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"Dois Rios"... Duas horas e meia de caminhada, desde a Vila do Abraão, na Ilha Grande, litoral
sul do RJ.
Te amando, te busco e, na busca imensa,
Escolho, a esmo, na ilha, uma trilha,
Que é longa e sofrida, mas nela avanço,
Porque o que busco a tudo compensa,
Não importa onde esteja, em qual canto da ilha...
Na busca eu prossigo, com fé, sem descanso.
E vou decidido, em passos medidos,
De olhos atentos na tosca estrada,
E, enquanto caminho, vou descortinando
Cenários tão belos, quão desconhecidos;
Mas eu que não vejo beleza em nada,
Nas curvas da estrada insisto, buscando.
Os pássaros cantam em todo o caminho,
A tudo envolvendo em tal sinfonia,
Que é um brinde sonoro à mãe Natureza...
Mas isso só aumenta o meu eu tão sozinho,
Por isso, insisto na louca mania,
Buscando por ti em meio à incerteza.
Agora, o que escuto são águas rolando
Do alto da serra, formando um riacho;
E a água que bate nas pedras polidas
São lágrimas vindas da mata, chorando,
Com pena de mim que busco e não acho...
São lágrimas vãs nas águas perdidas.
Enfim, eis que chego ao fim desta trilha:
Termina em DOIS RIOS, um belo recanto,
De onde dois rios deságuam no mar;
Entre eles, a praia, maior maravilha!
É tudo um cenário de puro encanto!
Na busca decido não mais teimar...
Porque vi teu corpo nas curvas da estrada;
No canto das aves, ouvi tua voz;
No choro das águas, vi tua amargura,
Chorando, por ver-se, de mim, afastada;
E, desde a nascente do rio à foz,
Senti tua presença... P'ra que mais procura?
Iguais, somos rios, mas não somos uno,
Pois és um dos rios descendo da serra,
E eu sou o outro rio a caminho do mar,
Correndo às bênçãos do deus Netuno,
Que viu nosso amor começando na terra
E, agora, quer nEle esse tão grande AMAR.
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MEU RETRATO
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A VISITA DA SOLIDÃO
(Inspirada em obra, de igual título, de Arlete de Andrade)
Vem, Solidão... Entra e fica.
As lágrimas já cessaram,
As dores já se acalmaram,
Só a saudade futrica
Coisas passadas, comigo...
Dor e lágrimas dormiram.
Entra, sim, mas sem alarde,
Pois será cruel castigo,
Um sofrimento sem fim,
Se, a esta hora, tão tarde,
Aquelas duas despertam...
Tem piedade de mim!
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AMOR E APARÊNCIA
Tenho ainda, na lembrança,
Uma luz tênue e distante
Que, piscando, incessante,
Me acenava com a esperança...
Insinuando, em mim, certeza
Que o encanto e a magia
Para sempre existiria
Na distante luz acesa.
E, assim, como encantado,
Fui em tua direção
Para ver verdade ou não
Em teu amor tão confessado.
Mas viver é navegar,
E o mar de calmaria,
Pra virar de rebeldia,
Não tem hora nem lugar.
Veio então a tempestade
Que já era esperada,
A testar, num tudo ou nada,
Se o amor era verdade.
E, no teste, a tua exigência
De amar sob condição...
Não, querida, não amas não;
Teu amor é conveniência.
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ARCOS-ÍRIS DE AMOR
Alicerçado na areia,
De certeza desprovido...
Eis o amor que tenho visto,
E que em pouco se baseia,
Pois se ampara em um só sentido:
O da visão, que falseia.
A este amor eu resisto;
Vez que pouco vai avante,
Pois o belo no presente,
Fica feio mais adiante,
Já que o tempo o desmente...
Mas o amor à minha amada
É a certeza no invisível
Que não tem cara nem cor;
Contra ele, tudo é nada,
É eterno, invencível,
É de luz o nosso amor,
Pois da alma minha e dela
É que o nosso amor aflora,
Almas-Sóis que, ‘inda distantes,
Formam um arco de aquarela,
A trocar luz e calor...
Eis o nosso amor de agora:
Eu e ela, astros amantes.
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BURACOS NO CORAÇÃO
Ah, meu pobre coração!
Nem com isso mais parece...
Tem lanhos de sobe e desce,
Tem buraco em cima e em baixo,
Que até os dedos da mão,
Nos buracos dele, encaixo...
Mas dos buracos que padece,
De tanto amor dado em vão,
Há um só que me aborrece,
E que a alma não esquece,
Pois de amor foi feito não...
Foi de dissimulação.
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CAMINHOS DE LUZ
Preciso dizer do que sinto em meu peito,
Falar dessa luz que está dentro de mim,
Mostrando-me as portas de um mundo perdido
Que eu não encontrava e me achava iludido,
Porque eu buscava o mais que perfeito:
Viver com alguém um amor sem ter fim.
E nessa procura tão desesperada,
Por nada encontrar, via esmorecendo
A força que eu tinha e que, assim, se esvaía...
O amor que eu queria, então, não existia,
E eu estava chegando ao fim dessa estrada
Que eu vinha, então e em vão, percorrendo.
Mas eis que aquilo que eu tanto queria
Jamais poderia chegar de repente,
Varando meu ser de tão intensa emoção...
A mim chegaria, aos poucos, senão,
A minha estrutura não resistiria...
Por isso, chegaste a mim mansamente.
E tão mansamente chegaste, e eu não via
Tua luz de energia atuando em mim,
Que, vindo dos céus, como algo bendito,
É o anjo de luz vindo do infinito,
Encanto divino que, assim, me envolvia
Na felicidade chegando, enfim.
E eis que te amando nessa aura de luz,
Embora distante e, por isso, sofrendo
No contentamento ainda incompleto,
Estou como estás: de certeza, repleto,
Que nossos caminhos é Deus quem conduz
No amor infinito que estamos vivendo.
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CARTA À MUSA
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CONSOLO
Perto de ti... Ah! Como eu quisera...
Num átimo de emoção incontida,
Abraçar-te forte e envolver-te, querida,
E, assim, banir o que te desespera,
Extirpando de ti essa dor sofrida.
Perto de ti... Ah! Como eu quisera,
Olhos nos olhos, dizer que 'inda há vida,
Que por mais dor alguma serás perseguida,
Que por mim nunca mais haverá espera,
E que a paz voltará e será mantida
Perto de ti... Ah! Como eu quisera...
Dizer que, agora, daremos partida
Para um novo caminho, a curar tua ferida,
E, envolvida em carinho e ternura sincera,
Encontrarás, em mim, tua força perdida.
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CONVERSÃO
Vejo um anjo na promessa
Do teu nick reticente,
E uma imagem envolvente,
Aos meus olhos, vem, do nada;
Deste nada material
Que a Internet dá à gente,
Construindo, em minha mente,
Outro alguém a mim igual.
Muito, então, conversaremos;
Animados, eloqüentes...
O que sinto? O que sentes?
Por aí, começaremos...
Devagar, ir-me-ei despindo
Dos meus véus interiores,
Para que vejas as cores
Do que buscas, insistindo.
E no avanço da conversa,
Aos poucos, te desnudando,
Em mulher vou transformando
Aquel’anjo da promessa.
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DECISÃO
Eu devia ligar para ti... eu devia,
Pra dizer que não sais mais de minha cabeça,
E que é inútil tentar a que não aconteça
De te ver ao meu lado no meu dia-a-dia.
Eu devia ligar e dizer que eu devia
Era ter engolido tuas brigas vazias,
E as imagens ruins que de mim tu fazias,
Vendo um monstro em mim que não há, nem havia.
Eu devia ligar e dizer, mas não ligo,
Pois - tu sabes - mentir para ti não consigo
E, se ligo, estaria, ali, pressentindo
Que, ao ouvir teu "Alô! Como vai? Tudo bem?"
Sou sincero, mas sou orgulhoso também,
E, se ali eu disser “estou bem”, estou mentindo.
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DESCONSOLO
Ainda me lembro da triste partida...
Sem tua presença, achei-me perdido,
E aos céus elevei-me, naquele instante,
A ver se nos raios de um sol tão distante
Pudesse encontrar, em calor convertido,
Um alento, um consolo à dor da tua ida.
Talvez, mergulhando no azul infinito,
Ali, encontrasse a paz inebriante
Que me consolasse a alma ferida...
Em busca do Sol fui, em minha aflição,
Mas os raios solares perdiam-se ao léu,
E nem tinham o dourado que me seduz
Dos cabelos que tive ao alcance da mão...
E que graça, ali, eu veria no céu?
Pois, ainda que azul e imerso em luz,
Faltava-lhe o brilho banhado em emoção,
Que eu vi no azul dos teus olhos, querida,
Marejados nas lágrimas da despedida.
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DOCE FEITIÇO
O que é que me envolve em tão doce encanto,
Afastando-me, assim, da rotina diária?
Na inicial, já não vejo as notícias do dia,
E nem mais vou à page que me embevecia...
Foi chegando, chegando de forma arbitrária,
Invadindo minh'alma e me enchendo de espanto.
O que é que encobre, assim, como um manto,
Essa minha existência demais solitária?
Devolveu-me aquilo que outrora eu sentia,
Quando o amor me fazia ver só poesia,
E, amando, eu vivia a existência hilária,
Estampada na face alegre de um infante.
Há de ser, da tua voz sensual, o convite?
Ou teu lânguido gesto à cabeça volvida,
Num trejeito gracioso, tentando ajeitar
Os cabelos revoltos na brisa do mar?...
Que será que, em ti, me enfeitiça, querida,
Pra eu viver, como vivo, esse amor sem limite?
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ESCADA POÉTICA
Numa torre, o som de um sino,
E, cá embaixo, uma escada,
Levando ninguém a nada...
Coisa de gente sem tino,
Pois a algum lugar, de certo,
Ela levaria a gente;
Mas findava, abruptamente,
Na parede de concreto.
E, por não servir p'ra nada,
A pobre escada sofria
Num caracol de agonia,
Até ver-se reparada
De sua dor, ao ser galgada
Pelos passos da poesia.
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Vem, pra ver, enfurecido,
O Mar, e a brisa contando
Que está Ele reclamando
De mim, filho mais querido...
Se queixa do meu desprezo,
E manda ondas, rolando,
A ver se apagam a chama
Deste amor em mim aceso.
Mas, ao ver-nos abraçados,
Tu e eu, inebriados
Pela paixão que inflama;
Tu correndo, eu te pegando...
Nós dois rolando na areia,
O Mar fica sossegado,
Porque vai estar pensando:
"Meu filho com uma sereia..."
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EXORTAÇÃO
Poetas, atenção! Pegai em armas!
Ouvi! Há um dos nossos em perigo.
Sabeis que um apaixonado é nosso amigo,
E a nós pertencem todos os seus carmas,
Suas dores e todos os seus castigos.
Munamo-nos da arma poderosa,
Capaz de fulminar seu inimigo.
Mas, antes, escutai o que vos digo:
A musa dele posa de orgulhosa,
E nele nem sequer mais põe a vista,
Negado-lhe os louros da conquista;
Não é, no entanto, a musa espinhosa
O mal que o leva a tanto pôr-se em pranto.
Ainda que se negue a ouvir-lhe, a insana,
E diga que não vê mais nele encanto,
Lançando em sofrimento o amado irmão,
De sua boca, apenas, é que emana
O mal que se instalou no coração.
Aqui, irmão, está nosso amuleto,
Que marca-nos perante a Poesia;
Verás o que por ti ele fará...
Eu falo é do poder de um soneto;
Aplica-te a um, com maestria,
Que a tua musa, ao ler, se renderá.
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FLOR-DE-LIS
Te quero comigo, como eu sempre quis,
Para, tendo-te presa, envolta em meus braços,
Despir teus pudores com gestos devassos,
Decidido a busca meu troféu Flor-de-Lis;
Preencher com volúpia os cantos e espaços
De teu corpo, a fazer-te minha meretriz;
Ler nos teu olhos o que a boca não diz;
Romper teus tabus, desatar-te dos laços
E, submetendo-te a estranhos compassos,
Flagrar em tua face o róseo matiz
De ver-se rainha em poses servis,
Por mim conquistada nos tons violáceos
Das marcas dos beijos em pontos esparsos...
Flor despetalada, vencida e feliz.
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AS RAZÕES DO AMOR
I
II
III
IV
Recolhido, feito um pinto,
Encarcerado num ovo,
Não me mexo e fico mudo,
P'ra não falar do que sinto,
Já que, em falar, não resolvo.
Minha cabeça dói... Por quê?
Dói, de tanto bicar casca,
- Casca dura como um escudo -
Descansa, agora, em mãos juntas...
Abrir a casca p'ra quê?
P'ra enfrentar fria nevasca
Na branca casca e em tudo?
Fiquem em branco as perguntas,
No "p'ra quê" e no "por quê",
No branco da covardia...
Ficarei – não mais me iludo -
Dentro do ovo, sim,
E deixarei a apatia,
Ir se apossando de mim,
Até pôr-me mudo e mouco,
E que importam as respostas
Às perguntas que eu fazia?
Já não importam nem um pouco,
Pois sou grato, de mãos postas,
Liberto do precipício,
ÀquELE em quem tanto creio,
Por não me importar mais, enfim,
Se o amor nasceu no início,
Foi minguando pelo meio,
E, agora, chega ao fim.
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INSPIRAÇÃO
Vem!
Descendo,
Num crescendo...
Vem, como alguém
Que tanto esperei,
E, na espera, sofrendo...
Vem! Sem ti, eu sou ninguém,
Alguém que reina, sem ser rei
No reino d'alma e do coração.
Vem, grande musa Euterpe; por Zeus, vem
Honrar-me co'a coroa da inspiração!
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MAR DE E-MAILS
Milhões de e-mails vejo no meu mar,
Delícia no horizonte a se perder...
Meu Deus! É impossível todas ler!
Pois deste a mim, de olhos, só um par.
Já sei o que fazer na emergência:
Lerei, primeiro, aquelas de urgência,
Que vêm da musa que é minha paixão;
Depois, vou separando as poesias,
P'ra mais adiante ler co'o coração,
Ainda que, a isso, eu leve dias.
E às outras musas vou pedir perdão
Por, sem querer, fazer descortesias,
Ferindo-as com a maior das heresias:
De ser chamado e não dar atenção.
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MINHA ÂNCORA
Mergulhar eu quisera no excelso prazer,
Embriagar-me no néctar dos teus lábios quentes,
Elevando-me a céus de mil rubros poentes,
Que os teus seios, beijados, não podem dizer...
O que mais desejar pode, enfim, um poeta
Que, te amando, não tem mais nenhuma esperança
De viver, novamente, o que, agora, é lembrança
Da ventura que, outrora, vivemos completa!
Mergulhar, eu quisera, onde estás mergulhada,
Pois, não vês, de onde estás, os meu dias vazios
E, tampouco, a tristeza em mi’a face a escorrer,
Como livres anéis de corrente quebrada,
Que, sem âncora, correm em meu rosto, vadios,
A dizer que, sem ti, meu viver é morrer.
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MINHA ESPERA
Continuo, só, na espera...
É mais um dia vazio,
Mais um inverno sem frio,
Um sem flor na primavera
Vazio sem agonia
Na espera resignada;
Um tudo cheio de nada,
Sem dor e sem alegria.
Mas nem toda espera é vã,
E, por mais que seja o afã,
Sem espera não há bom vinho,
E por ela é que caminho,
Na busca pelo sabor
Da embriaguez de um novo amor.
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NATUREZA SOLIDÁRIA
Cai a chuva... Cai lá fora
E estilhaça em minha vidraça...
Chuva que só piora
A solidão que me abraça.
O silvado que entoa
Um intrometido vento
Traz um canto de lamento
Que em minha alma ecoa...
E as gotas derramando,
Na janela embaçada,
São a cópia consumada
Dos meus olhos, marejando.
Vou, assim, mal suportando
Essa dor de uma amor sofrido...
Nunca me dou por vencido,
Contra a dor vou pelejando,
E, na luta contra o horror
D'em teu amor, não ver certeza,
Vou vendo na Natureza
As lágrimas da minha dor.
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Ah! Se alguém disser: "duvido
Desse presumido encanto",
À Pousada eu o convido;
E, ao chegar, lá, no recanto,
Vai prostrar-se em louvor,
Quando ver que ainda resta,
No ar, o clima de festa
Das nossas noites de amor.
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ODE À VIDA
(Em memória de Elizabeth, ex-esposa)
É preciso viver, apesar de tudo...
Apesar de saber que só há certeza
Do encontro com a dor, agonia e tristeza,
À espera de todos num fim absurdo.
Viver, sim, é preciso, apesar de tudo...
Vivendo a ilusão de se achar protegido,
De sentir-se, entre todos, o mais ungido
Na trágica graça de um falso escudo.
Viver uma vida que não se concebe
Ser trilha de lutas, que leva ao nada
De uma despedida, e ninguém percebe
Que a morte é porta para novas vidas,
Circuito infinito de vindas e idas,
Mistério sem marcas de início ou chegada.
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PEDIDO
Preciso já duma graça,
— Dai-me, Deus, por merecer —
Pois preciso arrefecer
Prá suportar a desgraça
De, por mais força que eu faça,
Não conseguir te esquecer...
Confessa-me um passo errado,
Um mal feito abominável,
Alguma coisa execrável
Que tu tenhas praticado,
E que torne vulnerável
Esse amor tão desbragado.
Se, atendido, me levanto
Dessa minha penitência;
Mas, seu eu não tiver clemência,
Hei de recolher-me a um canto,
A morrer por tua ausência,
Para em ti viver no entanto.
@@@@@@@
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QUE ME IMPORTA
Que me importa o silêncio sombrio da
Noite,
Que me envolve em seu manto sem luz e
Sem cor?
Que importância há de ter eu estar só
Comigo,
Sem poder partilhar o meu vinho com um
Amigo,
Ou de ter com alguma uma noite de
Amor?
Que me importa, enfim, esses lanhos do
Açoite
Que fustigam minh'alma esse tanto
Ferida?
Se os raios de luz trazem, ao meu
Monitor,
Pequeninas porções de minha musa
Querida.
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Vejo sombrios matizes
Neste amor tão dolorido,
Que mais dor tem recolhido
Do que momentos felizes...
Nas promessas de mudanças
Quero crer, mas não consigo,
E de estar, enfim, contigo,
Disso só tenho lembranças.
Nem mais tenho a expectativa
De ver e-mails de amor,
Transmudando em calor,
De coisa real e viva...
De não sentir mais o frio
Da tua presença ausente...
Ver teu amor mais eloqüente...
Qual? Nem nisso mais confio.
Neste amor de sofrimentos,
Vejo, enfim, poucos momentos
De felicidade plena...
– Raios de sol no inverno –
Que nem sei se vale a pena
Tanto fel, tão pouco mel:
Amargar meses de inferno
Por uns momentos de céu.
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SANTO ABRIGO
(Em homenagem à cidade de Santa Maria-RS)
Tantas águas naveguei,
Tantos portos percorridos...
E às mulheres que encontrei
Nas cidades onde eu andava,
Postei olhos e ouvidos...
Tudo em vão... Não te encontrava.
Mas, um dia, algo acontece,
Quando numa igreja entrei:
Ao pedir por ti, em prece,
A uma Santa no altar,
E em Seus olhos encontrei
Palavras a me confortar:
"Deixa estar, filho querido;
Mas não é chegada a hora
De atender ao teu pedido...
Ela há de estar contigo,
Tanto quanto está, agora,
Protegida em Meu abrigo".
Que abrigo que eu não via?...
Cheguei a pensar comigo
Que a Santa prá mim mentia...
Mas tanto disse a verdade,
Que até nome tem o abrigo:
O nome da tua cidade.
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SONETO DIDÁTICO
Poeta, avia! Desperta
E põe mais de tua atenção,
Quando leres a lição
Da poesia mais certa.
Se é que existe inspiração
Descendo em tua mente,
Dize, em versos, o que sentes,
Mas, dize-o co'o coração.
Evitar o passo manco,
Rimar embaixo e em cima,
Já é boa melhoria,
Mas preciso, a ti, ser franco:
Não basta só metro e rima,
Num texto, pra ser poesia.
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SONETO DO AMIGO
Amigo é o que está sempre contigo
Nas horas de sorriso ou de dor;
É o abrigo que, no frio, dá calor;
O escudo que te livra do perigo.
Na luta contra o mal que em ti reside,
É o teu pedaço bom dentro do peito,
A quem, na luta, ofendes num mal-feito,
Mas sabes que, dali, não vem revide.
O amigo não tem sexo ou origem,
Idade, raça ou endereço certo,
E pode ser, até, um "joão ninguém",
Mas, se precisas, ele está por perto;
É a solução das dores que te afligem,
Pedaço de tu’alma em outro alguém.
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TE QUERO TANTO...
Te quero tanto... Um querer sem fronteira,
Como luz que ilumina o meu caminho
— Caminho de pedras que estou percorrendo —
Ou brisa fresca que bate e refresca
Semblante marcado a suor e poeira.
Insisto: te quero, embora sofrendo,
Como um pescador que, em busca da pesca,
Labuta no ofício, mudo e sozinho...
Sou ave perdida e vou te querendo,
Gaivota em rochedos, buscando o ninho.
E, por não mais palavras eu ter, querida,
O meu te querer ainda for pouco,
E vãs sejam as lágrimas que vou contendo,
Eu digo: te quero e, querendo, sou louco
Porque eu te quero mais que a própria vida.
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TRAVESSEIRO, COMPANHEIRO
Perguntas-me se te amo...
Seria fácil responder
Sobre o amor que a ti proclamo?
Fácil, sim, seria mesmo,
Mas não quero responder
Como tantos dizem a esmo.
Quero, sim, dizer "te amo",
Mas não sei como dizer,
Pois, quando por ti eu clamo,
Quem me escuta é o travesseiro
Que, sem mais poder fazer,
Tenta ser mais companheiro:
Em noites tão mal dormidas,
Para minorar-me as dores
De um coração que não agüenta
Mais ausências tão sofridas,
O meu velho travesseiro
Quer me consolar com flores,
E de lágrimas se alimenta,
Para virar-se em canteiro.
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Quem vive esta vida que estamos vivendo,
Correndo pra cima, pra baixo e pros lados,
A ver se é possível ganhar uns trocados,
Verá que, em vida, viveu foi morrendo,
Morrendo no sonho não completado,
Nas coisas perdidas, nos seus desalentos,
Nos longos suspiros soprados aos ventos,
Nas lágrimas vindas de um amor acabado.
Verá que viveu, em vida, perdido,
Pois não preencheu a sua vida vazia
Nem com o dinheiro mal ou bem ganhado;
Igual a um poeta mal inspirado,
Que escreve um soneto, este, mal construído,
De rimas pueris e mal metrificado.
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TU EM MEU PENSAMENTO
Com meu pensamento por ti tomado,
Em vez de creme, pasta dental,
Esfreguei na face, tão distraído.
Ao banho, espuma no olho fechado...
Mas, 'inda assim, vi-te sob o portal,
E o meu sabonete acabou perdido.
Em vez da toalha, usei a camisa,
A ver se enxugava a cabeça molhada.
A cueca, eu ia vestindo do avesso...
Por sorte, o anjo-da-guarda me avisa:
- Se tu recolocas a peça usada,
Terás que, ao banho, voltar do começo.
Já na cozinha, o café preparando,
Encontrei-te, graciosa, toda sorriso...
Olha o que deu, como resultado:
Odor de sabão no queijo fritando,
Ovo queimado, e mais prejuízo
No café intragável de tão salgado...
E pra completar a desdita minha,
Ao pedir ajuda à vizinha do lado,
- Vê a que ponto estou apaixonado -
Berrei por teu nome ao chamar a vizinha.
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AMOR FLORIDO
Ficam feias essas flores
Assim, jogadas num canto...
Sem enfeitar coisa alguma,
Perdem quase todo o encanto.
As flores pedem carinho;
Um altar, em oferenda;
Ou um arranjo bem bonito
Num vestido azul, de renda.
Imagino, apoiada,
Em tu'orelha, uma flor,
teus cabelos enfeitando...
Não queria, — Oh, Deus — mais nada,
Pois veria, ali, o amor
Bem florido, em mim, raiando.
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É o meu primeiro cartão
que, hoje, estou te enviando.
Sim, eu sei que houve outros:
de aniversários, fins de ano...
Mas, a ti, este é o primeiro.
Os outros eu fiz às pressas,
com versos curtos, mal feitos,
e, às vezes, nem tinham versos;
bem diferente de agora,
quando, a ti, faço o primeiro.
Eu podia buscar versos,
rimas, métrica perfeita,
a tentar emocionar-te...
Mas não o farei por ora;
não neste que é o primeiro
Porque, neste, o que quero
nada tem a ver com aqueles
que fiz por obrigação...
Ah! Neste primeiro cartão
quero algo diferente:
Mostrar, na caligrafia,
que o amor em mim contido
vai crescendo, tanto e tanto,
que, sem ter como fluir,
aproveita, enquanto escrevo,
p'ra fluir por minha mão.
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No caminhar pela vida,
Muitas coisas vão ficando
Pelo caminho, perdidas...
Coisas sem grande importância
Que a gente vai descartando:
Aqui, deixei a intolerância;
Ali, mágoas recolhidas,
Embrulhadas na arrogância.
Manter tais coisas às costas,
Com o corpo, assim, vergando,
Só às pedras e ervas daninhas
Do chão a visão converte.
Não se vê o sol raiando,
Nenhuma maravilha, das sete...
Nem luzes que brilham, sozinhas,
Como a amiga Margareth.
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A FESTA DA ILUSÃO
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SONETO PROPAROXIBÊBEDO
MULHER VADIA
POESIA MORTA
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Negro Amor
(Najah ÐL® e Net 7 Mares)
EXCEÇÃO AO RECH
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SILÊNCIO
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Há o silêncio do medo
E, também, da ignorância
De quem não sabe a distância
Que há entre o triste e o ledo.
Há o silêncio da morte,
Da dor, da desesperança...
Há o silêncio da criança
Que não tem, na vida, um Norte.
No político solerte,
O silêncio está ausente,
Até porque, se presente,
O silêncio compromete.
@@@@@
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VERSINHOS NO ODIGO
GOTINHAS EM PERIGO
COMPENSAÇÃO FRUSTRAÇÃO
MANHA FELINA