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ISSN 0103-8109
A V A L I A Ç Ã O D E P R O J E T O S D E L E I
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travestida de proteção contra determinar, ainda no curso do de computadores passam a ser de
cibercrimes. Com isso, obras auto- inquérito policial, a retirada de competência da Polícia Federal, na
rais existentes na internet recebem material da internet que pratique, medida em que a internet, em
proteção suplementar, maior do induza ou incite “a discriminação ou especial, não segue as fronteiras
que as obras existentes em outros preconceito de raça, cor, etnia, estaduais em suas comunicações,
meios, eliminando as hipóteses de religião ou procedência nacional”. sendo natural a existência de re-
uso justificado de obra alheia, O projeto de lei altera ainda o percussão interestadual ou inter-
independente da autorização do Estatuto da Criança e do Ado- nacional.
titular, que a Lei de Direitos lescente (Lei nº 8.069/1990), Talvez o ponto mais polêmico
Autorais contempla. através de seu artigo 20, que altera do projeto de lei seja o artigo 22,
O artigo 16 do Projeto de Lei o artigo 241 da referida Lei, para que cria obrigações para os
apresenta definições de termos constar: “apresentar, produzir, responsáveis pelo provimento de
utilizados na lei. Com certeza não vender, receptar, fornecer, divulgar, acesso à rede de computadores. O
é o melhor lugar para fazê-lo, publicar ou armazenar consigo, por que não se restringe aos pro-
devendo ser seguida a técnica qualquer meio de comunicação, vedores de acesso à internet, mas
americana, onde os termos são inclusive rede mundial de compu- a toda e qualquer forma de co-
definidos antes de qualquer menção tadores ou internet, fotografias, municação por via eletrônica, posto
aos mesmos. Ali encontramos imagens com pornografia ou cenas que o projeto define rede de com-
definições de: dispositivo de comu- de sexo explícito envolvendo putadores como “o conjunto de
nicação; sistema informatizado; criança ou adolescente.” O texto computadores, dispositivos de
rede de computadores; código proposto acrescenta novas figuras comunicação e sistemas infor-
malicioso; dados informáticos; e típicas ao texto existente, mas, no matizados que obedecem a um
dados de tráfego. Ainda que se tocante à internet, a mudança na conjunto de regras, parâmetros,
possam apontar imprecisões nas redação não se faz necessária, códigos, formatos e outras infor-
mesmas, nada é muito grave. A posto que a lei já se referia a “foto- mações agrupadas em protocolo”.
mais importante, que merece ser grafia, vídeo ou outro registro”, O artigo 22, ao criar a obrigação
aqui repetida, é a de dados de não importando o seu meio de de guarda de registros de acesso
tráfego, posto que útil para a armazenamento. O que se tem, na por três anos, traz dois problemas
compreensão do artigo 22: “todos verdade, é uma verdadeira mu- práticos. Primeiro, novos custos a
os dados informáticos relacionados dança na legislação sobre por- todos aqueles que, de alguma
com sua comunicação efetuada por nografia infantil, com acréscimo de forma, provêem acesso, sem
meio de uma rede de compu- múltiplas condutas, inseridas indicar a fonte de receita, posto
tadores, sistema informatizado ou indevidamente em uma lei que que o custeio parcial por parte do
dispositivo de comunicação, gera- deveria tratar somente de ciber- FISTEL não consta mais da redação
dos por eles como elemento de crimes. do projeto (os provedores de
uma cadeia de comunicação, indi- No tocante à investigação dos acesso já guardam esses registros
cando origem da comunicação, o cibercrimes, esta se transfere para por três meses). Essa obrigação é
destino, o trajeto, a hora, a data, o a Polícia Federal, “quando houver geral, incluindo desde empresas de
tamanho, a duração ou o tipo do repercussão interestadual ou inter- telecomunicações que vendem
serviço subjacente”. nacional que exija repressão uni- serviços de acesso à internet,
Entre as leis ordinárias, o forme” ao inserir o inciso V na Lei universidades que possuem labo-
Projeto de Lei altera a Lei nº 7.716, nº 10.446/2002, com a seguinte ratórios de informática e acesso
que define os crimes resultantes do redação: “os delitos praticados sem fio, cybercafés, empresas que
preconceito de raça ou de cor. O contra ou mediante rede de com- permitem acesso à internet para
artigo 20, §3º, III, passa a incluir putadores, dispositivo de comuni- seus funcionários no local de
na sua redação as transmissões cação ou sistema informatizado”. O trabalho e até os usuários que
eletrônicas ou publicação em efeito real é que quase todos os deixam suas redes sem fio
qualquer meio, permitindo ao juiz crimes praticados mediante rede domésticas abertas, estando
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excluídos da proteção contra uso OUTROS PROJETOS legislativa e o verdadeiro pavor da
indevido mencionada art. 285-A do internet que parece ocupar o
Código Penal. O artigo abrange Ainda em tempo, NOTAS alerta Congresso Nacional criam também
ainda as próprias iniciativas do que este não é o único projeto projetos que beiram o ridículo. O
Governo em inclusão digital, como sobre o tema, apesar de ser o que Projeto de Lei nº 3.369/2008, do
telecentros e redes abertas. se encontra com a tramitação mais Deputado Carlos Bezerra, visa
Mais do que a obrigação de avançada. O Projeto de Lei do tornar “obrigatória a inserção nos
guardar os dados, que implica Senado nº 494/2008, de autoria do vídeos dos monitores dos com-
compra de equipamentos e custos Senador Magno Malta, nascido na putadores comercializados no país
de armazenamento, o Projeto cria Comissão Parlamentar de Inquérito a advertência de que o uso indevido
a obrigação de fornecer esses da Pedofilia, partilha dos mesmos do computador pode gerar infrações
dados quando solicitados e notificar que sujeitam o usuário à res-
possíveis crimes. Isso requer a ponsabilização administrativa, penal
existência de pessoal especializado e cível”. Como acontece com qual-
para essas tarefas, agravando o “NOTAS REFORÇA quer outro bem, seja ele uma faca
problema dos custos criados pela de cozinha, um baldinho de praia ou
SUA CONSTANTE DEFESA
lei. Nos serviços pagos, são custos um trator. Mas nenhum deles vem
a serem transferidos aos consu- DAS LIBERDADES
com o alerta de que o mau uso pode
midores. Nos serviços gratuitos, INDIVIDUAIS E DA LIVRE gerar responsabilização.
são custos a serem suportados pelo INICIATIVA, BEM COMO A
governo ou entidades civis como NECESSIDADE DE LEIS CONCLUSÃO
universidades, associações e clubes.
QUE IDENTIFIQUEM E
E, nos casos dos indivíduos que NOTAS aproveita esses casos
permitem acesso às suas redes PUNAM CORRETAMENTE
para lembrar que uma regulamen-
privadas por desejo de compar- OS CRIMINOSOS, PARA A tação indevida da internet é
tilhar, as novas obrigações levam ao MANUTENÇÃO DO duplamente prejudicial. Por um
fim dessa liberalidade. ESTADO DE DIREITO E lado, nos coloca no caminho de
Está previsto ainda, no § 1º, o regimes totalitários, como Cuba,
DA PAZ SOCIAL.”
estabelecimento, por regulamento, Irã e China, onde o uso da internet
de regras para o armazenamento é restrito e vigiado. Por outro, cria
dos dados e uma auditoria sobre limitações ao acesso que recaem,
os mesmos a serem definidos por vícios de impor obrigações irra- em especial, sobre as camadas mais
regulamento. O mesmo regula- zoáveis à atividade privada, im- pobres, aumentando a exclusão
mento deve definir a autoridade pedindo tanto fornecedores quanto digital e impedindo que o país
responsável por essa auditoria. consumidores de realizar suas ingresse na chamada “sociedade da
Tudo isso aumenta a incerteza atividades regulares pela criação de informação”.
jurídica, na medida em que mero custos extras, tanto diretos quanto NOTAS reforça sua constante
regulamento pode definir con- de transação. Cria também o defesa das liberdades individuais e
dições técnicas de armazenagem vigilantismo privado, tratando da livre iniciativa, bem como a ne-
incompatíveis com a atividade como criminosos os particulares cessidade de leis que identifiquem
desenvolvida pelo particular ou de que se negarem a cumprir a e punam corretamente os crimi-
alto custo, inviabilizando o pro- atividade estatal de polícia. E nosos, para a manutenção do
vimento de acesso, em especial autoriza a entrega de cadastros à estado de direito e da paz social.
quando este não é o negócio polícia e ao ministério público sem Como a “Lei Azeredo” não permite
principal. E, em caso de des- autorização judicial. alcançar nenhum desses objetivos,
cumprimento, há multas que Além de inconstitucionais e res- NOTAS defende o veto ao Projeto
podem chegar a R$200 mil. tritivos à liberdade, a verborragia de Lei nº 89/2003.