquinhas cidades provinciais. Só ma grande capital
lhas oferece”.
4.21. E conclui que o pouco contato com as culturas mundiais, quando poucos são os que
viajam à Europa e mantêm esse contato estético, contribui para uma formação falha do
escritor; além das dificuldades que se encontra para viajar e conhecer o próprio país.
4.22. Fechamento:
4.22.1. “Qualquer que seja, porém, o valor destas condições, causas e incentivos da produção literária,
aqui ou alhures, não pode esta ser valiosa sem que no escritor haja, além do talento, cultura que o
fortifique e fecunde, idéias e sentimentos que o valorizem, e a ciência de exprimi-los” (p. 48)
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5.3. Ainda assim, vê como evidente que nossos estilos acompanhassem, com atraso, os
períodos literários de Portugal.
5.4. Critica a predominância do estilo seiscentista (que não se encerrara em 1699 nem mesmo
em Portugal) no Brasil, ou escola gongórica ou espanhola, como resultado da
“balbuciante expressão de uma sociedade embrionária, sem feição nem caráter, inculta e
grossa”. (p. 3)
5.5. A exceção que atribuía ao Gregório de Matos agora se limita ao seu estro satírico.
5.5.1. “De resto o seu caso ficou único e isolado, incapaz, portanto, de alterar como quer que fosse a
continuidade do nosso desenvolvimento literário. E os fatos provam que em nada o alterou.
Simultânea e posteriormente continuou aquele como se vinha fazendo”. (p. 4)
5.6. “Somente com os primeiros românticos, entre 1836 e 1846, a poesia brasileira,
retomando a trilha logo apagada da Plêiade Mineira entra já a cantar com inspiração feita
dum consciente espírito nacional. Atuando na expressão principiava essa inspiração a
diferençá-la da portuguesa.” (p. 4)
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5.9. Nessa evolução, aponta para um fato histórico importante que vai estimular uma maior
independência literária diante de Portugal: “entra o país a experimentar o influxo de
outras e melhores culturas, sofre novos contatos e reações, que são outros tantos
estímulos da sua inteligência e capacidade literária.”
5.13. Definindo seus critérios de seleção do cânone para a HLB, apresenta considerável
consciência formal sobre o conceito de literatura:
5.13.1. “Literatura é arte literária. Somente o escrito com o propósito ou a intuição dessa arte, isto é, com
os artifícios de invenção e de composição que a constituem é, a meu ver, literatura. Assim
pensando, quiçá erradamente, pois não me presumo de infalível, sistematicamente excluo da
história da literatura brasileira quanto a esta luz se não deva considerar literatura.” (p. 10)
5.14. E a noção de prazer estético aparece em uma citação que faz de Lanson:
5.14.1. “a literatura destina-se a nos causar um prazer intelectual, conjunto ao exercício de nossas
faculdades intelectuais, e do qual lucrem estas mais forças, ductilidade e riqueza. É assim a
literatura um instrumento de cultura interior; tal o seu verdadeiro ofício.” (p. 11)
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5.15. Critica os historiadores literários brasileiros pelos “fartos róis de autores e obras,
acompanhados de elogios desmarcados e impertinentes qualificativos”, em uma
ostentação e vaidade de erudição.
5.15.1. “Não quero cair no mesmo engano de supor que a crítica ou a história literária têm faculdades
para dar vida e mérito ao que de si não tem. Igualmente não desejo continuar a fazer da história da
nossa literatura um cemitério, enchendo-a de autores de todo mortos, alguns ao nascer.” (p. 12)
5.16. Se o gosto e o senso comum são, para ele, mecanismos de seleção do cânone (ainda
que não use esse termo), tem total consciência de que ambos não seguem meros
caprichos dos interesses subjetivos, mas são determinados também pela qualidade
estética das obras que se consagram e de seu poder de influência à série literária:
5.16.1. “Cabe excluir-lhe da história, que deve ser a da literatura viva, indivíduos e obras que virtudes de
ideação ou de expressão não assinalaram bastante para poderem continuar estimados além do seu
tempo. Obras que apenas o acompanharam, sem nele influírem ou se distinguirem” (p. 13)
5.18. Nas páginas finais de sua introdução, preconiza que a história literária deve ser,
antes de tudo, uma história das obras e não dos autores, com uso moderado dos dados
biográficos.
5.19. Apresenta um conceito próximo ao que se poderá chamar mais tarde de
“monumentos literários”:
5.19.1. “Um livro pode constituir uma obra, vinte podem não fazê-la. São obras e não livros, escritores e
não meros autores que fazem e ilustram uma literatura.”
5.21. Demonstra muita clareza em seu pensamento sobre a relação entre sua crítica e a
tradição existente. Sabe que suas idéias podem coincidir a alheias.
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5.21.1. “Tal o espírito em que após mais de vinte e cinco anos de estudo da nossa literatura empreendo
escrever-lhe a história. Não me anima, em toda a sinceridade o digo, a presunção de encher
nenhuma lacuna nem de prevalecer contra o que do assunto há escrito, certamente com maior
cabedal de saber e mais talento. Não há matéria que dispense novos estudos. Existe sempre, em
qualquer uma, lugar para outros labores. Não desconheço o que devo aos meus beneméritos
predecessores desde Varnhagen até o Sr. Sílvio Romero.” (p. 15)
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