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Depois de Samarcanda e Xátiva: percursos do livro para lá do Ocidente

Nuno Pinho

MESTRADO EM ESTUDOS
EDITORIAIS
Disciplina: História e Cultura do Livro
Docente: Prof.ª Doutora Maria Teresa Cortez
Ano Lectivo: 2008-2009

Índice
1
Introdução …………………………………………………………………………….………………p. 3
1. Extremo Oriente …………………………………….………………………………………….…..p. 5
2. Islão …………………………………………………………………………………………...…..p. 11
3. Ásia (Índia) ……….………...……………………………………...……………………………..p. 14
4. América Latina ………………………………………………………………………………...….p. 16
Considerações finais ………………………………………………………………………………...p. 19
Bibliografia ………………………………………………………………………………………….p. 20

Introdução

Para um iniciado no estudo da História do Livro, não deixa de causar certa estranheza que a
determinada altura, as menções ao oriente e outros espaços geográficos para lá da Europa e EUA quase
que desapareçam. Afinal de contas, mesmo os mais leigos na matéria sabem da importância da China e
da Coreia na invenção do papel e de formas primitivas de impressão. Os estudantes desta disciplina
reconhecem ainda ao mundo muçulmano a importância de terem sido eles a transportar os segredos
desta arte para o Ocidente, primeiro através da Batalha de Samarcanda (actual Uzbequistão), onde se
apropriaram das técnicas papeleiras chinesas em 751 d.C. e, mais tarde, sendo responsáveis pela
introdução do fabrico do papel na Europa via Xátiva (1144/1174).
2
No entanto, com a explosão gutenbergiana no séc. XV, as menções ao Oriente desaparecem da
maior parte dos compêndios de História do Livro: “[…] all too frequently, book historians in the West
(and by this we mean mostly Europe, North America, and Australasia) devote themselves exclusively to
their relatively small part of the world. However, we forget the book beyond these narrow confines at
our intellectual peril.» (Eliot e Rose, 2007: 2). É com esta sugestão de que tal omissão poderá dever-se
mais a estreiteza intelectual do que falta de relevância que a estranheza se aguça ainda mais. À partida,
será natural que a História do Livro se foque no Ocidente, já que foi nesta parte do mundo que o livro
mais se desenvolveu até aos nossos dias, pelo menos de forma mais rápida. Quer isto dizer que não
devemos atentar ao que se passou em outros lados? Se optarmos por uma perspectiva cronológica,
talvez não, mas cada vez mais a história do livro vai muito para além da recolha bibliográfica. Cynthia
Brokaw e Kai-Wing Chow, no seu estudo sobre o livro chinês, sumarizam esta evolução da seguinte
forma:

These questions define what is a relatively new approach to the study of the written word.[…] Lucien Febvre
and Henri-Jean Martin’s L’Apparition du livre (1958) was the first call for serious scholarly consideration of
the “social and cultural history of communication by print” […] that must be studied in terms of complex
links, at each site, to intellectual influences, socioeconomic conditions and political and legal sanctions.
(2005: 5s)

Portanto, o estudo do percurso do livro é muito mais rico numa perspective complexa e global, que
analisa não só os factores à volta da sua implantação e desenvolvimento, mas também como a cultura
do livro alterou o meio à sua volta. Vista por este ângulo, todas as regiões do mundo apresentam uma
História do Livro que é rica e fundamental para compreender especificidades desta área que ainda hoje
persistem nas várias regiões, como teremos a oportunidade de verificar. Apesar das relativamente
poucas fontes sobre a matéria, especialmente traduzidas ou de autores portugueses, propomo-nos a
fazer uma primeira abordagem a alguns destes percursos, na esperança que possam tornar-se parte mais
permanente do estudo desta disciplina, e que abram caminho a estudos mais ambiciosos.

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1. Extremo Oriente

1.1 China

Devemos fazer uma importante nota prévia no que diz respeito à evolução do Livro na China. O
estudo da edição (banben xue) neste país (e, por arrasto, na região) é alargado e tem revelado uma
História tão rica e multifacetada como a Ocidental. No entanto, a maior parte destes estudos não se
encontra ainda traduzido entre nós, o que concorre com algum desinteresse dos estudiosos até muito
recentemente e o relativo isolamento da sociedade chinesa.
A primeira característica distintiva da impressão na China é ter adoptado a xilografia como
técnica preferida até muito tarde. Apesar de já terem acesso a tipos móveis pelo menos desde o século
XI, as características da escrita chinesa ditaram que fosse incomportável aos tipógrafos, na sua maioria

4
dependentes do Governo, suportar os custos do fabrico dos tipos, que podiam chegar a 250 mil tipos
por fonte. Para além disto, os tipos de madeira eram preferidos aos de metal, apenas usados para obras
muito volumosas, com pouca repetição de caracteres e patrocinadas pelas autoridades (Brokaw e
Chow: 2005: 9s). A consequência imediata é que enquanto na Europa a técnica usada implicava uma
grande produção de exemplares para rentabilizar a fonte usada, na China, depois de feitos os blocos de
madeira, podia-se produzir apenas os exemplares necessários a cada momento. Para além disso, o facto
de não ser preciso um grande grau de instrução para esculpir a madeira, permitiu que a tipografia
viajasse muito rapidamente e pudesse usar mão-de-obra não qualificada, ao contrário da Europa. A
desvantagem estava no grande espaço ocupado pelos blocos de madeira, que colocavam grandes
problemas de inventário e transporte. Até à introdução de máquinas tipográficas ocidentais em meados
do séc. XIX, esta foi a técnica dominante na China (Edgren, 2007: 105).

5
É
necessári o
assinalar
Figura 1: Imagens populares impressas em blocos de madeira, um pouco como as imagens de santos na
que Europa. Eram aplicados em portas e perto da lareira para protecção e prosperidade.
mesmo a
xilografia apenas foi usada no final do século XV, devido à predominância do manuscrito. Só da
dinastia Tang e Five (907-960), foram descobertos mais de 30.000 manuscritos budistas (shou gaoben),
o que não fica atrás do que viria a ser produzido pelos monges europeus. A cultura da reprodução à mão
estava fortemente implantada, acreditando-se que «a melhor maneira de ler um livro é copiá-lo». Para
além disto, o apego ao treino da caligrafia e a tradição de fazer anotamentos foram factores importantes
para que a tipografia e a xilografia demorassem tanto tempo a implantar-se depois de inventadas (Idem:
102). Também na Europa o manuscrito não desapareceu de imediato, mas na China tal situação
perdurou durante vários séculos, existindo sempre a par da xilografia.
Contudo, quando a impressão começou a ganhar terreno no final da dinastia Ming (1500 a
1650), fê-lo de forma explosiva. Por um lado, a população duplicou e foi dado grande ênfase ao ensino,
já que quase toda a população masculina podia aceder a exames para trabalhar no serviço civil. Assim,
o interesse pela educação e pelos livros aumentaram tremendamente, assim como a taxa de literacia.
Por outro lado, a linguagem chinesa, apesar da presença de dialectos, era mais una que na Europa, onde
o declínio do Latim levou a publicações nas línguas de cada país. Devido a estes factores, durante este
período o mercado do Livro na China terá suplantado o Europeu (Brokaw e Chow: 2005: 11ss). Foi no
entanto pela linguagem que a China voltou a divergir. Enquanto na Europa se assistiu ao triunfo do
vernáculo popular, a linguagem na China permaneceu complexa e erudita, devido ainda ao sistema de
exames. Desta forma, enquanto na Europa os textos eram acessíveis ao grande público, tal não
acontecia na China, onde mesmo a linguagem popular não estava ao alcance daqueles sem grande grau
de literacia.
O factor decisivo que fez com que a Europa suplantasse a China nesta área foi sobretudo o
contexto político. Talvez devido ao tradicional patrocínio governamental para a produção dos blocos de
6
madeira, o governo chinês sempre esteve muito próximo da actividade editorial. Apoiado num sistema
político estável (a dinastia Ming e Qing reinaram do século XV ao XIX), o governo participava
activamente na produção de textos comerciais, para além dos documentos oficiais, algo que não
acontecia na Europa. A censura, apesar de menos organizada (não existiu uma instituição inquisitorial
formal ou pré-censura dos textos), era provavelmente mais eficaz. Num país com as dimensões da
china, não era fácil fugir das autoridades via fronteiras (idem: 17ss). Mais importante terá sido a
inexistência de um sistema de tipo capitalista, como o que foi aparecendo em formas primitivas nos
estados-nação da Europa. Apesar da grande vitalidade do comércio livreiro chinês, o ritmo de
desenvolvimento só viria a convergir no final do século XIX, quando mercadores europeus e japoneses
entraram em Xangai. O sistema político-social também viria a impedir a emergência do
reconhecimento autoral e implantação legal dos direitos de autor, o que prejudica necessariamente o
aparecimento de autores de grande renome e tiragem, assim como a protecção da indústria editorial. Os
editores, apesar de colocarem a inscrição fanke bijui (reimpressão proibida) nos livros, pouco podiam
fazer para se defenderem da pirataria e contrafacção (Brokaw e Chow: 2005: 19s)1.
Gostaríamos de apontar que o Livro chinês possuía também diferenças físicas. Os livros, no seu
período de expansão, eram constituídos por folhas dobradas a meio com o texto na parte exterior. A
lombada era perfurada e cosida com fios de seda. A capa consistia apenas de uma folha adicional
dobrada da mesma forma. Desta forma, eram volumes leves e constituídos por partes que podiam ser
removidas e substituídas (Edgren, 2007: 101). À elegância destes livros contrapôs-se a sua pouca
durabilidade, especialmente quando comparada com os resistentes códices europeus2.

1Um dos livros mais pirateados era um conjunto de perguntas e respostas dos Quatro Livros, textos clássicos usados na
elaboração dos exames. No fundo, trata-se de uma versão anciã dos livrinhos amarelos tão estimados pelos estudantes de
literatura dos nossos dias.

2A imagem desta página é retirada da página do The International Dunhuang Project, instituição que se dedica à recolha,
preservação e dititalização de documentos antigos. Mais exemplos de livros orientais podem ser consultados em
http://idp.bl.uk/education/bookbinding/bookbinding.a4d.

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1.2. Japão,
Coreia e Vietname

Figura 2: exemplo de livro cosido, predominante durante a dinastia Ming.


O Japão
partilha
com a China a adopção primitiva da xilografia, técnica que importou deste país. No entanto, a
impressão de textos inseria-se num contexto mais fechado. Era feita pelos monges budistas, que
encaravam o acto de reprodução de textos como um ritual (Kornicki, 2007: 111), e não como uma
forma de partilhar os textos ou disseminar o conhecimento. Trata-se de uma aproximação à
mentalidade copista europeia, mas de forma ainda mais fechada. Apesar de terem sido responsáveis
pelos primeiros textos reproduzidos em massa no século oitavo, a impressão de textos para leitura não
aconteceria mais cedo do que no século XI. Mesmo quando os textos começaram a circular, tal
aconteceu de forma muito esporádica. A grande ligação da caligrafia à literatura e o persistente
hermetismo das elites atrasaram a impressão até ao século XVII, muito mais tarde que na china.
Como aconteceu em muito países, a tipografia foi introduzida no Japão via agentes
missionários. Neste caso, foram os Jesuítas a estabelece-la em 1590, com fins de propaganda religiosa.
Mais tarde uma máquina seria trazida da Coreia após um conflito entre as regiões. Foram os passos
necessários para afastar o centro de produção de livros dos mosteiros (Kornicki, 2007: 112).
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Foi então durante o período Edo (1600-1868) que a primeira implementação do comércio do
livro se deu neste país. Para além da rápida tradução dos clássicos literários, estabeleceram-se as
primeiras associações (ou guildas) de editores e foram criadas também as primeiras leis da censura, que
de resto não foi demasiado severa. Criaram-se ainda relações de importação/exportação de livros,
primeiro com a China e mais tarde (século XVIII) com os navegadores e comerciantes holandeses. No
entanto, há que apontar que muito rapidamente a tipografia caiu em desuso, também aqui devido ao
número elevado de caracteres. Desde muito cedo no século XVII, a técnica predominante passou a ser a
impressão com blocos de madeira, o que fomentou largamente o negócio da literatura ilustrada,
chamada Ehon.
Outros dos desenvolvimentos para a indústria do livro neste país deu-se com o aparecimento da
noção de autoria. O pagamento a determinados autores de sucesso foi-se normalizando, mas o
copyright permaneceria nas mãos dos editores (idem: 115). O grande motor para a expansão do livro
neste país foi a disseminação das bibliotecas de aluguer. Estima-se que do entre o século XVII e XIX o
que pico do seu número tenha chegado às 500.

Figura 3: páginas interiores do Mushi Erami, exemplo maior da literatura Figura 4: página a cores de uma versão do
Ehon. Mushi Erami.

Em meados do século XIX, o Japão estabelece vários tratados comerciais e de paz com o estrangeiro,
permitindo o regresso da tipografia e a entrada da influência Ocidental. A publicação de livros para
estrangeiros, ou traduções de clássicos Ocidentais foi fundamental para a expansão do comércio
livreiro. A par com este movimento, contrapôs-se um aumento da censura literária, mormente por
razões políticas. Apesar disto, o período Meiji traduziu-se num impulso para a impressão, através do
crescimento das publicações oficiais.

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Importa sobretudo sublinhar dois aspectos. A grande tradição pictórica do livro Japonês persiste,
nomeadamente através do género de livros Manga, que são um sucesso de grandes proporções no país.
Por outro lado, a existência de uma cultura tradicionalmente hermética e com permanência da censura
até muito tarde fez com que ainda hoje o Japão esteja fechado ao livro de outras partes do mundo, com
excepção da ficção (Kornicki, 2007: 117). Obviamente, os grandes conflitos mundiais também
contribuíram para esta situação. Como se pode constatar, o livro ajuda a definir a personalidade das
nações

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Figura 5: página e pormenor de um namazu-e, impressão em blocos de madeira. O namazu (peixe-gato) era
considerado responsável pelo enorme terramoto de Tóquio em 1855. A
Coreia teve
um percurso muito semelhante ao Japão. Tendo sido os primeiros a produzir um livro com caracteres
móveis (circa 1377), foram capazes de importar técnicas tanto da China como do Japão, fomentando a
experimentação e a existência de muitos tipos de livros. Durante a dinastia Yi (1392-1910) a impressão
de livros foi considerada fundamental para o Estado e a actividade editorial tornou-se frequente, mas
muito apoiada no governo, em vez do circuito comercial (Kornicki, 2007: 119). A co-existência de
várias técnicas ombreou com a resistência do manuscrito, cuja presença se manteve até mais tarde que
os países já mencionados, na verdade quase até ao século XX, já após a introdução da tipografia e
jornais de estilo Ocidental. Esta fez-se em 1883, vinda do Japão pela mão de Ocidentais, mas apenas se
implementou completamente no século passado.
Importa ainda mencionar o Vietname, não porque tenha tido um desenvolvimento semelhante
aos seus vizinhos, mas pelas razões porque não o conseguiu. Em primeiro lugar, o desenvolvimento do
livro começou por ser tão avançado como nos restantes, mas as invasões de mongóis no século XIII
destruíram grande parte do território literário do país. Os alfabetos diferentes em todas estas regiões
impossibilitaram uma sinergia de circulação de livros semelhante à europeia (Kornicki, 2007: 122) e
prejudicaram particularmente este país, situação só alterada com a colonização francesa em 1862.

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2. Islão
Antes de avançarmos pelo percurso do livro nesta região, importa estabelecer duas distinções
fundamentais. Em primeiro lugar, o Islão inclui um vasto número de países e reinos, desde os arábicos,
persas e de língua turca, até países da Ásia central e do sul/sudeste. Naturalmente, as diferenças são
abundantes, mas existem também pontes de contacto. O maior deles é a adoração do Corão (Albin,
2007: 165).
Em segundo lugar, no que diz respeito aos textos árabes, há que realçar que não são vistos no
Islão como livros, mas sim como actos de escrita humana e sagrada, denominados Kitab ou Al-kitab,
dando-se pouca relevância aos objectos resultantes desse exercício (Mignolo, 1997: 357). Esta
distinção, que radica em questão religiosas, é uma das chaves para a compreensão da cultura e
comércio do livro nestes países.
Outros factores que unem estes países são a existência de largos períodos de intolerância, forte
implementação do mecenato do livro, e 300 anos de atraso na introdução das descobertas de
Gutbenberg. Para compreendermos essa demora, é necessário recuar ao período da vida do Profeta
Maomé (570-632). Acredita-se que este teria sido iletrado, e apenas transmitia os conhecimentos por
via oral. Consequentemente, o desenvolvimento do alfabeto foi pequeno. Ainda mais decisiva foi a
permanente proibição da representação do profeta, que aliás persiste até hoje. Na base desta tradição
está a noção que a pintura representativa «usurpa a função criativa do Criador» (apud Arnold, 1965: 6).
Esta terá sido estabelecida pelo próprio profeta ao afirmar que os «os pintores seriam os mais
severamente punidos por Deus no dia do Julgamento» (Albin, 2007: 167). Embora actualmente a
pintura não seja proibida desde que não seja considerada blasfema, o desenvolvimento da ilustração
nesta área do mundo foi severamente limitado ao longo do tempo. Outro factor que enfermou a criação
literária foi o sacrifico do conteúdo em prol do estilo e virtuosismo linguístico, comum a algumas
correntes literárias ocidentais. No entanto, no Islão esta vigência durou vários séculos (Elad e Buskila,
1999: 3).
Para se ter uma noção da revolução operada pela posse e desenvolvimento das técnicas de
fabrico de papel, estima-se que algumas bibliotecas islâmicas tivessem várias centenas de milhares de

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livros, ou mesmo alguns milhões. Uma delas, no Líbano, poderá ter tido três milhões de livros. Kilgour
considera que este foi um período de enorme florescimento do livro, quer na produção de livros, ou
abertura de lojas e universidades (1998: 57). Apesar deste desenvolvimento precoce, o avanço não
continuou na era da tipografia. Logo em 1485, os sultões muçulmanos proibiram o livro impresso, que
tinha sido introduzido por Judeus ou missionários cristãos.3 Esta proibição permaneceria até 1727,
altura em que Ibrahim Muteferrika obteve a primeira permissão para imprimir em todo o mundo
islâmico. No entanto, o seu sucesso foi modesto e curto (idem: 171). Por um lado, havia uma forte

Figura 6: exemplo de caligrafia numa página do Dirvan-i Jami, Colecção de poesia de Isfahan, Irão, circa 1700.

tradição de memorização oral do Corão. Considerava-se aliás, que mais nenhum livro era necessário.
Os livros árabes impressos na Europa e importados para a região não eram sedutores devido à muito
maior qualidade dos manuscritos. Por outro, elevadas taxas de iliteracia conjugaram-se com um
profundo isolamento cultural. Esta situação só se alteraria com as viagens de príncipes e missionários

3O livro Hebreu, sem território próprio, não é tratado neste trabalho, embora tenha tido influências transversais nas várias
regiões e obviamente também no mundo Ocidental. Informações adicionais sobre esta matéria podem ser encontradas no já
mencionado compêndio de Eliot e Rose, através da consulta do artigo «The Hebraic Book», por Emile Schrijver (p. 154-
164).

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fora do mundo islâmico, que levaram então à adopção da tipografia no século XVIII. Mesmo após esta,
a proibição de publicar livros sobre o Islão era total, algo semelhante às ordens censórias do Vaticano.

Depois deste período de declínio de vários séculos, o Livro volta a expandir-se no Egipto no
início do século XIX, pela acção de Muhammad Ali, governante nascido na Europa. Por sua ordem são
publicados os primeiros jornais periódicos e estabelecida a tipografia Bulaq, responsável pela edição do
famoso livro popular As Mil e Uma Noites. Outros governantes rapidamente viram o potencial
propagandístico da edição, e a publicação com fins políticos disparou (idem: 172). No entanto, na
região do Império Otomano (o actual Irão) e Ásia do Sul a tipografia de tipos móveis só foi usada a
partir de 1817 e logo substituída pela litografia, mais barata e melhor replicadora da estética do
manuscrito. Estabelecem-se aqui diferenças no desenvolvimento destes países que chegaram aos nossos
dias.
Após o aparecimento de editores e tipógrafos privados, deu-se o habitual florescimento da
censura, que no seu modo pós-publicação é uma constante no mundo islâmico. Foi precisamente um
jornal no Egipto, o Al Waka'a Al Masriya, que provocou tais medidas (diga-se que continuadas durante
domínio britânico) (Zurayq e tal, 1988: 326)4 . Tal levou a uma situação de domínio governamental e
pouca protecção jurídica para o sector do livro, não tendo havido, em grande parte destes países, uma
real convergência com o Livro Ocidental.

4O autor refere que apesar das pressões censórias, a imprensa independente egípcia teve um papel muito activo da defese de
ideas liberais e anti-governo, estabelecendo o caminho para que o Egipto se tornasse um dos países com maior cultura
democrática na região.

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3.
Ásia
Figura 7: Tipos móveis árabes, cuja fonte tem sensivelmente o dobro de tipos do Latim.
(Índia)
Uma das dificuldades de reconstruir a História do Livro na Índia está na ausência de uma
cultura de preservação dos documentos tal como a entendemos no mundo Ocidental. A triste realidade é
que esta não está totalmente implementada na Índia e levou ou à destruição ou não conservação de
muitos documentos importantes (Chakravorty e Gupta, 2004: 5). Ainda no que diz respeito à cultura,
mas agora numa perspectiva antropológica, na Índia também existiu uma cultura do manuscrito e do
cultivo da memória, aliada ao acto performativo dos textos. A interacção entre oralidade e manuscrito
foi levada a um grau extremo, tendo muito mais impacto na Cultura do país do que os textos impressos
(Shaw, 2007: 126).
Foram os portugueses a introduzir os tipos móveis na Índia no século XVI, recebidos com um
misto de adoração, medo e resistência. Na verdade, os indianos demonstraram maior atracção pela
maquinaria envolvida na produção do livro do que no objecto em si. Quando a primeira máquina
tipográfica chegou a Bengali, foi adoptada como uma deusa entre os locais (Chakravorty e Gupta,
2004: 11). Não é portanto de estranhar que logo em 1674 a impressão de livros tenha cessado em Goa,
só sendo retomada em 1821, e mesmo nessa altura, vista sem grande interesse. Tal facto talvez esteja
relacionado com o facto dos textos manuscritos serem muito mais belos e pela predominância de
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escribas profissionais e ou provenientes das castas hindus profissionais. Estes formavam vastas redes
que tornavam menos atraentes as capacidades reprodutoras da impressão (Shaw, 2007: 127). Note-se
ainda que a adopção da xilografia no Oriente também não foi seguida pelos indianos, apesar de
conhecerem a técnica através do Tibete.
Quando a impressão começou a penetrar neste país, a técnica preferida foi a da litografia, pelos
mesmos motivos de outros países que temos analisado até agora, ou seja, a maior capacidade de
imitação da estética do manuscrito. Mesmo assim, este continuou presente até há cerca de 150 anos. Há
que notar ainda que tanto o pergaminho como o papel não eram utilizados, devido ao anátema que
consistia matar animais. O papel existente era de fraca qualidade e produzido num formato semelhante
à das folhas de palmeira (Pothi). Este era o suporte comum dos manuscritos, relacionado com a flora da
região.
A tradição de oralidade também tinha um cariz político, já que os chefes religiosos muçulmanos
produziam pequenas folhas para serem lidas nas mesquitas ou nas madraças. Note-se que ainda hoje
existe a tradição entre os muçulmanos da rádio emissão de orações a partir dos locais de culto. A
introdução da tipografia, ao contrário da Europa, não se fez num vazio de circulação dos textos, mas
veio acrescentar ao que já existia e circulava de forma alargada. No início do século XIX terão sido
impressos 212 mil volumes em 40 línguas só em Bengali. Também aqui, a acção missionária teve
grande papel na produção e tradução de livros. No período de 1852-63 terão sido impressos quase 10
milhões de livros cujo objecto era a conversão religiosa. Curiosamente, o sucesso deste grande esforço
foi diminuto. Os indianos utilizavam textos sobre a palavra de deus como fonte de papel, ou para
embrulhar peixe, e uma folha popular com os 10 mandamentos era comummente utilizada para fazer
papagaios (Shaw, 2007: 133). A colonização britânica veio estabelecer a Índia como mercado editorial
gerando-se então uma franca expansão ligada ao comércio externo.
A conjugação entre os antecedentes de circulação livreira e a explosão editorial colonial fez
com que a Índia precisasse apenas de um século para atingir o grau de desenvolvimento que a Europa
conseguiu em três (idem: 133). A adopção da litografia como técnica principal permitiu que os textos
fossem impressos em várias línguas e dialectos. Não havendo falta de escribas profissionais, formou-se
um mercado editorial composto tanto por estrangeiros como nativos, o que viria a ser fundamental para
a independência e desenvolvimento do país. Apesar da evolução tardia, a massificação geográfica foi
intensa, chegando o livro aos pontos mais recônditos do sub-continente.
O crescimento dos movimentos independentistas levou a uma grande repressão por parte do
Império britânico, especialmente através do Indian Press Act de 1910, que impedia a publicação da
maioria dos textos nativos. O efeito foi escasso, e tanto os jornais como panfletos anti-britânicos foram

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fundamentais na luta pela independência, nomeadamente com a publicação de poesia nacionalista
durante as campanhas pacifistas de Gandhi (idem: 135).

4. América Latina

Devido às restrições coloniais, o espaço alargado da América Latina será aquele de todos os
retratados até agora que menos se presta a uma valoração em face de análises diacrónicas. Mais
importante que traçar as datas marcantes do percurso do Livro, importa reflectir sobre as relações deste
com a Cultura e Política, áreas que marcaram o continente de forma muito característica. Tal
perspectiva abre-nos o caminho a diferentes considerações, destacando geografias à partida menos
óbvias.
A História do Livro na América Latina é também a História do Livro Transatlântico. Os
períodos que marcam decisivamente esta região são os do domínio colonial espanhol (1498-1820s) –
com a excepção do “nosso” Brasil e Cuba, e o das grandes guerras do século XX (Calvo, 2007: 138). O
Livro foi trazido para o Novo Mundo via América Central. Primeiro na Cidade do México (1539) e

Figura 8: Pauta musical tibetana impressa em formato pothi, datada do século XIX.

seguidamente em Lima (1581), com objectivos de conversão religiosa e ideológica. Tal não fez com
que a tipografia se espalhasse pela região, existindo um hiato de mais de cem anos entre estas datas
introdutórias e as de outros países. As causas foram sobretudo de política colonial, já que tanto aos
países da América Central como ao Brasil, era proibido imprimir pelas respectivas metrópoles. A
maioria destes países teve que esperar pela independência no século XVII, ou no caso do Brasil, pela
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chegada da corte portuguesa em fuga de Napoleão e das convulsões liberais, em 1808. As
transformações políticas na Europa, primeiro com a Reforma e mais tarde com as revoluções liberais,
determinaram a as características das publicações nestes países. A própria circulação de livros era
limitada e havia uma série de leis e restrições com vista a impedir a disseminação de ideias
consideradas perigosas). Mesmo neste cenário, a importação e circulação ilegal de livros foi uma
constante (idem: 139).
Em termos práticas, a edição de livros também era dificultada pelos custos proibitivos para a
actividade. O papel e maquinaria eram importados da Europa. Para além disto, as elites estavam
circunscritas aos representantes colonizadores ou a dependentes directos destes, impossibilitando o
desenvolvimento intelectual independente. Por isso mesmo, os livros nesta fase agiram mais como
reforço da mentalidade vigente do que agentes de mudança, como aconteceu na Europa (idem: 139).
O isolamento cultural da região duraria até ao século XX5, embora a partir de 1910 os livros
tenham começado a chegar por via de uma nova visão para as colónias, que considerava o Livro
Ocidental um «agente civilizador» (idem: 140). A partir da investigação clássica de registos
documentais, alguns historiadores consideram que na prática parte considerável de obras ficcionais
(como D. Quixote), seculares, ou políticas, circulavam regularmente nas colónias (apud Revello, 1949).
Com uma aproximação epistemológica diversa, foi possível argumentar que os condicionalismos na
região obrigam a olhar de forma diferente para a literatura da região, dando maior peso às cartas e
outros documentos legais, onde a pressão colonial produzia menos efeitos (apud Adorno, 1986: 1-25),
ou notando que as ideias nestes primeiros dois séculos de domínio espanhol circulavam sobretudo
através da oralidade ou manuscritos (apud Mena, 1997). Também os jornais, geralmente gacetas,
apareceram e desapareceram com grande velocidade. Podemos afirmar com alguma segurança que
nesta região não existiu o que se convenciona chamar de «revolução impressa». Tais noções obrigam-
nos a alargar o conceito de livro para a região. Por exemplo, considerando o Quipus, um sistema de
cordas coloridas que eram entrelaçadas, comunicando eventos passados ou registos quantitativos. Em
vários destes países encontram-se ainda inscrições em vários tipos de suporte, desde peles de animais,
cascas de árvores, cerâmica ou mesmo construções arquitectónicas. Note-se que tais “documentos”
foram demonizados e destruídos pelos colonizadores em larga escala, principalmente os manuscritos
pintados (Calvo, 2007: 142), sem dúvida manifestações paralelas àquelas de outros países com uma
cultura do manuscrito. Esta destruição massiva terá efectivamente bloqueado o desenvolvimento de
códigos bibliográficos próprios para a região.

5Este isolamento alicerçou-se sobretudo nos decretos reais espanhóis de 1531 e 1543 que proibiam a importação de
literatura ficcional para as colónias.

18
Figura 9: Exemplo de um Quipu Inca.

Figura 10: O códice Dredensis, manuscrito pintado Maia,


um dos três sobreviventes à Inquisição Espanhola.

Tanto politica como culturalmente, o livro


influenciou sobretudo elites não comunicantes com a população geral. Mesmo havendo lugar à criação
de comunidades culturais ou movimentos políticos, não passavam da dimensão da tertúlia ou ficavam
pelas privilegiadas elites crioulas (idem: 144). Dentro destes círculos, acontecimentos como as
Invasões Napoleónicas em 1808 despoletaram a publicação de folhetos e manuscritos, e estimularam
movimentos independentistas.
A Constituição Liberal Espanhola em 1812, ao estabelecer a liberdade de imprensa, funcionou
como catalisador para o aparecimento dos mercados editoriais nas colónias, empreendidos com taxas
variáveis de sucesso. Não será de estranhar que os maiores volumes de publicação nesta altura tenham
sido livros educativos e textos políticos (acompanhados de muita tensão). De forma mais conseguida,
foi nesta altura que se iniciou um espaço de troca de livros com a Europa, havendo um mercado
plenamente estabelecido no final do século6. No Brasil, onde a transição para a independência foi mais
pacífica, pelas razões que conhecemos, o folhetim e outras obras literárias e culturais ombrearam com
as publicações mais técnicas dominantes noutros países. De notar ainda o aparecimento de publicações
exclusivamente femininas, como A mulher do Simplício (1832), a primeira revista feminina da região,
ou o papel do editor Francisco de Paula Brito, que muito incentivou os autores nacionais (como

6As particularidades de cada país levar-nos-iam a considerações infindáveis. A título de exemplo, seria interessante analisar
a dificuldade de publicação em Cuba, colonizada até mais tarde e assolada pelo esclavagismo face ao enorme número de
publicações médicas existentes, e relacionar estes dados com o actual sistema de saúde cubano.

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Machado de Assis), nomeadamente pelo pouco usual pagamento de um salário aos escritores. De
realçar que apesar de relações com Portugal, foi a França a principal exportadora de livros para o
Brasil, o que poderá estar relacionado com a inexistência actual de uma forte relação editorial Portugal-
Brasil.
O grande salto da edição na região deu-se na «época de Ouro» entre 1920 e 1950 (Calvo, 1997:
148). Para além de movimentos de especialização e profissionalização, tanto a Guerra Civil Espanhola
como a I Guerra Mundial impulsionaram um já vigoroso movimento de emigração para a zona, e
devido à diminuição das publicações na Europa, fomentaram o mercado exportador pan-americano. O
caso mais notável foi o da Argentina, que quase quintuplicou tanto a sua população, como o número de
títulos publicados por ano até 1944 (de 823 para 5.323). O consumo de livros alargou-se às massas.
Infelizmente, algumas das revoluções marxistas na região levaram ao instauramento da censura
literária. Já em plena Guerra Fria, o efeito foi o oposto, com os apoios soviéticos de um lado, e as
editoras nova-iorquinas do outro fomentarem o aparecimento de uma literatura latina de grande
qualidade, com nomes como Borges ou Garcia Marquez. Estas transformações políticas influenciaram
decisivamente os centros editorais da América Latina. Não é de estranhar que a Cidade do México (a
primeira a publicar), Buenos Aires (a grande beneficiária das tensões geopolíticas) e São Paulo/Rio de
Janeiro (com maior estabilidade política), estejam entre eles.
Considerações finais

Depois de visitar a História do Livro no Oriente, Islão, Ásia e América Latina, encontra-se o
curioso iniciado mais satisfeito? O objectivo é que sim, e esperamos ter dado alguma contribuição para
o alargamento da visão história dos interessados neste tópico. É inegável que a História do Livro fora
do Ocidente não pode ser feita aplicando a mesma regra e esquadro. Mais interessante que uma
cronologia necessariamente desfavorável a partir de Gutenberg, a riqueza destes países sobressai
sobretudo lendo o que está “escrito por linhas tortas”, passe a expressão. Confirma-se que foram
imposições de cariz político-social que provocaram o atraso relativo à Europa, mas se olharmos mais
de perto vemos como nem por isso o livro deixou de trilhar o seu caminho e foi responsável por vastas
e profundas alterações em cada uma das regiões mencionadas. Por outro lado, cada ponto geográfico
apresentou e manteve a singularidade no que diz respeito ao formato do livro e cultura de transmissão
de conhecimentos. Em alguns casos, tais especificidades criaram simbioses como o livro Ocidental que
duram até hoje (como no Oriente), noutros, mais fustigadas por forças opressoras, subsistem apenas
como documentos arqueológicos que não tiveram a hipótese de se desenvolver (América Latina). Mas
em todos a necessidade e vontade de registar e transmitir ideias desembocou no cais da edição.

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Este trabalho quis ser sobretudo uma primeira abordagem a esta matéria, com a noção de que o
nosso alcance é limitado. Ficam por estudar regiões tão interessantes como a Austrália7, A América do
Norte ou África, onde a influência portuguesa é extremamente relevante. Por questão de dimensão ou
especificidades, não couberam neste nosso esforço.
As diferenças que emergem desta análise comprovam no entanto o papel profundamente
transformador do aparecimento e disseminação do Livro e cultura escrita. Um possível prolongamento
deste trabalho seria verificar, agrupar e analisar quais são de facto os factores que levam tanto à
expansão como ao definhar do Livro nas várias civilizações e países. Tal quadro relacional permitir-
nos-ia lançar pistas para o desenvolvimento do Livro em países de que tal necessitam, e acautelar o
futuro deste entre nós. Quanto a nós, esperemos que pelo menos uma certeza tenha ficado. A História
do Livro para lá do Ocidente existe e merece ser divulgada entre nós.

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Blackwell Publishing.

7A propósito desta região, cf. o excelente A History of the Book in Australia, de Arnold e tal, 2001 e do caso dos EUA, o
capítulo que lhe devota McMurtrie em O Livro, «A imprensa no Novo Mundo».

21
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